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INTRODUÇAÕ AO DIREITO BRASILEIRO E TEORIA DE ESTADO

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INTRODUÇÃO AO 
DIREITO BRASILEIRO 
E TEORIA DE 
ESTADO
Magnum Eltz
 
Estado e o indivíduo: 
direitos individuais, 
coletivos, econômicos e 
sociais — visão neoliberal
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Conceituar direitos individuais e coletivos.
  Analisar a relação entre os direitos econômicos e sociais.
  Avaliar a noção neoliberal sobre os direitos coletivos.
Introdução
O neoliberalismo é um resgate da primazia dos direitos individuais em 
relação aos direitos coletivos, pois os seus defensores entendem que é 
a partir da expressão da liberdade negocial que a proteção dos direitos 
sociais e coletivos deve ser realizada, por meio de escolhas conscientes 
dos indivíduos que formam a sociedade.
Neste capítulo, você vai ler sobre o conceito de direitos individuais, 
coletivos, econômicos e sociais, além de analisar a visão neoliberal sobre 
os direitos coletivos.
Direitos individuais e coletivos
O ordenamento jurídico é composto por diferentes espécies de direitos, clas-
sifi cados pelo seu sujeito. Uma dessas classifi cações se refere à existência de 
direitos individuais ou subjetivos e direitos coletivos, lato sensu, que, por sua 
vez, podem ser classifi cados como direitos coletivos (stricto sensu), difusos 
e transindividuais.
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Os direitos subjetivos ou individuais são aqueles que possuem, em uma 
visão clássica do Direito, como sujeito a pessoa humana (alguns países já 
reconhecem como sujeitos de direitos subjetivos os animais, como Portugal e 
França), que se enquadram na visão clássica de direitos naturais, como a vida, 
integridade física, personalidade, entre outros. São também direitos subjetivos 
a garantia da sociedade ao trabalho justo, ao acesso à saúde, entre outros, e 
também o exercício da liberdade civil nas suas formas mais variadas, oposto 
normalmente ao Direito Objetivo, estipulado pelo Estado para organizar o 
seu âmbito de influência.
Sobre o Direito Subjetivo em relação ao Direito Objetivo, explica Hans 
Kelsen (1999, p. 3) que:
Na verdade, o indivíduo que, atuando racionalmente, põe o ato, liga a este um 
determinado sentido que, se exprime de qualquer modo e é entendido pelos 
outros. Este sentido subjetivo, porém, pode coincidir com o significado objetivo 
que o ato tem do ponto de vista do Direito, mas não tem necessariamente de ser 
assim. Se alguém dispõe por escrito do seu patrimônio para depois da morte, 
o sentido subjetivo deste ato é o de um testamento. Objetivamente, porém, do 
ponto de vista do Direito, não o é, por deficiência de forma.
Conforme Kelsen (1999), um mesmo direito pode ser lido na sua face 
subjetiva e objetiva, dependendo do escopo da leitura do dispositivo legal. 
No Direito Subjetivo, o testamento e a disposição de bens compõem a face 
individual do Direito, enquanto as regras pelas quais a vontade se manifesta 
compõem o âmbito objetivo, portanto, indisponível, em que a vontade coletiva 
é resguardada em nome da segurança jurídica e da organização estatal.
Os direitos subjetivos também podem ser opostos à modalidade de direitos 
coletivos, sendo estes chamados de direitos de terceira geração. Os direitos 
de primeira geração, por sua vez, correspondem aos direitos elementares à 
vida, à integridade física e às liberdades civis consagradas após as revoluções 
burguesas do século XVIII, e os direitos de segunda geração são aqueles 
direitos sociais que emergiram após as necessárias reflexões trazidas pela 
Revolução Industrial, com a emergência do Estado assistencialista, a proteção 
dos direitos do trabalhador em relação ao empregado e a garantia de acesso 
à saúde, à educação e aos demais serviços essenciais para manutenção da 
dignidade da pessoa humana, sendo que ambas modalidades são tuteladas de 
forma subjetiva. Sobre os direitos de terceira geração, ou direitos coletivos, 
Norberto Bobbio (2004, p. 8) afirma:
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Ao lado dos direitos sociais, que foram chamados de direitos de segunda gera-
ção, emergiram hoje os chamados direitos de terceira geração, que constituem 
uma categoria, para dizer a verdade, ainda excessivamente heterogênea e 
vaga, o que nos impede de compreender do que efetivamente se trata. O mais 
importante deles é o reivindicado pelos movimentos ecológicos: o direito de 
viver num ambiente não poluído. Mas já se apresentam novas exigências que 
só poderiam chamar-se de direitos de quarta geração, referentes aos efeitos 
cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá manipulações 
do patrimônio genético de cada indivíduo.
Os direitos coletivos, portanto, são direitos que ultrapassam a barreira 
do indivíduo enquanto sujeito de direito, sendo a tutela do direito de um 
determinado indivíduo relacionada à tutela de direitos de uma coletividade 
definida ou indefinida.
Como bem aponta Figueiredo (2013), o Direito Ambiental, o Direito do 
Consumidor e os direitos humanos das minorias e dos grupos vulneráveis 
(criança, adolescente, idoso, pessoa com deficiência, mulher, afrodescendentes, 
índios, etc.) passaram a constituir ramos autônomos do Direito no momento 
em que as ciências jurídicas detectaram a existência de uma nova categoria, 
que não se enquadrava na dicotomia Direito Público versus Direito Privado 
com perfeição.
Dessa forma, uma nova dicotomia é delineada em relação aos direitos 
individuais e coletivos, sendo que o segundo grupo se caracteriza por ser:
  transindividual — os seus titulares constituem uma coletividade, seja ela 
toda a humanidade, os potenciais consumidores no mercado interno de 
um país, as mulheres trabalhadoras, quaisquer pessoas com dificuldade 
de caminhar, entre outros;
  indivisível — a satisfação desses direitos a um único titular gera a 
satisfação dos direitos de todos os demais titulares. A conservação do 
conjunto arquitetônico de uma cidade histórica beneficia simultanea-
mente a comunidade local, os turistas e toda uma nação (eventualmente 
do planeta, quando se tratar de patrimônio cultural da humanidade), 
inclusive as gerações futuras. Da mesma forma, a redução dos níveis 
de ruído noturno em um bairro residencial proporciona maior tranqui-
lidade não só para moradores permanentes como também para pessoas 
que transitoriamente encontram-se na região (hóspedes de hotéis), 
prescindindo-se assim da adoção de soluções individualizadas, como 
instalação de isolamento acústico em todos os imóveis.
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Esses direitos transindividuais, por sua vez, podem ser classificados, se-
gundo Figueiredo, conforme a seguinte lógica:
[...] titularidade desses direitos, na maior parte das vezes, é indeterminada. 
É impossível identificar com precisão todos os titulares do direito ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado, do direito de ingressar no serviço 
público mediante concurso público ou do direito a informações idôneas nas 
relações de consumo.
A esta nova modalidade de direitos deu-se o nome de direitos ou interesses 
difusos, assim como definidos pelo art. 81, parágrafo único, I, da Lei 8.78/1990 
(Código de Defesa do Consumidor): “os transindividuais de natureza indivisível 
de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias 
de fato” (FIGUEIREDO, 2013, p. 45-46).
Os direitos transindividuais com coletividade indeterminada, a doutrina 
nomeia como direitos difusos, enquanto que:
[...] em outros casos, todavia, a titularidade desses direitos é determinável. 
Nestas hipóteses, os direitos ainda são transindividuais e indivisíveis, mas 
seus titulares integram um grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre 
si (caso das associações) ou à parte contrária (o revendedor de automóvel, ou 
empregadorpor uma relação jurídica base. Estamos nestes casos diante de 
direitos ou interesses coletivos nos termos do art. 81, parágrafo único, II, do já 
mencionado Código de Defesa do Consumidor (FIGUEIREDO, 2013, p. 46).
A doutrina classifica o segundo grupo como direitos coletivos. Assim, 
podemos dizer que, enquanto há direitos tutelados de forma individual — 
sejam direitos de primeira geração, como a liberdade, a vida e a integridade 
física; ou de segunda geração, como acesso à saúde, ao trabalho digno, à 
educação, entre outros —, há direitos tutelados de forma coletiva, sejam 
eles transindividuais coletivos ou difusos, os chamados direitos de terceira 
geração, nos quais o sujeito de direito não pode ser restrito a uma pessoa 
humana ou não humana.
Os direitos transindividuais ou coletivos lato sensu são subdivididos em direitos difusos 
e direitos coletivos stricto sensu e contrastam com os direitos subjetivos ou individuais 
quanto ao sujeito de direito.
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Direitos econômicos e sociais
Os direitos econômicos e sociais são direitos fundamentais previstos em nosso 
ordenamento. O primeiro grupo está relacionado à livre-iniciativa privada como 
uma extensão do direito à liberdade, ou seja, um direito de primeira geração, 
consagrado no ocaso do Estado absoluto como uma garantia da livre expressão 
econômica da pessoa humana. Já o segundo grupo, conforme mencionado, é 
um direito de segunda geração, ligado ao Estado assistencialista criado para 
limitar a expressão da própria liberdade econômica, resguardar os direitos dos 
trabalhadores que desempenham atividades na economia moderna e garantir 
uma contrapartida social às pessoas que fazem parte do Estado que protege 
essa mesma liberdade.
Segundo Norberto Bobbio (2004, p. 19):
Como todos sabem, o desenvolvimento dos direitos do homem passou por três 
fases: num primeiro momento, afirmaram-se os direitos de liberdade, isto é, 
todos aqueles direitos que tendem a limitar o poder do Estado e a reservar 
para o indivíduo, ou para os grupos particulares, uma esfera de liberdade em 
relação ao Estado; num segundo momento, foram propugnados os direitos 
políticos, os quais concebendo a liberdade não apenas negativamente, como 
não impedimento, mas positivamente como autonomia — tiveram como 
consequência a participação cada vez mais ampla, generalizada e frequente 
dos membros de uma comunidade no poder político (ou liberdade no Estado); 
finalmente, foram proclamados os direitos sociais, que expressam o amadure-
cimento de novas exigências — podemos mesmo dizer, de novos valores —, 
como os do bem-estar e da igualdade não apenas formal, e que poderíamos 
chamar de liberdade através ou por meio do Estado.
Podemos dizer que os direitos econômicos e direitos sociais são faces 
da mesma moeda. De um lado, o art. 170 da Constituição Federal de 1988 
(BRASIL, 1988) funda, na valorização da livre-iniciativa privada, a ordem 
econômica. De outro, o mesmo artigo também o faz em relação à valorização 
do trabalho humano, vinculando a liberdade de primeira geração à segurança 
da dignidade do trabalhador de segunda geração. Além disso, os incisos do 
art. 170 elencam como princípios da ordem econômica a propriedade privada, 
a livre concorrência e o livre exercício da atividade econômica, ao lado de 
restrições de ordem social, como:
  a função social da propriedade;
  a defesa do consumidor;
  a defesa do meio ambiente;
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  a redução de desigualdades regionais e sociais;
  a busca do pleno emprego;
  o tratamento favorecido para empresas de pequeno porte;
  a autorização de atividades em casos previstos em lei.
Isso demonstra a simbiose que nossa Constituição confere a essas categorias 
de direitos.
Os arts. 6º a 11 da Constituição Federal, que tratam dos direitos sociais, 
por sua vez, elencam direitos assistenciais que devem ser propiciados pelo 
Estado e pelas empresas que desempenham seus direitos econômicos na forma 
da lei (BRASIL, 1988).
Destacam-se, no art. 6º, os seguintes direitos, que demonstram a carac-
terística marcante de solidariedade a esses direitos subjetivos tutelados pela 
coletividade (BRASIL, 1988):
  educação;
  saúde;
  alimentação;
  trabalho;
  moradia;
  transporte;
  lazer;
  segurança;
  previdência social;
  proteção à maternidade, à infância e aos desamparados.
O art. 7º trata dos direitos subjetivos dos trabalhadores urbanos e rurais 
com vistas à melhoria de sua condição social, buscando (BRASIL, 1988): 
  proteção ao trabalhador contra arbitrariedades e fragilidade em período 
entre empregos; 
  estabelecimento do fundo de garantia; 
  estabelecimento do salário-mínimo e definição de suas funções; 
  piso salarial das categorias específicas;
  irredutibilidade dos salários; 
  décimo terceiro salário;
  adicional noturno; 
  participação nos lucros desvinculada da remuneração; 
  garantia de salário-família; 
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  duração normal de 8 horas diárias e 44 horas semanais; 
  repouso remunerado; 
  remuneração do serviço extraordinário; 
  férias anuais; 
  licença-gestante e paternidade; 
  aviso prévio; 
  redução de riscos do trabalho;
  adicional de periculosidade e insalubridade; 
  aposentadoria;
  assistência à creche; 
  reconhecimento de convenções e acordos coletivos de trabalho; 
  proteção em face da automação;
  seguro contra acidentes do trabalho; 
  direito de ação trabalhista. 
Além disso, os incisos do art. 7º trazem direitos coletivos, como (BRASIL, 
1988):
  proteção do mercado de trabalho da mulher;
  vedação à diferença salarial por sexo, cor, estado civil ou deficiência; 
  proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou 
entre profissionais respectivos;
  proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 
anos e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo em condição 
de aprendiz a partir de 14 anos; 
  igualdade de direitos entre trabalhador com vínculo permanente e avulso; 
  garantias dos trabalhadores domésticos.
O art. 8º trata do direito subjetivo a (BRASIL, 1988):
  livre associação profissional ou sindical; 
  garantia de não obrigatoriedade de filiação ao sindicado; 
  obrigação da participação dos sindicados nas negociações coletivas de 
trabalho (BRASIL, 1988). 
O art. 9º dispõe sobre o direito coletivo de greve. Já o art. 10 assegura a 
participação dos trabalhadores e empregadores em colegiados dos órgãos 
públicos do seu interesse, enquanto o art. 11 dispõe sobre a representação de 
trabalhadores em empresas com mais de 200 empregados (BRASIL, 1988).
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Assim, tanto no seu aspecto subjetivo quanto no seu aspecto coletivo, os 
direitos sociais garantidos na Constituição se tratam de limitações à livre-ini-
ciativa privada com vistas a impedir abusos cometidos historicamente em prol 
da categoria de trabalhadores e das coletividades específicas, representando 
uma evolução à liberdade absoluta outrora disfrutada pelos empregadores e 
empreendedores e que caracteriza as relações entre empregados e empregadores 
dos séculos XX e XXI.
Visão neoliberal sobre os direitos individuais, 
coletivos, econômicos e sociais
O movimento econômico neoliberal é uma visão acadêmica de resgate de 
valores liberais clássicos de Adam Smith e a sua mão invisível do mercado, 
bem como de uma supremacia dos direitos individuais frente a uma regulação 
dos direitos coletivos, em oposição aos movimentos regulatórios de Keynese ao socialismo de Marx.
A visão neoliberal defende o fracasso das intervenções estatais como 
um modo de garantir a proteção de direitos sociais pela desvirtuação desses 
institutos em relação aos seus próprios objetivos, advogando que o mercado, 
mesmo com as suas falhas, é um defensor mais eficiente de consumidores, 
trabalhadores e outras minorias do que uma intervenção estatal concentrada.
Uma das principais preocupações dos economistas neoliberais com relação 
aos poderes outorgados ao Estado na defesa de direitos coletivos encontra-se 
na seguinte passagem de Milton Friedman et al. (2015, p. 309):
[...] seja para proteger os consumidores contra os preços elevados ou produtos 
de má qualidade, seja para proteger sua segurança ou para preservar o meio 
ambiente. Todo ato de intervenção institui situações de poder. Como esse poder 
será usado e para que finalidade são questões que dependem mais das pessoas que 
estão na situação de tomar o controle desse poder e de quais são seus propósitos 
do que das intenções e dos objetivos dos patrocinadores iniciais da intervenção.
Friedrich Hayek ([1988], p. 201), em uma posição mais contundente, de-
fende que:
A mera existência não pode conferir um direito justo ou moral a alguém contra 
outrem. As pessoas ou os grupos podem ter deveres para com determinados 
indivíduos; mas como parte do sistema de normas comuns que ajudam a 
humanidade a crescer e se multiplicar nem mesmo todas as vidas existentes 
têm um direito moral à preservação. Um costume que parece tão cruel para 
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nós, como o de algumas tribos esquimós que deixam os membros senis morrer 
no início de sua migração sazonal, pode ser necessário para eles a fim de 
permitir que seus descendentes cheguem à próxima estação.
Em outras palavras, a intervenção estatal confere direitos a grupos apenas 
por existirem, não com base na sua função social, de modo que não há incentivos 
baseados na sobrevivência que possam forçar a interação cooperativa entre 
pessoas para garantir a sua própria subsistência. Além disso, o autor advoga que 
determinados modos de vida aparentemente cruéis e extremos, como o abandono 
de membros senis de esquimós, podem ser essenciais para o desenvolvimento 
de determinada sociedade, como os degraus traçados pelo capitalismo até a 
obtenção de condições melhores para os trabalhadores, por exemplo.
Segundo Friedman (2015, p. 200):
[...] sejam quais forem os objetivos anunciados, todos os movimentos nas 
duas últimas décadas — o movimento do consumidor, o ecológico, o de volta 
para a terra, o movimento hippie, o da comida orgânica, o de proteção à vida 
selvagem, o do crescimento populacional zero, o movimento de “o pequeno é 
lindo”, o movimento antinuclear — tiveram uma coisa em comum: todos foram 
de anticrescimento. Foram contra novos desenvolvimentos, contra a inovação 
industrial, contra o uso crescente dos recursos naturais. As agências criadas 
em resposta a tais movimentos impuseram pesados custos às indústrias, uma 
após a outra, para atender às cada vez mais detalhadas e extensas exigências do 
governo. Elas impediram que alguns produtos fossem produzidos ou vendidos. 
Para o autor, a proteção de direitos transindividuais e regulações baseadas 
na precaução trazem reduções no processo inovativo e, portanto, desaceleram o 
crescimento que depende de processos inovativo e incentivos para a produção; 
a imposição de custos em nome de “direitos coletivos” por meio de regulações 
cada vez mais detalhadas do governo podem trazer malefícios aos próprios 
objetivos almejados pelos seus defensores.
Friedman (2015, p. 389) utiliza o exemplo do mercado de trabalho para 
ilustrar a posição neoliberal sobre os direitos coletivos:
Quando os sindicatos conseguem salários mais altos para seus membros 
restringindo o acesso a uma determinada profissão, esses salários mais altos 
são à custa de outros trabalhadores que têm suas oportunidades reduzidas. 
Quando o governo paga salários mais altos a seus empregados, esses salários 
mais altos são à custa do contribuinte. Mas quando os trabalhadores conseguem 
salários mais altos e melhores condições de trabalho por meio da economia 
de mercado, quando eles conseguem aumentos das empresas que concorrem 
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umas com as outras pelos melhores trabalhadores, com os trabalhadores 
concorrendo entre si pelos melhores empregos, esses salários mais altos não 
são à custa de ninguém. Só podem decorrer da maior produtividade, maior 
investimento de capital, com uma distribuição melhor das capacidades. A torta 
inteira é maior — há mais para o trabalhador, mas também para o empregador, 
o investidor, o consumidor e até para o cobrador de impostos.
É dessa forma que um sistema de economia de mercado distribui os frutos do 
progresso econômico entre as pessoas. Esse é o segredo da imensa melhoria 
das condições do trabalhador nos dois últimos séculos.
Para o autor, a regulação é um meio de redistribuir oportunidades de ganhos 
entre agentes de mercado. Portanto, ao estabelecer que somente trabalhadores 
que possuem valor de um salário-mínimo podem trabalhar, automaticamente 
o Estado exclui trabalhadores que estariam dispostos a trabalhar por menos do 
que esse salário do mercado. Ao mesmo tempo, quando o Estado estabelece 
regras de recolhimento obrigatório de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço 
(FGTS), há uma exclusão natural de empregados dispostos a trabalhar sem 
esse benefício, de modo que as garantias sociais são meios de exclusão do 
trabalhador, não necessariamente uma proteção para ele.
Quando os melhores trabalhadores são selecionados pela sua capacidade, não pelo seu 
preço inicial, o mercado possui melhores condições de se autorregular em questões 
de melhorias demandadas pelo próprio trabalhador para exercer a sua profissão, em 
contraste com medidas impostas pelo Estado e que excluem prematuramente os 
trabalhadores do mercado.
Quando o capital de trabalho é selecionado pela eficiência, a produtividade au-
menta, e a capacidade do empregador em investir em qualidade de meio ambiente 
de trabalho e outros aspectos sociais também aumenta, em um ciclo virtuoso.
Sobre o mercado de consumo, Friedman (2015, p. 310) estabelece que:
Um argumento para não permitir que as forças do mercado atuem é a grande 
dificuldade de se imaginar o que seria o seu resultado. A única coisa certa 
é que nenhum serviço sobreviveria se os usuários não o valorizassem bas-
tante para pagar por ele — e pagar a preços que rendessem às pessoas que 
oferecessem o serviço uma renda mais adequada do que as alternativas à sua 
disposição. Nem os usuários nem os produtores poderiam pôr as mãos no 
bolso de ninguém para manter um serviço que não satisfizesse tal condição.
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Assim, para Friedman, o sistema de preços é capaz de proteger coletividades 
como consumidores a partir da opção do consumidor em adquirir o produto, 
não sendo necessária uma regulação estatal para tanto. É importante lembrar 
que, para os liberais clássicos, qualquer interferência na liberdade negocial 
é uma adição em custos transacionais, pois a própria criatividade das partes 
no estabelecimento dos seus contratos a partir de relações positivas de trocas 
é a força propulsora do crescimento econômico. É nesse sentido que Hayek 
([1988]) critica a banalização dos direitos sociais ao dizer que:
A humanidade está dividida em dois grupos hostis por promessas que não têm 
um conteúdo realizável. Os motivos desse conflito não podem ser dissipados 
pelo compromisso, pois toda concessão ao erro factual simplesmente cria 
novas expectativas irrealizáveis.Assim, podemos concluir que a visão do neoliberalismo sobre os direitos 
sociais é a de que a promoção das proteções de liberdade e a própria liberdade 
contratual, aliadas a uma boa educação, no sentido de dar oportunidades 
paritárias de barganha às partes, são a forma mais eficiente de proteção dos 
grupos, que, por uma perspectiva paternalista-estatal, estariam mais bem 
resguardados por uma maior regulação; sendo uma crítica ao status quo 
recorrente quando se trata de discussões sobre maior ou menor força para que 
o Estado intervenha na livre-iniciativa econômica.
1. Os direitos individuais compõem 
as categorias de direitos:
a) transindividuais.
b) coletivos lato sensu.
c) difusos.
d) subjetivos.
e) coletivos stricto sensu.
2. Os direitos difusos são 
direitos coletivos lato sensu 
que dizem respeito a:
a) uma coletividade definida.
b) indivíduos relacionados pelo fato.
c) uma coletividade indefinida.
d) mais de uma comunidade 
definida.
e) um indivíduo não definido.
3. Os direitos econômicos são ligados 
ao direito de primeira geração por:
a) igualdade.
b) fraternidade.
c) legalidade.
d) liberdade.
e) solidariedade.
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BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elservier, 2004. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 
DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 7 mar. 2018. 
FIGUEIREDO, G. J. P. Curso de Direito Ambiental. 6. ed. São Paulo: RT, 2013.
FRIEDMAN, M. et al. Liberdade para escolher. São Paulo: Record, 2015.
HAYEK, F. A arrogância fatal: os erros do socialismo. [s.l.]: Ortiz, [1988]. 
KELSEN, H. Teoria pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
4. Os direitos coletivos, segundo a 
doutrina neoliberal, devem ser:
a) protegidos pelo Estado.
b) fruto da autodeterminação 
das partes.
c) resguardados por regulações.
d) um mal necessário.
e) protegidos a qualquer custo.
5. O neoliberalismo é um 
modo de pensamento que 
captura elementos do:
a) pragmatismo.
b) realismo.
c) liberalismo clássico.
d) institucionalismo.
e) positivismo.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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