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Mentira da Realização Profissional

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – ESCOLA DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA II (ECT 1205)
Prof. Dr. José Romerito Silva e Profa Dra Glícia Azevedo Tinoco
Aula 09 (13/set./2010) – Revisão geral
 Leia o artigo de opinião abaixo e depois, com base nele, responda às questões propostas a seguir.
REALIZAÇÃO PROFISSIONAL
Luciano Alvarenga*
Estamos diante de uma verdade que está difícil de não olhar, muito mais ainda de esconder - a mentira da chamada “realização profissional”. A tão propalada realização profissional cada vez mais mostra sua verdadeira identidade: a de que ela não existe.
Primeiro, o fato de que realização profissional é coisa que nunca antes existiu. No caso do Brasil, até pelo menos 20 anos atrás, as pessoas trabalhavam porque precisavam, fosse o trabalho ruim ou não. O trabalho era algo inescapável, no sentido de que era necessário à sobrevivência.
A ideia do trabalho como realização é nova entre nós. Nasceu com a abertura do mercado e da economia brasileira a partir dos anos 90. A intensa competitividade das empresas e organizações por mercados cada vez mais disputados levou à necessidade de transformar os trabalhadores em profissionais, mudar da ideia de emprego para a de carreira. Você não mais trabalha num dado lugar, você faz parte desse lugar. Não mais empregado, mas colaborador. Você não tem função; tem metas. Tudo isso se traduziu no famoso "vista a camisa da empresa".
A mudança do discurso e da condição do trabalhador foi acompanhado pela expansão do ensino universitário e pela chegada de milhares de novos profissionais derramados ano à ano pelas faculdades. Tudo isto embalado pelo discurso da realização e do sucesso profissional. Ser feliz é “realizar-se profissionalmente”. Não basta ter um emprego, tem que ser uma carreira; não basta trabalhar, é preciso se realizar. Não basta se realizar, tem que fazer sucesso.
Vinte anos depois que tudo isso começou não se encontra mais ninguém que concorde com tais coisas, e quem ainda concorda é porque não arrumou um emprego. A frustração é geral: jornadas semanais extenuantes; metas cada vez mais difíceis de serem cumpridas; assédio moral permanente nos locais de trabalho; risco de demissão é uma ameaça a quem hesita não cumprir exigências; profissionais que cometem absurdos para passarem por cima de outros; gerentes e líderes cada vez mais sádicos despejam nos colegas subalternos suas frustrações e arrependimentos. Os salários são achatados e a concorrência com estagiários é uma luta perdida.
O sonho da vida profissional começa aos 17 anos e termina aos 30. Aqui a frustração é geral. Médicos mal pagos e explorados por corporações da área de saúde. Professores universitários com titulação de Mestre e Doutor trocados por funcionários de empresa de renome ou coisa pior. Psicólogos e Psicanalistas disputam clientes sem dinheiro. Soldados e delegados se empregam no submundo do crime para melhorar o soldo. Jornalistas viraram rostos bonitos que não devem pensar nem em fazer perguntas, seu salário é aparecer na TV, se não estiver bom assim, a fila anda.
A precarização das profissões veio junto com todo um discurso sobre profissionais multilíngues, flexíveis, ágeis e motivados. O que sobrou é uma geração inteira de gente rancorosa, excluída do mercado, semiempregada, porque não aceita receber a metade por um trabalho que precisa fazer inteiro. Isso tudo acompanhado de uma imensa insegurança, incapacidade sempre maior de se preparar para o futuro, uma vez que o futuro num emprego nada tem a ver com capacidade, preparo ou habilidade, mas a rapidez com que se aceitam condições cada vez piores de trabalho.
 Esta é a realidade. Houve uma tremenda mentira construída nessas duas décadas, realização profissional não existe. Você vai trabalhar (em condições muito diferentes das mencionadas nas revistas) porque é sua obrigação e isso nada tem a ver com nenhuma outra coisa. É claro que a realização pode acontecer e acontece. Mas nada indica que isso seja algo previsível.
*Sociólogo e mestre em Economia. Coordenador Geral de Extensão da FJB.
(Disponível em: http://fjb.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=161:realizacao-profissional&catid=51:artigos&Itemid=11.
Texto adaptado. Acesso em 23/08/2010).
Questões sobre o texto “Realização profissional”
1. O tema central do texto é ________________________________________________________________________.
2. Marque um “x” no item que corresponde ao recorte temático do texto lido. 
(X) a) profissão.
(X) c) mentira sobre a realização profissional.
(X) b) realização profissional.
(X) d) mudança na realidade profissional brasileira.
3. Qual a tese defendida pelo autor? __________________________________________________________________
 _______________________________________________________________________________________________.
4. Destaque do artigo dois argumentos que o autor utiliza para alicerçar o ponto de vista defendido, indicando, em seguida, o parágrafo em que se encontram, respectivamente.
Arg1.: __________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.
Arg2.: __________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.
5. Escreva "V" (para verdadeira) ou "F" (para falsa) em cada asserção abaixo, conforme sua adequação ao conteúdo do texto lido.
(X) a) A discussão desenvolvida pelo autor sobre o tema em foco retoma uma tese previamente defendida para a ela se contrapor.
(X) b) Podemos dizer que, na defesa de sua tese, o autor recorre, predominantemente, à contra-argumentação.
(X) c) O autor apoia-se em dados quantitativos e na exemplificação para fortalecer seu ponto de vista.
(X) d) No último parágrafo, o autor demonstra falta de coerência em seu discurso.
6. Considerando as afirmações "(...) realização profissional é coisa que nunca antes existiu. No caso do Brasil, até pelo menos 20 anos atrás, as pessoas trabalhavam porque precisavam, fosse o trabalho ruim ou não. O trabalho era algo inescapável, no sentido de que era necessário à sobrevivência." (2º§), assinale um "x" na única alternativa correta quanto aos problemas de argumentação que podem ser nelas identificados.
(X) a) generalização e criação de falso pressuposto.
(X) b) generalização e emprego de noções imprecisas.
(X) c) generalização e recurso à comparação indevida.
(X) d) generalização e argumento baseado em crença pessoal.
7. No trecho "(...) Houve uma tremenda mentira construída nessas duas décadas, realização profissional não existe." (último §), o único conectivo de coesão textual que não poderia ser utilizado entre as duas sentenças, uma vez que alteraria a relação de sentido existente entre elas é (assinale um "x" na alternativa indicada)
(X) a) visto que.
 (X) b) pois.
 (X) c) porquanto.
(X) d) portanto.
8. O excerto "A mudança do discurso e da condição do trabalhador foi acompanhado pela expansão do ensino universitário e pela chegada de milhares de novos profissionais derramados ano à ano pelas faculdades. Tudo isto embalado pelo discurso da realização e do sucesso profissional. Ser feliz é 'realizar-se profissionalmente'. Não basta ter um emprego, tem que ser uma carreira; não basta trabalhar, é preciso se realizar. Não basta se realizar, tem que fazer sucesso." (4º§) contém alguns problemas de adequação linguística à norma culta. Reescreva todo o excerto, corrigindo esses problemas; depois, apresente a devida justificativa para cada um deles.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Justificativas
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9. O trecho "Esta é a realidade. Houve uma tremenda mentira construída nessas duas décadas, realização profissional não existe. Você vai trabalhar (em condições muito diferentes das mencionadas nas revistas) porque é sua obrigação e isso nada tem a ver com nenhuma outra coisa. É claro que a realização pode acontecer e acontece. Mas nada indica que isso seja algo previsível" (último §) encontra-se com pontuação inadequada, o que resulta na incorreta separação entre as orações. Sendo assim, reescreva-o, corrigindo esses problemas.
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Proposta de produção textual
10. Escreva uma carta argumentativa, endereçada a Luciano Alvarenga, autor do artigo de opinião que você acabou de ler, contrapondo-se ao ponto de vista adotado por ele. Para tanto, utilize o seguinte projeto de texto:
(1) estrutura composicional própria do gênero discursivo em foco;
(2) introdução contendo o fato motivador da carta e a explicitação da tese adotada;
(3) recurso a, pelo menos, dois argumentos consistentes;
(4) construção do diálogo com o interlocutor em tom respeitoso;
(5) fecho conclusivo à argumentação;
(6) utilização de linguagem de acordo com a norma padrão.
Obs.:
01 - Essa carta, que pode ser feita em trio, tem de ser postada no Sigaa até as 23h50 da segunda-feira, 13 de setembro.
02 - Para a aula de quarta-feira, 15 de setembro, última aula antes da prova, você deve trazer a presente atividade impressa e completamente respondida.

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