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Ficha de apoio II trimestre, 11a classe , filosofia

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ESCOLA COMUNITARIA NOSSA SENHORA DAS VITORIAS
Ficha de apoio de Filosofia, 2023
Prof Macario
UNIDADE DIDÁCTICA III: A Teoria do Conhecimento
Introdução 
Desde a antiguidade grega, quase todos os filósofos se preocuparam com o problema do conhecimento humano; problema que envolve questões extremamente importantes, como: o que é o conhecimento humano? O que é a verdade? É possível o conhecimento? Qual é o fundamento do conhecimento? Todas estas questões são tratadas por uma disciplina filosófica que costuma ser designada por diversos nomes: Teoria do Conhecimento, Gnosiologia, Critica do Conhecimento ou Epistemologia. Iremos usar a denominação Teoria do Conhecimento.
A Teoria do Conhecimento consiste numa reflexão filsofica sobre o conhecimento, tendo como objectivo investigar as suas origens, as suas possibilidades, os seus fundamentos, a sua extensão e o seu valor. Embora o problema do conhecimento tenha preocupado os filósofos da antiguidade, somente a apartir da Idade Moderna a Teoria do Conhecimento adquiriu grande importância passando, passando a ser tratada como uma das disciplinas centrais da Filosofia. Para este processo de valorização da Teoria do Conhecimentocolaboraram as obras do filosofo francês René Descartes (1596-1650) e o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804).
Noções Básicas
Etimologicamente, a palavra conhecimento deriva do Latim: Cognitio: co+gnoscere (cum+gnosco) que significa captação conjunta, uma compreensão, uma reunião de dados. Ter presente no espírito um certo objecto de pensamento verdadeiro ou real o que supõe a distinção entre o próprio espírito que concebe e o objecto concebido. É a apreensão pela mente de alguma realidade. Tal realidade pode ser um objecto físico ou uma ideia. Conhecer um novo professor de Filosofia, conhecer o Estádio Nacional de Zimpeto (realidade física); Conhecer o Teorema de Pitágoras, a Lógica aristotélica (realidade como ideia).
Conhecimento é a concordância entre a imagem e o objecto. É acto pelo qual o sujeito apreende ou representa o objecto. Só há conhecimento quando há concordância entre os elementos cognitivos do sujeito e as propriedades do objecto, tanto material como ideal. A palavra Conhecer é aplicada em dois sentidos distintos: em sentido lato e em sentido restrito. No primeiro caso significa recolher e organizar informações sobre o meio ambiente tendo em vista a constante adaptação de um organismo ao meio e à sua sobrevivência. Cada espécie tem o seu tipo de conhecimento. Nos seres humanos predomina a informação adquirida em sociedade. No segundo sentido, apenas aplicável aos Homens, pode ser entendido como a construção de representações mentais que o sujeito organiza ao longo da vida na sua relação com a realidade internamente (através do pensamento, sentimento) como no mundo exterior (através do mundo dos objectos físicos). É esta perspectiva que vai ser abordada a seguir.
Conceito e Realidade
Chama-se Conceito ou ideia a toda a representação mental, abstracta e universal dos objectos, que reúne os caracteres comuns ao conjunto de seres da mesma espécie e que os distingue dos seres constitutivos de outra classe diferente; é a apreensão pela mente da essência, ou seja, das características determinantes de uma classe de objecto. Ora, estas propriedades do conceito só tomam forma na linguagem. É a imagem que o nosso entendimento retém de um objecto conhecido. Por exemplo, quando dizemos que conhecemos a mesa, isso quer dizer que na nossa mente existe o conceito mesa, que é abstracto e universal, isto é, refere-se a uma e a todas as mesas que conhecemos (mesas de madeira, de plástico, de ferro, e outras mesas de cozinha, de sala, de escritório, com duas, quatro, oito ou mais pernas, mesas quadradas, redondas, rectangulares, etc.
Por outro lado, Realidade é o elemento apreendido, cuja imagem na nossa mente se chama conceito. Por isso, o conceito representa a realidade na nossa mente de uma forma abstracta. A Realidade é o que há - tudo aquilo que pode ser conhecido e representado por nós tanto físico, mental ou virtual.
Elementos do Conhecimento
No acto do conhecimento estão envolvidos dois elementos fundamentais: o sujeito e o objecto que é conhecido. O terceiro elemento é a relação sujeito-objecto. O sujeito transcende-se a si próprio para ir ao encontro do objecto e tem um papel activo na acção de recolha de informação e saber acerca do objecto. O objecto, por sua vez, é tudo aquilo que pode ser percebido pelo sujeito, que pode ser material ou imaterial, acção, acontecimento, processo; que pode ser analisado e explicado. Este por sua vez deixa-se apreender ou conhecer pelo sujeito. O conhecimento é o fruto da correlação destes elementos, uma relação triádica como indica o esquema abaixo. 
 Faculdades de conhecimento
O conhecimento que o Homem tem acerca do mundo que o rodeia é o resultado das capacidades cognitivas através da mente. É através da mente que o Homem percepciona a realidade exterior interior e a explica racionalmente. A mais simples forma de conhecimento que o ser humano possui que lhe percepcionar o mundo e a realidade é a sensação. Os sentidos permitem-lhe retirar informações acerca do que o rodeia. Todas essas experiências são tratadas, analisadas e organizadas racionalmente, quer de uma forma consciente, quer inconsciente. A este trabalho de selecção e organização e enquadramento das nossas sensação chamamos percepção do mundo ou da realidade. É preciso entender que as sensações são apenas um primeiro contacto directo com a realidade e que não permitem ao ser humano captar a realidade tal qual ela é. As nossas sensações são construídas pelo próprio ser humano na mente. O sujeito não é um receptor passivo do mundo. São vários factores que podem influenciar e moldar esse processo: factores internos/psicológicos (biológicos como por exemplo o cansaço, a sede, a fome, sono, o medo, a motivação, as expectativas, etc.); factores externos como o movimento, a intensidade, o contraste do estímulo exterior; factores culturais têm a ver com o meio em que o sujeito vive, a sua educação, condicionantes culturais, psicológicas, biológicas, físicas, afectivas, etc. Há na mente de cada ser humano, sem que cada um de nós se dê conta disso, um filtro que condiciona a percepção do mundo e que faz com que existam tantas visões do mundo quantos seres humanos. A realidade exterior chega-nos através dos cinco sentidos: visão, audição, tacto, olfacto e gosto. Para todo o ser humano, a visão desempenha o papel principal.
Perspectivas de análise do conhecimento
Várias são as explicações sobre o fenómeno de conhecimento. Ao longo da História da Filosofia esta tem sido uma preocupação principal e o tema de vários questionamentos – é possível conhecer? Como conhecemos? O que conhecemos? Várias oram as teorias elaboradas com o propósito de responder estas perguntas que preocupam também as ciências sobretudo no último século. Para o estudo desta problemática existem duas teorias da perspectiva científica (Teoria Filogenética e Ontogenética) e uma perspectiva filosófica (a Teoria Fenomenológica do conhecimento).
Abordagem científica
Perspectiva Filogenética. A palavra Filogénese deriva do grego e significa origem da tribo. A Teoria Filogenética é o estudo da evolução de uma dada espécie, nesse caso, o ser humano. Segundo a Paleontologia Humana, o ser humano sofreu transformações significativas, desde a sua origem até aos dias de hoje, e a sua capacidade cognitiva foi evoluindo, pois a dos primeiros humanos foi reduzida do que a actual. Esta ciência mostrou-nos como o ser humano evoluiu não só a nível físico, mas também a nível psíquico. Desta forma, o desenvolvimentocognitivo ocorreu graças à correlação do desenvolvimento das faculdades cognitivas (memória, linguagem, pensamento) com a capacidade técnicas. Esta permitiu, por sua vez, a alteração fisiológica e funcional e a própria constituição morfológica. Por este processo, o Homem teve um desenvolvimento bio-psíquico-social, fazendo com que as actividades sensoriomotoras passassem, através da experiência, às actividades perceptivo-motoras, permitindo a interiorização de imagens que constituem o alicerce da linguagem e da reflexão. Ao longo do processo filogenético, o ser humano constituiu-se numa dialéctica entre a acção e o conhecimento. A acção provoca o conhecimento e este provoca a possibilidade de novas e melhores acções, e estas, por sua vez, possibilitam novos conhecimentos, e assim sucessivamente. Por exemplo, um lago ou um rio que seca só deixam possibilidades de sobrevivência aos peixes que possam respirar ao ar atmosférico.
Perspectiva Ontogenética
Na unidade didáctica anterior, definimos a Pessoa, na perspectiva moderna, como um ser que ostenta necessariamente o carácter inter-relacional, o carácter interpessoal. A palavra Ontogenética tem origem em ontos palavra grega, que significa ser, e génese estuda o conhecimento na perspectiva individual, partindo da análise das estruturas cognitivas do ser humano desde o nascimento até ao seu pleno e completo desenvolvimento. Esta perspectiva defende que na génese e desenvolvimento das capacidades cognitivas da criança há um relacionamento necessário entre o indivíduo e o meio. 
Um psicólogo suíço contemporâneo, Jean Piaget (1896-1980), fazendo um estudo unificado da Psicologia com a Biologia, elaborou o que ficou conhecido como Teoria de Equilibracao, onde afirma existir uma inter-relacao individuo/meio, com vista a uma resposta cada vez mais adequada ao meio. 
Esta perspectiva foi desenvolvida pela Psicologia Genética, ramo da Psicologia fundada por Jean Piaget e defende que o indivíduo passa por várias etapas de desenvolvimento ao longo da vida. A sua teoria deitou abaixo a antiga ideia de a inteligência da criança era igual à do adulto. Piaget demonstrou que a inteligência é anterior ao pensamento e que este se desenvolve em etapas que são fruto de uma gradual adaptação ao meio. O desenvolvimento ocorre porque o organismo amadurece e sofre influência do meio físico e social. Neste processo de adaptação, segundo Piaget, há considerar duas actividades interrelacionadas ou sistema de implicações: assimilação e acomodação. 
Assimilação é o processo que permite acrescentar novos elementos a um conceito anteriormente adquirido ou a um esquema já formado. Assimilar significa, literalmente, tornar semelhante. Aqui deve ser entendida como processo mental através do qual a criança incorpora novos dados resultantes da sua relação com o meio ou como um movimento de integração do meio. O meio vai sendo progressivamente integrado no sujeito, nos seus esquemas gerais. 
 	 Assimilação 					 Acomodação
 Equilíbrio
Acomodação é um processo mental pelo qual se modificam os esquemas existentes em resultado das experiências do meio. O organismo, ao acomodar-se, submete-se ao meio. Os dados assimilados, estruturados nesses esquemas mentais gerais, são constantemente ajustados às novas situações particulares, permitindo a sua assimilação. A adaptação será o resultado do equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, isto é, quando a relação entre assimilação e a acomodação adquire uma certa estabilidade, é conseguida uma situação de equilibração. Há um diálogo entre a assimilação e a acomodação: o processo das sucessivas tentativas de reposição do equilíbrio, de modo a conquistar um equilíbrio mais estável.
Existem quatro estados ou estádios principais de desenvolvimento, segundo Jean Piaget, pelos quais a criança passa até atingir pleno desenvolvimento. São eles:
Estádios 	Descrição/Características 
1º Estádio
Sensório-motor
(dos 0 aos 2 anos)	Desenvolvimento do carácter sensorial e motor
A criança, através de uma interacção física com o seu meio, constrói um conjunto de esquemas de acção que lhe permitem compreender a realidade e a forma como esta funciona; Desenvolve o conceito de permanência do objecto; Constrói alguns esquemas sensoriomotores coordenados e é capaz de fazer imitações.
2º Estádio 
Pré-operatório 
(dos 2 anos aos 7 anos)	
Aparecimento da função simbólica, ou seja, da capacidade de usar as coisas e o próprio corpo como representação de outras coisas para, por intermédio daqueles, evocar e expressar estas.
 A criança é competente ao nível do pensamento representativo mas não realiza ainda operações mentais que ordenem e organizem esse pensamento. Sendo egocêntrica e com um pensamento não reversível, a criança neste estádio não é ainda capaz, por exemplo, de aprender o número e a quantidade
 3º Estádio 
Das operações concretas
(dos 7 aos 11/12 anos)	
A criança vai acumulando experiências físicas e concretas e começa a conceptualizar, criando estruturas lógicas para a explicação das suas experiências mas ainda sem abstracção.
4º Estádio 
Das operações formais 
(dos 11/12 aos 15/16 anos)	 
A criança atinge o raciocínio abstracto e conceptual, conseguindo ter em conta as hipóteses possíveis e sendo capaz de pensar cientificamente
Perspectiva da Sociologia do Conhecimento
A Sociologia do Conhecimento é a Ciência que estuda o fenómeno conhecimento, na perspectiva da Sociologia. A Sociologia é uma ciência humana que estuda o modo de relacionamento dos indivíduos na sociedade. Karl Marx (1818-1883) foi o primeiro a defender que as ideias e o conhecimento dependem das circunstâncias histórico-sociais do sujeito. Para ele, o conhecimento é condicionado pelo meio social que molda o sujeito cognoscente. Com efeito, se relacionarmos duas crianças, uma com possibilidades de frequentar bibliotecas, consultar Internet, ver televisão, etc., e outra que apenas aprende o que o professor, os pais ou os amigos lhe transmitem (sem os meios que o primeiro tem), o primeiro terá mais possibilidade de saber do que o segundo. Portanto, o conhecimento também é resultado do que se aprende com o grupo de pertença e pelas condições económicas.
Abordagem filosófica
Análise Fenomenológica do acto de conhecimento
É bem sabido por todos nós que no conhecimento é indispensável a presença do sujeito e do objecto. No processo do conhecimento algumas filosofias dão primazia ao objecto (realismo em geral); outras ao sujeito (idealismo, em geral); outras ainda a um nível equilibrado a dois aos dois. É esta última posição defendida pela fenomenologia, corrente filosófica que influenciou grandemente a Filosofia do século XX. Para a Fenomenologia só existem fenómenos puros, ou seja, não interessa a área de conhecimento e como se conhece. Esta corrente considera o conhecimento em si mesmo e procurar chegar à sua estrutura fundamental, desligado de tudo o que o rodeia e analisando-o por si mesmo na relação sujeito-objecto. Desta forma, para a Fenomenologia existe alguém que conhece (o sujeito) e algo que pode ser conhecido (o objecto) e o resultado do acto de conhecer é a representação (depois de apreendido, o objecto de conhecimento fica na consciência do sujeito sob a forma de representação ou imagem). Em suma, para a Fenomenologia, o conhecimento é o acto pelo qual o sujeito apreende ou representa o objecto. Em todo o conhecimento, um cognoscente e um conhecido encontram-se frente a frente. A relação entre os dois é o próprio conhecimento. Os dois termos da relação não podem ser separados, isto é, um implica a presença do outro. A relação constitutiva do pensamento é dupla, mas não é reversível – não são permutáveis. A função do sujeito consiste em apreender o objecto; a do objecto em poder ser apreendido pelo sujeito e em sê-lo efectivamente. O sujeito não pode captar o objecto sem sair de si (sem se transcender). Portanto, o sujeito vive três momentos distintos no acto do conhecimento: o sujeito sai de si, está fora de sie regressa finalmente para si com as características do objecto. É necessário recordar que este movimento do sujeito e do objecto é apenas uma descrição. O sujeito não é sujeito senão em relação ao objecto e o objecto não é objecto senão em relação a um sujeito. A função do sujeito consiste em apreender o objecto; a do objecto em poder ser apreendido pelo sujeito e de forma efectiva. A sua relação é uma correlação. Na realidade, isto acontece num abrir e fechar os olhos.
Questionário
1.	O processo de hominização pode ser visto como uma dialéctica pé-mão-cérebro. Comenta a afirmação.
2.	Redige um pequeno texto de carácter argumentativo defendendo a tese seguinte: A acção ocupa um papel central no processo de constituição filogenética e ontogenética.
3.	Em poucas palavras, descreve o perfil histórico-filosófico sobre a emergência e abordagem do Conhecimento, fazendo referência algumas figuras que se destacaram no processo.
4.	Relacione o sujeito e objecto no acto do conhecimento.
5.	Esclarece os conceitos:
 a) Empírico;	b) A posteriori;	c) A priori;	d) Apreensão
6.	Em que condições podemos dizer que conhecemos alguma coisa?
7.	Quais são as diversas formas de conhecimento, e que relação têm entre si?
Problemas e Correntes filosóficas da Teoria do Conhecimento
O debate sobre a (im)possibililidade do conhecimento
Questiona-se se o sujeito pode apreender o objecto ou não? Se pode atingir a verdade, a essência das coisas ou está condenado às várias aparências. As respostas filosóficas foram dadas por várias correntes de pensamento, como veremos a seguir.
Dogmatismo. Dogmatikós, em grego, significa, que se funda em princípios. A palavra dogmatismo provém de uma outra: dogma. Dogma é uma verdade indiscutível, defendida, muitas vezes, pelas religiões. Por exemplo, é dogma entre os cristãos católicos que Maria deu à luz o menino Jesus, porém permaneceu virgem. É uma verdade que não se pode discutir, é dogma. O dogmatismo não se confronta com a dúvida. Dogmatismo, é a doutrina que admite a possibilidade do conhecimento certo e afirma que a inteligência é capaz de atingir verdades certas e indiscutíveis. Está ligado ao desenvolvimento das representações religiosas, à exigência de aceitar pela fé os dogmas da igreja e obrigatórios para todos os crentes.
O dogmatismo apresenta-se sob dois aspectos: o dogmatismo espontâneo e o dogmatismo crítico. O primeiro supõe que conhecemos os objectos tais quais são, que há um perfeito acordo entre o conhecimento e a realidade. É a primeira atitude do espírito humano, que depositava plena confiança nos dados dos sentidos, e é ainda hoje a atitude do vulgo, que julga conhecer as coisas como são; é uma atitude de crença em que não entra a reflexão ou crítica e em que não se põe ainda, qualquer problema quanto ao valor do conhecimento. Também podem considerar-se como fazendo parte deste dogmatismo todos aqueles que sustentam que as primeiras verdades, como por exemplo, os primeiros princípios, devem ser admitidos como dogmas, sem qualquer discussão ou crítica. Esta maneira de ver não pode admitir-se, porque podia acontecer que estas verdades fossem falsas e então ruiria toda a ciência, como edifício contraído sobre a rocha. 
O segundo aparece com Sócrates, (Sec. V-IV a.C.) após o conflito entre Parménides e Heraclito que levou os sofistas a uma posição céptica acerca do valor do conhecimento. Este dogmatismo coloca o conhecimento intelectual acima do conhecimento sensível, pois este só nos dá a conhecer as manifestações da realidade que mudam continuamente e aquele atinge a sua natureza íntima ou essência, que é imutável, e por isso tem valor absoluto. O dogmatismo crítico admite que possuímos conhecimentos certos acerca da realidade, embora a não conheçamos total e perfeitamente. Além disso, exige que se faça um exame crítico de todas as certezas naturais, ainda mesmo das verdades bases. Mas, se o nosso espírito crítico exige que não admitamos as certezas naturais sem um prévio exame, qual deve ser a atitude do filósofo perante essas certezas? Descartes, com a dúvida metódica, aponta-nos o caminho a segui e que já referimos. Claude Bernard (Sec. XIX) insistiu também na necessidade de o investigador começar pela dúvida. A primeira condição que deve ter um sábio que se dedica à investigação dos fenómenos naturais é a de considerar uma inteira liberdade de espírito, assente sobre a dúvida filosófica. Esta orientação deve ser a de todos os sábios nas suas investigações e deve ser também a do filósofo. Este, segundo exige o dogmatismo crítico, deve utilizar a dúvida metódica real acerca das verdades que não são imediatamente evidentes; isto é, estas não devem admitir-se sem que tenham encontrado razões suficientes para isso.
CEPTICISMO, é a doutrina ou corrente filosófica que considera a mente humana incapaz de atingir qualquer que seja o conhecimento ou a verdade com certeza absoluta. É uma atitude negativa ou pessimista do Homem face à problemática da possibilidade da mente um conhecimento absolutamente certo ou verdadeiro. Esta concepção filosófica põe em dúvida a possibilidade do conhecimento da realidade objectiva. O espírito declara-se incapaz de afirmar ou negar seja o que for por falta de motivos sólidos para o fazer. O céptico não nega que tenhamos certezas de ordem empírica; nega que encontremos motivos suficientes para as elevar à categoria de certezas científicas. O céptico evita emitir juízos acerca de qualquer assunto e, por isso, suspende o seu assentimento.
O cepticismo aparece esboçado com os sofistas (Sec. V a. C.) que, impressionados com as contradições dos filósofos anteriores (por exemplo: os eleatas, representados por Parménides, negavam o movimento e as transformações do ser que atribuíam a ilusões dos sentidos e afirmavam que a realidade era estável e permanente; Heraclito considerava a realidade em constante fluir e dizia que a permanência era uma ilusão) chegaram a conclusão pessimista de que a verdade absoluta era inacessível, embora aceitassem as informações dos sentidos. É célebre a atitude de Protágoras, segundo o qual o homem é a medida de todas as coisas e, assim, todas as coisas eram conhecidas em função das possibilidades do homem e não como de facto são: as coisas são para mim como me parecem e são para ti como te parecem. Esta atitude céptica veio a concretizar-se no período helenístico com Pirron (Séc. IV-III a.C.), segundo o qual não devemos confiar nem nos sentidos nem na razão, mas duvidar de tudo e, por isso, suspender toda a adesão, não afirmando nem negando coisa alguma. Assim, Pirro duvidava a própria dúvida, não havendo nada de seguro, quer quanto aos problemas práticos, quer quanto aos problemas teóricos. Esta doutrina é chamada Cepticismo universal ou radical ou ainda pirronismo. Ao lado do cepticismo radical ou universal surgiu uma forma moderada; o chamado probabilismo, cujos principais representantes foram foram Arcesilau (316-241) e Carnéades (214-129) que afirmam que ambora nenhum dos nossos conhecimentos se possa apresentar com carácter de certeza e de verdade, existe, todavia, entre eles, a distinção dos graus de probabilidade, sendo, por isso, legitimo o estado de opinião. E isto basta para o Homem viver.
O cepticismo apoia-se nos seguintes argumentos:
a) Os erros dos sentidos. Os sentidos mostram-nos por vezes os objectos de forma diferente da que possuem na realidade por exemplo, uma varra mergulhada na água parece partida, um prédio trinta e três andares visto à distância assemelha-se a um prédio de três ou quatro situado do outro lado, quando estou no carro em movimento a observar a paisagem, o que parece estar em movimento não é o autocarro que me leva, mas sim a paisagem que observo. Isto servia aos cépticos para não confiarem nos dados dos sentidos. Na verdade, porém, devemos recordar que os sentidos não eram, porque quer o erro, quer a verdade só se encontram no juízo, como se verá mais tarde. O que costuma chamar-se erros dos sentidos, são antes erros da percepção e surgem, quando atribuímos ao objecto qualidadesque ele não possui; isto implica já a formação de verdadeiros juízos, pelo menos implícitos.
b) A relatividade do conhecimento sensorial. As informações sensoriais sobre o mesmo objecto são diferentes de indivíduo para indivíduo e até ao mesmo indivíduo variam consoante as circunstâncias: o que para uns é quente para outros é frio, o compartimento ao lado da sala de banhos serve para se aquecerem os que entram e para refrescarem os que saem, a comida mais salgada para uns é menos salgada para outros. A relatividade do conhecimento sensorial é hoje um facto incontestável, pois o conhecimento que temos do mundo, através dos sentidos, depende da nossa aparelhagem sensorial. Este facto, porém, não justifica o cepticismo universal que duvida de tudo, pois, além do conhecimento sensível, há o conhecimento intelectual, que atinge a própria realidade, como veremos. A tomada de consciência daquela relatividade põe-nos de sobreavisos não emitirmos juízos sem que previamente tenhamos realizado um rigoroso exame crítico.
c) As contradições dos Homens. Acerca do mesmo assunto há por vezes opiniões contraditórias, adoptam-se valores diferentes. A diversidade de opiniões justifica o cepticismo, mas representa um esforço do Homem no sentido de conquistar a verdade. As controvérsias não se estendem a todos a todos os assuntos; há muitas verdades admitidas por todos e o seu número aumenta à medida que a ciência progride – sinal de que a inteligência se encaminha cada vez mais para a verdade.
d) A impossibilidade de demonstração. Para afirmar que uma asserção é verdadeira, é necessário prová-la; depois é preciso provar também que esta prova é válida: prova a tua prova, dirá o céptico. Assim cada prova exige outra prova e esta outra ainda, até o infinito. Se eu tomo como verdade que os moçambicanos são pacíficos então devo provar minha asserção e de seguida é preciso que prove, de igual modo, a minha prova. Nestas condições nunca se chegará a uma afirmação devidamente demonstrada, porque cada coisa tem uma infinidade de relações com muitas outras: não conhecemos tudo de nada, que é o mesmo que dizer: não conhecemos nada de tudo.
O cepticismo moderno que merece maior menção é o Relativismo. Para este, não existe a verdade absoluta, porque não conhecemos a realidade em si própria, mas sim como ela é para nós e, portanto, todo o conhecimento é relativo: não só sensível que, como já se afirmou, depende da nossa constituição mental. O homem não conhece a autêntica realidade; a verdade que ele atinge é uma verdade humana, que vale apenas para os espíritos constituídos como o seu.
Questionário
1.	Define o Dogma
2.	Explique o surgimento do termo Dogma
3.	O Dogmatismo é uma doutrina aconselhável nos dias de hoje? Porquê?
4.	Qual é a característica fundamental do Cepticismo?
5.	“Tudo é duvidoso”. Comenta a afirmação anterior.
6.	Descreve uma situação em que tenhas usado a dúvida para melhor compreensão da realidade.
7.	“Os cépticos passam o tempo a destruir os dogmas das outras correntes, mas não estabelecem nenhum”. Porquê
A Origem do Conhecimento. A questão de partida é a seguinte: Qual é a fonte que nos dá o conhecimento? A sensibilidade, os sentidos, a experiência ou a razão do intelecto? Na tentativa de responder à perguntas, surgiram três teorias fundamentais: O Empirismo, o Racionalismo e o Apriorismo ou Intelectualismo.
Empirismo. O Empirismo foi pela primeira vez exposto, em termos nítidos, pelo filosofo John Locke (1632-1708) no seu livro Ensaio sobre o Entendimento Humano. Trata-se de uma corrente filosófica que surgiu na Inglaterra no Sec. XVIII, com John Locke e David Hume, que defende o primado da experiência na aquisição do conhecimento. Todo o conhecimento é “a posteriori”, vem da experiência (das impressões recebidas pelos sentidos e da consciência) e a experiência se reduz, não podendo elevar-se acima dos dados experimentais. Para estes autores, conhece-se aquilo que se tem experiência. Para John Locke, no início do processo cognitivo, a mente humana é como uma tábua rasa ou um papel em branco, onde nada está escrito, e que a experiência se encarrega de preencher de conhecimento resultante dos factos vividos. A experiência é fonte do processo cognitivo por dois modos: como a sensação, através da qual chegam até nós as ideias das coisas exteriores, e como a reflexão que nos dá o conhecimento daquilo que se passa dentro de nós. Da experiência, mediante a sensação, originam-se as ideias simples (por exemplo: a ideia de azul, doce, macio, etc.) e, pela reflexão, a ideia de percepção, dúvida, desejo, etc., e todas as operações da mente.
As ideias complexas nascem das ideias simples, em virtude da actividade do sujeito que as une, separa, analisa e sintetiza. David Hume diz que todos os nossos conhecimentos se reduzem a impressões ou ideias (vista de uma árvore e recordação da mesma) e pretende explicar, a partir destes conhecimentos simples, a formação das ideias complexas, por meio de leis ou princípios que são chamados ideias de associação.
Racionalismo. Corrente oposta ao Empirismo, sustenta a ideia segundo a qual o conhecimento tem a sua origem na razão. O nosso conhecimento é resultado exclusivo da actividade da razão humana capaz de produzir por si própria conceitos e representações. 
No tempo moderno, os grandes representantes do racionalismo gnosiológico das ideias inatas foram: René Descartes e Gottfried W. Von Leibniz.. o primeiro é um racionalista enquanto admite o pressuposto gnosiológico das ideias inatas. Ele distingue três tipos de ideias: adventicias, fictícias e inatas. As primeiras são tiradasdos sentidos, as segundas elaboradas pelo espírito, com elementos dos primeiros e as inatas são aquelas que tem correspondência na ordem sensível, mas não tem ai a sua origem e deve, portanto, ser consideradas conaturais. 
A posição gnosiológica de Leibniz resume-se na frase: “Nada está na inteligência que primeiro não tenha estado nos sentidos” que é a formula do Empirismo, e acrescenta: a não ser a própria inteligência. 
Esta doutrina admite também várias matizes: Platonismo, Platonismo augustiniano e Inatismo.
Platonismo. Para Platão as ideias são imitações ou sombras dos arquétipos (modelos ou essências) do mundo das ideias, mundo puramente inteligível, constituído por realidades abstractas e universais que a alma vai recordando (teoria de reminiscência). Para Platão, a alma racional viveria no mundo das ideias em plenitude de conhecimento. Depois foi encerrada num corpo e a matéria obscureceu todas as ideias, as quais só podem ser despertadas através dos sentidos. Quando o Homem nasce, já traz consigo as ideias.
Platonismo augustiniano. Santo Agostinho partindo da filosofia platónica explica a origem das ideias da seguinte maneira: as ideias são expressas pela inteligência como provindo de si mesma e não elaboradas, como dados recebidos pelos sentidos. Elas são o resultado de uma iluminação divina juntamente com a inteligência, causa da geração das ideias.
Inatismo. O expoente máximo do racionalismo é René Descartes, pelo facto confiança inabalável do poder da razão. Para Descartes vários tipos de ideias: Ideias adventícias – que vem da experiência; ideias factícias – resultantes das adventícias; ideias inatas – as que são co-naturais à própria inteligência, que provêm da razão, por isso não estão sujeitas a erro. Todos os nossos conhecimentos são formados a partir dessas ideias inatas, únicas e infalíveis. Leibnitz, (filósofo alemão do sec. XVIII) admite um inatismo virtual. As ideias inatas existem no nosso espírito como percepções inconscientes que se vão consciencializando progressivamente através da experiência.
c) O Intelectualismo, nesta teoria o conhecimento procede da experiência, mas não se reduz exclusivamente à experiência, porque a razão abstrai dos dados experimentais o carácter universal e necessário do conhecimento, através da elaboração das ideias. Assim, o conhecimento pode ser ao mesmo tempo universal e necessário e valer da realidade concreta. O conhecimento é o resultado da uniãoestruturante entre a experiência dos sentidos e a da razão. Kant defende que o conhecimento implica elementos apriorísticos independentes da experiência. Nisto concordamos com o racionalismo. Mas eles são entendidos, não como conteúdos, mas como formas organizadoras que a experiência preenche com conteúdos concretos – sublinhando aqui à semelhança do empirismo, a importância da experiência. Dai a frase de Kant: os conceitos sem as intuições são vazios, as intuições sem os conceitos são cegas. O sujeito conduz-se espontâneo e activamente perante a experiência e não receptiva e passivamente. Kant, quanto ao problema da origem do conhecimento, sustenta que ele resulta da intervenção de dois elementos: os dados provenientes da experiência e o entendimento do sujeito. Por exemplo, o que se passa no computador pode ajudar-nos a compreender o ponto de vista kantiano. Quaisquer que sejam os dados que receba do exterior, o computador necessita de estar equipado com um programa prévio para ser capaz de processar esses dados. O programa de computador assemelha-se aos elementos a priori existentes no sujeito: sensibilidade e entendimento. Os elementos introduzidos pelo teclado, ou por qualquer outro dispositivo, comparam-se aos dados provenientes do mundo: os dados que, sendo captados pelos órgãos sensoriais, vão ser interpretados pelo entendimento. Saber uma coisa significa conhecê-la. Mas conhecer implica actividade de um sujeito que dispõe de sensibilidade e de entendimento. Sendo assim, o conhecimento, para Kant, caracteriza-se:
d) O Cosntrutivismo
Acabamos de analisar a concepção kantiana acerca do conhecimento, concluindo que ela se apresenta como uma alternativa à aparente impossibilidade de conciliar o racionalismo e o empirismo. Na verdade, Kant vem afirmar que todo o conhecimento começa com a experiência, mas não deriva nem se limita a ela. É que os dados múltiplos, diversos e contingentes, fornecidos pela experiência, são integrados em conceitos que o próprio entendimento possui a priori, isto é, independentemente da experiência, e que são condições de possibilidade da recepção, explicação e inteligibilidade desses dados.
Divergência entre o Empirismo e Racionalismo.
Os racionalistas (René Descartes, Spinoza, Leibniz e outros) defendem que a única fomente de conhecimento verdadeiro é a razão que é dotada de ideias inata de toda a realidade. Consequentemente, a e experiencia torna-se supérflua pois a filosofia consiste na analise das ideias inatas. Esta analise é suficiente para a descoberta de todas as verdades. As novas verdades são expressas em juízos analíticos, puramente explicativos, que não acrescentam nada ao conteúdo do conhecimento, não ampliam e nem lhe trazem qualquer aumento.
Os empiristas (John Locke, F. Bacon, G. Berkeley, Thomas Hobbes e outros) defenderam que a única fonte do conhecimento é a experiencia, não tendo a razão nenhum valor inventivo. A ciência consiste na soma progressiva de experiencias de dados sensíveis.
Desta forma Kant observa que o Racionalismo e o Empirismo estão impossibilitados de preservar a ciência porque cada uma das correntes acentua um dos pólos negligenciando a contra parte. O memnto fraco, segundo Kant, das duas correntes está no facto de nenhuma delas se apresentar eem condições de de justificar convenientemente os juízos que simultaneamente contem conhecimentos que vem da experiencia e os analíticos que não resultam directamente da experiencia.
A superação das divergências através do criticismo kantiano
Segundo Kant, as duas correntes estão erradas nas suas concepções pelas razões e insuficiências referidas, pois qualquer reflexão sem conteúdo é vazia, isso contra a posição do Racionalismo. Contra o Empirismo diz Kant que a observação sem conceitos é cega. Com esta ultima critica, Kant pretendia demosntrar que a actividade pratica é complementada pela formação de conceitos, os quais são forma de reflexão dos objectos na sua ausência.
Uma vez ultrapassadas as duas teorias, a Filosofia de Kant foi designada criticismo. O criticismo é uma critica à própria razão no sentido da determinação dos seus próprios limites e poderes.
A revolução Copernicana
À viragem na teoria do conhecimento, ele designouRevolucao Copernicana, em analogia a Copénico que estabeleceu a hipótese heliocêntrica , contradizendo a teoria clássica do geocentrismo. Ate então, tentara-se explicar o conhecimento supondo que o sujeito devia buscar o objecto pela iniciativa do sujeito cognoscente. Esta concepção revelou-se lacunosa, enquanto que não explicava a existência de seres não cognoscíveis pela mente humana, o que levou Kant à ilação de que não é o sujeito que se adapta aos objectos, no acto do conhecimento, mas o contrario. É esta a chamada Revolucao Copernicana em Kant. No conhecimento os objectos adaptam-se à natureza do intelecto humano. Assim, é fácil explicar a existência de seres incognoscíveis pelo Homem – não é possível conhecer os seres que não se adaptam à natureza do intelecto humano. Deste modo, Kant considera que a sua teoria desloca o centro clássico do conhecimento que era o objecto – para as estruturas perceptivas do sujeito.
Vamos, de seguida, analisar a perspectiva do investigador suíço Jean Piaget que, embora tendo em consideração algumas propostas apresentadas por Kant, introduziu na análise do conhecimento a noção de génese (origem e desenvolvimento de qualquer processo). Piaget começou por estudar o modo como, em cada indivíduo, se desenvolve a faculdade de raciocinar (abordagem genética) considerando que tal faculdade não está pré-constituída no acto do nascimento, nem é algo de estático. Começou por uma investigação psicológica (psicologia genética) em que estudou a génese das estruturas psico-cognitivas e afectivas dos indivíduos.
Estádios de desenvolvimento segundo Piaget
Estádios 	Características 
1º Estádio
Sensório-motor
(0-18 meses)	Desenvolvimento do carácter sensorial e motor
A criança:
- realiza uma adaptação prática ao seu mundo exterior, ensaiando e coordenando as suas capacidades motoras e de percepção, de forma cada vez mais complexa;
- manipula os objectos, mobiliza as suas percepções e movimentos de modo a organizá-los em esquemas gerais de acção;
- aprende a utilizar os objectos de acordo com o seu interesse, procurando o sucesso dos seus gestos;
- passa progressivamente de um estado de indiferenciação do corpo e do mundo exterior para o seu conhecimento;
- constrói noções de espaço e de objecto permanentes
2º Estádio da representação ou pré-operatório 
(18 meses/2anos à — 5/6 anos)	
Aparecimento da função simbólica, ou seja, da capacidade de usar as coisas e o próprio corpo como representação de outras coisas para, por intermédio daqueles, evocar e expressar estas. A criança:
 - através do jogo simbólico, aprende a coordenar os movimentos e a dominar as formas;
 - desenvolve a linguagem verbal como expressão e manifestação da capacidade simbólica: a representação verbal começa progressivamente a sobrepor-se à acção e permite à criança imaginar, fazer mentalmente antes de realizar praticamente, explicar aos outros como fez ou como se faz e memorizar;
- desenvolve uma nova capacidade intelectual: a capacidade de interiorizar as acções que realiza com os objectos e os efeitos dessas acções. Passa, assim, da simples interiorização das características físicas dos objectos manipulados (experiência física) para a interiorização das operações que realiza com eles (experiência lógico-matemática): operações de tirar, juntar, ordenar, comparar;
- liberta-se gradualmente do pensamento egocêntrico e revela uma enorme curiosidade ( a idade dos porquês);
- começa a ser capaz de respeitar normas e de usar regras nos jogos e adaptar-se cada vez mais facilmente a novas situações.
3º Estádio 
das operações concretas
(5/6anos à 11/12 anos)	
- manipula os objectos concretos e aprende a realizar operações (classificar, ordenar, seriar, pôr em correspondência, etc.) que progressivamente se desligam da manipulação e da presença dos objectos que passam a ser evocadosatravés de uma imagem;
- descobre e consolida a reversibilidade das operações, compreendendo que todas as operações matemáticas e lógicas são reversíveis porque é sempre possível voltar ao ponto de partida;
- desenvolve o raciocínio que progressivamente se desliga do concreto e da situação presente, coordenando e integrando o passado no presente;
- revela grande curiosidade intelectual e interesse pelos processos mecânicos;
- torna-se cada vez menos egocêntrica e mais sociável.
4º Estádio 
das inteligência operatória formal 
(a partir dos – 11/12 anos para diante)
- o pensamento liberta-se do domínio do concreto e o jovem começa a ser capaz de realizar operações abstractas, sem necessidade de se apoiar nas acções efectivamente realizadas;
- o jovem torna-se capaz de raciocinar sobre enunciados verbais e de formular hipóteses, imaginando acontecimentos ou situações que terão lugar em determinadas condições conhecidas e controladas;
- manifesta interesse pelos problemas políticos e sociais e pelos grandes problemas existenciais que desde sempre preocupam a humanidade.
— pela ultrapassagem da dicotomia sentido-razão;
— pela concepção de um sujeito com papel activo no conhecimento
•	O racionalismo, segundo o qual a razão do sujeito é a fonte principal das representações que constituem o conhecimento;
•	O empirismo, segundo o qual as representações provém da experiência, embora sejam posteriormente organizadas pela razão;
•	O apriorismo (Kant), segundo o qual o conhecimento resulta de uma construção do sujeito que possui determinadas formas de organização dos dados da experiência, anteriores e independentes da experiência, com as quais estabelece relações entre os dados da experiência, construindo, assim, o objecto do conhecimento;
•	O construtivismo (Piaget), segundo o qual o conhecimento e a inteligência não estão pré-constitui dos, constituindo-se progressivamente através da interacção activa do indivíduo com o seu meio.
A Natureza do Conhecimento sob: Realismo e Idealismo.
Em todo o acto de conhecimento, como vimos, podemos considerar dois elementos: o sujeito que conhece e o objecto conhecido. Para conhecer, o sujeito tem que sair de si mesmo para ir ao encontro do objecto e apreende as suas propriedades, de modo a representá-lo no espírito. O conhecimento apresenta-se, assim, como uma representação na consciência. Pode perguntar-se agora: essa representação foi provocada pelo objecto existente fora do sujeito? Neste caso, o conhecimento tem valor objectivo, porque atinge uma realidade que existe independentemente da nossa representação; o conhecimento é a representação da coisa de facto existente. Ou essa representação será simplesmente uma criação da nossa consciência, à qual nada corresponde fora do sujeito ou, se corresponde, é como se não existisse, porque não pode conhecer-se? O conhecimento, assim, terá unicamente valor subjectivo; representará as modificações subjectivas e atingirá os nossos estádios de consciência. Ora, perguntar pela natureza do conhecimento consiste precisamente em indagar qual dos dois pólos, sujeito ou objecto do conhecimento, é determinante; ou seja, se o que se conhece directamente é a representação do real, poder-se-á considerar que se conhece efectivamente o real ou apenas a sua representação, a sua imagem? Conhecemos os próprios objectos – realidade que existe em si mesma fora de nós? Ou pelo contrario essa representação não passa duma simples duma simples criação da nossa consciência? Em resposta a estas duas perguntas temos duas teorias opostas: O Realismo e o Idealismo.
O Realismo. A nossa atitude habitual é acreditar que existe um mundo de objectos físicos que existem independentemente do facto de estarem a ser percebidos por um sujeito, que são causa das nossas percepções e que estas nos dão a conhecer o mundo tal como ele é em si. Esta atitude é habitualmente designada por Realismo, doutrina que defende a ideia segundo a qual o conhecimento alcanca a própria realidade objectiva e não apenas as suas representações subjectivas. Atingimos uma realidade distinta da nossa representação e independente dela, mas que lhe corresponde. Por outras palavras, o Realismo admite a existência da realidade exterior (ou do mundo exterior) como sendo coisa distinta do pensamento ou das nossas representações. Nosso conhecimento atinge o que é, e não o que pensamos que seja. 
Entretanto, podemos distinguir dois tipos de realismo: Realismo ingénuo e Realismo Crítico.
•	Realismo ingénuo admite a existência das coisas tal como as percebemos. Por exemplo: O homem da rua, que não reflectiu muito sobre o problema da percepção e do mundo físico, é realista: crê que existe um mundo físico que está ai, quer o percebamos ou não: árvores, edifícios, colinas, etc.	
•	Realismo Critico que, partindo dos dados sensoriais, apreende as características essenciais dos objectos e corrige os possíveis erros de percepção.
Os principais filósofos realistas são: Aristóteles (384-322) e São Tomas de Aquino (1225-1274), entre vários. As impressões que temos das coisas físicas nos sentidos, são causadas por essas mesmas coisas físicas. Por exemplo, a minha consciência da mesa é causada pela própria mesa. Porém, não há uma única destas proposições que não tenho sido questionada por pessoas que sobre elas pensaram de modo sistemático. Qual poderia ser a base da sua dúvida?
O Idealismo. O idealismo admite que o espírito está como que fechado em si mesmo e é incapaz de atingir outra coisa diferente das suas próprias representações ou modificações subjectivas. Pode não negar propriamente a existência do mundo externo, mas reduz este às representações. Chama-se Idealismo, por oposição a realismo, à tendência de reduzir toda a realidade às ideias ou ao pensamento. Esta doutrina não nega propriamente a existência do mundo exterior, mas afirma que o nosso conhecimento não atinge a própria realidade em si mesma, pois reduz o conhecimento a meras representações ou ideias dos objectos. Para o idealismo, o nosso conhecimento atinge apenas as modificações subjectivas e não a própria realidade – atinge o que pensamos e não o que é.
O idealismo propriamente dito só aparece na filosofia moderna. Até Descartes, salvo raras atitudes de carácter racionalista, como a de Platão e a de Agostinho, dominou o realismo. Com Descartes, é que começa a pôr se em dúvida o realismo e a enveredar-se pelo idealismo. Descartes foi o primeiro filósofo que abriu claramente o caminho ao idealismo. Ele, porém, não quis ser idealista; procurou defender a todo o transe a existência do mundo externo, insistindo em que as nossas representações o atingiam. Fê-lo, no entanto, de maneira que os seus sucessores o negaram com a mesma facilidade com que ele admitia.
Apesar desta doutrina, não ser totalmente nova, já existem vestígios dela em Platao e Santo Agostinho. Contudo, so com René Descartes é que esta doutrina aparece com toda a sua crueza (idealismo relativo), partindo da sua duvida metódica , cogito ergo sum (penso, logo existo) que acaba por reduzir o Homem a puro espírito, pois, o Eu afirmado na intuição cartesiana não é concebido como corpo mas espírito.
Valor do Conhecimento sob: Absolutismo e Relativismo
O problema do valor do conhecimento está intimamente ligado também ao da origem do conheciemento, e a solução depende da atitude tomada nestas matérias. Este debate é travado por duas correntes: o Absolutismo e o Relativismo. O Absolutismo afirma não só a objectividade do conhecimento, como também confere um valor absoluto. Portanto, não restam duvidas sobre o valor do conhecimento e não apresenta nenhum limite. O Relativismo atribui valor meramente relativo ao conhecimento, quer em função do sujeito cognoscente, quer em função do do objecto conhecido.
O Relativismo tem varias subdivisões: Relativismo sensorial dos sofistas – segundo Protágoras (séc. V a.C.), que sustenta a ideia segundo a qual o Homem é a medida de todas as coisas (homo mensura), o que quer dizer que que todo conhecimento é relativo, isto é, depende do sujeito cognoscente.Por exemplo, a mesma água pode parecer fria a um individuo e quente a outro. 
Relativismo Positivista – para Augusto Comte, pai do positivismo, nenhum conhecimento que ultrapassa a expwriencia é possível e, por conseguinte, tao pouco poderá ser valido ou certo. Trata-se de um relativismo objectivo.
Relativismo pragmático – para William James (1842-1910) a verdade ou validade duma ideia so pode ser verificada pelo seu resultado pratico, isto é, pela sua utilidade. Para esta doutrina, Pragmatismo, o Homem foi feito para a acção. Assim sendo, a verdade so pode ser definida em função dessa mesma acção. Tudo o que o ajuda a agir e produz realmente efeito sera verdadeiro para cada individuo. Desta forma todas as nossas ideias terão apenas um valor relativo.
Níveis de Conhecimento
Ao reflectirmos sobre o conhecimento, a primeira dificuldade com que deparamos é a de saber de que tipo de conhecimento falamos. 
A existência humana caracterizou-se sempre por um querer saber sobre a realidade que circunda o Homem.
As principais respostaCom efeito, podemos distinguir três níveis de conhecimento: Senso comum, Conhecimento Científico e Conhecimento filosófico.
Senso Comum (conhecimento empírico). O conhecimento empírico não se eleva acima dos factos; limita-se a apresentá-los e, se os procura explicar, fá-lo, por vezes, de maneira quimérica, por causas mais ou menos imaginárias. É um conhecimento confuso, fruto da experiência pessoal, que se vai transmitindo de geração em geração, sem método, não ordenado em sistema – é um saber não unificado – em que os factos nos aparecem sem ligação. O seu valor é subjectivo e individual. É próprio da criança e do homem inculto, que é o protótipo do homem primitivo. O vulgo serve-se deste conhecimento para fazer as suas previsões de ordem prática; estas previsões, porém, não se fundamentam nas influências reais de uns fenómenos sobre os outros e, por isso, não passam de simples conjecturas, sem outra garantia além de um certo número de sucessões observadas entre os fenómenos. Este conhecimento, ainda que imperfeito, não é de desprezar, por possuir um certo valor prático e constituir o primeiro escalão da ciência. 
No conhecimento comum, as sensações obtidas pelos órgãos dos sentidos são elaboradas inconscientemente em percepções, depois, o espírito, graças a memória, compara entre si as diversas percepções, analisa-as e observa 
	Conhecimento Científico. Sobe dos factos às leis e explica-os por causas imediatas. Os seus meios de investigação são a observação e a experiência. É um conhecimento ordenado metódico, ordenado em sistema, em que os fenómenos nos aparecem reunidos em grupos e ligados entre si pelas respectivas leis. Cada ciência é um sistema de conhecimentos respeitantes a um grupo de fenómenos da mesma espécie, regulados por um certo número de leis que enunciam as relações de causalidade. Tem valor objectivo e universal, pois se aplica a todos os fenómenos da mesma espécie e é próprio do cientista. As suas previsões são eficazes e certas, porque se fundamentam nas relações constantes entre os fenómenos. É um saber parcialmente unificado.
	Conhecimento Filosófico. Representa a mais alta expressão da necessidade de saber e o seu meio de investigação é a Razão. As Ciências explicam os fenómenos pelas causas próximas e imediatas e a Filosofia procura elevar-se às causas últimas e finais. A Filosofia exerce sobre o conhecimento científico um trabalho de reflexão, de crítica e de valorização e dá-nos dele uma visão de conjunto – é um saber totalmente unificado. Isto no que diz respeito ao campo da realidade comum às ciências e à Filosofia; mas realidade há de que as ciências se não podem ocupar e que constituem também objecto da Filosofia – as realidade metafísicas.
As ciências contentam-se com o como são as coisas, e utilizam o que a observação e a experiência atestam; a Filosofia pronuncia-se sobre o que elas valem em relação ao homem e como este delas se deve servir para valorizar o seu procedimento. Assim, a Filosofia procura a dar a conhecer a realidade total e pretende valorizá-la sob o aspecto humano.
IMPORTÂNCIA, LIMITES E PERIGOS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
A curiosidade de saber sobre a realidade que circunda o homem caracterizou a humanidade desde a sua existência. As respostas a tal inquietação foram, numa primeira fase, mitológicas depois seguiram-se as respostas dos filósofos chamados naturalistas, a terceira tentativa foi a dos filósofos da Idade Média que deram respostas teológicas, finalmente, apareceram os que enveredaram sua abordagem exclusivamente, pela via da razão, ou seja, o campo científico. A medida que as descobertas científicas avançam, a vida dos homens também muda de ritmo: muda a mentalidade e a maneira de ser, de conceber a realidade e de se relacionar com a mesma.
Em sentido lato, a palavra ciência (do Latim, Scire=saber) pode significar qualquer forma de saber, ou conjunto de conhecimentos, dotados de um mínimo de organização ou grau de generalidade. Mas quando falamos de ciências matemáticas, físicas, químicas, biológicas, sociais, a palavra refere-se a um conjunto de conhecimentos obtidos por processos determinados de investigação e garantidos por operações adequadas de verificação. Neste sentido preciso, que vamos considerar e desenvolver, a ciência busca o conhecimento da estrutura dos seres e das relações dos fenómenos, e pode definir-se como esforço de interpretação racional e objectiva do universo.
Claro que nenhum de nós poderá deixar de reconhecer que a ciência e a técnica trouxeram vantagens e ganhos qualificáveis para toda a humanidade. Assim:
- Multiplicaram a riqueza e os recursos disponíveis, possibilitando uma maior autonomia face aos recursos naturais e às condições ambientais;
- Permitiram o aumento da produtividade e da população;
- Libertaram os seres humanos de muitas tarefas rotineiras, pesadas e escravizantes através da criação de um conjunto de máquinas e instrumentos que substituem ou auxiliam o trabalho humano;
- Libertaram os seres humanos de medos e doenças, de crenças e preconceitos, cientificamente infundados, que limitavam a sua existência;
- Trouxeram maior conforto, mais tempos livres e mais férias;
- Aumentaram a esperança de vida por via dos progressos da medicina e pela democratização dos recursos;
- Permitiram o acesso à instrução, à cultura e à informação a um nível planetário e em tempo real, revelando-nos os mistérios e as maravilhas do funcionamento da natureza.
Porém, os frutos da ciência são ambíguos. Na verdade, ao lados destas alterações positivas que ninguém é capaz de contestar, outras existem que não podemos deixar de condenar. É por isso que a ciência e a técnica suscitam grandes esperanças mas também provocam grandes inquietações que exigem uma reflexão séria em torno do poder e dos riscos que a sua aplicação pode acarretar. É que os resultados a que a aplicação tecnológica conduz não são sempre nem exclusivamente bons ou maus.
De facto, todos conhecemos as estatísticas dos acidentes e das mortes ocorridas diariamente nas nossas estradas. Que se deverá fazer? Combater o uso deste meio de transporte que veio alterar o nosso modo de viver ou aprender a conduzir com civismo, respeitando as regras de condução e de trânsito? Muitos outros exemplos poderiam ilustrar esta ambiguidade dos resultados da ciência e da técnica e do poder que eles conferem.
A engenharia genética trouxe enormes benefícios ao tornar possível a inseminação artificial e a fertilização in vitro ou a prevenção e o controlo de determinadas doenças. Porém, algumas das suas aplicações tecnológicas levantam sérios problemas éticos que importa equacionar e discutir. Assim, os limites das tecnociências decorrem:
- Da natureza do seu objecto: procurando explicar ou compreender toda a realidade natural e humana, o seu objecto é tão vasto e complexo que se revela uma tarefa nunca totalmente acaba e sempre em realização ;
- Da natureza do sujeito que conhece: o sujeito é, como vimos, limitado na sua capacidade de conhecer e Influenciamesmo as conclusões a que pode chegar acerca da verdadeira natureza da realidade que desafia permanentemente a sua capacidade de penetrar nos segredos do seu funcionamento;
- Das limitações e insuficiências tecnológicas: a investigação e o progresso científico-tecnológico está dependente da existência de instrumentos de observação, de máquinas e outros aparelhos que condicionam a observação e a pesquisa científica e o registo das suas conclusões;
- Das condições históricas: a investigação está dependente das condições políticas e ideológicas de tal modo que, muitas vezes, os investigadores são impedidos ou perseguidos por persistirem em prosseguir determinadas investigações ou teorias, como foi o caso de Galileu, no século XVII, por defender a teoria heliocêntrica ou, mais recentemente, Darwin, ,por exemplo, que foi perseguido por ter defendido a teoria da origem das espécies. Este condicionalismo pode revestir a forma mais subtil de recusa de financiamento de um determinado projecto; como se sabe, actualmente, a ciência exige e mobiliza enormes recursos de modo que recusar um financiamento é uma forma eficaz de intervir e influenciar o que pode ou não ser investigado e a prioridades a privilegiar em matéria de investigação científico-tecnológica;
- Dos recursos existentes e disponíveis: a ciência custa dinheiro o que coloca as comunidades científicas na dependência do poder económico ou grandes grupos económicos que limitam a sua autonomia, ao canalizar os recursos para projectos de mais fácil ou mais imediata aplicabilidade prática ou ainda mais capazes de gerar lucros ou dominação sobre outros grupos ou povos, não acautelando os interesses da humanidade;
- Dos limites éticos: o questionamento da racionalidade científico-tecnológico consiste, como vimos,, em interrogar criticamente a ciência e as tecnologias de modo a esclarecer e distinguir aquilo que, mesmo tecnicamente possível, não deve ser feito. É que, sobretudo nas áreas atrás referidas das ciências biológicas, da produção de armas, de destruição massiva ou, ainda, no domínio do controlo das liberdades individuais através dos meios informáticos, a técnica pode ser uma ameaça real.
Os próprios cientistas não se podem alhear dos riscos que tais opções acarretam, nem demitir-se das suas responsabilidades individuais e sociais, devendo, por isso, informar e esclarecer a opinião pública acerca do que se pode fazer com a ciência , alertando para perigos a que determinados projectos de investigação podem conduzir. É claro que estes perigos e os abusos a que se tem vindo a assistir não podem legitimar a recusa e a negação do valor da ciência, esquecendo o seu papel fundamental no combate ao obscurantismo, à ignorância e à miséria, nem apelar ao regresso a uma sociedade anterior ao desenvolvimento tecnológico. O que se pretende é que a própria comunidade científica adopte uma atitude de reflexão sobre a sua prática e tome consciência do seu papel e da sua responsabilidade na promoção do bem-estar e da dignidade inerentes à condição humana.
	Características do conhecimento científico: a ciência tem as seguintes características:
- É Objectiva. As conclusões científicas são devidas a persistentes observações e experiências, em que o cientista procura ser o mais imparcial possível para só registar o que os próprios factos revelam. A objectividade, isto é, a tendência para ver as coisas como elas são é o carácter essencial do cientista. A ciência deve ser uma interpretação da realidade e não uma simples maneira de ver do sujeito;
- É Certa. Um conjunto de hipóteses nunca constitui uma ciência, mas tão somente um caminho para ela. A ciência assenta em bases evidentes e só admite conclusões a que se chega pelas regras de demonstração ou que são devidamente comprovadas pela experiência;
- É Metódica. É um encadeamento de conhecimentos desde os mais simples e mais fáceis de conhecer até aos mais complexos e mais difíceis de apreender. Cada ciência é um sistema de conhecimentos respeitantes ao mesmo objecto;
- É Universal. A ciência não trata do indivíduo, diz Aristóteles; ele apenas lhe interessa como ponto de partida. A ciência procura descobrir as causas e as leis, que são relações gerais que ligam os fenómenos;
- É Estável e Necessária. As leis científicas, por exprimirem as relações essenciais entre os fenómenos, dão nos uma garantia e uma persistência que permitem ao homem prever o desenrolar desses mesmos fenómenos no futuro; a explicação científica tem uma constância e necessidade que a contrapõe à mutabilidade das coisas. 
		Divisão e Classificação das Ciências segundo Augusto Comte.
Considerada objectivamente a ciência apresenta-se-nos como um todo. É neste sentido que Descartes afirma que todas as ciências estão tão unidas que é mais fácil estudá-las a todas do que isolar uma das outras. Hoje é impossível que o mesmo homem abranja todos os conhecimentos da sua época; a especialização impõe-se e daqui resulta o aparecimento das classificações de ciência. 
Augusto Comte, filósofo, considera apenas seis ciências, excluindo as ciências do espírito, com excepção da sociologia. O critério que segue é baseado na ordem histórica da constituição das ciências. Classifica-as segundo o grau de complexidade crescente e de rigor decrescente: das simples para as complexas, das abstractas para as concretas, das mais rigorosas para as menos rigorosas; considera cada nova ciência dependente da anterior, mas não totalmente absorvida nela, nem se podendo a ela reduzir, pois cada uma traz qualquer coisa de novo em relação à precedente.
As Matemáticas- as primeiras a constituir-se, na época helenística;
Astronomia- para Comte é uma mecânica concreta e a sua constituição data também do período helenístico;
Física- constituída no século XVII;
Psicologia- embora o seu conteúdo se engloba na Biologia
Química- formada no século XVIII;
Biologia- organizada no século XIX;
Sociologia- criada pelo próprio Comte, como uma física social
A QUESTÃO DA VERDADE.
ESTADOS DO ESPÍRITO DO SUJEITO FACE AO VERDADEIRO
Verdade e falso são dois conceitos para nós muito familiares, mas difíceis de definir. A verdade não é uma coisa: esta mesa, esta caneta não são rigorosamente verdades; no entanto, pensar que “esta caneta é preta” ou que “esta mesa é rectangular”, é dizer verdades, se de facto tais propriedades competem à caneta e à mesa. Por conseguinte, a verdade é um valor que qualifica um juízo; consiste em julgar que os objectos são o que são, isto é, em afirmar ou negar de um objecto (sujeito) certa qualidade (predicado). Este juízo será verdadeiro, se a qualidade afirmada ou negada se encontra ou não no objecto e falso, em caso contrário. A verdade, segundo Aristóteles, é dizer que é o que é, e dizer não é o que não é. Daqui podemos concluir que a verdade é a conformidade do pensamento com o objecto ou, o mesmo é dizer, o acordo do conhecimento com a coisa.
Este objecto ou coisa pode ser uma realidade exterior ao sujeito que pensa ou o próprio pensamento. No primeiro caso, há o acordo do pensamento com o objecto exterior – é a chamada verdade matemática ou real, ou ainda material. No segundo caso, há o acordo do pensamento com ele próprio – é a verdade formal, que a lógica formal pretende assegurar e que é objecto de certas ciências, como a matemática.
Muito embora o objecto da inteligência seja a verdade, esta nem sempre lhe aparece clara e, por vezes, só passando por diversos estados é que chega a adquiri-la e mesmo assim com grande esforço.
São quatro os principais estados do espírito em relação à verdade de um enunciado: a verdade pode apresentar-se-lhe como se não existisse – é o estado de ignorância; pode aparecer como possível – é o estado de dúvida; pode surgir-lhe como provável – é o estado de opinião; e, finalmente, pode deparar-se-lhe como evidente – é o estado de certeza.
Ignorância. A ignorância é ausência de todo o conhecimento relativamente a um enunciado. É verdadeiro? É falso? Não se sabe. A verdade deste enunciado, para o espírito em estado de ignorância, é comose não existisse; não há juízo.
A ignorância pode ser vencível ou invencível, consoante está ou não em nosso poder fazê-la desaparecer; culpável ou desculpável (inculpável), conforme tivermos ou não o dever de a dominar.
Dúvida. A dúvida é um estado de equilíbrio entre a afirmação e a negação. O espírito não adere, ou porque os motivos para afirmar e negar se equilibram (dúvida positiva) ou não se equilibram, mas não são suficientes para excluir o medo de errar (ainda dúvida positiva); ou não tem razão alguma nem para afirmar, nem para negar (dúvida negativa que equivale à ignorância). Não se emite ainda juízo.
As principais espécies de dúvida são a metódica ou cartesiana e a sistemática ou céptica. A primeira consiste na suspensão voluntária, fictícia ou real, mas sempre provisória, do assentimento a uma verdade tida por certa, com o fim de verificar o seu valor. Esta dúvida é necessária à constituição de qualquer ciência. Descartes foi o primeiro a estabelecê-la como método. A segunda é o estado definitivo do espírito relativamente a toda a verdade; é impossível legitimar as nossas verdades espontâneas que devemos ter sempre como incertas.
A dúvida metódica é provisória e é um meio para chegar à verdade; a céptica é definitiva e é um fim.
Opinião. A opinião é adesão receosa do espírito à afirmação ou negação de um enunciado. O espírito adere, porque razões mais graves pesam para uma parte; no entanto, não excluem o temor de o oposto ser verdadeiro; é um estado intermédio entre a dúvida e a certeza em que já é emitido o juízo, mas inseguro. O motivo que se impõe ao espírito e determina nele o estado de opinião tem o nome de probabilidade e, por isso, o enunciado a que se dá a adesão é provavelmente certo. O valor da opinião depende do grau de probabilidade e, portanto, dos motivos em que se baseia. 
Certeza. A certeza é a adesão firme e inabalável do espírito a uma verdade conhecida, sem receio de errar. A certeza supõe, pois, a manifestação completa da verdade, isto é, da conformidade do enunciado com a realidade, emitindo um juízo seguro. Esta manifestação faz-se mediante a evidência, que é o motivo e o fundamento da certeza como probabilidade e é o motivo da opinião.
Divisões da certeza
Podemos considerar as seguintes espécies da certeza:
a)	Quanto ao fundamento ou grau, divide-se em metafísica, física e moral. 
A metafísica ou matemática funda-se na própria essência das coisas, que é imutável; por conseguinte, a contraditória é não só falsa, mas absurda e inconcebível. É a certeza das matemáticas. Por exemplo: o todo é maior que a parte.
A física funda-se nas leis da natureza, por isso o oposto é simplesmente falso, mas não é absurdo, nem inconcebível, porque as leis porque as leis podem ser alteradas pelo Autor da Natureza, por meio do milagre, embora este seja tão raro que não abala a ciência. É a certeza das ciências da natureza. Por exemplo: o metal é bom condutor de electricidade.
A moral ou psicológica funda-se numa lei moral, a psicológica, em que entra o factor liberdade. É a certeza das ciências humanas. Exemplo: toda a mãe ama seus filhos. A certeza moral é uma certeza hipotética que admite mais excepções do que a física. Na metafísica, o contrário é impossível, na física é possível só para Deus e na moral é possível até para o homem.
b)	Quanto ao conhecimento dos motivos, divide-se em natural e científica. 
A natural existe, quando o conhecimento dos motivos é insuficiente para aderir sem temor o oposto, mas não é explícito e distinto de maneira a poder resolver as dificuldades. Esta é a certeza que constitui o conhecimento vulgar. A científica possui-se quando o conhecimento dos motivos é explícito e claro de maneira a poder debelar todas as dificuldades que se lhe oponham e a poder explicá-la. Esta é a certeza dos conhecimentos científico e filosófico.
c)	Segundo a vontade intervém ou não, divide-se em necessária e livre.
É necessária, se os motivos são de tal modo evidentes que forçam por si sós a inteligência à adesão, como sucede nos primeiros princípios.
É livre, se os motivos são suficientes para excluir o oposto mas a inteligência, por motivos de ordem prática, não adere, sendo por isso necessário o influxo da vontade, como sucede nas verdades de ordem religiosa.
	O Erro. Se a verdade lógica consiste em dizer que é, o que é, e que não é, o que não é, o erro consistirá em dizer que é, o que não é, e que não é, o que é; é a não conformidade do espírito com a realidade ou com as coisas. Erro é adesão firme àquilo que objectivamente é falso, mas que subjectivamente nos parece verdadeiro. 
O erro, resultando do desacordo do pensamento ou, mais precisamente, do juízo com as coisas, só existe no espírito que julga. As coisas são sempre verdadeiras no sentido no sentido ontológico e para errar é preciso julgar ( afirmar ou negar alguma coisa a seu respeito).
O erro distingue-se, assim, da ignorância pois enquanto esta consiste em nada saber e nada afirmar, aquele consiste em não saber e afirmar, o julgando saber. A ignorância é uma limitação da verdade: o ignorante não sabe; o erro é a negação da verdade: quem erra não sabe e julga e julga saber; é uma ignorância reforçada que se não conhece.
Devemos considerar, quanto ao erro, as suas causas e os remédios para o evitarmos.
	As Causas do Erro
As causas do erro podem ser de duas espécies: psicológicas e morais. Entre as psicológicas, enumeremos a falta de penetração do espírito que interpreta mal os dados dos sentidos, entendendo a adesão além daquilo que foi apreendido. É o caso de um homem que vê num estranho o amigo esperado com impaciência. Ordinariamente isto sucede por falta de atenção, por irreflexão e precipitação. A paixão também arrasta muitas vezes ao erro, pois nos impede de raciocinar correctamente. 
São causas morais: a vaidade, proveniente da demasiada confiança na nossa pessoa; o interesse de qualquer natureza, tanto económica e social como ideológica, pelo qual preferimos o que nos é favorável e se harmoniza com as nossas ideias; a preguiça intelectual, que não nos deixa inquirir o valor dos motivos e, por isso, nos leva a aceitar sem reflexão certas asserções ligeiramente formuladas.
	Remédios do Erro
Para evitar o erro, é preciso combatê-lo nas suas causas. Assim, o homem bem formado procede sempre com método e reflexão; acautela-se contra as sugestões da paixão e da imaginação; suspende o juízo e duvida, quando o julga necessário, não aceitando nada como verdadeiro senão o que conhece como tal, através dos meios legítimos que são a intuição e o raciocínio.
Além disso, desconfia um pouco de si mesmo e da perspicácia da sua razão; procura ser imparcial, não se subordinando a exigências práticas; é circunspecto e opõe à negligência uma atenção o mais enérgica possível.
Existem ainda outros tipos de conhecimento
a)	Conhecimento Religioso (Teológico) - cuja fonte primordial é divina ou sobrenatural. É valorativo, inspiracional, sistemático, não verificável, infalível e exacto.
b)	Conhecimento Mitológico – significação simbólica transmitida de geração em geração; considerado verdadeiro e entendido dentro de um grupo. Explicação de ordem natural.
c)	Conhecimento Intuitivo – a intuição entendida como capacidade de pressentir o imediato de um objecto na plenitude da sua realidade, tanto de ordem material quanto de ordem espiritual. Este tipo de conhecimento é imediato e difícil de se fundamentar.
Classificação das Ciências segundo Augusto Comte (1798-1857), filósofo francês e fundador da Sociologia; influenciado por Hegel, Condorcet e todo ambiente do século XVIII, fundou a chamada lei dos três estádios, na qual compara desenvolvimento do psiquismo humano com o crescimento do homem. Para ele, a mente do homem atravessa 3 estados: teológico, metafísico e positivo fazendo-os corresponder às fases da infância, juventude e maturidade. No estado positivo não se admite a justificação teológica nem metafísica mas sim a cientifica. O científico está ligado ao empírico, ao prático, ao mensurável. Na visão do Positivismo, a transiçãode um estado ao outro depende da simplicidade e complexidade do fenómeno em consideração. Quando for mais simples, rapidamente passará da fase teológica à metafísica. Se for mais complexa mais tempo requer para a sua transição.
É partir desta fase de raciocínio (Nível de simplicidade e complexidade das ciências) que Comte classifica as ciências em 7 categorias das mais simples às mais complexas. Matemática, Astronomia, a Física, a Química, a Biologia, a Sociologia e a Moral. Esta ultima por ser mais complexa levaria muito tempo a passar à categoria positivista pelo facto de não ser fácil a identificação dos elementos a serem considerados num acto moral. Esta visão foi severamente criticada por intelectuais do século XIX que estabeleceram uma nova classificação das ciências.
A Filosofia foi a mãe e origem de todas as ciências. A Matemática foi a primeira ciência a tornar-se autónoma da Filosofia. As outras ciências só vieram a ser independentes mais tarde, na época moderna, com o Renascimento. A Física instituiu-se como ciência particular no século XVII, com Galileu e Newton, e a Química no século XVIII com Lavoisier; a Biologia tornou-se ciência independente no século XIX com Claude Bernard; as ciências humanas (Psicologia, Sociologia e Antropologia) passaram a ser assumidas como ciências no final do século XIX e princípios do século passado. As várias ciências nascem a partir de perguntas que dizem respeito a realidades e objectos concretos. Cada ciência abarca um conjunto de respostas e explicações para uma dada realidade empírica e específica. A Filosofia, por sua vez, embora partilhando com muitas ciências as mesmas perguntas, tem uma vocação mais abrangente, pois, procurando compreender a realidade humana, abarca toda existência humana e tenta responder à pergunta universal e atemporal sobre o sentido da existência. A Física pergunta como se movem os corpos, a Biologia pergunta quais são as características dos organismos vivos, a Medicina interroga-se sobre as causas de determinadas doenças, a Sociologia estuda as comunidades humanas, a Historia pergunta pelo passado humano, entre outras; a Filosofia, por sua vez, pergunta pela verdade, quer saber como conhecemos, o que é a realidade, como distinguimos o bem do mal, o belo e o feio, se Deus existe, o que é o Homem, se existe alma, entre outras questões.
A questão da verdade. A verdade pode ser definida como sendo a correspondência entre o conceito (o que é dito) e a realidade seja ela empírica ou meta-empirica.
Muito embora o objecto da inteligência seja a verdade, esta nem sempre lhe aparece clara e, por vezes, só passando por diversos estados é que chega a adquiri-la e mesmo assim com grande esforço.
São quatro os principais estados do espírito perante a verdade de um enunciado: a verdade pode apresentar-se-lhe como se não existisse – é o estado de ignorância; pode aparecer como possível – é o estado de dúvida; pode surgir-lhe como provável – é o estado de opinião; e, finalmente, pode deparar-se-lhe como evidente – é o estado de certeza.
Ignorância. A ignorância é ausência de todo o conhecimento relativamente a um enunciado. É verdadeiro? É falso? Não se sabe. A verdade deste enunciado, para o espírito em estado de ignorância, é como se não existisse; não há juízo.
A ignorância pode ser vencível ou invencível, consoante está ou não em nosso poder fazê-la desaparecer; culpável ou desculpável (inculpável), conforme tivermos ou não o dever de a dominar.
Dúvida. A dúvida é um estado de equilíbrio entre a afirmação e a negação. O espírito não adere, ou porque os motivos para afirmar e negar se equilibram (dúvida positiva) ou não se equilibram, mas não são suficientes para excluir o medo de errar (ainda dúvida positiva); ou não tem razão alguma nem para afirmar, nem para negar (dúvida negativa que equivale à ignorância). Não se emite ainda juízo.
As principais espécies de dúvida são a metódica ou cartesiana e a sistemática ou céptica. A primeira consiste na suspensão voluntária, fictícia ou real, mas sempre provisória, do assentimento a uma verdade tida por certa, com o fim de verificar o seu valor. Esta dúvida é necessária à constituição de qualquer ciência. Descartes foi o primeiro a estabelecê-la como método. A segunda é o estado definitivo do espírito relativamente a toda a verdade; é impossível legitimar as nossas verdades espontâneas que devemos ter sempre como incertas. A dúvida metódica é provisória e é um meio para chegar à verdade; a céptica é definitiva e é um fim.
Opinião. A opinião é adesão receosa do espírito à afirmação ou negação de um enunciado. O espírito adere, porque razões mais graves pesam para uma parte; no entanto, não excluem o temor de o oposto ser verdadeiro; é um estado intermédio entre a dúvida e a certeza em que já é emitido o juízo, mas inseguro. O motivo que se impõe ao espírito e determina nele o estado de opinião tem o nome de probabilidade e, por isso, o enunciado a que se dá a adesão é provavelmente certo. O valor da opinião depende do grau de probabilidade e, portanto, dos motivos em que se baseia. 
Certeza. A certeza é a adesão firme e inabalável do espírito a uma verdade conhecida, sem receio de errar. A certeza supõe, pois, a manifestação completa da verdade, isto é, da conformidade do enunciado com a realidade, emitindo um juízo seguro. Esta manifestação faz-se mediante a evidência, que é o motivo e o fundamento da certeza como probabilidade e é o motivo da opinião. 
Divisões da certeza. Podemos considerar as seguintes espécies da certeza:
d)	Quanto ao fundamento ou grau, divide-se em metafísica, física e moral. 
A metafísica ou matemática funda-se na própria essência das coisas, que é imutável; por conseguinte, a contraditória é não só falsa, mas absurda e inconcebível. É a certeza das matemáticas. Por exemplo: o todo é maior que a parte.
A física funda-se nas leis da natureza, por isso o oposto é simplesmente falso, mas não é absurdo, nem inconcebível, porque as leis porque as leis podem ser alteradas pelo Autor da Natureza, por meio do milagre, embora este seja tão raro que não abala a ciência. É a certeza das ciências da natureza. Por exemplo: o metal é bom condutor de electricidade.
A moral ou psicológica funda-se numa lei moral, a psicológica, em que entra o factor liberdade. É a certeza das ciências humanas. Exemplo: toda a mãe ama seus filhos. A certeza moral é uma certeza hipotética que admite mais excepções do que a física. Na metafísica, o contrário é impossível, na física é possível só para Deus e na moral é possível até para o homem.
e)	Quanto ao conhecimento dos motivos, divide-se em natural e científica. 
A natural existe, quando o conhecimento dos motivos é insuficiente para aderir sem temor o oposto, mas não é explícito e distinto de maneira a poder resolver as dificuldades. Esta é a certeza que constitui o conhecimento vulgar. A científica possui-se quando o conhecimento dos motivos é explícito e claro de maneira a poder debelar todas as dificuldades que se lhe oponham e a poder explicá-la. Esta é a certeza dos conhecimentos científico e filosófico.
f)	Segundo a vontade intervém ou não, divide-se em necessária e livre.
É necessária, se os motivos são de tal modo evidentes que forçam por si sós a inteligência à adesão, como sucede nos primeiros princípios.
É livre, se os motivos são suficientes para excluir o oposto mas a inteligência, por motivos de ordem prática, não adere, sendo por isso necessário o influxo da vontade, como sucede nas verdades de ordem religiosa.
Critério de verdade. Critério é o sinal que nos permite distinguir uma coisa da outra; é a norma pela qual distinguimos o conhecimento verdadeiro do falso. Desta forma, o critério fundamental da verdade, em teoria de conhecimento, é a evidência. A evidencia pode ser definida como sendo a clareza com que a verdade se impõe ao nosso espírito. É uma espécie de luz que ilumina a realidade e nos permite ver que aquilo que aquilo que temos no nosso espírito está conforme a esta mesma realidade e dai concluirmos que ela é verdadeira.

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