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Institucionalização do Conhecimento em Sustentabilidade Ambiental

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Disponível em 
http://www.anpad.org.br/rac 
 
RAC, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, art. 6, 
pp. 854-873, Nov./Dez. 2014 
http://dx.doi.org/10.1590/1982-7849rac20141809 
 
 
 
 
 
Institucionalização do Conhecimento em Sustentabilidade 
Ambiental pelos Programas de Pós-gradução Stricto Sensu em 
Administração 
 
 
Institutionalization of Environmental Sustainability Knowledge in Research-Oriented 
Graduate Management Programs 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Celso Machado Junior 
E-mail: celsomachado1@gmail.com 
Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU 
Rua Taguá, 150, Liberdade, 01508-010, São Paulo, SP, Brasil. 
 
Maria Tereza Saraiva de Souza 
E-mail: mariaterezasaraivas@gmail.com 
Centro Universitário da FEI 
Rua Tamandaré, 688, Liberdade, 01525-000, São Paulo, SP, Brasil. 
 
Iara Regina dos Santos Parisotto 
E-mail: iaraparisotto@hotmail.com 
Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB. 
Rua Antônio da Veiga, 140, Victor Konder, 89012-900, Blumenau, SC, Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo recebido em 27.01.2014. Última versão recebida em 29.05.2014. Aprovado em 01.06.2014. 
Institucionalização e Legitimação do Conhecimento 855 
RAC, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, art. 6, pp. 854-873, Nov./Dez. 2014 www.anpad.org.br/rac 
Resumo 
 
Este estudo analisou o processo de institucionalização e legitimação do conhecimento em programas stricto sensu 
em administração, no campo de sustentabilidade ambiental, por meio da proposição e aplicação de um modelo 
teórico segundo a abordagem de Berger e Luckmann. A sociologia do conhecimento, abordada por Berger e 
Luckmann, é empregada como base para a construção de um modelo de investigação aos processos de 
institucionalização e legitimação. A pesquisa apresenta diferentes abordagens metodológicas intrinsecamente 
complementares, com predomínio de técnicas quantitativas, com a análise de redes, assim, caracterizando-se como 
uma abordagem de métodos mistos. Foi possível concluir que as redes de colaboração formadas pelos programas 
stricto sensu em administração contribuem para a institucionalização e legitimação do conhecimento em 
sustentabilidade ambiental. As técnicas de bibliometria e data mining identificaram os autores que estão com obras 
institucionalizadas e legitimadas. Os resultados mostram que o modelo desenvolvido, por meio da abordagem 
Berger e Luckmann, permitiu identificar os autores e instituições que possuem a produção do conhecimento 
institucionalizada ou legitimada em sustentabilidade ambiental, bem como que sua aplicação é possível em outros 
campos científicos. 
 
Palavras-chave: teoria institucional; legitimação do conhecimento; sustentabilidade ambiental; bibliometria; 
análise de redes sociais. 
 
 
Abstract 
 
This study analyzed the process of institutionalization and legitimization of knowledge in research-oriented (stricto 
sensu) management programs in the field of environmental sustainability by proposing and applying a theoretical 
model based on Berger and Luckmann. Berger and Luckmann’s sociology of knowledge, a theoretical 
interpretation of phenomena that develop in society, is used as the basis for the construction of a research model 
for institutionalization and legitimization processes. The research presents different methodological approaches 
that are inherently complementary, with a predominance of quantitative techniques, characterizing social network 
analysis as a mixed-methods approach. The research shows that collaborative networks formed by stricto sensu 
management programs contribute to the institutionalization and legitimization of knowledge in environmental 
sustainability. Bibliometrics and data mining techniques identified which authors have published works that are 
institutionalized and legitimized. The results show that the model developed by Berger and Luckmann allows the 
identification of authors and institutions that have institutionalized or legitimized the production of knowledge in 
environmental sustainability, something that can be applied in other scientific fields. 
 
Key words: institutional theory; legitimization of knowledge; environmental sustainability; bibliometrics; social-
network analysis. 
C. Machado Junior, M. T. S. de Souza, I. R. dos S. Parisotto 856 
RAC, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, art. 6, pp. 854-873, Nov./Dez. 2014 www.anpad.org.br/rac 
Introdução 
 
 
A utilização da abordagem de Berger e Luckmann (2008) nos estudos da produção científica se 
apresenta como alternativa ou possibilidade de combinação a autores que tratam das temáticas: 
institucionalização e sociologia do conhecimento. Entre os autores da teoria institucional, destacam-se: 
Zucker (1977), DiMaggio e Powell (1983, 1991). Estes autores, em maior ou menor intensidade, 
abordam a teoria institucional no contexto das organizações e o ambiente em que se inserem apesar de 
apresentarem uma tendência de maior atenção aos aspectos voltados à sociologia, conforme aponta 
DiMaggio e Powell (1991). Na perspectiva da sociologia do conhecimento, destacam-se as 
contribuições de Merton (1970) e Bourdieu (1991). Assim, a abordagem de Berger e Luckmann (2008) 
pode consubstanciar a proposta desses autores nos estudos da produção científica para fins de ampliar o 
contexto teórico. 
Os estudos que se baseiam no levantamento de trabalhos científicos, em sua grande maioria, 
partem do pressuposto de que as redes de pesquisa exercem grande influência no processo de 
disseminação da informação, mas não apontam o referencial teórico que justifica tal afirmação. Vale 
destacar a afirmação apresentada por Martins, Csillag e Pereira (2009), que a “competência científica 
confere a capacidade de se falar e agir de forma legítima por meio da produção científica, pela qual os 
autores estão engajados em impor o valor do seu conhecimento e a sua autoridade como produtores de 
tal conhecimento” (p. 3). Apesar da correção da afirmação, essa abordagem expressa os efeitos e não as 
causas do processo de legitimação. Para Berger e Luckmann (2008), o conhecimento, inicialmente, é 
institucionalizado em um grupo que interpreta as afirmações do autor como factíveis e plausível e, com 
a transmissão deste conhecimento para as demais gerações, ocorre o processo de legitimação. Assim, 
não é a forma de falar, de agir e da autoridade do autor que legitima o valor do conhecimento, mas sim 
a interpretação como factível e plausível às afirmações resultantes de suas pesquisas por grupos sociais. 
Frente às lacunas de argumentação e entendimento dos processos de institucionalização e 
legitimação do conhecimento em pesquisas empíricas na área de administração, este estudo apresenta a 
abordagem de Berger e Luckmann (2008) como um referencial teórico a ser utilizado na análise de 
estudos científicos. A adequação desta perspectiva se materializa ainda na figura do especialista 
(pesquisador) como elemento central nos processos de análise da disseminação da informação e do 
conhecimento. 
Estudos que utilizam metodologias que empregam a bibliometria e a Análise de Redes Sociais 
(ARS), no estabelecimento do conceito de mapas sociobibliométricos, apontam a complementaridade 
dessas duas técnicas. Esta abordagem é explicitada e utilizada no estudo desenvolvido por Mahlck e 
Persson (2000), que analisou a rede de coautoria em duas universidades suecas. O presente estudo se 
diferencia desta abordagem comum aos estudos de ARS ao utilizar a técnica do data mining ao invés da 
bibliometria. Apesar das técnicas se basearem em princípios matemáticos comuns, o data mining, 
segundo Grossman, Hornick e Meyer (2002), possibilita identificar padrões, associações, mudanças, 
anomalias e estruturas estatísticas e eventos em um conjuntode dados. Assim, a utilização do data 
mining, associado à ARS, e a verificação da adequação desta técnica como alternativa aos estudos 
bibliométricos se constituem em abordagem diferenciada do conceito de mapas sociobibliométricos. 
A banca de avaliação de teses e dissertações se enquadra no conceito de colégios invisíveis, 
conforme proposição de Crane (1972). Segundo a autora, os colégios invisíveis se caracterizam por sua 
alta produtividade, pelo compartilhamento de prioridades de pesquisa, por treinar estudantes e por 
produzir e monitorar o conhecimento em seu campo. Adicionalmente, conforme apontam as pesquisas 
de Newman (2001), a colaboração entre cientistas é potencialmente mais frequente na presença de um 
intermediário comum. A perspectiva de estabelecer a pesquisa com base nas relações das bancas de 
avaliação é singular, no entanto insere-se no âmbito de estudos voltados para o entendimento de campos 
científicos. Estudos estes que empregam a bibliometria e/ou a ARS na análise de citações, coautoria, 
cocitação ou coocorrência de palavras a partir da publicação científica. 
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No campo de sustentabilidade ambiental, no qual este estudo se insere, destaca-se a pesquisa de 
Jabbour, Santos e Barbieri (2008), a qual indica que a produção acadêmica brasileira em sustentabilidade 
ambiental empresarial se inicia a partir da década de 1990, em sintonia com a produção científica 
internacional. No contexto nacional, destacaram-se os pesquisadores Donaire (1994) e Maimon (1996), 
enquanto no contexto internacional o destaque foi para Hunt e Auster (1990) e Porter e Linde (1995). 
No período da pesquisa desenvolvida por Jabbour et al. (2008), em seis revistas nacionais, que vai de 
1996 a 2005, observou-se que a produção acadêmica sobre esse campo de pesquisa foi difusa e modesta. 
O estudo identificou apenas 41 artigos - em uma amostra de 1.785 - sobre este campo de pesquisa (2,3% 
do total). Os resultados da pesquisa evidenciaram a concentração das pesquisas em apenas cinco 
instituições de ensino, responsáveis por 60% da produção observada. 
A pesquisa desenvolvida por Souza e Ribeiro (2013) aponta que grande parte dos artigos em 
sustentabilidade ambiental se concentra em cinco revistas, a saber: Gestão & Produção (G&P), Revista 
de Administração Pública (RAP), Revista Eletrônica de Administração (REAd), Cadernos EBAPE e 
Revista Produção. Outra descoberta importante da pesquisa é que o estudo em sustentabilidade permeia 
vários temas de interesse, com destaque para: Gestão Ambiental, Gestão de Resíduos, Sistema de Gestão 
Ambiental, Marketing Verde, Energias Alternativas, Inovação Ambiental e Cadeia de Suprimentos 
Verde, entre outros. Alinha-se, assim, por meio deste estudo, um contexto em que o entendimento da 
sustentabilidade ambiental se encontra em um crescente interesse dos pesquisadores da área, que buscam 
identificar a participação dos programas de stricto sensu em administração. 
A área acadêmica desempenha importante papel no processo de produção e disseminação de 
conhecimento. Segundo Saraiva e Carrieri (2009), a contribuição da área acadêmica pode ser observada 
pelo crescimento do número de programas de pós-graduação no Brasil, pelo aumento de pesquisadores 
e pela pressão exercida por órgãos reguladores e de fomento à pesquisa. O aumento de oferta de curso 
de pós-graduação não está desassociado da respectiva qualidade envolvida no processo, fato 
materializado nos requisitos dos órgãos reguladores e de fomento à pesquisa. Para Mello, Crubellate e 
Rossoni (2010), as atividades de pesquisa e ensino, que os programas de pós-graduação desenvolvem, 
são interpretadas como uma função legítima e socialmente reconhecida, sancionadas, assim, a um forte 
condicionamento legal e burocrático. No Brasil, esta atividade fica a cargo da Coordenação de 
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), órgão vinculado ao Ministério da Educação. 
Vale destacar que o estudo desenvolvido por Souza, Machado, Parisotto e Silva (2013) aponta 
crescimento no número de teses e dissertações na área de administração, no período de 1998 a 2009. 
O curso de stricto sensu apresenta-se, portanto, como uma importante fonte de geração de 
conhecimento para atender as emergentes demandas das organizações e da sociedade. Entre o rol de 
responsabilidades associadas à atividade de professor do stricto sensu relacionado por Nascimento 
(2010), destaca-se a orientação de teses e dissertações e a participação em bancas avaliadoras. Cabe 
salientar que, de acordo com o estudo de Moretti e Campanário (2009), as relações iniciadas da atividade 
de orientação possuem potencial de se repetirem, posteriormente, no desenvolvimento de novas 
pesquisas, corroborando a proposta de colégios invisíveis apresentada por Crane (1972). 
A análise do trabalho de pesquisa desenvolvido entre orientado e orientador é realizada pela 
Banca Avaliadora. Nesse contexto, a Banca Avaliadora se revela como um componente no processo de 
qualificação da pesquisa desenvolvida. A composição da banca de avaliação proporciona o 
estabelecimento de novos contatos e a manutenção de relacionamentos existentes. Esta composição em 
comunidades científicas pode estabelecer redes de relacionamento passíveis de análise e identificação 
de colégios invisíveis. O estudo de Molina, Muñoz e Domenech (2002), apoiado na Análise de Redes 
de Sociais (ARS), identificou que as redes de coautoria se constituem em uma abordagem que possibilita 
identificar comunidades científicas e seus colégios invisíveis. 
Nesse contexto, o objetivo deste estudo é analisar o processo de institucionalização e legitimação 
do conhecimento em programas stricto sensu em administração no campo de sustentabilidade ambiental, 
por meio da proposição e aplicação de um modelo teórico, segundo a abordagem de Berger e Luckmann 
(2008). A busca pelo cumprimento desse objetivo se apoiou, inicialmente, na coleta de elementos de um 
banco de dados que contém informações sobre as teses e dissertações em administração defendidas no 
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período de 1998 a 2009, particularmente, sobre os trabalhos defendidos em sustentabilidade ambiental. 
Vale destacar que a CAPES, até o final de 2013, ainda não havia divulgado os cadernos de desempenho 
dos cursos posteriores ao ano de 2009. 
O modelo proposto incorporou, também, o conceito da bibliometria e da análise de redes sociais. 
Apesar da aplicação deste modelo, neste estudo, destinar-se ao entendimento da sustentabilidade 
ambiental, a sua configuração possibilita a aplicação em outros campos científicos. O modelo 
desenvolvido aqui se apoiou no pressuposto de que as atividades do stricto sensu em administração, por 
intermédio do processo de orientação do conteúdo das teses e dissertações e das redes sociais de 
colaboração, originárias das bancas examinadoras, possibilitam a identificação do conhecimento 
legitimado em sustentabilidade ambiental. 
 
 
Proposição de um Modelo Teórico: A Institucionalização e Legitimação do Conhecimento 
pelos Programas Stricto Sensu em Administração 
 
 
Os artigos científicos e as teses e dissertações se configuram como linguagem que expressa a 
objetivação de descobertas científicas e compõe o processo de legitimação do conhecimento científico. 
Nesse sentido, estão subjugados ao aparelho social que rege as relações de transmissor e receptor na 
esfera científica, e que atua de forma coerciva para evitar desvios. Portanto, os estudos realizadosem 
artigos, teses e dissertações se configuram por utilizarem como base de pesquisa a linguagem. Nesse 
contexto, a linguagem é uma instituição aceita e utilizada pelos autores que se apoiam na abordagem de 
Berger e Luckmann (2008). Logo, as pesquisas que utilizam a ARS, bibliometria, cienciometria e o data 
mining se amparam em uma base institucional e legitimada, o que assegura confiabilidade aos resultados 
obtidos. 
A análise desenvolvida neste estudo se apoia em um Modelo Conceitual que se fundamenta na 
abordagem de Berger e Luckmann (2008), a qual é representada na Figura 1. Este modelo expressa a 
abordagem dos autores e a interface com os seguintes conceitos. O campo que envolve: Merton (1970), 
Bourdieu (1995). Os estudos bibliométricos que abarcam os seguintes autores: Vanti (2002) e Guedes e 
Borschiver (2005). E a Análise de Redes Sociais (ARS), segundo a abordagem de Wasserman e Faust 
(1994), Freeman (1996), Newman (2001) e Marteleto (2010). A obra e a literatura que tratam da 
abordagem de Berger e Luckmann (2008) não apresentam uma representação esquemática do conceito 
da sociologia do conhecimento. Aproveitando a lacuna, esta pesquisa propõe uma sinopse por meio de 
um modelo conceitual de análise, como ilustra a Figura 1. 
 
 
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Figura 1. Interpretação e Representação da Abordagem de Berger e Luckmann (2008) Associada com 
o Campo, com a Bibliometria e com a Análise de Redes Sociais. 
Fonte: elaborada pelos autores a partir de Berger, P., & Luckmann, T. (2008). A construção social da realidade: tratado de 
sociologia do conhecimento (28a ed.). Petropolis: Vozes. 
A Figura 1 apresenta a sequência das etapas da sociologia do conhecimento conforme a 
abordagem de Berger e Luckmann (2008) e incorpora, ainda, a interação com os conceitos referentes ao 
campo científico, à bibliometria e à ARS. As linhas pontilhadas apresentam o recorte da pesquisa que 
se fundamenta neste modelo. 
Segundo Berger e Luckmann (2008), os processos de objetivação, institucionalização e 
legitimação envolvem a consolidação do conhecimento, que, por sua vez, resultam na ordem 
institucional que tipifica as ações de um grupo social. Para os autores, a objetivação é resultante da 
exteriorização da produção do homem que adquire o caráter de objetividade (exemplo: artigo científico 
e tese). Os autores apontam que a institucionalização consiste no compartilhamento, por um grupo 
social, de um conjunto de ideias, normas, valores e sentimentos, estabelecendo, dessa maneira, uma 
instituição (exemplo: citação de um autor por pesquisador do mesmo grupo social). Assim, para Berger 
e Luckmann (2008), a legitimação consiste na transmissão do mundo institucional de uma geração a 
outra e envolve a explicação, justificação, valores e conhecimento (exemplo: citação de um autor por 
pesquisador de outro grupo social). 
De acordo com Berger e Luckmann (2008), a ordem institucional se origina das ações de um 
indivíduo e de outros que compõem um conjunto social de forma tipificada (exemplos de ordem 
institucional: a gestão ambiental e a teoria organizacional). Portanto, para os autores, a concepção do 
universo simbólico emana como a matriz de todos os significados, socialmente objetivados e 
subjetivamente reais. O indivíduo identifica a sua existência como pertencente a este universo. 
Berger e Luckmann (2008) sugerem que a linguagem assume a condição de base e instrumento 
do acervo coletivo do conhecimento. Na visão dos autores, a linguagem é que possibilita a objetivação 
(exemplo: artigo científico e tese) e a atuação de atores junto ao acervo objetivado de conhecimentos, 
comum a uma rede social, desenvolve-se por meio dos papéis que exercem. Desta forma, elas acreditam 
que as instituições se apropriam da experiência do indivíduo, por meio dos papéis que desempenham, e 
que, adicionalmente, atuam na função social de integrar as diversas instituições em um mundo dotado 
de sentido, assumindo, então, a condição de aparelho legitimador da sociedade (exemplo: autor de artigo 
científico). A bibliometria e a ARS podem atuar como ferramentas na estrutura da sociologia do 
conhecimento para identificar os pesquisadores (que ocupam papéis), por meio de suas publicações 
Objetivação 
Objetividade Instituição 
Institucionalização Legitimação Ordem 
Institucional 
Universo 
Simbólico 
Reificação 
Campo 
Científico 
Bibliometria 
e ARS 
Linguagem 
Papéis 
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(linguagem que possibilita a objetivação), o que possibilita o levantamento do campo científico. Já este 
resulta da institucionalização e legitimação do conhecimento estabelecendo a ordem institucional. 
Este estudo determina, como foco de atenção, a construção do conhecimento resultante da 
atividade científica do meio acadêmico. Conhecimento este, normalmente, objetivado por meio de 
publicações acadêmicas. Apesar de prevalecerem os estudos baseados em artigos, esta pesquisa 
estabelece como unidade de análise a produção acadêmica expressa nas teses e dissertações da área de 
administração. 
Não obstante o entendimento de que o conhecimento se origina da ação do indivíduo, este 
fenômeno epistemológico não é objeto de atenção deste estudo. Nesses termos, este estudo se estrutura 
no entendimento de que a construção do conhecimento é um processo contínuo que envolve a dinâmica 
epistêmica e a social. Tal posicionamento configura a ciência como fenômeno social; e o conhecimento 
produzido, como fruto de arranjos sociais. 
O mapeamento das redes sociais de pesquisadores e os papéis que estes ocupam tornam-se o 
núcleo e o objeto para o reconhecimento da ordem institucional (campo científico) de pesquisa para 
identificar o conhecimento legitimado. Conforme aponta Meneses e Sarriera (2005), a ARS possibilita 
determinar as interações, as inter-relações dos nós da rede e os vínculos estabelecidos entre os atores. 
Tal propriedade corrobora os estudos da sociologia do conhecimento na medida em que possibilita 
revelar os papéis desempenhados pelos atores. A proposição de Cross, Parker e Borgatti (2000), também, 
instaura uma tangência entre a ARS e a sociologia do conhecimento. Para estes autores, a ARS é um 
instrumento que, além de favorecer o estudo de relacionamentos contributivos ao compartilhamento da 
informação e do conhecimento, estabelece indicadores que evidenciam o fortalecimento da cooperação 
resultante dos relacionamentos. Tal proposição se insere na identificação dos protagonistas dos 
processos de institucionalização e legitimação abordados por Berger e Luckmann (2008). 
 
 
Procedimento Metodológico e Validação do Modelo 
 
 
Esta pesquisa se desenvolveu em um contínuo processo de investigação, assim, apresentando 
diferentes abordagens metodológicas intrinsecamente complementares, com predomínio de técnicas 
quantitativas. Cabe destacar que a análise de redes sociais se estabelece, tanto como quantitativa, quanto 
como qualitativa. Esta diversidade metodológica se fez necessária para o atendimento do objetivo. Os 
estudos que combinam diferentes métodos são denominados como abordagem de métodos mistos por 
Creswell (2007). O autor destaca que este procedimento se ajusta à necessidade do pesquisador de 
trabalhar com dados e análises complexas. 
 
Delineamento e pressupostos da pesquisa 
 
A distinção entre as pesquisas quantitativa e qualitativa nem sempre se apresenta de forma clara, 
como observam Easterby-Smith, Thorpe, Lowe, e Montingelli (1999). Assim, o delineamento dapesquisa apresenta as etapas e as técnicas empregadas para o atendimento do objetivo. A Figura 2 ilustra 
a relação das técnicas utilizadas para o atendimento do objetivo proposto. Sampieri, Collado e Lucio 
(2006) indicam que a combinação das técnicas quantitativa e qualitativa favorece o desenvolvimento do 
conhecimento e a elaboração de teorias. Para esta pesquisa, fez-se necessária a utilização do método 
misto por demandar inicialmente o entendimento da construção do campo quanto à sequência do 
conhecimento legitimado. 
 
 
 
 
 
 
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Figura 2. Relação do Objetivo e Respectivas Técnicas de Pesquisa. 
Fonte: elaborada pelos autores. 
Esta pesquisa utilizou duas técnicas: o Data Mining e a ARS. Na abordagem quantitativa, a 
técnica utilizada foi o Data Mining. Conforme abordado por Meneses e Sarriera (2005), a ARS possui 
tanto um contorno qualitativo na observação da estrutura das redes quanto quantitativo na descrição das 
funções implícitas da rede social e caracterização dos vínculos que a moldam. Neste estudo, a ARS se 
posiciona entre os estudos quantitativos e instaura-se como elemento de transição e integração. 
 
Abordagem quantitativa dos pesquisadores e Instituições de Ensino Superior 
 
Para identificar o perfil dos professores orientadores e das Instituições de Ensino Superior (IES) 
que desenvolveram pesquisas em sustentabilidade ambiental nos programas de stricto sensu em 
administração, por meio das teses e dissertações defendidas, optou-se pela adoção do data mining 
(mineração ou garimpagem de dados). Esta técnica é apontada, por Fayyad, Piatetsky-Shapiro Smyth e 
Uthurusamy (1996), como um eficiente recurso para a obtenção de conhecimento em base de dados. 
O banco de dados utilizado foi desenvolvido com as informações sobre as teses e dissertações 
defendidas em administração no período de 1998 a 2009, que constituem quatro triênios de análise. Vale 
destacar que, até o mês de outubro de 2013, os dados disponibilizados nos cadernos da CAPES, em seu 
portal, datavam somente até o ano de 2009. O procedimento de análise dos dados iniciou com a leitura 
e classificação de 13.959 títulos de teses e dissertações, de 1998 a 2009, com buscas por palavras 
relacionadas à sustentabilidade ambiental nos títulos. Quando surgiam dúvidas, recorria-se às palavras-
chave e aos resumos desses trabalhos. Das 13.959 teses e dissertações defendidas, nesse período, foram 
encontrados 543 títulos nessa categoria (3,9%), sendo 365 na dimensão ambiental e 178 na dimensão 
socioambiental. A classificação das teses e dissertações, desenvolvida pelo data mining, identificou os 
pesquisadores mais prolíferos nas orientações em sustentabilidade ambiental, objeto de investigação da 
 
Data Mining 
 
Análise de Redes Sociais 
Data Mining 
 
a) Identificar o perfil dos professores 
orientadores e das IESs que desenvolveram 
pesquisas em sustentabilidade ambiental nos 
programas de Stricto Sensu em administração 
por meio das teses e dissertações apresentadas. 
b) Identificar a existência de uma rede social de 
colaboração, e a centralidade dos principais atores, em 
sustentabilidade ambiental nos programas de Stricto 
Sensu originária da composição dos orientadores e 
membros convidados das bancas de avaliação de teses e 
dissertações. 
c) Identificar se as teses e dissertações em sustentabilidade 
ambiental compartilham uma base comum de citações que 
possibilite a identificação do processo de legitimação do 
conhecimento deste campo científico. 
O objetivo do estudo é analisar a contribuição do Stricto Sensu em administração na 
institucionalização e legitimação do conhecimento em sustentabilidade ambiental, por meio 
da proposição e aplicação de um modelo teórico segundo a abordagem de Berger e 
Luckmann (2008). 
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ARS. Os professores orientadores foram selecionados em função da centralidade que possuíam na rede 
de participantes das bancas de doutorado e mestrado em administração, voltadas para os temas de 
sustentabilidade ambiental. 
 
Abordagem da análise de redes sociais 
 
Para identificar a existência de uma rede social de colaboração e a centralidade dos principais 
atores, em sustentabilidade ambiental nos programas de stricto sensu originária da composição dos 
orientadores e membros convidados das bancas de avaliação de teses e dissertações, utilizou-se a técnica 
de ARS por possibilitar entendimento sobre as redes em estudo. Segundo Wood et al. (1998), a proposta 
da Sociometria é atuar como técnica contributiva. Sob este aspecto, as técnicas empregadas na 
Sociometria podem contribuir no processo de identificação de grupos de pesquisa, pesquisadores líderes, 
temas preferenciais, entre outras possibilidades. O estudo buscou identificar os professores orientadores 
e os membros da banca de avaliação dos alunos de doutorado e de mestrado. 
A partir dos resultados obtidos na análise ARS, por meio do software UCINET 6 (Borgatti, 
Everett, & Freeman, 2002), que apontaram a centralidade da rede e os respectivos nós, foi realizado um 
recorte focalizado nos atores principais. A Tabela 1 elenca os atores mais prolíferos em orientação e a 
sua respectiva quantidade de laços de relacionamento. É possível observar uma justaposição, pois os 
mais prolíferos também se apresentam com mais laços de relacionamento. A realização deste recorte se 
insere dentro da perspectiva da abordagem de Berger e Luckmann (2008), que indica que o especialista 
em um conhecimento representa a própria ordem institucional. Assim, a análise de citação utilizada pelo 
ator central na orientação das pesquisas em sustentabilidade ambiental possibilitou identificar o 
conhecimento legitimado neste campo científico. 
 
Tabela 1 
 
Relação da Centralidade dos 25 Principais Pesquisadores Orientadores no Período de 1998 a 2009 
 
Quantidade de orientações de 
teses e dissertações em 
sustentabilidade ambiental 
realizadas. 
 
 
Nome do pesquisador orientador 
de tese e dissertação 
 
 Orientador (Membro Titular) Membro Convidado 
 
D
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Luis Felipe M. do Nascimento 27 0.047 0.381 0.126 82 0.037 0.458 0.044 21 103 
Pedro Carlos Schenini 18 0.025 0.249 0.035 42 0.024 0.372 0.045 9 51 
José Antonio P. de Oliveira 12 0.029 0.288 0.056 24 0.017 0.518 0.045 9 33 
José Carlos Barbieri 8 0.024 0.334 0.027 22 0.058 0.526 0.129 22 44 
Francisco Correia de Oliveira 12 0.021 0.382 0.055 27 0.007 187,4 0.000 2 29 
Isak Kruglianskas 6 0.016 0.367 0.052 15 0.027 0.491 0.090 8 23 
Robson Amâncio 8 0.015 0.242 0.025 15 0.007 0.244 0.002 3 18 
Eugênio Ávila Pedrozo 4 0.014 0.334 0.011 15 0.020 0.493 0.025 15 30 
Ícaro Aronovich da Cunha 12 0.014 0.342 0.045 23 0.007 0.419 0.001 3 26 
Continua 
 
Institucionalização e Legitimação do Conhecimento 863 
RAC, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, art. 6, pp. 854-873, Nov./Dez. 2014 www.anpad.org.br/rac 
Tabela 1 (continuação) 
 
Quantidade de orientaçõesde 
teses e dissertações em 
sustentabilidade ambiental 
realizadas. 
 
 
Nome do pesquisador orientador 
de tese e dissertação 
 
 Orientador (Membro Titular) Membro Convidado 
 
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Tânia Nunes da Silva 6 0.014 0.319 0.011 18 0.007 0.447 0.001 4 22 
Hans Michael Van Bellen 6 0.014 0.245 0.020 13 0.014 0.305 0.007 5 18 
Rolf Hermann Erdmann. 5 0.013 0.246 0.018 11 0.003 0.362 0.000 1 12 
Celso Funcia Lemme 9 0.011 0.349 0.037 18 0.020 0.358 0.017 6 24 
Maria Tereza Saraiva de Souza 6 0.011 0.354 0.042 12 0.020 0.316 0.006 6 18 
Rubens Mazon 3 0.011 0.317 0.018 10 0.007 0.420 0.003 3 13 
Wayne Thomas Enders 6 0.011 0.221 0.019 12 0.003 0.263 0.000 1 13 
José Célio Silveira Andrade 5 0.010 0.343 0.015 13 0.014 0.413 0.032 13 26 
Ely Laureano Paiva 4 0.010 0.325 0.014 12 0.007 0.447 0.001 2 14 
Elaine Ferreira 4 0.010 0.203 0.007 9 0.014 0.303 0.008 4 13 
Jacques Demajorovic 2 0.010 0.314 0.043 8 0.007 0.240 0.003 2 10 
George Gurgel de Oliveira 4 0.010 0.028 0.008 10 0.003 0.062 0 1 11 
Sérgio Gozzi 4 0.009 0.278 0.017 8 0.010 0.339 0.003 4 12 
Márcia Regina G. Camara 3 0.009 0.282 0.025 9 0 0 0 0 9 
Edi Madalena Fracasso 3 0.008 0.318 0.004 9 0.014 0.491 0.016 21 30 
João Eduardo P. Tinoco 4 0.008 0.183 0.006 8 0.007 0.400 0 3 11 
Nota. Fonte: elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa. 
A rede formada por um total de 947 atores, entre orientadores e convidados de banca, apresentou 
um total de 1.284 laços, resultando na média de 1,35 laços por ator. A baixa média de laços por ator, em 
grande parte, pode ser explicada pela própria natureza das bancas, que limita a um mínimo de dois 
convidados no mestrado e quatro convidados no doutorado. 
Conforme aponta Moody (2004), a centralidade de grau possibilita a interpretação de prestígio no 
campo científico, pois alguns autores trabalham na obscuridade, enquanto outros, em menor volume, 
recebem maior reconhecimento, o que resulta em uma grande concentração de reconhecimento pela 
colaboração em poucos autores. Para Moody (2004), a centralidade de alguns autores auxilia na 
interpretação do fato de alguns cientistas conseguirem, rapidamente, difundir suas ideias na comunidade 
acadêmica. Tal celeridade de difusão estaria associada ao fato de autores com muitos colaboradores 
serem os mais influentes. Sob esse aspecto, a análise da centralidade dos atores se estabeleceu como 
uma oportunidade de interpretar o prestígio no campo científico segundo a realização de bancas 
avaliação. 
Como a análise se processou por meio de uma rede two-mode, foram selecionadas duas posições 
de análise: o pesquisador na condição de orientador e de membro convidado a participar da banca 
examinadora. Nesse sentido, a análise de centralidade se voltou para as duas posições. Em ambas as 
situações se processou a verificação de centralidade segundo três variáveis: centralidade de grau, de 
C. Machado Junior, M. T. S. de Souza, I. R. dos S. Parisotto 864 
RAC, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, art. 6, pp. 854-873, Nov./Dez. 2014 www.anpad.org.br/rac 
proximidade e de intermediação. A Tabela 1 expõe estes valores de centralidade. Os seis pesquisadores 
mais centrais foram: Luis Felipe Machado do Nascimento, Pedro Carlos Schenini, José Carlos Barbieri, 
José Antonio Puppim de Oliveira, Francisco Correia de Oliveira, Isak Kruglianskas. Desta forma, é 
possível afirmar que as regiões Sudeste e Sul concentram os pesquisadores mais centrais em 
sustentabilidade ambiental. 
Assim, estabeleceu-se o universo de pesquisa para análise das citações das teses e dissertações 
orientadas pelos pesquisadores com maior centralidade, defendidas no período de 2007 a 2009. A 
escolha desse período deve-se ao fato de avaliar as citações mais recentes, por ser o último triênio em 
que os dados estão disponíveis. 
 
Abordagem quantitativa das citações 
 
Para analisar se os membros da rede social definida pelas bancas de avaliação compartilham uma 
base comum de conhecimento em sustentabilidade ambiental por meio de um recorte nas teses e 
dissertações apresentadas de 2007 a 2009, utilizou-se a técnica do data mining. A análise dos dados 
possibilitou identificar que no triênio de 2007 a 2009 ocorreram 229 estudos em sustentabilidade 
ambiental nos programas de stricto sensu em administração. Com base na abordagem de Berger e 
Luckmann (2008), que o especialista em um conhecimento representa a própria ordem institucional, a 
pesquisa se ateve aos pesquisadores mais prolíferos e centrais. Nesse sentido, a pesquisa se voltou para 
os orientadores que desenvolveram quatro ou mais trabalhos neste campo de pesquisa. Desta forma, 
identificou-se um total de 49 estudos abarcados por esta pesquisa. Vale destacar que pesquisadores 
identificados como prolíferos e apontados na Tabela 1 não realizaram orientações no período de 2007 a 
2009 neste campo de pesquisa. 
Mediante a identificação das teses e dissertações em sustentabilidade ambiental, no período de 
2007 a 2009, dos orientadores mais prolíferos e centrais, iniciou-se a coleta desses trabalhos nos acervos 
de bibliotecas das respectivas IESs. Dos 49 estudos identificados, dois não foram passíveis de obtenção, 
moldando o universo de investigação em nove teses e 38 dissertações que tratam da sustentabilidade 
ambiental nos programas de stricto sensu em administração. De posse de 47 estudos, foi gerado um 
novo banco de dados com cinco variáveis de pesquisa: o nome, o título da obra dos autores, nome do 
orientador, a IES de titulação do orientador e a IES em que se desenvolveu o estudo das teses e 
dissertações. Este levantamento originou um total de 4.852 citações, o que proporcionou uma média de 
103 citações por estudo. O algoritmo utilizado para a pesquisa foi baseado nos autores e respectivas 
obras citadas, bem como, na sequência, no nome do orientador que incorpora a referência e sua IES de 
atuação. 
A Tabela 2 apresenta a relação dos autores com maior incidência de citação e integra, além dos 
autores mais citados, os pesquisadores de destaque na orientação de doutorado e de mestrado e os mais 
centrados. Os autores mais citados, e que não aparecem como orientadores de destaque na pesquisa, 
foram identificados pelo sombreamento da linha. 
 
Institucionalização e Legitimação do Conhecimento 865 
RAC, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, art. 6, pp. 854-873, Nov./Dez. 2014 www.anpad.org.br/rac 
Tabela 2 
 
Autores mais Citados em Teses e Dissertações de Sustentabilidade Ambiental Distribuídos por 
IESs 
 
Autores citados nas teses e 
dissertações 
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Ignacy Sachs 2 1 1 11 9 1 8 2 35 
José Carlos Barbieri 4 1 1 4 2 4 1 4 1 2 24 
João Eduardo Prudêncio Tinoco 1 17 1 19 
Luis Felipe M. do Nascimento 2 13 1 1 17 
Hans Michael Van Bellen 4 1 5 3 2 1 1 17 
Fernando Alves de Almeida 1 1 1 1 1 7 12 
Denis Donaire 1 2 1 2 2 2 1 1 12 
Elio T. Takeshy Tachizawa 1 3 1 3 3 1 12 
José Célio Silveira Andrade 9 1 1 11 
Tânia Nunes da Silva 11 11 
Eugenio Ávila Pedrozo 10 10 
Craig R. Carter 10 10 
Paulo Roberto Leite 13 2 3 1 10 
Boaventura de Sousa Santos 4 2 1 2 1 10 
José Eli da Veiga 2 2 4 2 10 
Oliver E. Williamson 10 10 
Jacques Demajorovic 1 1 6 1 9 
Eduardo Viola 3 1 3 1 1 9 
Douglas M. Lambert 7 2 9 
Ícaro Aronovich da Cunha 2 2 4 8 
Ely Laureano Paiva 5 5 
Pedro Carlos Schenini 1 4 5 
José Antonio Puppim de Oliveira 2 1 1 4 
Maria Tereza Saraiva de Souza 1 2 3 
Elaine Ferreira 1 2 3 
Mozar José de Brito 3 3 
Celso Funcia Lemme 1 1 2 
Robson Amâncio 1 1 
George Gurgel de Oliveira 1 1 
Isak Kruglianskas 1 1 
Rolf Hermann Erdmann 1 1 
Total geral 4 8 31 10 101 3 30 24 18 48 9 7 293 
Nota. Nome das IESs apresentadas na Tabela 2. FGV/RJ - Fundação Getúlio Vargas/Rio de Janeiro, FGV/SP - Fundação 
Getúlio Vargas/São Paulo, UFBA - Universidade Federal da Bahia, UFLA - Universidade Federal de Lavras, UFRGS - 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFSC - Universidade Federal de 
Santa Catarina, UNIFOR - Universidade de Fortaleza, UNINOVE - Universidade Nove de Julho, UNISANTOS - Universidade 
Católica de Santos, UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí, USP - Universidade de São Paulo. Fonte: elaborada pelos 
autores com base nos dados da pesquisa. 
C. Machado Junior, M. T. S. de Souza, I. R. dos S. Parisotto 866 
RAC, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, art. 6, pp. 854-873, Nov./Dez. 2014 www.anpad.org.br/rac 
A abordagem de Berger e Luckmann (2008) destaca a importância do ator e do papel que ocupa 
no processo de legitimação. Sob esse aspecto, a análise dos dados não foca atenção nas obras citadas, 
mas sim no autor citado. No entanto, para evitar disfunções na interpretação dos dados, verificou-se a 
pertinência das obras ao tema em estudo. 
 
Aplicação do modelo teórico: a institucionalização e legitimação do conhecimento em 
sustentabilidade ambiental pelos programas stricto sensu em administração 
 
Nesta seção se discute os dados obtidos no referencial bibliográfico das teses e dissertações em 
sustentabilidade ambiental da administração perante a abordagem da sociologia do conhecimento, 
proposta por Berger e Luckmann (2008). Com o propósito de estabelecer reflexões sobre a existência 
do processo de legitimação, ou não, do conhecimento em sustentabilidade ambiental nos programas de 
stricto sensu em administração. Nesse sentido, é retomado o modelo teórico proposto a fim de 
determinar a sua adequação dentro do contexto que se estabeleceu neste estudo. 
As diferentes análises realizadas, utilizando-se distintas técnicas, possibilitaram a identificação 
de uma convergência de informações. Os pesquisadores orientadores, mais prolíferos em 
sustentabilidade ambiental, estabelecem-se também como atores centrais na rede de colaboração em 
bancas de avaliação e, adicionalmente, muitos aparecem como autores cujo conhecimento é legitimado 
ou institucionalizado por intermédio da citação nas teses e dissertações. Esse contexto se assenta como 
uma possibilidade de materialização da proposta conceitual de Berger e Luckmann (2008), expressa na 
Figura 1, do processo de legitimação do conhecimento e estabelecimento da ordem institucional. No 
arranjo social que constitui esta ordem institucional, qualquer ator tem a possibilidade de referenciar o 
conhecimento legitimado de forma plausível e possibilitar sentido objetivo. 
Retornando ao modelo proposto por este estudo, expresso na Figura 1, é possível constatar que as 
técnicas de bibliometria e data mining se ajustam ao papel de identificar, na linguagem (livros, artigos, 
teses, dissertações, entre outros), os autores que estão com obras institucionalizadas e legitimadas. De 
forma análoga, a análise de redes sociais possibilita identificar os atores que firmam arranjos sociais por 
meio das bancas examinadoras que suportam os processos de institucionalização e legitimação do 
conhecimento. Nesse sentido, a Figura 3 apresenta, de forma esquemática, o núcleo do modelo proposto 
com os respectivos resultados que apontam os atores centrais deste estudo. Salienta-se que os demais 
elementos do modelo, apesar da relevância, não são apresentados nesta representação, por não se 
tratarem de objeto da presente investigação. 
Institucionalização e Legitimação do Conhecimento 867 
RAC, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, art. 6, pp. 854-873, Nov./Dez. 2014 www.anpad.org.br/rac 
Figura 3. Aplicação do Modelo Teórico: A Institucionalização e Legitimação do Conhecimento em 
Sustentabilidade Ambiental. 
Fonte: elaborada pelos autores a partir de Berger, P., & Luckmann, T. (2008). A construção social da realidade: tratado de 
sociologia do conhecimento (28a ed.). Petropolis: Vozes. 
O modelo apresentado desenvolve uma análise da legitimação do conhecimento, a partir de uma 
parcela das atividades desenvolvidas pelos pesquisadores dos programas de stricto sensu, mais 
precisamente, o resultado da orientação dos alunos, que se materializa nas teses e dissertações, e a rede 
social, que se estabelece a partir das participações em bancas de mestrado e doutorado. No entanto o 
modelo proposto pode suportar outras abordagens, como exemplo, a publicação de artigos e relações de 
coautoria, sem a necessidade de ajustes ou alterações. Nesse sentido, a aplicação do modelo em um 
recorte das atividades analisa a legitimação decorrente desta atividade, assim como outras formas de 
colaboração (por ex. artigos) podem apontar outros processos de legitimação do conhecimento. 
A abordagem de Berger e Luckmann (2008) indica como conhecimento legitimado aquele que é 
transmitido de uma geração para outra. No estudo de campo da ciência, a interpretação de geração se 
aproxima do entendimento da utilização de valores e do conhecimento por um grupo diferente ao que o 
originou, e não associado unicamente ao fator tempo cronológico. Tal proposição se estabelece como 
plausível perante a argumentação dos autores que a legitimação ocorre diante da incorporação do 
conhecimento pela geração seguinte, mediante a possibilidade de explicação e justificação do novo. Este 
estudo apoiou-se na análise dos orientadores e das respectivas IESs em que atuam para estabelecer o 
conceito de geração. Nesta proposição, a citação de um autor por diferentes pesquisadores orientadores, 
em diferentes IESs, manifesta-se como evidência de que o conhecimento foi transmitido à outra geração. 
Nesse sentido, restringindo a análise aos pesquisadores atuantes nos programas de stricto sensu, é 
possível identificar José Carlos Barbieri, Luis Felipe Machado do Nascimento, Hans Michael Van 
Bellen, Jacques Demajorovic e Ícaro Aronovich da Cunha como referências da área e cabedais do 
conhecimento em sustentabilidade ambiental no Brasil. Afirmação apoiada na perspectiva de possuírem 
obras citadas nas teses e dissertações, bem como um arranjo social que suporta suas pesquisas e que se 
manifesta pelas bancas examinadoras. Assim, o conhecimento objetivado por estes pesquisadores e 
disponibilizado para a sociedade pode ser interpretado como legitimado. 
Com a utilização da abordagem de Berger e Luckmann (2008), tornou-se possível identificar os 
autores que foram utilizados por várias gerações e como tal podem ser considerados legitimados. Este 
conjunto de conhecimento legitimado estrutura o que Berger e Luckmann (2008) apontam como ordem 
institucional. O estabelecimento desta ordem institucional possibilita que o conhecimento gerado por 
estes autores seja utilizado por qualquer ator que componha a rede social, neste caso, os pesquisadores 
C. Machado Junior, M. T. S. de Souza, I. R. dos S. Parisotto868 
RAC, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, art. 6, pp. 854-873, Nov./Dez. 2014 www.anpad.org.br/rac 
em sustentabilidade ambiental. Ainda, segundo Berger e Luckmann (2008), a existência da ordem 
institucional está associada à concepção do universo simbólico que envolve os processos de objetivação, 
de sedimentação e de acumulação do conhecimento. Nesse sentido, é possível considerar que o 
conhecimento de sustentabilidade ambiental se caracteriza como um produto social, possuidor de uma 
história e incorporado ao universo simbólico, aceito, assim, de forma geral pela sociedade. 
A abordagem teórica desenvolvida identificou a proximidade de contextualização da ordem 
institucional de Berger e Luckmann (2008) com o campo científico apresentado por Bourdieu (1995). 
Analisando a sustentabilidade ambiental, inserida no conceito de campo científico de Bourdieu (1995), 
é possível identificar um grupo de pesquisadores, relativamente autônomos, que executam pesquisas e 
orientações nos programas de stricto sensu e que têm o seu conhecimento sendo difundido. Desta forma, 
a sustentabilidade ambiental pode ser interpretada como um campo científico. Bourdieu (1995) aponta, 
ainda, a existência de disputas que envolvem a questão epistemológica do significado e da natureza das 
descobertas científicas. Frente ao conjunto de 1.360 citações ocorridas nas teses e dissertações voltadas 
à sustentabilidade ambiental e a ocorrência de apenas 331 repetições, foi possível inferir a existência de 
uma pequena elite de pesquisadores e um grande contingente de autores que buscam afirmar o resultado 
de suas pesquisas, configurando um campo aberto a disputas. O campo se caracteriza em consonância à 
abordagem de Santos (2000), na qual os consumidores/clientes do campo científico são os próprios 
pares/concorrentes do produto do conhecimento. 
Os resultados obtidos não apontam para o Efeito Mateus, proposto por Merton (1968, 1988), que 
atribui desproporcional reconhecimento para os cientistas com algum grau de reputação no campo 
científico em relação àqueles que ainda não alcançaram este patamar. Nesta pesquisa, mesmo os autores 
mais citados não estabelecem um predomínio desproporcional sobre os demais autores. 
Na perspectiva de Berger e Luckmann (2008), a institucionalização é um processo anterior à 
legitimação, no qual o ator ou um conjunto de atores exercem ações típicas estabelecendo uma 
instituição. No estudo de campo da ciência, a interpretação de institucionalização ocorre quando se 
observa um ator ou um grupo de atores próximos realizarem a citação de um mesmo autor pertencente 
a este arranjo social. Neste estudo, que se apoia na análise dos orientadores e das respectivas IESs em 
que atuam, a institucionalização do conhecimento ocorre quando um ator é citado pelo próprio ator, ou 
por atores da mesma IES ou, ainda, por mais de uma IES, mas de forma discreta. Nesse sentido, o estudo 
identificou atores que possuem sua obra citada na própria IES ou, ainda, em outras IESs, mas, de forma 
pontual, com baixa penetração. Os autores identificados nesta situação, restringindo a análise aos 
pesquisadores atuantes nos programas de stricto sensu, foram: Celso Funcia Lemme, Elaine Ferreira, 
Ely Laureano Paiva, Eugênio Ávila Pedrozo, Isak Kruglianskas, João Eduardo Prudêncio Tinoco, José 
Antonio Puppim de Oliveira, José Célio Silveira Andrade, Maria Tereza Saraiva de Souza, Pedro Carlos 
Schenini, Robson Amâncio, Rolf Hermann Erdmann e Tânia Nunes da Silva. Vale destacar que esta 
perspectiva foi estabelecida com base nas citações e análises nas teses e dissertações e, caso a análise se 
expanda para o referencial dos artigos, é passível de identificar que a obra de muitos destes 
pesquisadores também já esteja legitimada. Da mesma forma que, estendendo o período da análise para 
o triênio 2010 a 2013, esses autores podem já estar legitimados. 
A análise do processo de disseminação do conhecimento mostrou que a Universidade Federal do 
Rio Grande do Sul (UFRGS) se estabeleceu como um importante elemento no processo de legitimação 
e institucionalização do conhecimento em sustentabilidade ambiental, pois foi a responsável por 101 
citações observadas neste levantamento como legitimadas ou institucionalizadas. Em segundo lugar, 
aparece a Universidade Católica de Santos (UNISANTOS), com 48 citações, e, no terceiro lugar, a 
Universidade Federal da Bahia (UFBA), com 31 citações. Estas IESs mostraram-se como importantes 
componentes na institucionalização do conhecimento. 
Para Berger e Luckmann (2008), a linguagem é uma instituição e tem a finalidade de repetir as 
objetivações das experiências compartilhadas. A linguagem é o elemento de elaboração e disseminação 
nos processos de legitimação. A análise das citações realizadas nas teses e dissertações revelou que o 
livro foi a linguagem mais empregada nos casos em que se observou a legitimação. Tal cenário indica 
que o livro se sobrepõe aos artigos científicos nos processos de legitimação do conhecimento em 
Institucionalização e Legitimação do Conhecimento 869 
RAC, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, art. 6, pp. 854-873, Nov./Dez. 2014 www.anpad.org.br/rac 
sustentabilidade ambiental nas teses e dissertações. Nesse contexto, autores que objetivaram o 
conhecimento, mas não utilizaram o livro para sua difusão, encontram dificuldades para legitimá-lo em 
outros grupos sociais de orientadores. A preferência por citação de livros e a baixa presença de artigos 
na legitimação do conhecimento em sustentabilidade, em parte, podem ser atribuídas pelos resultados 
encontrados na pesquisa de Jabbour et al. (2008). Para estes autores, tanto o reduzido número de artigos 
publicados quanto a falta de diversidade de autoria revelam uma concentração de massa crítica em 
sustentabilidade ambiental. Estudos desenvolvidos por Souza e Ribeiro (2013) revelam que cinco 
revistas concentram uma parcela significativa da publicação em sustentabilidade ambiental. Vale 
destacar, portanto, que estudos como o de Jabbour et al. (2008) e de Souza e Ribeiro (2013) podem 
representar um componente de difusão da informação em sustentabilidade ambiental e um alerta quanto 
à falta de legitimação de pesquisas desenvolvidas e publicadas em periódicos. Os artigos científicos 
configuram uma literatura em constante atualização, de fácil acesso e bastante diversificada, o que 
deveria ser um atrativo à utilização em teses e dissertações. É fato que este estudo observou a citação de 
vários artigos nas teses e dissertações, no entanto essas publicações têm baixo índice de repetição, 
condição esta que possibilita a sua institucionalização, mas não evidencia a legitimação do 
conhecimento nele objetivado. 
 
 
Conclusão 
 
 
Este estudo objetivou analisar o processo de institucionalização e legitimação do conhecimento 
em programas stricto sensu em administração no campo de sustentabilidade ambiental. O 
desenvolvimento da pesquisa partiu do pressuposto de que as atividades do stricto sensu em 
administração, por intermédio do processo de orientação, do conteúdo das teses e dissertações e das 
redes sociais de colaboração que se forma a partir das bancas examinadoras, são estabelecidas como um 
componente que possibilita a identificação do conhecimento legitimado em sustentabilidade ambiental. 
Com base na abordagem de Berger e Luckmann (2008), identificou-se um grupo de autores, 
atuantes nos programas de stricto sensu, que possui suas obras legitimadas, este conjunto de autores e 
suas respectivas obras estabelecem a ordem institucional. Esta, por sua vez, possibilita, a qualquer ator 
que a compõe, utilizar o conhecimento com o entendimento de que ele pertence ao contexto histórico 
da sociedade que o originou e legitimou e compõe o universo simbólico da área. Com base na abordagem 
de Berger e Luckmann (2008), a institucionalizaçãoé um processo anterior à legitimação, a qual se 
observa quando um ator ou um grupo de atores próximos realizam a citação de um mesmo autor. Alguns 
pesquisadores, segundo os parâmetros estabelecidos no modelo, estão institucionalizados e podem vir a 
ter o seu conhecimento legitimado em função de um possível aumento de citações de suas obras por 
grupos diferentes ao da IES a que estão vinculados. Da mesma forma, as IESs, Fundação Getúlio Vargas 
de São Paulo (FGV/SP), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal 
de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Católica de Santos (UNISANTOS) se estabeleceram como 
importantes agentes no processo de legitimação e institucionalização do conhecimento. 
O modelo de análise do processo de institucionalização e legitimação do conhecimento, proposto 
por este estudo, e que incorpora a abordagem de Berger e Luckmann (2008), a bibliometria e a análise 
de redes sociais, mostrou-se adequado à finalidade que se destinava. Desta forma, este modelo pode ser 
empregado na análise de outros campos científicos com a finalidade de identificar o conhecimento 
legitimado e o conhecimento institucionalizado. 
A rede de colaboração, com laços de participação dos pesquisadores em bancas examinadoras, 
possibilitou individuar a existência de atores centrais. Nesse contexto, é possível presumir que estes 
pesquisadores possuam prestígio no campo científico. Tal posição vai ao encontro da proposta de Moody 
(2004), pela qual a centralidade de grau possibilita a interpretação de prestígio no campo científico. 
A colaboração do stricto sensu é observada na realização de pesquisas orientadas por 
pesquisadores que utilizam um referencial teórico adequado aos propósitos que se estabelecem. A 
C. Machado Junior, M. T. S. de Souza, I. R. dos S. Parisotto 870 
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reprodução deste referencial em outras pesquisas, de diferentes orientadores, em distintas IESs, 
possibilita a institucionalização e a legitimação do conhecimento. Assim, o stricto sensu, por meio da 
orientação de pesquisas de doutorandos e de mestrandos, associa-se a outros processos acadêmicos na 
legitimação do conhecimento em sustentabilidade ambiental. Tal perspectiva se estrutura na existência 
de um arranjo social que suporta o conhecimento desenvolvido nas pesquisas e que se manifesta pelas 
bancas examinadoras. 
A réplica desta pesquisa, utilizando o modelo proposto e as técnicas de data mining e análise de 
redes sociais em outras áreas do conhecimento, possibilitará a identificação de centros de excelência na 
formação de pesquisadores em áreas específicas. E, desta forma, a possibilidade de realizar o 
mapeamento de áreas de pesquisa e de conhecimento, segundo as IESs formadoras de pesquisadores 
que atuam nos programas de stricto sensu. 
Este estudo focou o processo de legitimação do conhecimento, por isso, recomenda-se que futuros 
estudos estabeleçam um recorte de investigação na etapa de objetivação, pois o aprofundamento desta 
etapa do processo de difusão do conhecimento possibilitaria identificar os procedimentos 
metodológicos, as abordagens teóricas, os temas predominantes, entre outras características, das 
pesquisas em sustentabilidade ambiental. Adicionalmente, recomenda-se que estudos futuros utilizem 
uma abordagem qualitativa a fim de desenvolverem uma investigação do conteúdo das teses e 
dissertações. 
Recomenda-se, ainda, para futuros estudos, a análise da evolução da estrutura de colaboração 
gerada pelos laços de participação, ao longo dos quatro triênios de análise. A compreensão do processo 
evolutivo pode estabelecer um importante componente de entendimento do campo de pesquisa em 
sustentabilidade ambiental, dessa forma, caracterizando-se como uma investigação de interesse para esta 
área de pesquisa. 
A pesquisa revela a importância da orientação das teses e dissertações para a estruturação da rede 
social de colaboração em sustentabilidade ambiental, no entanto não mostra se esta atividade resulta em 
trabalhos posteriores de colaboração expressos na forma de artigos científicos. Logo, deste contexto, 
surge a possibilidade de novas pesquisas que identifiquem a existência, ou não, de tal colaboração em 
decorrência da participação nas bancas examinadoras. 
Neste cenário é possível concluir que as redes de colaboração formadas pelos programas de stricto 
sensu em administração contribuem para a institucionalização e legitimação do conhecimento em 
sustentabilidade ambiental. As técnicas de bibliometria e data mining se ajustam à função de identificar 
os autores que estão com obras institucionalizadas e legitimadas. A análise de redes sociais possibilitou 
identificar os atores do stricto sensu que possuem obras citadas nas teses e dissertações e o arranjo social 
que suporta o processo de legitimação do conhecimento. A adoção desta abordagem permitiu identificar 
os autores que possuem a produção do conhecimento na condição de institucionalizado ou legitimado. 
Assim, o modelo de análise proposto foi confrontado com os dados empíricos e verificou-se que a 
abordagem de Berger e Luckmann (2008) é adequada para identificar a institucionalização e a 
legitimação do conhecimento. 
 
 
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