Buscar

Prévia do material em texto

FACULDADE EVANGÉLICA DE GOIANÉSIA 
CURSO BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CRIMES SEXUAIS E DIREITO PENAL 
 
ANA FLÁVIA SILVA MENDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GOIANÉSIA - GO 
2020 
ANA FLÁVIA SILVA MENDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CRIMES SEXUAIS E DIREITO PENAL 
 
 
 
 
 
Trabalho avaliativo, apresentado a 
Faculdade Evangélica de Goianésia 
como requisito parcial a obtenção do 
Título de Bacharel em Direito 
Orientador: Maísa Profa. Dra. Maisa 
França Teixeira 
 
 
 
 
 
 
GOIANÉSIA - GO 
2020 
SUMÁRIO 
 
1 PROBLEMATIZAÇÃO .............................................................................................. 2 
2. OBJETIVOS ............................................................................................................ 3 
3. HIPÓTESES ............................................................................................................ 4 
4. JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 5 
5. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................... 8 
6. METODOLOGIA .................................................................................................... 13 
7. CRONOGRAMA .................................................................................................... 13 
8. SUMÁRIO PROVISÓRIO ...................................................................................... 13 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 14 
 
 
 
2 
 
1 PROBLEMATIZAÇÃO 
 
O crime de estupro, previsto no artigo 213, do Código Penal, anteriormente 
definido como “constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave 
ameaça” passou a ter redação de maior abrangência, equiparando homens e 
mulheres no polo passivo do delito, a saber: “constranger alguém, mediante violência 
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se 
pratique outro ato libidinoso”. (BRASIL, 1940) 
A expressão crimes contra os costumes já não noz traduz a realidade dos 
bens juridicamente protegidos pelos tipos penais que se encontravam no Título VI do 
Código Penal. O foco da proteção já não era mais a forma como as pessoas deveriam 
se comportar sexualmente perante a sociedade do século XXI, mas sim a tutela da 
sua dignidade sexual. A dignidade sexual é uma das espécies do gênero dignidade 
da pessoa humana. 
Conforme Sarlet (1999, p. 90) dissertando sobre o tema, esclarece ser a 
dignidade, existem certas informações de grande relevância: 
 
A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz 
merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e 
da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e 
deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e 
qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe 
garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, 
além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável 
nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os 
demais seres humanos. 
 
Além disso, a nova legislação também acrescenta ao artigo 217-A (estupro de 
vulnerável), o parágrafo 5º: “As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste 
artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela 
ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime”. (BRASIL, 2015) 
É de suma importância lembrar que o artigo 217-A, caput, do Código Penal 
trata do estupro contra vítima menor de 14 anos; o parágrafo 1º prevê situações em 
que a vítima possui enfermidade ou deficiência mental que retirem dela o 
discernimento para o ato ou que, por qualquer outra causa, não possa oferecer 
resistência; o parágrafo 3º trata do estupro que resulta lesão grave; e o parágrafo 4º, 
do resultado morte. Ou seja, a pena continua a mesma, reclusão de 6 a 10 anos, mas 
3 
 
há um parágrafo que aumenta a pena para de 8 a 12 anos se da conduta resulta lesão 
corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 anos e maior de 14 anos. No 
entanto, se da violência praticada resultar a morte, a pena será de 12 a 30 anos. 
De modo geral, certamente, as inovações trazidas pela Lei nº 12.015, de 7 de 
agosto de 2009 serão objeto de intensos debates doutrinários e jurisprudências, a 
exemplo do que ocorrerá no que diz respeito à natureza da ação penal no crime de 
estupro, quando resultar lesão corporal ou a morte da vítima, ou mesmo a aplicação 
retroativa de tipos penais considerados benéficos ao agente, como ocorre com o atual 
art. 213 do Código Penal, que fundiu figuras típicas anteriormente reconhecidas pelos 
nossos Tribunais, principalmente os superiores, como de espécies diferentes. 
Dessa forma, essa temática induz uma série de questionamentos 
principalmente quando nos deparamos com a forma de como a sexualidade feminina 
é julgada, a partir de uma dupla moral, para homens e mulheres, na qual delas se 
espera, ainda hoje, o papel do recato, do comportamento sexual “adequado”, discreto 
e tradicional, responsabilizando a mulher pela própria violência que a vitimou: Será 
que a legislação vigente está sendo eficaz para coibir essas práticas em uma 
sociedade construída em uma base machista ? 
 
 
2. OBJETIVOS 
 
Objetivo Geral: 
Investigar a questão da ocorrência do crime de estupro, uma violência sexual 
versada contra a mulher, onde a (in) compreensão jurídica acerca dos crimes de 
violência contra a mulher. Buscando analisar precedentes judiciais e posicionamentos 
doutrinários. 
 
Objetivos Específicos: 
Identificar correntes doutrinárias sobre o tema apresentado, bem como, 
jurisprudências; 
Investigar a legislação penal brasileiro e o crime de estupro sobre o princípio 
da dignidade humana; 
Conceituar o machismo e desigualdade de gênero: aspectos da cultura do 
estupro. 
4 
 
 
 
3. HIPÓTESES 
 
Diante do estudo desenvolvido se compreende que são diversas as 
complexidades no ordenamento pátrio sobre o que se referem a crimes sexuais, estes 
tipos criminais detém uma série de formas de serem cometidos e especialmente são 
cometidos de forma a não buscar uma clara e real forma de dar chances para a vitima 
em se defender ou reprimir a ação delituosa. 
De outra forma é necessário ainda desenvolver uma série estudos para se 
compreender se o direito penal brasileiro trata com seriedade os crimes sexuais e se 
especialmente desenvolve estes de forma a dar devida punição ou desenvolver um 
processo legal. 
É de se afirmar ainda que os crimes sexuais são diversos, passando desde o 
estupro que é o mais conhecido e um dos amis repudiados por parte da sociedade 
desde os tempos antigos, bem como desenvolvendo até a crimes como o assédio 
sexual que desenvolver especialmente relações trabalhistas. 
De toda forma o desenvolvimento dos crimes sexuais é, no direito brasileiro, 
uma complexidade e que merece especial atenção, considerando ainda que tais 
crimes necessitam de uma especial atenção para o conjunto probatório que enseja a 
dar punição. 
As formas de prova em crimes sexuais são especialmente complexas, mesmo 
que seja um crime que venha a deixar vestígios, é possivel que este seja cometido 
sem deixar grandes vestígios materiais, porém acarretando em claro trauma para a 
vítima e desenvolvendo problemas na sociedade. 
É necessário compreender em como o direito brasileiro trata os crimes 
sexuais e se é dada atenção para estes crimes após certo tempo. Em alguns crimes, 
tal qual o de estupro, é possivel a coleta de material genético, porém no atentado 
ofensivo ao pudor não se pode fazer tal questão. Neste sentido deseja se 
compreender em como o direito brasileiro trata5 os crimes complexos e como lida com 
o conjunto probatório. 
 
 
54. JUSTIFICATIVA 
 
O crime de estupro é uma das formas de violência mais antigas da história da 
humanidade. Na Antiguidade era considerado delito contra a propriedade, e nos dias 
atuais, em que afronta a dignidade sexual segundo o ordenamento jurídico de boa 
parte dos países inspirados na consagração da dignidade humana, no Brasil, o ato 
sexual forçado sempre foi reprimido pela sociedade, sob fundamentos e normas 
jurídicas vêm sendo modificados com o decorrer do tempo para ampliar a proteção da 
sociedade. Quem disse? Citar! 
Do tema ora tratado, decorrem das inquietações provocadas pelo mesmo, já 
que, debater a violência de gênero e apontar caminhos para dirimi-la se é fundamental 
para o desenvolvimento de uma sociedade que realmente se preocupa em assegurar 
direitos mínimos, essenciais a uma existência digna e inerentes à pessoa humana. 
Não se pode admitir, que as sociedades e suas instituições permaneçam na 
contramão do que preveem os diversos ordenamentos jurídicos no que tange à 
garantia de direitos humanos inerentes. O estupro é um delito que afronta a dignidade 
sexual e moral das mulheres e sua gravidade não pode ser minimizada mediante uma 
análise carregada de valores preconceituosos e machistas. 
Tanto o senso comum, saber científico, têm em comum o discurso de que as 
desigualdades existentes entre homens e mulheres são justificadas pelas diferenças 
biológicas entre os sexos. Sempre foi assim e, atualmente, grande parte da sociedade 
ainda acredita que os papéis de cada um estão predeterminados em virtude de um 
fundamento natural. 
Conforme ressaltou De Beauvoir (1970), com pioneirismo inquestionável na 
literatura que discutiu referidas desigualdades, os antifeministas apelaram para todos 
os meios a fim de provar a inferioridade feminina: tanto a religião, a filosofia e a 
teologia, quanto as ciências biológicas, a psicologia experimental, entre outros 
campos do saber, continham argumentos que distanciavam os mundos do homem e 
da mulher. 
Em uma abordagem teórico-conceitual para gênero, nas palavras de Scott 
(1990, p. 5), a palavra gênero “indicava uma rejeição ao determinismo biológico 
implícito no uso de termos como ‘sexo’ ou ‘diferença sexual’”. Sobre o tema, leciona 
Machado (2000, p. 5): 
 
6 
 
Gênero é uma categoria engendrada para se referir ao caráter 
fundante da construção cultural das diferenças sexuais, a tal ponto que 
as definições sociais das diferenças sexuais é que são interpretadas 
a partir das definições culturais de gênero. Gênero é assim uma 
categoria classificatória que, em princípio, pode metodologicamente 
ser o ponto de partida para desvendar as mais diferentes e diversas 
formas de as sociedades estabelecerem as relações sociais entre os 
sexos e circunscreverem cosmologicamente a pertinência da 
classificação de gênero. Este conceito pretende indagar 
metodologicamente sobre as formas simbólicas e culturais do 
engendramento social das relações sociais de sexo e de todas as 
formas em que a classificação do que se entende por masculino e 
feminino é pertinente e faz efeito sobre as mais diversas dimensões 
das diferentes sociedades e culturas 
 
Isso significa dizer que as representações do que é feminino ou masculino 
são, em verdade, edificadas pela sociedade em um dado momento histórico. Com o 
novo conceito, se fortalece a noção de que os seres humanos são realmente 
socializados durante toda a vida para agir conforme a cartilha de condutas 
predeterminadas pelas instituições sociais, e não segundo uma destinação natural. 
Para Scott (1990, p. 21-26): 
 
O gênero é uma primeira maneira de dar significado às relações de 
poder. Seria melhor dizer: o gênero é um primeiro campo no seio do 
qual, ou por meio do qual, o poder é articulado. [...] A ênfase colocada 
sobre o gênero não é explícita, mas constitui, no entanto, uma 
dimensão decisiva da organização, da igualdade e desigualdade. As 
estruturas hierárquicas baseiam-se em compreensões generalizadas 
da relação pretensamente natural entre o masculino e o feminino. 
 
A desigualdade de gênero supracitado é um desafio ainda explícito, portanto, 
a sociedade reproduz um discurso que sobrepõe os direitos e as liberdades dos 
homens aos das mulheres, construindo instituições que diariamente violentam os 
sujeitos do sexo feminino. A problematização do paradigma do gênero é lançada sob 
uma nova perspectiva: a de que a desigualdade, uma vez construída socialmente, 
pode ser desconstruída, desde que haja a necessária e exaustiva reflexão e atuação 
nesse sentido. 
O Estupro no ordenamento jurídico brasileiro está tipificado no artigo 213 do 
Código Penal, no capítulo Dos Crimes contra a Liberdade Sexual, do título Dos Crimes 
contra a Dignidade Sexual. Este título foi recentemente modificado pela Lei n.º 12.015, 
de 7 de agosto de 2009, que trouxe algumas significativas alterações para o 
tratamento dos crimes sexuais. 
7 
 
A modificação da referida lei reflete no avanço do ordenamento penal 
brasileiro, que agora visa a proteger a pessoa da vítima em sua plenitude, enxergando 
os crimes sexuais como verdadeira violação ao fundamento constitucional da 
dignidade da pessoa humana. Para Greco (2010, p. 451): 
 
A expressão crimes contra os costumes já não traduzia a realidade 
dos bens juridicamente protegidos pelos tipos penais que se 
encontravam no Título VI do Código Penal. O foco da proteção já não 
era mais a forma como as pessoas deveriam se comportar 
sexualmente perante a sociedade do século XXI, mas sim a tutela de 
sua dignidade sexual. [...] O nome dado a um Título ou mesmo a um 
Capítulo do Código Penal tem o condão de influenciar na análise de 
cada figura típica nele contida, pois, através de uma interpretação 
sistêmica ou mesmo de uma interpretação teleológica onde se busca 
a finalidade da proteção legal, se pode concluir a respeito do bem que 
se quer proteger, conduzindo, assim, o intérprete, que não poderá fugir 
às orientações nele contidas. A título de exemplo, veja-se o que ocorre 
com o crime de estupro, que se encontra no capítulo relativo aos 
crimes contra a liberdade sexual. Aqui, como se percebe, a finalidade 
do tipo penal é a efetiva proteção da liberdade sexual da vítima e, num 
sentido mais amplo, a sua dignidade sexual. 
 
Essa importante alteração obriga formalmente o operador do direito e a 
sociedade de forma geral a olhar para os crimes de natureza sexual de forma distinta 
em contraste com a visão utilizada no decorrer da História, reconhecendo que a 
tipificação penal em comento tem escopo de proteger diretamente o direito 
fundamental de liberdade e de disposição do próprio corpohist. 
Com o advento da Lei 12.015/2009, o delito capitulado no artigo 213 do 
Código Penal teve sua redação completamente modificada, devido à união dos tipos 
de estupro e de atentado violento ao pudor em apenas uma figura penal. Atualmente, 
a descrição do crime em comento é: constranger alguém, mediante violência ou grave 
ameaça, a ter conjunção carnal ou praticar ou permitir que com ele se pratique outro 
ato libidinoso. 
O crime de estupro teve seu alcance ampliado, haja vista que a sua redação 
anterior foi acrescentada o texto do antigo delito de atentado violento ao pudor. Não 
houve, em realidade, abolitio criminis no concerne ao antigo crime previsto no art. 214 
do Código Penal. Conforme Greco (2010, p. 486): 
 
Não houve descriminalização do comportamento até então tipificado 
especificamente como atentado violento ao pudor. Na verdade, 
somente houve uma modificação nomen juris da aludida infração 
8 
 
penal, passando, como dissemos a chamar-se estupro o 
constrangimento levado a efeito pelo agente a fim de ter conjunção 
carnal, ou, também, a praticar ou permitir que com ele se pratique 
outro ato libidinoso. Aplica-se, na hipótese, o chamado princípio da 
continuidade normativo-típica, havendo, tão somente, uma migração 
dos elementos anteriormente constantes darevogada figura prevista 
no art. 214 do Código Penal, para o art. 213 do mesmo diploma 
repressivo. 
 
Pela antiga redação apenas o coito vaginal era considerado estupro e, assim, 
apenas a mulher poderia ser sujeito passivo do crime. As inúmeras outras condutas 
existentes que porventura violassem a liberdade sexual das pessoas se subsumiam, 
no máximo, ao crime de atentado violento ao pudor. 
A ampliação do modus operandi do delito constante no art. 213 do Código 
Penal decorre outra importante mudança: agora se trata eminentemente de crime 
comum, uma vez que qualquer pessoa pode ser autora e/ou vítima do crime de 
estupro, seja do sexo masculino ou feminino. 
 A nova roupagem da referida Lei trouxe duas formas qualificadas para a 
infração penal ora tratada, demonstrando a intenção de agravar a punição daqueles 
que violam a liberdade sexual de outrem. Destarte, para quem comete o delito 
tipificado no caput do artigo, a pena é de reclusão de 06 (seis) a 10 (dez) anos. Por 
sua vez, se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é 
menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos, a sanção é de 08 (oito) a 12 
(doze) anos de reclusão. Por fim, se da ação criminosa resulta morte, a pena é de 
reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 
Pondera-se ainda, que a Lei n. 12.015/2009 corroborou o enquadramento da 
infração penal de estupro, em sua forma básica ou qualificada, como crime hediondo, 
previsto no art. 1º, inciso V, da Lei n.º 8.072/90. Destarte, será insuscetível de anistia, 
graça e indulto, bem como de pagamento de fiança, e deverá ter a pena cumprida 
inicialmente em regime fechado (art. 2º, §2º). 
 
 
5. REFERENCIAL TEÓRICO 
 
Ao analisar a movimentação, os deslocamentos de sentido do enunciado da 
Lei 12.015/2009, que trata dos crimes sexuais, foi necessária a compreensão do 
conceito de “dignidade sexual” presente, no Código Penal de 1940, ainda em vigor. 
9 
 
Normas da ABNT 
O efeito de sentido de benefício, pois se o sujeito ativo, em um mesmo 
contexto fático, praticasse o estupro e o atentado violento ao pudor contra uma 
determinada vítima, responderia por dois crimes distintos, em concurso material, mas, 
com a nova Lei, responderá por um único crime. É destacado o efeito de sentido de 
igualdade, pois, se antes o crime de estupro que exigia coito vaginal para sua 
tipificação era de mão própria, já que exigia que o sujeito ativo, que só poderia ser um 
homem, uma atuação pessoal e indelegável. E próprio, com relação ao sujeito 
passivo, vítima, que só poderia ser mulher. A referida Lei estabelece o estupro como 
crime comum e tanto o homem quanto a mulher podem ser sujeitos ativos ou passivos 
com isso podemos concluir que esta nova Lei trouxe um efeito de sentido de igualdade 
na diferença entre os sexos. 
A Lei apresenta três modalidades de qualificadoras para o crime de estupro. 
As duas primeiras (parágrafo 1º) dispõem sobre a ocorrência de resultado lesão 
corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 anos e maior de 14 anos, 
com pena de reclusão de oito a doze anos; e a terceira (parágrafo 2º) prevê a 
ocorrência de resultado morte, com pena de reclusão de doze a trinta anos. 
Podemos ressaltar que a Lei 12.015/2009, é tomada como unidade de análise 
e, portanto, como um lugar de dispersão de sentidos, que tem a metáfora como 
fundamento da significação, já que palavra ou proposição não é origem do sentido, ou 
seja, o sentido não deriva da literalidade da palavra. Foi nesse espaço de metáfora 
que empreendemos o nosso gesto de interpretação para identificar os efeitos de 
sentido de vítima e autor de delito sexual na Lei. Com base na Constituição de 1988, 
a referida Lei emergiu sob o enfoque jurídico dos princípios da dignidade da pessoa 
humana, da liberdade e da proteção integral da criança e do adolescente, essa lei 
trata de crimes contra pessoa vulnerável, um novo conceito surgido no Direito Penal 
e sob o enfoque social, adequando-a a realidade da necessidade de tutela da 
liberdade sexual e não da moral sexual, de outro lado. 
Destaca-se ainda, que, com a unificação dos crimes de estupro e de atentado 
violento ao pudor em um único dispositivo, o novo sentido de crime de estupro impede 
o atravessamento do sentido de honestidade (de recato sexual) da vítima, antes 
previsto na lei, já que o objeto da referida Lei não é mais a forma como as pessoas 
agem sexualmente perante a sociedade, mas a proteção da liberdade sexual de 
qualquer pessoa. 
10 
 
Por fim, ressaltamos que o efeito de atualidade da Lei, entendida aqui como 
um acontecimento discursivo, responde de certa forma, aos sentidos decorrentes das 
transformações sociais pelas quais passaram nossa sociedade. Os efeitos de sentido 
não poderiam ser outros, portanto, nessas condições de possibilidade. 
Carolina Ferreira, Doutora em Direito, Estado e Constituição, criticou o 
chamado “populismo penal”, a elevação das penas quando ocorrem casos com 
grande exposição na mídia. Em sua opinião, as penas para estupradores já são altas, 
elevadas pela Lei 12.015/2009, e chegam há 30 anos, mas isso não alterou a 
ocorrência dos crimes até agora. O Direito Penal tem respostas restritas, não resolvem 
o conflito, e o senso comum de que a sociedade estará mais segura com penas 
aumentadas não é real, disse. Ela também apontou a existência de uma cultura de 
estupro no trâmite dos processos no Judiciário, quando os juízes desconsideram a 
palavra da vítima para entenderem ter havido o crime, por exemplo. E elogiou a 
criação do Observatório das Mulheres Contra a Violência do Senado, que pode 
auxiliar na mudança do cenário a partir de análise das políticas públicas e do 
monitoramento de dados, e não apenas na mudança das leis. Também nessa linha, 
Soraia Mendes, doutora em direito pela Universidade de Brasília e professora do 
Instituto de Direito (IDP), defendeu a mudança do ensino em escolas e até mesmo em 
faculdades, que perpetuam a cultura do estupro ao, por exemplo, apontarem em seus 
manuais de Direito a relativização do não, da negativa de uma mulher ao ato sexual 
(BRASIL, 2020). 
As pessoas tem o livre desenvolvimento da personalidade na esfera sexual, 
promovendo seu crescimento sadio e equilibrado no que diz respeito ao tema. Devem-
se tomar os devidos cuidados na normalização da crença de que, qualquer pessoa, 
seja ela de qualquer idade tenha que ingressar na atividade sexual, e é necessário 
que até atingir um determinado grau de desenvolvimento psicológico, deve-se 
preservar o menor dos perigos inerentes ao ingresso prematuro na vida sexual, pois, 
a cada passo prematuro ao referido ato pode trazer prejuízos físicos e/ou psicológicos, 
prejuízos esses que se tornam mais intensos e prejudiciais se forem acometidos 
através de violência. (STEFAN, 2011, p.165). 
Dessa forma segundo Gênova (2009), para o crime de estupro para maiores 
de 14 anos, que envolva a pratica de qualquer tipo de ato libidinoso, aplica-se o artigo 
213. Se, no entanto, a vítima for menor de 14 anos, aplica-se o artigo 217-A, referente 
ao crime de vulnerável cuja pena é mais grave (reclusão de oito a quinze anos 
11 
 
contrapondo-se à pena de seis a 10 anos se a vítima maior de 14 anos, não 
considerada “vulnerável” legalmente). 
Com a nova redação que foi dada ao artigo 213, é verificado que qualquer 
pessoa pode praticar essa conduta. 
 
Entretanto, em razão da unicidade do tratamento legal do estupro, que 
atualmente possibilita para a consumação carnal ou de outro ato 
libidinoso, indistintamente, podem ser sujeitos ativos e passivos tanto 
o homem como a mulher, sendo, portanto, sujeitos indiferentes, sem 
nenhuma restrição típica (delito comum) (PRADO, 2013, p.600) 
 
Para a configuração do crime de estupro segundo Luiz Regis Prado (2013, 
p.601), previsto do artigo 213 do Código Penal exige-se o concurso simultâneo de três 
requisitos: 
 
1) conjunção carnal;2) com a pessoa constrangida a tal ato; 
3) mediante emprego da violência ou grave ameaça objetivando o ato 
ou outro ato libidinoso. 
 
Só existe estupro, lesividade ao bem jurídico da liberdade sexual, segundo 
Queiroz (2003), se existir conjunção carnal ou outro ato libidinoso contra a vontade 
expressa da vítima, que se opõe manifestamente ao ilegal constrangimento que lhe é 
imposto. 
Por ser um delito comum qualquer agente pode ser sujeito ativo ou passivo, 
abrangendo assim a pratica de qualquer ato libidinoso sendo conjunção carnal ou não. 
O estupro “passou-se a tipificar a ação de constranger qualquer pessoa 
(homem e mulher) a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ela se 
pratique outro ato libidinoso” (CAPEZ, 2012, p.25). 
Segundo Fernando Capez (2012) o estupro de vulnerável foi incorporado ao 
Código Penal pelo artigo 217-A. Artigo 217- A- ter conjunção carnal ou praticar outro 
ato libidinoso com menor de 14 (quatorze) ano. Pena reclusão, de oito a quinze anos. 
§1º. Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém 
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para 
a pratica do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência 
(BRASIL, 2009) 
Teles (2006) explica que a concepção de estupro de vulnerável considerado 
12 
 
crime qualquer tipo de ato libidinoso, mesmo com o consentimento da vítima, trata-se 
de uma proteção contra as ações aos menores de 14 anos não aptos a fazer de sua 
sexualidade. 
Clarifica que a vulnerabilidade está contida “nas exigências de discernimentos 
para a prática de ato libidinoso e a possibilidade de resistir”. Esclarece ainda o autor 
que mesmo se tiver capacidade de compreensão, mas por qualquer razão não puder 
resistir ou não tiver liberdade de ação é uma pessoa vulnerável. 
Cresce entre juventude a ideia discordante das regras de comportamento 
impostas pela sociedade no concerne à iniciação sexual que a cada dia que passa 
surge precocemente, sendo reconhecido este fato como caso de saúde pública. 
O importante não é só punir o parceiro de maior idade, mas elaborar 
programas educativos e de conscientização entre os jovens no que tange à iniciação 
da sexualidade, esclarecendo-o as várias formas de lidar com essa situação. 
Diversas pesquisas revelam que os abusos sexuais sofridos por vulneráveis 
ocorrem em sua grande maioria no ambiente familiar. Neste sentido, vale ressaltar 
que a necessidade do jovem saber diferenciar o envolvimento sexual simples no 
namoro e o abuso sexual, uma vez que a descoberta sexual se inicia na fase da 
adolescência. 
Com relação ao referido tema, visa-se a proteção da sexualidade das pessoas 
consideradas vulneráveis também, e é preciso haver a preocupação em zelar pela 
dignidade do acusado, devido ao sensacionalismo que a pratica desse crime alcança. 
É valido salientar que, a preservação do acusado não defende a impunidade desses 
crimes, mas o direito do suspeito submeter ao devido processo legal prevalecendo o 
princípio da presunção de não culpabilidade. 
Dessa forma, conclui-se a legitimidade da preocupação com relação à tutela 
do vulnerável contra a violência sexual o seu objetivo foi atingido com a criação da lei 
12.015/2009, sobretudo, zelar pela dignidade da pessoa humana da vítima e do 
acusado. 
 
 
 
 
 
13 
 
6. METODOLOGIA 
 
A metodologia aplicada ao estudo é de método hipotético dedutivo, 
desenvolvendo a hipótese apresentada e buscando formas de falsear a hipótese já 
apresentada neste presente projeto. Em mesmo modo a pesquisa será apresentada 
como uma pesquisa básica e desenvolvendo um apanhado geral sem foco em casos 
específicos. 
Os materiais de estudo são a pesquisa bibliográfica e a documental de forma 
a buscar fontes confiáveis que corroborem o estudo e bem como proporcionem crivo 
cientifico a pesquisa final. 
 
 
7. CRONOGRAMA 
 
 
O Cronograma de estudo será desenvolvido conforme o quadro a seguir: 
 
MÊS / 
ETAPA 
PROJETO 
DE 
PESQUISA 
FINAL 
INÍCIO 
PESQUISA 
VERIFICAÇÃO 
DE DADOS 
DA PESQUISA 
PESQUISA 
COMPLEMENTAR 
PRODUÇÃO 
DA 
MONOGRAFIA 
REVISÃO 
VERSÃO 
FINAL 
NOV 
DEZ X 
JAN 
FEV X 
MAR X X X X 
JUN X X 
JUL X 
 
 
8. SUMÁRIO PROVISÓRIO 
INTRODUÇÃO 
 
14 
 
1. O ROL DOS CRIMES SEXUAIS 
 
2. AS PROVAS NOS PROCESSOS DE CRIMES SEXUAIS 
 
3. AS COMPLEXIDADES DE JULGAMENTOS DE CRIMES SEXUAIS 
 
4. A NECESSIDADE DE ADEQUAÇÃO NORMATIVA 
CONCLUSÃO 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A soberania patriarcal: o sistema de Justiça 
Criminal no tratamento da violência sexual contra a mulher. Boletim IBCCRIM. São 
Paulo: v. 11, n. 137, abr. 2004, p. 71-102. Disponível em: 
https://jus.com.br/artigos/25354/o-estupro-enquanto-crime-de-genero-e-suas-
implicacoes-na-pratica-juridica. Acesso em 20 Dez. 2020 
 
CALDAS, Rudgen Rodrigues. Os efeitos jurídicos do estupro de vulnerável: 
criminologia e violência. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/72344/os-efeitos-
juridicos-do-estupro-de-vulneravel-criminologia-e-violencia. Acesso em 20 Dez. 2020 
 
BAZZO, Mariana. CHAKIAN, Silvia. Novos crimes sexuais e a questão de gênero 
na aplicação do Direito. Ministério Público. TV ConJur. 2016. Disponível em 
http://www.compromissoeatitude.org.br/tese-sobre-estupro-e-reforma-legislativa-
vence-7o-congresso-virtual-do-mp. Acesso em: 14 Dez. 2020 
 
ELUF, Luiza. Lei de crimes sexuais fica no meio termo. Revista Consultor 
Jurídico. TV ConJur. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2009-set-13/lei-
crimes-sexuais-cria-problemas-soluciona. Acesso em: 14 Dez. 2020 
 
GRECO, Rogerio. Crimes contra a dignidade sexual. Editora Atlas, São Paulo 14ª 
ed. 2010. 
 
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos 
Fundamentais:: Na Constituição Federal de 1988. Livraria do Advogado Editora, 
2018.

Mais conteúdos dessa disciplina