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A Responsabilidade Civil em decorrência das Fake News Aluno: Leandro Stutzel INTRODUÇÃO As fake news têm sido um tema recorrente nos últimos anos, especialmente no contexto das redes sociais e da política. A disseminação de informações falsas pode ter graves consequências, como a manipulação da opinião pública e a desinformação. Nesse contexto, é importante discutir a responsabilidade civil em relação às fake news, ou seja, quem deve ser responsabilizado pelos danos causados pela disseminação de informações falsas. Este trabalho tem como objetivo analisar a responsabilidade civil da imprensa, provedores de internet, pessoas físicas e jurídicas em relação às fake news, incluindo uma análise de jurisprudência relevante sobre o tema. ● Conceito e características das fake news Fake news são informações falsas que são apresentadas como verdadeiras. Essas informações podem ser criadas deliberadamente ou serem resultado de erros de interpretação ou má compreensão. As fake news podem ser disseminadas através de diferentes meios, como redes sociais, sites de notícias falsas e aplicativos de mensagens. As principais características das fake news incluem a falta de veracidade, a intenção de enganar e a rápida disseminação. As fake news apresentam um impacto significativo na sociedade, na política e na economia. Por exemplo, a disseminação de informações falsas pode influenciar a opinião pública em relação a políticos e partidos, afetando a democracia. Além disso, as fake news podem ter um impacto econômico, como a queda no valor de ações de empresas que são alvo de informações falsas. ● Responsabilidade Civil A responsabilidade civil em relação às fake news pode ser objetiva ou subjetiva, dependendo do contexto e das circunstâncias envolvidas. A responsabilidade objetiva ocorre quando não é necessário comprovar a culpa ou dolo do responsável pelo dano causado. Nesse caso, basta que exista uma relação de causalidade entre a conduta e o dano causado. A responsabilidade objetiva pode ser aplicada em casos em que a atividade desenvolvida pelo responsável é considerada perigosa ou em situações em que há uma obrigação legal de reparar o dano causado. Por outro lado, a responsabilidade subjetiva ocorre quando é necessário comprovar a culpa ou o dolo do responsável pelo dano causado. Nesse caso, é necessário demonstrar que o responsável agiu com negligência, imprudência ou má-fé na conduta que causou o dano. ● Aplicação da responsabilidade civil em diferentes contextos legais. A responsabilidade civil é a obrigação de reparar um dano causado a outra pessoa. Para que haja responsabilidade civil, é necessário que existam quatro elementos: conduta, dano, nexo causal e culpa. A conduta é a ação ou omissão que causou o dano. O dano é o prejuízo sofrido pela vítima. O nexo causal é a relação de causa e efeito entre a conduta e o dano. A culpa é a responsabilidade pelo dano causado, que pode ser intencional ou negligente. ● Responsabilidade Civil em relação às fake news A responsabilidade civil em relação às fake news pode ser aplicada a diferentes esferas, incluindo a imprensa, provedores de internet, pessoas físicas e jurídicas: ● Responsabilidade civil da imprensa: A imprensa tem um papel importante na disseminação de informações falsas, especialmente em casos em que a notícia é veiculada sem a devida verificação. Nesses casos, a imprensa pode ser responsabilizada pelos danos causados pela disseminação da informação falsa. Responsabilidade civil subjetiva: Doutrinadores como Sérgio Cavalieri Filho e Nelson Nery Junior defendem que a imprensa só pode ser responsabilizada civilmente pelas fake news se houver comprovação de culpa. Eles argumentam que é necessário demonstrar negligência, imprudência ou imperícia por parte do veículo de comunicação na produção, veiculação ou divulgação das informações falsas. Segundo essa visão, a responsabilidade da imprensa seria analisada caso a caso, levando em consideração a conduta do veículo em relação às fake news específicas. Responsabilidade civil objetiva: Por outro lado, doutrinadores como Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho sustentam que a disseminação de fake news pela imprensa é uma atividade de risco, tornando a imprensa automaticamente responsável pelos danos causados, independentemente de culpa. De acordo com essa perspectiva, a responsabilidade seria objetiva, ou seja, bastaria a comprovação do dano e do nexo causal entre a divulgação da fake news e o prejuízo sofrido para que a imprensa fosse responsabilizada. ● Responsabilidade civil dos provedores de internet: No Brasil, os provedores de internet são responsáveis por garantir a disponibilidade do acesso à internet, mas não são, em regra geral, responsáveis pelo conteúdo gerado pelos usuários em suas plataformas. Essa isenção de responsabilidade é estabelecida pelo Marco Civil da Internet, que é a lei que regula o uso da internet no país. De acordo com o Marco Civil da Internet, os provedores de internet são considerados intermediários, e sua responsabilidade é limitada quando se trata do conteúdo gerado por terceiros. Eles não são obrigados a fiscalizar antecipadamente o conteúdo publicado por usuários em suas plataformas. A legislação que oferece proteção aos provedores de internet em relação a conteúdos gerados por terceiros é a Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, conhecida como Marco Civil da Internet. O dispositivo específico que trata dessa proteção é o artigo 19, que estabelece a chamada "responsabilidade dos provedores de conexão e de aplicações": Artigo 19 - Com o objetivo de assegurar a liberdade de expressão e evitar a censura, o provedor de conexão à Internet não será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros. Embora existam leis que protejam os provedores de internet da responsabilidade por conteúdo gerado por terceiros, há doutrinadores que defendem que os provedores de internet devem ter responsabilidade pelos conteúdos gerados por terceiros. Um dos doutrinadores conhecidos por essa posição é Cristiano Aguiar Lopes. Ele argumenta que os provedores de internet desempenham um papel ativo na disponibilização e organização dos conteúdos, exercendo um controle sobre as informações veiculadas em suas plataformas. Portanto, ele sustenta que os provedores devem ser responsabilizados objetivamente pelos danos causados pelos conteúdos gerados por terceiros. Por outro lado, existem doutrinadores que defendem o posicionamento oposto, argumentando que os provedores de internet não devem ser responsabilizados pelos conteúdos gerados por terceiros. Alguns desses doutrinadores incluem: Oksandro Gonçalves: O autor sustenta que os provedores de internet não devem ser responsabilizados pelos conteúdos gerados por terceiros, desde que sigam as determinações legais para remoção de conteúdo ilícito quando notificados. Juliana Abrusio: A doutrinadora defende que a responsabilidade dos provedores de internet deve ser limitada e não abranger a censura prévia, enfatizando a importância da liberdade de expressão e do respeito à neutralidade da rede. Alexandre Coutinho Pagliarini: O autor argumenta que os provedores de internet atuam como intermediários técnicos, sem controle editorial sobre os conteúdos gerados por terceiros, e, portanto, não devem ser responsabilizados por esses conteúdos. ● Responsabilidade civil das pessoas físicas e jurídicas: As pessoas físicas e jurídicas que compartilham ou produzem fake news também devem ser responsabilizadas pelos danos causados pela disseminação de informações falsas. Isso inclui, por exemplo, pessoas que compartilham notícias falsas nas redes sociais ou empresas que promovam produtos ou serviços com base em informações falsas. No caso das pessoas físicas, a responsabilidade costuma ser de natureza subjetiva. Isso significa que, para ser responsabilizada por disseminação de fake news, uma pessoa física precisa ter agido com culpa, negligência ou dolo, ou seja, intencionalmente divulgando informaçõesfalsas com o conhecimento de sua falsidade ou com imprudência em relação à sua veracidade. Já em relação às pessoas jurídicas, a responsabilidade pode ser tanto subjetiva quanto objetiva. A Lei das Eleições no Brasil, por exemplo, estabelece que as empresas provedoras de aplicativos e redes sociais são responsáveis civilmente pelos danos decorrentes de conteúdos gerados por terceiros em suas plataformas somente se, após ordem judicial específica, deixarem de tomar as providências para retirar esse conteúdo do ar. ● Jurisprudência relevante Ao final de cada jurisprudência, uma análise será feita com ênfase nas responsabilidades usadas em cada acórdão. CONSTITUCIONAL, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO E RECURSO ADESIVO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. MATÉRIA JORNALÍSTICA. VEICULAÇÃO DA IMAGEM DO AUTOR. FALSA IMPUTAÇÃO DE CRIME. OFENSA À HONRA. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. PROPORCIONALIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO. NÃO CABIMENTO. RECURSOS IMPROVIDOS. 1. Ação de conhecimento, em que se objetiva a condenação da empresa ré ao pagamento de R$150.000,00, a título de danos morais, oriundos de violação à honra pela veiculação de matéria jornalística. 1.1. O autor informa que, aos 12/01/17, o programa "Balanço Geral" veiculou sua foto de perfil no facebook, juntamente com a notícia de que ele estaria aliciando mulheres, na promessa de oferta de emprego em troca de sexo. Acrescenta que o apresentador proferiu diversos xingamentos, o que acabou por denegrir sua imagem. Aduz ter sido abordado por diversas pessoas acerca da reportagem transmitida, oportunidade em que sentiu bastante constrangimento e vergonha. Alega ter perdido clientes, tendo em vista que é representante comercial. Relata ter sido informado pelo próprio programa televisivo que uma pessoa, usando seu perfil do facebook, criou um perfil falso de whatsapp, com a finalidade de praticar os crimes noticiados na reportagem. 1.2. Sentença de procedência, para condenar a ré a pagar ao autor danos morais arbitrados em R$ 30.000,00. Honorários advocatícios fixados em 10% do valor condenatório. 2. Apelação da ré, em que busca o afastamento dos danos morais ou, subsidiariamente, a redução da indenização. 2.1. Recurso adesivo do autor, em que pugna pela majoração do quantum indenizatório para o valor pleiteado na inicial e pela majoração dos honorários advocatícios. 3. Danos morais. 3.1. A questão dos autos revela a necessidade de ponderação de dois direitos fundamentais em conflito, quais sejam, a liberdade de imprensa e a inviolabilidade da honra, previstos nos incisos IX e X do art. 5º da CF/88. 3.2. Os direitos fundamentais não possuem caráter absoluto, podendo sofrer mitigação caso estejam em confronto com outros direitos de mesma envergadura. Desse modo, quando surge uma colisão entre esses direitos, cabe ao magistrado ponderar os valores constitucionais envolvidos. 3.3. O direito à liberdade dos meios de comunicação, ao entrar em conflito com outros direitos fundamentais, mormente aqueles de caráter personalíssimo, deve ser relativizado. Isso porque a ordem jurídica, em atenção ao supra princípio da dignidade da pessoa humana, prevê como invioláveis os direitos à honra, à intimidade, à vida privada e à imagem. 3.4. Assim, a liberdade de informar, embora não deva ser tolhida, tem de ser exercida com responsabilidade, sem lesionar os direitos individuais dos cidadãos. 3.5. Embora a ré afirme que teria exercido o direito de informar dentro dos limites exigidos, a mídia e o termo circunstanciado anexados aos autos demonstram que a reportagem televisiva manifestou clara qualificação difamatória do autor, com o emprego de várias ofensas e xingamentos. 3.6. De fato, não houve citação do nome exato do requerente, porém veiculou sua foto, juntamente com uma acusação expressa de que ele seria o homem que estava oferecendo empregos em troca de favores sexuais. 3.7. Não procede a afirmação sobre a impossibilidade de reconhecer a pessoa retratada, ao argumento de que a foto era pequena e o indivíduo se encontrava de óculos escuros. Porquanto. Trata-se de imagem nítida e ampliada, sendo certo que as pessoas do meio social do autor poderiam facilmente identificá-lo. Esta constatação é corroborada pelas testemunhas ouvidas em sede policial, as quais afirmaram terem reconhecido o autor quando da transmissão da reportagem. 3.8. A matéria jornalística, à guisa de noticiar fato de interesse social, incorreu em imprecisão. Desprovida das cautelas necessárias, deu enfoque à pessoa do apelado sem saber ao certo ser ele o responsável pelo aliciamento noticiado, ofendendo desnecessariamente sua honra. 3.9. Se a parte ré houvesse procedido à apuração dos fatos com o cuidado recomendável, certamente teria, no mínimo, tentado contato prévio com a polícia, que já estava ciente do caso, visando obter informações mais precisas, e, com isso, possivelmente evitado a exposição danosa da imagem do autor. 3.10. Quanto à alegação de que oportunizou ao requerente, no dia seguinte à reportagem, uma entrevista para esclarecimentos, veja o que disse a eminente Magistrada: "O fato de a ré disponibilizar em seu programa tempo para que o autor esclarecesse os fatos que foram equivocadamente imputados não exonera sua responsabilidade por eventual violação da imagem, porquanto o ilícito já havia se exaurido". 3.11. Logo, a matéria é apta a infligir dano moral ao autor, porquanto ultrapassa a intenção de noticiar, ao divulgar informações que tratam de uma acusação capaz de denegrir a imagem do requerente. 3.12. Há, portanto, ato ilícito praticado pela ré, consubstanciado em abuso do direito à liberdade de expressão, sendo induvidoso o nexo causal existente entre a conduta e o resultado danoso, consistente na violação a direito de personalidade do apelado. 3.13. Evidenciada a ilicitude praticada, caracterizado está o dano moral in re ipsa, cuja configuração se presume da prova do próprio evento danoso. 4. Quantum indenizatório. 4.1. A indenização por danos morais tem um caráter punitivo-pedagógico, de forma que o autor da ofensa seja desestimulado a reiterar sua prática, além do caráter compensatório, que visa a reparação do dano sofrido pela vítima. 4.2. A fixação do quantum indenizatório possui natureza subjetiva e deve ser feita pelo magistrado de acordo com parâmetros de proporcionalidade e razoabilidade. 4.3. Na hipótese, a magistrada observou as características do caso para fundamentar o cabimento de danos morais na quantia de R$30.000,00. São elas: o constrangimento gerado à vítima ante a vinculação de sua imagem à desonra sexual; o fato de a vítima pertencer à classe média; a capacidade econômica da ré, emissora de TV, com atuação em âmbito nacional; extensão dos danos, reputados de natureza grave. 4.4. Acrescentam-se outras peculiaridades do caso concreto, em que se verifica certa leviandade na veiculação da reportagem, bem como seu alto potencial de alcance por ter sido veiculada em conhecido programa televisivo, o que torna razoável a indenização fixada na origem. 4.5. Logo, não se vislumbra desproporcionalidade do valor arbitrado mediante aplicação dos parâmetros pertinentes, revelando-se suficiente para compensar o prejuízo moral sofrido. 5. Honorários advocatícios. 5.1. Nos moldes do art. 85, §2º, CPC, os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa. 5.1 No caso dos autos, a verba honorária restou fixada exatamente dentro dos parâmetros legais, por isto mantida. 6. Apelação e recurso adesivo improvidos. (Acórdão 1198095, 00041374820178070005, Relator: JOÃO EGMONT, 2ª Turma Cível, data de julgamento: 28/8/2019, publicado no DJE: 6/9/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada.) ● Análise O acórdão trata de uma ação indenizatória decorrente da veiculação de uma matéria jornalística difamatória. A sentença foi proferida em razão da responsabilidade subjetiva, considerando a conduta da ré e a violaçãodos direitos de personalidade do autor. Foi reconhecido o dano moral e fixado o valor da indenização de forma proporcional e razoável. Os honorários advocatícios foram fixados dentro dos parâmetros legais. APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PRELIMINAR DE IRREGULARIDADE PROCESSUAL REJEITADA. MATÉRIAS JORNALÍSTICAS. INCLUSÃO DE PARLAMENTAR EM INQUÉRITO POLICIAL. SUPOSTA PRÁTICA DE CRIME PREVIDENCIÁRIO. NOTÍCIA FALSA (FAKE NEWS). AÇÃO DE DIREITO DE RESPOSTA E DE REPARAÇÃO DE DANOS. FACULDADE DO OFENDIDO. AUSENCIA DE RETRATAÇÃO OU DE ESCLARECIMENTOS SOBRE O EVENTO CONTROVERTIDO. ATO ILÍCITO PRATICADO. VIOLAÇÃO A IMAGEM E HONRA. DEVER DE INDENIZAR. SENTENÇA MANTIDA. 1. Afasta-se a preliminar de irregularidade na representação processual, pois o autor - Deputado Federal - encontra-se representado por procuradores com regular inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, atendendo o comando estampado no art. 103 do CPC. 1.1. Eventual abuso no uso desta prerrogativa parlamentar (art. 21 e seguintes do Regimento Interno da Câmara dos https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&controladorId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.ControladorBuscaAcordao&visaoAnterior=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&nomeDaPagina=resultado&comando=abrirDadosDoAcordao&enderecoDoServlet=sistj&historicoDePaginas=buscaLivre&quantidadeDeRegistros=20&baseSelecionada=BASE_ACORDAOS&numeroDaUltimaPagina=1&buscaIndexada=1&mostrarPaginaSelecaoTipoResultado=false&totalHits=1&internet=1&numeroDoDocumento=1198095 Deputados) deverá ser apurado pelas vias processuais próprias e não no contexto desta ação. 2. O caso dos autos reflete uma aparente colisão de direitos fundamentais, uma vez que tanto a liberdade de imprensa quanto os direitos da personalidade estão tutelados pela Constituição. Nessas situações, compete ao magistrado, por meio de um juízo adequado de ponderação, e casuisticamente, relativizar os valores em discussão visando albergar ambas as esferas protegidas. 3. Destaque-se a relevância ímpar dos princípios relacionados às liberdades de expressão, de imprensa e de comunicação na seara de uma nação democrática, onde prepondera a plena exposição de pensamento em detrimento da prévia censura, o qual, se extrapolado, acarretará na responsabilização civil, penal e/ou administrativa do agente causador do dano. 3.1. A publicação de conteúdo ofensivo à honra e à imagem de quem quer que seja, à toda evidência, não está amparada pelo direito constitucional à liberdade de informação, uma vez que a própria Constituição resguarda, como igualmente fundamentais, os direitos à honra, imagem e a vida privada. 3.2. A jurisprudência do STJ é no sentido de que "a atividade da imprensa deve pautar-se em três pilares, quais sejam: (i) dever de veracidade, (ii) dever de pertinência e (iii) dever geral de cuidado. Se esses deveres não forem observados e disso resultar ofensa a direito da personalidade da pessoa objeto da comunicação, surgirá para o ofendido o direito de ser reparado" (AgInt nos EDcl no AREsp n. 1.922.721/RJ, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe de 16/2/2022). 3.3. Tais bases mostram-se cada vez mais necessárias em um contexto global onde a incidência de fake news (notícias falsas) vem assumindo lamentável destaque, sendo demasiadamente imprescindível um compromisso de toda a sociedade - em especial de todos os veículos de comunicação - para combatê-las, já que, em situações extremas, a propagação de notícias falsas tem a aptidão de comprometer a própria democracia. 4. Compete a vítima da ofensa ou da informação falsa a faculdade de requerer ou não direito de resposta, não sendo esta conduta condicionante para o exercício de eventual ação de reparação de danos. Inteligência do art. 12, §1º, da Lei 13.188/2015. 5. No caso ora analisado, verificou-se que três das rés veicularam e mantiveram a disposição de seus leitores uma notícia falsa (fake news) referente a suposta participação do autor - Deputado Federal - em crimes previdenciários, quando já era de conhecimento público que o investigado no inquérito policial noticiado era apenas um homônimo já falecido. 5.1. Ao deixar de informar devidamente os seus leitores sobre as circunstâncias do fato noticiado, as empresas em questão praticaram ato ilícito, ensejando o direito do autor de ser reparado pelos danos suportados. 5. A publicação de notícia com conteúdo calunioso ao autor - imputando-lhe a suposta prática de crimes previdenciários -, tem a aptidão de macular a sua imagem, em especial por se tratar de homem público, o qual está no exercício de mandato parlamentar, prejudicando a sua reputação junto ao seu eleitorado. 5.1. O quantum arbitrado atende aos critérios da proporcionalidade, cumprindo a sua finalidade de, a um só tempo, reparar os danos causados e inibir a prática de atos futuros semelhantes. 6. Recursos de apelação conhecidos, mas desprovidos. (Acórdão 1667190, 07053497020208070001, Relator: GISLENE PINHEIRO, 7ª Turma Cível, data de julgamento: 1/3/2023, publicado no DJE: 9/3/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada.) ● Análise A decisão proferida na apelação foi em torno da responsabilidade subjetiva. A sentença confirma a condenação das rés por terem veiculado uma notícia falsa (fake news) que prejudicou a imagem e a honra do autor, um Deputado Federal. A decisão destaca a violação dos direitos à honra, imagem e vida privada, e ressalta a importância dos deveres da imprensa, como o dever de veracidade, pertinência e cuidado. A publicação da notícia caluniosa é considerada um ato ilícito, e a indenização é determinada com o objetivo de reparar os danos e desencorajar práticas semelhantes no futuro. A responsabilidade subjetiva implica na avaliação da conduta e culpa dos agentes causadores do dano. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. PARTIDO POLÍTICO. PUBLICAÇÃO DE VÍDEO EM SÍTIOS ELETRÔNICOS SUSPOSTAMENTE OFENSIVOS À HONRA E IMAGEM. RETIRADA. TUTELA DE URGÊNCIA. INDEFERIMENTO. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS. MANUTENÇÃO DA DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU. AGRAVO INTERNO PREJUDICADO. 1. A Lei n. 12.965/2014, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil ("Marco Civil da Internet"), estabelece em seu art. 19, que, "com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após a ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário.". 2. No caso em exame, a retirada do vídeo supostamente ofensivo ao ora agravante não pode ser retirado liminarmente, sobretudo considerando que seu conteúdo não pode ser objeto de censura prévia, em juízo de cognição sumária, sob pena de limitar o direito constitucional à liberdade de expressão, além da existência de espaço para apresentação de repúdio às alegadas "fake news". 3. Por óbvio que devem ser coibidas nas redes sociais manifestações https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&controladorId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.ControladorBuscaAcordao&visaoAnterior=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&nomeDaPagina=resultado&comando=abrirDadosDoAcordao&enderecoDoServlet=sistj&historicoDePaginas=buscaLivre&quantidadeDeRegistros=20&baseSelecionada=BASE_ACORDAOS&numeroDaUltimaPagina=1&buscaIndexada=1&mostrarPaginaSelecaoTipoResultado=false&totalHits=1&internet=1&numeroDoDocumento=1667190 ofensivas, que venham a macular a imagem e honra das pessoas. Todavia, não há como imporliminarmente a obrigação vindicada pelo autor, para que sejam retirados os "links" considerados ofensivos à sua honra, diante da impossibilidade de se atribuir à ré ("Google") a responsabilidade pelas manifestações daqueles que venham a violar o direito de personalidade, conforme preconiza as disposições da Lei n. 12.965/2014. 4. Assim, deve ser prestigiada a decisão monocrática que, em observância à proteção constitucional do direito à liberdade de expressão e de opinião, destacou a necessidade da instauração do contraditório e da ampla defesa, de modo a se ter a necessária segurança para atestar eventual abuso no direito de expressão, passível de reparação. 5. Agravo de Instrumento conhecido e não provido. Agravo Interno prejudicado. (Acórdão 1205579, 07048770920198070000, Relator: NÍDIA CORRÊA LIMA, 8ª Turma Cível, data de julgamento: 3/10/2019, publicado no DJE: 10/10/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada.) ● Análise A decisão proferida está relacionada à responsabilidade objetiva. No caso em questão, trata-se de uma ação de obrigação de fazer e reparação por danos morais movida por um partido político. O partido alega que vídeos supostamente ofensivos à honra e imagem foram publicados em sites eletrônicos e busca a retirada desses vídeos. A decisão destaca a Lei nº 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet, que estabelece as responsabilidades dos provedores de internet em relação aos conteúdos gerados por terceiros. O artigo 19 da lei mencionada prevê que o provedor de internet só pode ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente. No caso em análise, a decisão mantém o indeferimento da tutela de urgência para a retirada liminar do vídeo supostamente ofensivo, considerando que a censura prévia limitaria o direito constitucional à liberdade de expressão. Destaca-se também a importância de se garantir o contraditório e a ampla defesa, assim como a necessidade de se instaurar o devido processo legal para avaliar eventuais abusos no direito de expressão, que podem ser passíveis de reparação. Portanto, a responsabilidade objetiva é aplicada nesse caso, considerando que o provedor de internet (no caso, o Google) não pode ser responsabilizado diretamente pelas manifestações ofensivas de terceiros, mas deve agir conforme as disposições legais e ordens judiciais para tornar indisponível o conteúdo considerado infringente. ● Considerações finais https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&controladorId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.ControladorBuscaAcordao&visaoAnterior=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&nomeDaPagina=resultado&comando=abrirDadosDoAcordao&enderecoDoServlet=sistj&historicoDePaginas=buscaLivre&quantidadeDeRegistros=20&baseSelecionada=BASE_ACORDAOS&numeroDaUltimaPagina=1&buscaIndexada=1&mostrarPaginaSelecaoTipoResultado=false&totalHits=1&internet=1&numeroDoDocumento=1205579 Neste trabalho, foi abordada a responsabilidade civil em relação às fake news, explorando diferentes esferas de responsabilização, incluindo imprensa, provedores de internet, pessoas físicas e jurídicas. Recapitulamos os principais pontos discutidos e suas implicações sociais e legais. As fake news representam um problema sério, com consequências que vão desde a manipulação da opinião pública até a desinformação. É fundamental discutir quem deve ser responsabilizado pelos danos causados por sua disseminação. Constata-se que a responsabilidade civil em relação às fake news pode ser aplicada de forma objetiva ou subjetiva, dependendo do contexto. A responsabilidade objetiva dispensa a comprovação de culpa e pode ser aplicada em situações em que a atividade é considerada perigosa ou há uma obrigação legal de reparar o dano. Por outro lado, a responsabilidade subjetiva exige a comprovação de culpa ou dolo por parte do responsável. Foi analisada também a responsabilidade civil em diferentes contextos legais, como a imprensa e os provedores de internet. No Brasil, os provedores de internet geralmente são isentos de responsabilidade pelo conteúdo gerado por terceiros em suas plataformas, conforme estabelecido pelo Marco Civil da Internet. No entanto, há discussões e diferentes perspectivas sobre essa questão. No que diz respeito às pessoas físicas e jurídicas, foi identificado que a responsabilidade civil por disseminação de fake news costuma ser subjetiva para as pessoas físicas, exigindo a comprovação de culpa, negligência ou dolo. Para as pessoas jurídicas, a responsabilidade pode ser tanto subjetiva quanto objetiva, dependendo do contexto legal aplicável. Diante desse panorama, indico sugestões de algumas medidas e soluções para lidar com o problema das fake news e sua responsabilização. É necessário fortalecer a educação em mídia e a capacidade crítica dos indivíduos para identificar e combater as informações falsas. Além disso, é fundamental promover um ambiente regulatório claro e atualizado, que defina responsabilidades e incentivos adequados para todos os envolvidos na disseminação de notícias. Também é importante incentivar a cooperação entre plataformas digitais, imprensa, autoridades governamentais e sociedade civil para desenvolver mecanismos de detecção, verificação e mitigação das fake news. Isso pode incluir parcerias para identificar e remover conteúdos falsos, bem como a promoção de campanhas de conscientização sobre os perigos das fake news. Em suma, a responsabilização por fake news é um desafio complexo, exigindo um equilíbrio entre a liberdade de expressão e a proteção contra danos causados pela desinformação. É necessário um esforço conjunto de diferentes atores para enfrentar esse problema, adotando abordagens multidisciplinares e adaptáveis diante das evoluções tecnológicas e sociais.