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FACULDADE EVANGÉLICA DE GOIANÉSIA CURSO BACHARELADO EM DIREITO CRIMES SEXUAIS E DIREITO PENAL ANA FLÁVIA SILVA MENDES GOIANÉSIA - GO 2020 ANA FLÁVIA SILVA MENDES CRIMES SEXUAIS E DIREITO PENAL Trabalho avaliativo, apresentado a Faculdade Evangélica de Goianésia como requisito parcial a obtenção do Título de Bacharel em Direito Orientador: Maísa Profa. Dra. Maisa França Teixeira GOIANÉSIA - GO 2020 SUMÁRIO 1 PROBLEMATIZAÇÃO .............................................................................................. 2 2. OBJETIVOS ............................................................................................................ 3 3. HIPÓTESES ............................................................................................................ 4 4. JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 5 5. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................... 8 6. METODOLOGIA .................................................................................................... 13 7. CRONOGRAMA .................................................................................................... 13 8. SUMÁRIO PROVISÓRIO ...................................................................................... 13 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 14 2 1 PROBLEMATIZAÇÃO O crime de estupro, previsto no artigo 213, do Código Penal, anteriormente definido como “constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça” passou a ter redação de maior abrangência, equiparando homens e mulheres no polo passivo do delito, a saber: “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. (BRASIL, 1940) A expressão crimes contra os costumes já não noz traduz a realidade dos bens juridicamente protegidos pelos tipos penais que se encontravam no Título VI do Código Penal. O foco da proteção já não era mais a forma como as pessoas deveriam se comportar sexualmente perante a sociedade do século XXI, mas sim a tutela da sua dignidade sexual. A dignidade sexual é uma das espécies do gênero dignidade da pessoa humana. Conforme Sarlet (1999, p. 90) dissertando sobre o tema, esclarece ser a dignidade, existem certas informações de grande relevância: A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos. Além disso, a nova legislação também acrescenta ao artigo 217-A (estupro de vulnerável), o parágrafo 5º: “As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime”. (BRASIL, 2015) É de suma importância lembrar que o artigo 217-A, caput, do Código Penal trata do estupro contra vítima menor de 14 anos; o parágrafo 1º prevê situações em que a vítima possui enfermidade ou deficiência mental que retirem dela o discernimento para o ato ou que, por qualquer outra causa, não possa oferecer resistência; o parágrafo 3º trata do estupro que resulta lesão grave; e o parágrafo 4º, do resultado morte. Ou seja, a pena continua a mesma, reclusão de 6 a 10 anos, mas 3 há um parágrafo que aumenta a pena para de 8 a 12 anos se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 anos e maior de 14 anos. No entanto, se da violência praticada resultar a morte, a pena será de 12 a 30 anos. De modo geral, certamente, as inovações trazidas pela Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009 serão objeto de intensos debates doutrinários e jurisprudências, a exemplo do que ocorrerá no que diz respeito à natureza da ação penal no crime de estupro, quando resultar lesão corporal ou a morte da vítima, ou mesmo a aplicação retroativa de tipos penais considerados benéficos ao agente, como ocorre com o atual art. 213 do Código Penal, que fundiu figuras típicas anteriormente reconhecidas pelos nossos Tribunais, principalmente os superiores, como de espécies diferentes. Dessa forma, essa temática induz uma série de questionamentos principalmente quando nos deparamos com a forma de como a sexualidade feminina é julgada, a partir de uma dupla moral, para homens e mulheres, na qual delas se espera, ainda hoje, o papel do recato, do comportamento sexual “adequado”, discreto e tradicional, responsabilizando a mulher pela própria violência que a vitimou: Será que a legislação vigente está sendo eficaz para coibir essas práticas em uma sociedade construída em uma base machista ? 2. OBJETIVOS Objetivo Geral: Investigar a questão da ocorrência do crime de estupro, uma violência sexual versada contra a mulher, onde a (in) compreensão jurídica acerca dos crimes de violência contra a mulher. Buscando analisar precedentes judiciais e posicionamentos doutrinários. Objetivos Específicos: Identificar correntes doutrinárias sobre o tema apresentado, bem como, jurisprudências; Investigar a legislação penal brasileiro e o crime de estupro sobre o princípio da dignidade humana; Conceituar o machismo e desigualdade de gênero: aspectos da cultura do estupro. 4 3. HIPÓTESES Diante do estudo desenvolvido se compreende que são diversas as complexidades no ordenamento pátrio sobre o que se referem a crimes sexuais, estes tipos criminais detém uma série de formas de serem cometidos e especialmente são cometidos de forma a não buscar uma clara e real forma de dar chances para a vitima em se defender ou reprimir a ação delituosa. De outra forma é necessário ainda desenvolver uma série estudos para se compreender se o direito penal brasileiro trata com seriedade os crimes sexuais e se especialmente desenvolve estes de forma a dar devida punição ou desenvolver um processo legal. É de se afirmar ainda que os crimes sexuais são diversos, passando desde o estupro que é o mais conhecido e um dos amis repudiados por parte da sociedade desde os tempos antigos, bem como desenvolvendo até a crimes como o assédio sexual que desenvolver especialmente relações trabalhistas. De toda forma o desenvolvimento dos crimes sexuais é, no direito brasileiro, uma complexidade e que merece especial atenção, considerando ainda que tais crimes necessitam de uma especial atenção para o conjunto probatório que enseja a dar punição. As formas de prova em crimes sexuais são especialmente complexas, mesmo que seja um crime que venha a deixar vestígios, é possivel que este seja cometido sem deixar grandes vestígios materiais, porém acarretando em claro trauma para a vítima e desenvolvendo problemas na sociedade. É necessário compreender em como o direito brasileiro trata os crimes sexuais e se é dada atenção para estes crimes após certo tempo. Em alguns crimes, tal qual o de estupro, é possivel a coleta de material genético, porém no atentado ofensivo ao pudor não se pode fazer tal questão. Neste sentido deseja se compreender em como o direito brasileiro trata5 os crimes complexos e como lida com o conjunto probatório. 54. JUSTIFICATIVA O crime de estupro é uma das formas de violência mais antigas da história da humanidade. Na Antiguidade era considerado delito contra a propriedade, e nos dias atuais, em que afronta a dignidade sexual segundo o ordenamento jurídico de boa parte dos países inspirados na consagração da dignidade humana, no Brasil, o ato sexual forçado sempre foi reprimido pela sociedade, sob fundamentos e normas jurídicas vêm sendo modificados com o decorrer do tempo para ampliar a proteção da sociedade. Quem disse? Citar! Do tema ora tratado, decorrem das inquietações provocadas pelo mesmo, já que, debater a violência de gênero e apontar caminhos para dirimi-la se é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade que realmente se preocupa em assegurar direitos mínimos, essenciais a uma existência digna e inerentes à pessoa humana. Não se pode admitir, que as sociedades e suas instituições permaneçam na contramão do que preveem os diversos ordenamentos jurídicos no que tange à garantia de direitos humanos inerentes. O estupro é um delito que afronta a dignidade sexual e moral das mulheres e sua gravidade não pode ser minimizada mediante uma análise carregada de valores preconceituosos e machistas. Tanto o senso comum, saber científico, têm em comum o discurso de que as desigualdades existentes entre homens e mulheres são justificadas pelas diferenças biológicas entre os sexos. Sempre foi assim e, atualmente, grande parte da sociedade ainda acredita que os papéis de cada um estão predeterminados em virtude de um fundamento natural. Conforme ressaltou De Beauvoir (1970), com pioneirismo inquestionável na literatura que discutiu referidas desigualdades, os antifeministas apelaram para todos os meios a fim de provar a inferioridade feminina: tanto a religião, a filosofia e a teologia, quanto as ciências biológicas, a psicologia experimental, entre outros campos do saber, continham argumentos que distanciavam os mundos do homem e da mulher. Em uma abordagem teórico-conceitual para gênero, nas palavras de Scott (1990, p. 5), a palavra gênero “indicava uma rejeição ao determinismo biológico implícito no uso de termos como ‘sexo’ ou ‘diferença sexual’”. Sobre o tema, leciona Machado (2000, p. 5): 6 Gênero é uma categoria engendrada para se referir ao caráter fundante da construção cultural das diferenças sexuais, a tal ponto que as definições sociais das diferenças sexuais é que são interpretadas a partir das definições culturais de gênero. Gênero é assim uma categoria classificatória que, em princípio, pode metodologicamente ser o ponto de partida para desvendar as mais diferentes e diversas formas de as sociedades estabelecerem as relações sociais entre os sexos e circunscreverem cosmologicamente a pertinência da classificação de gênero. Este conceito pretende indagar metodologicamente sobre as formas simbólicas e culturais do engendramento social das relações sociais de sexo e de todas as formas em que a classificação do que se entende por masculino e feminino é pertinente e faz efeito sobre as mais diversas dimensões das diferentes sociedades e culturas Isso significa dizer que as representações do que é feminino ou masculino são, em verdade, edificadas pela sociedade em um dado momento histórico. Com o novo conceito, se fortalece a noção de que os seres humanos são realmente socializados durante toda a vida para agir conforme a cartilha de condutas predeterminadas pelas instituições sociais, e não segundo uma destinação natural. Para Scott (1990, p. 21-26): O gênero é uma primeira maneira de dar significado às relações de poder. Seria melhor dizer: o gênero é um primeiro campo no seio do qual, ou por meio do qual, o poder é articulado. [...] A ênfase colocada sobre o gênero não é explícita, mas constitui, no entanto, uma dimensão decisiva da organização, da igualdade e desigualdade. As estruturas hierárquicas baseiam-se em compreensões generalizadas da relação pretensamente natural entre o masculino e o feminino. A desigualdade de gênero supracitado é um desafio ainda explícito, portanto, a sociedade reproduz um discurso que sobrepõe os direitos e as liberdades dos homens aos das mulheres, construindo instituições que diariamente violentam os sujeitos do sexo feminino. A problematização do paradigma do gênero é lançada sob uma nova perspectiva: a de que a desigualdade, uma vez construída socialmente, pode ser desconstruída, desde que haja a necessária e exaustiva reflexão e atuação nesse sentido. O Estupro no ordenamento jurídico brasileiro está tipificado no artigo 213 do Código Penal, no capítulo Dos Crimes contra a Liberdade Sexual, do título Dos Crimes contra a Dignidade Sexual. Este título foi recentemente modificado pela Lei n.º 12.015, de 7 de agosto de 2009, que trouxe algumas significativas alterações para o tratamento dos crimes sexuais. 7 A modificação da referida lei reflete no avanço do ordenamento penal brasileiro, que agora visa a proteger a pessoa da vítima em sua plenitude, enxergando os crimes sexuais como verdadeira violação ao fundamento constitucional da dignidade da pessoa humana. Para Greco (2010, p. 451): A expressão crimes contra os costumes já não traduzia a realidade dos bens juridicamente protegidos pelos tipos penais que se encontravam no Título VI do Código Penal. O foco da proteção já não era mais a forma como as pessoas deveriam se comportar sexualmente perante a sociedade do século XXI, mas sim a tutela de sua dignidade sexual. [...] O nome dado a um Título ou mesmo a um Capítulo do Código Penal tem o condão de influenciar na análise de cada figura típica nele contida, pois, através de uma interpretação sistêmica ou mesmo de uma interpretação teleológica onde se busca a finalidade da proteção legal, se pode concluir a respeito do bem que se quer proteger, conduzindo, assim, o intérprete, que não poderá fugir às orientações nele contidas. A título de exemplo, veja-se o que ocorre com o crime de estupro, que se encontra no capítulo relativo aos crimes contra a liberdade sexual. Aqui, como se percebe, a finalidade do tipo penal é a efetiva proteção da liberdade sexual da vítima e, num sentido mais amplo, a sua dignidade sexual. Essa importante alteração obriga formalmente o operador do direito e a sociedade de forma geral a olhar para os crimes de natureza sexual de forma distinta em contraste com a visão utilizada no decorrer da História, reconhecendo que a tipificação penal em comento tem escopo de proteger diretamente o direito fundamental de liberdade e de disposição do próprio corpohist. Com o advento da Lei 12.015/2009, o delito capitulado no artigo 213 do Código Penal teve sua redação completamente modificada, devido à união dos tipos de estupro e de atentado violento ao pudor em apenas uma figura penal. Atualmente, a descrição do crime em comento é: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. O crime de estupro teve seu alcance ampliado, haja vista que a sua redação anterior foi acrescentada o texto do antigo delito de atentado violento ao pudor. Não houve, em realidade, abolitio criminis no concerne ao antigo crime previsto no art. 214 do Código Penal. Conforme Greco (2010, p. 486): Não houve descriminalização do comportamento até então tipificado especificamente como atentado violento ao pudor. Na verdade, somente houve uma modificação nomen juris da aludida infração 8 penal, passando, como dissemos a chamar-se estupro o constrangimento levado a efeito pelo agente a fim de ter conjunção carnal, ou, também, a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. Aplica-se, na hipótese, o chamado princípio da continuidade normativo-típica, havendo, tão somente, uma migração dos elementos anteriormente constantes darevogada figura prevista no art. 214 do Código Penal, para o art. 213 do mesmo diploma repressivo. Pela antiga redação apenas o coito vaginal era considerado estupro e, assim, apenas a mulher poderia ser sujeito passivo do crime. As inúmeras outras condutas existentes que porventura violassem a liberdade sexual das pessoas se subsumiam, no máximo, ao crime de atentado violento ao pudor. A ampliação do modus operandi do delito constante no art. 213 do Código Penal decorre outra importante mudança: agora se trata eminentemente de crime comum, uma vez que qualquer pessoa pode ser autora e/ou vítima do crime de estupro, seja do sexo masculino ou feminino. A nova roupagem da referida Lei trouxe duas formas qualificadas para a infração penal ora tratada, demonstrando a intenção de agravar a punição daqueles que violam a liberdade sexual de outrem. Destarte, para quem comete o delito tipificado no caput do artigo, a pena é de reclusão de 06 (seis) a 10 (dez) anos. Por sua vez, se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos, a sanção é de 08 (oito) a 12 (doze) anos de reclusão. Por fim, se da ação criminosa resulta morte, a pena é de reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. Pondera-se ainda, que a Lei n. 12.015/2009 corroborou o enquadramento da infração penal de estupro, em sua forma básica ou qualificada, como crime hediondo, previsto no art. 1º, inciso V, da Lei n.º 8.072/90. Destarte, será insuscetível de anistia, graça e indulto, bem como de pagamento de fiança, e deverá ter a pena cumprida inicialmente em regime fechado (art. 2º, §2º). 5. REFERENCIAL TEÓRICO Ao analisar a movimentação, os deslocamentos de sentido do enunciado da Lei 12.015/2009, que trata dos crimes sexuais, foi necessária a compreensão do conceito de “dignidade sexual” presente, no Código Penal de 1940, ainda em vigor. 9 Normas da ABNT O efeito de sentido de benefício, pois se o sujeito ativo, em um mesmo contexto fático, praticasse o estupro e o atentado violento ao pudor contra uma determinada vítima, responderia por dois crimes distintos, em concurso material, mas, com a nova Lei, responderá por um único crime. É destacado o efeito de sentido de igualdade, pois, se antes o crime de estupro que exigia coito vaginal para sua tipificação era de mão própria, já que exigia que o sujeito ativo, que só poderia ser um homem, uma atuação pessoal e indelegável. E próprio, com relação ao sujeito passivo, vítima, que só poderia ser mulher. A referida Lei estabelece o estupro como crime comum e tanto o homem quanto a mulher podem ser sujeitos ativos ou passivos com isso podemos concluir que esta nova Lei trouxe um efeito de sentido de igualdade na diferença entre os sexos. A Lei apresenta três modalidades de qualificadoras para o crime de estupro. As duas primeiras (parágrafo 1º) dispõem sobre a ocorrência de resultado lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 anos e maior de 14 anos, com pena de reclusão de oito a doze anos; e a terceira (parágrafo 2º) prevê a ocorrência de resultado morte, com pena de reclusão de doze a trinta anos. Podemos ressaltar que a Lei 12.015/2009, é tomada como unidade de análise e, portanto, como um lugar de dispersão de sentidos, que tem a metáfora como fundamento da significação, já que palavra ou proposição não é origem do sentido, ou seja, o sentido não deriva da literalidade da palavra. Foi nesse espaço de metáfora que empreendemos o nosso gesto de interpretação para identificar os efeitos de sentido de vítima e autor de delito sexual na Lei. Com base na Constituição de 1988, a referida Lei emergiu sob o enfoque jurídico dos princípios da dignidade da pessoa humana, da liberdade e da proteção integral da criança e do adolescente, essa lei trata de crimes contra pessoa vulnerável, um novo conceito surgido no Direito Penal e sob o enfoque social, adequando-a a realidade da necessidade de tutela da liberdade sexual e não da moral sexual, de outro lado. Destaca-se ainda, que, com a unificação dos crimes de estupro e de atentado violento ao pudor em um único dispositivo, o novo sentido de crime de estupro impede o atravessamento do sentido de honestidade (de recato sexual) da vítima, antes previsto na lei, já que o objeto da referida Lei não é mais a forma como as pessoas agem sexualmente perante a sociedade, mas a proteção da liberdade sexual de qualquer pessoa. 10 Por fim, ressaltamos que o efeito de atualidade da Lei, entendida aqui como um acontecimento discursivo, responde de certa forma, aos sentidos decorrentes das transformações sociais pelas quais passaram nossa sociedade. Os efeitos de sentido não poderiam ser outros, portanto, nessas condições de possibilidade. Carolina Ferreira, Doutora em Direito, Estado e Constituição, criticou o chamado “populismo penal”, a elevação das penas quando ocorrem casos com grande exposição na mídia. Em sua opinião, as penas para estupradores já são altas, elevadas pela Lei 12.015/2009, e chegam há 30 anos, mas isso não alterou a ocorrência dos crimes até agora. O Direito Penal tem respostas restritas, não resolvem o conflito, e o senso comum de que a sociedade estará mais segura com penas aumentadas não é real, disse. Ela também apontou a existência de uma cultura de estupro no trâmite dos processos no Judiciário, quando os juízes desconsideram a palavra da vítima para entenderem ter havido o crime, por exemplo. E elogiou a criação do Observatório das Mulheres Contra a Violência do Senado, que pode auxiliar na mudança do cenário a partir de análise das políticas públicas e do monitoramento de dados, e não apenas na mudança das leis. Também nessa linha, Soraia Mendes, doutora em direito pela Universidade de Brasília e professora do Instituto de Direito (IDP), defendeu a mudança do ensino em escolas e até mesmo em faculdades, que perpetuam a cultura do estupro ao, por exemplo, apontarem em seus manuais de Direito a relativização do não, da negativa de uma mulher ao ato sexual (BRASIL, 2020). As pessoas tem o livre desenvolvimento da personalidade na esfera sexual, promovendo seu crescimento sadio e equilibrado no que diz respeito ao tema. Devem- se tomar os devidos cuidados na normalização da crença de que, qualquer pessoa, seja ela de qualquer idade tenha que ingressar na atividade sexual, e é necessário que até atingir um determinado grau de desenvolvimento psicológico, deve-se preservar o menor dos perigos inerentes ao ingresso prematuro na vida sexual, pois, a cada passo prematuro ao referido ato pode trazer prejuízos físicos e/ou psicológicos, prejuízos esses que se tornam mais intensos e prejudiciais se forem acometidos através de violência. (STEFAN, 2011, p.165). Dessa forma segundo Gênova (2009), para o crime de estupro para maiores de 14 anos, que envolva a pratica de qualquer tipo de ato libidinoso, aplica-se o artigo 213. Se, no entanto, a vítima for menor de 14 anos, aplica-se o artigo 217-A, referente ao crime de vulnerável cuja pena é mais grave (reclusão de oito a quinze anos 11 contrapondo-se à pena de seis a 10 anos se a vítima maior de 14 anos, não considerada “vulnerável” legalmente). Com a nova redação que foi dada ao artigo 213, é verificado que qualquer pessoa pode praticar essa conduta. Entretanto, em razão da unicidade do tratamento legal do estupro, que atualmente possibilita para a consumação carnal ou de outro ato libidinoso, indistintamente, podem ser sujeitos ativos e passivos tanto o homem como a mulher, sendo, portanto, sujeitos indiferentes, sem nenhuma restrição típica (delito comum) (PRADO, 2013, p.600) Para a configuração do crime de estupro segundo Luiz Regis Prado (2013, p.601), previsto do artigo 213 do Código Penal exige-se o concurso simultâneo de três requisitos: 1) conjunção carnal;2) com a pessoa constrangida a tal ato; 3) mediante emprego da violência ou grave ameaça objetivando o ato ou outro ato libidinoso. Só existe estupro, lesividade ao bem jurídico da liberdade sexual, segundo Queiroz (2003), se existir conjunção carnal ou outro ato libidinoso contra a vontade expressa da vítima, que se opõe manifestamente ao ilegal constrangimento que lhe é imposto. Por ser um delito comum qualquer agente pode ser sujeito ativo ou passivo, abrangendo assim a pratica de qualquer ato libidinoso sendo conjunção carnal ou não. O estupro “passou-se a tipificar a ação de constranger qualquer pessoa (homem e mulher) a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ela se pratique outro ato libidinoso” (CAPEZ, 2012, p.25). Segundo Fernando Capez (2012) o estupro de vulnerável foi incorporado ao Código Penal pelo artigo 217-A. Artigo 217- A- ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (quatorze) ano. Pena reclusão, de oito a quinze anos. §1º. Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a pratica do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência (BRASIL, 2009) Teles (2006) explica que a concepção de estupro de vulnerável considerado 12 crime qualquer tipo de ato libidinoso, mesmo com o consentimento da vítima, trata-se de uma proteção contra as ações aos menores de 14 anos não aptos a fazer de sua sexualidade. Clarifica que a vulnerabilidade está contida “nas exigências de discernimentos para a prática de ato libidinoso e a possibilidade de resistir”. Esclarece ainda o autor que mesmo se tiver capacidade de compreensão, mas por qualquer razão não puder resistir ou não tiver liberdade de ação é uma pessoa vulnerável. Cresce entre juventude a ideia discordante das regras de comportamento impostas pela sociedade no concerne à iniciação sexual que a cada dia que passa surge precocemente, sendo reconhecido este fato como caso de saúde pública. O importante não é só punir o parceiro de maior idade, mas elaborar programas educativos e de conscientização entre os jovens no que tange à iniciação da sexualidade, esclarecendo-o as várias formas de lidar com essa situação. Diversas pesquisas revelam que os abusos sexuais sofridos por vulneráveis ocorrem em sua grande maioria no ambiente familiar. Neste sentido, vale ressaltar que a necessidade do jovem saber diferenciar o envolvimento sexual simples no namoro e o abuso sexual, uma vez que a descoberta sexual se inicia na fase da adolescência. Com relação ao referido tema, visa-se a proteção da sexualidade das pessoas consideradas vulneráveis também, e é preciso haver a preocupação em zelar pela dignidade do acusado, devido ao sensacionalismo que a pratica desse crime alcança. É valido salientar que, a preservação do acusado não defende a impunidade desses crimes, mas o direito do suspeito submeter ao devido processo legal prevalecendo o princípio da presunção de não culpabilidade. Dessa forma, conclui-se a legitimidade da preocupação com relação à tutela do vulnerável contra a violência sexual o seu objetivo foi atingido com a criação da lei 12.015/2009, sobretudo, zelar pela dignidade da pessoa humana da vítima e do acusado. 13 6. METODOLOGIA A metodologia aplicada ao estudo é de método hipotético dedutivo, desenvolvendo a hipótese apresentada e buscando formas de falsear a hipótese já apresentada neste presente projeto. Em mesmo modo a pesquisa será apresentada como uma pesquisa básica e desenvolvendo um apanhado geral sem foco em casos específicos. Os materiais de estudo são a pesquisa bibliográfica e a documental de forma a buscar fontes confiáveis que corroborem o estudo e bem como proporcionem crivo cientifico a pesquisa final. 7. CRONOGRAMA O Cronograma de estudo será desenvolvido conforme o quadro a seguir: MÊS / ETAPA PROJETO DE PESQUISA FINAL INÍCIO PESQUISA VERIFICAÇÃO DE DADOS DA PESQUISA PESQUISA COMPLEMENTAR PRODUÇÃO DA MONOGRAFIA REVISÃO VERSÃO FINAL NOV DEZ X JAN FEV X MAR X X X X JUN X X JUL X 8. SUMÁRIO PROVISÓRIO INTRODUÇÃO 14 1. O ROL DOS CRIMES SEXUAIS 2. AS PROVAS NOS PROCESSOS DE CRIMES SEXUAIS 3. AS COMPLEXIDADES DE JULGAMENTOS DE CRIMES SEXUAIS 4. A NECESSIDADE DE ADEQUAÇÃO NORMATIVA CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA REFERÊNCIAS ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A soberania patriarcal: o sistema de Justiça Criminal no tratamento da violência sexual contra a mulher. Boletim IBCCRIM. São Paulo: v. 11, n. 137, abr. 2004, p. 71-102. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/25354/o-estupro-enquanto-crime-de-genero-e-suas- implicacoes-na-pratica-juridica. Acesso em 20 Dez. 2020 CALDAS, Rudgen Rodrigues. Os efeitos jurídicos do estupro de vulnerável: criminologia e violência. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/72344/os-efeitos- juridicos-do-estupro-de-vulneravel-criminologia-e-violencia. Acesso em 20 Dez. 2020 BAZZO, Mariana. CHAKIAN, Silvia. Novos crimes sexuais e a questão de gênero na aplicação do Direito. Ministério Público. TV ConJur. 2016. Disponível em http://www.compromissoeatitude.org.br/tese-sobre-estupro-e-reforma-legislativa- vence-7o-congresso-virtual-do-mp. Acesso em: 14 Dez. 2020 ELUF, Luiza. Lei de crimes sexuais fica no meio termo. Revista Consultor Jurídico. TV ConJur. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2009-set-13/lei- crimes-sexuais-cria-problemas-soluciona. Acesso em: 14 Dez. 2020 GRECO, Rogerio. Crimes contra a dignidade sexual. Editora Atlas, São Paulo 14ª ed. 2010. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais:: Na Constituição Federal de 1988. Livraria do Advogado Editora, 2018.