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5 contemporâneas. As principais áreas foram: ciência política, antropologia, psicologia, economia, história, etc. Os principais pensadores frankfurtianos foram: • Max Horkheimer (1895-1973) • Theodor W. Adorno (1903-1969) • Herbert Marcuse (1898-1979) • Friedrich Pollock (1894-1970) • Erich Fromm (1900-1980) O maior colaborador foi Walter Benjamin (1892-1940), enquanto o principal membro da segunda geração foi Jürgen Habermas, pensador ainda vivo e que será tema de nossa última aula. O menino Walter Benjamin, um grande apreciador de haxixe No clássico ‘A Dialética do Esclarecimento’, a razão instrumental é entendida como o tipo de raciocínio onde há o planejamento dos meios para se atingir determinado fim, é o interesse próprio do sujeito que elabora tal raciocínio. Na visão da razão instrumental, o único critério da razão é a sua utilidade. Se ela produzir algo útil, é positiva, caso contrário, pode ser descartada. Dessa forma, a ideia da verdade passa a depender meramente das preferências subjetivas do indivíduo. O nosso ministro da Educação, por exemplo, considera inútil o investimento em Ciências Humanas. Horkheimer afirma que “o homem comum afirmará que as coisas razoáveis são aquelas que são evidentemente úteis”. A razão instrumental busca sempre a dominação sobre a natureza, sobre os seres humanos e sobre o próprio indivíduo. De acordo com Horkheimer, na sociedade burguesa, capitalista, há um crescente predomínio da razão instrumental. O indivíduo se torna conformista e permite que seus comportamentos sejam determinados unicamente pelos interesses econômicos, ideológicos e políticos de uma sociedade cega. Como a razão instrumental passa a ser o critério para as questões da moralidade, os ideais da sociedade – por exemplo o ideal da democracia – se tornam dependentes dos interesses das pessoas, em vez de dependerem da razão objetiva, clara e universal. Os valores e a justiça entram em declínio e o pragmatismo toma conta de tudo. Portanto, segundo Adorno e Horkheimer, graças à razão instrumental, o homem forja uma relação de instrumentalidade com a natureza. O homem usa e domina a natureza, colocando-a no patamar de “objeto”. Nesta mesma obra, os autores criticam o Iluminismo, que estimulou o desenvolvimento dessa razão instrumental e controladora que predomina na sociedade contemporânea. Eles mostram a ligação do Iluminismo com a razão instrumental e com o domínio sobre a natureza. Eles também associam o Iluminismo ao capitalismo, à autopreservação e à repressão que surge por meio dele. Adorno argumenta que os seres humanos que fazem parte de uma sociedade moderna vivem uma vida pré-programada, tanto em relação ao trabalho como em relação ao lazer. Mesmo durante seus momentos de lazer, quando conseguem fugir da monotonia de seu trabalho, eles nada mais fazem que se transformam de produtores para consumidores. Não se tornam indivíduos livres, que contribuem para a sociedade, seja no trabalho ou em suas atividades recreativas. Assim, ocorrera a morte da razão crítica, que fora asfixiada pelo capitalismo. Esses pensadores se mantiveram pessimistas em relação a uma mudança dessa realidade. As características da cultura e da sociedade se alteraram profundamente na medida em que novas formas de comunicação dependentes das tecnologias digitais adquiriram um uso generalizado, modificando o modo como buscamos e produzimos informação. Entretanto, as ciências sociais ainda analisam este fenômeno de maneira tímida, negligenciando os efeitos das tecnologias digitais nas sociedades e, sobretudo, no próprio ofício da sociologia. Uma dessas grandes questões foi justamente a temática proposta na redação do ENEM 2018, você se lembra bem. Sobre o uso de dados, deixo o texto do Professor do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós- graduação em Sociologia e Antropologia (IFCS/UFRJ) e coordenador do Laboratório de Estudos Digitais, Bruno Cardoso. Não é leitura complementar, é leitura obrigatória, viu? 4.1 A CRÍTICA DA RAZÃO INSTRUMENTAL 5. SOBRE A INTERNET 6 “Em março de 2018, foram revelados importantes detalhes de um escândalo político-digital com proporções semelhantes às revelações de Edward Snowden, publicadas em junho de 2013. Para se ter ideia do que está envolvido no intrincado caso que liga uma das mais prestigiosas universidades do mundo, uma empresa de consultoria política digital e a principal rede social contemporânea, dentre muitos outros atores, basta lembrar que essa composição bastante heterogênea vem sendo considerada como decisiva para importantes acontecimentos políticos no mundo, dentre os quais um dos mais impactantes e surpreendentes é a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA. Mas como isso aconteceu? Vamos tentar uma versão estrategicamente reduzida, para fins didáticos, dessa longa história dos acontecimentos. Cientistas (d)e dados Em abril de 2013, dois professores de psicologia da Universidade de Cambridge (Psychometrics Center) e um pesquisador da Microsoft publicam um artigo afirmando, a partir de pesquisa realizada com “curtidas do Facebook”, que traços de personalidade e atributos pessoais são predizíveis a partir dos registros digitais deixados em redes sociais. Ou seja: seria possível adivinhar muito sobre quem somos e como nos comportamos a partir do mais básico dos rastros que deixamos na mais utilizada das redes sociais. Algo que todos que já passearam pelo perfil de um (des)conhecido já tinham percebido de alguma ou outra forma, mas que dessa vez estava sendo pensado e transformado em modelo por pesquisadores de uma das principais universidades do mundo. Embora os pesquisadores envolvidos não tenham se mostrado interessados ou favoráveis a usarem seu método em marketing político, um outro membro do mesmo centro de pesquisa, e professor na mesma universidade, pensou de modo bastante diferente. Aleksandr Kogan, psicólogo e cientista de dados, partiu então do artigo publicado pelos colegas e desenvolveu softwares e algoritmos que permitissem a extração e a análise de dados, o estabelecimento de padrões comportamentais e de personalidade a partir desses rastros digitais e a classificação de um número elevado de usuários dentro desses padrões definidos. Um trabalho que misturou psicologia (psicometria) e mineração de dados (data mining). Um outro detalhe interessante, é que Kogan, que nasceu na Moldávia, como cidadão soviético, também assumiu um cargo de professor na Universidade de São Petersburgo e recebeu financiamento de uma agência de fomento estatal russa para desenvolver essa mesma pesquisa. Talvez isso ajude a explicar alguns pontos do xadrez geopolítico atual… Juntamente com um sócio, Kogan monta uma empresa chamada Global Science Research (GSR) e fecha um acordo (financeiro) com o Facebook, para usar os dados de seus usuários e para instalar um aplicativo (myPersonality) de testes de personalidade, a ser realizado em grupos selecionados de usuários da rede social. O método científico aplicado chama atenção pela sagacidade e pela falta de escrúpulos dos elaboradores. Em banners em diversos sites, como Amazon, pessoas se deparavam com ofertas para que respondessem a um questionário sobre sua personalidade em troco de um pequeno pagamento (que variava de 2 a 5 dólares por pessoa). Aqueles que concordavam, deviam se logar pelo Facebook (permitindo assim que o aplicativo tivesse acesso às informações de navegação na rede social) e preencher seu número de registro eleitoral nos EUA, para restringir a pesquisa àqueles em condições de votar. Para ganhar esses de 2 a 5 dólares, 32 mil pessoas responderam o questionário/teste de personalidade. Tendo por base os questionários e as informações desses 32 mil usuários, algoritmos passaram a comparar as respostas e a definir correlações estatísticas entre os traços de personalidade e ostraços deixados no Facebook por cada um, criando padrões e classificando cada um dentro deles. Com uma amostragem bastante considerável de 32 mil pessoas, a GSR podia montar um quadro consistente de correlações e inferir muitas “personalidades”, preferências e inclinações políticas a partir dessas correlações estabelecidas. Contudo, isso era apenas o início da estratégia posta em funcionamento. Sem que isso fosse informado claramente aos usuários, o software da pesquisa acessava também as informações dos amigos de cada um daqueles que aceitava responder, fazendo com que fossem extraídas as informações de, no total, mais de 50 milhões de perfis. Embora esses 50 milhões não tivessem preenchido os testes de personalidade, eles também foram classificados a partir das correlações criadas com base na amostragem dos 32 mil usuários iniciais. A mineração de dados em cima do Big Data extraído desses milhões de perfis construiu um valioso banco de informações, com enorme potencial de uso político. Mais importante ainda, essas informações extraídas da internet, se corretamente tratadas, se mostram de grande utilidade para aqueles que pretendem intervir no comportamento e na subjetividade individual. Intervindo no mundo a partir do Big Data Após um acordo financeiro, a GSR vende as informações que extraiu e classificou a partir do esquema montado por Kogan para a empresa de consultoria política Cambridge Analytica (CA), num acordo que, como mostraram e-mails trocados na época e vazados agora para a imprensa, gerou considerável conflito entre Kogan e seus colegas de universidade. A CA, dirigida por um empresário conservador da elite britânica (Alexander Nix), passa então a usar esses dados garimpados e tratados por Kogan para atuar no ramo do marketing político. Desde então, obteve duas vitórias bastante consideráveis e contrárias aos prognósticos iniciais nas campanhas que realizou: o Brexit (na Grã-Bretanha) e a eleição de Donald Trump, nos EUA.