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NORMAS ADMINISTRATIVAS E ADUANEIRAS Deisi Luana Diel Weber Procedimentos especiais de controle aduaneiro Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as hipóteses de procedimentos especiais de controle aduaneiro. Detalhar o procedimento especial de controle aduaneiro. Indicar as medidas disponíveis e a conclusão para o procedimento especial. Introdução Todas as entradas e saídas de mercadorias de um país exigem um controle exercido por seu governo, executados por diversos ministérios no âmbito administrativo, aduaneiro e cambial. O controle aduaneiro é exercido pela Receita Federal do Brasil (RFB), que age no controle de veículos e mercadorias, e pela Polícia Federal, que atua nas ações de controle de imigração, sobre entrada e saída de pessoas. Quando for constatado algum indício de fraude, seleciona-se o pro- cesso para conferência aduaneira, chamado de canal cinza, que autoriza a abertura de procedimentos especiais de controle aduaneiro (PECAs), conforme a Instrução Normativa (IN) RFB nº. 1.169, de 29 de junho de 2011. A normativa estabelece que, se constatada infração, a punição poderá ser multa ou perdimento da mercadoria, ficando de posse da RFB. Neste capítulo, você vai ler sobre os PECAs, como estão estruturados, as circunstâncias em que são aplicados às empresas, as penalidades e as consequências para o importador ou exportador. 1 Hipóteses de procedimentos especiais de controle aduaneiro O Estado, enquanto nação, tem como responsabilidade agir como controlador e promotor das relações que o seu país faz com outros, legislando, administrando e fi scalizando o processo de entrada e saída de bens e serviços. Quanto à legislação, temos as normas administrativas que regulam o fl uxo de mercado- rias, as normas cambiais que controlam o fl uxo dos meios de pagamento e as normas tributárias que determinam os tributos cobrados (WERNECK, 2012). Da mesma forma, os controles governamentais ocorrem nas esferas admi- nistrativa, cambial e aduaneira. O controle administrativo regula o que pode ou não entrar ou sair do país, por meio de licenças e permissões. O controle cambial, realizado pelo Banco Central, regula as remessas enviadas ou rece- bidas para as exportações e importações. Já o controle aduaneiro, realizado pela RFB, engloba a verificação dos documentos e das mercadorias e também a regularidade do recolhimento de impostos e contribuições incidentes sobre o comércio exterior (LUZ, 2012). O controle aduaneiro é exercido nas aduanas, que podem ser definidas como o órgão que fiscaliza os fluxos de comércio exterior, que é controlado pela RFB. A estratégia aduaneira, segundo França (2017), está organizada em uma territorialidade específica, que não se sobrepõe às demais territorialidades de um Estado, possibilitando o controle sobre a movimentação de pessoas, bens e serviços. A rede aduaneira brasileira é composta por pontos de fronteira, portos, aeroportos, portos secos, entre outros nós aduaneiros em uma topologia que acompanha a rede urbana brasileira. Do ponto de vista jurídico-normativo e institucional, o território aduaneiro compreende as zonas primárias, que caracterizam o primeiro ponto de chegada em território nacional, e as zonas secundárias, que compreendem o restante do território aduaneiro, nelas incluídas as águas territoriais e o espaço aéreo. Tanto a alfândega quanto o ponto de fronteira possuem recintos alfandegados (FRANÇA, 2017). As regras para atuação da aduana estão definidas no Decreto nº. 6.759, de 5 de fevereiro de 2009, chamado de Regulamento Aduaneiro, composto de oito livros, assim estruturados (BRASIL, 2009): Livro I — Da Jurisdição Aduaneira e do Controle de Veículos; Livro II — Dos Impostos de Importação e Exportação; Livro III — Dos Demais Impostos, Taxas e Contribuições Devidos na Importação; Procedimentos especiais de controle aduaneiro2 Livro IV — Dos Regimes Aduaneiros Especiais e dos Aplicados em Áreas Especiais; Livro V — Do Controle Aduaneiro de Mercadorias; Livro VI — Das Infrações e Penalidades; Livro VII — Do Crédito Tributário, do Processo Fiscal e do Controle Administrativo Específico; Livro VIII — Das Disposições Finais e Transitórias. O Regulamento Aduaneiro descreve, de forma detalhada em seus livros, as ações previstas por parte da RFB para cada um dos oito temas abordados no regulamento e serve como guia também para importadores e exportadores atuarem dentro das ações previstas pela RFB. Segundo Voigt e Moraes (2010, documento on-line), foram criados, nas alfândegas dos principais portos e aeroportos do País, órgãos de fiscalização chamados de Seção de Procedimentos Especiais Aduaneiros (Sapea), que fazem a análise documental, a conferência de cargas e as demais apurações destinadas a “[...] verificar elementos indiciários de fraude nos despachos aduaneiros”, principalmente: condutas suspeitas de falsa classificação fiscal; suspeitas de falsa informação de preço; suspeitas de infração de propriedade industrial; suspeitas de não atendimento de norma técnica; suspeitas de interposição fraudulenta de terceiro. Assim, as medidas de controle exercidas pela RFB estão descritas no Re- gulamento Aduaneiro, e seus procedimentos especiais estão detalhados na IN RFB nº. 1.169/2011 (BRASIL, 2011). Os procedimentos especiais de controle aduaneiro foram criados pelo governo no intuito de fiscalizar as operações de importação e exportação brasileiras suspeitas de algum tipo de irregularidade. Segundo a IN RFB nº. 1.169/2011 (BRASIL, 2011, documento on-line), os processos com indícios de fraude podem ser retidos pela RFB antes mesmo de iniciar o despacho aduaneiro, sob pena de perdimento: Art. 1º O procedimento especial de controle aduaneiro estabelecido nesta Instrução Normativa aplica-se a toda operação de importação ou de exporta- ção de bens ou de mercadorias sobre a qual recaia suspeita de irregularidade punível com a pena de perdimento, independentemente de ter sido iniciado o despacho aduaneiro ou de que o mesmo tenha sido concluído. 3Procedimentos especiais de controle aduaneiro O procedimento de controle aduaneiro é instaurado pelo auditor fiscal da RFB responsável, normalmente determinado durante a conferência aduaneira, que pode ser documental, verificação da mercadoria e aplicação de procedi- mentos especiais de controle aduaneiro. Dessa forma, a RFB nº. 1.169/2011 (BRASIL, 2011, documento on-line) prevê que “[...] a falsidade ideológica de qualquer documento apresentado em despacho acarretará o perdimento”. Então, quando houver indícios de fraude, a conferência é mais aprofundada e apontará, assim, as possíveis irregulari- dades sob suspeita. Nesse caso, a mercadoria ficará retida até a verificação ser concluída, sendo permitida a retenção por 90 dias, prorrogável por igual período (LUZ, 2012). Para o comércio exterior, apesar de representar atrasos na liberação e custos, a fiscalização exercida pela RFB é necessária para evitar ou reprimir a entrada e saída de produtos ilegais, a fim de proteger a sociedade e os consumidores. Assim, toda vez que a Declaração Única de Exportação (DU-E) ou a De- claração de Importação (DI) parametrizarem em um canal cinza, exigirão a aplicação de procedimentos especiais de controle aduaneiro. O motivo de atribuição desse procedimento pode ser de origem subjetiva — quando a pessoa jurídica é fiscalizada e a mercadoria pode ser liberada mediante fiança ou garantia — ou de origem objetiva — quando a mercadoria é fiscalizada e, nesses casos, não pode ser liberada mediante garantia. O art. 572 do Regulamento Aduaneiro (BRASIL, 1966, documento on- -line) traz que: “Art. 572 Quando se tratar de mercadoria sujeita a controle especial, a depósito ou a pagamento de qualquer ônus financeiro ou cam- bial, o desembaraço aduaneiro dependerá do prévio cumprimento destas exigências”. Cabe, desse modo, aoexportador ou importador cumprir as exigências determinadas pela RFB — seja de comprovação de origem ou de correção documental, entre outras — para provar a idoneidade da empresa e do processo para que não seja caracterizada a fraude e a carga possa ser liberada após a conferência. Caso o exportador não tenha condições de cumprir as exigências estabe- lecidas pela RFB, a mercadoria irá a perdimento, que é a sanção mais grave no Direito Aduaneiro: TRIBUTÁRIO. AÇÃO ANULATÓRIA. FALSIDADE MATERIAL E IDE- OLÓGICA. PENA DE PERDIMENTO. DESPROPORÇÃO. 1. Mercadoria importada pode ser retida pela autoridade alfandegária para que se apure a ocorrência de irregularidade punível com a pena de perdimento, desde que estejam demonstrados veementes indícios de sua existência (art. 68 da Medida Procedimentos especiais de controle aduaneiro4 Provisória nº. 2158/01) e de má-fé. 2. No que tange à falsidade material, o Fisco não demonstrou qualquer indício de má-fé da parte autora. Os documentos juntados não revelam que ela queria ocultar ou simular informações. Nenhum deles foi forjado ou contrafeito. Assim, não foi demonstrado o dolo de fraudar (BRASIL, 2011, documento on-line). A mercadoria também pode ser destinada ao PECA antes do início do desembaraço, na exportação ou na importação, ou seja, antes do registro das DU-E e DI. Assim, o fiscalizado deverá prover as informações exigidas pela RFB para que o registro possa ocorrer, com ou sem multa; caso contrário, o risco de perdimento da mercadoria será grande. Caso as fraudes do processo não sejam comprovadas, a apreensão é anulada: APREENSÃO DE MERCADORIA. IN SRF Nº. 206/02. SUSPEITA DE SUBFATURAMENTO. IMPORTAÇÃO. PENA DE PERDIMENTO. DESCABIMENTO. 2. Não comprovada a existência de fraude na opera- ção de importação, tampouco existindo provas concretas de que houve o subfaturamento da importação realizada, impõe-se a anulação do ato de apreensão e a devolução das mercadorias ao autor (BRASIL, 2011, documento on-line). Assim, o auditor fiscal pode reter a mercadoria, porém deve demonstrar com fundamentos os indícios de irregularidade (ANDRADE; HOLZKAM, 2013); caso contrário, a mercadoria segue seu fluxo de exportação ou importação normal. Contudo, foi publicada a IN RFB nº. 1.678, em 23 de dezembro de 2016, que altera alguns dos procedimentos: Altera a Instrução Normativa SRF nº. 228, de 21 de outubro de 2002, que dispõe sobre procedimento especial de verificação da origem dos recursos aplicados em operações de comércio exterior e combate à interposição fraudulenta de pessoas, e a Instrução Normativa RFB nº. 1.169, de 29 de junho de 2011, que estabelece procedimentos especiais de controle, na importação ou na exportação de bens e mercadorias, diante de suspeita de irregularidade punível com a pena de perdimento (ZANTUT; HUFF, 2016 documento on-line). As empresas antes teriam que revelar indícios de incompatibilidade entre volumes transacionados e a capacidade econômica e financeira. Na nova redação, as empresas devem apresentar indícios de interposição fraudulenta de terceiros, o que enquadra a norma em uma classificação mais específica. 5Procedimentos especiais de controle aduaneiro 2 Procedimento especial de controle aduaneiro O processo de efetuar algum PECA na mercadoria importada ou a exportar é instaurado pelo auditor fi scal após a comunicação à pessoa fi scalizada. Ou seja, antes de dar início à conferência e à verifi cação do bem, as partes envolvidas devem ser devidamente comunicadas para que, cientes, tenham condições de tomar as providências necessárias, acompanhar o procedimento de vistoria se for de seu interesse e responder às inquisições da RFB. Nesse intervalo, a mercadoria fi cará retida até a conclusão do procedimento de fi scalização. Sobre os motivos que levam o auditor fiscal a reter uma carga por identificar algum indício de fraude, temos, de forma detalhada, a descrição na IN RFB nº. 1.169/2011 sobre os motivos que frequentemente remetem uma carga a PECA (BRASIL, 2011, documento on-line): Art. 2º As situações de irregularidade mencionadas no art. 1º compreendem, entre outras hipóteses, os casos de suspeita quanto à: I — autenticidade, decorrente de falsidade material ou ideológica, de qual- quer documento comprobatório apresentado, tanto na importação quanto na exportação, inclusive quanto à origem da mercadoria, ao preço pago ou a pagar, recebido ou a receber; II — falsidade ou adulteração de característica essencial da mercadoria; III — importação proibida, atentatória à moral, aos bons costumes e à saúde ou ordem públicas; IV — ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de respon- sável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiro; V — existência de fato do estabelecimento importador, exportador ou de qualquer pessoa envolvida na transação comercial; ou VI — falsa declaração de conteúdo, inclusive nos documentos de transporte. § 1º As dúvidas da fiscalização aduaneira quanto ao preço da operação devem estar baseadas em elementos objetivos e, entre outras hipóteses, na diferença significativa entre o preço declarado e os: I — valores relativos a operações com condições comerciais semelhantes e usualmente praticados em importações ou exportações de mercadorias idênticas ou similares; II — valores relativos a operações com origem e condições comerciais se- melhantes e indicados em cotações de preços internacionais, publicações especializadas, faturas comerciais pro forma, ofertas de venda, dentre outros; III — custos de produção da mercadoria; IV — valores de revenda no mercado interno, deduzidos os impostos e contri- buições, as despesas administrativas e a margem de lucro usual para o ramo ou setor da atividade econômica. Procedimentos especiais de controle aduaneiro6 § 2º Os casos referidos à origem das mercadorias se aplicam também à origem não preferencial, nas hipóteses de suspeita de triangulação de mercadoria (circumvention) para subtrair-se à imposição de direitos comerciais (anti- -dumping, salvaguardas e medidas compensatórias). § 3º Na caracterização das hipóteses dos incisos IV e V do caput, a autoridade fiscal aduaneira poderá considerar, entre outros, os seguintes fatos: I — importação ou exportação de mercadorias em volumes ou valores incom- patíveis com as instalações físicas, a capacidade operacional, o patrimônio, os rendimentos, ou com a capacidade econômico-financeira do importador, adquirente ou exportador, conforme o caso; II — ausência de histórico de operações do sujeito passivo na unidade de despacho; III — opção questionável por determinada unidade de despacho, em de- trimento de outras que, teoricamente, apresentariam maiores vantagens ao interveniente, tendo em vista a localização do seu domicílio fiscal, o trajeto e o meio de transporte utilizados ou a logística da operação; IV — existência de endosso no conhecimento de carga, ressalvada a hipótese de endosso bancário; V — conhecimento de carga consignado ao portador; VI — ausência de fatura comercial ou sua apresentação sem a devida assina- tura, identificação do signatário e endereço completo do vendedor; VII — aquisição de mercadoria de fornecedor não fabricante: a) sediado em país considerado paraíso fiscal ou zona franca internacional; b) cujo endereço exclusivo seja do tipo caixa postal; ou c) que apresente qualquer evidência de tratar-se de empresa de fachada. Em síntese, quando identificadas a falsidade nas informações contidas nos documentos apresentados, a adulteração nas características da mercadoria, a importação proibida, a ocultação do real vendedor ou do estabelecimento do exportador ou importador e a falsa declaração de conteúdo, poderá haver retenção da mercadoria para verificação e, se confirmado, ocorrerá a aplicação de multa ou incorrência de perdimento do bem em referência. Digite “Perdimento de mercadorias” no seu mecanismo de busca para acessar um descritivo detalhado pelaRFB das motivações que podem levar ao perdimento de mercadorias, os tipos de perdimento, as suas causas e as consequências. 7Procedimentos especiais de controle aduaneiro Entre os motivos citados, merece destaque a subvaloração, que Andrade e Holzkam (2013) definem como a declaração a menor nos valores de um bem, com a prévia inserção de dados falsos nos documentos que acompanham a carga, caracterizando falsidade ideológica. Quando identificado o erro proposital (doloso) ou a falsidade material, caberá a aplicação do PECA, cobrança de multa e/ou perdimento da mercadoria. No art. 105 do Decreto-Lei nº. 37, de 18 de novembro de 1966, em especial, no inciso VI, temos a base para aplicação da perda de mercadoria: Art.105 Aplica-se a pena de perda da mercadoria: [...] VI -— estrangeira ou nacional, na importação ou na exportação, se qualquer documento necessário ao seu embarque ou desembaraço tiver sido falsificado ou adulterado (BRASIL, 1966, documento on-line). Nos casos em que a garantia não for permitida, a RFB embasa sua ação conforme o descrito no art. 6º da IN RFB nº. 1.169/2011 (BRASIL, 2011, documento on-line): Art. 6º O Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil responsável pelo pro- cedimento especial de que trata esta Instrução Normativa poderá adotar as seguintes providências, dentre outras que considerar indispensáveis, nos termos da legislação em vigor: I — realizar diligência ou fiscalização no estabelecimento do interveniente, ou solicitar a sua realização, em caráter prioritário, à unidade de jurisdição aduaneira de zona secundária; II — encaminhar à Coordenação-Geral de Relações Internacionais (Corin) pedido de requisição de informações à administração aduaneira do país do fornecedor ou ao adido aduaneiro e tributário nele localizado; III — solicitar laudo técnico para identificar a mercadoria, inclusive suas matérias-primas constitutivas e obter cotações de preços no mercado inter- nacional; IV — iniciar procedimento para apurar a veracidade da declaração e au- tenticidade do certificado de origem das mercadorias, inclusive intimando o importador ou o exportador a apresentar documentação comprobatória sobre a localização, capacidade operacional e processo de fabricação para a produção dos bens importados; V — solicitar a movimentação financeira do importador, exportador, ou outro interveniente da operação e, se necessário, emitir a correspondente Requisição de Informação sobre a Movimentação Financeira (RMF); e Procedimentos especiais de controle aduaneiro8 VI — intimar o importador, exportador, ou outro interveniente na operação, a apresentar informações e documentos adicionais que se mostrem necessá- rios ao andamento dos trabalhos, inclusive os relativos a outras operações de comércio exterior que tenha realizado, observado o disposto na legislação específica e o prazo decadencial. No art. 105 do Decreto-Lei nº. 37/1966, VI (BRASIL, 1966), consta que a pena nos casos de fraude, sonegação ou conluio é a multa, formulada com base na diferença entre o preço declarado e o preço efetivamente praticado, devi- damente corrigidos. Assim, conforme Andrade e Holzkam (2013, documento on-line), podemos identificar no art. 108, parágrafo único, do Decreto-Lei nº. 37/1966 que: Art.108 Aplica-se a multa de 50% (cinquenta por cento) da diferença de im- posto apurada em razão de declaração indevida de mercadoria, ou atribuição de valor ou quantidade diferente do real, quando a diferença do imposto for superior a 10% (dez por cento) quanto ao preço e a 5% (cinco por cento) quanto a quantidade ou peso em relação ao declarado pelo importador. Parágrafo único. Será de 100% (cem por cento) a multa relativa a falsa decla- ração correspondente ao valor, à natureza e à quantidade. Nos casos em que for permitido o pagamento de garantia ou fiança, ba- sicamente nos procedimentos de origem subjetiva, o valor será equivalente ao preço apurado da mercadoria, acrescido do frete e seguro internacional, informado em até 10 dias após solicitação, e ficará concedido à União pelo prazo de 5 anos, devendo ser renovado enquanto persistir a situação. 3 Medidas disponíveis e conclusão para o procedimento especial Após iniciado o PECA pela autoridade aduaneira, segundo a IN RFB nº. 1.169/2011 (BRASIL, 2011), o prazo para conclusão é de 90 dias, prorrogável por igual período, após a apropriada notifi cação das partes envolvidas. Na falta de atendimento, a intimação em até 60 dias caracteriza omissão do importa- dor, resultando no encerramento do PECA. As consequências decorrentes da fraude identifi cada podem ser aplicadas de igual maneira, onerando as partes envolvidas ao pagamento de multas ou à declaração de abandono. 9Procedimentos especiais de controle aduaneiro Enquanto a carga se mantiver sob análise fiscal, a empresa fiscalizada incorre em gastos, ou seja, os procedimentos de retenção da mercadoria acarretam prejuízos com aumento de gasto com demurrage, depreciação, alterações cambiais, entre outros, já que impõem a sua permanência em recinto alfandegado por 90 dias, prorrogável por igual período. Outras consequências podem ser ocasionadas aos fiscalizados: [...] tanto no âmbito (i) administrativo, com a inabilitação do Siscomex e/ou a inaptidão do CNPJ e pena de perdimento; quanto no (ii) tributário, cobrando tributos provenientes da subavaliação da base de cálculo da mercadoria, aqueles calculados sobre a renda e/ou a diferença sobre os indiretos — IPI e ICMS; e, inclusive, em responsabilidade (iii) penal dos responsáveis, com a instauração de processos investigatórios de sonegação fiscal, descaminho, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, dentre outros, merecem ser vistos com reservas (ZANTUT; SANDRI; SALES, 2017, documento on-line). Nos casos em que a multa é aplicada sobre o valor aduaneiro, o fiscalizado pode optar por decretar abandono da carga, assim, o processo se encerra e o bem fica sob posse da RFB. Caso o despacho, nos casos de importação, já tenha se iniciado e a DI tenha sido registrada, os impostos federais já tenham sido debitados da conta bancária vinculada ao CNPJ e se a pena de perdimento for aplicada ou caso o abandono seja decretado, é devida a restituição ou a compensação dos tributos recolhidos: O perdimento definitivo de mercadoria apreendida durante o despacho adu- aneiro de importação afasta a incidência dos tributos sobre a importação, ao teor do inciso III do § 4º do art. 1º do Decreto-lei nº. 37/66, porquanto a mercadoria foi localizada, não foi consumida nem revendida. Corolário disso, os tributos pagos por ocasião do registro da declaração de importação devem ser restituídos (ALMEIDA, 2014, documento on-line). O Decreto-Lei nº. 1.455, de 7 de abril de 1976, dispõe sobre as mercadorias estrangeiras apreendidas e regula o processo de perdimento (BRASIL, 1976). No site da RFB (BRASIL, c2020), encontramos embasamento para a aplicação da multa prevista no art. 731 do Regulamento Aduaneiro também ao transpor- tador de carga que transportar mercadoria sujeita à pena de perdimento sem identificação do proprietário ou possuidor ou quando as características ou a quantidade dos volumes transportados evidenciarem se tratar de mercadoria sujeita à referida pena. Conforme a IN RFB nº. 1.169/2011 (BRASIL, 2011), ao concluir o PECA, no prazo máximo de 180 dias, e comprovar as fraudes identificadas, é lavrado Procedimentos especiais de controle aduaneiro10 o auto de infração com proposta de aplicação da pena de perdimento das mercadorias ou da multa equivalente ao seu valor aduaneiro, documentado por meio de termo de constatação. Também poderá haver verificação quanto à capacidade financeira e econômica da empresa em importar/exportar os volumes transacionados. A mercadoria condenada a perdimento fica sob posse da RFB, e cabe a ela dar uma destinação aos bens apreendidos. O destino pode ocorrer nas modalidades de leilão, destruição, doação e incorporação, conforme previsto no art.29, item II, do Decreto-Lei nº. 1.455/1976 (BRASIL, 1976), atualmente regulamentado pelo Decreto nº. 6.759/2009 e pela Portaria do Ministério da Fazenda (MF) nº. 282, de 9 de junho de 2011. A escolha entre as opções para destinação é avaliada, caso a caso, com vistas a alcançar, mais rapidamente, os benefícios administrativos, econômicos ou sociais e promover o rápido esvaziamento dos depósitos. A RFB (BRASIL, c2020) discorre sobre o destino das mercadorias apreendidas trazendo os principais critérios para destinação, na forma de incorporação, adotados: equipamentos e produtos para suprir a necessidade material para consecução das atividades administrativas a órgãos da Administração Pública; armas, munições e explosivos: destinação ao Exército; medicamentos, materiais e equipamentos médico-hospitalares ou odontológicos: repasse a órgãos ou entidades do Ministério da Saúde, das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, bem como a hospitais universitários de instituições públicas de ensino superior, ao Ministério da Defesa e seus órgãos; borracha natural, madeiras e animais silvestres ao Instituto Brasileiro do Meio Am- biente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou a outros órgãos ou entidades públicas responsáveis pela execução das políticas de preservação ambiental; materiais radioativos ou nucleares à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) ou a órgãos e instituições de pesquisa indicados pela CNEN; bens minerais em geral ou fósseis: Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) ou a órgãos e instituições de pesquisa por ele indicados; bens de valor cultural, artístico ou histórico ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibran), nos termos da Lei n° 12.840, de 9 de julho de 2013. O leilão de mercadorias apreendidas ou abandonadas ocorre via sistema eletrônico. Seus editais ficam disponíveis para consulta da sociedade, podem ser acessados por pessoas físicas e jurídicas e são regulados pela 11Procedimentos especiais de controle aduaneiro Portaria MF nº. 548, de 23 de novembro de 2009, e pela Portaria RFB nº. 2.206, de 11 de novembro de 2010. Já as destruições aplicam-se a bens que, em sua grande maioria, não podem ser reutilizados ou que causarão danos à sociedade (como no caso de cigar- ros e entorpecentes). Até pouco tempo, boa parte dos itens apreendidos era destruída, pois não existia previsão na legislação para ocorrência de doações. Para obter mais informações sobre os procedimentos de destinação das mercadorias apreendidas ou abandonadas, acesse o site da RFB. As doações ou incorporações das mercadorias apreendidas ou abandonadas podem, segundo o site da RFB, ser realizadas a órgãos públicos, da Admi- nistração Pública direta ou indireta federal, estadual ou municipal. Poderão ser solicitadas por e-mail oficial e carecerão de exame das autoridades com- petentes ou também poderão ser doadas às organizações da sociedade civil. O secretário da RFB, por meio da Portaria RFB nº. 3.010, de 29 de junho de 2011, subdelegou ao subsecretário de gestão corporativa, ao secretário adjunto e aos superintendentes regionais da RFB a competência para destinar certos grupos de mercadorias a beneficiários específicos. ALMEIDA, G. H. M. Tributos devem ser restituídos em caso de perdimento de merca- doria. Consultor Jurídico, 2014. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2014-ago-15/ tributos-restituidos-perdimento-mercadoria. Acesso em: 5 mar. 2020. ANDRADE, A. A.; HOLZKAMP, M. 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Dispõe sobre bagagem de passa- geiro procedente do exterior, disciplina o regime de entreposto aduaneiro, estabelece normas sobre mercadorias estrangeiras apreendidas e dá outras providências. Diário Oficial da União, 8 abr. 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Decreto-Lei/Del1455compilado.htm. Acesso em: 5 mar. 2020. BRASIL. Gestão de mercadorias apreendidas – Saiba mais. Brasília: Receita Federal, c2020. Disponível em: http://receita.economia.gov.br/sobre/acoes-e-programas/mercadorias- -apreendidas/saiba-mais-texto-explicativo. Acesso em: 9 mar. 2020. BRASIL. Ministério da Economia. Receita Federal do Brasil. Instrução Normativa RFB no. 1.169, de 29 de junho de 2011. Estabelece procedimentos especiais de controle, na importação ou na exportação de bens e mercadorias, diante de suspeita de irre- gularidade punível com a pena de perdimento. Diário Oficial da União, 30 jun. 2011. 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Ponto de Vista Jurídico, v. 6, n. 1. 2017. 13Procedimentos especiais de controle aduaneiro Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Leituras recomendadas BRASIL. Ministério da Economia. Receita Federal do Brasil. Destinação de mercadorias apreendidas. 2020. Disponível em: http://receita.economia.gov.br/sobre/acoes-e-pro-gramas/mercadorias-apreendidas. Acesso em: 5 mar. 2020. BRASIL. Ministério da Economia. Receita Federal do Brasil. Instrução Normativa RFB no. 1.678, de 23 de dezembro de 2016. Altera a Instrução Normativa SRF nº. 228, de 21 de outubro de 2002, que dispõe sobre procedimento especial de verificação da origem dos recursos aplicados em operações de comércio exterior e combate à interposição fraudulenta de pessoas, e a Instrução Normativa RFB nº. 1.169, de 29 de junho de 2011, que estabelece procedimentos especiais de controle, na importação ou na exportação de bens e mercadorias, diante de suspeita de irregularidade punível com a pena de perdimento. Diário Oficial da União, 23 dez. 2016. Disponível em: http://normas.receita. fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=79344. Acesso em: 5 mar. 2020. BRASIL. Ministério da Economia. Receita Federal do Brasil. Perdimento de mercadorias. 2014. Disponível em: http://receita.economia.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/ despacho-de-importacao/topicos-1/infracoes-e-penalidades/pena-de-perdimento/ perdimento-de-mercadorias. Acesso em: 5 mar. 2020. Procedimentos especiais de controle aduaneiro14