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BACIA POTIGUAR Sumário Geológico e Paleontológico

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BACIA POTIGUAR 
Sumário Geológico e Paleontológico 
 
A Bacia Potiguar é uma unidade geomorfológica situada na faixa setentrional norte do 
RN, estendendo-se de leste a oeste, entre Touros-RN e Russas- CE, e de sul a norte, entre 
Apodi-Rn e o litoral norte em sua porção emersa, avançando na região costeira até a quebra 
da plataforma (figura 1). É, portanto uma bacia costeira, ou marginal. 
 
Fig 1 - Mapa geológico simplificado da Bacia Potiguar 
 
Suas origem e evolução estão relacionadas à própria formação do Oceano Atlântico. 
Algumas evidências dessa história, são: associações fossilíferas de várias bacias costeiras ao 
longo do litoral brasileiro (fósseis de fauna marinha) e a existência de bacias sedimentares 
“irmãs” no litoral oeste do Continente africano (figura 2). Outras bacias da costa brasileira são: 
Caporé (AP), Foz do Amazonas (AM), Pará/Maranhão, Barreirinhas, Ceará; e San Jorge na 
Argentina. 
As associações fossilíferas que remetem a um paloambiente marinho, referem-se, em 
geral à ocorrência de organismos típicos desse ambiente, tais como, equinodermas, moluscos 
cefalópodes, cnidários, espongiários, dentre outros. Entretanto explicar a presença desses 
fósseis encontrados atualmente em área continental emersa, implica em buscar o 
entendimento dos processos geológicos atuantes nessa dinâmica de evolução ambiental, ou 
seja o que causou esse recuo do mar ou, regressão marinha. 
 
 
 Correlação paleogeográfica de Bacias 
sedimentares costeiras 
America do Sul África 
Sergipe (AL) Douala (Camarões) 
Recôncavo (BA) Rio Munni 
(Guiné Equat) 
Camumu (BA) Gabão (Gabão) 
Almada (BA) Congo (Congo) 
Campos (SP) Kuanza (Angola) 
Santos (SP) Benguela e Namibe 
(Namíbia) 
Pelotas (RS) Walvis (Namíbia) 
Salado e Colorado 
(Argentina) 
Orange (África do 
Sul) 
Fig. 2: Ilustração esquemática da paleogeografia das Bacias Sedimentares costeiras nos litorais sul-
americano e africano. 
 
 Essa evolução ambiental é efeito da tectônica de placas que tem como consequência a 
deriva dos continentes e as deformações de superfície (alteração de relevo), neste caso, 
especialmente nas regiões limítrofes dessas placas (limites divergentes, convergentes e 
transcorrentes). 
 Na sequencia ilustrada a seguir você pode acompanhar a fragmentação do super 
continente Pangea, até a sua configuração geográfica atual. 
 Interessa-nos entender que essas bacias marginais da costa brasileira originaram-se 
durante a fragmentação do continente Gondwana que deu origem à América do Sul, África e 
Austrália e Antártida. 
 
 
 
Figura 3 – Ilustração esquemática das etapas evolutivas dos continentes ao longo do tempo geológico. 
 
A interpretação das fases geológicas, com base em dados paleontológicos, litológicos, de 
correlação estratigráfica, geofísicos, dentre outros levam à seguinte recontituição: 
1 – Fase Pré-rift: Sistema de fraturas direção N/S iniciando a fragmentação de Gondwana. 
2 – Fase Rift valley (sequência de lagos): sistema de fraturas profundas com formação de lagos, 
semelhantes ao atual rift-valley do leste africano. Destaque para o lago Vitoria e o Mar 
vermelho. (Figura 4) 
 
A B 
 
 C 
Fig 4 – Limite divergente: A: vista aérea da sequência de lagos no centro leste africano (Rift Valey); B: 
expansão e abatimento da crosta litosférica na placa africana. C - Localização e extensão da Rift Valey 
africano. 
 
3 – Fase Proto–oceânica: Início do afastamento entre o bloco America do Sul, Antartida e 
Australia e o bloco da África; alargamento da zona de fratura com abatimentos da litosfera 
(grabens- figura 4B), permitindo, posteriormente o acesso de uma massa oceânica pelo sul, 
formando gigantesco golfo. Oceano Atlântico Norte e Sul ainda ão comunicantes. 
 
4 – Fase oceânica: Oceano Atlântico já separa América do Norte e Europa; e América do Sul e 
África. A massa oceânica que avançou pelo norte originou a Bacia Potiguar e outras bacias 
litorâneas a oeste. Esta é a fase atual, ainda em andamento. 
A figura 5 é uma ilustração simplificada do perfil A-B (no canto inferior esquerdo)entre 
a Serra de Martins no oeste potiguar e o Rochedo de São Pedro e São Paulo nas imediações da 
cordilheira meso-oceânica do Atlântico sul. Entre os dois extremos estão representados, da 
esquerda para a direita: arenitos de praia, Recifes de Maracajaú, Rio do Fogo e Cioba, Urcas do 
Minhoto e Tubarão, Atos das Rocas e Fernando de Noronha. 
 
Figura 5 - Estruturas litológicas e feições fisiográficas decorrentes da história geológica da formação 
oceânica. Observe que a Bacia Potiguar estende-se da porção emersa, mediana do RN, até a quebra da 
plataforma. 
 
Estratigrafia da B Potiguar: 
A sequência litológica que compõe a estratigrafia dessa bacia está resumida no quadro a 
seguir, representando apenas em parte as fases mencionadas anteriormente. Isto porque não 
abriga registro de todas as fases. A reconstrução é feita, levando-se em consideração o 
contudo litológico das demais bacias. 
 
 
 
 
Unidades Estratigráficas Evento 
Geológico 
Ambiente deposicional 
Grupo Formação 
Areia 
Branca 
Pendência 
 
Fase rift 
Leques aluviais associados a 
sistemas fluvio-deltaicos a 
lacustres. 
 
 
Pescada 
Alagamar 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fase de 
transição 
Fósseis: palinomorfos e ostracodes. 
Ambiente: Fluvio-deltaico, lagunar 
e nerítico. 
 
Apodi Açu Fósseis: ícnias, crustáceos isopodes, 
escamas de peixe, restos vegetais. 
Ambiente: Leques aluviais, sistemas 
fluviais entrelaçados e 
meandrantes, transgressão costeira 
estuarina. 
 
Ponta do Mel Fósseis: foranimíferos planctônicos, 
nanofósseis calcários e 
palinomorfos. 
Ambiente: plataforma rasa 
associada a planície de maré e mar 
aberto 
 
Quebradas Plataforma e talude. 
Jandaíra 
 
 
 
Margem 
passiva 
Fósseis: Equinoides, moluscos 
gastrópodes, bivalves e raros 
amonides; algas coralináceas, 
corais, briozoários esponjas 
estromatoporoides, vegetais. 
Ambiente: plataforma rasa 
 
Agulha Ubarana Talude 
Guamaré Plataforma e talude 
Tibau Leques costeiros 
 
Durante a fase oceânica formaram-se os depósitos rochosos marinhos carbonáticos, 
representados no RN pela Formação Jandaíra, onde as evidências fossilíferas são 
representadas por: Icnofósseis , Microfósseis, Porífera, Briozoários, Celenterados, Moluscos, 
Equinodermas, Vegetais, Algas, Vertebrados. 
Os conteúdos fossilíferos das demais litologias são inexpressivas em termos de 
macrofósseis ou abrigam apenas microfósseis. 
Em síntese, os fósseis da Bacia Potiguar são: 
FÓSSEIS DA BACIA POTIGUAR – INVERTEBRADOS: 
 
1 – ICNOFÓSSEIS – especialmente preenchimento de galerias de invertebrados, 
possivelmente crustáceos. 
 
2 – MICROFÓSSEIS – Foraminíferos (gêneros Globotruncana, Globigerina, Citarina, 
Bulliminella e Robulus e Quinqueloculina e Siphogenerinoides); Ostracodes: 
(gênenros Bairdia, Cytherella e Cythereis) e Palinomorfos. 
 
3 - PORIFERA – Stromatoporoides, classe de esponjas extintas ao final do Cretáceo. Esses 
organismos já formaram recifes em outros continentes. 
 
 A B 
Fig. A - Colonia incrustante de estromatoporóide; B – detalhe da astrorriza estrutura 
característica desta esponja. 
4 – BRIOZOÁRIOS – colônias revestindo substratos constituídos principalmente por conchas 
ou estruturas tubulares. 
5 - COELENTERATA – Antozoários da ordem SCLERACTINIA 
 
Fig. A - Fragmento de colônia; B - detalhe de colônia com coralitos visíveis 
6- MOLUSCOS – Forma o grupo de fósseis mais numeroso e diversificado, com ocorrência de 
Gastrópodes, Bivalves, Cefalopodes amonoides. 
 
Tylostoma SP. Nerinea SP 
 
 
Vermetidae 
 
Dendrostrea ramicola Crasostrea pendenciana 
 
 
7 - ECHINODERMAS – ECHINOIDEA 
 
Equinoides: Rosadosoma riograndensis, Petalobrissus cubensis, Phymosoma tinocoi 
8 - VEGETAIS – marcas de folhas de Angiospermas 
 
9 - ALGAS – Rodoficeas coralináceas (calcarias) 
10- VERTEBRADOS – a incidência dos vertebrados na Formação Jandaíra é bastante discreta, 
com ocorrências de peixes, e um quelônio. 
Porém, em afloramentos da Fm. Jandaíra, em relevos kársticos, especialmente no interior de 
cavernas e ravinas, podem ser encontrados ossos de mamíferos. Esses ossos foram 
depositados bem posteriormente, pois correspondem a depósitos tardios, no Pleistoceno. 
Esses relevos foram gerados em decorrência de soerguimentos, fraturas e deformações nessas 
rochas carbonaticas cretáceas, possibilitando a ação dos processos de dissolução profunda e 
em superfície, abrindo espaço para o acesso de depósitos quaternários (pleistocênicos). Os 
fósseis pleistocênicos podem ser encontrados também em tanques, depressões naturais em 
rochas da litologia do complexo cristalino, fora do âmbito da Bacia Potiguar, não sendo, 
portanto, característicos dessa unidade geomorfológica.

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