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12 Ciências Humanas Pró-Reitoria de Extensão – PROEX to do que é exposto no material e nas aulas. Este parece ser o desafio central: focalizar conteúdos que sejam significativos para os alunos, sem menosprezar as exigências da produção acadêmica, ao mesmo tempo em que o material atende às necessidades, de forma leve e sem a rigidez dos cadernos clássicos de cursinho pré-universitário. As revisões certamente serão necessárias, assim como melhoras na apresentação, porém, isso virá com o tempo e a experimentação. Outro aspecto importante a se destacar se refere, de forma mais direta, às Ciências Humanas, objeto deste caderno. A importância do conhecimento na área das humanidades tem sido referida pelos vestibulares, à medida que as ques- tões na área de conhecimentos gerais e atualidades, além das disciplinas específicas, são propostas com relativo grau de complexidade. Recentemente, foram novamente incluídas as disciplinas sociologia e filosofia, no currículo do ensino médio, o que demonstra que há um reconhecimento de sua pertinência nas avaliações de nossos estudantes. De outro lado, sabe-se que, com todas as mudanças que ocorrem nas relações sociais, políticas e econômicas, não seria razoável deixar esses conteúdos de fora, o que dificultaria sobremaneira a análise dos tempos atuais. A atualização do conhecimento passa, hoje, necessariamente, pelas novas tecnologias de informação. Nesse sentido, buscamos adequar os conteúdos à lin- guagem direta, objetiva, das novas mídias, sem abrir mão do rigor na busca de fon- tes confiáveis para fundamentar as informações e análises desenvolvidas nos textos. Cientes de que os alunos denominados “nativos digitais” estruturam sua formação como leitores com forte influência dessas tecnologias, procuramos ampliar e apro- fundar certos temas sociológicos e filosóficos, com base em perspectivas científicas mais características do discurso acadêmico universitário. A importância da formação sociológico-humanística é amplamente desta- cada nos dias de hoje e valorizada até mesmo pelo discurso corporativo, que se vê, de diversas formas, influenciado pelo fenômeno da globalização. A necessidade de adaptação dos atores econômicos a diferentes culturas aponta para a importância da formação cultural baseada na compreensão histórica e cultural mais ampla e que, necessariamente, enfatiza a formação sociológica e filosófica. A ampliação da cultura de direitos civis e a afirmação das minorias, no contexto histórico contemporâneo, confirmam a tendência de uma cultura que não pode mais abrir mão da perspectiva ética e histórica. Fica, assim, evidenciada a relevância da formação ligada às ciências humanas, no nível médio e universitário. Em nome da equipe de elaboração dos textos, desejamos que sua finalidade seja alcançada e que os resultados sejam plenos de êxito. Loriza Lacerda de Almeida Eli Vagner Francisco Rodrigues Maria da Graça M. Magnoni Filosofia 13 Pró-Reitoria de Extensão – PROEX 1 FilosoFia 1.1 Cidadania e deMoCraCia na antiGuidade A palavra democracia se tornou muito comum nos debates e nas definições atuais do cenário político. Nos dias de hoje, a maioria dos países baseia sua estrutura de governo em princípios democráticos. O termo democracia, no entanto, não possui o mesmo significado em todos os períodos históricos. A democracia como regime político surgiu na Grécia antiga, na cidade de Atenas, por volta do ano 502 AC. Clístenes, após uma série de disputas políticas baseadas em um regime denominado Tirania, no qual o poder continuava na mesma família, por sucessão, instituiu uma divisão da população em Demos. Nessa divisão, considerava-se cidadão qualquer ate- niense maior de 18 anos que tivesse prestado serviço militar e que fosse homem livre. Esses cidadãos deveriam manifestar fidelidade ao demos, isto é, ao seu grupo social, para uma participação nos assuntos públicos. Tal princípio foi criticado por filósofos e pelos aristocratas, que não viam em um sistema baseado no poder popular algo be- néfico para os interesses da cidade. Todavia, os princípios de isonomia (igualdade de poder) e isagoria (direito à palavra) agradaram a boa parte dos atenienses. No início, esse sistema previa um sorteio para a representatividade popular, isto é, qualquer um poderia ser sorteado para defender os interesses de seu demo. Isso evitaria o concurso de políticos profissionais que, treinados nas artes retóricas, ganhassem as discussões políticas. A noção de cidadania também não é a mesma em períodos diferentes da história. Hoje, com a cultura de direitos bastante difundida, temos uma noção de cidadania, a qual não se pode comparar com a ideia de cidadania da Idade Antiga. A ideia de cidadania, na Grécia, estava baseada na vinculação do cidadão a uma polis. Os laços eram determinados por família. Importante destacar que a noção de liberda- de era um atributo e um requisito para o exercício dessa cidadania. O cidadão podia opinar sobre os destinos da cidade, mas ser cidadão não era algo universal, isto é, não era direito de todos. Péricles instituiu algumas mudanças e concedeu cidadania aos metecos (estrangeiros). O que constatamos, hoje, é o mesmo que os próprios gregos, através de seus filósofos, puderam também concluir: que a democracia necessita sem- pre de aperfeiçoamentos. Na Grécia antiga, a democracia apresentou já suas fragili- dades, seja na defesa dos reais interesses das comunidades, seja na fundamentação de seus princípios filosóficos. A ideia de democracia vem necessariamente aliada à ideia de liberdade de expressão e de defesa de teses políticas em público. Uma das questões que os filósofos levantavam, na antiga Grécia, era sobre o problema da manipulação da verdade pelos discursos. A arte da retórica e da persuasão seria uma ferramenta, se não uma arma,