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AULA - 10 E 11- SOCIOLOGIA (INDÚSTRIA CULTURAL)-4

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O objetivo da CA é desenvolver e usar métodos digitais para 
influenciar pessoas a agir de determinadas maneiras. Um 
desses métodos é a disseminação de diversas tipos e níveis 
de “fake news”, discursos de ódio e boatos, não diferentes dos 
disparados no Brasil na campanha de difamação pos-
assassinato da vereadora Marielle Franco. Por conta do banco 
de informações criado por Kogan e vendido à Cambridge 
Analytica, e com base em teorias da psicologia 
comportamental sobre como influenciar o comportamento das 
pessoas, a campanha política e de disseminação de boatos 
passou a uma escala quase personalizada e micro-
direcionada, utilizando estratégias diferentes em relação a 
cada grupo e restringindo a circulação das fake news a um 
âmbito no qual houvesse uma possibilidade maior de que 
fossem bem sucedidas em circular sem serem desmentidas. 
Foi posto em funcionamento uma máquina de propaganda 
baseada em mentira e trollagem, de maneira ultra 
personalizada e muito bem direcionada. Como declarou 
Christopher Wylie, um dos ex-empregados da CA que 
resolveu denunciar as práticas da empresa, “nós exploramos 
o Facebook para colher o perfil de milhões de pessoas. E 
construímos modelos para explorar o que sabíamos sobre 
elas e mirar em seus demônios internos. Essa é a base sobre 
a qual a empresa foi construída”. 
 
E o Facebook nisso tudo? 
 
Em primeiro lugar, o Facebook vendeu acesso a informações 
pessoais de, indiretamente, 50 milhões de usuários, sem que 
essas pessoas tenham acordado isso, ou mesmo que 
estivessem cientes dessa possibilidade. Entre 2007 e 2014, 
uma quantidade imensa e não regulada de dados pessoais foi 
extraída da rede social e cedida a “parceiros comerciais” da 
empresa, assim como à NSA, como já havia mostrado Edward 
Snowden em 2013. Se não bastasse isso, quando as 
primeiras reportagens sobre a CA foram publicadas por jornais 
britânicos, em dezembro de 2015, o Facebook as negou 
terminantemente e ameaçou processar a repórter responsável 
pela investigação, Carole Cadwalladr. 
 
Posteriormente, o Facebook admitiu as acusações, mas ainda 
assim tentou de todas as formas se desresponsabilizar pelo 
ocorrido. Uma das estratégias foi afirmar que Kogan teria 
acordo para usar as informações apenas acadêmica e 
cientificamente, logo que ele seria o responsável pela 
manipulação política em questão. Outra foi se desculpar pela 
falha em assegurar a segurança das informações pessoais de 
seus usuários (Zuckerberg admitiu que milhares de aplicativos 
tiveram acesso a enormes quantidades de dados sensíveis 
dos usuários) e afirmar que, desde o fim de 2014, mudanças 
no código da rede social diminuíram consideravelmente a 
possibilidade de extração de dados por terceiros de forma 
inadvertida. Foi prometido também que novas mudanças 
buscariam restringir ainda mais esse acesso. De qualquer 
maneira, uma das reações que se seguiram foi o movimento, 
encampado por várias celebridades, #DeleteFacebook, no 
qual as pessoas propunham abandonar a rede social com 
mais esse limite tendo sido ultrapassado. 
 
Outra consequência foi a queda brutal no valor das ações do 
Facebook (12% de seu valor de mercado em dois dias) nos 
momentos que se seguiram às revelações sobre a Cambridge 
Analytica. Se parte dessa queda pode ser auferida à quebra 
de confiança entre empresa e usuários, ou à demora da 
empresa em admitir o ocorrido, possivelmente um outro fator 
pode também explicar essa desconfiança. O próprio modelo 
de negócios sobre o qual o Facebook se erigiu pode passar, 
então, a ser questionado. Como disse Jonathan Albright, do 
Tow Center for Digital Journalism: “Este problema faz parte do 
Facebook e não pode ser separado como um exemplo infeliz 
de abuso”. “Foi uma prática padrão e incentivada. O Facebook 
estava literalmente correndo para construir ferramentas que 
abrissem os dados de seus usuários para parceiros de 
marketing e para novos negócios verticais. Então isso é algo 
inerente à cultura e ao design da empresa”. 
Mas para além da quebra de confiança e da violação de 
acordos de privacidade pelo Facebook – assuntos de grande 
gravidade – e da queda do valor de mercado da empresa, 
uma outra questão se sobrepõe como central a partir desse 
caso. A rede social mais utilizada, e também o terceiro site 
mais visitado do mundo, vem sendo duplamente utilizada – 
como campo de colheita e classificação de dados e como 
veículo de disseminação de mentiras e discursos de ódio – 
para fazer com que seus próprios usuários sejam induzidos a 
comportamentos políticos que há uma década pareceriam 
impossíveis de ocorrer, ou que eles próprios julgariam como 
irracionais. O uso de Big Data e algoritmos na política é hoje 
uma das principais ferramentas à disposição dos grupos em 
disputa e dos atores envolvidos, estejam buscando 
legitimidade nas urnas ou nas ruas. Por enquanto a vitória de 
grupos conservadores, a disseminação de mentiras e o 
prevalecimento de discursos de ódio parecem ser incontestes. 
A questão é se esse jogo já está decidido de antemão ou se é 
possível uma virada. De qualquer forma, parece que ele só 
está começando." 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A Internet tem sido uma tecnologia que altera dinâmicas das 
artes e meios de comunicação, remodelando indústrias 
enquanto introduz novas formas de organizar a produção 
e a distribuição. A influência da Internet nas indústrias 
culturais depende, em primeiro lugar, do quanto a substituição 
do analógico para o digital está apta para satisfazer os 
consumidores. Em segundo lugar, do quanto os produtores 
devem manter os lucros competitivos. E, terceiro, sobre a 
capacidade das empresas existentes explorar as mudanças 
inerentes à produção e distribuição digital. 
 
A Internet não contestou os modelos de negócios básicos de 
teatros tradicionais, companhias de balé e orquestras porque 
tais organizações fornecem um serviço que requer a presença 
física em uma audiência real. Instituições que exibem artes 
visuais também foram afetadas apenas marginalmente, 
embora museus virtuais podem desenvolver uma presença 
mais substancial. 
 
No entanto, a Internet teve um impacto profundo sobre as 
indústrias culturais, onde o principal produto - o filme, as 
notícias e a música, podem ser baixadas e apreciadas em 
particular. Isso aconteceu rapidamente com fotografias e 
textos e depois, como a velocidade de transmissão ampliou-
se, com a música e o cinema. E como isso ocorreu, modelos 
de negócios dominantes cairam em um processo de 
"destruição criativa", destruição por causa de seu impacto 
severo sobre as empresas existentes, mas criativa por causa 
da vitalidade econômica que desencadeou. 
 
Se olharmos para as estatísticas sobre as indústrias criativas 
no Estados Unidos, vemos que nem todos os setores têm 
sofrido declínios marcados e alguns que estavam mal antes 
da chegada da Internet. Portanto, devemos questionar a 
crença de que a Internet tem marchado em cima da indústria 
criativa espalhando lixo por dois motivos. O sistema criativo 
como um todo pode florescer, mesmo se as empresas 
historicamente dominantes e seus modelos de negócios 
enfrentem graves desafios. 
 
No entanto, cada indústria - cinema, imprensa ou música - é 
um pouco diferente. A indústria cinematográfica, com o seu 
regime de produção baseado em projeto, a sua eficácia em 
alcançar acordos com distribuidores online e um produto que 
mantêm fortes externalidades sociais, sobreviveu a chegada 
Internet, com relativamente poucos danos. Embora a 
distribuição de filmes irá mudar, a posição de 
realizadores/produtores parece relativamente estável. 
 
A ascensão do download ilegal, a mudança no mercado da 
venda de CDs físicos para venda de faixas online e o 
surgimento dos serviços de streaming têm abalado os 
modelos de negócios das grandes empresas de música. Em 
contraste, a Internet parece ter aumentado a disponibilidade 
de música ao vivo. Ao mesmotempo, o novo modelo de 
negócio está longe de ser determinado. Serviços de streaming 
fornecem apenas receitas modestas e a nova economia 
musical rede depende de uma espécie de auto-exploração 
econômica com renda abaixo do mercado. 
 
Poucas indústrias caíram mais drasticamente desde o 
surgimento da Internet do que a indústria de jornais. Ela 
enfrenta um futuro particularmente difícil, dada a relutância 
dos leitores a pagar pelo seu produto quando eles podem 
obter muito mais do que isso de maneira legal e gratuita a 
partir de sites. O aumento da publicidade online também fez a 
publicidade em jornais menos atraente para anunciantes. A 
questão é menos se os jornais vão sobreviver e mais se eles 
serão capazes de pagar mais pela qualidade das reportagens 
que as democracias saudáveis exigem. Observadores sérios 
sugeriram que a indústria vai precisar de apoio filantrópico ou 
do governo para sobreviver. 
 
Políticas de propriedade intelectual têm sido um campo 
altamente contestado na luta. Confrontada pelo download, as 
empresas de mídia conseguiram apertar as restrições sobre 
5.1. INTERNET E A INDÚSTRIA CULTURAL 
 
 
ZÓIA: ASSISTA, PELO O AMOR DE TUDO O QUE É 
MAIS SAGRADO, ESTE DOCUMENTÁRIO DA NETFLIX 
PRIVACIDADE HACKEADA 
O escândalo da empresa de consultoria Cambridge 
Analytica e do Facebook é recontado através da história 
de um professor americano. Ao descobrir que, junto com 
240 milhões de pessoas, suas informações pessoais 
foram hackeadas para criar perfis políticos e influenciar as 
eleições americanas de 2016, ele embarca em uma 
jornada para levar o caso à corte, já que a lei americana 
não protege suas informações digitais, mas a lei britânica 
sim.

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