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Direitos Humanos e Equidade

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RAFAEL JOSÉ NADIM DE LAZARI
CESAR AUGUSTO ARTUSI BABLER
VIVIANE DE ARRUDA PESSOA OLIVEIRA
MARIA CAROLINA GERVÁSIO ANGELINI DE MARTINI
DIREITOS HUMANOS
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Direitos Humanos e os Cidadãos no Mundo: Diferença, Diversidade e a Biotecnologia
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UNIDADE 3
DIREITOS HUMANOS E OS 
CIDADÃOS NO MUNDO: 
DIFERENÇA, DIVERSIDADE E A 
BIOTECNOLOGIA
1. DIREITOS HUMANOS E OS CIDADÃOS NO MUNDO: 
DIFERENCIAÇÃO PARA PROMOÇÃO
1.1. EQUIDADE E IGUALDADE COMO PRÁTICAS SOCIAIS
É possível diferenciar igualdade de equidade?
Muitas vezes as expressões “igualdade” e “equidade” são trazidas como expressões 
sinônimas e equivalentes. No entanto, embora o objetivo final de ambas seja a promo-
ção da justiça social, essas expressões se diferenciam conceitualmente. É importante 
saber essa distinção.
A igualdade nasce da ideia de que a lei não faz diferenciação entre as pessoas, ou seja, 
é preciso dar a todos o mesmo tratamento perante a lei. Por sua vez, a equidade busca 
atentar-se às necessidades das pessoas, considerando as distinções de cada uma para 
a promoção dessa igualdade. Significa dizer que ambas almejam a justiça social, mas 
há distinções importantes nesses conceitos.
No cenário internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 anun-
cia o princípio da igualdade, em seu artigo I, e o princípio da não discriminação, no arti-
go seguinte, impedindo que todo ser humano sofra discriminação de qualquer espécie.
Também o Pacto dos Direitos Civis e Políticos consagra a igualdade formal e, junto do 
Pacto dos Direitos Econômicos e Sociais, traz a impossibilidade de discriminação por 
motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de qualquer outra natureza, 
origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação.
No plano nacional, a Constituição Federal brasileira, por exemplo, consagra no artigo 
5º também o princípio da igualdade ao afirmar que todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros resi-
dentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança 
e à propriedade.
Mas é possível garantir a igualdade sem diferenciar as pessoas nas medidas das suas 
desigualdades?
A resposta só pode ser negativa. Isso ocorre porque, não estando no mesmo patamar, 
não há como garantir a existência da igualdade entre as pessoas. Então, é preciso 
entender a igualdade de duas formas ou sob duas perspectivas. Uma igualdade de 
natureza formal, ou seja, aquela em que se coloca que todos são iguais perante a lei e, 
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em um segundo aspecto, uma igualdade de natureza material. A igualdade material (ou 
substancial) é entendida, assim, como a possibilidade de tratar os iguais de forma igual 
e os desiguais de forma desigual, na medida das suas desigualdades.
Nesse segundo sentido é que se pode buscar a ideia de equidade, que visa tratar as 
pessoas de forma diferente para proporcionar o que elas de fato necessitam, ou seja, 
para que de fato possam ter as mesmas oportunidades dentro das suas realidades e 
características. É por meio da equidade que se consegue garantir inclusão a grupos de 
minorias e pessoas em condições de maior vulnerabilidade.
Mazzuoli (2021, p. 216) observa que o estudo dos direitos humanos das minorias e 
dos grupos de vulneráveis excepciona o princípio da igualdade formal, que foi erigido 
no estado liberal para consagrar a igualdade material com o reconhecimento das parti-
cularidades de cada pessoa e implementado pelo estado social, garantindo a proteção 
especial a todos que detêm características singulares, por meio das chamadas discri-
minações positivas ou ações afirmativas.
Importante é reforçar que no mundo, diante da pandemia de coronavírus, e ao passar 
de crises econômicas e sociais, os impactos certamente são sentidos de forma vee-
mente pelos grupos em situação de vulnerabilidade, como crianças, idosos, mulheres, 
população LQBTQI+, pessoas com deficiência e pelas minorias, daí a necessidade de 
estimular práticas sociais que promovam direitos humanos em atenção maior a esses 
grupos, sob pena de manifesto retrocesso social.
1.2. DIFERENCIAÇÃO PARA PROMOÇÃO
Em um mundo justo e igualitário, dentro do corrente modo de produção, é preciso dife-
renciar para promover os direitos humanos. A ideia é trazer a todos os mesmos acessos 
e oportunidades, levando em consideração as diferenças que os impede de ter o mes-
mo acesso a direitos e nas mesmas condições.
Ramos (2021, p. 994) observa que a universalidade dos direitos humanos é concretiza-
da pela igualdade, questionando:
 ` Basta reconhecer que todos têm o mesmo direito ao trabalho e de acesso aos cargos 
públicos se as pessoas com deficiência sofrem com as mais diversas barreiras de acesso, 
ficando alijadas desses mercados?
 ` Como reconhecer o direito de acesso à justiça se os mais pobres não têm condições de 
pagar um advogado?
A ideia é que a discriminação para igualar traz benefícios que diminuem as desigual-
dades que muitas vezes são perpetuadas no contexto histórico social que perpetua 
discriminações nos comportamentos da sociedade, ou seja, é possível manifestar uma 
ação discriminatória para promover igualdade, o que chamamos de ações afirmativas.
Mas como fazer isso sem cometer injustiças? Discriminando positivamente, ou seja, 
por meio de políticas públicas e leis que reparem e favoreçam determinados grupos por 
serem minoritários, em razão de injustiças históricas.
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No Brasil, por exemplo, temos, como medidas dessas práticas sociais que visam pro-
mover justiça social e equidade, programas como o Bolsa Família, que promovem uma 
equidade na distribuição de renda para diminuir a pobreza, e também as políticas de 
cotas econômicas, sociais e raciais nas universidades para democratizar o acesso ao 
ensino superior e, ainda, alterações na legislação eleitoral para estimular uma maior 
participação das mulheres no cenário político.
Assim, os direitos humanos no cenário internacional e nacional preocupam-se em ga-
rantir a proteção a grupos em situação de vulnerabilidade e minorias, em razão da ne-
cessidade mais ampla de proteção pela fragilidade na qual foram colocados.
Como bem observa Piovesan (2018, p. 388), a Convenção sobre a Eliminação de To-
das as Formas de Discriminação Racial prevê, no art. 1º, § 4º, a adoção de medidas 
especiais de proteção ou incentivo a grupos ou indivíduos, com vistas a promover sua 
ascensão na sociedade até um nível de equiparação com os demais, ressaltando as 
ações afirmativas como medidas especiais e temporárias para remediar um passado 
discriminatório, de forma retrospectiva, acelerando esse processo de igualdade, mas 
também de forma prospectiva, fomentando uma transformação social para o futuro, 
criando uma nova sociedade, com base na igualdade, e fomentando por meio de medi-
das concretas a crença de que essa igualdade deve se moldar no respeito à diferença 
e à diversidade, para promoção de uma igualdade material.
Observe a ilustração da Figura 01. 
Quando se pensa em pluralidade, é pre-
ciso atentar para o fato de que, em uma 
sociedade, as pessoas manifestam dife-
renças em termos de comportamento, 
raça, gênero, etnia, religião, orientação 
sexual, entre outros aspectos, ou seja, 
há presente uma diversidade cultural 
e social que deve ser estimulada para 
garantia da inclusão e representativida-
de, manifestada pelo sentimento da em-
patia e do pertencimento em qualquer 
país. Uma sociedade inclusiva, pautada na defesa dos direitos humanos, respeita as 
diferenças a fim de promover ações e políticas públicas para combater medidas, ações 
e comportamentos de natureza discriminatória, com base na percepção e no respeito 
a pluralidade.
1.3. PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DE DIREITOS DE GRUPOS 
ESPECÍFICOS
Para os direitos humanos, para reduzir a desigualdade,é necessário promover a in-
clusão social, econômica e política de todos de maneira universal e indivisível, sem 
distinção de raça, gênero, etnia, religião, opinião política ou pertencimento a determi-
nado grupo social. Nesse sentido, a Agenda 2030 reforça o propósito de não deixar 
ninguém para trás.
Figura 01. Proteção, vulnerabilidade e diversidade
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Certamente, alguns grupos, seja por razões históricas, seja por razões culturais, so-
freram e sofrem ao longo do percurso discriminação e necessitam de maior proteção.
Mazzuolli (2021, p. 216) observa que alguns grupos de pessoas são consideradas mi-
norias por não terem a mesma representação política dos demais cidadãos, ou ainda 
por sofrerem histórica e crônica discriminação por guardarem entre si características 
essenciais à própria personalidade no meio social, com uma identidade própria coletiva, 
seja pela etnia, nacionalidade, língua, religião, seja por condição pessoal, a exemplo 
dos povos indígenas, da comunidade LGBTQIA+, dos refugiados. Por outro lado, en-
tende que seriam grupos em situação de vulnerabilidade todas as coletividades mais 
amplas de pessoas que não pertencem a determinada categoria, mas que, por sua 
fragilidade e indefensibilidade, necessitam de proteção do Estado, como as mulheres, 
os idosos, as crianças e as pessoas com deficiência.
Então é necessário promover ações afirmativas que tragam para minorias e grupos em 
situação de vulnerabilidade o combate a essas fragilidades e desigualdades presentes 
neste mundo desigual. Basta observar o conteúdo e a formação desses grupos sociais 
para perceber a importância dessas ações na atualidade.
As crianças, os idosos, as pessoas com deficiência e as mulheres, entre outros grupos 
estão entre as vítimas de maior violação de direitos humanos na maioria dos países. 
Necessitam, assim, no campo normativo e na promoção de políticas públicas, ter uma 
ampla proteção no combate às desigualdades presentes na sociedade, bem como ser 
pautas de constantes modificações e reconstruções de paradigmas e estigmas sociais. 
Vejamos em específico cada um dos grupos mencionados.
a. Crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência
 ` Crianças e adolescentes
A tutela de proteção das crianças sofreu profundas transformações ao longo dos sécu-
los. Houve o momento em que o período de infância não sofria diferenciação da fase 
adulta ou em que a criança era considerada um apenso familiar, até que se passou a 
perceber a criança como um ser em processo de desenvolvimento que precisa de pro- 
teção específica e especial.
Passa-se ao longo de gradual transformações sociais, culturais e histórias de posturas 
legislativas para a doutrina da tutela da proteção integral, que se consolida em meados 
do século XX.
É importante entender que a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 traz 
a proteção da maternidade e da infância, evoluindo nessa percepção. Mas é com a 
evolução do sistema da ONU, quando se institui uma agência própria especializada 
de proteção da criança, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que 
se busca uma atuação mais voltada à promoção de políticas e agendas para propiciar 
essa proteção, assim como também se dá através de relatórios especiais e um comitê 
onusiano que lidam com a mesma temática.
As crianças e os adolescentes, por se encontrarem em situação de ampla vulnerabilidade, 
são titulares de direitos humanos e fundamentais que as protegem em sua singularidade. 
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Isto é, há uma expressiva proteção dos seus direitos no cenário nacional e internacional 
da promoção dos direitos humanos.
É importante perceber a criança como sujeito de direitos, com base nas conquistas 
internacionais do Direito Internacional dos Direitos Humanos, com incorporação dos 
diversos tratados e convenções fomentados pelos sistemas global, interamericano e 
africano que passam, ao longo dos anos, a ser titulares de direitos, independentemente 
da proteção destinada aos seus países, ou família, preceituada pela proteção da 
dignidade humana.
Embora existam declarações anteriores na proteção internacional dos direitos huma-
nos das crianças, como a Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959, é de 
fato em 1989, com a Convenção sobre os Direitos da Criança (que entrou em vigor em 
1990), que a criança passa ostentar o reconhecimento de sujeito de direito do cenário 
internacional interestatal, influenciando a proteção das crianças no ordenamento de 
diversos países.
A Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989, é o tratado internacional com mais 
ratificações dos Estados-membros (196 países ao todo; os Estados Unidos não ratifica-
ram), sendo um documento de referência, pela importância do tema, que traz os direitos 
humanos fundamentais de todas as crianças e todos os adolescentes, tais como educa-
ção, saúde, lazer, segurança alimentar e nutrição, etc.
Nesse contexto, o Brasil, por exemplo, ratificou a Convenção sobre os Direitos da 
Criança em 24 de setembro de 1990.
É importante compreender que, nos termos da Convenção de 1989, não há distinção 
da criança e adolescente, sendo considerada criança qualquer pessoa menor de 18 
anos, abrangendo a concepção do desenvolvimento integral e exigindo-se a proteção 
especial dos países com absoluta prioridade.
No Brasil, influenciados por essa convenção e pela proteção integral adotada na Consti-
tuição de 1988, elabora-se o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990, que 
traz a necessidade de proteção e desenvolvimento integral e uma legislação avançada 
para proteção das crianças em uma série de direitos e garantias que promovam a inclu-
são e o acesso delas a direitos.
Muito embora exista ampla proteção das leis e tratados, as crianças são um dos gru-
pos que precisam de maior proteção dos direitos humanos, os quais, no entanto, não 
possuem reconhecimento efetivo, de fato. A título de exemplo, embora exista o reco-
nhecimento do direito à educação, milhões de crianças ainda estão fora da escola no 
mundo inteiro, milhares de meninas se casaram antes de completar 18 anos, muitas 
crianças são expostas ao trabalho infantil ou à exploração sexual, sendo as primeiras 
vítimas em conflitos civis e guerras, recrutadas como crianças soldados, e muitas vezes 
se encontram em maior estado de vulnerabilidade diante do descaso e da desproteção 
da família, do Estado e da sociedade como um todo.
De acordo com o UNICEF (2022), o Brasil tem apresentado avanços na proteção dos 
direitos da criança, em especial no que diz respeito ao combate e à redução da morta-
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lidade infantil. No entanto, verifica-se um aumento crescente da violência no País nos 
últimos anos. Esse crescimento tem atingido crianças e adolescentes, especialmente, 
os meninos, negros, pobres e moradores das comunidades e periferias dos centros 
urbanos do Brasil, com alta taxa de mortalidade.
Como se verifica nesse caso, a desigualdade, além da vulnerabilidade etária, também 
reverbera nas condições socioeconômicas e na questão da raça que ostentam, fomen-
tando o racismo estrutural presente no país.
 ` Idosos
Outro grupo em situação de ampla vulnerabilidade são os idosos.
Em um mundo cujo sistema econômico é capitalista, é preciso cuidar daqueles que não 
podem mais ser fonte do valor trabalho, como uma dimensão do valor da solidariedade, 
para que as pessoas não sejam consideradas inúteis para sociedade pelo fato de não 
serem utilizadas para produção de mercadorias.
A inviabilidade e o desprezo pelo valor da pessoa idosa são presentes, no entanto, na 
percepção social e nas políticas públicas.
Entretanto, a sabedoria e a experiência da pessoa idosa devem ser buscadas pela 
identidade social. O idoso é, sem dúvidas, na nossa sociedade, o agente transmissor de 
memóriase dimensões culturais da humanidade, revelando a todo grupo uma identida-
de, cuja valorização é fundamental para o melhor desenvolvimento social.
Envelhecer é um direito social e humano e, como tal, deve ser percebido. A preocupa-
ção não pode e não deve voltar-se apenas para questões previdenciárias, como apo-
sentadoria, de dependência, de custos na saúde, mas também para o direito de enve-
lhecer de forma ativa, plena, feliz e saudável.
A Convenção Interamericana sobre os Direitos das Pessoas Idosas é um instrumento 
regional e vinculante de proteção a pessoa idosa que traz conquistas e mecanismos 
importantes ao idoso.
No Brasil, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.743) surge em 1º de outubro de 2003 a fim 
de gerar a equidade dos direitos dos idosos. Ele estabelece os direitos fundamentais 
do idoso com base nos preceitos constitucionais de 1988, mas também percebe a ne-
cessidade de devido atendimento aos indivíduos mais velhos, como acessibilidade, o 
trato no lidar e o respeito, trazendo ainda as responsabilidades dos familiares no dever 
de cuidado e na garantia de um envelhecimento saudável, com autonomia. Ou seja, é 
preciso implementar o envelhecimento ativo em todos os âmbitos.
Embora presentes o reconhecimento internacional e a proteção constitucional e estatu-
tária da pessoa idosa no Brasil, os idosos ainda são vítimas de maus-tratos, isolamento, 
solidão, em uma sociedade que os abandona à espera do morrer, uma vez que não há 
valorização da pessoa humana em toda sua existência.
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 ` Pessoas com deficiência
As barreiras e atitudes enfrentadas por este grupo todos os dias em nossa sociedade 
são inúmeras. A ausência de interação, o menosprezo, a desídia, o descaso e o precon-
ceito revelam a necessidade de promoção e interação dos direitos humanos da pessoa 
com deficiência no mundo inteiro.
Por essa razão, Ramos (2021, p. 279) observa que a deficiência é considerada um con-
ceito social (e não um conceito médico) em evolução, diante das barreiras – geradas 
por atitudes e pelo ambiente – que impedem a plena e a efetiva participação dessas 
pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais.
Assim, a luta pelos direitos das pessoas com deficiência passa não só pela afirmação 
histórica dos direitos humanos e suas lutas, mas também pela necessidade de uma 
mudança comportamental da sociedade.
No cenário internacional, os direitos humanos da pessoa com deficiência são trazidos 
pela Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU e por seu 
protocolo facultativo, que foram adotados em março de 2007 Também são dispostos 
pela Convenção Interamericana contra todas as formas de discriminação adotadas pela 
Organização dos Estados Americanos (OEA) em 1999.
Nesse grupo, é importante perceber que, de acordo com o UNICEF, as crianças com 
alguma deficiência hoje no mundo estão sofrendo desafios de acesso à educação, à 
nutrição, tendo mais probabilidade de sofrerem discriminação no ambiente social, de 
serem humilhadas, receberem castigos físicos, não serem ouvidas e de não receberem 
educação inclusiva.
A Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) traz em seu corpo ações afirmativas 
para inclusão da pessoa com deficiência.
Além disso, podemos citar como outras medidas dessa natureza na promoção da equi-
dade das pessoas com deficiência:
 ` a destinação de cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência, 
que definirá os critérios de sua admissão (a Lei nº 8.112);
 ` “a proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do 
trabalhador portador de deficiência” (Constituição Federal de 1988);
 ` “a destinação de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiên-
cia e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de 
tê-la provida por sua família” (Constituição Federal de 1988).
b. Proteção às mulheres e às meninas
Dos grupos em manifesta situação de vulnerabilidade também se destaca a presença 
das meninas e mulheres, que realizaram, ao longo da história, muitas reinvindicações e 
conquistas em direção à concretização dos seus direitos humanos.
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As mulheres historicamente – e por muito tempo – foram e são discriminadas. Elas não 
puderam participar de direitos e decisões políticas, do mercado de trabalho, da educação, 
em uma sociedade com ausência de igualdade e sociedade extremamente patriarcal.
Especialmente a partir dos anos 1970, os direitos humanos passam a ser pauta reivin-
dicatória dos movimentos feministas no mundo.
Há uma construção de uma proteção gradual ao longo dos anos, que tenta assegurar 
às mulheres o direito a igualdade, a liberdade sexual e reprodutiva e o acesso a direitos 
humanos básicos, como ocupar postos de trabalho, ter liberdade econômica, participa-
ção democrática e direito ao voto, dentre outros.
Aprovada em 1979 e vigendo a partir de setembro de 1981, a Convenção sobre a Eli-
minação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (Carta Internacional dos 
Direitos da Mulher) foi ratificada por 189 Estados (até setembro de 2019). É um dos 
instrumentos no âmbito internacional que busca garantir que Estados eliminem toda 
forma de discriminação contra a mulher, preceituando a igualdade com os homens e 
garantido a promoção das liberdades nas esferas social, política, econômica e cultural. 
Outro instrumento digno de nota é a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e 
Erradicar a Violência Contra a Mulher de 1994, também conhecida como Convenção de 
Belém do Pará, por ter sido adotada nesta localidade. 
Um dos pontos importantes da Carta diz respeito à proteção do mercado de trabalho, 
com base no qual os Estados devem adotar o combate a ações discriminatórias para 
dar as mesmas oportunidades de emprego e condições remuneratória que os homens, 
abordando de forma ampla a discriminação de gênero. Ainda os direitos sexuais e re-
produtivos das mulheres também foram dispostos por essa convenção.
Entretanto, o problema da violência contra mulher não é previsto de forma específica na 
Convenção, ponto sobre o qual tem sofrido críticas da doutrina.
Assim, o combate à discriminação e à violência contra mulher é uma pauta atual em 
defesa dos direitos humanos.
De acordo com a OMS, ao longo da vida, uma em cada três mulheres, cerca de 736 mi-
lhões no mundo todo, é submetida à violência física ou sexual por parte de seu parceiro ou 
violência sexual por parte de um não parceiro – um número que permaneceu praticamente 
inalterado na última década. Para maiores informações sobre o perfil e dados atuais, acesse 
o texto do link seguinte. https://www.paho.org/pt/noticias/9-3-2021-devastadoramente-gene-
ralizada-1-em-cada-3-mulheres-em-todo-mundo-sofre-violencia. Acesso em: 28 nov. 2022.
SAIBA MAIS
No Brasil, a violência de gênero é frequente, oriunda de uma sociedade machista e pa-
triarcal, sendo vivenciada todos os dias pelas mulheres e meninas no cenário nacional.
Nesse contexto, as mulheres são vítimas de violência física e mental nos ambientes 
domésticos e também sofrem uma série de assédios, de natureza moral e sexual, por 
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De Acordo com a Agência Brasil, houve aumento de casos de violência contra a mulher em 
483 cidades durante a pandemia de covid-19, que atingiu o Brasil em fevereiro de 2020. O 
número equivale a 20% dos 2.383 municípios ouvidos pela nova edição da pesquisa da Con-
federação Nacional dos Municípios (CNM) sobre a pandemia. Em 269 (11,3%) municípios, 
houve elevação nas ocorrências de violência contra criança e adolescente, em 173 (7,3%) fo-
ram registrados mais episódios de agressão contra idosos, e em 71 (3%) contra pessoas com 
deficiência. Em outras 1.684 cidades (70,7%), as prefeituras não receberam mais denúncias 
de violênciacontra esses segmentos. Para ver os dados na íntegra, leia o texto completo no 
link seguinte.
SAIBA MAIS
conta do gênero, em seus ambientes de trabalho e social.
Muitas vítimas, no entanto, não denunciam os seus agressores pela possibilidade de 
sofrerem represálias ou mesmo de serem mortas (aumentando as estatísticas) ou, ain-
da, por medo de se exporem ou por não sentirem confiança nos órgãos de proteção de 
violência contra a mulher.
Um dado extremamente preocupante diz respeito aos casos frequentes, nos lares brasi-
leiros, de homicídios de mulheres, os chamados feminicídios. A violência doméstica é uma 
realidade triste que assola o país e só se intensificou com a pandemia do coronavírus.
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-08/violencia-
contra-mulheres-cresce-em-20-das-cidades-durante-pandemia . Acesso em: 28 nov. 
2022.
A violência doméstica não é uma realidade atual, sendo presente há décadas na reali-
dade brasileira e mundial. O Brasil, por exemplo, já foi responsabilizado perante Comis-
são Interamericana de Direitos Humanos por negligenciar políticas públicas e promoção 
de justiça em situações de violência contra mulher, no caso Maria da Penha. Sobre o 
caso, Mazzuoli (2021, p. 222) esclarece que:
O caso internacional mais emblemático envolvendo o Brasil sobre o 
tema da violência contra a mulher foi o relativo à Sra. Maria da Penha 
Maia Fernandes, vítima quase fatal de violência doméstica praticada pelo 
ex-marido na década de 1980. Em decorrência da longa demora das 
autoridades locais (mais de 15 anos) em levar à frente o inquérito policial 
e a ação judicial respectiva, Maria da Penha peticionou junto ao Centro 
pela Justiça e Direito Internacional (Cejil) e ao Comitê Latino-Americano 
de Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), que levaram o caso à análise 
da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Esta, no seu relatório 
anual de 2000, assim declarou: A denúncia alega a tolerância da República 
Federativa do Brasil (doravante denomina- da “Brasil” ou “o Estado”) para 
com a violência cometida por Marco Antônio Heredia Viveiros em seu 
domicílio na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, contra a sua então espo- 
sa Penha Maia Fernandes durante os anos de convivência matrimonial, que 
culminou numa tentativa de homicídio e novas agressões em maio e junho 
de 1983. [Maria] da Penha, em decorrência dessas agressões, sofre de 
paraplegia irreversível e outras enfermidades desde esse ano. Denuncia-
se a tolerância do Estado, por não haver efetivamente tomado por mais de 
https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-08/violencia-contra-mulheres-cresce-em-20-das-cidades-durante-pandemia
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15 anos as medidas necessárias para processar e punir o agressor, apesar 
das denúncias efetuadas. [...] Neste caso, e pela primeira vez, a Comissão 
In- teramericana aplicou a Convenção de Belém do Pará para sustentar a 
responsabilidade do Estado no que tange ao dever de prevenir, sancionar e 
erradicar a violência doméstica contra a mulher, notadamente em razão da 
ineficiência judicial perante casos de violência doméstica.
Mazzuolli (2021, p. 222) ainda observa que, em 2015, o Brasil institui uma mudança no 
artigo 121 do Código Penal, com inserção do crime de feminicídio, entendido, em sínte-
se, como a morte de mulher por razões de gênero em situações de violência doméstica 
e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher, praticado por homem ou 
mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade.
Assim, no Brasil, medidas como a Lei Maria da Penha e do feminicídio têm buscado 
combater as práticas corriqueiras de violência contra mulher e, no âmbito regional, im-
plementar a Convenção de Belém do Pará.
No entanto, as barreiras ainda são muitas, e a equidade na forma material encontra-
-se longe de alcançar sua plena concretização. As mulheres e meninas ainda sofrem 
graves violações de direitos humanos, violência doméstica e sexual, enfrentam discri-
minação nos ambientes educacionais e de trabalho, e recebem salários desiguais se 
comparados com os dos homens ocupantes dos mesmos postos, o que fomenta uma 
insegurança econômica e social e diminui sua capacidade de ação e de bem-estar.
A violência é gritante na perspectiva de gênero, mas também nos demais grupos sociais 
em situação de vulnerabilidade no Brasil, o que denuncia a existência de uma socieda-
de não inclusiva e que ainda necessita implementar na prática o princípio da igualdade 
para promoção da equidade, de forma a consagrar-se como uma sociedade plural.
O Atlas da Violência (do Ipea), ilustrado na Figura 02, identifica essa realidade na socie-
dade brasileira e mostra a necessidade que ainda existe de uma longa e árdua promo-
ção e garantia da prevalência da igualdade de gênero, bem como o respeito aos cida-
dãos em razão de raça, idade, sexo, condição física e mental, para eliminação de todas 
as formas de discriminação e desigualdade e o surgimento uma grande transformação 
em um país que implemente os Direitos Humanos que consagra.
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Figura 02. Atlas da Violência – Ipea
Fonte: IPEA (2021)
Dessa forma, mais do que mudanças nas leis e implementação de tratados, é preciso ha-
ver transformação e conscientização social, implementando por meio de espaços de fala 
e de políticas públicas a promoção dos direitos humanos das mulheres, uma luta histórica 
que se perfaz diante da necessidade de afirmação e efetividade prática da igualdade de 
gênero e dos demais grupos em situação de maior vulnerabilidade no país.
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Figura 03. Igualdade, equidade e gênero
IGUALDADE
 ` Dar a todos o mesmo tratamento e as mesmas 
oportunidades perante a lei
EQUIDADE
 ` Considerar as diferenças no tratamento e nas oportu-
nidades para promover a igualdade
EQUIDADE DE GÊNERO
 ` Promover ações necessárias para atingir a igualdade 
entre homens e mulheres. Exemplo: garantir os mesmos 
salários em uma empresa para homens e mulheres 
na mesma posição; aumentar a representatividade 
política feminina.
Portanto, entende-se que, para promoção da igualdade entre as minorias e grupos so-
ciais, ainda há um longo caminho de pautas, agendas e lutas sociais que se faz neces-
sário, a fim de alcançar a afirmação histórica e a concretização dos direitos humanos de 
forma a promover uma verdadeira justiça social na proteção das minorias e grupos em 
situação de vulnerabilidade
Como se percebe, grupos em situação de vulnerabilidade e minorias sofrem constantes 
medidas discriminatórias no Brasil e no mundo, que os excluem, os violentam e os afas-
tam da garantia que possuem de serem titulares de direitos humanos.
Fonte: elaborada pelo autor
Recomendação de filmes
01. As Sufragistas (2015)
O filme reflete a luta de mulheres pelo direito ao voto feminino, em meados do século 20, por 
meio da busca pela igualdade no movimento sufragista.
02. O sorriso de Monalisa (2003)
A reflexões em forma de drama romântico são trazidas no filme por uma professora que, na 
década de 1950, é contratada para lecionar história da arte em uma escolar feminina tradicio-
nal e desperta em suas alunas uma nova percepção cultural nos modos e hábitos de vidas 
das mulheres à época.
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Direitos Humanos e os Cidadãos no Mundo: Diferença, Diversidade e a Biotecnologia
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03. Extraordinário (2017)
Inspirado em um best-seller mundial de mesmo nome lançado em 2013, o filme ensina sobre 
aceitação e a capacidade de compreender o outro, refletindo sobre a diversidade e os pre-
conceitos enfrentados por uma criança com deficiência ao chegar na escola.
Caso de aplicação:
Os direitos humanos das mulheres têm sido expressivos em julgados presentes na Corte 
Interamericanade Direitos Humanos, especialmente os que envolvem violência de gênero. 
Um exemplo de aplicação prática é o que ocorreu no caso Gonzales e outras (Campo do 
Algodoeiro), em que o Estado do México foi responsabilizado por violação à Convenção 
Americana e à Convenção de Belém do Pará, diante da ausência de diligências regulares nas 
investigações das mortes e do desaparecimento decorrentes de crimes sexuais contra Laura 
Berenice Ramos Monárrez (de 17 anos), Claudia Ivette González (de 20 anos) e Esmeralda 
Herrera Monreal (de 15 anos), cujos corpos foram encontrados em um campo algodoeiro na 
Cidade Juárez, em Chihuahua, no México, com sinais de violência sexual e demais abusos 
físicos relativa- mente às três vítimas e seus familiares.
2. DIREITOS HUMANOS E OS CIDADÃOS DO MUNDO: E A 
QUESTÃO DA DIVERSIDADE E DA REPRESENTATIVIDADE NO 
BRASIL
Aceitar a diversidade significa perceber as diferenças, o protagonismo e a ocupação de 
espaços espelhados na representatividade pela acolhida do outro da forma como se 
apresenta, sem que importem as condições de origem, nacionalidade, religião, etnias, 
gênero, orientação sexual ou classe social.
Esse tema é importante e impacta diretamente na forma como se vive e como as pes-
soas se relacionam na nossa sociedade em todos os países do mundo.
O fato é que basta ser um observador do modo como as pessoas se percebem e perce-
bem os outros para entender a importância de se fazer representar e de conviver com 
a diversidade.
Em tempos de bolhas digitais, em que as pessoas se isolam cada vez mais nos próprios 
mundos, com a ausência de diálogos e com posicionamentos em redes sociais que fo-
mentam discursos de ódio nas manifestações dos pensamentos dos indivíduos, a ques-
tão da proteção à diversidade e à representatividade se faz cada vez mais presente e é 
matéria de necessária reflexão.
Isso é posto porque, quando se olha ao redor para a forma de comportamento social, 
identifica-se que alguns grupos possuem maior dificuldade de ocupar alguns espaços 
na sociedade, ter voz e lugar de fala, ter a condição de pertencimento. Em razão disso, 
são colocados em situações de vulnerabilidade, inferiorização e total exclusão, como os 
povos indígenas, as mulheres, a comunidade LGBTQIA+ e os refugiados.
O Brasil possui uma herança histórico-cultural que carrega a necessidade da proteção 
dessa diversidade. Na prática, no entanto, o construído ao longo dos anos demonstra 
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que, embora possua uma população etnicamente diversa, o país é fechado à questão 
da representatividade, o que colabora para atitudes excludentes, racistas, classistas, 
sexistas e, portanto, discriminatórias por parte da população.
Por exemplo, a dominação cultural e a colonização eurocêntrica ainda trazem presente na reali-
dade do país a ausência de proteção e de respeito às comunidades originárias, os povos indíge-
nas, que aqui ocupavam as terras antes da chegada dos portugueses, espanhóis, holandeses, 
franceses, ingleses, entre outros povos que aqui exploraram no passado. Trouxe também o 
desrespeito à preservação da cultura e à proteção de outras comunidades tradicionais.
Por sua vez, a realidade da escravidão se perpetua na ausência de representatividade 
da população negra que, embora seja maioria, permanece sem ocupar espaços impor-
tantes e os cenários de prosperidade no país, vivendo muitas vezes em condição de 
pobreza, sem acesso à educação, à saúde, à moradia, ao trabalho digno e aos direitos 
básicos para promoção da dignidade, perpetuando-se o racismo estrutural. As comuni-
dades quilombolas vivenciam também outro exemplo de discriminação estrutural.
A substituição da escravidão pela migração europeia e asiática trouxe ainda mais ele-
mentos de diversidade para nosso modo de viver, nossa cultura, nossa língua e nossa 
gastronomia Tal amplitude cultural, no entanto, não é traduzida em uma aceitação e 
inclusão de todas raízes que compõem nosso povo. 
A consequência dessa falta de representatividade traz impacto na autoestima das pes-
soas, nos padrões de comportamento, nos estereótipos do que se entende como si-
nônimo de felicidade e nos padrões comportamentais na forma como os nacionais se 
relacionam com a diferença.
Espelha-se nas formas dissonantes de perceber no outro o modo como as pessoas 
devem ser, viver e parecer, trazendo critérios discriminatórios à sociedade.
Assim, a ausência de representatividade impacta a vida do ser social a todo momento e 
estimula a ausência da possibilidade de se conviver com o diferente.
Como se percebe, não há mudança social sem conhecimento da história e percepção 
para transformação da dor da exclusão para gerar um novo modo de viver.
A diversidade é, assim, uma riqueza a ser estimulada na percepção social. É um trabalho 
de elevação de consciência humana, desenvolvendo-se na ideia de promoção da empatia 
e da solidariedade. Poder se colocar no lugar do outro, perceber o outro pelo próprio olhar, 
no lugar de fala do interlocutor, é o primeiro passo. É ter uma visão de que é preciso desen-
volver um valor histórico, cultural, de uma reinvenção do padrão comportamental social que 
o mundo ainda espera um dia encontrar para promoção e efetivação dos direitos humanos.
2.1. PRESERVAÇÃO DAS COMUNIDADES ORIGINÁRIAS E 
TRADICIONAIS
Na formação do povo e da história brasileira, grupos sociais estabelecem relações dis-
tintas e passam ao logo dos anos a ser explorados e vulnerabilizados. Mais do que isso, 
passam a sofrer tamanha repressão que se tornam seres invisíveis para a sociedade.
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Direitos Humanos e os Cidadãos no Mundo: Diferença, Diversidade e a Biotecnologia
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Na herança histórico-cultural que resultou em um regime de exploração dos recursos 
naturais, em um verdadeiro genocídio (extermínio populacional) e em um etnocídio (ex-
termínio cultural), consequência do colonialismo que se iniciou no século XVI, houve a 
dizimação de um modo de viver pela dominação europeia e predominantemente bran-
ca. Essa dominação e essa oposição cultural começam pela terminologia adotada e 
direcionada a esses povos, que os portugueses e espanhóis decidiram chamar a todas 
os diferentes povos presentes no território de “índios”, desconsiderando inclusive as 
origens e criando-lhes imagens estereotipadas.
É importante saber a distinção conceitual presente entre os termos “índios” e “indígenas”, 
afastando o emprego incorreto da primeira expressão.
Nesse contexto, Gonzaga (2021, p. 2) traz, em suas importantes reflexões críticas so-
bre decolonialismo indígena, a importância de não trazer o termo “índios” ao se referir 
aos povos originários. Eis que é preciso frear, na visão do autor, a imprecisão histórica 
desrespeitosa e ideológica que perdura desde Cristóvão Colombo como referência aos 
povos que habitavam a Índia, para não mantermos as visões dos livros de história do 
Brasil da figura mitológica e estereotipada dos povos indígenas, associados muitas ve-
zes a conotações negativas, como “preguiçosos”, “primitivos”, “selvagens” e “canibais”.
Mazzuolli (2021, p. 257) esclarece que as comunidades tradicionais possuem formas 
próprias de organização social, utilizando e explorando, de forma permanente ou tem-
porária, terras e os recursos naturais para garantia da sua reprodução cultural, história 
e econômica etc., transmitindo esses conhecimentos de forma tradicional de geração 
para geração. O autor aponta como exemplos de comunidades tradicionais, além dos 
povos indígenas, os quilombolas, seringueiros, castanheiros, pescadores artesanais, 
marisqueiras, ribeirinhos, ciganos e uma série de outras comunidades e povos presen-
tes no território brasileiro.
Trataremos especialmente dos indígenas ou povos originários no Brasil, mantendo a 
noção conceitual de que esses são povos ancestrais que habitavam o Brasil antes de 
1500, instituída também pela Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos 
Povos e Comunidades Tradicionais por meio do Decreto nº 6.040,de 07.02.2007, 
que aponta, para fins normativos, que são povos e comunidades tradicionais os grupos 
culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais, que possuem formas pró-
prias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como 
condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizan-
do conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
Nesse sentido, Gonzaga (2021, p. 10) afirma:
Identidade e pertencimento étnico não são conceitos estáticos e imutáveis, 
mas processos dinâmicos de composição individual e social. Desta forma, 
para o autor, não cabe ao Estado definir quem é ou não indígena, mas ga-
rantir que sejam respeitados os processos individuais e socais de constru-
ção e formação de identidades étnicas.
De acordo com os dados do IBGE (2020), no Brasil estima-se que, em 2020, existia 
um total de 1.108.970 pessoas residentes em localidades de povos indígenas no Brasil
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Entretanto, essa população faz parte de um grupo social de extrema invisibilidade no 
país, ocupando as cinco regiões do Brasil e tendo massiva presença nos territórios da 
Amazônia e em alguns estados da região Nordeste.
Sofrendo desprezo na preservação das suas heranças culturais, ancestrais, popula-
ções e territórios, assim como as comunidades tradicionais, com fortes ameaças a ex-
ploração de suas terras, os povos indígenas, como se pode verificar, são acometidos de 
violências das mais diversas formas, de ameaças pelo desprezo à preservação de suas 
memórias, culturas, sua gastronomia e sua ancestralidade.
Em razão disso, muitas vezes, a população indígena é dizimada em razão de conflitos 
de terra, de contato com doenças, sendo, por vezes, explorada em condições análogas 
à escravidão, bem como pela utilização da mão de obra infantil, além das intervenções 
no modo de viver.
Isso ocorre porque o modelo desenvolvimentista e a ausência de políticas de proteção 
aos povos indígenas no Brasil ao longo da história promoveram dentro da realidade do 
país uma imensa desigualdade e invisibilidade, colocando os interesses do capital em 
primeiro lugar.
Com a Constituição de 1988, no Brasil, modifica-se, pelo menos normativamente, o par-
adigma social, afastando a ideia de uma política integracionista e buscando uma política 
de respeito à cultura indígena e a necessidade de incorporar o seu modo de viver como 
legítima parte da sociedade.
É, assim, nesse momento, que o país passa de direito a adotar uma postura de respeito 
à identidade cultural desses povos e ao direito originário sobre as terras que tradicional-
mente ocupam. Nesse sentido, a Constituição estabelece a possibilidade da educação 
na língua portuguesa, assegurando aos indígenas a utilização de sua linguagem ma-
terna e mecanismo próprio de aprendizagem, como proteção cultural, e tenta instituir 
políticas públicas na proteção das comunidades tradicionais, e de suas terras, trazendo 
dispositivos em sua defesa.
Apesar dos avanços normativos, os direitos consagrados na Constituição apresentam na prá-
tica dificuldades de serem implementados. Por exemplo, a questão da demarcação de terras 
indígenas desperta problemas de natureza cultural e jurisprudencial há anos no Brasil.
É importante lembrar que, vivendo em constante ameaça, a demarcação das terras 
indígenas promove mais que a proteção populacional, uma vez que evita que se esta-
beleça uma segunda onda genocida e garante a contenção desenfreada dos desmata-
mentos e a proteção das áreas de preservação ambiental.
O Caso “Raposa Serra do Sol” é um exemplo de luta e reinvindicação por demarcação 
de cerca de 1,7 milhões de hectares de terras indígenas em Roraima (área que abriga 
194 comunidades com uma população de cerca de 19 mil indígenas dos povos Macuxi, 
Taurepang, Patamona, Ingaricó e Wapichana), pauta de disputa pela exploração de 
riquezas e propriedade pelos indígenas e não indígenas no território nacional. Nessa 
ação o Supremo estabeleceu o ano de 1988, quando promulgada a Constituição, como 
marco temporal para as demarcações (Caso “Raposa Serra do Sol” – PET3388/RR).
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Direitos Humanos e os Cidadãos no Mundo: Diferença, Diversidade e a Biotecnologia
3 Para compreensão do caso “Raposa Serra do Sol”, acesse o texto sobre o episódio no link 
seguinte.
Disponível em: https://stf.jusbrasil.com.br/noticias/100628/raposa-serra-do-sol-entenda-
o-caso. Acesso em: 28 nov. 2022.
Disponível em: https://www.oxfam.org.br/blog/a-pandemia-da-covid-19-e-suas-
consequencias-para-a-populacao-indigena/ . Acesso em: 28 nov. 2022.
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
Recentemente, a questão do marco temporal foi debatida e retomada pelo STF. Sobre 
o referido caso, Ramos (2021) esclarece:
No RE 1.017.365/SC (rel. Min. Edson Fachin, em trâmite em setembro de 
2020), que possui repercussão geral. Foi proposta, pela PGR, a seguinte 
tese, que resume a importância do caso para que seja afastada a tese do 
marco temporal em sentido estrito: “A proteção da posse permanente dos 
povos indígenas sobre suas terras de ocupação tradicional independe da 
conclusão de processo administrativo demarcatório e não se sujeita a um 
marco temporal de ocupação preestabelecido. O art. 231 da Constituição 
Federal reconhece aos índios direitos originários sobre essas terras, cuja 
identificação e delimitação deve ser feita por meio de estudo antropológico, 
o qual é capaz, por si só, de atestar a tradicionalidade da ocupação segundo 
os parâmetros constitucionalmente fixados, e de evidenciar a nulidade de 
quaisquer atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse 
dessas áreas”. (RAMOS, 2021, p. 1.493)
Embora exista essa proteção normativa e constitucional, as populações e comunidades 
tradicionais no Brasil ainda sofrem diversos preconceitos e ameaças a suas terras, por 
madeireiros e grileiros.
Na Pandemia do Corona Vírus, por exemplo, essa realidade e desigualdade mostrou-
-se extremamente nítida, estando os povos originários entre grupos destacados mais 
expostos ao vírus e sofrendo ausência de acesso a tratamentos de saúde efetivo para 
evitar a dizimação desses coletivos.
Para uma leitura mais completa sobre o tema, acesse o texto do seguinte link. 
No âmbito internacional, percebendo a importância do tema em razão da constante vi-
sibilização das lutas indígenas e de trabalho diplomático desses mesmos povos, alguns 
instrumentos foram editados para proteção e promoção dos direitos humanos desses 
povos tais como a Convenção n. 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) 
sobre Povos Indígenas e Tribais. Esta foi adotada em 27 de junho de 1989, tendo en-
trado em vigor internacional em 1991, reconhece direitos dos povos indígenas, em es-
pecial no que diz respeito à promoção da igualdade e ao combate à discriminação. Há 
https://stf.jusbrasil.com.br/noticias/100628/raposa-serra-do-sol-entenda-o-caso
https://stf.jusbrasil.com.br/noticias/100628/raposa-serra-do-sol-entenda-o-caso
https://www.oxfam.org.br/blog/a-pandemia-da-covid-19-e-suas-consequencias-para-a-populacao-indigena/
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também a Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões 
Culturais, de 2005, e a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos 
Indígenas, de 2007.
Em 2016, aprovou-se a Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas, 
pela OEA, visando garantir a proteção dos povos da América do Norte, América Central, 
América do Sul e do Caribe, possibilitando excelente avanço e reconhecimento de direi-
tos humanos dos povos originários no âmbito do sistema regional de proteção.
Apesar dos desafios atuais, com essas medidas e esses instrumentos nacionais e in-
ternacionais, os povos originários passam a ser reconhecidos como atores e sujeitos 
de direito, buscandoespaços de representatividade, atuando e reivindicando posturas 
e promoção de respeito aos direitos e a suas culturas, demonstrando a importância da 
preservação cultural, da proteção das comunidades, das medidas antidiscriminatórias e 
da compreensão fundamentalmente da relação de grupo social com a terra.
Em discurso e lugar de fala, os indígenas trazem e defendem a postura do valor do 
bem viver, uma vida em comunhão com os outros, como a ancestralidade, a proteção 
aos antepassados, a noção do conviver em harmonia com o ambiente - do qual não se 
consideram separados -, que carrega a ideia de proteção da coletividade, que pode ter 
extrema importância diante das transformações sofridas pela humanidade nos últimos anos.
Buscando uma nova consciência, os povos indígenas e outras comunidades tradicionais 
provocam a reflexão da ideia de relação de coexistência do ser humano com todos os 
outros seres no planeta Terra, retirando a noção antropocêntrica e trazendo princípios 
comuns e harmoniosos de proteção ao meio ambiente e ao viver em coletividade. As 
constituições da Bolívia e do Equador, por exemplo, incorporam o princípio do bem viver.
Se no passado eles transmitiram conhecimento de geração em geração na cultura, na 
formação da língua portuguesa, na gastronomia, no consumo de plantas, chá, comidas 
presentes modo de vida pelos usos e costumes transmitidos, as noções e os valores 
provocados pela noção do bem viver revelam mais uma vez a necessidade de compar-
tilhamento do lugar de estar e ser pelas pessoas no mundo parecem ser necessidades 
presentes diante dos desafios enfrentados pela humanidade no tempo presente. O res-
peito pelo sistema, pela natureza e pelo outro na forma como se apresenta traz essa 
lição. Propõe-se assim, nessa ideologia e filosofia de vida, a ideia de viver com menos 
consumo, obras e empreendimentos, menos exploração da natureza, para fazer parte 
de uma vida melhor, com partilha dos recursos naturais em abundância no combate à 
desigualdade social.
Como se pode ver, os impactos de modo de vida já se revelam na prática. Os benefícios 
da presença dos indígenas na redução dos efeitos e impactos da ação humana na na-
tureza e mudanças climáticas são imensuráveis, considerando que, para eles, a terra é 
uma necessidade de sua própria sobrevivência social e mesmo física. Assim, mais uma 
vez as comunidades originárias traduzem uma valiosa lição do valor da solidariedade 
social e da percepção de que não se vive de forma isolada, sem atenção e respeito à 
realidade e ao ser que está ao lado, honrando não só os seres humanos, mas todos os 
seres e o mundo onde se habita.
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Figura 04. Diversidade e representatividade
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2.2. MIGRAÇÃO E IMIGRAÇÃO: OS DIREITOS DOS MIGRANTES
A mobilidade humana pode ser realizada dentro de um mesmo território, o que consiste 
na condição de migração interna, ou ser resultado de direcionamento e mobilidade para 
fora do país de origem da pessoa, quando falamos em migração internacional. Nesse 
sentido, ao considerar a movimentação de pessoas de um território de um país para 
outro, podemos observar tanto o ato de emigrar, ou seja, sair de um local para outro, 
como o ato de imigrar, movimento de ingressar em um novo território, ambos os quais 
fomentam o direito humano de migrar e o movimento da migração.
De acordo com os dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), no 
relatório mundial das migrações de 2022 , há 281 milhões de pessoas no mundo que 
migraram de suas casas e não estão mais em seu país de origem. Nesse número, po-
demos identificar a categoria de migrantes, deslocados forçados e refugiados.
Isso ocorre porque, na visão da doutrina e dos organismos internacionais, os fatores 
que ensejam a mobilidade humana podem acontecer de maneira voluntária ou forçada.
Galib (2021, p. 36) observa que essa distinção, ao menos no campo jurídico, surgiu 
apenas ao final da Segunda Guerra Mundial, período da história em que aumento o 
número de pessoas que não podiam contar com a proteção jurídica dos Estados.
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As pessoas, muitas vezes, deixam seus países de forma voluntária para buscar oportu-
nidades de emprego, estudos, melhor qualidade de vida. O migrante tem, assim, uma 
previsibilidade dessa condição como um projeto de vida. Há nessa condição uma volun-
tariedade, da escolha do país a que pretende migrar, do período durante o qual viajará 
até lá, das formas e condições da viagem, até a vivência de uma aventura de vida. Por 
envolver caráter e prospecção financeiros, na busca por melhores condições de vida, 
salários, empregos e/ou estudos, são chamados de migrantes econômicos.
Por outro lado, por vezes, as pessoas são forçadas a deixar seus países, por diversos 
motivos e causas que podem gerar a qualidade de refugiado, uma espécie do gênero 
migração forçada, tema que trataremos no tópico seguinte.
Bauman (2017, p. 9), percebendo esse fenômeno, observa, no entanto, que a migração 
em massa não é um fenômeno recente; o autor entende que é nosso modo de vida 
moderno que produz pessoas redundantes, excessivas ou não empregáveis, rejeitadas 
por conflitos e dissensões causados por transformações sociais/políticas e subsequen-
temente lutas por poder. Assim, observa que, mesmo na qualidade de migrantes econô-
micos ou refugiados, são recebidas por interesses empresariais aonde chegam, com a 
percepção de serem mão de obra barata e lucrativamente promissoras.
Como pondera Galib (2021, p. 37), não há tratado de direito internacional que traga 
uma definição de imigrante, sendo a única referência a Convenção Internacional so-
bre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros de 
suas Famílias, adotada pela Resolução nº 45/158 da Assembleia Geral da ONU, que 
dispõe exatamente da descrição do trabalhador migrante: pessoa que exerce atividade 
remunerada em território que é não nacional. Galib conclui que o fato de ser um único 
instrumento com essa perspectiva limita a qualidade de ser migrante, quando não se 
atenta para as realidades dos movimentos migratórios atuais: a circulação de pessoas 
é consequência de motivos diversos, razão pela qual o trabalho não é a única pers-
pectiva. Isso manifesta a redução do fenômeno que denuncia Sayad (1998, p. 47 apud 
GALIB, 2021, p. 37), ou seja, o migrante compreendido sempre como um trabalhador a 
título provisório, temporário e em trânsito.
Não há como não concordar com a autora quando aponta que tal situação limita muito 
a possibilidade de incorporação de direitos em caráter permanente aos migrantes por 
todos os países onde estiverem, como medida de promoção de igualdade e garantia da 
dignidade humana.
Acerca do direito do estrangeiro, no Brasil temos a Lei de Migração (Lei nº 13.445 de 
2017), que trata tanto do direito das migrantes que ingressam no território, em substitui-
ção ao antigo estatuto do estrangeiro, que trazia uma visão estigmatizante do estrangei-
ro com preocupações atinentes à segurança nacional, não compatível com a tratativa 
dos direitos humanos ratificada pelo país em diversos tratados, quanto do direito do 
brasileiro emigrante, que vai para outro país, na condição de não nacional.
É importante perceber que a nova lei de migração mostra uma perspectiva humanitária 
e dignificante do migrante, trazendo importantes princípios e direitos a ser assegurados 
para todo estrangeiro em território nacional, como os direitos sociais – saúde, educa-
ção, assistência social, trabalho em condições de igualdade com o nacional –, tendo 
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afastado inclusive a terminologia “estrangeiro”, que traz a conotação de “o que me é 
estranho”, ou seja, de não pertencimento.
Muito embora o reconhecimento de direitos fundamentais, compatível com a igualdadeentre brasileiros e migrantes presentes na Constituição Federal de 1988, os migrantes 
ainda não possuem no Brasil o direito de voto, o que implica muitas vezes privação da 
possiblidade de reivindicação de políticas públicas que promovam um melhor acolhi-
mento de forma humanitária e combatam a xenofobia e o racismo presentes corriquei-
ramente nas ações manifestadas pelos nacionais.
Há sempre um mito estigmatizante e perpetuado pela população, por atitudes e pala-
vras, que propaga ideias discriminantes, como a concepção de que todos os migrantes 
se deslocam para ocupar um posto de trabalho de um brasileiro, ou de que são pessoas 
pertencentes a organizações criminosas, traficantes e terroristas. Essas noções são 
fruto do desconhecimento da população de dados e pesquisas que rompem de fato com 
esse mito, além de serem resultado de preconceito, xenofobia e racismo, da ausência 
do valor da solidariedade e da realidade da condição de vida digna e do direito de ocu-
par espaços de forma igualitária por todos os seres do planeta, independentemente da 
nacionalidade e da sua origem. Basta pensar e se colocar no lugar do outro para ter 
noção de que o fato de vir de outro país ou possuir outra cultura e modo de viver não 
retira do migrante o direito de usufruir dos direitos fundamentais para viver com digni-
dade em qualquer território.
Assim, é preciso refletir e debater nos espaços públicos sobre a percepção do outro 
como sujeito e titular de direitos humanos, pela simples condição de existir e poder par-
tilhar do mundo, independentemente das fronteiras erguidas pelos Estados.
 ` Refugiados: políticos, ambientais, econômicos e humanitários
A cada dia somos expostos, na mobilidade humana, à violação de direitos humanos das 
pessoas que muitas vezes são forçadas a fugir de suas terras a fim de encontrar asilo 
e refúgio.
Os motivos são diversos: as pessoas saem de suas casas forçadamente em razão de 
conflitos civis, guerras, mudanças climáticas, violência, perseguições pela nacionalida-
de, religião, etnia, gênero, orientação sexual, opinião política, dentre outros, em busca 
de asilo e proteção.
O número de refugiados no mundo e pessoas que circulam e saem de seus países for-
çosamente aumenta a cada dia, sendo possível afirmar que vivemos, em pleno século 
XXI, uma crise humanitária.
No fim de 2020, de acordo com o ACNUR ([s. d.], [n. p.]), 82,4 milhões de pessoas ao 
redor do mundo foram forçadas a deixar suas casas, das quais 26,4 milhões são refu-
giadas. Há, ainda, milhões de pessoas apátridas, a quem a nacionalidade foi negada, 
o que as impede de ter acesso a direitos básicos como educação, plano de saúde, 
emprego e liberdade de movimento.
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Assim, a crise migratória é uma realidade presente e um desafio futuro no mundo. Esse 
fato social influencia totalmente a realidade presente e certamente influenciará a realida-
de das futuras gerações, sendo matéria estampada em meios de comunicações, mídia, 
redes sociais, obras e documentários cinematográficos na atualidade (GALIB, 2021).
Cada dia mais as pessoas são forçadas a deixar seu país de origem, suas casas, suas 
famílias. Por vezes, cruzam fronteiras, por vezes, mantêm-se em seus países, mas em 
outra região que não o lugar onde nasceram e tinham vínculo originário.
A doutrina e os tratados internacionais, por motivações e razões políticas, como se mos-
trará, trazem dessa forma distinções sobre o fato de a pessoa que sofra perseguição 
conseguir ou não sair do país de origem para auferir a condição de refúgio. Como se 
pode ver, nem todas as pessoas recebem o status de refugiado de acordo com esses 
tratados ou normas.
Algumas dessas pessoas recebem o nome de “deslocadas internas”, ou seja, pessoas 
que ainda não saíram do seu país, mas saíram de suas casas porque foram forçadas 
a migrar, em razão de ameaças, privações, sendo deslocadas do lar para tentar sobre-
viver. Embora elas ainda não sejam consideradas refugiadas, milhões de pessoas se 
encontram nessa situação, seja por questões de pobreza, insegurança alimentar, emer-
gência climática, seja por conflito presente onde viviam.
Para melhor compreensão dos dados, acesse o texto sobre o assunto no link seguinte. 
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/. Acesso em: 2 
dez. 2022.
Os dados da OIM apontam que, até o ano de 2021, 55 milhões de pessoas no mundo esta-
vam em situação de deslocamento forçado interno. Em relação ao começo do século, isso 
implica um aumento de 160% (OIM, 2022).
Os refugiados, nesse contexto, são aqueles que cruzam as fronteiras de seu país e 
recebem o status de protegidos, na situação de refúgio, mediante um processo que 
reconhece que essa condição foi consequência de perseguição em razão de religião, 
nacionalidade, raça, associação a determinado grupo político, motivos que impedem as 
pessoas de regressar ao país de origem. Antes do reconhecimento formal pelo país, re-
cebem a denominação de solicitantes de refúgio. No entanto, por que temos limitações 
para perceber uma pessoa como refugiado?
É preciso voltar no tempo e entender a história. O instituto do asilo se deu na Grécia 
antiga, associado aos locais religiosos, considerados invioláveis. Jubilut (2007, p. 38) 
observa que “apenas no Século XVII, o asilo começa a ser desenvolvido, mas apenas 
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Direitos Humanos e os Cidadãos no Mundo: Diferença, Diversidade e a Biotecnologia
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um século depois que é formalmente escrito em uma Constituição, a francesa de 24 de 
junho de 1793”.
Inicialmente, ele foi associado a perseguições políticas, passando a ser fomentado de-
pois apenas nesse aspecto, no âmbito da America Latina, sendo concebido como asilo 
político.
No entanto, é no século XX, de acordo com Jubilut (2007, p. 48), sob a égide da Liga 
das Nações em 1921, e posteriormente com a criação das Nações Unidas, que surge a 
ideia do refúgio como atualmente percebida.
Assim, a definição jurídica que temos hoje de refugiado foi criada em 1951, após os 
horrores da Segunda Guerra Mundial, que deixou muitas pessoas sem proteção dos 
Estados, necessitadas de proteção. A iniciativa se deu pelo Alto Comissariado das Na-
ções Unidas para Refugiados (ACNUR), criado em 1950, uma agência da ONU para 
proteção e defesa dos direitos dos refugiados.
A Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados, no entanto, trazia uma li-
mitação temporária e geográfica, posto que só era aplicável aos refugiados oriundos 
de países europeus, com marco temporal do período anterior a 1º de janeiro de 1951. 
É apenas em 1967 que se elabora um protocolo para acabar com essas limitações, o 
Protocolo de 1967. O fato de ser considerado refugiado garante a essa pessoa uma 
série de benefícios que resguardam os direitos humanos e uma proteção internacional 
pelos países, como o acesso a direitos sociais, podendo exercer um trabalho no local 
com direitos equiparados aos nacionais, ter direito à educação e à escolaridade para as 
crianças, auferir benefícios sociais, abrir contas em bancos, não sofrer discriminação 
por origem (que não é exclusivo a refugiado), regularizar sua documentação e ainda 
impossibilitar que o país que o acolheu devolva-o ao país em que sofreu perseguição ou 
em relação ao qual exista fundado temor de perseguição, o que é chamado de princípio 
da não devolução (não rechaço) ou non-refoulement.
Há instrumentos regionais que protegem a pessoa refugiada com uma perspectiva mais 
ampla que a Convenção de 1951. Por exemplo, a Convenção Relativa aos Aspectos 
Específicos dos Refugiados Africanos, de 1969, adotada pela então Organização da 
Unidade Africana (OUA), amplia o conceito trazendo o refúgio a qualquer pessoa ori-
unda de local que tenha sofrido agressão externa ou tenha passado ocupação, domínio 
estrangeiro ou eventos que perturbem seriamente a ordem pública em parte ou em todo 
o país de origem ou nacionalidade, bem como perigos generalizados.Na América Latina, há ainda uma definição ampliada prevista na Declaração de Car-
tagena, que traz a possiblidade de reconhecer como refugiado a pessoa que tenha 
fugido do seu país porque sua vida, segurança ou liberdade foi ameaçada em razão de 
violência generalizada, agressão estrangeira, conflitos internos e maciça violação de 
direitos humanos.
Ramos (2021) observa que essa declaração tem a natureza jurídica original de soft law, 
ou seja, é considerada um costume aplicado pelos países na América Latina, de natu-
reza não vinculante aos Estados, muito embora tenha sido muitas vezes adotada para 
reconhecimento de refúgio, inclusive por países europeus.
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Em 2016, edita-se a Declaração de Nova York, ratificada por 193 países, da qual resul-
tam dois pactos globais, o Pacto Global para Refugiados – sob os auspícios do ACNUR, 
e o Pacto Global para Migrações – este último a ser coordenado pela Organização 
Internacional da Migração, ambos os quais buscam a promoção de uma política migra-
tória que considere os grupos em situação de vulnerabilidade sob suas perspectivas, 
promovam o direito de migrar e garantam o direito de não se deixar ninguém para trás.
Como se pode observar, o direito humano de migrar e a proteção ao refugiado recebe-
ram diversas tratativas ao longo dos anos no cenário internacional.
Muito embora exista uma série de tratados e declarações, o fato é que essa realidade 
só aumenta, o que nos faz perceber a necessidade de implementação prática das nor-
mas protetivas e ampliação dessa proteção.
Realidades vivenciadas pela Síria, Afeganistão, Sudão do Sul, Mianmar, Venezuela, 
Yemen, revelam que, na atualidade, vive-se momentos de desumanidade do mesmo 
modo como em outros momentos da história recente, após a Segunda Guerra Mun-
dial. Em muitos desses países, a crise é decorrente de grave desestabilidade política, 
dinâmicas de domínio neocolonial, conflitos internos, perseguições de natureza religio-
sas, pobreza, fome, entre outros fatores.
O Afeganistão, por exemplo, passa por grave crise, conflito civil e instabilidade política, 
sendo o terceiro país no mundo com maior número de pessoas a buscar refúgio, de 
acordo com o relatório de tendências globais (2020) do ACNUR, somando 2,6 milhões 
de pessoas que tiveram que buscar proteção internacional, ficando atrás apenas da 
Síria e da Venezuela.
Para maiores informações e acesso ao relatório sobre o Afeganistão, leia o texto do link 
seguinte.
SAIBA MAIS
Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/afeganistao. Acesso em: 7 mar. 2022.
O Iêmen, por sua vez, da mesma forma foi apontado pela ONU como o país que passa 
pela pior crise humanitária do século. Diante de uma guerra civil que perdura desde 
2014, a população do país passa por fome aguda, cujos efeitos podem atingir 16 mi-
lhões de pessoas e levar à morte por fome mais de 5 milhões, tendo sofrido, além 
disso, os efeitos de chuvas torrenciais, as inundações, a crise de combustível, a praga 
de gafanhotos, a cólera e a covid-19 (veja mais informações em: https://unric.org/pt/
iemen-a-maior-crise-humanitaria-do-mundo/; acesso em: 7 dez. 2022).
É importante salientar que os países fronteiriços às citadas nações são os que mais 
acolhem refugiados, a exemplo de Turquia, Uganda, Paquistão, Colômbia. A Alemanha 
é o único país que se encontra no topo de mais acolhedores embora não esteja 
próximo a fronteiras das regiões em conflito. Verifica-se que a maioria são países 
em desenvolvimento, não podendo fomentar uma acolhida humanitária sem uma 
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Direitos Humanos e os Cidadãos no Mundo: Diferença, Diversidade e a Biotecnologia
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perspectiva de compartilhamento de responsabilidade global dos outros países e do 
valor da solidariedade, o que, muitas vezes, não acontece.
Um grupo que acende o alerta entre os países são as pessoas em situação da mais 
ampla vulnerabilidade, como idosos, deficientes, mulheres. Desse grupo, cerca de me-
tade são crianças, sendo crescente o número das que estão cruzando fronteiras e estão 
desacompanhadas de seus pais ou familiares, culminando em ampla vulnerabilidade.
No Brasil, a Lei de Refúgio (Lei nº 9.474/1997), define como pessoa refugiada:
 ` Aquela que, em razão de fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, 
nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, encontre-se fora de seu país de nacio-
nalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país;
 ` Aquela que, não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve residência 
habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias anteriores;
 ` Aquela que, em consequência de grave e generalizada violação de direitos humanos, é 
obrigada a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.
O órgão responsável pela análise e deferimento da condição de refúgio do solicitante es-
trangeiro que chega no território nacional é o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), 
um órgão vinculado ao Ministério da Justiça. O pedido é efetuado pelo refugiado na Polícia 
Federal no Brasil. Segundo o Conare, ao final de 2020 havia 57.099 pessoas refugiadas re-
conhecidas pelo Brasil, oriundas em sua maioria da Venezuela, da Síria e do Congo. Dentre 
os solicitantes de refúgio, destacam-se ainda os haitianos e cubanos (Conare).
Uma das causas não reconhecidas formalmente nos instrumentos internacionais diz 
respeito à migração forçada em razão de mudanças climáticas.
Embora não haja o reconhecimento formal pelos instrumentos normativos, essa rea-
lidade poderá atingir cerca de 216 milhões de pessoas até meados dos anos 2050, 
em razão de desertificação, seca, ausência de água, inundações e enchentes, dentre 
outros fatores, o que é extremamente preocupante.
Nesse sentido, é preciso, de acordo com Banco Mundial, estar atento para a determi-
nação dos países em reduzir as emissões mundiais de gases poluentes e garantir um 
desenvolvimento sustentável verde, inclusivo e resiliente, o que poderá reduzir as mi-
grações por questões climáticas, devendo haver uma preocupação de natureza global 
por políticas que promovam o desenvolvimento sustentável.
Da mesma forma, muito embora a condição e perspectiva econômica não esteja pre-
vista nos instrumentos internacionais como gatilhos de reconhecimento da condição 
de refúgio (sendo enquadradas como migração econômica), ela pode colocar uma po-
pulação em extrema situação de vulnerabilidade e influenciar no reconhecimento da 
condição de visto por questões humanitárias ou, em perspectiva da definição ampliada 
de Cartagena, em decorrência da grave e manifesta violação de direitos humanos.
Foi o que ocorreu, por exemplo, nas situações vivenciadas pelos haitianos em 2010 
após um terremoto naquele país, e pelos sírios, após a deflagração da guerra em 2011, 
sob o contexto da primavera Árabe. Galib (2021, p. 103) observa que tanto no caso dos 
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haitianos como no dos sírios, a solução dada pelo Brasil é similar ao conceder o refúgio 
por razões humanitárias, sendo relevante o fato de que nesse período ainda não estava 
em vigor a Lei de Migração, sendo uma resposta do país diante da urgência e da neces-
sidade de deslocamento da população.
Da mesma forma, a migração venezuelana, que é oriunda de uma grave crise humanitá-
ria vivenciada pela República Bolivariana da Venezuela, implicou o reconhecimento pelo 
país de milhares de refugiados. De acordo com o ACNUR, os venezuelanos são a nacio-
nalidade com maior número de pessoas refugiadas reconhecidas no Brasil sendo que, 
entre 2011 e 2020, um total de 46.412 pessoas foram acolhidas. Nesse caso, o reconhe-
ci- mento foi motivado pela grave e generalizada violação de direitos humanos (Conare).
Como se pode ver, em pleno século XXI o exercício da cidadania não garante a condição 
de ter direitos. O abandono por parte do Estado é evidente em algumas regiões noplaneta.
Leia mais sobre a migração venezuelana nos dois links seguintes. 
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/imigracao-venezuelana-para-brasil.
htm. Acesso em: 7 mar. 2022.
https://www.nepo.unicamp.br/publicacoes/livros/mig_venezuelanas/migracoes_
venezuelanas.pdf. Acesso em: 7 mar. 2022
SAIBA MAIS
Em situações dessa natureza, o estado de direito é posto em ameaça e descaracteriza 
o contrato social formulado para efetivação da democracia. Assim, sem seus direitos 
efetivados, as pessoas, especialmente os grupos em maior situação de vulnerabilidade, 
circulam de um território a outro sem proteção, permanecendo à deriva nessa busca 
reivindicatória de direitos.
A pandemia do coronavírus só intensifica toda essa irracionalidade, e o mundo observa 
o fenômeno migratório. De acordo com a OIM (2021, [n. p.]), com a pandemia, houve 
impacto direto no acesso ilimitado aos serviços públicos, tendo sido identificadas barrei-
ras no acesso à educação e aos serviços de saúde pelos migrantes. Da mesma forma, 
denuncia-se que a vulnerabilidade econômica, com a perda de empregos, afetou a ca-
pacidade de satisfazer necessidades básicas dos refugiados especialmente em relação 
a alimentação e aluguel, além das graves exposições diante do fechamento das frontei-
ras por medidas sanitárias, e das graves e manifestas violações de direitos humanos.
Por fim, é importante ressaltar que, apesar do número de refugiados presentes no Brasil, 
muitas vezes a população traz manifestação discriminatória com relação aos migrantes e 
refugiados no território nacional, com atitudes de repúdio, ojeriza, preconceito e até violência.
A xenofobia é definida como “atitudes, preconceitos e comportamentos que rejeitam, 
excluem e difamam as pessoas com base na percepção de que são estrangeiros à co-
munidade ou sociedade nacional” (ACNUR). Infelizmente, diante do racismo estrutural 
SAIBA MAIS
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Direitos Humanos e os Cidadãos no Mundo: Diferença, Diversidade e a Biotecnologia
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presente, identificam-se especialmente atitudes preconceituosas, xenófobas e racistas 
por parte dos brasileiros com relação à população migrante negra no Brasil.
Muitas vezes, tal situação é percebida diante da própria ausência de uma política de 
acolhimento humanitário realizado de maneira adequada pelo governo brasileiro, como 
o que ocorreu nas cidades de Pacaraima e Boa vista, onde a população local, que viu a 
saturação do acesso dos serviços públicos de saúde e educação e ainda a presença de 
muitos migrantes como moradores de rua, agiu violentamente em relação aos migrantes.
Assim, e como se pôde perceber ao longo desta unidade, há uma ampliação da preca-
rização das condições de refúgio diante da situação de pobreza, mudanças climáticas, 
da falta de acesso a direitos humanos básicos, de conflitos, guerras, crises sanitárias, 
crise alimentar, o que reforça a a falta de proteção humanitária da população migrante, 
em manifesta ofensa às normativas que os protegem, tanto por parte dos Estados quan-
to da própria população que insiste em desconhecer o valor da solidariedade humana.
Figura 05. Movimento de migração.
MIGRAÇÃO = MOVIMENTAÇÃO DE PESSOAS - SAÍDA E ENTRADA
IMIGRAR - ENTRADA EMIGRAR - SAÍDA
Fonte: elaborada pela autora.
Fonte: elaborado pela autora com base nas definições da Lei 13.445/2017.
TERMO/ EXPRESSÃO SIGNIFICADO
Imigrante Pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se esta-
belece temporária ou definitivamente no Brasil;
Emigrante Brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no exterior;
Residente fronteiriço Pessoa nacional de país limítrofe ou apátrida que conserva a sua residência 
habitual em município fronteiriço de país vizinho;
Visitante
Pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao Brasil para estadas 
de curta duração, sem pretensão de se estabelecer temporária ou definitiva-
mente no território nacional;
Apátrida
Pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum Estado, 
segundo a sua legislação, nos termos da Convenção sobre o Estatuto dos 
Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 
2002, ou assim reco- nhecida pelo Estado brasileiro.
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Links recomendados:
https://migramundo.com/ https://www.acnur.org/portugues/
Filme ou Documentários:
1. Samba (2014)
O filme retrata a história de Samba, um senegalês que vive na França e, assim como muitos 
migrantes no país, busca oportunidades de emprego e regulamentação de documentação 
para ter uma vida digna. Nessa busca, ele conhece Alice, uma voluntária em uma ONG que 
busca auxiliar migrantes em situações irregulares.
Direção: Olivier Nakache, Eric Toledano
País: França
2. Immigration Nation (2020)
Esse documentário acompanha a realidade migratória nos Estados Unidos e a política de 
deportabilidade dos migrantes indocumentados, trazendo a reflexão sobre as fronteiras, o 
direito humano de migrar e o drama enfrentado por diversos migrantes no país.
Direção: Christina Clusiau, Shaul Schwarz
País: Estados Unidos
Idioma: Inglês
Para mais informações sobre filmes na temática de migrações, acesse https:// www.observa-
toriomigracine.com/.
No texto, você encontrará acervo de indicações atualizadas em uma plataforma criada pelo 
Observatório de Cinema e Migrações Transacionais, com o objetivo de ampliar e atualizar, 
de modo permanente, o conjunto de obras audiovisuais sobre migração transnacional, em 
diferentes formatos e linguagens.
3. DIREITOS HUMANOS PARA OS CIDADÃOS DO NOVO 
MUNDO: BIOÉTICA E BIOTECNOLOGIA
As questões concernentes à bioética e à biotecnologia interessam à área de Direitos 
Humanos, premissa essa que serve, inclusive, para confirmar que tal disciplina não fica 
restrita ao mundo jurídico.
Para começar, convém pensar em questões de ordem prática – que serão trabalhadas 
nos próximos tópicos em termos doutrinários –, a fim de que se perceba a importância 
da temática. Como primeira abordagem, tome-se como exemplo o caso de um cidadão 
que, tendo uma enfermidade incurável, após esgotadas todas as hipóteses de trata-
mento, deseja abreviar seu sofrimento praticando eutanásia. Como uma segunda abor-
dagem, tome-se como exemplo o caso de empresa que, apesar de trazer dinamização 
econômica para uma região, provoca consideráveis danos ambientais. Para finalizar, 
https://migramundo.com/
https://www.acnur.org/portugues/
https://www.observatoriomigracine.com/
https://www.observatoriomigracine.com/
https://www.observatoriomigracine.com/
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uma terceira abordagem poderia ser o caso de um cidadão que, para angariar recur-
sos para reformar a casa, deseja comercializar um órgão do seu corpo (como um rim). 
Todos esses exemplos demandam a necessidade de atrelamento de valores éticos, 
biológicos e jurídicos.
3.1. DISCUSSÕES CONCERNENTES À EUTANÁSIA E DISTINÇÕES 
CONCEITUAIS
Frisa-se, desde logo, que a eutanásia não encontra amparo no ordenamento jurídico 
brasileiro. Por conta da característica da irrenunciabilidade dos Direitos Humanos, 
o ato voluntário de abreviar a própria vida com o auxílio da medicina não encontra 
respaldo legal, de forma que, aquele que auxiliar eventual conduta nesse sentido pode 
responder criminalmente.
É preciso tomar cuidado, entretanto, para distinções conceituais, haja vista que a eu-
tanásia é absolutamente diferente da ortotanásia, que, por sua vez, é absolutamente 
diferente da distanásia. Nada obstante pequenas variações doutrinárias: a eutanásia, 
como já dito, consiste na morte provocada para abreviar a dor ou o sofrimento (prática 
vedada); a distanásia é o prolongamento artificial e desnecessário da vida, aumentando 
o sofrimento da pessoa e de seus familiares, como o caso de paciente com morte 
cerebral mantido vivo, apenas, graças a aparelhos (prática repudiada, muito embo-
ra alvo de dilemas médicos quanto à aceitabilidade); a ortotanásia,

Mais conteúdos dessa disciplina