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1 PSICOLOGIA, TRABALHO E PROCESSOS PSICOSSOCIAIS: P E S Q U I S A S E I N T E R V E N Ç Õ E S O R G A N I Z A D O R E S : João César de Freitas Fonseca Bruno Márcio de Castro Reis Jesus Alexandre Tavares Monteiro Carlos Eduardo Carrusca Vieira José Newton Garcia de Araújo PSICOLOGIA, TRABALHO E PROCESSOS PSICOSSOCIAIS: P E S Q U I S A S E I N T E R V E N Ç Õ E S Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Grão-chanceler • Dom Walmor Oliveira de Azevedo Reitor • Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães Pró-reitor de Pesquisa e de Pós-graduação • Sérgio de Morais Hanriot Belo Horizonte, 2021 O R G A N I Z A D O R E S : João César de Freitas Fonseca Bruno Márcio de Castro Reis Jesus Alexandre Tavares Monteiro Carlos Eduardo Carrusca Vieira José Newton Garcia de Araújo PSICOLOGIA, TRABALHO E PROCESSOS PSICOSSOCIAIS: P E S Q U I S A S E I N T E R V E N Ç Õ E S © 2021 Os Organizadores Todos os direitos reservados pela Editora PUC Minas. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a autorização prévia da Editora. Esta publicação foi financiada através de recursos provenientes do Acordo de Cooperação Técnico-Científica celebrado entre a PUC Minas e a Vale S.A., em 12/12/2017, com intermediação do Instituto Tecnológico Vale (ITV). Esta publicação foi objeto de avaliação por pares. FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais P974 Psicologia, trabalho e processos psicossociais : pesquisas e intervenções /organizadores: João César de Freitas Fonseca ... [et al.]. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2021. 328 p. : il. ISBN: 978-65-88547-15-1 Outros organizadores: Bruno Márcio de Castro Reis, Jesus Alexandre Tavares Monteiro, Carlos Eduardo Carrusca Vieira, José Newton Garcia de Araújo. 1. Trabalho - Aspectos psicológicos. 2. Minas e recursos minerais - Brasil. Ergonomia. 3. Condições de trabalho - Fatores de risco. 4. Testes psicológicos - Técnica. 5. Pessoal - Avaliação. 6. Psicologia social. 7. Ambiente de trabalho. I. Fonseca, João César de Freitas. II. Programa de Operadores de Alto Desempenho. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. IV. Vale (Firma). V. Título. CDU: 658.013 Ficha catalográfica elaborada por Fernanda Paim Brito - CRB 6/2999 Editora PUC Minas Direção e coordenação editorial: Mariana Teixeira de Carvalho Moura Comercial: Paulo Vitor de Castro Carvalho Revisão: Ana Paula Paiva e Thúllio Salgado Projeto gráfico, e diagramação: Christiane Costa Conselho editorial: Édil Carvalho Guedes Filho, Eliane Scheid Gazire, Ev’Ângela Batista Rodrigues de Barros, Flávio de Jesus Resende, Jean Richard Lopes, Javier Alberto Vadell, Leonardo César Souza Ramos, Lucas de Alvarenga Gontijo, Luciana Lemos de Azevedo, Márcia Stengel, Meire Chucre Tannure Martins, Mozahir Salomão Bruck, Pedro Paiva Brito, Sérgio de Morais Hanriot. Editora PUC Minas Rua Dom José Gaspar, 500 - Prédio 30 Coração Eucarístico 30535-901 Belo Horizonte - MG Fone: (31) 3319-9904 editora@pucminas.br www.pucminas.br/editora Nossos sinceros agradecimentos a todos(as) aqueles(as) que de alguma forma contri- buíram para a realização desta publicação. Em particular, gostaríamos de expressar gratidão: Aos colegas Felipe Dutra (ITV) e Renan Tourinho (Coordenador do Núcleo Técnico do POAD) e sua equipe de trabalho (especialmente João Lucas, Carla, Thiago, José Maria, Edson), pela colaboração constante e sem a qual este trabalho não seria possível; Aos trabalhadores e gestores da Vale S.A. e suas famílias (cuja nomeação individual não será feita em observância aos critérios éticos da pesquisa), pela participação ativa e crítica nas pesquisas realizadas no sistema S11D, particularmente no POAD; Aos colegas pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Univer- sidade Federal do Pará (UFPA) e do Instituto Tecnológico Vale (ITV), que integram os Núcleos Físico-Clínico e Cognitivo do POAD, pela troca de experiências e aprendizado; Aos colegas Pedro Bendassolli (UFRN), Cláudia Osório (UFF), Milton Athayde (UERJ), Jorge Falcão (UFRN) e Raoni Rocha (UFOP), por disponibilizarem-se a contribuir com seus olhares para o mundo do trabalho e sua escrita competente; Ao Prof. Sérgio de Morais Hanriot (Pró-Reitor de Pesquisa e de Pós-Graduação da PUC Minas) e equipe (especialmente Rosa, Cristiane), bem como ao Prof. Paulo Roberto (Pró-Reitor de Gestão Financeira da PUC Minas) e equipe (especialmente Elizângela, Jamille); À Profa. Betânia Diniz Gonçalves (Diretora da Faculdade de Psicologia da PUC Minas) e à Profa. Cláudia Regina Barroso Ribeiro (Chefe do Departamento de Psicolo- gia da PUC Minas), e respectivas equipes de trabalho (especialmente Leandro, Rosana, Lucas, Sandra, Lina, Cleber e Filipe) pelo suporte atento para garantir as condições de viabilização deste trabalho; Às Professoras Cristina Moreira Marcos (Coordenadora atual) e Luciana Kind do Nascimento (Coordenadora anterior) do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC Minas, bem como aos colegas professores e funcionários (especialmente Marcelo e Diego) pela parceria de trabalho cotidiano e respeitoso; Aos colegas do Grupo de Pesquisa “Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais – PsiTraPP”, pela profícua aprendizagem promovida a todo encontro; À Mariana Teixeira (Diretora da Editora PUC Minas) e equipe de trabalho (revisores, diagramadores, bolsistas), pelo trabalho feito com cuidado e apreço; À Neyde Dantas e equipe da MAPA, pela coragem de promover o diálogo entre diferentes campos de investigação. Prof. Dr. José Newton Garcia de Araújo Coordenador do Grupo de Pesquisa “Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais – PsiTraPP” APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 P A R T E 1 PESQUISA E INTERVENÇÃO NO POAD/VALE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 C A P Í T U L O 1 ANÁLISE DA ATIVIDADE NO CONTEXTO DA MINERAÇÃO: PESQUISA E INTERVENÇÃO NA PERSPECTIVA DAS ABORDAGENS CLÍNICAS DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 CONTEXTO INSTITUCIONAL DA PESQUISA-INTERVENÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 AS ABORDAGENS CLÍNICAS DO TRABALHO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A LEITURA CRÍTICA E A TRANSFORMAÇÃO DA ENCOMENDA ORGANIZACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 RESULTADOS DO PROCESSO E DA DISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 C A P Í T U L O 2 SELEÇÃO DE PESSOAS NO CONTEXTO LABORAL: DO ABANDONO DO TRABALHO À ANÁLISE PSICOSSOCIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . 47 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 DAS PREOCUPAÇÕES COM O COMPORTAMENTO INDIVIDUAL À APLICAÇÃO DA PSICOLOGIA: O PAPEL DA TESTAGEM PSICOLÓGICA NA CONSOLIDAÇÃO DA PSICOLOGIA APLICADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 A SELEÇÃO PROFISSIONAL E A POLÊMICA EM TORNO DO USO DOS TESTES PSICOLÓGICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 UMA CRÍTICA DA PSICOLOGIA DO TRABALHO AOS PRESSUPOSTOS DA SELEÇÃO BASEADA NA TESTAGEM PSICOLÓGICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 DA ANÁLISE CRÍTICA ÀS TRILHAS ABERTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA COMO PROCESSO AMPLO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O CONTEXTO ORGANIZACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 SUMÁRIO C A P Í T U L O 3 QUALIDADE DE VIDA E FUNÇÃO FAMILIAR EM TRABALHADORES DO PROJETO OPERADOR DE ALTO DESEMPENHO (POAD) EM UMA MINERADORA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 DESCRIÇÃO DA COLETA DE DADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 QUALIDADE DE VIDA SF-36: ANÁLISE DESCRITIVA QUALITATIVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 C A P Í T U L O 4 DISCUSSÃO ACERCA DO TRABALHO E DO ESPAÇO PARA O TRABALHADOR NA ERGONOMIA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 DISCUSSÕES SOBRE OS TRABALHOS PUBLICADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 C A P Í T U L O 5 FATORES DE RISCOS PSICOSSOCIAIS DA ATIVIDADE DE TRABALHO DE TÉCNICOS EM MINA E GEOLOGIA EM UM SISTEMA DE EXPLORAÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 A MINERAÇÃO NO CONTEXTO DA PESQUISA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 O TRABALHO E SUA DIMENSÃO COLETIVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 FATORES DE RISCOS PSICOSSOCIAIS, DE SOFRIMENTO E DE ADOECIMENTO NO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 PERCURSO METODOLÓGICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 C A P Í T U L O 6 OPERADORES DE ALTO DESEMPENHO: USO DO MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE PESSOAS (MAPA) NO CONTEXTO DE EXTRAÇÃO DE MINÉRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156 AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170 C A P Í T U L O 7 O TRABALHO DE OPERADORES DE ALTO DESEMPENHO E OS FATORES DE RISCOS PSICOSSOCIAIS: INDICADORES DE PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO . . . . . 173 OS FATORES DE RISCO PSICOSSOCIAIS NO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 CONTEXTO ORGANIZACIONAL EM ANÁLISE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175 METODOLOGIA DA PESQUISA-INTERVENÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176 ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179 DISCUSSÃO DOS DADOS: ANÁLISE QUALITATIVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 P A R T E 2 ENSAIOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195 C A P Í T U L O 8 A CLÍNICADA ATIVIDADE E SUA CONTRIBUIÇÃO AO CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197 SAÚDE OCUPACIONAL E SAÚDE DO TRABALHADOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197 CLÍNICA DA ATIVIDADE: O TRABALHADOR EM DIÁLOGO COM SEU TRABALHO . . . . . . 201 TRABALHO E SAÚDE: O HIGIENISMO SE RENOVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208 C A P Í T U L O 9 SOBRE TRABALHO E DINÂMICA PSICOLÓGICA: PISTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 218 C A P Í T U L O 1 0 INTERAÇÕES DE MÃO DUPLA ENTRE A PSICOLOGIA DO TRABALHO E UMA PSICOLOGIA GERAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219 PREÂMBULO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219 CLOROQUINA COMO METÁFORA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 220 A ABORDAGEM CLÍNICA DO TRABALHO REFERENCIADA PELA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223 C A P Í T U L O 1 1 ENSAIO SOBRE O RETORNO DA EXPERIÊNCIA E SOBRE O SILÊNCIO ORGANIZACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 224 UM RETRATO DAS ORGANIZAÇÕES CONTEMPORÂNEAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 224 DESENVOLVER O RETORNO DE EXPERIÊNCIA PARA ROMPER COM O SILÊNCIO ORGANIZACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230 C A P Í T U L O 1 2 ASPECTOS DA PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232 O PRECARIADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239 P A R T E 3 FRAGMENTOS DO MUNDO DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241 C A P Í T U L O 1 3 A ARTE COMO TRABALHO: O GRAFFITI EM CENA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243 O GRAFFITI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 244 A FUNÇÃO PSICOLÓGICA DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251 ANÁLISE DE DADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269 C A P Í T U L O 1 4 IMPREGNADO PELA MORTE: O COVEIRO E O TRABALHO SUJO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273 RELATOS DOS COVEIROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 282 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 284 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285 C A P Í T U L O 1 5 MULHERES E O TRABALHO EM TEMPOS DE PANDEMIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289 RESULTADOS E DISCUSSÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 290 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 298 C A P Í T U L O 1 6 A POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA: PRECARIZAÇÃO E SAÚDE MENTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300 AS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA O TRABALHADOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 302 SUBJETIVIDADE E TRABALHO EM TEMPOS DE VULNERABILIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 304 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311 SOBRE OS AUTORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 315 ÍNDICE REMISSIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 321 10 11 APRESENTAÇÃO Esta obra visa apresentar o resultado dos primeiros dois anos de exis- tência do Grupo de Pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais (PSITRAPP), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC Minas (PPGPSI). O material textual enfatiza as ações desenvolvidas no Projeto de Pesquisa “Análise da Atividade no Programa de Operadores de Alto Desempenho (POAD)”, iniciado em 2018 a partir de um Acordo de Cooperação entre a Vale S.A. e a PUC Minas1. Esta obra abrange simultanea- mente reflexões que versam, de modo amplo, sobre Psicologia e Trabalho na contemporaneidade. A compreensão crítica que mantemos sobre o mundo do trabalho, as condições em que ele se realiza e, principalmente, os fins aos quais seus pro- dutos se destinam sinalizam nossa busca para transformar a realidade tão desigual e injusta em que estamos inseridos. Acreditamos que a produção e a divulgação do conhecimento científico, especialmente as Abordagens Clínicas do Trabalho, presentes nesta obra, possam contribuir para ajudar a resgatar a dimensão emancipatória e criativa da atividade humana. A obra está organizada em três partes, cada qual concentrando diferentes grupos de texto. A PARTE 1 reúne a produção científica resultante de pesqui- sas derivadas diretamente do Projeto “Análise da Atividade no Programa de Operadores de Alto Desempenho”. A PARTE 2 reúne ensaios de pesquisadores convidados, com reconhecida trajetória nacional e internacional no campo da Psicologia do Trabalho, e que contribuíram, de forma mais direta, com os trabalhos do PSITRAPP nos últimos anos. A PARTE 3 reúne artigos de pesquisadores vinculados ao PPGPSI/PUC Minas que apresentam discussões 1 Ver: Programa de Operadores de Alto Desempenho (POAD). 18/06/2019. Trabalho e Psi- cologia. Disponível em: https://trabalhoepsicologia.com.br/2019/06/18/programa-de-ope- radores-de-alto-desempenho/ 12 pertinentes ao mundo do trabalho e que, de alguma forma, produzem interface com nossas reflexões. Esperamos que esta obra: contribua para o aprofundamento das discussões sobre as intercessões do campo Psicologia do Trabalho e das Organizações, numa perspectiva crítica; evidencie as possibilidades de produção coletiva no campo, privilegiando o diálogo atento, respeitoso e ético; potencialize as inves- tigações realizadas pelos professores da área; visibilize e abra diálogos – acerca dos estudos desenvolvidos por pesquisadores do PSITRAPP e do PPGPsi/PUC Minas – com outros pesquisadores e demais interessados. 13 PREFÁCIO1 Pedro F. Bendassolli O livro que o leitor tem em mãos coloca, de imediato, uma reflexão sobre um possível contraditório: em alguns capítulos da Parte I, cujos trabalhos relatam uma intervenção em uma mineradora, vemos dois termos colocados juntos: análise da atividade, de um lado, e alto desempenho, de outro. Nor- malmente, este último termo remete a um conjunto específico de produções, em geral na fronteira entre ciência (gerencial) e gestão aplicada, se propondo a quantificar a ação humana no trabalho e a avaliá-la como “alta” ou “baixa”, em termos de desempenho, com os consequentes impactos sobre os resul- tados do trabalho. Pode-se encontrar por aí muitas obras com títulos como “equipes de alta performance”, “empresa de alta performance”, “profissionais de alta performance”, e por aí afora. Por outro lado, “análise da atividade” de trabalho, em um universo mui- to restrito no qual psicólogos do trabalho normalmente circulam e sobre o qual escrevem, faz menção a um conjunto de intervenções cujo propósito é contribuir para o desenvolvimento dessa atividade, visando aspectos como o alcance de um trabalho bem-feito, a saúde e o bem-estar dos trabalhadores. Dificilmente se usa, de modo corriqueiro, atividade juntamente com alta performance. Essas palavras demarcam posicionamentos, posturas, premissas acerca do propósito da análise da atividade. Porém, desempenho, independentemente se ocorre associado a “alto” ou “baixo” desempenho, refere-se ao conjunto de ações que um trabalhador consegue mobilizar para a realização de sua tarefa. É o fazer propriamente dito. Quando esse fazer é avaliado com base em algum parâmetro ou crité- rio, então estamos diante do resultado daquele fazer. É por isso que o termo 1 Professor de psicologia do trabalho na UFRN. Site pessoal: www.pedrobendassolli.com 14 desempenho possui tanto uma conotação descritiva (o que foi de fato feito) quanto uma prescritiva e valorativa. Ademais, o desempenho, assim definido, refere-se às pessoas individualmente, mas também a elas como coletivo, e ao fazer coletivo, que depende de articulação, interdependência e conexão a um gênero ou cultura profissional. O desempenho, como uma métrica, é utilizado amplamente pelas empre- sas. Para muitas, é só isso que, no fundo, parece interessar: o que é feito, e se isso que é feito corresponde ao que era esperado, baseado em critérios, valores e objetivos estabelecidos pela gestão e pelas forças de mercado que atuam na definição das metas da empresa. O trabalhador é visto meramente como uma unidade capaz de “performar” o máximo possível – sendo dispensável se reite- radamente “fracassar” diante do estabelecido. Nessa direção, sabemos os custos que um sistema de alto desempenho pode ter sobre a saúde das pessoas. Há algumas décadas se falava muito sobre isso, alguns autores da psicossociologia cunhando o termo “patologias da excelência” (AUBERT e GAULEJAC, 1991), referindo-se aos imensos custos que um sistema apenas focado em desempenho e performance pode ter no âmbito individual, mas também no societário. Outros denominaram o fenômeno de “culto da performance” (EHRENBERG, 1995), quando as narrativas culturais de sociedades inteiras se pautam pela busca de superação, de estabelecimento de metas cada vez mais exigentes. Se a atividade, e a intenção dos que atuam sobre ela, como psicólogos do trabalho, é vista na sua faceta de tarefa, série de ações a serem cumpridas, de modo mais ou menos prescrito, para a materialização do desempenho e, neste, do resultado esperado, então caímos na antiga controvérsia de que fins visam nossa atuação. Eis que, nessa controvérsia, as perspectivas mais compreensivas e qualitativas, como o são as clínicas do trabalho, acabam ficando à margem das grandes corporações, nas quais a lógica gerencial tem muito claro o foco na performance, na excelência. Compreender o trabalho para transformá-lo, se dizia na ergonomia. Mais tarde, outros psicólogos sugerem um tipo de inversão: primeiro fazer, depois compreender, por assim dizer: transformar e então compreender (CLOT, 2008). Em outras palavras: a clínica do trabalho seria uma clínica voltada a demandas práticas trazidas pelos coletivos de trabalho – e, por que não, demandas girando em torno da questão do desempenho, das falhas, das insu- ficiências, das distâncias por vezes aparentemente impossíveis de se transpor entre o prescrito e o realizado. E uma clínica da potência do fazer, do ser e do viver. Nesse sentido, fica-se então com um questionamento sobre o porquê 15 de tais clínicas, ou abordagens afiliadas, não possuírem grande capilaridade nas empresas ou corporações tradicionais. Problemas de desempenho não seriam, legitimamente, problemas para uma tal psicologia? Os relatos contidos neste livro nos convidam a importantes reflexões sobre o lugar das clínicas do trabalho no contexto das organizações tradicionais. Destaco alguns motivos para isso. Primeiro, porque se propôs a fazer uma intervenção, nos moldes e formatos de consultoria em uma imensa organiza- ção do ramo da mineração, a Vale; segundo, porque, em princípio – e isso se depreende pela leitura dos capítulos que compõem os relatosda experiência, especialmente na Parte I de Psicologia, trabalho e processos psicossociais: pes- quisas e intervenções –, seus autores já estavam cientes das tensões e dilemas que sua própria presença naquele contexto corporativo poderia provocar, e a elas se dedicaram, como coletivo, a refletir; terceiro, porque, no conjunto da intervenção realizada na Vale, se nota uma preocupação com muitos aspectos clínicos envolvidos tanto na realização da atividade no âmbito ideológico gerencial voltado à alta performance, quanto no que concerne aos aspectos envolvidos na interação entre homem e máquina. Trata-se, portanto, de um testemunho de que não apenas é possível a realização de uma clínica do trabalho em corporações tradicionais, como tam- bém desejável. Primeiro, porque o real do trabalho está presente em qualquer contexto laborativo. Na Vale, uma faceta desse real refere-se à própria natureza, ao processo de extração de pedras. É em torno do real do trabalho que conhe- cimentos são mobilizados, tecnologias são desenvolvidas, conhecimentos são produzidos. Segundo, porque poderíamos pensar, como um substituto para performance, o conceito de trabalho bem-feito: a busca, pelos trabalhadores, de uma maestria no seu confronto com a natureza, pelo trabalho. Realizar o trabalho no tempo mais racional, com o menor desperdício de recursos, com a tecnologia mais adaptada às tarefas etc., não é, necessariamente, sinônimo de exploração ou de imposição de pressões gerenciais. Pode ser isso, claro; mas também pode ser o reflexo da busca por um trabalho bem-feito. O psicólogo do trabalho tem ao menos dois caminhos a seguir quando atua em uma organização. No primeiro, ele opta por aplicar conhecimentos técnicos aprendidos previamente, ou então seguir a lógica da própria em- presa, com suas narrativas e modelos de atuação orientados pela linguagem gerencial. No segundo, ele assume para si a tarefa de coanalista do trabalho do outro. Nesse papel, ele não tem os conhecimentos prévios já prontos, nem se coloca no lugar de quem vai ensinar o trabalhador a como fazer seu trabalho. 16 Seu compromisso é com a realização de um trabalho bem-feito, com a saúde dos ofícios e dos próprios trabalhadores. Seu foco é em aumentar o poder de agir desses trabalhadores. No caminho, os frutos dessa ação, por certo, serão apropriados pela empresa. Mas, ao mesmo tempo, serão apropriados pelos trabalhadores também. O psicólogo, nesse segundo caminho, tem diante de si o real do trabalho, de um lado, e as ferramentas de mediação para lidar com esse real, de outro. E tais ferramentas podem estar à mão, como também precisam ser inventadas. Na experiência de intervenção na Vale, aqui relatada, estamos na direção do segundo caminho. Por esse motivo, temos muito a aprender com as intervenções propostas, seus resultados, e seus muitos questionamentos. REFERÊNCIAS AUBERT, N.; GAULEJAC, V. Le coût de l’excellence. Paris: Éditions du Seuil, 1991. EHRENBERG, A. Le culte de la performance. Paris: Calman-Lévy, 1995. CLOT, Y. Travail et pouvoir d’agir. Paris: PUF, 2008. P A R T E 1 PESQUISA E INTERVENÇÃO NO POAD/VALE 18 19 C A P Í T U L O 1 ANÁLISE DA ATIVIDADE NO CONTEXTO DA MINERAÇÃO: PESQUISA E INTERVENÇÃO NA PERSPECTIVA DAS ABORDAGENS CLÍNICAS DO TRABALHO José Newton Garcia de Araújo João César de Freitas Fonseca Carlos Eduardo Carrusca Vieira Rodrigo Padrini Monteiro INTRODUÇÃO Neste estudo, discutimos os resultados preliminares de uma pesqui- sa-intervenção realizada em uma mineradora situada na região norte do Brasil, em uma das principais reservas minerais do mundo1. Com o objetivo de maximizar o nível de produtividade de seu complexo mineral, a empresa em questão implantou ali um novo sistema, denominado truckless. Com esse sistema, elimina-se o uso de caminhões, os quais passam a ser substituídos por correias transportadoras de longa distância, que levam o material extraído até a usina que realiza seu tratamento. Em seguida, o produto final segue, de trem, para os terminais marítimos, a fim de ser exportado para outros países. Este complexo sistema de produção é marcado pela automatização, o que implica uma redução expressiva de postos de trabalho. Uma das poucas funções não automatizadas é a dos Operadores de Escavadoras a Cabo, cuja atribuição consiste em extrair o minério de ferro. Com o objetivo de ampliar a produtividade, a empresa criou o “Programa de Operadores de Alto Desempe- nho”, que visa desenvolver as competências e habilidades destes profissionais, 1 A pesquisa intervenção teve origem em um acordo firmado entre a PUC Minas e a Vale S.A., no fim de 2017, com o objetivo de estudar os fatores psicossociais presentes no desempenho de Operadores de Escavadeira a Cabo em um sistema de exploração de minério de ferro no estado do Pará. 20 em suas múltiplas dimensões (física, psicológica, cognitiva e técnica), bem como a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Convém lembrar que a expressão “alta performance” é normalmente aplicada aos atletas profissionais que devem atingir ou ultrapassar seus limi- tes no âmbito de grandes competições esportivas, nacionais e internacionais (SAMULSKI, 2009). No vocabulário da gestão neoliberal, a expressão “atleta corporativo” é usada no sentido instrumental: trata-se de extrair do trabalha- dor-atleta seu rendimento máximo. Neste sentido, Ehrenberg (2010) refere-se ao culto da performance no âmbito organizacional, associando-o a um “esporte fora do esporte”. Aliás, não é difícil encontrar, na prática gerencial, discursos relativos a um “tornar-se atleta”, algo típico da sociedade contemporânea “doente do tempo”, na qual predomina o “culto da urgência” (AUBERT e GAULEJAC, 1991; AUBERT, 2003; GAULEJAC, 2005). Com o objetivo de sustentar cientificamente esse projeto, a organização esta- beleceu acordos de cooperação técnica com pesquisadores de diferentes univer- sidades e áreas do conhecimento (psicologia, medicina, estatística, neurociência, ciências da computação, entre outras). Os pesquisadores convidados compuseram quatro Núcleos de Ação: 1) Núcleo Cognitivo (formado por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Instituto Tecnológico Vale – ITV); 2) Núcleo Clínico-Físico (Universidade Federal de Ouro Preto); 3) Núcleo Técnico (formado por profissionais da própria empresa contratante); 4) Núcleo Psicossocial (PUC Minas). O presente texto se refere às ações deste último núcleo. Nos contatos preliminares com a empresa, determinados critérios prévios foram negociados, visando uma melhor definição do trabalho: a) tratava-se de uma pesquisa aplicada: o projeto deveria ter uma dimensão empírica, por não visar à pura investigação teórica; b) deveria ter um caráter interdisciplinar, de diálogo entre as diferentes áreas de conhecimento ligadas aos Núcleos de Ação mencionados acima; c) a pesquisa seria essencialmente focada nos aspectos psicossociais que afetam a performance das escavadoras a cabo, performance esta considerada, inicialmente, como cerne da investigação. Estes critérios remetiam à “encomenda da organização”, vinculada prioritaria- mente a uma expectativa de promoção do rendimento máximo dos Operadores. Este objetivo, no entanto, confrontava desde o início nossa perspectiva de trabalho, crítica e clínica, fundamentada nas Abordagens Clínicas do Trabalho (CLOT, 2007, 2010, 2010a; SCHWARTZ, 2000, 2011; LHUILIER, 2014; GAULEJAC, 2007). Tivemos, assim, que enfrentar a seguinte questão: seria possível fazer a pesquisa e a intervenção na ótica das Abordagens Clínicas do Trabalho, 21 em uma organização cujo principal objetivo é garantir o aumento da pro- dutividade? E fazê-lo levando em conta a dimensão coletiva do trabalho, a variabilidade associada às situações reais de trabalho, os valores, os saberes e as experiências dos trabalhadores? Em outros termos, perguntávamo-nos se a encomenda nos imporia uma intervenção nos moldes preestabelecidos pela empresaou se ela comportaria outras alternativas, que nos permitiriam, e aos trabalhadores, agir sobre as formas de organização e de gestão do trabalho, bem como sobre as suas condições de saúde e a segurança. Apostamos na possibilidade de que, no decorrer da intervenção, outras leituras de trabalho pudessem ser construídas pelos gestores, para além do projeto inicial da organização, de aumento da produtividade. O projeto que apresentamos à empresa, privilegiando a dimensão coletiva da atividade de trabalho, bem como a participação ativa dos trabalhadores, foi aceito, para a nossa surpresa. No entanto, a proposta precisou ser remodela- da diversas vezes, ao longo da intervenção, de modo a atender às demandas emergentes, tanto dos trabalhadores como da própria organização, como mostraremos adiante. Com efeito, nos encontrávamos diante de interesses diversificados e, com frequência, antagônicos: os da empresa, dos gestores, dos trabalhadores e dos pesquisadores. Assim, nossa participação implicava riscos, como o uso meramente instrumental do conhecimento científico, a serviço dos interesses da empresa. Pensávamos, no entanto, que esses riscos poderiam gerar oportunidades de mudanças, ainda que limitadas ou não planejadas, no sentido atribuído pela psicossociologia (RHÉAUME, 2002). A seguir, vamos expor e discutir os resultados preliminares da investiga- ção. Na primeira parte, apresentaremos o contexto institucional da pesquisa- -intervenção realizada, as referências teóricas e a abordagem metodológica adotadas. Avaliaremos depois os resultados obtidos até o primeiro semestre de 2021, indicando as contribuições e o que estará em jogo no futuro, assim como os limites de nossa pesquisa no âmbito das Abordagens Clínicas do Trabalho. CONTEXTO INSTITUCIONAL DA PESQUISA-INTERVENÇÃO A organização na qual a pesquisa-intervenção ocorreu foi criada pelo Governo Federal brasileiro na primeira metade do século XX, para ser mais exato em 19422, a fim de operar no campo da mineração. Durante o período da 2 Companhia Vale do Rio Doce S/A, disponível em: http://www.vale.com/Documents/nossahis- toria2.pdf. 22 ditadura militar do Brasil (1964-1985), seu crescimento se deu em um ritmo acelerado, levando ao aumento da exportação de sua produção. Em 1997, durante o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, a mineradora Vale do Rio Doce foi privatizada no âmbito de um processo marcado por contestações (ADÃO, 2006) a respeito da concessão da explo- ração para o capital privado, inclusive pelo fato de que o enorme valor das reservas de ferro no País não foi considerado, quando passou para as mãos da iniciativa privada. Uma vez concluída a privatização, a concessão custou para a empresa um preço ínfimo e deu a ela extraordinários ganhos de capital (OLIVEIRA, LUSTOSA e SALES, 2007). Em 2016, a Vale inaugurou 3uma unidade de produção no sudeste do Estado do Pará, no norte do Brasil, anunciando que instalaria ali o maior projeto de mineração do mundo. Uma de suas novidades tecnológicas foi justamente a substituição dos caminhões por correias de transportadoras, reduzindo em cerca de 70% o consumo de diesel no processo de extração e de transporte do minério. Deste fato deriva o nome do sistema: truckless. No sistema tradicional, o material é extraído da terra e colocado em caminhões que o transportam para um britador. No sistema truckless, o minério extraído pela escavadeira a cabo é jogado diretamente em um britador móvel, que fica ao lado da escavadeira, e, em seguida, é mandado para a usina, em esteiras de transporte de longa distância (PINHEIRO, OLIVEIRA e MESQUITA, 2016, PALMEIRA, 2013; MESQUITA et al., 2011). A escavadeira a cabo é uma máquina sofisticada de extração de minério, produzida por encomenda para esse projeto e manobrada por Operadores especialmente treinados para a execução. É justamente para estes operado- res, considerados “de alta performance”, que a empresa criou um programa específico de acompanhamento, gestão e treinamento, convocando para isso os grupos de ação. Cabia a nosso Núcleo Psicossocial, neste modelo, estudar as variáveis psicossociais relativas à performance dos operadores. Entendíamos que a implantação de um projeto de desenvolvimento de alta performance dos operadores, ao fazer com que trabalhassem em ritmo intenso e acelerado, só fazia repetir e sofisticar os princípios clássicos do taylo- rismo, no sentido em que segmentava a execução e o planejamento das tarefas, objetivando maior controle sobre os tempos e movimentos. A diferença era 3 Localizado no município de Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará, o S11D é o maior com- plexo minerador da história da Vale. 23 a adoção de uma versão contemporânea dos trabalhadores, comparando-os a atletas de alta performance, o que lhes exigia ultrapassar constantemente seus limites individuais. A unidade de produção mineral, aqui analisada, apresenta caracterís- ticas específicas que convém detalhar, para compreendermos seu contexto organizacional, a saber: • trata-se de um dos maiores greenfields (planta sem nenhuma estrutura física anterior) da história da mineração; • em sua implantação e construção (mina, usina, estrada de ferro e porto), cerca de 40.000 empregos foram criados na região, e os trabalhadores, em sua maioria, eram dos Estados do Pará e do Maranhão; • o momento mais intenso do trabalho, no sentido de criação de postos ocupacionais, ocorreu em dezembro de 2016, quando a unidade S11D começou a operar. Meses depois, um “Plano de desmobilização” foi executado pela empresa e pelos agentes públicos, como a prefeitura local, para mandar os trabalhadores de volta para suas cidades de ori- gem. Isso levou ao despovoamento de Canaã dos Carajás, construída artificialmente em volta do novo sistema de mineração, com graves problemas sociais, econômicos e ecológicos nas áreas do comércio, da educação, da saúde e do lazer; • a empresa tem cerca de 70.000 funcionários, mundo afora. Seu objetivo para a unidade de produção em questão é de funcionar com cerca de 2.000 funcionários, entre os quais o grupo de Operadores de escavadeiras a cabo, com trinta e seis indivíduos, que recebem um salário mensal que varia de R$ 1.500,00 a R$ 3.800,00, ou seja, trata-se de um salário bem precário para um operador comparado a um atleta de alto rendimento; • todos os operadores são do sexo masculino, têm entre 25 e 51 anos de idade, a maioria é casada (54%) e seu tempo de serviço na empresa va- ria de 2 a 14 anos (muitos deles trabalhavam anteriormente em outras unidades da empresa); • a empresa pretende produzir anualmente 90 milhões de toneladas nessa unidade, aproveitando o alto teor de ferro (66,7%) do minério extraído e a facilidade da mineração de superfície, dita “a céu aberto”4. 4 Conforme informações obtidas em documentos disponibilizados pela instituição e em nossa interação no campo de pesquisa. 24 AS ABORDAGENS CLÍNICAS DO TRABALHO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A LEITURA CRÍTICA E A TRANSFORMAÇÃO DA ENCOMENDA ORGANIZACIONAL O projeto de pesquisa-intervenção que apresentamos para a empresa fundamentava-se, em sua formulação original, essencialmente nas Abordagens Clínicas do Trabalho, lançando mão, especialmente, da Clínica da Atividade, da Ergologia e da Psicossociologia do Trabalho5. Com o objetivo de estudar e intervir no âmbito das vivências de mal-estar e de sofrimento no trabalho, tais abordagens adotam uma visão crítica e com- preensiva das relações entre trabalho, poder, organização, subjetividade e saúde (BENDASSOLI e SOBOLL, 2011; LIMA, 2011). Para tanto, lançam mão, dentre outros elementos teóricos, de saberes indispensáveis, produzidos pela Ergono- mia da Atividade, tal como o reconhecimento da distância inelutável entre o trabalho prescrito e o trabalho real, assim como as variabilidades presentes nas situações reais de trabalho e a gestão dessas variabilidades pelos trabalhadores. É certo que tais abordagens apresentam uma diversidadeepistemológica, metodológica e teórica, mas notamos que elas “tentam sempre decifrar a maneira pela qual a subjetividade e a atividade se articulam” (LIMA, 2011, p. 228). Na qualidade de clínicas e herdeiras da psicologia do trabalho de língua francesa, essas abordagens têm um projeto de cientificidade distinto dos paradigmas positivistas (focados na previsão e no controle), voltando-se para um estudo compreensivo dos fenômenos num confronto dialógico com a realidade (BENDASSOLI e SOBOLL, 2011). Para estes autores, o quadro compreensão versus controle está presente na psicologia científica, define as metodologias (qualitativas ou quantitativas) e os usos que fazemos dos elementos teóricos e dos instrumentos. Em determinados casos, a escolha de um desses campos pode até mesmo definir a postura ética e política assumida pelo pesquisador. Todavia, os princípios positivistas de generalização, justificação, neutrali- dade e universalidade das leis e dos modelos encontram limites no desenvol- vimento das ciências humanas e sociais. No fim das contas, para as ciências humanas, “explicar a ação equivale a elucidar seu sentido, o que requer uma ati- vidade hermenêutica, interpretativa” (BENDASSOLI e GONDIM, 2014, p. 17), 5 As reformulações do projeto, com inclusão de outras perspectivas teórico-metodológicas, serão abordadas rapidamente nesse mesmo texto. Relatos mais detalhados sobre cada uma dessas modificações, que denominamos “Linhas de Ação dentro do Projeto”, podem ser encontrados nos demais capítulos deste livro. 25 na qual as teorias são constituídas e, ao mesmo tempo, constituintes da reali- dade social. Tal argumento postula que os dados empíricos não são somente algo à espera de desvelamento, mas também algo construído. Aqui, fica eli- minada a noção de pesquisa asséptica, através da qual seria possível entrar e sair do campo deixando intactos os pesquisadores e os sujeitos da pesquisa. Além disso, para Bendassoli e Gondim (2014), essa concepção requer que o conhecimento seja produzido através da interação entre os sujeitos pesquisa- dores e os sujeitos-objeto da pesquisa, marcando uma grande diferença com relação ao projeto de cientificidade positivista. Com base nisso, a noção de neutralidade é criticada e superada, dando lugar à premissa da implicação do pesquisador, como ator social, na prática de pesquisa. Neste trabalho, buscamos recuperar e reafirmar os princípios da centralidade do trabalho e das condições concretas de existência, para uma compreensão mais abrangente e aprofundada da realidade. É sob essa perspectiva crítica que as Abordagens Clínicas do Trabalho se encontram e nos guiam no âmbito das pesquisas e intervenções, junto a trabalhadores e instituições, bem como na construção do conhecimento científico. Vamos agora identificar determinados elementos teórico-metodológicos relativos às Abordagens Clínicas do Trabalho nas quais nos fundamentamos. Em primeiro lugar, citamos a Clínica da Atividade, disciplina formulada pelo professor e pesquisador francês Yves Clot (2007) e colaboradores, nos últimos quarenta anos. Influenciado principalmente pelo médico do trabalho Ivar Oddone, pela psicologia socio-histórica de Vygotsky, Leontiev e Luria, bem como pelo linguista Mikhail Bakhtin, Yves Clot constituiu uma disciplina que pretende ser um instrumento de transformação dos contextos de trabalho (LIMA, 2007) pela via da coanálise da atividade de trabalho (FONSECA et al., 2019; BATISTA e RABELO, 2013). Nela destacamos os conceitos de gê- nero profissional e de estilo. Entre o que é prescrito e a atividade individual do sujeito existe um trabalho de reorganização da atividade pelos coletivos profissionais, denominado gênero profissional ou gênero de atividade, o que constitui-se como uma espécie de prescrição informal partilhada pelos sujeitos que atuam em um dado meio profissional, situado transitoriamente na história e no tempo (CLOT e FAITA, 2016; CLOT, 2010). No contato com o gênero da atividade, o sujeito constrói seu estilo pessoal, uma forma de apropriação e, ao mesmo tempo, transformação do gênero. Nessa perspectiva, o gênero está em constante metamorfose, e oferece tanto restrições quanto recursos para os trabalhadores, sendo sempre retocado pelos estilos singulares. 26 Outro elemento teórico a ser considerado: a atividade individual está sempre vinculada a uma história construída coletivamente. Nessa perspectiva, “qualquer trabalho é uma atividade dirigida, ao mesmo tempo, pelo sujeito, pela tarefa e para os outros” (CLOT, 2010, p. 144). Por este motivo, ainda que o trabalhador esteja sozinho, “qualquer atividade profissional é considerada uma coatividade, uma contra-atividade, no sentido de que se trata sempre de uma resposta à atividade dos outros (SANTOS, 2006, p. 35). A atividade é, ao mesmo tempo, mediada e mediadora, no universo do trabalho dos ou- tros. A atividade de trabalho é, como indica Clot (2007), simultaneamente pessoal, interpessoal, transpessoal e impessoal. Ela é pessoal pela sempre presente singularidade do sujeito que está trabalhando. Ela é interpessoal por ser sempre dirigida aos outros. Ela é transpessoal porque não só é atravessada pela história coletiva do ofício, mas também mobiliza e atravessa essa mesma história. E é impessoal pela prescrição externa oriunda da organização do trabalho, do que é atribuído e deve ser feito. Assim, no que diz respeito aos aspectos teóricos e metodológicos da abordagem de Yves Clot, a atividade de trabalho supõe uma dimensão fundamentalmente coletiva. Observe-se que o enfraquecimento dos coletivos é recorrente nas situações de precarização das condições trabalho e, como destaca Clot (2010), a ausência, a falta ou a perda da dimensão simbólica e coletiva da ação individual dão origem à maior parte das experiências dolorosas no mundo do trabalho. Em segundo lugar, lançamos mão da Ergologia, cujo principal criador é o professor francês Yves Schwartz (2011). Essa disciplina pode ser considerada como “um método de investigação pluridisciplinar em função do fato de que a atividade humana é muito complexa para se entender e analisar a partir de uma disciplina única, qualquer que seja” (TRINQUET, 2010, p. 94). Essa postura leva em consideração os diversos saberes vinculados ao domínio da atividade humana, particularmente na atividade humana do trabalho, o que coloca em perspectiva o saber constituído (formal e acadêmico) e o saber investido (adquirido na experiência real do trabalho), na busca de uma terceira via, esta fundamentada no encontro desses dois saberes, construtora de novos conhe- cimentos e de transformações nas situações de trabalho (TRINQUET, 2010). Para Trinquet (2010, p. 107), “trabalhar nunca é simplesmente aplicar, mas sempre se adaptar às variabilidades organizacionais, materiais, ambientais e humanas, em tempo real”. Levando em consideração a imprevisibilidade das situações de trabalho e do vazio de normas que o trabalhador tem que responder na atividade realizada, Schwartz (2011) reforça a importância do 27 coletivo, uma vez que, tendo em vista as normas prévias, “o tratamento do vazio de normas sempre comporta, mais ou menos, uma gestão coletiva” (SCHWARTZ, 2011, p. 139). Em outros termos, a memória individual e co- letiva sempre presente na execução da atividade e dos gestos é o que garante que o trabalho seja executado. Sob essa ótica, não seria possível conceber a performance ou a produtividade como fruto ou atributo individual, justamente por ser algo produzido coletivamente. Para concluir, usamos a Psicossociologia, que, como indicam Amado e Enriquez (2014, p. 101), “não é baseada numa única ‘teoria social forte’, mas em várias delas”. Trata-se de uma abordagem que visa investigar as reciproci- dades entre o individual e o coletivo, o psíquico e o social, articulando diversas perspectivas e autores que contemplam, entre outras áreas, a sociologia fran- cesa (Marcel Mauss), a psicanálise freudianaou o interacionismo simbólico (George Mead), ramificando-se em vários grupos e escolas, de acordo com os países (BARUS-MICHEL, ENRIQUEZ e LEVY, 2005). No que diz respeito aos instrumentos, Mata-Machado (2010, p. 176) apresenta uma síntese: [...] coletâneas de informações sobre a história e a vida da orga- nização feitas através de entrevistas e discussões individuais e em grupo [...], inseridas nas relações mais importantes e apresentadas nas reuniões; a análise de documentos, a análise das pessoas no exercício de seus papéis, a observação [...], o relatório sistemático de informações nas assembleias e nas reuniões habituais de tra- balho, que dão oportunidade aos membros de conversarem [...], teorizações sobre a organização social referente às novas coletâneas de informação, às observações e às análises. Devemos observar a convergência desses instrumentos com as outras abordagens clínicas mencionadas acima. Além disso, a psicossociologia fornece as matrizes dos processos de intervenção que fundamentam este trabalho, por intermédio de noções essenciais à compreensão da atividade, tais como o sentido da demanda (BARUS-MICHEL, 2004) ou a noção de transformação (RHÉAUME, 2002), entre outros. Esse referencial teórico que nos permitiu progredir na condução da pes- quisa-intervenção, delimitando a distinção entre encomenda e demanda, um ponto fundamental na condução desse projeto. No que se refere à perspectiva sociológica, Amado e Lhuilier (2012), bem como Carreteiro e Barros (2014), 28 especificam que a “encomenda” é feita por quem ocupa as posições de poder, enquanto a “demanda” exige, em sua formulação, interrogações e questiona- mentos. A encomenda diz respeito ao serviço a ser feito, enquanto a demanda se refere a um processo de construção na interação. Sob a mesma perspectiva, Barus-Michel (2001) lembra que o questionamento da transformação esperada deve integrar a análise da demanda, o que pressupõe as seguintes questões: transformar para quê, através de quem e para quem? Na perspectiva da ergonomia da atividade, Guérin et al. (2001, p. 40) também destacam a necessidade de reformulação dos problemas inicialmente colocados a partir do “ponto de vista da atividade de trabalho”. A análise dos pedidos de uma organização, sob a perspectiva da atividade de trabalho, cons- titui-se, assim, como uma ação obrigatória, um pré-requisito do diagnóstico, e, ao mesmo tempo, um ponto de partida para a intervenção. Segundo Bendassoli (2015), a elucidação da demanda é um desafio para as Abordagens Clínicas do Trabalho. Ao fazer a distinção entre “demanda” e “encomenda”, o autor afirma que a demanda pode ser implícita ou explícita e consiste em um pedido mais ou menos formalizado que, quando feito ao psicólogo, supõe um trabalho de coanálise que exige a integração de todas as pessoas implicadas, inclusive dos gestores. Já a encomenda, por outro lado, diz respeito a uma demanda formulada, normalmente, por quem tem o maior poder na organização e que, geralmente, dá mostras de estar “mais interessado na recuperação da performance dos trabalhadores e na eficácia do trabalho do que nas questões do trabalho real” (BENDASSOLI, 2015, p. 168). Com base nas reflexões oriundas de tais abordagens do trabalho, ideali- zamos e propusemos uma pesquisa-intervenção que visava reforçar os cole- tivos profissionais e introduzir processos de transformação da realidade do trabalho, com o objetivo de evitar acidentes e processos que levam a doenças, bem como fazer do trabalho um produtor de saúde, uma atividade criativa e não uma simples adaptação ao meio e uma obediência cega às normas (CANGUILHEM, 2009). Sob esta perspectiva, interrogamos a encomenda inicial feita pela empresa. A seguir, descreveremos os princípios metodológicos e os instrumentos usados em nossa intervenção. METODOLOGIA A fim de atingir os objetivos deste estudo, nós consideramos como indis- sociáveis a pesquisa e a ação, caracterizando-as como uma pesquisa qualitativa 29 do tipo estudo de caso, examinando a realidade sob a perspectiva de sua especificidade e singularidade (THIOLLENT, 2008; SÉVIGNY, 2001). Em consonância com nosso referencial teórico, pensamos em ações que destacassem o ponto de vista dos trabalhadores (CLOT, 2008; SCHWARTZ, 2011; LHUILLIER, 2014; MATA-MACHADO, 2010), bem como a comuni- cação e os relatórios sistemáticos que dão aos participantes a oportunidade de trocar informações, apesar do risco de que a organização lhes imponha determinadas restrições relativas à nossa proposta. A pesquisa-intervenção associa-se aos processos de comunicação entre nossa equipe, os trabalhadores e os gestores, através do conjunto de ações que constituíram a intervenção. Em nossa opinião, no contexto de uma transformação organizacional, a finalidade maior estava próxima do que Mahy (2008) chamou de “processo de criação coletiva de sentido”. Privilegiamos o uso de dispositivos que convocam os próprios trabalhado- res a refletirem sobre suas práticas. Assim, o projeto de pesquisa-intervenção apresentado à empresa estava centrado na abordagem coletiva e não indivi- dual, usando métodos que incluíam não somente os Operadores – objetivo inicial da instituição –, mas também outros membros da equipe, os superiores hierárquicos imediatos e as famílias. Além disso, ao invés de adotar um paradigma fiscalizador, fomos guiados por uma abordagem compreensiva, uma vez que buscávamos “o aumento do poder de agir dos sujeitos, uma coprodução de conhecimento-ação vincula- da às situações reais e às vivências dos sujeitos” (BENDASSOLI e SOBOLL, 2011, p. 68). Nesse sentido, como já mencionamos, questionamos a encomenda da instituição, que só havia solicitado um estudo dos fatores psicossociais que afetavam diretamente a performance dos Operadores. Ora, nosso projeto era de desenvolver ações distintas do objetivo instrumental de modelar os Ope- radores e adaptá-los às exigências de uma maior produção. Precisávamos adotar, todavia, uma estratégia capaz de satisfazer uma parte da encomenda da instituição, para podermos desenvolver nosso pro- jeto. Apresentado ao final de 2017, o projeto foi sendo reformulado durante os meses seguintes, organizando-se, por fim, em quatro Linhas de Ação: 1) a avaliação psicológica, que acarretava a aplicação de testes individuais nos Ope- radores; 2) as ações junto às famílias dos Operadores; 3) a análise da atividade, considerada como sendo o eixo central da pesquisa-intervenção, em torno do coletivo de trabalho; 4) o desenvolvimento gerencial, a partir de uma demanda 30 dos superiores hierárquicos imediatos dos Operadores, que foi captada pelos pesquisadores posteriormente ao início das atividades. Essa ampliação do escopo original visava compreender, em profundidade, o trabalho na organização, propondo a triangulação de métodos e conside- rando que cada dispositivo usado contribuía para nosso propósito (FLICK, 2009). A seguir, vamos resumir o desenvolvimento de cada linha de ação, sem exaurir seus resultados. A avaliação psicológica (Linha de Ação 1) atendia à encomenda organizacional, já que dizia respeito às diferenças individuais entre os Opera- dores, e isso, para os gestores, poderia comprometer sua produtividade. Esta Linha de Ação reuniu os elementos e os pressupostos da área da avaliação psicológica, elaborando especialmente os conceitos de inserção ecológica e de validade preditiva (DE CHRISTO e ALCHIERI, 2010; PRATI et al., 2008). Na prática, essa atividade comportava dois momentos: a primeira etapa, realizada em março de 2018, usava os seguintes instrumentos (citados segundo a ordem de aplicação): Teste Palográfico; Bateria Psicológica para Avaliação da Atenção (BPA); Teste de Inteligência Geral – Não Verbal (TIG-NV) e Inven- tário Fatorial de personalidade (IFP). O conjunto das avaliações psicológicas foi aplicado em 32 (trinta e dois) dos 36 (trinta e seis) Operadores. A segunda etapa, realizada ao longo de todo o ano de 2019,com a aplicação do Teste de personalidade MAPA – Método de avaliação de pessoas (DUAR- TE, 2011), buscava enriquecer o processo anterior e incluiu 17 (dezessete) Operadores, sendo 11 (onze) da equipe do turno do dia e 6 (seis) da equipe do turno da noite. Além do teste, nós realizamos uma entrevista individual semiestruturada com cada participante. As ações junto às famílias dos Operadores (Linha de Ação 2) não existiam na encomenda original da organização. Nós as introduzimos depois de constatarmos sua necessidade, a partir das visitas de campo, inclusive nas formulações feitas pelos próprios Operadores. Com efeito, observamos que as relações familiares exerciam forte impacto na performance no trabalho (BARHAM e VANALLI, 2012; MIOTO, 2015; OIT, 2011). A intervenção junto às famílias foi estruturada em dois momentos. O primeiro, baseado em pressupostos da Análise Institucional e da Psicologia Social (OSÓRIO SILVA, 2016), realizou-se durante o ano de 2018, originan- do-se de um conflito entre os Operadores e a organização. Esta última havia prometido dar moradia aos funcionários e suas famílias, no seu recrutamento e seleção. No entanto, depois de quase dois anos de emprego, a promessa ainda 31 não havia sido cumprida para todos os Operadores, o que gerou enorme insatisfação. Então, realizamos dois encontros em grupo com as esposas dos Operadores, além de quatro visitas em domicílio, para conversas informais com quinze esposas, a fim de criar com elas um espaço de expressão e de partilha de experiências, bem como fortalecer o vínculo entre a equipe de pesquisa e as famílias dos Operadores. Paralelamente, aplicamos um questionário, respondido por 22 (vinte e dois) dos 36 (trinta e seis) Operadores, explorando variáveis como: con- dições de trabalho, relações interpessoais no trabalho e em família, relação trabalho-família, apoio psicossocial. Os resultados desse questionário in- dicavam a necessidade de um reforço dos laços entre colegas de trabalho (Operadores) e, em seguida, entre suas famílias, bem como a solicitação de um apoio da empresa para essa linha de ação. Para mais análises sobre essa fase, ver Mendes, Fonseca e Silva (2018), que discutiram alguns dos resultados então obtidos. Num segundo momento (em 2009), já privilegiando a Psicossociologia como referencial, realizamos oficinas visando reforçar os laços inter e intra- familiares, com a participação de nove famílias. Nesses ateliês, onde estavam presentes os Operadores, suas esposas e seus filhos, desenvolvemos a redação de um livro baseado na metodologia da “história de vida” e em métodos narrativos (NOGUEIRA, BARROS, ARAÚJO e PIMENTA, 2017). Esse livro foi intitulado “Livro da vida”, e os autores eram as próprias famílias. Usando escrita e desenho, cada família foi convidada a contar sua história, a partir de suas memórias e através dos eventos que julgavam mais significativos. Daí saíram nove livros autorais, cada um escrito por uma família diferente. Suas narrativas incluíam temas como a migração, a perda dos laços comunitários e a falta de reconhecimento social. Tremblay (2012) evoca, a esse respeito, o tema freudiano do romance familiar, retomado por Vincent de Gaulejac, Jacques Rhéaume e, particular- mente, por Catherine Montgomery, que se interessa pelo percurso migratório das famílias. Com efeito, a migração dentro do território brasileiro implica todas as famílias autoras dos “livros”, obrigadas a morar em diferentes cida- des, de acordo com os projetos da empresa mineradora. Os “livros” são a concretização das narrativas de vida e representam, segundo Mahy (2008), veículos individuais e sociais de comunicação ao mesmo tempo racionais e sensíveis. Esse trabalho permitiu liberar parcialmente as famílias do doloroso sentimento de invisibilidade social. Os ateliês tornaram possível, em seguida, 32 a constituição de um comitê de recepção das famílias, do qual falaremos na discussão dos resultados. A terceira Linha de Ação, voltada para a análise da atividade de trabalho dos Operadores, comportou os seguintes dispositivos: 12 (doze) entrevistas individuais semiestruturadas (FLICK, 2009); uma oficina de análise psicosso- cial do trabalho, elaborada pela equipe de pesquisa e inspirada pelo método dos grupos focais (KIND, 2004; OSÓRIO SILVA, 2014) e baseada na ideia da problematização (BERBEL, 1998); 7 (sete) instruções ao sósia6, método criado por Oddone (1986) e retomado pela clínica da atividade (CLOT, 2007); 12 (doze) autoconfrontações7 simples e 5 (cinco) cruzadas (CLOT, 2011, OSÓ- RIO-SILVA, 2014); e, para concluir, a observação dialogante (DUJARIER, 2016) nos locais de trabalho. Segundo Clot (2010), essa observação produz conhecimento não só para quem observa: ela também gera um diálogo interno na pessoa do observado, que passa então a ocupar o lugar de analista de sua própria atividade. Em outros termos, o observado sai do lugar de objeto da observação. Alguns dos resultados dessa Linha de Ação, ainda que de forma preliminar, também estão sendo publicados (FONSECA et al., 2019) inclusive em outros capítulos deste livro. No âmbito de uma quarta Linha de Ação, realizamos atividades de de- senvolvimento gerencial dedicadas aos chefes imediatos dos Operadores (ditos Técnicos) e a seus Supervisores imediatos. Executada no segundo semestre tanto de 2018 quanto de 2019, essa etapa do trabalho teve caráter explorató- rio e também se originou de uma demanda não prevista no projeto inicial. Essa ação incluiu 22 (vinte e dois) Técnicos de mina e de geologia, pela via da realização de: nove entrevistas individuais abertas (BONI e QUARESMA, 2005); duas oficinais de análise psicossocial do trabalho, elaboradas por nossa equipe de acordo com o modelo de grupos de encontro com as famílias; e a observação dialogante, nos locais de trabalho desses técnicos. Os resultados obtidos com essa Linha de Ação foram detalhados e discutidos em uma dis- sertação de mestrado (MENDES, 2020). Apresentaremos agora os aportes específicos da intervenção, destacando os impasses que encontramos e as estratégias adotadas para ultrapassá-los. 6 Trata-se de uma encenação em que o pesquisador toma o lugar do trabalhador e este deve lhe dizer, em detalhes, de que maneira realiza suas atividades durante todo seu período de trabalho. 7 Aqui, trata-se de um método que estabelece um diálogo entre o pesquisador e os trabalhadores a partir de uma sequência filmada de sua atividade. 33 RESULTADOS DO PROCESSO E DA DISCUSSÃO Lembramos que este texto foi elaborado antes da conclusão de nossa pesquisa-intervenção. Trata-se, portanto, dos resultados preliminares de um trabalho baseado numa perspectiva crítica e clínica no contexto de uma empresa privada multinacional, e que examina, inclusive, o processo ocorrido ao longo de toda a pesquisa. Vamos discutir nesta seção determinados elementos que chamaram a atenção, considerando o modus operandi da organização estudada. Nossas atividades começaram em janeiro de 2018, com várias visitas a campo e com o estabelecimento das vias de comunicação (inclusive a distân- cia), em intervalos variáveis, com o gerente local e o coletivo de trabalhadores. Notamos, desde o início, as dificuldades para desenvolver uma abordagem clínica da intervenção, no âmbito de uma gestão fortemente aderida a um discurso produtivista, marcada por relações hierárquicas verticalizadas e rígidas. No entanto, mantivemos o objetivo de ir além da encomenda inicial, buscando dar lugar a uma demanda oriunda do coletivo de trabalhadores, favorecendo a emergência da solidariedade entre eles. Não bastava, portanto, que nos limitássemos a identificar os fatores psi- cossociais relativos à performance dos Operadores com o objetivo de obter deles o rendimento máximo. Ao invés de aplicarmos medidas quantitativas e de fiscalização e ajustamento, baseamo-nos num paradigma compreensivo. Assim, a emergência das demandas ocorreu pela via da interação da equipe de pesquisacom o campo e com os trabalhadores. Uma vez implantadas todas as Linhas de Ação, intervenções de cunho político e gerencial se seguiram. Em diversas ocasiões, os gerentes do projeto nos apresentaram solicitações não previstas ou tomaram decisões contrárias à nossa proposta inicial. Por isso, tivemos que reagir com respostas precisas e rápidas, visando reafirmar o contrato firmado. Felizmente, tais impasses não impediram o desenvolvimento de nossos trabalhos. A prova disso é que a empresa confirmou a continuidade do projeto, por mais dois anos, antes mesmo de sua finalização, inicialmente prevista para abril de 2020. Dito isto, vamos agora discutir os resultados de cada Linha de Ação, a partir das quatro categorias de análise: a) a gestão que qualificamos de quan- tofrênica e as tentativas de captação da subjetividade dos trabalhadores; b) os riscos de enquadramento da pesquisa-intervenção com predominância quantitativa; c) o prescrito e o real da pesquisa; d) a comunicação enquanto elemento específico da intervenção. 34 Panorama geral No que se refere à avaliação psicológica (Linha de Ação 1), os resultados demonstram que, de maneira geral, o grupo de Operadores tinha caracterís- ticas intrapsíquicas compatíveis com uma execução satisfatória do trabalho, inclusive sob a dimensão das relações interpessoais. Isso nos levou a propor um relatório para cada Operador, com os resultados de sua própria cartografia psicológica. No entanto, a empresa não teve acesso a esses dados, apesar de ter expressado sua expectativa em relação a isso no início do trabalho. Essa Linha de Ação estava ligada mais diretamente, como dissemos, às demandas da gerência, ávida por informações a curto prazo, a fim de melhor selecionar e fiscalizar/controlar os Operadores, de acordo com a matriz posi- tivista da psicologia industrial clássica. Assim, reafirmamos nossa ética profis- sional relativa aos resultados, apresentando-os à empresa sob o formato de um retrato do grupo. Não cedemos à solicitação da Vale S.A. de fornecimento de resultados individuais e nominativos dos Operadores. Além disso, elaboramos recomendações gerais, destacando a importância tanto das ações de valorização da equipe quanto de um diálogo mais efetivo entre os trabalhadores, por um lado, e entre trabalhadores e gerentes, por outro. Observe-se que, para além das características individuais relativas à performance, precisávamos continuar a análise das condições da organização do trabalho. Afinal, elas condicionam a performance individual com repercussões diretas no desenvolvimento da atividade e, claro, no rendimento de cada trabalhador. Quanto às ações com as famílias (Linha de Ação 2), era evidente que os problemas vividos em família impactavam negativamente a relação com o trabalho. Os Operadores queixavam-se de problemas relativos à moradia e à incerteza da ajuda financeira para pagar as despesas dos filhos que estavam no ensino superior. Na escrita dos livros – anteriormente mencionados –, quan- do as esposas expuseram suas angústias falando de suas histórias familiares, elas evidenciaram questões até então negligenciadas pela empresa. Ora, este acesso à palavra e à escrita surtiu efeitos muito positivos, já que despertou nos gerentes o interesse em valorizar esses testemunhos, inclusive apoiando o lançamento dos livros em eventos institucionais. Outro resultado importante diz respeito ao fato de que a organização aceitou a implantação – ainda em fase de consolidação, no primeiro semestre de 2021 – do “Comitê de Acolhimento”, ou seja, de um grupo composto por membros das famílias dos Operadores e por pesquisadores, voltado para a 35 discussão e a realização de ações de interesse coletivo no local de trabalho e em outros espaços de socialização. No que se refere à análise da atividade (Linha de Ação 3) e ao desenvolvi- mento gerencial (Linha de Ação 4), destacamos que, curiosamente, a primeira apresentou resultados muito convergentes com a avaliação psicológica (Linha de Ação 1): o grupo de Operadores demonstrou ter uma compreensão crí- tica elevada de sua própria atividade, percebendo sua fraca participação na organização do trabalho. Outro dado positivo da intervenção diz respeito ao desenvolvimento ge- rencial (Linha de Ação 4) dos Técnicos, considerados os chefes imediatos dos Operadores. Num primeiro momento, os Técnicos haviam sido ignorados pela organização, mas foram progressivamente incorporados, graças à iniciativa de nossa equipe. A partir daí, sugerimos que o programa substituísse a palavra “Operadores” por “Equipes”, ganhando a denominação de “Programa de Equipes de Alta Performance”, de maneira a destacar a dimensão coletiva do trabalho. Do ponto de vista teórico, ficou claro que os Operadores e os Técnicos constituíam um grupo que estava recriando o gênero profissional em suas constantes interações, no âmbito do cotidiano do novo sistema truckless. Isso implicava não só a solução criativa dos problemas internos ligados à mineração em si, mas dinamizava o conjunto de representações da condição de funcio- nários da “grande empresa multinacional”, numa cidade criada artificialmente para produzir e exportar minério. Por outro lado, foi possível identificar, in loco, a influência da organização do trabalho de acordo com determinadas variantes, tais como: a divisão do trabalho em equipes diurnas e noturnas; o trabalho em dupla nas escavadeiras; os objetivos, normas e exigências de produção; as avaliações de performance, em que a gerência negligenciava as variabilidades e as imprevisibilidades do ambiente no processo de trabalho; as relações hierárquicas, marcadas pelas decisões unilaterais dos gerentes: tudo isso por causa da precariedade da participação dos trabalhadores. Essas questões foram mais detidamente discutidas por Fonseca et al. (2019). O resultado mais expressivo de nossa intervenção, a partir das ações da aná- lise da atividade (Linha de Ação 3) e do desenvolvimento gerencial (Linha de Ação 4), foi o acordo da gerência para a implantação de um “Comitê de Pilotagem” – fórum permanente formado por Operadores, Técnicos, gerentes e pesquisadores –, a fim de discutir e formular propostas de ação, a partir de demandas oriundas do cotidiano de trabalho (voltaremos a falar sobre isso a seguir). 36 Gestão “quantofrênica” e tentativas de captação da subjetividade dos trabalhadores No início desta pesquisa, um dado chamou nossa atenção: ao nos apre- sentar o sistema de mineração truckless, um dos gestores fazia a contabilidade das vantagens financeiras oriundas do ganho de nada mais que um segundo de cada vai e vem da escavadeira a cabo (movimento de pegar o minério de ferro e jogá-lo no britador). Essa exposição desvela a lógica de gestão da organização. O cálculo me- ticuloso e economicista adota uma premissa de “assepsia” do real que afasta as imprevisibilidades e as condições efetivas do trabalho. De acordo com essa obsessão da gestão pelos números e pelo cálculo matemático, ou seja, a quantofrenia, como a denomina Gaulejac (2007), os acidentes, os riscos, os acasos e as vicissitudes inerentes ao real da atividade não são levados em conta. Além disso, essa lógica negligencia os conflitos relativos às relações hierárquicas, às relações interpessoais, à baixa remuneração dos operários, suas expectativas frustradas e as condições de vida precárias8. Nesse sentido, o destaque que se dá à produção e ao retorno financeiro coloca em segundo plano as outras questões relativas à vida dos trabalhadores e de suas famílias. A quantofrenia ou a “doença da medida” está baseada, segundo Gaulejac (2007), na crença segundo a qual a objetividade consiste em traduzir a rea- lidade em termos matemáticos. Os “calculocratas”, escreve o autor, oferecem uma ilusão de domínio sobre o mundo e de certeza, face a uma realidade cheia de incertezas. A exposição matemática demonstrada pelo gestor, vista como certa e incontestável, repetiu-se diversas vezes,