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Vander Gabriel Camargo | 79 sabe-se que do lado esquerdo encontra-se Atena, lança e escudo em mãos, enfrentando Posídon, que avança sobre ela com seu tridente (anexo III). Em ambos os lados desses personagens centrais, outras divindades e figu- ras míticas locais estão inseridas, como o rei Cécrops. Marion Meyer comenta que o frontão, construído entre 447 e 435 a.C., é uma das mais antigas alusões ao mito (2017b, p.182). Por outro lado, a presença da narrativa na iconografia cerâmica pa- rece existir pelo menos desde o séc. VI a.C., segundo os argumentos de Patricia Marx sobre uma ânfora panatenaica encontrada na Acrópole. Esse exemplar, Athens NM Acropolis 923, cuja datação atribuída é de 540 a.C., segunda a autora, apresenta uma cena posterior à criação das marcas vi- síveis na Acrópole, o momento em que Zeus interfere na disputa e realiza a mediação para a escolha do vencedor (2011, p. 37). Sua composição é a seguinte: à esquerda está Posídon, usando um elmo coríntio e segurando seu tridente; à direita, Atena, vestindo seu peplos, sua égide e um elmo ático, além de portar lança e escudo; e à direita, Zeus, vestindo apenas um manto, segurando um cetro e seu maço de raios (anexo IV). Um dos indícios para identificar o tema da pintura seria o elmo de Posídon. Conforme Patricia Marx, a presença desse equipamento na com- posição da figura do deus, além de ser incomum na iconografia, é exclusiva de cenas de batalha para o deus, como nas cenas referentes à gigantoma- quia, episódio em que os deuses enfrentam os gigantes (vide anexo I; 2011, p.29). Assim, esse signo, no exemplar examinado pela autora, poderia alu- dir à disputa entre os deuses, o que se soma à composição em que os dois estão virados em direção a Zeus, como se esperassem seu veredito, e a configuração de Atena – a centralidade e a sobreposição entre a ponta de sua lança e o cetro de seu pai -, indica a vitória eminente da deusa, con- forme Marx e Mary Moore (ibid., p.30-32; 2013, p.33). Ao mesmo tempo, visualiza-se o caráter especial dessa ânfora panatenaica, visto que apesar 80 | Histórias Antigas: entre práticas de ensino e pesquisa do formato ser originalmente destinado a ser usado como prêmio para os atletas vencedores, é representado o importante mito ateniense e não de uma cena esportiva, o que compõe uma excelente oferenda para Atena na Acrópole, e evidenciaria a existência da narrativa no séc. VI a.C. (MOORE, 2013, p.33). Ademais, Patricia Marx aponta os diferentes momentos da narrativa mítica que são representados na iconografia. O primeiro é a disputa pro- priamente dita, em que os deuses estão “enfrentando-se” nessas pinturas, suas armas são apontadas para baixo, assim como ocorre no frontão oeste do Partenon. O segundo caso conecta-se com a ânfora panatenaica supra- citada, o momento “pacífico” em que Posídon e Atena esperam o veredito do confronto, geralmente as armas com as pontas para cima (MARX, 2011, p.33-34). Ainda do séc. VI a.C., um grupo de cinco cerâmicas decoradas pelo pintor de Amasis, produzidas entre 550 e 500, podem aludir ao mito da disputa. Comenta-se primeiro a ânfora de figuras negras Louvre F25 (anexo V). Em um dos lados da cerâmica, visualiza-se três figuras mascu- linas avançando para a esquerda, Apolo, Dioniso e Hermes. Do outro lado, à esquerda, uma figura masculina em pé segurando um tridente, prova- velmente Posídon; ao centro, um hoplita (talvez Ares) avançando em direção a direita segurando uma lança e a coleira de um cão, que avança junto com ele; e à direita, uma figura feminina segurando uma lança e usando brincos, colar e pulseira, ou Atena ou Afrodite (BOTHMER, 1985, p.97). Se for considerado que a figura feminina da esquerda é Atena, pode- se pensar a possibilidade da cena se referir ao mito, porém, o que Ares estaria fazendo ali? Algumas fontes, assim como aparece na obra de Pseudo-Apolodoro (Biblioteca, 3. 14. 1.)., do séc. II d.C., mencionam que Zeus, ao interferir, teria nomeado os doze deuses olímpicos como os juízes