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Direitos Humanos e Empresas

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RAFAEL JOSÉ NADIM DE LAZARI
CESAR AUGUSTO ARTUSI BABLER
VIVIANE DE ARRUDA PESSOA OLIVEIRA
MARIA CAROLINA GERVÁSIO ANGELINI DE MARTINI
DIREITOS HUMANOS
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Direitos Humanos e o mundo contemporâneo: mundo corporativo, meio ambiente e novas 
tecnologias
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UNIDADE 4
DIREITOS HUMANOS E O MUNDO 
CONTEMPORÂNEO: MUNDO 
CORPORATIVO, MEIO AMBIENTE E 
NOVAS TECNOLOGIAS
1. DIREITOS HUMANOS E EMPRESA: A GESTÃO DA 
DIVERSIDADE
Com a formação de uma nova consciência jurídica universal, o direito internacional pas-
sa a se reger pela ideia do objetivismo, segundo a qual normas simplesmente devem 
produzir efeitos, independentemente da vontade estatal, por serem consideradas es-
senciais para a sobrevivência humana (TRINDADE, 2013, p. 30-31). Por conta disso, se 
o bem viver precisa de uma correlação da natureza e do ser humano e se é necessário 
haver solidariedade e ausência de exclusões (ACOSTA, 2016, p. 19-29), é fundamental 
trabalhar direitos humanos e empresas.
Assim, nesta primeira parte da unidade, será analisada a relação dos direitos humanos 
nas empresas, adentrando nas questões de meio ambiente sadio e adequado para se 
laborar e, assim, em direitos que devem ser respeitados. Também tecerá considerações 
acerca da ausência de discriminação dentro das empresas e da inserção de políticas 
acolhedoras, ou seja, de medidas que promovam igualdade e efetivem legislações in-
ternas e internacionais. Por fim, vamos nos debruçar na relação com o meio ambiente e 
na necessidade de responsabilização pelos atos violadores de direitos humanos.
1.1. O MEIO AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL E ADEQUADO E A 
PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE NAS EMPRESAS
Inicialmente, é preciso lembrar que, após as atrocidades humanitárias ocasionadas 
pela Segunda Guerra Mundial, o ser humano passou a ser considerado de modo mais 
significativo no universo jurídico, de forma que a busca por protegê-lo se tornou uma 
realidade. Nesse sentido, os direitos humanos são assegurados para possibilitar que 
valores essenciais para a sobrevivência e a vida digna do indivíduo sejam garantidos, 
como a liberdade, a igualdade, a dignidade.
Segundo Acosta (2016, p. 19-29), que traz a conceituação do que entende por “bem vi-
ver”, a norma jurídica precisa ter como norte o ser humano e a natureza, pois o primeiro 
vive em comunidades e no convívio com a segunda, motivo pelo qual, em uma proposta 
global, traz a perspectiva de que não se podem mais aceitar discursos de exclusão, 
tampouco preconceitos. Para ele, a comunidade deve viver em harmonia, tendo como 
consequência a solidariedade e a reciprocidade (ACOSTA, 2016, p. 19-29).
No campo empresarial, é necessário pensar a respeito do meio ambiente do trabalho. 
Assim, diante das dimensões de direitos humanos, é notável e imprescindível que se 
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garanta um local limpo, adequado e livre de ações discriminatórias para que se efetivem 
os referidos ditos. Por essa razão, Delgado (2019, p. 94) insere o direito do trabalho 
na dimensão social dos direitos humanos, necessitando de uma ação para garantia do 
mesmo direito.
A inserção de intervalos na jornada de trabalho, o descanso semanal remunerado, as 
medidas de higiene, são todos inseridos como uma forma de promover a saúde mental 
e física dos trabalhadores, já que concedem descanso para a própria mente e buscam 
garantir que o local de labor seja adequado. Nesse ínterim, Delgado (2019, p. 1122) 
alega que as normas trabalhistas atinentes a intervalo e descanso, por exemplo, são de 
saúde pública, uma vez que são medidas profiláticas.
Em outras palavras, os intervalos na jornada de trabalho são espaços temporais em 
que o obreiro poderá descansar ou alimentar-se. Há o intervalo interjornada, que é 
de um dia para o outro e significa o descanso entre os dias de trabalho, sendo fixado 
em 11 horas, além do intrajornada, que é o que acontece no meio do expediente, num 
lapso temporal durante o qual o indivíduo pode se alimentar, por exemplo, podendo ser 
fixado de entre 1 a 2 horas, muito embora seja possível ser relativizado. Por sua vez, 
o descanso semanal remunerado é o dia em que o trabalhador não laborará e, mesmo 
assim, será remunerado, sendo normalmente fixado aos domingos, mas é possível que 
haja alterações. Nota-se a essencialidade dos direitos, tendo em vista a saúde mental 
e física do ser humano.
Além disso, Souza e Bernardo (2019, p. 5-9), ao analisar práticas que levam a adoe-
cimento mental, mostram que a Vigilância em Saúde do Trabalhador constatou a exis-
tência de práticas de assédio moral como um ato abusivo por parte das empresas e 
que, nesses casos, é preciso que a empresa mude de postura e venha a assegurar 
condições dignas de trabalho sem quaisquer nocividades à saúde mental dos obreiros.
O assédio moral é, normalmente, uma ação repetitiva que desestabiliza o psicológico 
do indivíduo, constrangendo-o. Segundo Ghilardi e Heckkool (2013, p. 465), “O indiví-
duo que assedia alguém busca desestabilizar o emocional, fazendo com que [a pessoa] 
passe por constrangimentos, abalos psíquicos ou situações vexatórias”. Em comple-
mento, a Cartilha feita pelo Tribunal Superior do Trabalho e pelo Conselho Superior da 
Justiça do Trabalho menciona que o ato pode se dar através de forma escrita ou oral e 
leva a danos a pessoa, sua personalidade e integridade, deixando tóxico o ambiente de 
trabalho (TST; CSJT, 2019, p. 6)
É notável que a submissão a jornadas exaustivas de trabalho, a supressão de intervalos, 
a falta de cuidado com a saúde do empregado, como a ausência de equipamentos 
para entrar em ambientes frios ou a exposição a ruídos sem proteção adequada, são 
exemplos de violação da legislação e de um ambiente não sadio. Muitas práticas com 
esse viés são associadas a trabalhos análogos à escravidão, como aconteceu com 
Madalena Gordiano, quem, ao bater na porta de uma família, que disse que a adotaria 
e que ela estudaria, passou a ali morar e ser explorada, tendo que realizar todos os 
afazeres domésticos por 4 décadas, sem salário, folga ou férias (EL PAIS, 2021, [n. 
p.]). Situações como esta são infelizmente comuns, sendo reportado que até meados 
de 2022, 1.125 trabalhadores haviam sido resgatados de situação de trabalho análogo 
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à escravidão, somente no mencionado ano (Folha de São Paulo, Julho 2022). Segundo 
notícias de 2015, de 4.975 profissionais entrevistados, 52% mencionaram ter sofrido 
assédio moral ou sexual no ambiente de trabalho (BARIFOUSE, 2015, [n. p.]).
Os direitos individuais buscam tutelar o ser humano, como o direito à vida, à liberdade, 
à integridade. Já os direitos sociais buscam que o Estado, por prestações positivas 
ou negativas, assegure condições mínimas para a sobrevivência, como alimentação, 
trabalho, moradia, um meio ambiente sadio. Buscam assim a realização da Declaração 
Universal de Direitos Humanos de 1948.
Afinal, a dignidade, que enxerga o indivíduo como um fim em si mesmo (RAMOS, 2020, p. 
81), será respeitada quando seu corpo e sua mente são considerados como essenciais.
Há um diálogo entre o ordenamento jurídico interno e internacional permite uma maior 
proteção da dignidade humana. Para Almeida (2018, p. 96), a “dignidade da pessoa 
humana deve ser respeitada e protegida por parte do Estado e de todos os cidadãos e 
todas as cidadãs de uma comunidade política”, motivo pelo qual ele entende que a liber-
dade e a igualdade estão presentes durante toda a vida de cada pessoa, sem distinção 
(ALMEIDA, 2018, p. 84-85).
1.2. PROMOÇÃO DE RESPEITO À DIVERSIDADE DE GÊNERO, SEXO 
E RAÇA EM EMPRESAS
Não há uma proporcionalidade de gênero, sexo e raça dos cargos dentro de empresas. 
A desigualdade é muito presente, o que desencadeou lutas que culminaram com a cria-
ção de legislações para alterar o cenário discriminatório.
Segundo estudo feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e pelo InstitutoEthos (2016, p. 1-96) com 117 empresas, cuja maioria era do setor industrial, as mulhe-
res, as pessoas com deficiência e os negros não estão tão bem representados nesses 
ambientes. Ainda que a maior parte da população brasileira seja formada por mulheres 
e por negros, notou-se que os cargos mais elevados hierarquicamente são ocupados 
por homens e que negros estão presentes em apenas 6,3% das vagas de gerência e 
4,7% das do âmbito executivo (ETHOS, 2016, p. 1-96). No que concerne aos portado-
res de deficiência, verificou-se que somente 2% são trabalhadores dessas empresas 
(ETHOS, 2016, p. 1-96).
Também relatou-se que 38% das empresas e indústrias obstaculizam a contratação 
de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queers e intersexuais (LGBTQI+) 
(PARIS, 2020, [n. p.]).
O artigo 5, caput, da Constituição Federal insere o princípio da igualdade, segundo o 
qual deve-se promover o mesmo tratamento a todos, independentemente de raça, gê-
nero e sexo. O princípio possui duas dimensões, a primeira das quais é a exigência de 
uma abstenção para não discriminar, e a segunda, por sua vez, prevê a realização de 
um ato afirmativo diferenciado para haver igualdade.
A necessidade de praticar um ato para haver igualdade levou à Convenção sobre 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Mulher e seu Protocolo 
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Facultativo, à Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial, e à Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu 
Protocolo Facultativo.
A Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Mulher 
e respectivo Protocolo Facultativo busca de maneira normativa que relações sociais 
entre homens e mulheres sejam regidas pela igualdade. Assim, apresenta o que seria 
a discriminação e a perspectiva de conceder as mesmas oportunidades de emprego, 
critérios de seleção, remuneração.
No tocante à Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Ra-
cial, o escopo, em síntese, é “promover e encorajar o respeito universal e efetivo pelos 
direitos humanos, sem qualquer tipo de discriminação, em especial a liberdade e a 
igualdade de direitos [...]” (RAMOS, 2020, p. 201), bem como retirar e condenar doutri-
nas baseadas na superioridade racial. Em complemento, a Convenção Interamericana 
contra Toda Forma de Discriminação e Tolerância determina que o Estado possui a 
obrigação de promover e proteger direitos humanos sem qualquer distinção e se pautar 
pela dignidade, definindo discriminação como “tratamento de diferenciação, restrição ou 
mesmo exclusão, sem justificativa racional e proporcional, realizado por agentes públi-
cos ou privados, visando a privação ou prejuízo de outrem” (RAMOS, 2020, p. 379-380).
Por fim, a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu 
Protocolo Facultativo, define “pessoas com deficiência” como as que têm algumas 
restrições físicas, intelectuais ou sensoriais, e, em seguida, colaciona princípios, como 
dignidade, inclusão, respeito pela diferença e aceitação, igualdade de oportunidades e 
de gênero, e as obrigações dos Estados, como ter medidas legislativas, administrativas 
e de qualquer natureza que concretizem direitos e eliminem discriminação.
Os instrumentos internacionais atendem aos objetivos do milênio, da ONU, especial-
mente o 5, Igualdade de Gênero, e o 10, Redução das Desigualdades. O 5 visa à igual-
dade de oportunidades e à participação efetiva de mulheres na liderança, políticas de 
empoderamento e eliminação de violência contra mulher e de casamento prematuros 
(ONU, 2021, [n. p.]). Por sua vez, o 10 requer, em resumo, as inclusões social, econômi-
ca e política, sem distinção de gênero, deficiência, raça, religião, condição econômica, 
origem, igualdade de oportunidades e eliminação de leis, políticas e práticas discrimina- 
tórias (ONU, 2021, [n. p.]).
No âmbito interno, há a Lei nº 12.990/2014, que prevê que 20% das vagas destinadas 
a concursos e provimentos devem ser reservadas para negros. O artigo 37 da Lei nº 
13.146/2015 dispõe que a inserção com igualdade de oportunidades no mercado de 
trabalho é necessária para inclusão da pessoa com deficiência, devendo, ainda, se 
preciso, adaptar o ambiente e promover acessibilidade. Há, ainda, o Projeto de Lei nº 
144/2021, que busca reservar vagas de emprego para mulheres transexuais, travestis e 
homens transexuais em empresas privadas. Por fim, a Lei nº 12.711/2012 insere cotas 
para ingresso em universidades por pessoas com baixa renda, estudantes de escola 
pública e pretos, pardos, indígenas e pessoas deficiência.
Tais iniciativas colaboram com a perspectiva da inclusão constitucional que requerem 
tratamentos diferenciados para haver igualdade, daí o papel das ações afirmativas que 
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buscam dar concretizar direitos (RAMOS, 2020, p. 651). Ao mesmo tempo, prezam pela 
não realização de atos discriminatórios injustificados.
Ainda que haja empresas privadas que agem para consecução da igualdade e realiza-
ção dos direitos humanos, é possível encontrar inúmeras outras que seguem caminho 
contrário. Como exemplo de boas práticas, o Magazine Luiza, em 2020, criou um pro-
cesso seletivo de trainee para contratar pessoas negras, com o escopo de diminuir a 
discrepância entre brancos e negros em empresas. Mesmo com críticas inapropriadas, 
o programa prosperou e se repetiu em 2021.
Por outro lado, em novembro de 2020, João Alberto, um homem negro que estava no 
supermercado Carrefour de Porto Alegre (RS), foi morto por dois seguranças do local. 
A vítima foi agredida por um ato de racismo na véspera do Dia da Consciência Negra, 
o que levou a uma ação para apurar o racismo estrutural na segurança privada. O Car-
refour firmou um acordo com o Ministério Público Federal, segundo o qual a empresa 
deve implementar um Plano Antirracista, conceder a igualdade racial e um modo de 
atuação interna em consonância com os direitos humanos e o combate à discriminação, 
além da atualização do Código de Ética e Conduta e do pagamento de 115 milhões de 
reais (CONJUR, 2021). O dito aporte terá parte de seu monto direcionado para ações 
de combate ao racismo, como o plano mencionado, e também para custear bolsas de 
estudo para pessoas negras na graduação e na pós-graduação. Vale ressaltar que, 
aqui, não se trata de um exemplo de boas práticas, mas de um acordo por conta da 
violação praticada por seus funcionários.
Portanto, é perceptível que o labor ainda é árduo no que concerne à efetividade de 
direitos e à promoção de igualdade, haja vista o que os percentuais demonstram e as 
situações de violência e discriminação existentes. Porém, ações têm sido realizadas 
para promover um ambiente sadio, acolhedor, que quer abrir espaços, demonstrando-
se como uma maneira de tentar efetivar a previsão normativa e os objetivos da ONU. 
Mesmo assim, a realidade do mundo empresarial, ainda mais nos tempos de pandemia, 
demonstraram que as ações realizadas até o momento não têm sido suficientes - inclu-
sive por isso, busca-se a construção de um tratado vinculante perante a ONU. 
Figura 01. Diferentes dificuldades para 
homens e mulheres no trabalho.
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1.3. A RESPONSABILIDADE NAS EMPRESAS E A PERSPECTIVA 
SOCIAL E SUSTENTÁVEL
A personalidade internacional é aquela que reconhece a um ente o status de sujeito de di-
reito internacional, o que, no início, era atribuído apenas ao Estado, mas, a partir do século 
XX, também tornou-se um status a ser atribuído a Organizações Internacionais. Tal status 
atribui direitos, deveres e a possibilidade de atuação, seja mediante elaboração de tratados, 
seja pela utilização de tribunais internacionais, ao sujeito em âmbito internacional.
Por conta disso, sobre indivíduos e empresas,existem controvérsias sobre eventual 
concessão da personalidade. Parte da doutrina sustenta que o indivíduo não pode ser 
sujeito de direito internacional justamente por não poder celebrar tratados (REZEK, 
2018, p. 190); por outro lado, outros afirmam que ele pode ser sujeito, já que pode , por 
exemplo, peticionar perante a Corte Europeia de Direitos Humanos, além de ser julgado 
pelo Tribunal Penal Internacional (MAZZUOLI, 2020, p. 369).
No tocante às empresas transnacionais, grande parte justifica que não cabe a inserção 
como sujeito por ela visar o lucro, o que difere de outros sujeitos de direito internacional (RE-
ZEK, 2018, p.190). Porém, como ela possui grande influência midiática, e até nos próprios 
Estados, que, por meio de incentivos, moldam suas legislações para atrair estas empresas. 
Há indagações sobre a questão da não inserção destas empresas no rol de personalidades 
jurídicas internacionais ser algo correto ou não (MAZZUOLI, 2020, p. 375).
Essa discussão é importante ao verificar algumas ações empresariais, como as que leva-
ram a sérias consequências a vida da população ou de trabalhadores. Impactos ambien-
tais e problemas de saúde são ocasionados pelos atos de entes privados, muito embora 
existam legislações internas que estipulam a obrigação de preservar o meio ambiente, 
os recursos naturais, a água, o solo, a fauna e a flora para a geração presente e para a 
futura, e direitos individuais e coletivos, em relação aos quais nem sempre há respeito.
A título ilustrativo, tem-se o caso Shell/Basf, em que a fabricação de agrotóxicos na 
cidade de Paulínia, que no início de 1975, contaminou o lençol freático e espalhou 
resíduos tóxicos, principalmente no rio Atibaia, gerando problemas ambientais e atin-
gindo as pessoas. Afinal, foram detectados contaminantes na água do subsolo local, 
e, posteriormente, exames médicos confirmaram a presença de resíduos tóxicos nas 
pessoas que trabalhavam ou que moravam nas proximidades. Doenças como intoxica-
ção crônica e tumores hepáticos foram algumas das consequências, as quais, inclusive, 
atingiram crianças.
Outro caso relevante é o da Samarco/Vale (MPF, 2021, [n. p.]), sobre o qual, embora 
posteriormente será abordado o aspecto ambiental e humano, desde já cabe salientar 
que, com o rompimento da barragem de Fundão em Mariana-MG, dejetos de lama fo-
ram despejados. Pessoas faleceram, foram retiradas do local que habitavam, tiveram 
seu dia a dia, casa e trabalho afetados, além das consequências ambientais.
Finalmente, a empresa de tabaco, ao vender cigarros, sabe que a fumaça do produto 
contém cerca de 69 compostos e substâncias que podem causar câncer, poluir o am-
biente e ser capaz de levar a morte ou doenças aos usuários e a quem está próximo 
deles, o chamado de fumante passivo (INCA, 2021, [n. p.]). No entanto, a empresa 
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tabaqueira cria novas artimanhas e divulga informações inverídicas, como que cigarro 
eletrônico não faz mal (VEDOVATO; MARTINI, 2020, p. 9-13).
É evidente que a empresa, detentora de um grande poderio econômico, é muitas ve-
zes querida em um país e localidade, seja porque gera empregos, seja pela questão 
econômica. Todavia, em razão de alguns exemplos explanados acima, fica notável a 
necessidade de responsabilizar internacionalmente as empresas pelas violações de 
direitos humanos.
Em virtude disso, foram criados os “Guilding Principles”, com a ideia de “proteger, res-
peitar e remediar”, que, em síntese, significa que o Estado precisa proteger os indi-
víduos, criando políticas específicas e regulamentações em relação a empresas. As 
empresas precisam respeitar direitos humanos, e as vítimas devem ter mais acesso a 
remédios judiciais para efetivar seus direitos e buscar reparações (ONU, 2011, p. 1-42). 
Porém, os referidos princípios são apenas diretrizes e recomendações para amenizar 
conflitos entre empresas e direitos humanos, sem ter um conteúdo vinculativo.
Assim, existe uma ânsia pela criação de um tratado de direitos humanos que seja ca-
paz de vincular empresas, pois, mesmo no âmbito interno de cada país, podem-se 
criar institutos de responsabilidade (como acontece no Brasil no aspecto civil, em que a 
tutela dos ditos direitos nem sempre se efetiva); é preciso haver atuação internacional. 
O instrumento ainda não foi criado, até porque empresas são detentoras de capital e 
financiam muitos projetos, programas, inclusive da própria ONU, bem como não são 
majoritariamente consideradas sujeito de direito internacional.
Para ter acesso à sentença proferida no caso, leia o texto na íntegra no seguinte link.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9mw5Wg02yAA. Acesso em: 11 dez. 
2022.
https://www.youtube.com/watch?v=28Ij0ztdJMc. Acesso em: 11 dez. 2022.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/decisao-condena-basf-shell-indenizar.pdf. 
Acesso em: 11 dez. 2022.
SAIBA MAIS
Para conhecer mais o caso Shell/Basf, veja os depoimentos das vítimas nos seguintes vídeos.
Entendemos, assim, que a temática dos direitos humanos deve ser inserida no plano 
empresarial, seja por políticas e normativas nacionais e internacionais, seja pelos atos 
da própria empresa. Cursos, palestras e ações inclusivas precisam fazer parte das ações 
da empresa, a fim de respeitar os direitos humanos em todas as suas dimensões, mas, 
especialmente, de haver um meio ambiente sadio e senso de pertencimento à empresa.
Zelar pela saúde física e mental do trabalhador, ter espaços em que ele se sinta bem 
e buscar concretizar a perspectiva da diversidade de pessoas no trabalho são formas 
de modificar cenários de discriminação, de exploração e de adoecimento. Assim, se 
https://www.youtube.com/watch?v=9mw5Wg02yAA
https://www.youtube.com/watch?v=28Ij0ztdJMc
https://www.conjur.com.br/dl/decisao-condena-basf-shell-indenizar.pdf
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consolida o disposto nos documentos internacionais e internos no tocante aos direitos 
humanos.
Portanto, é perceptível que o respeito a direitos humanos por entes empresariais é pri-
mordial, tanto para a própria conscientização do outro como sujeito de direitos, quanto 
para a modificação dos cenários de desigualdade e discriminatórios. Dessa forma, a 
dignidade humana é, realmente, mais efetivada.
Figura 02. Temas de Direitos Humanos e Empresas
DIREITOS HUMANOS E 
EMPRESASRelação 
com a 
COVID-19
Violação de Direitos 
Humanos e Tratado 
Internacional
Meio ambiente 
sadio e 
adequado
Papel dos 
instrumentos 
jurídicos
A preocupação 
ambiental e a 
responsabilidade 
internacional
A realização de direitos humanos e 
suas dimensões
Empresas e 
a diversidade
Bem viver 
(ACOSTA) e 
dignidade 
humana
Fonte: elaborada pelo autor.
Indicação de filme e documentário
Documentário: Carne e Osso (2011) 1h 5min
Direção: Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros Companhia(s) produtora(s): Repórter Brasil
Sinopse: Trabalhadores de frigoríficos contam a dura realidade de sua rotina na indústria 
pecuarista. Em meio a turnos de trabalho longos e muito desrespeito às leis trabalhistas, o 
grupo revela como funciona a cadeia produtiva da carne: recordes absurdos para desossar e 
técnicas tão degradantes quanto doloridas para melhorar o desempenho são apenas alguns 
detalhes do risco envolvido na esteira refrigerada.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=887vSqI35i8.
Observação: O documentário é importante para compreender a necessidade de um meio 
ambiente sadio e condições adequadas para desempenhar as funções de trabalho.
Texto complementar
Obra literária: VIEIRA JUNIOR, Itamar. Torto Arado. Todavia, 2019.
Opinião sobre a obra disponível em: https://www.cartacapital.com.br/opiniao/o-brasil-
profundo-em-torto-arado/
https://www.youtube.com/watch?v=887vSqI35i8
http://www.cartacapital.com.br/opiniao/o-
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Caso de aplicação:
Como mencionado no decorrer do texto, o caso Shell/Basf teve muita repercussão nacional, 
em virtude dos danos provocados ao meio ambiente e à saúde da população e dos trabalha-
dores. Afinal, a Shell, em 1977, passou a operar em Paulínia-SP, produzindo agrotóxicos que 
seriam utilizados para pulverização rural (MARTINEZ; BASSI, 2017). O grande problema é 
que eram substâncias altamente tóxicas que tinham alto potencial cancerígeno, tendo levado 
à contaminação do solo, do lençol freático, e acometido pessoas com doenças. Destaca-se 
que, em 1995, a Shell foi vendida para American Cyanamid Company, que, por exigir uma 
auditoria ambiental antes da compra, verificou a contaminação da água e do solo. Em 2000, 
a Basf da Cyanamid continuou desempenhando a mesma função, findando suas atividades 
em 2002 (DE PAULA JÚNIOR; GARCIA, 2018).
A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, na época, verificou um alto índice de po-
luição no rio Atibaia, mas a empresa possuía licença para funcionar (DE PAULA JÚNIOR; 
GARCIA, 2018). Depois de anos, o resultado foi um desastre que não conseguia mais camu-
flar efeitos quanto à contaminação dos lençóis freáticos, além do adoecimento das pessoas, 
trabalhadores e moradores da região, inclusive crianças.
É perceptível, assim, que os direitos humanos, criados para zelar pela dignidade humana, es-
pecificamente os direitos sociais, como o direito ao trabalho e a saúde, não foram observados. 
Doenças foram desencadeadas nas pessoas, incluindo os obreiros, não havendo o que se 
falar sobre um meio de trabalho sadio e adequado, tampouco sobre dignidade, haja vista a 
inobservância de normas fitossanitárias. O trabalhador, que já é vulnerável por ser submisso 
a quem tem o poder de ditar normas e pagar salários, tornou-se ainda mais, tendo em vista 
a falta de acesso às informações sobre os malefícios. Transgrediu-se, assim, a primeira di-
mensão dos direitos humanos, voltando para aqueles que são inerentes à individualidade da 
pessoa, uma vez que a integridade física foi atingida, e a segunda dimensão, que trabalha a 
perspectiva social, abrangente à questão trabalhista. De todo modo, é importante entender 
que não há propriamente uma separação de direitos nas gerações, devendo-se prezar pela 
interseccionalidade, interdependência e interrelação de todos os direitos.
2. DIREITOS HUMANOS E SUSTENTABILIDADE
O direito ao meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado é considerado de solida-
riedade por possuir um aspecto coletivo, além de ser reconhecido pela ONU como um 
direito humano vinculativo. É destinado a uma coletividade justamente por ser impres-
cindível para a vida humana e essencial a todos. Por outro lado, muito se sustenta que 
ele também é individual por permitir a vida digna.
A dignidade humana não é facilmente conceituada, de forma que muito se diz que, para 
averiguá-la, deve-se verificar o que a viola. Guilherme de Almeida (2018, p. 84-85) aduz 
que a dignidade embute a liberdade e a igualdade, o que pode ser complementado pelo 
conceito de desenvolvimento econômico social de Amartya Sen, que assegura que as 
liberdades, e não só o aspecto econômico, devem ser consideradas.
No entanto, apenas com a valorização da natureza e do ser humano é que as neces-
sidades sociais e humanitárias são realmente atendidas, daí a importância do meio 
ambiente como direito humano e fundamental.
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Tal situação foi reconhecida pela legislação interna e internacional que passou a tu-
telá-lo e considerá-lo como essencial, como a Declaração de Estocolmo. Isso ocorre, 
inclusive, porque é de conhecimento geral que degradações, poluições, queimadas e 
desmatamentos levam ao aparecimento de vírus e aumentam o número de doenças.
Por isso, uma vez que a temática é fundamental, faz refletir sobre o papel de cada 
cidadão no cuidado com um direito que pertence a todos. Estado, sociedade civil e em-
presas devem ter boas práticas ambientais e zelar por isso, a fim de garantir um meio 
ambiente sadio e adequado para as gerações presentes e futuras.
2.1. A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE COMO PRESSUPOSTO DOS 
DIREITOS HUMANOS
Ao tecer afirmativas sobre a dignidade humana, Antônio Junqueira de Azevedo (2002, p. 
116) menciona que ela necessita que se reconheça a intangibilidade da vida humana para 
que exista. Os direitos humanos consolidam isso por serem um conjunto de normas que 
busca garantir condições essenciais para a vida humana” (RAMOS, 2020, p. 31).
Preservar a vida não envolve apenas a construção de direitos individuais, mas também 
a garantia de direitos econômicos, sociais e culturais como o meio ambiente ecologica-
mente equilibrado. Para ter qualidade de vida ou até mesmo para viver, é preciso que os 
recursos naturais sejam tutelados, tanto que a Constituição Federal, em seu artigo 225, 
elucida a proteção do meio ambiente sadio e adequado para as gerações presentes e 
futuras como um direito fundamental.
O cultivo do meio ambiente relaciona-se com os direitos humanos, uma vez que sua de-
gradação tem consequências para a vida, podendo até extingui-la, motivo pelo qual, além 
de ser um dever de toda a sociedade, se coloca como uma obrigação para o Estado.
Nesse sentido, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado tem um aspecto 
individual e coletivo. Ou seja, é um direito destinado a um grupo ou a uma coletividade, 
mas que também busca a qualidade de vida, a dignidade humana e a própria vida (indi-
vidualidade desse direito), seja ela humana ou não.
Mazzuoli (2020, p. 928), ao abordar o meio ambiente e os direitos humanos, alega que 
a tutela ambiental não se manifesta apenas na questão da poluição industrial, “pois 
abrange um universo muito mais amplo e complexo, que envolve todo o planeta e pode 
colocar em risco a saúde mundial”. Com isso, a proteção ambiental ocorre não apenas 
no âmbito nacional, como também na esfera internacional.
O direito fundamental ao meio ambiente foi reconhecido no plano internacional pela 
Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, adotado pela Conferência das Nações 
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, cujos 26 princípios têm a mesma relevância 
para os Estados que teve a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada em 
Paris, em 10 de dezembro de 1948, pela Resolução 217 da Assembleia Geral da ONU, 
servindo de paradigma e referencial ético para toda a comunidade internacional no que 
tange à proteção internacional do meio ambiente como um direito humano fundamental 
de todos. (MAZZUOLI, 2020, p. 928)
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Direitos Humanos e o mundo contemporâneo: mundo corporativo, meio ambiente e novas 
tecnologias
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Assim, muito embora o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado não en-
contre previsão expressa na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, no 
Brasil e em outras localidades, faz parte do bloco de constitucionalidade, de forma que 
todas as normas têm que se ater ao conteúdo desse direito; caso contrário, é possível 
questionar a aplicabilidade delas. Cabe mencionar que a liberdade prevista na Decla-
ração de 1948 somente encontra total correspondência com a prática quando o meio 
ambiente é garantido (MAZZUOLI, 2020, p. 920).
Um dos grandes marcos foi a Declaração de Estocolmo de 1972, que foi capaz de mo-
dificar as ideias acerca do meio ambiente, haja vista que, em seu artigo I, dispõe sobre 
a essencialidade dele para o bem-estar e a realização dos direitos humanos e, no artigo 
II, enfatiza que ele afeta o mundo todo. Transcreve-se:
I. O homem é ao mesmo tempo criatura e criador do meio ambiente, que lhe 
dá sustento físico e lhe oferece a oportunidade de desenvolver-se intelectual, 
moral, social e espiritualmente. A longa e difícil evolução da raça humana no 
planeta levou-a a um estágio em que, com o rápido progresso da Ciência e 
da Tecnologia, conquistou o poder de transformar de inúmeras maneiras e em 
escala sem precedentes o meio ambiente. Natural ou criado pelohomem, é o 
meio ambiente essencial para o bem-estar e para gozo dos direitos humanos 
fundamentais, até mesmo o direito à própria vida.
II. A proteção e a melhoria do meio ambiente humano constituem desejo premente 
dos povos do globo e dever de todos os Governos, por constituírem o aspecto 
mais relevante que afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento do mundo 
inteiro. (ONU, 1972, [s. p.]).
A adoção da Declaração se deu em razão das catástrofes ambientais, como vazamento 
de óleo e de petróleo, e outros dilemas, como uma possível guerra nuclear entre Esta-
dos Unidos e Rússia. Assim, as Nações Unidas convocaram uma conferência para que 
medidas de saúde e de preservação ambiental fossem tomadas, a qual foi o primeiro 
evento considerado relevante para a dita tutela internacional.
O instrumento levou a três documentos, a Declaração de Princípios de Estocolmo, com 
viés político, o Plano de Ação para o Meio Ambiente, com recomendações para o cres-
cimento político, e a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 
(PNUMA), que visa dar ensejo a programas de tutela ambiental (ACCIOLY; SILVA; CA-
SELLA, 2018, p. 686).
Se, por um lado, nesse período, até a década de 1990, muitos tratados internacionais 
já haviam sido firmados para que espécies ameaçadas e locais de relevância ecológica 
fossem protegidos, por outro, catástrofes ambientais aconteceram, como a falha de sis-
tema na Usina de Chernobyl, Ucrânia, que, em razão de um superaquecimento dos re-
atores, ocasionou contaminação por radioatividade (ACCIOLY; SILVA; CASELLA, 2018, 
p. 687). Assim, a Assembleia Geral das Nações Unidas realizou um relatório para os 
governos, denominado de Relatório Brundtland, com o objetivo de instituir programas e 
políticas de desenvolvimento sustentável, além de documentos internacionais, como a 
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 no 
Rio de Janeiro (ACCIOLY; SILVA, CASELLA, 2018, p. 687).
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A dita Conferência produziu reflexos para tutela ambiental e reafirmou “os princípios in-
ternacionais de direitos humanos, como os da indivisibilidade e interdependência, agora 
conectados com as regras internacionais de proteção ao meio ambiente e aos seus 
princípios instituidores” (MAZZUOLI, 2020, p. 919). Uma das obrigações provenientes 
da reunião foi a Agenda 21, cujo escopo é o desenvolvimento sustentável.
O desenvolvimento sustentável tornou-se um princípio previsto em diversos tratados 
internacionais e traz o ser humano como preocupação, a harmonia com a natureza, a 
proteção ambiental, a cooperação entre os Estados e a atenção com as gerações pre-
sentes e futuras. O princípio serve de orientação para as organizações internacionais e 
tribunais nacionais e internacionais.
Falar em desenvolvimento sustentável como princípio não apenas significa o uso equilibra-
do dos recursos naturais, mas embute a responsabilidade quanto às gerações presentes 
e futuras, envolvendo aspectos procedimentais, como a elaboração do impacto ambiental.
Além disso, o dito desenvolvimento envolve a prevenção e a precaução. O primeiro é 
atinente aos impactos ambientais conhecidos e, por isso, os estudos prévios do impacto 
ambiental podem ser diretamente solicitados (ANTUNES, 2015, p. 48). Por sua vez, o 
segundo busca definir o que se prevenirá e como será feito, além da necessidade de 
julgo em favor do ambiente em caso de dúvida, sendo preciso, assim, visualizar os re-
cursos disponíveis (ANTUNES, 2015, p. 31).
Ademais, o termo “desenvolvimento sustentável” encontrou na Conferência no Rio (92) 
uma estipulação de iniciativas para sua realização, inserindo, ainda, uma divisão de res-
ponsabilidades e tendo ações voltadas para justiça social, desenvolvimento econômico 
e pobreza (FEIL; SCHREIBER, 2017, p. 671). A ideia é que se atinjam as necessidades 
dos indivíduos sem causar problemas a gerações futuras, envolvendo perspectivas am-
bientais, sociais e econômicas (FEIL; SCHREIBER, 2017, p. 673-675). Cabe ressaltar, 
ainda, o Acordo de Paris, que representa uma maneira de tentar diminuir a ameaça 
global climática, sendo necessário que as empresas analisem suas atuações, a fim de 
reduzir, por exemplo, a emissão de carbono e verificando quais são os riscos climáticos 
de suas atividades.
No mais, conforme afirma Guido Fernando Silva Soares (2003, p. 173), as tutelas am-
bientais são vistas como complementares aos direitos humanos, especialmente no que 
tange a saúde e a vida. Notam-se, assim, a essencialidade do direito e a sua inserção 
como um direito humano.
Portanto, ao trabalhar o direito ao meio ambiente (e por consequência o desenvolvimen-
to sustentável), é perceptível a inserção dele como direito humano e fundamental, haja 
vista a essencialidade de um local sadio e adequado para as gerações presentes e fu-
turas. A natureza é que promove o viver e acaba influenciando no aspecto econômico e 
social também, motivo pelo qual instrumentos internos e internacionais trabalham para 
conquistar o mencionado direito. Destaca-se que, em resumo, o direito humano é aque-
le que pode ser exigido no âmbito internacional, já o direito fundamental é o que está 
previsto no direito interno, na Constituição Federal, podendo, ainda, acontecer de um 
direito humano ser positivado na Carta Magna e, assim, ser considerado fundamental.
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Figura 03. A sustentabilidade se constitui de inúmeros elementos
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2.2. MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
Conforme exposto anteriormente, o ser humano usufrui dos recursos ambientais para 
viver, sendo necessário que instrumentos normativos sejam criados para que se con-
ceda um tratamento adequado. A norma ambiental possui como principais valores a 
sobrevivência humana, a conservação e preservação das espécies e dos recursos na-
turais (ANTUNES, 2015, p. 5).
Por conta disso, uma mudança de ações por parte da humanidade se tornou fundamental, 
sendo preciso que todos mantenham os recursos do planeta (FEIL; SCHREIBER, 2017, p. 
676). Tal fator está em consonância com a perspectiva do desenvolvimento econômico social.
Amartya Sen trabalha a ideia de que o desenvolvimento deve permitir que se usufrua 
das liberdades, de tal forma que se considera o aspecto econômico como importante, 
mas se sabe que é preciso ir além (apud KANG, 2011, p. 352-369). A valorização do ser 
humano e a da natureza são imprescindíveis, até porque o desenvolvimento não é so-
mente atrelado à renda per capita, já que envolve as necessidades humanas, tornando 
fundamental a participação popular (ANGELINI; VEDOVATO, 2019, p. 110-116).
Em outras palavras, para efetivar um direito que tenha cunho coletivo e, ao mesmo tem-
po, atinja a individualidade do sujeito, é preciso estipular critérios de utilização, proibi-
ções e permissões, uma vez que se está diante de um direito de defesa e de prestação. 
Assim, exigem-se uma abstenção no sentido de não degradar o meio ambiente e um 
fazer quando da recuperação do que foi degradado (MIRRA, 2017, [n. p.]).
Todavia nem sempre é o que ocorre. É de conhecimento que o cigarro ocasiona proble-
mas de saúde para o usuário e para o fumante passivo e polui o ar, sendo responsável 
por carregar mais de 40 substâncias cancerígenas (PERGUNTAS..., [s. d.], [n. p.]). O 
cultivo do produto também produz impacto, já que a quantidade de agrotóxicos utilizada 
leva a danos à saúde do trabalhador e contamina os lençóis freáticos. Enfatiza-se que o 
agrotóxico é levado pelo vento por ser pulverizado e que a queima da madeira para poder 
secar as folhas elimina partículas tóxicas. O tabaco também é responsável pelo desma-
tamento, uma vez que “florestas inteiras são devastadas para alimentar os fornos à lenha 
que secam as folhas do fumo antes de serem industrializadas” (QUAIS..., [s. d.], [n. p.]).
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Percebe-se que, em que pese a presença da legislação protetiva e da inserção do direito 
como humano e fundamental, por vezes ele é violado. Nesse contexto, o capitalismo preva-
lece, razão pela qual o desenvolvimento somente é visualizado no aspecto econômico, sem 
envolver a dimensão social, o que gera dilemas. E o Estado, em vez de atuar para que viola-
ções não aconteçam, acaba estimulando-as quando realiza concessões para atrair empresas 
privadas, tendo como consequência prejuízos para o desenvolvimento da vida e da natureza.
No caso das mineradoras, a situação não é diferente. As empresas são, por vezes, 
beneficiadas com legislações mais brandas para que se instaurem em certo local. En-
tretanto, o Estado, por vezes, é omisso no que tange a potencial contaminação do 
ambiente e o impacto na vida das pessoas, contexto no qual as empresas não atuam 
conforme os direitos humanos – o vazamento de rejeitos de barragem da mineradora 
Mount Polley, no Canadá, é um exemplo, além do caso Brumadinho e Mariana.
Quanto à mineração no território brasileiro, sabe-se que, entre 2003 e 2013, houve um 
aumento de 630% das importações globais (GUIMARÃES, 2019) e que o Brasil foi es-
colhido graças à sua legislação mais fraca no tocante ao licenciamento e à fiscalização. 
Tal circunstância levou a uma dependência socioeconômica das pessoas que estão 
próximas à empresa e realizam trabalhos precários. “A combinação de todos estes des-
casos resulta na violação de uma série de direitos, como direito à moradia, direito a um 
trabalho digno, direito à integridade cultural, direito à vida” (CARDIA, 2018, p. 10)
No mais, em 2021, muito se divulgou a ocorrência de queimadas na Amazônia. Segundo da-
dos do G1 (NÚMERO..., 2021, [n. p.]) de janeiro a novembro foram cerca de 14.617 incêndios, 
e outubro foi considerado o mês com mais queimadas nos últimos cinco anos. Pesquisadores 
informaram que, de 2001 a 2019, foram extintas em torno de 95% das espécies e as queima-
das atingiram de 103 a 190 mil quilômetros quadrados (95% DAS..., 2021, [n. p.]).
Como consequência, há mudanças climáticas intensas, com secas mais severas, que 
impactam no mundo todo (95% DAS..., 2021, [n. p.]). Além do mais, o Greenpeace di-
vulgou que “a destruição da floresta causa o desequilíbrio desse ecossistema que retém 
vírus e animais que são próprios para aquele habitat” (QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS..., 
2021, [n. p.]), motivo pelo qual vírus podem surgir no ambiente animal e, em seguida, 
ocasionar doenças para o ser humano, como alguns suspeitam com relação à pande-
mia de covid-19. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo relatou 
que a cada 1% da floresta derrubada, aumentam-se em 23% os casos de malária, e em 
8% e 9% os de leishmaniose (AS DOENÇAS..., 2015, [n. p.]).
No Brasil, adotou-se a Lei nº 9.605/1998, cujo escopo é responsabilizar aqueles que 
cometam irregularidades ambientais, de forma que, para cada infração, uma sanção 
pode ser imposta. Essa lei foi regulamentada pelo Decreto nº 6.514/2008, que insere as 
possíveis infrações, que poderão ser punidas com: advertência, multa, apreensão de 
animais, equipamentos e veículos, destruição de produtos, demolição de obra, restritiva 
de direitos, embargo de obra ou atividade e suspensão das atividades.
Cabe ressaltar que, se proteger a dignidade humana é prioridade, é preciso que o de-
senvolvimento a leve em consideração, até para que não haja excessos econômicos 
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e, com isso, desastres naturais e humanitários (ANGELINI; VEDOVATO, 2019, p. 110- 
116). Segundo Lampreia (1995, p. 9-74), só há desenvolvimento quando se considera o 
enfoque econômico, político e social; caso contrário, não há justa distribuição de renda 
e justiça social. Para o autor, ainda, a cidadania e a participação social integram a noção 
de desenvolvimento.
Os “guiding principles”, também chamados de princípios reitores da ONU sobre empre-
sas e direitos humanos, trabalhados anteriormente são muito importantes aqui também. 
Afinal, caso as empresas atuassem em consonância com os direitos humanos e caso 
a sociedade exigisse, mediante uso de ações, por exemplo, a tutela, além do poder 
público criar normas e medidas protetivas, situações degradantes poderiam deixar de 
acontecer. A realização dos direitos humanos exige uma atuação dos três setores.
Por fim, cabe mencionar que os Objetivos da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, 
especificamente o de número 13, traz a perspectiva de amenizar o impacto de mudan-
ça climática, mitigação para a qual é necessária uma maior conscientização. O 14 visa 
reduzir a poluição nos mares e tutela os ecossistemas marinhos para que os oceanos 
permaneçam saudáveis e produtivos. E o 15, por sua vez, busca que se recupere o 
ecossistema terrestre e de água doce, implementando o uso sustentável e buscando 
diminuir a degradação (ONU, [s. d.], [n. p.]).
Assim, ao abordar o meio ambiente e ter ciência da imprescindibilidade deste âmbito 
para a vida humana, é necessário pensar nas atuações do poder público e do âmbito 
privado para falar em dignidade. No entanto, como visto, degradações ainda são pre-
sentes, pois se esquece de que o desenvolvimento não é atrelado somente a renda per 
capita e a crescimento econômico, mas envolve o aspecto social e humano.
Assim, para realizar o princípio da dignidade humana, baliza dos direitos humanos e da 
própria Constituição, é preciso manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado. O 
artigo 225 da Carta Magna salienta que o meio ambiente sadio e adequado deve ser 
garantido para as gerações presentes e para as futuras.
O meio ambiente envolve a vida animal, a vegetal, os recursos naturais, de tal forma 
que o preservar tem consequências positivas para a vida humana, mas degradá-lo, por 
sua vez, pode levar a doenças, como visto na questão das queimadas e a malária, e à 
morte, além de destruição de culturas e deslocamentos forçados de populações. Por 
conta disso, é uma obrigação do Estado e da própria sociedade zelar pelo referido direi-
to, que é considerado humano e fundamental.
Assim, nota-se a presença do princípio da prevenção e da precaução, uma vez que há 
um conjunto de relações de causalidade que podem identificar os impactos futuros mais 
prováveis e, por outro lado, uma definição do que se quer prevenir e de qual é o risco a 
ser evitado, respectivamente. Os princípios colaboram para a realização dos instrumen-
tos internos e internacionais de proteção ambiental, como a Declaração de Estocolmo.
A Declaração representa um marco na ligação do direito ao meio ambiente sadio e ade-
quado com a perspectiva de ser um direito humano e fundamental, buscando a efetiva-
ção da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 e um desenvolvimento real, 
em consonância com outros direitos humanos, de maneira indivisível, inter-relacionada 
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e interdependente. Ou seja, a Declaração, como outros instrumentos mais atualizados, 
traz uma harmonia da proteção ambiental e a cooperação entre Estados para garantir 
esse direito para gerações presentes e futuras.
Todavia, violações ainda são muito constantes e produzem efeitos negativos tanto para 
a sociedade humana quanto para os animais, recursos naturais e vegetais. A atuação 
das mineradoras, e as queimadas na Amazônia são alguns exemplos. Por meio desses 
casos, é perceptível a necessidade de despertar uma conscientização sobre o impacto 
global e também de haver normativas para frear atuações degradantes, uma vez que 
doenças e a própria pandemia de covid-19 podem ser ou são fruto das ações despreo-
cupadas com o meio ambiente, além do aquecimento global provocado.
Com isso, é necessário que o desenvolvimento não considere apenas e tão somente 
o viés econômico e de renda per capita. Medidas atrativas para empresas não podem 
ser mais interessantes do queaveriguar quais são as possíveis ações degradantes 
que elas têm cometido e, por meio dos princípios já mencionados, tentar impedi-las. 
É fundamental que haja um desenvolvimento econômico social defendido por Sen, de 
modo que o ser humano e a própria natureza sejam considerados, até para que haja a 
harmonia entre ambos, e não apenas o crescimento econômico.
Portanto, em que pese que legislações internas e internacionais tenham reconhecido a 
importância ambiental, nem sempre há um respeito ao meio ambiente. Ainda que se esteja 
diante de um direito humano e fundamental, que pode ser considerado uma norma que 
simplesmente deve ser cumprida, as violações são presentes. É preciso repensar as estru-
turas, conscientizar a sociedade para que ela atue mais e exigir uma política empresarial 
em consonância com os princípios dos direitos humanos, o que pode ser feito pelo Estado.
Figura 04. Direitos Humanos e proteção ambiental
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RELEMBRE
Direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado
Instrumentos internacionais, como a 
Declaração de Estocolmo, de 
proteção ambiental
Tutela direitos 
individuais e 
coletivos
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Documentário:
Documentário 16 dias: o caminho da lama no rio doce
De Bruno Faustino – TV Educativa (ES) + Vozes do Rio Doce – de Ilka Westermeyer – Insti-
tuto Últimos Refúgios (ES) + Na Beira do Rio Doce – de Lori Regattieri (ES)
+ Universidade e sociedade se mobilizam pela tragédia ambiental em mariana – de Ana 
Paula Vieira – TV Ufes (ES) + Rio Doce, Rio dos Sonhos – Sonya Beutelmann (ES) + Comu-
nidade em Cena – Caravana da Bacia do Rio Doce – de Daniela Araújo (RJ)
Sinopse do YouTube: “Acompanhe a trajetória da lama de rejeitos da Samarco pelo Rio 
Doce e as consequências para comunidades ribeirinhas. Uma produção exclusiva da TV 
Educativa do Espírito Santo”.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=V-IUbeqyNXQ. Acesso em: 28 mar. 2022.
O documentário mostra o impacto causado pela lama de rejeitos na vida dos atingidos e no 
meio ambiente, bem como demostra a importância do direito ao meio ambiente para se ter vida.
Para complementação, há este outro vídeo no YouTube. Disponível em: https:// www.youtu-
be.com/watch?v=YmNcrJ7VtPY&t=1s
Livro:
Obra literária: O livro das árvores, de Jussara Gomes Gruber (organizadora). Benjamim 
Constant: Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngües, 1997
Observação: a obra trabalha cada espécie de árvore e sua importância para vida e saúde 
humana, o que é interessante para perceber a necessidade de um meio ambiente ecologi-
camente equilibrado.
Disponível em: “http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002040.pdf”http://www.
dominiopublico.gov.br/download/texto/me002040.pdf.
Caso de aplicação:
O Caso Samarco/Vale representa um exemplo de desrespeito à questão ambiental, uma vez 
que causou impactos sociais, na água e no solo. Como é de conhecimento, aos 5 de novem-
bro de 2015, em Mariana-MG, houve o rompimento da Barragem do Fundão da empresa 
mineradora Samarco, cujos rejeitos foram despejados de forma desastrosa.
Em torno de 34 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram despejados principalmente no 
distrito de Bento Rodrigues, cobrindo as casas, provocando 19 mortes, poluindo a Bacia do 
Rio Doce, matando peixes. O laudo técnico preliminar do Instituto Brasileiro do Meio Ambien-
te e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) constatou que havia em torno de 50 milhões 
de m³ de rejeitos de mineração de ferro, dos quais 34 milhões foram para o meio ambiente e 
16 milhões para o mar (IBAMA, laudo técnico preliminar, 2015).
Como os rejeitos chegaram ao Rio Doce, além da mortandade de peixes, a lama provocou 
uma escuridão que impossibilitou o processo de fotossíntese, impossibilitando o desenvol-
vimento das espécies vegetais, contexto em razão do qual o Ibama apontou um prejuízo na 
fauna local que será difícil de se reconstruir (IBAMA, Laudo Técnico Preliminar, 2015). Outro 
https://www.youtube.com/watch?v=V-IUbeqyNXQ
https://www.youtube.com/watch?v=YmNcrJ7VtPY&t=1s
https://www.youtube.com/watch?v=YmNcrJ7VtPY&t=1s
https://www.youtube.com/watch?v=YmNcrJ7VtPY&t=1s
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problema foi que a lama provocou uma cobertura que deixou a região infértil na qual não será 
possível criar atividades agropecuárias.
Além disso, as famílias foram retiradas de suas casas e perderam o contato com vizinhos e 
amigos, além do conforto da própria casa. Atualmente elas estão reassentadas em moradias 
temporárias, e algumas delas recebem um salário-mínimo como ajuda. Até hoje os atingidos 
buscam uma reparação, e, embora a ação esteja tramitando na Justiça, a construção das 
casas prometidas não foi entregue na data estipulada.
Percebe-se a inobservância da tutela ao direito ambiental e dos direitos individuais no caso. 
Afinal, quanto ao meio ambiente, a mineração, que já é uma atividade que traz impactos 
negativos, com o desastre atingiu seres vivos e a vegetação. Pessoas ficaram sem o abaste-
cimento direto pelos rios, os peixes morreram, os pescadores não puderam trabalhar, a terra 
deixou de ser fértil, os rios passaram a ter materiais pesados em sua composição.
A situação comprometeu a ideia de garantir o meio ambiente sadio e adequado para as ge-
rações presentes e futuras. A postura empresarial não se preocupou com o desenvolvimento 
sustentável e não usou dos recursos naturais de forma equilibrada, com responsabilidade, pois, 
ainda que medidas de prevenção tivessem sido tomadas após estudos prévios do impacto 
ambiental, esta não foi realizada da melhor maneira, haja vista que o dano foi consequência.
O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNMP), fiscalizador de dos padrões de segu-
rança e das barragens, foi omisso, tendo descumprido as normativas. Tanto é assim que, nos 
anos de 2012 a 2015, somente 35% das barragens de risco alto foram fiscalizadas (TCU, 2016).
O princípio da precaução também não foi levado em consideração, já que, se ele busca de-
finir o que se deseja prevenir e, assim, visualizar quais os recursos disponíveis, como fazer 
isso sem qualquer fiscalização? Segundo Lopes (2016), a barragem possui alteamento e 
trincas, e o tapete drenante estava com o máximo de sua capacidade, além de as medidas 
tomadas não terem sido suficientes, uma vez que não se pensou no que se deveria prevenir.
Também houve consequências para a população, que, como dito, ficou sem moradia e sem os ami-
gos ao lado de casa e perderam familiares, pessoas queridas e seus bens, além de empregos. E, 
com a contaminação da água, não puderam mais utilizá-la para o abastecimento das casas. Os pes-
cadores não conseguiram mais viver da pesca e ainda não foram reassentados. É evidente a falta de 
liberdade e de igualdade nessa circunstância, haja vista que os indivíduos não puderam escolher seus 
rumos e, por anos, mesmo antes do rompimento, estão nas mãos dos detentores do capital.
As pessoas que sobreviveram foram obrigadas a sair de suas casas e viver em moradias 
provisórias, algumas recebendo um salário para auxílio mensal, outras não. A rotina foi afe-
tada, os trabalhos foram perdidos e as vidas retiradas abruptamente. A situação foi imposta, 
não foi uma escolha.
Não há igualdade, já que o poderio econômico atraiu as empresas, a fiscalização não ocor-
reu como deveria, os obreiros ficaram sob as ordens da empresa em- pregadora e não se 
considerou o aspecto social. Até hoje as famílias não foram indenizadas nem reassentadas.
Nota-se, assim, uma inobservância da Declaração de Estocolmo tanto pelo fato de que o 
meio ambiente, em vez de ser utilizado para possibilitar o desenvolvimento, foi usado para a 
destruição, quanto pela falta de melhoria do ambiente, em especial de ação do Poder Público 
para zelar pelo bem-estar dos povos e do desenvolvimento mundial, uma vez que fiscaliza-
ções nasbarragens não foram efetuadas como deveriam ter sido efetuadas.
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Enfim, a perspectiva de Amartya Sen sobre desenvolvimento econômico social também não 
encontra guarida no caso (apud KANG, 2011, p. 352-369). Afinal, a Samarco não considerou 
o indivíduo e a natureza, uma vez que somente se ateve ao ganho econômico e ao aspecto 
industrial e tecnológico, o que demonstra a existência de um cenário em que há “um do-
minante (capitalismo e empresas) e um dominado (ser humano)” (ANGELINI; VEDOVATO, 
2019). A empresa se ateve aos aspectos produtivos, tendo sido omissa quanto a atos de 
prevenção, fiscalização, alerta e reparos.
3. DIREITOS HUMANOS NA ERA DIGITAL
A Declaração Universal da Organização das Nações Unidas de 1948 (ONU) dispõe 
que os direitos fundamentais que são de todos os seres humanos e são considerados 
essenciais para a sobrevivência, motivo pelo qual tem uma dimensão positiva, que ne-
cessita de um agir estatal, e uma negativa, em que Estado não poder sempre agir ou 
intervir (SARLET, 2012, p. 13).
No âmbito digital, é certo que a tecnologia auxiliou na consecução das atividades e na 
própria vida privada. No entanto, nem sempre ela está em consonância com o que dis-
põem a Constituição Federal, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, a Lei 
Geral de Proteção de Dados, a Declaração Universal dos Direitos Humanos etc., uma 
vez que a liberdade não é, por vezes, alcançada, tampouco a vedação da discriminação 
e do acesso a dados privados.
Por essa razão, a regulação do setor é inevitável. Portugal criou um instrumento para 
trabalhar aspectos como a privacidade, o acesso à internet, a questão da desinforma- 
ção etc. No Brasil, além do Marco Civil da Internet, há também a Lei Geral de Proteção 
de Dados, que busca conceder uma maior segurança aos dados do indivíduo e usuário.
3.1. NOVAS TECNOLOGIAS E AUTOMAÇÃO E VIOLAÇÃO DE 
DIREITOS HUMANOS
As novas tecnologias têm propiciado um avanço no próprio desenvolvimento humano. 
A automação foi capaz de auxiliar no avanço dos processos produtivos, uma vez que os 
deixarem mais eficientes e, com isso, velozes.
Segundo José Filho (2015, [n. p.]), a automação é uma forma de operar em que o fun-
cionamento dos sistemas ocorre sem a mão de obra humana, uma vez que as técnicas 
permitem uma produção melhor e mais eficiente. O autor enfatiza, ainda, que a auto-
mação reduz os custos.
Em complemento, Farias e dos Anjos (2021, p. 318), quanto à tecnologia da informação, 
aduzem que a inteligência se liga ao ensinar máquinas para realizar tarefas e cumprir metas.
Com isso, as modificações na vida são evidentes. Há uso de tecnologia em tudo que nos 
rodeia, seja para lazer, seja para negócios, tanto que, no mundo jurídico, principalmente 
por conta da pandemia, o ajuizamento de ações e as audiências puderam ocorrer de 
forma on-line. E, no espaço do lazer, presencia-se o intenso uso das redes sociais que 
trabalham com algoritmos e permitem que as informações cheguem ao indivíduo, mas 
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muitas vezes selecionam quais vão interessar mais, o que pode ser problemático, como 
veremos mais adiante.
No que tange aos direitos humanos, nota-se que sua proteção é primordial, mas repleta 
de desafios. Um dos obstáculos tem relação com o armazenamento das informações 
pessoais nos servidores e a respectiva circulação delas, pois, como permitem o acesso 
por todos, cria-se um ambiente vulnerável e pode-se ocasionar a cópia de dados ou o 
uso delas por pessoas diversas (SANTOS; EROUD, 2021, [n. p.]).
Outro fator é o aumento do desemprego e a modificação nas relações de trabalho. Afi-
nal, as empresas, com o uso da tecnologia, passam a ter menos funcionários, principal-
mente aqueles cujo tipo de labor pode ser feito por máquina e que não conseguem usar 
a tecnologia a seu favor para trabalhar na empresa (FARIAS; ANJOS, 2021, p. 322).
O artigo 17 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos traz o direito à privaci-
dade, mas o fato de as tecnologias serem usadas para realizar decisões automáticas, 
sem interferência do usuário, pode afetar pessoas, grupos ou toda a sociedade, daí 
a necessidade de regulação (GORZONI, 2019, p. 3). Corrobora isso o artigo 26 do 
mesmo instrumento, pois, busca a não discriminação e, segundo Gorzoni (2019, p.5), 
a tecnologia, por vezes, é voltada para certos grupos ou empresas, o que pode desen-
cadear tratamentos ou reprodução de comportamentos discriminatório, violando o dito 
dispositivo (GORZONI, 2019, p. 5). Por fim, cabe dizer que a remoção de conteúdo das 
plataformas sociais pode representar uma violação do artigo 19 do Pacto, que aborda 
sobre a liberdade de expressão, haja vista que, como a inteligência artificial pode ser 
usada para combater o terrorismo e o extremismo, por vezes uma publicação de difícil 
interpretação pode ser retirada por haver confusão (GORZONI, 2019, p. 7).
Portanto, se, por um lado, a tecnologia facilitou as comunicações, trabalhos e lazeres, 
por outro, trouxe dilemas e violações, como da própria liberdade de expressão, além da 
vulnerabilidade dos dados das pessoas. Destaca-se, ainda, que há uma personalização 
das redes sociais, uma vez que informações sobre o usuário são inseridasnas páginas 
e buscas do indivíduo, como se verá posteriormente, o que pode facilitar a propagação 
de fake news, por exemplo.
3.2. AS REDES SOCIAIS E INFORMAÇÃO – COMBATE AO DISCURSO 
DE ÓDIO E ÀS FAKE NEWS E LIBERDADE DE EXPRESSÃO
O direito à informação possui duas dimensões: a primeira diz respeito ao recebimento 
de dados de acordo com a realidade; e a segunda é dada àquele que a repassa, de 
forma que ela tem de ser condizente com a realidade. Apenas com o recebimento da 
informação é que é possível haver livre escolha, pois o receptor, depois de ter conheci-
mento acerca dos benefícios ou malefícios, poderá opinar e formar sua convicção.
A liberdade, nos dizeres de José Afonso da Silva (2005, p. 237), permite que o ser 
humano obtenha realização pessoal, que a democracia seja alcançada e que a socie-
dade evolua. Em complemento, André de Carvalho Ramos (2020, p. 699) afirma que 
a liberdade de expressão se relaciona à ideia de se manifestar, de ter opiniões, e ao 
aspecto de informar e ser informado. Esse direito encontra previsão tanto na Constitui-
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ção Federal, em seu artigo 5º, IV, IX e XIV e no 220, quanto na Declaração Universal 
dos Direitos Humanos, no artigo 19, além de tantos outros instrumentos normativos 
regionais e internacionais.
Em complemento a isto, transcreve-se os dizeres de André de Carvalho Ramos ao 
dispor que a liberdade de expressão permite expressar o pensamento e receber, de 
qualquer maneira, o pensamento do outro. Transcreve-se:
Esses direitos, em seu conjunto, demonstram que a liberdade de expressão 
possui duas facetas: a que assegura a expressão do pensamento e a que se 
assegura o direito dos demais de receber, sob qualquer forma ou veículo, a 
manifestação do pensamento de outrem. Nessa linha, a Declaração Univer-
sal dos Direitos Humanos é clara: a liberdade de opinião e expressão inclui o 
direito de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir 
informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de frontei-
ras (artigo XIX). (RAMOS, 2020, p. 699)
A mídia tem um grande papel nesse contexto, seja porque traz informações, seja por-
que oferece entretenimento. O poder midiático é capaz de estipular comportamentos 
pela manipulação, utilizando-se da boa imagem de alguém ou de técnicas ou do próprio 
carisma (DESGUALDO, 2014, p. 197-205).
Ocorre que, por vezes, os recursos, em vez de serem usados para informar, colacio-
nam notícias falsas, denominadas de fake news. Mensagens que não correspondem 
à realidade e que são passadasde forma célere por redes sociais, como Instagram, 
WhatsApp, Twitter, acabam sendo formadoras de opinião.
Figura 05. As fake news se sustentam em redes de 
propagação
Fonte: 123RF
Percebe-se que as redes sociais auxiliam e aceleram o processo de propagação de 
notícias inverídicas, contexto no qual os algoritmos, mecanismos que elencam quais 
conteúdos serão visíveis para o usuário da rede social, colaboram para que o indivíduo 
veja aquilo que deseja e para o enclausuramento informacional, até porque grande par-
te dos brasileiros se informa mediante Facebook (BRANCO, 2017, p. 51-61).
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Atualmente, o uso de influenciadores digitais também se tornou um mecanismo de propa-
gação de fake news. Os ditos influenciadores dão ao receptor uma sensação de pertenci-
mento e de segurança que os leva a adquirir determinados produtos ou a praticar certos 
atos (ASSIS; FERREIRA, 2019, p. 2-5). Um exemplo disso é a questão do tabaco.
No Brasil, o cigarro não pode ser objeto de publicidade e de propaganda, uma vez que 
o País é signatário da Convenção-Quadro de Controle do Tabaco (CQCT) e veda a di-
vulgação do produto no artigo 13. No entanto, em 2020, foi noticiado que o fumante teria 
chances menores de ter covid-19, mas, posteriormente, ficou comprovado que o fato 
não correspondia à verdade, uma vez que o fumante tem mais chances de ser internado 
ou morto (GUEDDES, 2021, [n. p.]).
No que tange à pandemia, ainda, as notícias falsas fizeram com que muitas pessoas 
não se vacinassem e se aglomerassem, contexto que ocasionou mortes e internações. 
Uma delas foi dizer que a vacina poderia levar à fibromialgia e a Alzheimer, que são mais 
perigosas que o vírus e que podem levar à morte (MONTEIRO, 2021, [n. p.]). Já houve 
um alerta para que as pessoas desconfiem de mensagens que sejam divulgadas, princi-
palmente, pelas redes sociais e que tenham conteúdo mais apelativo (MPF, [s. d.], [n. p.]).
O caso da vereadora Marielle Franco também foi alvo de fake news. Marielle, mulher 
negra e defensora dos Direitos Humanos, foi assassinada no Rio de Janeiro em 2018. 
Após sua morte, notícias como que ela pertencia a facções criminosas ou que questio-
navam sua moral foram divulgadas, levando adiante notícias falsas (NUNES JÚNIOR, 
2021, p. 17). Outro caso foi de Eduardo Felipe Santos Vitor, que faleceu em 2015 no 
Rio de Janeiro e tinha envolvimento com o tráfico de drogas, mas, de forma inverídica, 
passaram a divulgar um vídeo em que ele aparecia resistindo à polícia, com uma arma 
nas mãos, muito embora ele já estivesse morto (NUNES JÚNIOR, 2021, p. 17).
Outro dilema a ser enfatizado é o uso dessas notícias para discurso de ódio. A fim de incri-
minar negros, muitas notícias falsas, como as acima mencionadas, acabam sendo propa-
gadas e levam a uma postura discriminatória, intolerante, preconceituosa e violenta. Quan-
do é feito nas redes, de forma on-line, o discurso de ódio é denominado de cyberhate que, 
em síntese, são discursos que, na maioria das vezes, buscam “atingir indivíduos ou grupos 
de indivíduos com características protegidas por conta de estados afetivos, atributos bio-
lógicos, afiliações, condutas ou disposição” (SILVA; FRANCISCO; SAMPAIO, 2021, p. 5).
O discurso de ódio busca “estigmatizar, escolher e marcar um inimigo, manter ou alterar 
um estado de coisas, baseando-se numa segregação” (SCHAFER; LEIVAS; SANTOS, 
2015, p. 147). Pode-se dizer que as ações são direcionadas a um grupo, normalmente 
as minorias, e levam a violações de direitos e, por vezes, até a morte, e que as redes 
sociais têm sido uma maneira de ele ali se expor.
Mesmo com a vedação de práticas racistas e intolerantes nos termos do Facebook, 
por exemplo, os algoritmos inserem informações que mais interessam ao indivíduo, e 
as pessoas que o usuário mais lê e vê nas redes são também as que mais aparecem.
Mesmo com a vedação de práticas racistas e intolerantes nos termos do Facebook, 
por exemplo, os algoritmos inserem informações que mais interessam ao indivíduo, e 
as pessoas que o usuário mais lê e vê nas redes são também as que mais aparecem.
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A perspectiva de vedar as práticas em comento é essencial. Não se pode dizer que se 
está sob o argumento da liberdade de expressão. Afinal, um direito fundamental não 
é absoluto e, no caso, a ação leva a atos que atingem a honra, a integridade física e 
psíquica e até a vida, daí a razão pela qual a eventual opinião deve ser restringida e 
não pode ser exercida. Até porque a dignidade humana é o centro do universo jurídico. 
Destaca-se que, por vezes, as informações passadas ao usuário de redes e da internet 
não correspondem à realidade por serem notícias falsas, mas aquele que não verifica o 
que foi ali ressaltado, forma uma opinião discriminatória e pode levar a atos de violên- 
cia, daí a necessidade de se repensar a educação midiática, a conscientização do que 
são fake news. Também cabe dizer que não se é a favor da censura, mas se acredita 
que discursos de ódio não podem ser propagados.
O artigo “Democracia e políticas em tempos de fake news” trabalha o desafio entre os usuá-
rios e a mídia digital, uma vez que o acesso à informação acabou sendo usado para espalhar 
ódio nos grupos e notícias falsas. Veja mais informações no seguinte
CURIOSIDADE
Disponível em: https://revista.fdsm.edu.br/index.php/revistafdsm/article/view/90. Acesso 
em: 12 dez. 2022.
3.3. SEGURANÇA DE DADOS E PROTEÇÃO AOS DIREITOS 
HUMANOS
A globalização permitiu que o desenvolvimento da era digital acontecesse de forma ain-
da mais célere. A internet representa um grande avanço por permitir que a comunicação 
entre as pessoas ocorra independentemente do local em que elas estejam.
Para Barbosa et al. (2014, p. 115-121), a internet fez com que as relações não pre-
cisassem apenas ocorrer de forma presencial, muito embora ela não as substitua. É 
possível que uma empresa ou um indivíduo se relacione comercialmente, por exemplo, 
com outra ou outro, sendo uma relação regida pelo direito internacional privado, que vai 
determinar a lei a ser aplicada e qual país tem competência para apreciar a demanda.
No entanto, ainda que a internet tenha facilitado as relações, por outro lado há a proble-
mática da privacidade. Barbosa et al. (2014, p. 115-121), ao trabalhar a internet, salien-
tam que ela “aumenta os riscos de invasão da privacidade, pois são coletados dados 
sem que as pessoas percebam que isso está ocorrendo”. O autor alega, ainda, que, em 
alguns casos, os dados são fornecidos sem consentimento dos usuários, em outros, o 
indivíduo os disponibiliza, o que pode levar a uma invasão da privacidade (BARBOSA 
et al., 2014, p. 115-121).
No Brasil, em 2018, surge a Lei nº 13.709, denominada de Lei Geral de Proteção de Da-
dos (LGPD), que, além de compatível com a Constituição Federal, busca tutelar direitos 
fundamentais como a liberdade, a privacidade, a personalidade e o desenvolvimento. 
Destaca-se que o texto é compatível com a Declaração Universal de Direitos Humanos, 
artigo 1º, da igualdade, e artigo 2, que afirma que o ser humano pode usar de seus direi-
tos, pois a ideia é se permitir que os direitos sejam concedidos e usufruídos por todos.
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Especificamente acerca da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), cabe dizer que 
ela também almeja a segurança jurídica, motivo pelo qual traz padrões de práticas que 
possam tutelar os dados pessoais dos cidadãos no Brasil e, em seguida, define o que 
são dados pessoais. Nota-se que as informações que recebem a proteção da lei são 
determinadas ou determináveis, ou seja, são aquelas que possibilitam identificar uma 
pessoa: nome, sobrenome, dados bancários, localização, endereço de IP e de cartões 
de crédito (PEIXOTO, 2020, [n. p.]).
Destaca-se que o instrumento é complementar ao Marco Civilda Internet no tocante à li-
berdade de expressão, à proteção à privacidade, à segurança de informações pessoais. 
A lei, ainda, é vista como um marco no que tange ao tratamento dos dados e é voltada 
para instituições públicas e privadas.
Em síntese, a lei destaca a necessidade de consentimento, ou seja, a empresa precisa pedir 
autorização para coletar e usar os dados pessoais do indivíduo e, se a pessoa não aceitar, 
as informações não poderão ser usadas. Ela vale para os dados coletados no Brasil, ainda 
que a empresa fique em outro Estado, e tem como penalidades de advertência à multa.
No tocante aos fundamentos, a lei traz a autodeterminação informativa, a liberdade de 
expressão, informação, comunicação e opinião, inviolabilidade da intimidade, livre-ini-
ciativa, concorrência e defesa do consumidor, segundo prevê o artigo 2º.
O Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965/2014, por sua vez, tem como objetivo estabele-
cer princípios, deveres, direitos e garantias para quem acessa a internet no Brasil, razão 
pela qual elenca diretrizes para os provedores de internet e, ainda, para as empresas. 
A Lei, ainda, possui três principais pontos: i) a liberdade de pensar e adotar ideias das 
redes; ii), a neutralidade da rede – os provedores devem ter pacotes que não discrimi-
nem e oferecer a privacidade que deseja tutelar os dados dos usuários e, por isto, exige 
consentimento para as operações com informações –; e, por fim, iii) a perspectiva de 
dar condições dignas na questão tecnológica (RAMOS, 2021, [n. p.]).
3.4. A CARTA DOS DIREITOS HUMANOS NA ERA DIGITAL
Em virtude das violações de direitos humanos no âmbito digital, o presidente de Por-
tugal promulgou a denominada de Carta de Direitos Humanos na Era Digital. O ins-
trumento possui 23 artigos e dispõe quanto ao livre acesso à internet, além de tutela 
quanto a direitos, liberdades e garantias dos indivíduos que se estendem para o âmbito 
digital (PORTUGAL..., 2021, [n. p.]).
Segundo a Direção Geral da Educação da República Portuguesa, a Carta tem direitos 
como a participação no ambiente digital, o direito de reunião, o direito a proteção contra 
geolocalização abusiva e o direito ao esquecimento. Dessa forma, com o objetivo de di-
minuir diferenças locais e regionais acerca da conectividade, a Carta prevê que haverá 
pontos de acesso gratuitos nos locais públicos, como nos hospitais e bibliotecas, bem 
como a estipulação de uma “tarifa social de acesso” para aqueles que têm hipossufici-
ência econômica nesse sentido (PORTUGAL..., 2021, [n. p.]).
Além disso, a carta também prevê o direito à privacidade, à segurança. Busca combater a 
desinformação e é inserida como uma maneira de expandir o ordenamento jurídico, a fim 
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de haver um instrumento de liberdade, igualdade e justiça social (FROTA, 2021, [n. p.]). Por 
conta disso, o Estado recebe obrigações nesse sentido, como: uso responsável da internet 
e das tecnologias, programas que promovam a igualdade e a eliminação de obstáculos 
para acesso à internet, principalmente a que tem baixa conectividade ou alguma deficiên-
cia, a questão do ponto de acesso gratuito e a tarifa social e a inserção de mecanismos para 
que não haja disponibilização ilícita de conteúdos ilegais (FROTA, 2021, [n. p.]).
A Carta, em seu artigo 4, colaciona o direito de liberdade de expressão, de forma que 
todos podem exprimir seu pensamento e divulgá-lo e o ciberespaço fica aberto para 
circulação de ideias e de informação. Também dispõe que o uso não pode ser feito de 
forma discriminatória nem utilizar ódio, violência e terrorismo.
Em seguida, o artigo 5º traz a garantia do acesso ao uso, vedando a interrupção do 
acesso à internet ou a limitação da disseminação de informação e, o 6º aborda o di-
reito à proteção contra a desinformação, como dito anteriormente. A desinformação, 
segundo o dispositivo, é uma “narrativa comprovadamente falsa ou enganadora criada, 
apresentada e divulgada e que seja suscetível de causar prejuízo público” (artigo 6.2 da 
Carta) e pode causar problemas nos processos democráticos e nas políticas públicas.
Outro artigo a ser suscitado é o 9º, que trabalha o direito à privacidade em ambiente 
digital. O dispositivo traz considerações sobre o direito de todos de se comunicar eletro-
nicamente mediante criptografia e outras maneiras de tutelar a identidade.
Além disso, o artigo 12, sobre direito à identidade e outros direitos pessoais, refere-se 
ao uso do bom nome, da imagem, da palavra e da integridade moral no âmbito digital, 
atribuindo ao Estado a necessidade de evitar que haja usurpação de identidade, promo-
ção de medidas para aumentar a segurança e a confiança das transações comerciais. 
O artigo 13, sobre direito ao esquecimento, aduz que o Estado deve apoiar que os da- 
dos pessoais sejam apagados. Por sua vez, o artigo 14, sobre direitos em plataformas 
digitais, alega que no uso das plataformas as pessoas têm direito a ter acesso às infor-
mações acerca das condições de prestações de serviços, bem como concede proteção 
ao perfil do usuário e a garantia da recuperação deste, se preciso.
Por fim, o artigo 15, sobre direito à cibersegurança, alega que o direito à segurança 
no ciberespaço deve existir, razão pela qual o Estado deve traçar políticas públicas 
que sejam capazes de tutelar os cidadãos, as redes e os sistemas de informação. E, o 
artigo 16, sobre direito à liberdade de criança e à proteção dos conteúdos, refere-se à 
livre criação intelectual, científica, técnica, artística no âmbito digital, sendo certo que 
as medidas devem ser proporcionais, adequadas e eficazes para que não haja violação 
das garantias do autor.
Do que dissemos, vemos que a privacidade e o direito à informação são considerados 
direitos essenciais, tanto por tutelarem dados das pessoas quanto por permitirem que 
elas conheçam pontos de vista e situações a fim de consolidar uma opinião. A auto-
mação tem provocado uma revolução no que concerne à questão empregatícia, mas, 
sobretudo, ao acesso a documentos e a dados.
Por um lado, há vantagens como a celeridade e, por outro, existem dilemas como a 
restrição de postagens, o acesso a dados, a propagação de fake news. Portugal bus-
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cou resolver a problemática criando uma legislação que deseja dar acesso à internet, 
como também proteger da desinformação. Entretanto, acredita-se que ainda é preciso 
uma conscientização das pessoas, a fim de que conheçam a manipulação de dados, 
verifiquem as informações, bem como uma ação estatal no que tange à proteção da 
privacidade, ao direito de informação e escolha.
Figura 06. Direitos Humanos e Mundo Digital.
Direito à privacidade Direito à informação
LGPD
Carta Portuguesa
Auxiliam ou atrapalham 
na realização dos direitos 
humanos e fundamentais?
Fake News
Discurso de ódio
Fonte: elaborada pelo autor.
Documentário recomendado:
Iniciativas que buscam combater as fake news
TV Justiça Oficial
Sinopse do YouTube: “As fake news sempre existiram, mas recentemente viraram tema de 
muitos debates. Com o avanço da internet e a popularização das redes sociais, elas se espa-
lham com rapidez. E o prejuízo na vida de quem é vítima de uma notícia falsa pode ser incal-
culável. Na pandemia, isso ficou bem evidente com a propagação de boatos sobre vacinas e 
medicamentos. Como combater esse tipo de desinformação? Diversas iniciativas ganharam 
espaço e têm mostrado ao cidadão como é importante checar a veracidade de uma informa-
ção antes de repassá-la adiante.
A TV Justiça mostra alguns desses projetos, como: a Lupa, primeira agência de notícias es-
pecializada em checagem; o Comprova, que reúne veículos de comunicação no combate às 
fake news; e o Fake Check, aplicativo que ajuda a identificar notícias falsas.
O Supremo Tribunal Federal também aderiu a essa luta contra as fake news e criou o Pro-
grama de Combate à Desinformação

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