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Terceirização E A Precarização Do Trabalho - EDSON JOSÉ DA COSTA FILHO - 2020

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FACULDADE EVANGÉLICA DE GOIANÉSIA 
CURSO BACHARELADO EM DIREITO 
 
EDSON JOSÉ DA COSTA FILHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERCEIRIZAÇÃO E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GOIANÉSIA - GO 
2020
 
EDSON JOSÉ DA COSTA FILHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERCEIRIZAÇÃO E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, em 
Formato de Artigo, apresentado a Faculdade 
Evangélica de Goianésia como requisito 
parcial a obtenção do Título de Bacharel em 
Direito, sob orientação da Prof.ª. Me.ª. 
Simone Maria Silva Rodrigues 
 
 
 
 
 
 
 
 
GOIANÉSIA - GO 
2020
 
EDSON JOSÉ DA COSTA FILHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERCEIRIZAÇÃO E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO 
 
 
Goianésia, Goiás, _____ de ____________________ de 2020 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
____________________________________________________ 
Simone Maria Silva Rodrigues (Presidente) 
 
 
 
 
 
 
____________________________________________________ 
(Arguidor) 
 
 
 
 
 
 
____________________________________________________ 
 (Arguidor) 
 
 
 
 
 
3 
 
TERCEIRIZAÇÃO E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO 
 
Edson José Da Costa Filho 1 
Simone Maria Silva Rodrigues2 
 
RESUMO 
O estudo apresentado se insere no ramo trabalhista e estuda a inovação advinda da terceirização e a 
complexa relação trabalhista qu existem nos contratos de terceirização, especialmente se estuda a 
possibilidade de precarização do trabalho nas relações terceirizada estudando ainda os impactos da 
reforma trabalhista de 2017 nas relações de terceirização. A problemática desta pesquisa é 
compreender quais as complexidades da terceirização e especialmente quais os seus impactos no 
ordenamento pátrio. O objetivo geral da pesquisa é compreender os impactos da terceirização. Já os 
objetivos específicos se delimitam em estudar as relações trabalhistas no direito brasileiro, 
compreender o histórico da terceirização no brasil, estudar os impactos da reforma trabalhista na 
relação terceirizada. A metodologia aplicada ao estudo é dedutiva, permeando um estudo com 
instrumentos bibliográficos e documentais, com abordagem exploratória e em um estudo qualitativo. 
Os principais autores utilizados no estudo são Basile (2012), Cassar (2018), Delgado (2019), Leite 
(2018), Romar (2018) e Viana (2019). O estudo se divide em três tópicos distintos, sendo o primeiro 
um estudo de contextualização, o segundo tópico compreendendo o histórico da terceirização e o 
terceiro tópico estudando os impactos da reforma trabalhista de 2017 nos limites da terceirização. Ao 
final do estudo se compreende que a terceirização, como é praticada hoje, se insere no limite da 
legalidade e sendo a precarização quase que uma regra nestas relações que possibilitam violações 
constitucionais claras e até fraudes trabalhistas travestidas de legalidade. 
 
PALAVRAS-CHAVE: DIREITO; TERCEIRIZAÇÃO; PRECARIZAÇÃO; TRABALHO. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O direito do trabalho é repleto de complexidades que aumentam ao longo 
das inovações jurídicas e mudanças advindas das próprias mudanças da sociedade 
em si e suas relações de trabalho. A modernização das relações de trabalho e as vias 
neoliberais atuais vem acarretando em novas formas de relações de trabalho, sendo 
a terceirização uma das mais complexas relações. 
Diante das complexidades modernas a que merece grande atenção e 
sendo discutida neste trabalho é a terceirização do trabalho e sua inclusão no 
ordenamento brasileiro, bem como o entendimento da precarização do trabalho 
causado por esta nova espécie de relação trabalhista. 
A terceirização inclui complexidades na relação de trabalho, por ser uma 
relação que inclui três sujeitos é fácil confundir as responsabilidades do empregador 
coma do tomador de serviços e assim o empregador podendo ser lezado em seus 
direitos. 
 
1 Graduando em direito pela Faculdade Evangélica de Goianésia – FACEG. 
2 Orientadora, advogada, Docente, Mestre em Ciência da Propriedade Intelectual. 
4 
 
A problemática desta pesquisa é compreender quais as complexidades da 
terceirização e especialmente quais os seus impactos no ordenamento pátrio. Com o 
intuito de responder a tal problema, o objetivo geral da pesquisa é compreender os 
impactos da terceirização, bem como os objetivos específicos se delimitam em 
estudar as relações trabalhistas no direito brasileiro, compreender o histórico da 
terceirização no brasil, estudar os impactos da reforma trabalhista na relação 
terceirizada. 
A metodologia aplicada ao estudo é dedutiva, permeando um estudo com 
instrumentos bibliográficos e documentais, com abordagem exploratória e em um 
estudo qualitativo. Os principais autores utilizados no estudo são Basile (2012), 
Cassar (2018), Delgado (2019), Leite (2018), Romar (2018) e Viana (2019). 
O estudo ainda proporcionou a conclusão de que a terceirização se fixa 
como uma complexa inovação jurídica e claramente se inserindo em um limiar entre 
a legalidade e a violação de preceitos constitucionais, podendo ser aplicada sem a 
precarização, porém sendo a violação de direitos uma possibilidade e quase uma 
certeza. 
 
 
1. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE DIREITO DO TRABALHO 
 
Com a finalidade de estudar a funda as precarizações do direito do 
trabalho, trazida por uma terceirização, é necessário estudar previamente a história 
trabalhista e evolução desde ramo jurídico. Para um melhor estudo do direito do 
trabalho é necessário expor seu contexto histórico que leva até as flexibilizações dos 
direitos conquistados ao longo do tempo. 
O trabalho é considerado uma ação essencial humana, se trata da busca 
por objetivos humanos que se inicia por uma busca de alimentos, posteriormente uma 
busca por seu sustento e em finais casos uma busca por mantimento econômico. 
(FERRARI, 2011) 
Ao que se refere a etimologia da palavra “Trabalho” esta esconde um 
sentido intrínseco que remete a ação laborativa. Conforme os estudos de Ferrari 
(2011) a palavra trabalho pode deter diversos sentidos a depende da raiz da 
linguagem, a principal etimologia aceita perante a comunidade cientifica é da 
5 
 
derivação de “tripalie” que era um instrumento de tortura feito de três pontas e utilizado 
para fazer os escravos trabalharem. 
Ferrari (2011) ainda expõe a possibilidade de trabalho derivar do jargão em 
latim trabare, viga de sustentação de uma casa, posteriormente o nome evoluiu para 
o castelhano com a palavra trabaculare que seria a ação de construir uma casa, ao 
final a palavra se tornou sinônimo de labuta e consequentemente evoluiu para trabalho 
como conhecemos hoje em dia. 
Já para Basile (2012) o trabalho detém uma raiz biológica intrínseca do ser 
humano, observando uma noção da pirâmide das necessidades, o ser humano 
necessita de trabalho para acessar as suas necessidades biológicas, suas 
necessidades psíquicas e seu mantimento a longo prazo; conforme o autor até as 
necessidades emocionais necessitam de trabalho para serem saciadas. 
O trabalho então pode ser conceituado como uma ação para saciar as 
necessidades humanas, sejam elas fisiológicas ou emocionais, nisto o trabalho que 
mais conhecemos é aquele profissional, ou seja, o trabalho mais comum é aquele em 
que existe uma relação entre indivíduos e que seja prometida uma contraprestação 
em razão da atividade laboral. (BASILE, 2012; DELGADO, 2019; FERRARI, 2011) 
Delgado (2019) afirma que embora o conceito do trabalho seja diverso, 
podendo este conceito ser definido de diversos modos e não existindo um conceito 
único ou majoritário na doutrina pátria, embora todas as possibilidades de conceito o 
direito do trabalho é mais fácil de definir seu conceito em razão da existência de uma 
relação entre indivíduos. 
Com a finalize de entender as definições os ensinamentos de Cassar 
(2018) exemplificam uma intrínseca analise dos pensamentos e vertentes que definem 
as classificações do direito do trabalho: 
 
O trabalhosempre foi exercido pelo homem. Na antiguidade, o homem 
trabalhava para alimentar-se, defender-se, abrigar-se e para construir 
instrumentos. A formação de tribos propiciou o início das lutas pelo poder e 
domínio. Os perdedores tornavam-se prisioneiros e, como tais, eram mortos 
e comidos. Alguns passaram à condição de escravos, executando serviços 
mais penosos. A partir da escravidão surgiu o trabalho subordinado em favor 
de terceiro. (CASSAR, 2018, p. 25) 
 
Este fragmento do estudo de Cassar (2018) demonstra a existência do 
trabalho a muito tempo, entretanto demonstra ênfase que somente através de modos 
árduos e arcaicos como a escravidão que nasce o trabalho subordinado que é o objeto 
do direito do trabalho 
6 
 
Fica evidente que o conceito de trabalho é amplo e de difícil conceito, dada 
a sua etimologia complexa de definição e bem como a falta de consenso da 
comunidade cientifica, somente é possivel definir o conceito de trabalho como uma 
ação laborativa com finalidade prevista, já para direito do trabalho os conceitos são 
melhores definidos com poucas possibilidades de divergência doutrinaria. 
Conforme Delgado (2019) o direito do trabalho pode ser definido por 3 
linhas doutrinarias diversas, objetiva, subjetiva e mista. As definições de direito do 
trabalho sempre consideram a relação entre indivíduos onde existe uma troca da força 
laborativa em troca de uma contraprestação. 
O Conceito Objetivista de direito do trabalho define que este é regido por 
práticas, princípios, normas e definições jurídicas sobre a relação de trabalho entre 
partes. Já para definições Subjetivistas se entende o direito do trabalho como o 
conjunto de direitos de uma classe ou grupo de pessoas que se caracterizam por sua 
atividade laborativa. Em uma definição mista o direito do trabalho é um conjunto de 
princípios e normas que favorecem uma certa classe de trabalhadores ou que auxilia 
as relações de emprego da sociedade. (DELGADO, 2019) 
É importante o estudo da definição do direito do trabalho para que seja 
possibilitada a definição do nascimento histórico de direito de trabalho. Observando 
que a definição subjetivista entende o direito do trabalho como intrínseco das relações 
e da coletividade, já as definições objetivistas demonstram conceitos de raízes legais 
do direito do trabalho. Com estas definições objetivistas e subjetivistas observa-se que 
um pressupõe a existência de um estado que controla as relações e disciplina direitos, 
enquanto a outra considera o direito do trabalho como pertencente a classes, grupos 
e intrínsecos do ser humano. (DELGADO, 2019; ROMAR, 2018) 
O histórico do direito do trabalho depende da vertente doutrinaria seguida, 
enquanto que os subjetivistas observam o direito do trabalho como nascendo nos 
períodos de criação das sociedades tribais e primeiras cidades. Para esta linha de 
pensamento o direito do trabalho nasce timidamente em sociedades tribais com as 
divisões de funções. Para as linhas de pensamento objetivistas o estado é o protetor 
e o direito do trabalho nasce de imposição da criação das primeiras sociedades 
estruturadas. (DELGADO, 2019; ROMAR, 2018) 
Embora existam as definições diversas do nascimento do direito do 
trabalho a doutrina é coesa em delimitar períodos da história do direito do trabalho, 
neste sentido a doutrina majoritária define os períodos pré-industriais, revolução 
7 
 
industrial como nítido período de passagem e perdido contemporâneo; existem ainda 
doutrinas que definem o período moderno anterior ao contemporâneo. (ROMAR, 
2019) 
O período inicial é caracterizado como período arcaico do direito do 
trabalho e desenvolvido nas comunidades e regido praticamente por uma noção 
contratualista, no período arcaico inexiste um direito do trabalho estruturado ou 
noções de proteção do trabalhador. (FERRARI, 2011) 
Durante o período arcaico do direito do trabalho, também conhecido como 
período pré-industrial, as relações de trabalho são definidas primariamente por parte 
de contratos, poucas são as ingerências do estado nestas relações trabalhistas. 
(ROMAR, 2011) 
Conforme leciona Leite (2018) esse período arcaico ou pré-industrial do 
direito do trabalho se divide ainda mais, podendo ser observado o período 
escravocrata, o feudalismo e as servidões, o período das corporações de oficio e 
chegando ao período da revolução industrial a locação da mão de obra. 
Em um período pré-histórico a escravidão era a principal forma de 
subordinação e das relações de trabalho, mesmo que estas sejam impostas, neste 
período a mão de obra escrava era a principal forma de construção e evolução das 
grandes cidades e cultivos das lavouras. Com a evolução da sociedade o trabalho 
passa a ser mais respeitado e a pratica da escravidão deixa de ser comum, sendo 
esta pratica escravagista banidas de certas sociedades. (LEITE, 2018) 
Surge por volta do século IV até o século XII a vinculação do homem a terra 
e as servidões assim vinculando o homem ao trabalho na terra nos períodos das 
doutrinas feudalistas, o homem para a ser um empregado da terra que serve ao dono 
da referida terra. (LEITE, 2018) 
Romar (2018) afirma que o período da servidão detém uma especial 
distinção dos demais em razão de ser este um período em que se inicia o acumulo de 
capital por parte dos nobres e da burguesia, enquanto que são dados direitos de 
escolha ao trabalhador que não era mais escravo podendo cultivar em uma terra, 
existindo somente a imposição de ter que pagar os direitos de servidão com os lucros 
percebidos de sua colheita ou rebanho. 
Posteriormente nascem as corporações de oficio na qual o aprendizado 
passa a ser a recompensa do homem no trabalho até que se torne profissional e possa 
desempenhar seu trabalho de forma a auferir renda. (ROMAR, 2018) 
8 
 
Sobre as corporações de oficio se iniciam as vinculações do trabalho a um 
superior que passa a controlar não somente as ações de trabalho, como também é 
controlada as jornadas, assim o aprendiz poderia passar em período laborativa até 18 
horas, enquanto que os mestres desempenhavam até 14 horas de trabalho. (ROMAR, 
2018) 
O nascimento do modelo industrial é marcado por uma série de questões 
históricas e geográficas em razão do declínio do sistema feudal e do investimento em 
novos métodos de produção por parte da burguesia europeia, conforme leciona 
Romar (2019, p. 41): 
 
O declínio da sociedade feudal, o crescimento das cidades e o 
desenvolvimento e ampliação do comércio levaram a Europa Ocidental, a 
partir de meados do século XVIII, a um extenso processo de transformação 
que marcou o estabelecimento do sistema capitalista como modelo 
econômico dominante. O acúmulo de capitais pela burguesia permitiu 
investimentos na produção, que propiciaram o aperfeiçoamento das técnicas 
e a invenção e desenvolvimento de máquinas capazes de fabricar milhares 
de produtos em pouco tempo. 
 
No período do século XVIII e XIX é que o trabalho se revoluciona com o 
período da revolução industrial e a explosão das linhas de produção como método de 
produção superior as corporações de oficio. Este período se caracteriza por 
desenvolver maquinários e sobrepor os demais meios de produção artesanal. (LEITE, 
2018, ROMAR, 2018) 
Conforme exposto acima os ensinamentos de Delgado (2019) demonstram 
que o modelo adotado durante a revolução industrial substituíra os modelos de 
manufatura e corporações de oficio; nas palavras do autor: 
 
Trata-se da Revolução Industrial, no século XVIII, e suas consequências na 
estruturação e propagação do sistema econômico capitalista; da forma de 
produção adotada por esse sistema, baseada no modelo chamado grande 
indústria, em oposição às velhas fórmulas produtivas, tais como o artesanato 
e a manufatura. (DELGADO, 2019, p. 164) 
 
A importância desenvolvida no período da Revolução Industrial para com o 
direito do trabalho é a criação dos primeiros instrumentos legais de proteçãoao 
trabalhador, tais como salário mínimo, controle da jornada de trabalho e vedação de 
trabalho da mulher gestante e da criança em certos casos. (LEITE, 2018, ROMAR, 
2018) 
O período da revolução industrial marca mudança da subordinação geral 
do trabalhador, nascem as ideias de empregado, onde o trabalhador não é mais 
9 
 
estritamente vinculado a um senhorio ou ao mestre de ofício tendo que seguir aquele 
caminho profissional para o resto da vida. (DELGADO, 2019) 
Com a revolução industrial o trabalhador passa a ser o aludido empregado, 
fazendo a locação de sua mão de obra e dadas as grandes possibilidades de emprego 
existe uma certa liberdade na escolha do empregado, possibilitando-o escolher a 
melhor profissão e mudar de profissão caso lhe convenha. (DELGADO, 2019) 
O grande problema do período da revolução industrial é a concentração de 
poder no empregador e sendo o empregado uma mera ferramenta para a produção e 
consequente acumulo de capital por parte da burguesia. Com tais questões passam 
os trabalhos nas linhas de produção serem degradantes sem grande importância com 
a segurança, saúde, criando postos com longas jornadas de trabalho e baixa 
remuneração, assim aumentando o lucro do dono das grandes fábricas. (CASSAR, 
2018) 
As explorações causadas por parte dos modelos capitalistas e sendo 
agravadas as lacunas sociais, desencadearam uma série de problemas sociais e 
revolta das classes trabalhadoras. Em razão de tais complexidades foi necessária a 
intervenção do estado para corrigir os problemas sociais e dar dignidade ao 
trabalhador. (CASSAR, 2018) 
Os direitos conseguidos no período da revolução industrial marcaram uma 
grande evolução exponencial dos direitos trabalhistas, sendo estes direitos 
conseguidos durante a revolução industrial o estopim para o nascimento de novos e 
mais modernos direitos de proteção ao trabalhador. De acordo com as lições de 
Romar (2018, p. 44): 
 
Assim, a evolução histórica do trabalho humano leva ao surgimento de uma 
legislação estabelecendo normas mínimas de proteção ao trabalhador, cuja 
importância foi aumentando com a evolução econômica e política dos países. 
 
Com a evolução dos direitos trabalhistas advindos do período da revolução 
industrial se iniciam movimentos globais por um desenvolvimento dos direitos 
trabalhistas e proteções para o empregado em face as possibilidades de exploração. 
(ROMAR, 2018) 
O período moderno e contemporâneo do direito do trabalho é complexo e 
em questão de pouco mais de 1 século desenvolveu princípios e direitos essenciais 
ao trabalho nos tempos atuais. 
No brasil as principais questões históricas que atingiram o direito 
10 
 
trabalhistas foram as revoluções de direito do período Vargas com o nascimento da 
CLT, que figura até hoje em dia como o documento normativo de maior importância 
para a proteção do trabalhador. (BASILE, 2012) 
As evoluções do direito do trabalho permearam uma escalada por direito 
ao mínimo existencial e uma proteção ao trabalhador durante o século XX, a criação 
da CLT em 1943 foi definidamente uma jogada política por apoio popular do governo 
ao passo que delimitou uma série de seguranças e direitos ao trabalhador. (BASILE, 
2012) 
Vale ressaltar a criação da carteira de trabalho em 1934 como formalização 
do trabalho e consequentemente como documento comprobatório de trabalho para se 
conseguir direitos e para previdência social. 
A escalada de direitos se dá com maior importância no período de 1988 
com a criação da CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 
1988 que levou direitos trabalhistas a um patamar constitucional e garantiu uma série 
de direitos como absolutos. 
Com a Constituição Federal de 1988 foram levados a patamar 
constitucional as normas trabalhistas da proteção ao salário mínimo, irredutibilidade 
de subsídios, proteção da jornada de trabalho, proteção da garantia de emprego ou 
dispensa sem justa causa e diversos outros direitos que são considerados como 
princípios trabalhistas e até demonstrados como cláusulas pétreas da CF/88. 
(DELGADO, 2019; ROMAR, 2018) 
O ordenamento trabalhista sofreu grandes mudanças de seu período de 
criação durante o século XVIII com a revolução industrial até os períodos do século 
XX com o nascimento da CF/88, entretanto somente no século XXI que os direitos 
trabalhistas conseguidos durante todo este percurso histórico passam a ser 
flexibilizados e reduzidos; sob a ótica de uma flexibilização em razão da adequação 
ao modelo global. (ROMAR, 2018) 
Em 2017 foi inserido no ordenamento uma reforma trabalhista, por meio da 
lei 13.467/2017, que passou a flexibilizar direitos e facilitar a negociação do 
empregador com o empregado, com tal medida se esperava gerar a possibilidade de 
novos empregos e a movimentação do mercado nacional. (DELGADO, 2019) 
O principal aspecto que merece estudo sobre a aludida reforma trabalhista 
é a possibilidade de terceirização de serviços que impacta em uma possivel 
precarização de serviços e violações de direitos conseguidos ao decorrer de uma luta 
11 
 
histórico por proteção ao trabalhador. 
Conforme afirma Delgado (2019) sobre a reforma trabalhista nasce a 
possibilidade de precarização do trabalho e uma espécie de “fraude legal” através da 
terceirização, onde o empregador contrata o empregado como se contratasse uma 
empresa e repassar valor irrisório sem o pagamento de verbas trabalhistas ou se 
preocupar com tributações sociais. Completando, as palavras de Delgado (2019, p. 
248): 
 
Nesse grupo de contratos a prazo regidos pela CLT, pode-se acrescentar, do 
ponto de vista estatístico, o contrato de trabalho temporário, regido pela Lei 
n. 6.019/1974. Contudo, não se trata de relação meramente bilateral, porém 
de relação jurídica trilateral, típica da terceirização. 
 
Neste sentido, o estudo presente desenvolve-se buscando entender os 
impactos da terceirização do trabalho, observando ainda mais as possibilidades de o 
empregador poder gerar violações de direitos de trabalho com essa terceirização e as 
possíveis fraudes de tal instituto trabalhista. 
 
 
2. ASPECTOS HISTÓRICOS DA TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL 
 
Conforme observado anteriormente o trabalho é uma questão essencial 
humana e necessária para sua subsistência, especialmente em sociedade o trabalho 
se torna uma questão comum e de grande valor para a garantia de continuidade da 
sociedade. 
As mudanças dos trabalhos são diversas ao longo do tempo, desde as 
mudanças por buscas de melhores condições de trabalho e até a transformação dos 
modos de trabalho; se destaca a existência do moderno homeoffice e especialmente 
a terceirização que vem ganhando mercado desde o século passado. (DELGADO, 
2019) 
Conforme informa Delgado (2019) a locação de mão de obra é uma 
questão tão antiga quanto o próprio trabalho, sendo bem observada na Roma e Grécia 
antiga, locais nos quais já existia uma espécie de terceirização de trabalho com a 
contratação de senhores que locavam mão de obra para certas empreitadas. Na 
Roma e Grécia antiga apesar da existência de uma terceirização, não é possível 
considerar uma terceirização de fato e que fosse reconhecida. 
12 
 
Delgado (2019) entende que a terceirização apenas passa a ser realmente 
consolidada a partir do século passado e as relações modernas de trabalho, 
especialmente com o nascimento das multinacionais e grandes empresas que tem 
que produzir sob a vigência de diversas normas trabalhistas de dois ou mais países; 
assim sendo mais simples terceirizar o serviço. 
Já para Romar (2018), a terceirização do trabalho somente existe a partir 
do momento das corporações de ofício, especialmente aquelas desenvolvidas a partir 
do século XV e com o domínio das grandes companhias europeias. As corporações 
de ofício intermediavam a mão de obra e desenvolviam contratos de empreitada que 
podem ser considerados o nascimento da terceirização regulamentada, conformeos 
contratos das corporações e das legislações que envolviam as companhias. 
Romar (2018) ainda faz a ressalva de que a terceirização somente pode 
ser considerada, consolidada, como a conhecemos hoje, a partir do momento em que 
o estado passa a permitir esta forma de contrato de trabalho. Assim, o autor referido 
entende que a consolidação da terceirização somente pode ser concretizada a partir 
da regulamentação desta forma de trabalho. 
Neste mesmo sentido os estudos de Silva (2017) informando que a 
terceirização brasileira somente nasce com as primeiras legislações esparsas, que já 
figurava a muito tempo, porém, sendo desenvolvida por meras legislações esparsas 
até o momento da reforma trabalhista de 2017. Conforme o autor: 
 
terceirização brasileira: ao longo de muitas décadas, somente leis esparsas 
e insuficientes dispuseram a respeito desse fenômeno, que, sem se 
preocupar se havia ou não lei específica sobre ele, galopou velozmente por 
todos os ramos da atividade econômica e da administração pública. Premido 
por essa contingência, o TST editou a Súmula 331, em 1993, que, de certa 
forma, balizou os parâmetros mínimos de sobrevivência na selva da 
terceirização. No entanto, isso está longe de ter sido uma legislação forçada 
pelo TST ou uma “criação de obrigações”: antes, era uma interpretação do 
art. 455 da CLT (sobre empreiteiro e subempreiteiro) combinada com a Lei 
6.019/1974 (trabalho temporário), para, a partir desse raciocínio, levar-se 
analogamente a solução para os demais casos de aplicação do regime de 
terceirização. (SILVA, 2017, p. 14) 
 
A fusão da interpretação do trabalho temporário com o artigo 455 da CLT 
fez nascer o que é conhecido como a terceirização, porém, se tratava apenas de uma 
interpretação da lei e inexistindo qualquer legislação concreta sobre a questão. Isso 
levou ao TST editar a súmula 331 a qual implicava a responsabilidade subsidiaria dos 
empregadores, seja o empregador de fato ou o tomador de serviço. 
Sobre este histórico Leite (2019) afirma que a Súmula 331 do TST foi 
13 
 
essencial na luta dos sindicatos para evitar a existência da terceirização em massa 
nos mais diversos setores. A complexidade da terceirização só vem se normalizar, 
juridicamente, a partir da reforma trabalhista de 2017 que altera a legislação de 
trabalho temporário e a criação do conceito de empresas especializadas na prestação 
de serviço a terceiros. 
Observado este histórico breve, é necessário ainda entender as definições 
modernas de terceirização e o conceito doutrinário sobre o tema. Romar (2019) 
definindo a terceirização como o contrato de trabalho com a interposição de um 
terceiro na relação trabalhista; nas palavras da autora: 
 
Terceirização é a contratação de trabalhadores por interposta pessoa, ou 
seja, o serviço é prestado por meio de uma relação triangular da qual fazem 
parte o trabalhador, a empresa terceirizante (prestadora de serviços) e a 
tomadora dos serviços. O trabalhador presta serviços para a tomadora, mas 
sempre por intermédio da empresa terceirizante, não havendo contratação 
direta neste caso. Trata -se, portanto, de uma subcontratação de mão de 
obra. O trabalho não é prestado por meio de uma relação bilateral, como 
tradicionalmente ocorre na relação de emprego. (ROMAR, 2019, p. 169) 
 
Sobre a terceirização do trabalho, Delgado (2019) faz importantes 
considerações de que a palavra “terceirização” pode induzir a uma intuição errada de 
que se trata de uma intervenção de terceiro estranho na relação, porém na 
terceirização trabalhistas o terceiro age como um empregador que comanda seus 
empregados em certa tarefa para outra pessoa. 
Com a definição concreta, técnica e precisa de Delgado (2019), o conceito 
de terceirização é uma relação de trabalho trilateral, diferenciada das comuns relações 
trabalhistas bilaterais; nas palavras do autor: 
 
Para o Direito do Trabalho terceirização é o fenômeno pelo qual se dissocia 
a relação econômica de trabalho da relação justrabalhista que lhe seria 
correspondente. Por tal fenômeno insere-se o trabalhador no processo 
produtivo do tomador de serviços sem que se estendam a este os laços 
justrabalhistas, que se preservam fixados com uma entidade interveniente. A 
terceirização provoca uma relação trilateral em face da contratação de força 
de trabalho no mercado capitalista: o obreiro, prestador de serviços, que 
realiza suas atividades materiais e intelectuais junto à empresa tomadora de 
serviços; a empresa terceirizante, que contrata este obreiro, firmando com ele 
os vínculos jurídicos trabalhistas pertinentes; a empresa tomadora de 
serviços, que recebe a prestação de labor, mas não assume a posição 
clássica de empregadora desse trabalhador envolvido. 
 
Conforme o fragmento acima, é de se afirmar que a relação de trabalho por 
meio da terceirização é uma relação trabalhista incomum, a qual demonstra a 
intervenção de um terceiro e uma certa caracterização da prestação de serviço para 
14 
 
pessoa diversa do empregador. 
Uma questão de imensa importância nas relações de terceirização é o 
entendimento de empregado e empregador, vez que estas noções são de extrema 
importância para demonstrar quem é a mão de obra e quem será o responsável por 
parte dos direitos trabalhistas. 
Anteriormente a reforma trabalhista de 2017 era considerado que o 
empregador seria o contratante do empregado, enquanto que o beneficiado com o 
serviço seria o tomador, porém sendo considerado o tomador do serviço como um 
responsável solidário na relação de emprego; conforme se observa da redação da 
Súmula 331 do TST. Com isto seria até considerado que o tomador de serviços como 
um empregador em similar sentido ao empregador de fato, valendo ressaltar que esta 
era corrente minoritária defendida por poucos doutrinadores como Saraiva e Souto 
(2015). 
Após a reforma trabalhista de 2017 a responsabilidade do tomador de 
serviços passa a ser bem menor e defendida como inexistente por algumas doutrinas, 
tais como a de Romar (2018), porém pode se observar que a súmula 331 não foi 
revogada e consequentemente podendo ser aplicada em certos tipos de contratos. 
Neste sentido resta uma dúvida real sobre a responsabilidade do tomador 
de serviços como sendo ou não uma espécie de empregador, o que vem sendo mais 
aceito por parte da doutrina é uma relação tríade entre o empregado a empresa 
empregadora e a tomadora do serviço. Romar (2018) considera empregado como 
aquele que presta os serviços para a empresa tomadora, considerando ainda 
empregador aquela empresa prestadora de serviços e por fim a empresa tomadora 
como apenas uma contratante e sem grandes responsabilidades ou relações 
trabalhistas diretas; neste sentido a autora fala em empregado, empregador e 
contratante de serviços. 
Já para Renzetti (2018) existe uma relação de emprego entre o empregado 
e a empresa prestadora de serviço, existindo ainda uma relação contratual entre a 
empresa prestadora e a empresa tomadora de serviços, porém ainda resta a 
existência de responsabilidade trabalhista subsidiaria entre a empresa tomadora e o 
empregador. O autor referido afirma isso em razão da necessidade de proteção em 
relação ao trabalhador, o qual é direito constitucional, bem como da súmula 331 não 
sendo revogada, informando ainda o referido autor que tal concretização de sua teoria 
necessita da consolidação da jurisprudência nos casos reais. 
15 
 
Delgado (2019) tece críticas as reformas feitas em 2017, especialmente as 
questões que alterarão a legislação de trabalho temporário e permitiram a ampliação 
do trabalho terceirizado. O autor informa que as alterações dão grande brecha para 
inconstitucionalidade de certos contratos e violação de direitos dos trabalhadores. 
Delgado (2019) ainda ressalta que a norma alterada permitiria a 
inexistência de responsabilidades da empresa tomadora de serviços, porém tal 
questão gravemente viola preceitos constitucionaiscomo a igualdade, vez que é 
facilmente possível que a empresa tomadora pague mais a seus funcionários efetivos 
do que a empresa terceirizada paga aos funcionários terceirizados. 
As complexidades da terceirização somente parecem levar a dois caminhos 
precários, violação jurídica ou precarização dos direitos dos trabalhadores, assim 
ficando claro que a terceirização é uma complexidade que merece notório debate. 
Especialmente sendo necessário observar qual os impactos nos direitos dos 
trabalhadores terceirizados após a reforma de 2017. 
 
 
3. A TERCEIRIZAÇÃO E SEUS IMPACTOS PÓS REFORMA 
TRABALHISTA 
 
Fato de extrema importância é o desenvolvimento do debate sobre quais 
foram os impactos da reforma trabalhista de 2017 na terceirização e nos direitos dos 
trabalhões sobre este regime. Especialmente é necessário observar a possibilidade 
de violação constitucional advinda das reformas e quais as possibilidades de solução 
para as complexidades do regime de terceirização. 
Como já discutido anteriormente, existem linha de pensamento jurídico que 
seguem por entender a inconstitucionalidade da alteração da norma, já outras linhas 
entendem a constitucionalidade, porém, independentemente da linha doutrinaria, é 
certo que existe uma precarização para o trabalhador neste movimento de 
terceirização. 
Conforme expõe Leite (2018) a terceirização é um subcontrato, implicando 
necessariamente na mudança da responsabilidade dos direitos trabalhistas, o que 
torna este tipo de relação de emprego uma facilidade para fraudes e diminuindo a 
segurança para o trabalho. O autor ainda entende que diversos pontos da reforma 
16 
 
trabalhistas impactaram extremamente a temática e possibilitando a discussão sobre 
inconstitucionalidade da norma. 
Delgado (2019) ressalta em como as alterações na norma de terceirização 
permitiram uma chama terceirização ampla e consequentemente contrariando o 
entendimento da suprema corte sobre o assunto. Especialmente se observa que a 
terceirização, pós reforma, passou a permitir a terceirização das atividades fim, o que 
era amplamente criticado, e levou a discussão de inconstitucionalidade em diversos 
outros pontos. 
Se nota que a reforma da norma trabalhista gerou uma série de 
complexidades, pensando especialmente que a complexidade do tema era justamente 
a constitucionalidade da terceirização e não sua permissão por norma inferior. O que 
ocorre com a reforma da norma é uma confusão de normas e o que parece uma 
violação de preceitos constitucionais e especialmente de princípios implícitos na 
Constituição federal de 1988. 
Um dos pontos mais complexos da reforma trabalhista é a terceirização na 
linha de serviços públicos, especialmente sobre as atividades fim, sendo já firmado o 
entendimento de possibilidade de terceirização sobre atividades meio, especialmente 
sendo clara a possibilidade de terceirização de serviços de limpeza e manutenção. A 
complexidade nasce quando se pensa na possibilidade de terceirização do serviço 
público. 
Sobre a terceirização do serviço público, os estudos de Delgado (2019) 
informam a ainda vigência da súmula 331 e especialmente a existência do item IV que 
demonstra a existência de responsabilidade da tomadora de serviços. Neste sentido 
podendo a entidade pública ser responsável por parte da relação de trabalho. Ocorre 
ainda que existe a necessidade de concurso para o reconhecimento de relação de 
emprego entre o ente estatal e o trabalho, conforme o artigo 37, II da Constituição 
Federal de 1988. 
Neste sentido e ante a possibilidade de terceirização na administração 
pública, fica claro que esta terceirização na administração pública em serviços meio 
ou fim são inconstitucionais em razão da possibilidade de vínculo empregatício, 
contando ainda que existe o conflito entre a segurança da relação do trabalho e o 
impedimento de reconhecer tal relação com a administração sem a devida investidura 
por meio de concurso. 
Outra questão que é discutida no âmbito da administração pública é a 
17 
 
violação da estabilidade, a qual é assegurada no artigo 41 da Constituição Federal de 
1988. Silva (2017) comenta essa possibilidade logo no início da reforma, vez que a 
possibilidade de relação trabalhista criada por parte da súmula 331, combinado com 
o entendimento de estabilidade e proteção do artigo 7º da CF/88, deixa a entender, 
mesmo que de forma branda, a possibilidade do terceirizado poder garantir uma 
estabilidade. 
Corroborando este entendimento as palavras de Nelson e Braga (2019) que 
expõem a inconstitucionalidade por meio da violação de princípios constitucionais 
explícitos e até de normas expressas que vedam indiretamente esta terceirização 
como é feita atualmente. 
 
A contratação de terceirizados no âmbito da Administração Pública fere o 
princípio do livre acesso aos cargos públicos via concurso, além de negar que 
as garantias jurídicas dos estatutários sejam estendidas a estes, e, ainda, 
deixando margem para estabelecer remunerações fora dos limites da 
legalidade. (NELSON E BRAGA, 2019, p. 19) 
 
É claramente inconstitucional a estabilidade do terceirizado, mesmo com 
os princípios constitucionais buscando a proteção do trabalhador, em razão da norma 
constitucional que impede a relação de emprego sem a investidura mediante concurso 
público. 
Outro fator de grande importância e discussão sobre a terceirização do 
trabalho de serviços públicos é a redução da qualidade, tal questão pode vir a violar o 
artigo 37 da CF/88 que expõe a eficiência como princípio e norma da administração 
pública. 
Neste sentido os estudos de Nelson e Braga (2019) que informa a 
possibilidade de precarização do serviço e até dos direitos trabalhistas ao mesmo 
momento, isso em razão da mercantilização e superveniência do interesse dos lucros 
que é presente na terceirização e no serviço privado; assim expõem os referidos 
autores: 
 
Ora, evidente que não se pode prever uma melhoria na prestação dos 
serviços públicos por meio da “terceirização” e/ou “privatização”, vez que 
esse modo de execução é mercantilizado, visando, primeiramente, o lucro da 
prestadora de serviços por ser voltado para lógicas do mercado econômico, 
e colocando o interesse público em um plano secundário. 
[...] 
Ressalta-se ainda a falta de tecnicidade da contratação para a ocupação dos 
cargos públicos, podendo, de certa forma, prejudicar o fornecimento dos 
serviços ao contratar pessoas despreparadas para o exercício da atividade. 
(NELSON E BRAGA, 2019, p. 19) 
 
18 
 
Fica claro que esta possibilidade de precarização, causada por parte dos 
anseios do setor privado, é uma grave violação do princípio da eficiência dos serviços 
públicos, consequentemente figurando em uma inconstitucionalidade que impediria a 
terceirização das atividades fim do setor público. 
O principal item que acarreta na discussão sobre a terceirização é a 
precarização dos direitos dos trabalhadores e com a reforma nascem as 
possibilidades amplas de terceirização, nascendo ainda as complexas fraudes e a 
chamada ‘pejotização’ do trabalho. 
O referido jargão de “pejotização” é cunhado devido as fraudes nos 
contratos de trabalho e a imposição de empregadores em não firmarem contratos 
normais e optarem por terceirizados para evitar os pagamentos de verbas trabalhistas. 
De Souza (2019) expõe que este jargão de “pejotização” nasce na comunidade 
jurídica para se referir as fraudes dos empregadores que informam aos seus 
empregados para constituir pessoas jurídicas e firmarem contratos de terceirização 
que sejam claras violações aos contratos de trabalho. 
De Souza (2019) informa que essas criações de pessoas jurídicas para 
evitar os contratos de trabalho e as consequentes obrigações trabalhistas acarretam 
em uma fraude endemia, especialmente comum em zonas de interior onde a 
fiscalização de tais questões trabalhistas é menor. 
Tal questão é de conhecimento do pensamentodoutrinário pátrio, tal como 
expõe Delgado (2019, p. 438) em seus estudos sobre as simulações nos contratos de 
trabalho e o impacto de tal questão nas relações jurídicas: 
 
A dinâmica judicial trabalhista também registra a ocorrência de uma situação 
fático-jurídica curiosa: trata-se da utilização do contrato de sociedade (por 
cotas de responsabilidade limitada ou outra modalidade societária existente) 
como instrumento simulatório, voltado a transparecer, formalmente, uma 
situação fático-jurídica de natureza civil/comercial, embora ocultando uma 
efetiva relação empregatícia. 
[...] 
Figura curiosa de formalização de pessoa jurídica, embora em torno de uma 
única pessoa natural, surgiu com a Lei de Direito Tributário n. 11.196, de 
21.11.2005, em seu art. 129. Ali se permite que a pessoa física se estruture 
como entidade jurídica formal, de maneira a assim prestar seus serviços ao 
mercado socioeconômico, nos moldes de uma pessoa jurídica (DELGADO, 
2019, p. 437) 
 
A pejotização é um problema que gera diversas complexidades para a vida 
do empregado e gera a precariedade de seus direitos, especialmente impactando 
seus direitos e garantias trabalhistas, bem como impactando sua previdência e até 
19 
 
bem estar. 
Tal fenômeno é claramente de grande impacto para as relações 
trabalhistas e obviamente é tema de estudo jurídico, sendo entendido que ante a 
simulação ou esta dita tentativa do empregador em se esquivar das obrigações 
trabalhistas deverá sobrevir a relação de emprego normal, desconsiderando então a 
relação contratual da tomadora de serviços; corroborando este entendimento os 
estudos de Delgado (2019, p. 438): 
 
Em tais situações simulatórias (denominadas pela prática trabalhista de 
pejotização, neologismo que se reporta à expressão pessoa jurídica, 
identificada pelas iniciais P.J.), há que prevalecer o contrato que efetivamente 
rege a relação jurídica real entre as partes, desconsiderando-se a simulação 
evidenciada 
 
Vale ainda observar que é plenamente aplicável a norma do artigo 9º da 
CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) nestes contratos de prestação de serviço 
por serem vontades de fraudar, burlar, ou desvirtuar a aplicação da própria CLT “Art. 
9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, 
impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação.” 
(BRASIL, 1943) 
Sobre a referida “pejotização” De Souza (2019) expõe que tal questão pode 
ser uma clara violação do princípio de vedação ao retrocesso social, este que se trata 
de um princípio implícito do ordenamento brasileiro e que visa a proteção e avanço da 
sociedade; sendo ainda este princípio o protetor dos direitos adquiridos. 
Por ser a terceirização uma flexibilização das relações de trabalho e dos 
direitos dos trabalhadores é possível que este fato possa vir a violar o princípio da 
vedação de retrocesso social, porém é necessário observar a outra face e entender 
se tal questão traz benefícios para o mercado de trabalho ou para o trabalhador. 
Sobre os benefícios Nelson e Braga (2019) expõem a possibilidade de 
agilizar as necessidades públicas ao mesmo passo que gera economia na prestação 
do serviço para a população, isso pois, tal terceirização de certos serviços permite 
prestar o serviço sem a abertura de concursos públicos extremamente burocráticos e 
com menores custos para os cofres públicos; possibilitando ainda a mudança 
facilitada de serviços não satisfatório. 
Observando os pontos de constitucionalidade da norma, é claro que a 
terceirização de serviços meio podem ser feitas e até que auxiliam a administração 
pública, bem como se tornam um importante mecanismo de geração de empregos ao 
20 
 
gerar empresas de prestação de serviços. 
Conforme leciona Leite (2018) a terceirização das atividades meio parece 
ser amplamente benéfica e podendo até ser feita de forma indiscriminada, porém com 
certas ressalvas, vez que necessitam de especial atenção para as atividades que são 
terceirizadas e para a responsabilidade dos direitos trabalhistas que não podem ser 
repassados a administração pública e sequer violados por meio de fraudes. 
Leite (2018) expõe especialmente que a terceirização é um claro 
instrumento de políticas neoliberais que visam gerar benefícios para empresas que 
venham a necessitar de mais competitividade de mercado e serviços que não sejam 
seu objetivo como é o caso da vigilância de seus negócios. Assim, criando a 
terceirização a empresa transfere a responsabilidade e pode se ocupar com suas 
atividades fim. 
Conforme salienta Viana (2019), em seus estudos sobre o entendimento 
da terceirização, este fenômeno vem sendo difundido no Brasil de forma a extrapolar 
os direitos conquistados ao longo de séculos de desenvolvimento dos direitos dos 
trabalhos e assim violando-os. O autor informa que os direitos preconizados na norma 
brasileira vem sendo violados e figurando uma terceirização agressiva que se 
assemelha a de países extremamente liberais onde os trabalhadores estão 
acostumados a negociar por melhores condições. No Brasil, em razão dos direitos 
garantidos, o trabalhador não é acostumado a vigiar com grande cautela por seus 
direitos e assim podendo ser lezado em uma negociação na busca por seu sustento 
mínimo. 
Os estudos de Viana (2019) ainda demonstram que a norma de 
terceirização necessita de limites que ficam à mercê do caso em concreto e das 
disputas judiciais. Para o referido autor é necessário que a norma seja ajustada e 
limites sejam criados, ao ponto que sejam claramente delimitadas as terceirizações 
legais e constitucionais, como nas atividades meio, existindo ainda a necessidade de 
vedar as possibilidades de contratos de terceirização inconstitucionais. 
É de se perceber que a norma de terceirização se escora na possibilidade 
do trabalho temporário e da prestação de serviços por pessoas jurídicas que tomem 
para si a responsabilidade trabalhista. A falta de uma norma ampla e especifica que 
discorra sobre a terceirização cria lacunas complexas que mascaram de legalidade as 
ações que sejam inconstitucionais e assim restando para o judiciário a proteção do 
trabalhador. 
21 
 
Em outro lado vale demonstras a complexidade da terceirização em existir 
até grandes benefícios como a adequação do direito brasileiro aos modernos 
entendimentos globalizados e a flexibilização dos contratos de trabalho. Tal 
globalização e flexibilização geram impactos econômicos e até sociais, como a 
atratividade de grandes multinacionais e os incentivos a incorporadoras que se 
especializam em atividades meio. 
Corroborando o acima exposto, os estudos de Mendes (2019), Viana 
(2019) e Nelson e Braga (2019) que expõem a possibilidade, mesmo que branda, de 
geração de novos empregos e a inovação na política de incentivo a geração de 
empregos e auxílio a empresas. 
Fica delimitado então que as normas atuais que permitem a terceirização 
detém grande complexidade e passam a permitir uma série de violações de direitos, 
preceitos constitucionais e princípios de extrema importância, porém a norma de 
terceirização não é de todo má e pode permitir benefícios para o empregado e 
amplamente para as empresas. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O ramo jurídico do direito do trabalho é de uma grande complexidade e 
indissociável do estudo histórico e das complexidades sociais existentes em um povo, 
especialmente se destacando estes contextos histórico e social no ordenamento 
brasileiro. Sendo o ordenamento trabalhista brasileiro notável de complexidade em 
seu histórico e especialmente nas inovações trazidas por parte das reformas dos 
períodos contemporâneos. 
As complexidades da terceirização são atreladas a seu histórico 
conturbado, falta de normas que disciplinem sobre a matéria e uma vontade dos 
desejos de entidades privadas em aplicar uma forma de relação trabalhista não 
compatível com as normas pátrias.A terceirização e sua complexidade se acentuam com as interpretações 
das normas de trabalho temporário e com a reforma trabalhista que tratou de 
vislumbrar certas possibilidades de terceirização, porém sem impor limites para a 
terceirização e assim acarretando em más aplicações desta relação e flagrantes 
22 
 
violações da constituição. 
A inconstitucionalidade da terceirização é, em parte, existente e presentes 
principalmente na terceirização que se importa com as atividades fim de uma 
empresa, bem como se demonstrando na administração pública. Ocorre que, após a 
reforma trabalhista e a série de mudanças trabalhistas em 2017, existe a possibilidade 
de terceirização plenamente legal. 
Uma questão de grande problema é a precarização do trabalho e a violação 
dos direitos do trabalhador que são presentes na terceirização, existindo uma possível 
violação do princípio da vedação do retrocesso social, em razão da terceirização 
permitir a transposição de responsabilidades trabalhistas. 
Uma clara questão que demonstra a precarização advinda com a 
terceirização é a pejotização, sendo uma clara violação dos direitos trabalhista e uma 
fraude que busca inviabilizar direitos essenciais como a estabilidade e diversos outros 
direitos presentes na CLT. 
Embora possam existir certos benefícios da terceirização e até 
possibilidades de uma terceirização legalizada, que auxilia a geração de empregos ou 
o desenvolvimento de uma empresa, as complexidades existentes na terceirização 
parecem pesar na balança e apontar para uma violação de direitos, precarização ou 
até violação de preceitos constitucionais. 
Resta observar ainda que a terceirização necessita de ampla fiscalização 
do poder público e até do próprio trabalhador para assegurar a garantia de seus 
direitos. Apenas no caso em concreto se pode perceber a legalidade ou não da norma, 
porém podendo se afirmar claramente que as possibilidades de terceirização se 
assentam no limiar da legalidade. 
 
 
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São Paulo: LTr, 2019.

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