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INTRODUÇÃO AO DIREITO BRASILEIRO E TEORIA DE ESTADO Magnum Eltz Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais — visão neoliberal Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar direitos individuais e coletivos. Analisar a relação entre os direitos econômicos e sociais. Avaliar a noção neoliberal sobre os direitos coletivos. Introdução O neoliberalismo é um resgate da primazia dos direitos individuais em relação aos direitos coletivos, pois os seus defensores entendem que é a partir da expressão da liberdade negocial que a proteção dos direitos sociais e coletivos deve ser realizada, por meio de escolhas conscientes dos indivíduos que formam a sociedade. Neste capítulo, você vai ler sobre o conceito de direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais, além de analisar a visão neoliberal sobre os direitos coletivos. Direitos individuais e coletivos O ordenamento jurídico é composto por diferentes espécies de direitos, clas- sifi cados pelo seu sujeito. Uma dessas classifi cações se refere à existência de direitos individuais ou subjetivos e direitos coletivos, lato sensu, que, por sua vez, podem ser classifi cados como direitos coletivos (stricto sensu), difusos e transindividuais. Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 1 09/03/2018 14:15:16 Os direitos subjetivos ou individuais são aqueles que possuem, em uma visão clássica do Direito, como sujeito a pessoa humana (alguns países já reconhecem como sujeitos de direitos subjetivos os animais, como Portugal e França), que se enquadram na visão clássica de direitos naturais, como a vida, integridade física, personalidade, entre outros. São também direitos subjetivos a garantia da sociedade ao trabalho justo, ao acesso à saúde, entre outros, e também o exercício da liberdade civil nas suas formas mais variadas, oposto normalmente ao Direito Objetivo, estipulado pelo Estado para organizar o seu âmbito de influência. Sobre o Direito Subjetivo em relação ao Direito Objetivo, explica Hans Kelsen (1999, p. 3) que: Na verdade, o indivíduo que, atuando racionalmente, põe o ato, liga a este um determinado sentido que, se exprime de qualquer modo e é entendido pelos outros. Este sentido subjetivo, porém, pode coincidir com o significado objetivo que o ato tem do ponto de vista do Direito, mas não tem necessariamente de ser assim. Se alguém dispõe por escrito do seu patrimônio para depois da morte, o sentido subjetivo deste ato é o de um testamento. Objetivamente, porém, do ponto de vista do Direito, não o é, por deficiência de forma. Conforme Kelsen (1999), um mesmo direito pode ser lido na sua face subjetiva e objetiva, dependendo do escopo da leitura do dispositivo legal. No Direito Subjetivo, o testamento e a disposição de bens compõem a face individual do Direito, enquanto as regras pelas quais a vontade se manifesta compõem o âmbito objetivo, portanto, indisponível, em que a vontade coletiva é resguardada em nome da segurança jurídica e da organização estatal. Os direitos subjetivos também podem ser opostos à modalidade de direitos coletivos, sendo estes chamados de direitos de terceira geração. Os direitos de primeira geração, por sua vez, correspondem aos direitos elementares à vida, à integridade física e às liberdades civis consagradas após as revoluções burguesas do século XVIII, e os direitos de segunda geração são aqueles direitos sociais que emergiram após as necessárias reflexões trazidas pela Revolução Industrial, com a emergência do Estado assistencialista, a proteção dos direitos do trabalhador em relação ao empregado e a garantia de acesso à saúde, à educação e aos demais serviços essenciais para manutenção da dignidade da pessoa humana, sendo que ambas modalidades são tuteladas de forma subjetiva. Sobre os direitos de terceira geração, ou direitos coletivos, Norberto Bobbio (2004, p. 8) afirma: Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais...2 Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 2 09/03/2018 14:15:19 Ao lado dos direitos sociais, que foram chamados de direitos de segunda gera- ção, emergiram hoje os chamados direitos de terceira geração, que constituem uma categoria, para dizer a verdade, ainda excessivamente heterogênea e vaga, o que nos impede de compreender do que efetivamente se trata. O mais importante deles é o reivindicado pelos movimentos ecológicos: o direito de viver num ambiente não poluído. Mas já se apresentam novas exigências que só poderiam chamar-se de direitos de quarta geração, referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo. Os direitos coletivos, portanto, são direitos que ultrapassam a barreira do indivíduo enquanto sujeito de direito, sendo a tutela do direito de um determinado indivíduo relacionada à tutela de direitos de uma coletividade definida ou indefinida. Como bem aponta Figueiredo (2013), o Direito Ambiental, o Direito do Consumidor e os direitos humanos das minorias e dos grupos vulneráveis (criança, adolescente, idoso, pessoa com deficiência, mulher, afrodescendentes, índios, etc.) passaram a constituir ramos autônomos do Direito no momento em que as ciências jurídicas detectaram a existência de uma nova categoria, que não se enquadrava na dicotomia Direito Público versus Direito Privado com perfeição. Dessa forma, uma nova dicotomia é delineada em relação aos direitos individuais e coletivos, sendo que o segundo grupo se caracteriza por ser: transindividual — os seus titulares constituem uma coletividade, seja ela toda a humanidade, os potenciais consumidores no mercado interno de um país, as mulheres trabalhadoras, quaisquer pessoas com dificuldade de caminhar, entre outros; indivisível — a satisfação desses direitos a um único titular gera a satisfação dos direitos de todos os demais titulares. A conservação do conjunto arquitetônico de uma cidade histórica beneficia simultanea- mente a comunidade local, os turistas e toda uma nação (eventualmente do planeta, quando se tratar de patrimônio cultural da humanidade), inclusive as gerações futuras. Da mesma forma, a redução dos níveis de ruído noturno em um bairro residencial proporciona maior tranqui- lidade não só para moradores permanentes como também para pessoas que transitoriamente encontram-se na região (hóspedes de hotéis), prescindindo-se assim da adoção de soluções individualizadas, como instalação de isolamento acústico em todos os imóveis. 3Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais... Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 3 09/03/2018 14:15:19 Esses direitos transindividuais, por sua vez, podem ser classificados, se- gundo Figueiredo, conforme a seguinte lógica: [...] titularidade desses direitos, na maior parte das vezes, é indeterminada. É impossível identificar com precisão todos os titulares do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, do direito de ingressar no serviço público mediante concurso público ou do direito a informações idôneas nas relações de consumo. A esta nova modalidade de direitos deu-se o nome de direitos ou interesses difusos, assim como definidos pelo art. 81, parágrafo único, I, da Lei 8.78/1990 (Código de Defesa do Consumidor): “os transindividuais de natureza indivisível de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato” (FIGUEIREDO, 2013, p. 45-46). Os direitos transindividuais com coletividade indeterminada, a doutrina nomeia como direitos difusos, enquanto que: [...] em outros casos, todavia, a titularidade desses direitos é determinável. Nestas hipóteses, os direitos ainda são transindividuais e indivisíveis, mas seus titulares integram um grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si (caso das associações) ou à parte contrária (o revendedor de automóvel, ou empregadorpor uma relação jurídica base. Estamos nestes casos diante de direitos ou interesses coletivos nos termos do art. 81, parágrafo único, II, do já mencionado Código de Defesa do Consumidor (FIGUEIREDO, 2013, p. 46). A doutrina classifica o segundo grupo como direitos coletivos. Assim, podemos dizer que, enquanto há direitos tutelados de forma individual — sejam direitos de primeira geração, como a liberdade, a vida e a integridade física; ou de segunda geração, como acesso à saúde, ao trabalho digno, à educação, entre outros —, há direitos tutelados de forma coletiva, sejam eles transindividuais coletivos ou difusos, os chamados direitos de terceira geração, nos quais o sujeito de direito não pode ser restrito a uma pessoa humana ou não humana. Os direitos transindividuais ou coletivos lato sensu são subdivididos em direitos difusos e direitos coletivos stricto sensu e contrastam com os direitos subjetivos ou individuais quanto ao sujeito de direito. Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais...4 Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 4 09/03/2018 14:15:20 Direitos econômicos e sociais Os direitos econômicos e sociais são direitos fundamentais previstos em nosso ordenamento. O primeiro grupo está relacionado à livre-iniciativa privada como uma extensão do direito à liberdade, ou seja, um direito de primeira geração, consagrado no ocaso do Estado absoluto como uma garantia da livre expressão econômica da pessoa humana. Já o segundo grupo, conforme mencionado, é um direito de segunda geração, ligado ao Estado assistencialista criado para limitar a expressão da própria liberdade econômica, resguardar os direitos dos trabalhadores que desempenham atividades na economia moderna e garantir uma contrapartida social às pessoas que fazem parte do Estado que protege essa mesma liberdade. Segundo Norberto Bobbio (2004, p. 19): Como todos sabem, o desenvolvimento dos direitos do homem passou por três fases: num primeiro momento, afirmaram-se os direitos de liberdade, isto é, todos aqueles direitos que tendem a limitar o poder do Estado e a reservar para o indivíduo, ou para os grupos particulares, uma esfera de liberdade em relação ao Estado; num segundo momento, foram propugnados os direitos políticos, os quais concebendo a liberdade não apenas negativamente, como não impedimento, mas positivamente como autonomia — tiveram como consequência a participação cada vez mais ampla, generalizada e frequente dos membros de uma comunidade no poder político (ou liberdade no Estado); finalmente, foram proclamados os direitos sociais, que expressam o amadure- cimento de novas exigências — podemos mesmo dizer, de novos valores —, como os do bem-estar e da igualdade não apenas formal, e que poderíamos chamar de liberdade através ou por meio do Estado. Podemos dizer que os direitos econômicos e direitos sociais são faces da mesma moeda. De um lado, o art. 170 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) funda, na valorização da livre-iniciativa privada, a ordem econômica. De outro, o mesmo artigo também o faz em relação à valorização do trabalho humano, vinculando a liberdade de primeira geração à segurança da dignidade do trabalhador de segunda geração. Além disso, os incisos do art. 170 elencam como princípios da ordem econômica a propriedade privada, a livre concorrência e o livre exercício da atividade econômica, ao lado de restrições de ordem social, como: a função social da propriedade; a defesa do consumidor; a defesa do meio ambiente; 5Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais... Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 5 09/03/2018 14:15:21 a redução de desigualdades regionais e sociais; a busca do pleno emprego; o tratamento favorecido para empresas de pequeno porte; a autorização de atividades em casos previstos em lei. Isso demonstra a simbiose que nossa Constituição confere a essas categorias de direitos. Os arts. 6º a 11 da Constituição Federal, que tratam dos direitos sociais, por sua vez, elencam direitos assistenciais que devem ser propiciados pelo Estado e pelas empresas que desempenham seus direitos econômicos na forma da lei (BRASIL, 1988). Destacam-se, no art. 6º, os seguintes direitos, que demonstram a carac- terística marcante de solidariedade a esses direitos subjetivos tutelados pela coletividade (BRASIL, 1988): educação; saúde; alimentação; trabalho; moradia; transporte; lazer; segurança; previdência social; proteção à maternidade, à infância e aos desamparados. O art. 7º trata dos direitos subjetivos dos trabalhadores urbanos e rurais com vistas à melhoria de sua condição social, buscando (BRASIL, 1988): proteção ao trabalhador contra arbitrariedades e fragilidade em período entre empregos; estabelecimento do fundo de garantia; estabelecimento do salário-mínimo e definição de suas funções; piso salarial das categorias específicas; irredutibilidade dos salários; décimo terceiro salário; adicional noturno; participação nos lucros desvinculada da remuneração; garantia de salário-família; Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais...6 Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 6 09/03/2018 14:15:22 duração normal de 8 horas diárias e 44 horas semanais; repouso remunerado; remuneração do serviço extraordinário; férias anuais; licença-gestante e paternidade; aviso prévio; redução de riscos do trabalho; adicional de periculosidade e insalubridade; aposentadoria; assistência à creche; reconhecimento de convenções e acordos coletivos de trabalho; proteção em face da automação; seguro contra acidentes do trabalho; direito de ação trabalhista. Além disso, os incisos do art. 7º trazem direitos coletivos, como (BRASIL, 1988): proteção do mercado de trabalho da mulher; vedação à diferença salarial por sexo, cor, estado civil ou deficiência; proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre profissionais respectivos; proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo em condição de aprendiz a partir de 14 anos; igualdade de direitos entre trabalhador com vínculo permanente e avulso; garantias dos trabalhadores domésticos. O art. 8º trata do direito subjetivo a (BRASIL, 1988): livre associação profissional ou sindical; garantia de não obrigatoriedade de filiação ao sindicado; obrigação da participação dos sindicados nas negociações coletivas de trabalho (BRASIL, 1988). O art. 9º dispõe sobre o direito coletivo de greve. Já o art. 10 assegura a participação dos trabalhadores e empregadores em colegiados dos órgãos públicos do seu interesse, enquanto o art. 11 dispõe sobre a representação de trabalhadores em empresas com mais de 200 empregados (BRASIL, 1988). 7Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais... Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 7 09/03/2018 14:15:22 Assim, tanto no seu aspecto subjetivo quanto no seu aspecto coletivo, os direitos sociais garantidos na Constituição se tratam de limitações à livre-ini- ciativa privada com vistas a impedir abusos cometidos historicamente em prol da categoria de trabalhadores e das coletividades específicas, representando uma evolução à liberdade absoluta outrora disfrutada pelos empregadores e empreendedores e que caracteriza as relações entre empregados e empregadores dos séculos XX e XXI. Visão neoliberal sobre os direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais O movimento econômico neoliberal é uma visão acadêmica de resgate de valores liberais clássicos de Adam Smith e a sua mão invisível do mercado, bem como de uma supremacia dos direitos individuais frente a uma regulação dos direitos coletivos, em oposição aos movimentos regulatórios de Keynese ao socialismo de Marx. A visão neoliberal defende o fracasso das intervenções estatais como um modo de garantir a proteção de direitos sociais pela desvirtuação desses institutos em relação aos seus próprios objetivos, advogando que o mercado, mesmo com as suas falhas, é um defensor mais eficiente de consumidores, trabalhadores e outras minorias do que uma intervenção estatal concentrada. Uma das principais preocupações dos economistas neoliberais com relação aos poderes outorgados ao Estado na defesa de direitos coletivos encontra-se na seguinte passagem de Milton Friedman et al. (2015, p. 309): [...] seja para proteger os consumidores contra os preços elevados ou produtos de má qualidade, seja para proteger sua segurança ou para preservar o meio ambiente. Todo ato de intervenção institui situações de poder. Como esse poder será usado e para que finalidade são questões que dependem mais das pessoas que estão na situação de tomar o controle desse poder e de quais são seus propósitos do que das intenções e dos objetivos dos patrocinadores iniciais da intervenção. Friedrich Hayek ([1988], p. 201), em uma posição mais contundente, de- fende que: A mera existência não pode conferir um direito justo ou moral a alguém contra outrem. As pessoas ou os grupos podem ter deveres para com determinados indivíduos; mas como parte do sistema de normas comuns que ajudam a humanidade a crescer e se multiplicar nem mesmo todas as vidas existentes têm um direito moral à preservação. Um costume que parece tão cruel para Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais...8 Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 8 09/03/2018 14:15:23 nós, como o de algumas tribos esquimós que deixam os membros senis morrer no início de sua migração sazonal, pode ser necessário para eles a fim de permitir que seus descendentes cheguem à próxima estação. Em outras palavras, a intervenção estatal confere direitos a grupos apenas por existirem, não com base na sua função social, de modo que não há incentivos baseados na sobrevivência que possam forçar a interação cooperativa entre pessoas para garantir a sua própria subsistência. Além disso, o autor advoga que determinados modos de vida aparentemente cruéis e extremos, como o abandono de membros senis de esquimós, podem ser essenciais para o desenvolvimento de determinada sociedade, como os degraus traçados pelo capitalismo até a obtenção de condições melhores para os trabalhadores, por exemplo. Segundo Friedman (2015, p. 200): [...] sejam quais forem os objetivos anunciados, todos os movimentos nas duas últimas décadas — o movimento do consumidor, o ecológico, o de volta para a terra, o movimento hippie, o da comida orgânica, o de proteção à vida selvagem, o do crescimento populacional zero, o movimento de “o pequeno é lindo”, o movimento antinuclear — tiveram uma coisa em comum: todos foram de anticrescimento. Foram contra novos desenvolvimentos, contra a inovação industrial, contra o uso crescente dos recursos naturais. As agências criadas em resposta a tais movimentos impuseram pesados custos às indústrias, uma após a outra, para atender às cada vez mais detalhadas e extensas exigências do governo. Elas impediram que alguns produtos fossem produzidos ou vendidos. Para o autor, a proteção de direitos transindividuais e regulações baseadas na precaução trazem reduções no processo inovativo e, portanto, desaceleram o crescimento que depende de processos inovativo e incentivos para a produção; a imposição de custos em nome de “direitos coletivos” por meio de regulações cada vez mais detalhadas do governo podem trazer malefícios aos próprios objetivos almejados pelos seus defensores. Friedman (2015, p. 389) utiliza o exemplo do mercado de trabalho para ilustrar a posição neoliberal sobre os direitos coletivos: Quando os sindicatos conseguem salários mais altos para seus membros restringindo o acesso a uma determinada profissão, esses salários mais altos são à custa de outros trabalhadores que têm suas oportunidades reduzidas. Quando o governo paga salários mais altos a seus empregados, esses salários mais altos são à custa do contribuinte. Mas quando os trabalhadores conseguem salários mais altos e melhores condições de trabalho por meio da economia de mercado, quando eles conseguem aumentos das empresas que concorrem 9Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais... Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 9 09/03/2018 14:15:23 umas com as outras pelos melhores trabalhadores, com os trabalhadores concorrendo entre si pelos melhores empregos, esses salários mais altos não são à custa de ninguém. Só podem decorrer da maior produtividade, maior investimento de capital, com uma distribuição melhor das capacidades. A torta inteira é maior — há mais para o trabalhador, mas também para o empregador, o investidor, o consumidor e até para o cobrador de impostos. É dessa forma que um sistema de economia de mercado distribui os frutos do progresso econômico entre as pessoas. Esse é o segredo da imensa melhoria das condições do trabalhador nos dois últimos séculos. Para o autor, a regulação é um meio de redistribuir oportunidades de ganhos entre agentes de mercado. Portanto, ao estabelecer que somente trabalhadores que possuem valor de um salário-mínimo podem trabalhar, automaticamente o Estado exclui trabalhadores que estariam dispostos a trabalhar por menos do que esse salário do mercado. Ao mesmo tempo, quando o Estado estabelece regras de recolhimento obrigatório de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), há uma exclusão natural de empregados dispostos a trabalhar sem esse benefício, de modo que as garantias sociais são meios de exclusão do trabalhador, não necessariamente uma proteção para ele. Quando os melhores trabalhadores são selecionados pela sua capacidade, não pelo seu preço inicial, o mercado possui melhores condições de se autorregular em questões de melhorias demandadas pelo próprio trabalhador para exercer a sua profissão, em contraste com medidas impostas pelo Estado e que excluem prematuramente os trabalhadores do mercado. Quando o capital de trabalho é selecionado pela eficiência, a produtividade au- menta, e a capacidade do empregador em investir em qualidade de meio ambiente de trabalho e outros aspectos sociais também aumenta, em um ciclo virtuoso. Sobre o mercado de consumo, Friedman (2015, p. 310) estabelece que: Um argumento para não permitir que as forças do mercado atuem é a grande dificuldade de se imaginar o que seria o seu resultado. A única coisa certa é que nenhum serviço sobreviveria se os usuários não o valorizassem bas- tante para pagar por ele — e pagar a preços que rendessem às pessoas que oferecessem o serviço uma renda mais adequada do que as alternativas à sua disposição. Nem os usuários nem os produtores poderiam pôr as mãos no bolso de ninguém para manter um serviço que não satisfizesse tal condição. Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais...10 Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 10 09/03/2018 14:15:24 Assim, para Friedman, o sistema de preços é capaz de proteger coletividades como consumidores a partir da opção do consumidor em adquirir o produto, não sendo necessária uma regulação estatal para tanto. É importante lembrar que, para os liberais clássicos, qualquer interferência na liberdade negocial é uma adição em custos transacionais, pois a própria criatividade das partes no estabelecimento dos seus contratos a partir de relações positivas de trocas é a força propulsora do crescimento econômico. É nesse sentido que Hayek ([1988]) critica a banalização dos direitos sociais ao dizer que: A humanidade está dividida em dois grupos hostis por promessas que não têm um conteúdo realizável. Os motivos desse conflito não podem ser dissipados pelo compromisso, pois toda concessão ao erro factual simplesmente cria novas expectativas irrealizáveis.Assim, podemos concluir que a visão do neoliberalismo sobre os direitos sociais é a de que a promoção das proteções de liberdade e a própria liberdade contratual, aliadas a uma boa educação, no sentido de dar oportunidades paritárias de barganha às partes, são a forma mais eficiente de proteção dos grupos, que, por uma perspectiva paternalista-estatal, estariam mais bem resguardados por uma maior regulação; sendo uma crítica ao status quo recorrente quando se trata de discussões sobre maior ou menor força para que o Estado intervenha na livre-iniciativa econômica. 1. Os direitos individuais compõem as categorias de direitos: a) transindividuais. b) coletivos lato sensu. c) difusos. d) subjetivos. e) coletivos stricto sensu. 2. Os direitos difusos são direitos coletivos lato sensu que dizem respeito a: a) uma coletividade definida. b) indivíduos relacionados pelo fato. c) uma coletividade indefinida. d) mais de uma comunidade definida. e) um indivíduo não definido. 3. Os direitos econômicos são ligados ao direito de primeira geração por: a) igualdade. b) fraternidade. c) legalidade. d) liberdade. e) solidariedade. 11Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais... Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 11 09/03/2018 14:15:25 BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elservier, 2004. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 7 mar. 2018. FIGUEIREDO, G. J. P. Curso de Direito Ambiental. 6. ed. São Paulo: RT, 2013. FRIEDMAN, M. et al. Liberdade para escolher. São Paulo: Record, 2015. HAYEK, F. A arrogância fatal: os erros do socialismo. [s.l.]: Ortiz, [1988]. KELSEN, H. Teoria pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 4. Os direitos coletivos, segundo a doutrina neoliberal, devem ser: a) protegidos pelo Estado. b) fruto da autodeterminação das partes. c) resguardados por regulações. d) um mal necessário. e) protegidos a qualquer custo. 5. O neoliberalismo é um modo de pensamento que captura elementos do: a) pragmatismo. b) realismo. c) liberalismo clássico. d) institucionalismo. e) positivismo. Estado e o indivíduo: direitos individuais, coletivos, econômicos e sociais...12 Cap_23_Intro_ao_Direto_brasileiro.indd 12 09/03/2018 14:15:28 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.