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3 determinada comunidade, em outras palavras, eles entendiam ‘cultura de massas’ como sinônimo de ‘cultura popular’. Portanto, apesar desta distinção de conceitos, podemos aproximar ‘indústria cultural’ de ‘cultura de massas’ se levarmos em consideração que esta última não é sinônimo de ‘cultura popular’, mas sim uma manifestação maquinal produzida sob a égide do capital. Com a ascensão de Hitler, os membros da Escola de Frankfurt tiveram que ir embora da Alemanha. Adorno (1903- 1969) e Horkheimer viveram na pele o horror dos regimes fascistas na Europa. Mas, ao se refugiarem nos Estados Unidos, assustaram-se com uma sociedade capitalista onde tudo se media pela cifra do dinheiro, inclusive a cultura. Na virada do século XIX para o século XX, o mundo ocidental conheceu uma nova forma de produção cultural. O método de produção em larga escala, difundido por Henry Ford, começou a se estender. Os avanços tecnológicos possibilitaram o surgimento de novas formas de expressões artísticas e o estabelecimento de novas relações entre o público e a arte. O cinema, por exemplo, é uma dessas expressões. A gravação de determinada sequência de cenas pode ser copiada e o filme pode ser visto por diversas pessoas em diversos lugares do mundo. É certo que essa possibilidade de alcançar muitas pessoas é boa. Porém, os filósofos que citei logo acima perceberam que havia algo não tão positivo nessa nova realidade. Por conta disso, Max Horkheimer e Theodor Adorno, observando esse novo momento do fazer artístico, cunharam o termo “indústria cultural”. Indústria cultural é o termo usado para designar esse modo de fazer cultura, a partir da lógica da produção industrial. Significa que se passou a produzir arte com a finalidade do lucro. A indústria cultural é fruto da oportunidade de expansão da lógica do capitalismo sobre a cultura. Para se obter lucro com o cinema, por exemplo, é preciso fazer um filme que agrade o maior número de pessoas. Dessa forma, criam-se alguns padrões, como o vilão e o mocinho, as histórias de amor, os finais felizes. No fundo, toda a produção artística fica padronizada e não há muito espaço para o novo. Todo esse processo de padronização ocorre também no universo da música. Um ritmo ou artista de sucesso logo é “copiado”, não possibilitando aos ouvintes a escolha, já que é tudo muito parecido. Outro problema é que não há mais espaço para a liberdade de criação. No caso da música, a composição precisa estar de acordo com o produtor musical, com o empresário, com o dono da gravadora. No fundo, a lógica da produção artística é a mesma da produção industrial, onde cada um “aperta um parafuso” sem conhecer todo o processo. O importante é sempre vender muitos álbuns, não importando muito a qualidade musical. Essa indústria da cultura, produzindo essa cultura para as massas, faz com que se entre num círculo vicioso. A indústria define qual tipo de arte pode ser consumido; e parte do público que não se rebelou com os padrões impostos passa a perder a sua capacidade de julgar e de perceber algo bom. Com isso, a indústria cultural passa a produzir mais arte de péssima qualidade e o público consome essa arte. Disso resulta arte sempre com qualidade inferior e público sempre com gosto inferior. Essas atividades se organizam em termos industriais, produzidas para o mercado e para a maximização do lucro. São características da Indústria Cultural: 1. Heteronomia cultural: a formação do gosto dos indivíduos passa a estar sujeita às produções artísticas do capital. 2. A transformação da arte em mercadoria. 3. A hierarquização das qualidades: normalmente os produtos da indústria cultural não exigem atenção ou repertório cultural para serem compreendidos, cria- se, portanto, uma estrutura de consumo empobrecedora da experiência. 4. A incorporação de novos suportes de comunicação pelos setores que já detinham os meios de mídia: portais de notícias online, por exemplo, nas mãos dos donos dos portais jornalísticos tradicionais. 5. O caráter de montagem dos produtos: a arte passa a ser um produto montado, tal qual um carro ou qualquer objeto industrializado. 6. A reprodução técnica comprometendo a autenticidade da arte: a arte deixa de ser única, singular, autêntica e original e passa a ser copiada em escala global. 7. O consumidor passivo. 8. A técnica e a arte como ideologias: a arte enquanto produto da indústria cultural é carregada de ideologia capitalista. 9. O "novo" como sinônimo de imediato. Entretanto, do mesmo grupo de amigos de Adorno e Horkheimer, o filósofo Walter Benjamin (1892-1940) via algo bom no fato de essa arte alcançar diversas pessoas. Para Benjamin há uma democratização da arte. Em seu ensaio clássico: “a obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, Benjamin aponta que apesar de ter perdido a sua “aura”, ou seja, sua singularidade e originalidade, por ser copiada mundialmente, é justamente a possibilidade de copiar 4 o que se produz que possibilita levar cultura para um maior número de pessoas. A fotografia, por exemplo, dá a chance que se observe um quadro de um museu distante, sem a necessidade de o observador ter de se deslocar. O cinema possibilita o mesmo. Mesmo a fotografia e o cinema sendo um fragmento do olhar de quem estava por trás da câmera, é possível levar esse pedaço do mundo para outras pessoas. Além disso, com o avanço tecnológico, mais pessoas tenham acesso às ferramentas para a produção cultural. Benjamin não viu o mundo tecnológico que temos hoje, mas o que ele pensou pode ser observado. O barateamento da tecnologia permitiu que muitos artistas gravassem em estúdios improvisados nas suas garagens e quartos. O computador é uma dessas ferramentas que possibilitam uma abertura para o mundo, democratizando o acesso à cultura. Benjamim acreditava que a reprodutibilidade e, por sua vez, o “declínio da aura”, da originalidade da obra de arte, proporcionaria o acesso das obras de arte à população e que reprodução técnica seria instrumento de democratização do saber artístico. Certo disso, Benjamim afirma que a reprodução técnica “pôde, principalmente, aproximar o individuo da obra, seja sob a forma de fotografia, seja do disco. A catedral abandona seu lugar para estalar-se no estúdio de um amador; o coro, executado numa sala ou ao ar livre, pode ser ouvido num quarto.” Nota-se facilmente que Benjamin atribui à arte e, por sua vez, também à reprodutibilidade, um caráter político, que poderia facilmente ser chamado de democratizante. De certa forma, não se pode negar, que em algumas situações, tal reprodução age no cumprimento desse objetivo. Ela proporcionou a apreciação de grandes clássicos, antes restrita a uma pequena minoria de privilegiados. Percebe-se, portanto, um viés de disparidade existente entre os ideais de Benjamin e as premissas de Adorno e Horkheimer, enquanto aquele apregoava a libertação e democratização do saber cultural, estes percebiam a alienação e a prisão da arte, na época de sua reprodutibilidade, não mais à tradição, mas aos padrões capitalistas da nossa sociedade. Nesse sentido, a indústria cultural surge como um instrumento de alienação cultural e ideológica, preocupada em formar consumidores, sem nenhuma obrigação crítica e sem comprometimento com a qualidade das obras tecnicamente reproduzidas. A fundação do "Instituto para Pesquisa Social" (Institut für Sozialforschung) se daria somente em 22 de junho de 1924. Era um anexo da Universidade de Frankfurt que estava sob a direção de Carl Grünberg. Ele dirigiu a instituição até 1930, ano em que assume Max Horkheimer. Mais tarde, com a ascensão do nazismo, o instituto é transferido para Genebra e Paris. Em 1935, foi transferido para Nova Iorque, Estados Unidos. Ali, será acolhidopela Universidade de Colúmbia, até 1953, quando o Instituto para Pesquisa Social retorna à Frankfurt definitivamente. Os teóricos da Escola de Frankfurt foram capazes de compartilhar seus pressupostos teóricos e desenvolver uma postura crítica. Essa postura esteve oposta ao determinismo comum às teorias positivistas. Foram inspirados por pensadores como Kant, Hegel, Marx, Freud, Weber e Lukács. Os “frankfurtianos” ficaram marcados pela influência marxista, contudo, consideraram alguns fatores sociais que o próprio Marx não previu, ou não dava a devida importância. Suas análises recaem sobre a “superestrutura”. Ou seja, os mecanismos que determinam a personalidade, a família e a autoridade, analisadas no contexto da estética e da cultura de massa. Para os estudiosos, as técnicas de dominação seriam ditadas pela Indústria Cultural, principal responsável pela massificação de um tipo de conhecimento, de arte e de cultura. As técnicas físicas de reprodução da obra de arte (cinema, fotografia, discos), bem como sua função social também são temáticas recorrentes da escola, como já vimos. Os pensadores da Escola de Frankfurt analisaram e denunciaram algumas estruturas de dominação política, econômica, cultural e psicológica da sociedade moderna. Demonstraram de forma explícita a capacidade destrutiva do capitalismo, principal responsável pela estagnação da consciência política, crítica e revolucionária. Eles usaram de recursos de diversas áreas para elaborarem as bases de uma teoria crítica da sociedade e da cultura 4. MAIS UM POUCO SOBRE A ESCOLA DE FRANKFURT