Prévia do material em texto
falar de tipos de constrições desenvolvimentais tal como se pode falar de tipos de pressões seletivas (a predação seria um exemplo disto) cujo acionar pode produzir ou preservar estruturas semelhantes em diferentes clados com independência de qualquer vinculação genealógica entre eles; mas, nesse caso, essas constrições e essas pressões só poderão ser consideradas como responsáveis pelo surgimento de estruturas análogas, e não homólogas. 5 Conclusão Poderíamos concluir, então, que, malgrado o fato de estar ampliando o espaço da biologia evolutiva com uma nova teoria independente e complementar à teoria da seleção natural, a biologia evolutiva do desenvolvimento continua obedecendo ao modelo variacional de explicação consagrado pelo darwinismo; e, além disso, seus objetivos cognitivos, embora diferentes dos da teoria da seleção natural, também nos permitem caracterizá-la como uma disciplina predominantemente histórica, orientada ao estudo das causas remotas de processos evolutivos específicos. Nesse sentido, ainda quando a própria noção de causa remota deva ser ampliada e redefinida para incorporar, dentro dela, as constrições desenvolvimentais, a autonomia e a identidade da biologia evolutiva podem continuar sendo pensadas em virtude da oposição entre explicações por causas remotas e explicações por causas próximas, proposta por Mayr. A biologia evolutiva do desenvolvimento nos dá motivo para reflexão; o que não nos dá é pretextos para o escândalo.6 Referências bibliográficas AMUNDSON, R. Adaptation and development: on the lack of a common ground. In: ORZACK, S. H.; SOBER, E. (Ed.). Adaptationism and optimality. Cambridge: Cambridge University Press, 2001a. p. 303-334. AMUNDSON, R. Homology and homoplasy: a philosophical perspective. Encyclopedia of Life Sciences, 2001b. AMUNDSON, R. The changing role of the embryo in evolutionary thought: roots of evo-devo. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. ARIEW, A. Ernst Mayr’s ultimate/proximate distintion reconsidered and reconstructed. Biology & Philosophy, v. 18, n. 4, p.553-565, Sept. 2003. ARTHUR, W. Biased embryos and evolution. Cambridge: Cambridge University Press, 2004a. 6 As teses e argumentos aqui apresentados foram desenvolvidos em Caponi (2012). 298 ARTHUR, W. The concept of developmental reprogramming and the quest for an inclusive theory of evolutionary mechanisms. Evolution & Development, v. 2, n. 1, p. 49-57, Jan./Feb. 2000. ARTHUR, W. The effect of development on the direction of evolution: toward a twenty- first century consensus. Evolution & Development, v. 6, n. 4, p. 282-288, Jul./Aug. 2004b. ARTHUR, W. The emerging conceptual framework of evolutionary developmental biology. Nature, v. 415, n. 6873, p. 757-764, Feb. 2002. ARTHUR, W. The origin of animal body plans: a study in evolutionary developmental biology. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. AZKONOBIETA, T. G. Evolución, desarrollo y (auto)organización: un estudio sobre los principios filosóficos de la Evo-Devo. 2005. Tesis (Doctoral) – Universidad del País Vasco, San Sebastián, 2005. BACHELARD, G. A atualidade da história das ciências. In: CARRILLO, M. M. Episte- mologia: posições e críticas. Lisboa: Fundação C. Gulbenkian, 1991. p. 67-88. BEATTY, J. The proximate/ultimate distinction in the multiple careers of Ernst Mayr. Biology & Philosophy, v. 9, n. 3, p.333-356, Jul. 1994. CAPONI, G. Biologia funcional vs. Biologia evolutiva. Episteme, v. 12, p.23-46, jan./jul. 2001. CAPONI, G. Cómo y por qué de lo viviente. Ludus Vitalis, v. 7, n. 14, p.67-102, 2000. CAPONI, G. El retorno de la ontogenia: un conflicto de ideales de orden natural en la biología evolucionaria actual. Scientiae Studia, v. 5, n. 1, p.9-34, jan./mar. 2007. CAPONI, G. El segundo pilar: la biología evolucionaria desenvolvimiental y el surgi- miento de una teoría complementaria a la teoría de la selección natural. Ludus Vitalis, v. 16, n. 29, p.3-32, 2008a. CAPONI, G. Experimentos en biología evolutiva: ¿Qué tienen ellos que los otros no tengan? Episteme, v. 16, p.61-97, jan./jun. 2003. CAPONI, G. Selección interna: el control de la filogenia por la ontogenia en una perspectiva variacional. THEORIA, v. 23, n. 62, p.195-218, 2008b. CAPONI, G. La biología evolucionaria del desarrollo como ciencia de causas remotas. Signos Filosóficos, v. 10, n. 20, p.121-142, jul./dec. 2008c. CAPONI, G. La navaja de Darwin: la derogación del principio de plenitud en la revolución darwiniana. Ludus Vitalis, v. 12, n. 22, p.9-38, 2004a. 299 Capítulos Aproximação epistemológica à biologia evolutiva do desenvolvimento Conclusão