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É importante notar a diferença entre (1) e (2):
(1) A obtenção de benefícios futuros como efeitos de AR em situações de
tipo S é uma condição necessária para a seleção natural de AR.
(2) A expectativa de benefícios futuros é uma condição necessária para
que um indivíduo escolha comportar-se de acordo com a regra do AR
em S.
A teoria de Trivers sobre a evolução do AR em humanos apenas afirma
a verdade de (1), não a verdade de (2). De fato, os altruístas recíprocos,
segundoTrivers, exigemumgenuíno altruísmopsicológico de seus oponentes:
“indivíduos que executam atos altruístas como resultado de uma disposição
calculista, em vez de uma generosidade de coração” (TRIVERS, 1971, p. 51),
são “trapaceiros sutis” e não altruístas recíprocos; e usualmente são rejeitados
pelos altruístas como parceiros em uma interação. Como consequência, para
que o AR seja evolutivamente bem-sucedido como estratégia, deve cumprir
com a condição de expressar um altruísmo psicológico genuíno (NESSE, 2007;
ROSAS, 2007).
Quadro 2: O altruísmo recíproco (AR) não é impulsionado por motivos egoístas.
altruísmo recíproco: são sovinas. Com sua insistência em um equilíbrio perfeito nas tro-
cas, estragam não só as amizades (SILK, 2003), mas também as sociedades de interesses
comuns (KOLLOCK, 1993; DE VOS, 2001); e, geralmente, estão atentos às possibilidades
de trapacear com sutileza (TRIVERS, 1971), errando com frequência em seus cálculos
e arruinando sua reputação (FRANK, 1988). Portanto, uma possibilidade é examinar
duplas de indivíduos que jogam dilemas de prisioneiros repetidos e indagar se usam
“sistemas de contabilidade relaxados ou flexíveis” (KOLLOCK, 1993), em vez de sistemas
rígidos segundo o estilo de TFT. Os sistemas flexíveis têm sentido somente quando há
confiança entre os participantes; e a geração de confiança descansa, muito plausivel-
mente, na emissão de sinais confiáveis de um genuíno caráter e motivação altruísta
(TRIVERS, 1971). Os defensores da reciprocidade forte têm feito, em geral, uma péssima
propaganda do altruísmo recíproco. Por isso, não deixaria de ser uma ironia que Trivers
voltasse a merecer a atenção dos pesquisadores da área, como uma fonte inexplorada do
papel da motivação altruísta na evolução da cooperação humana. De qualquer modo,
existe evidência de que as motivações normativas são o suporte mais próximo de todas
as estratégias exitosas para a cooperação humana. Essa é uma constante do projeto da
explicação evolucionista da moral, de Darwin até os desenvolvimentos mais recentes.
Significa que a cooperação humana se separa de outras formas de cooperação entre
organismos graças a mecanismos psicológico-normativos e que eles devem ser o objetivo
principal da explicação evolucionista.6
6 Posteriormente a este capítulo, o autor desenvolveu alguns pontos relevantes para a teoria evolucionista
da cooperação nas seguintes publicações: Rosas, 2012a, 2012b.
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Agradecimentos
Agradeço o apoio da Universidade Nacional da Colômbia e do Konrad Lorenz Institute for
Evolution and Cognition Research.
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