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26 Ciências Humanas 
Pró-Reitoria de Extensão – PROEX
Para garantir esses direitos, seria preciso fazer um contrato social. Um 
contrato social é um estabelecimento bilateral, entre o estado, que representa a so-
ciedade, e o indivíduo, ou seja, um pacto entre os indivíduos para determinar que 
o Estado seja o comando político, com a prerrogativa de preservar e defender os 
direitos individuais dos homens, que, como vimos, são direitos naturais, quer dizer, 
anteriores ao próprio estado. A preservação desses direitos é papel do estado – e não 
a supressão desses direitos. No liberalismo, o estado deve proteger o indivíduo dos 
outros indivíduos, garantindo a propriedade a cada um. O estado seria a garantia 
de meus direitos. O aspecto de garantia de propriedade de bens individuais levou à 
ideia de individualismo liberal, a qual será muito atacada pelas correntes críticas ao 
liberalismo. O sentimento de propriedade individual poderia conduzir a sociedade a 
um sectarismo e luta desigual, na defesa da propriedade e dos meios de produção ge-
radores da riqueza. Não obstante essas críticas, o liberalismo, sobretudo o de Locke, 
terá influência no pensamento do século XVIII e na formação política dos estados, 
nessa época e até hoje. A Declaração dos Direitos dos Estados Unidos (1776) e a 
Revolução Francesa (1789) são exemplos dessa influência. 
Pode-se afirmar que o individualismo é uma consequência direta da forma-
ção e estrutura filosófica do Estado Liberal. Podemos associar, sem sombra de dúvi-
das, a influência desses princípios ao desenvolvimento do capitalismo. Os princípios 
jurídicos da sociedade capitalista estão baseados no pensamento liberal, sobretudo no 
princípio do direito à propriedade. 
Essa constatação leva alguns críticos a questionar se a liberdade e igualdade 
realmente se efetivam, no capitalismo. O Estado liberal deve garantir a defesa da 
liberdade, mas ele pode promover a igualdade? Essa questão está na base de toda a 
disputa ideológica que se viu, nos séculos XIX e XX, e ainda é atual, isto é, seria o 
liberalismo político realmente justo, enquanto princípio ordenador de uma socieda-
de? O pensamento marxista representa a maior e mais elaborada reação a essa ques-
tão. Segundo Marx, as contradições do capitalismo teriam sua superação definitiva 
através da instituição de outro modelo de estado, não o liberal. A classe trabalhadora 
deveria conduzir um processo revolucionário em direção à mudança na estrutura do 
Estado, com a instalação de uma ditadura do proletariado.
Este seria um regime ditatorial, que assumiria a propriedade dos meios de 
produção, para efetuar a distribuição igualitária das riquezas produzidas na sociedade. 
Uma sociedade igualitária surgiria desse processo. Aprimorando-se os mecanismos 
de distribuição, a igualdade seria igualmente aprimorada e efetivada. O que previa 
esse processo era que um governo proletário acabaria dando origem a uma socieda-
de comunista e, nela, o Estado e as propriedades seriam, ao longo de um processo 
econômico e político, extintas. Nesse sentido, podemos concluir que o princípio da 
propriedade privada defendida por Locke e pelo liberalismo é negado pela crítica ao 
pensamento liberal e à sociedade capitalista, desenvolvida pelo pensamento marxista.
Filosofia 27
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1.8 PolítiCas aFirMativas
Ações políticas afirmativas são políticas específicas adotadas pelos estados na-
cionais que dirigem recursos da União em benefício de pessoas que seriam pertencentes 
a grupos discriminados culturalmente e vitimados pela exclusão socioeconômica, no 
passado ou no presente. Um exemplo claro dessa situação social são os negros e índios. 
Há, na história do Brasil, a partir do sistema escravocrata, ações que dificultaram em 
grande medida a ascensão social dessas etnias e mesmo sua afirmação cultural, a qual 
foi e ainda é objeto de preconceito e violência social.
Essas medidas do estado têm como objetivo combater, além das discrimi-
nações étnicas, as raciais, as religiosas, as de gênero ou as de casta. As medidas, ou 
políticas afirmativas, visam a aumentar a participação de minorias no processo políti-
co, acentuar o acesso à educação e ao emprego, bem como reconhecer o importante 
papel dessas culturas na formação da identidade cultural brasileira.
As políticas de ação afirmativa são direcionadas para o aumento da con-
tratação de membros desses grupos, nas áreas relacionadas aos concursos públicos e 
na educação pública, através de metas, cotas, bônus ou fundos de estímulo e bolsas 
de estudo. Além dessas políticas, o governo brasileiro tem criado linhas de emprésti-
mos para custear a educação daqueles que não conseguem acesso ao ensino público 
superior. 
Em suma, as políticas afirmativas cobrem aspectos de desigualdade social e 
cultural, na promoção tanto da igualdade cultural de acesso quanto de direitos bási-
cos de cidadania, implementando o reconhecimento e a valorização étnica e cultural. 
As ações afirmativas são políticas antidiscriminatórias em si mesmas e pre-
tendem criar, além dos incentivos legais, uma cultura de valorização étnica e cultural. 
Nesse sentido, elas possuem uma dupla função cultural: a de estabelecer um míni-
mo de igualdade nas oportunidades sociais e a de criar uma conscientização sobre 
os problemas históricos dessas etnias e grupos sociais, os quais estão implicados na 
identidade desses cidadãos. 
Os debates sobre as cotas nas universidades públicas tem mobilizado vários 
segmentos sociais e criado um ambiente de discussão, no qual as diversas vozes in-
teressadas nessas políticas afirmativas podem se fazer ouvir. Desse debate surge uma 
consciência da complexidade dos problemas enfrentados por etnias que sofreram e 
sofrem discriminação, não somente de pessoas, mas também de instituições ligadas à 
repressão social. A precarização social que esses grupos enfrentaram, historicamente, 
criou associações interpretativas arraigadas na cultura brasileira que efetivam o pre-
conceito e naturalizam a discriminação como algo normal. O trabalho de conscienti-
zação cultural de toda uma população passa, nesse sentido, por ações governamentais 
que buscam melhorar as relações entre etnias, religiões e grupos sociais, no Brasil.

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