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Pró-Reitoria de Extensão – PROEX
150 Ciências Humanas 
A cultura de um povo é parte fundamental de seu patrimônio, sendo que 
sua preservação não se faz sempre de maneira pacífica: são necessárias muitas lutas 
para conservar, manter e projetar o patrimônio de um povo para o futuro: “Para que 
exista patrimônio é necessário que ele seja reconhecido, eleito, que lhe seja conferido 
valor, o que se dá no âmbito das relações sociais e simbólicas que são tecidas ao redor 
do objeto ou do evento em si” (POULOT, apud COSTA; CASTRO, 2008, p. 126).
O Brasil possui uma das culturas mais diversificadas do mundo: isso ocorre 
porque a base populacional do país é composta por pessoas das mais variadas origens 
e etnias. As razões para essa composição, no que diz respeito à cultura material, pro-
vêm dos efeitos advindos da exploração mineral e vegetal: de um lado, pela escravi-
zação de índios nativos e, posteriormente, dos negros, que para cá vieram no maior 
ciclo migratório forçado de nossa história. Outros movimentos migratórios que 
se seguiram, ao longo da História do Brasil, também contribuíram para diversificar 
nossa cultura, como veremos logo adiante. 
Os índios nativos que habitavam o território brasileiro, anteriormente à 
época da chegada (estimada no ano de 1500) dos portugueses, em maior número, 
e de outros povos europeus, como franceses, espanhóis e holandeses, se constituíam 
em diversas comunidades indígenas, cada uma delas com uma cultura que lhes era 
própria. Podemos citar, como exemplo, os índios Kayapós, os quais praticavam a 
agricultura conforme se apresentava a terra que percorriam: nas ilhas naturais de 
recursos, exploravam a caça, nas terras de cultivo, plantavam milho, batata-doce e 
mandioca; nas trilhas, praticavam a pesca e a caça; nos campos antigos, cultivavam 
batata-doce, mamão, cará e inhame (TOMAZI, 2000, p.61-62).
Inúmeras outras tribos, como os Tupinambás, Gaimurês, Carijós, 
Tupiniquins, Marcataiás, Carajás e Potiguaras, entre outros, estabeleciam, cada uma 
delas, uma relação diferenciada com os colonizadores, conforme ilustra o trecho 
abaixo:
Hans Staden revelou que a união entre Tupinambás e franceses fazia parte de uma 
estratégia político-militar e comercial. Os Tupinambás desgostavam dos portugue-
ses e eram inimigos históricos dos Tupiniquins, amigos dos lusos. Mas sua relação 
com os franceses não se resumia a essa questão, também era definida por relações 
comerciais, pois queriam ferro, machados e anzóis especialmente, em troca do que 
forneciam penas, couros e madeiras (CORRÊA, 2006, p.81).
No entanto, a forma de viver e trabalhar dos índios, em suas diversas et-
nias, cujas culturas, compostas por ideias, valores e exploração dos recursos naturais 
sem objetivos de lucros, foram incompatíveis com o ideário dos colonizadores, em 
especial dos portugueses (colonização predominante), que, ao não aceitar e respeitar 
a cultura indígena, acabaram por dizimar milhões de índios que aqui viviam, estima-
dos por antropólogos em pelo menos 5 milhões de habitantes.
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Sociologia 151
A partir dessa impossibilidade de explorar os indígenas da forma que que-
riam, os portugueses foram procurar, em outras terras, populações que pudessem 
trabalhar para atingir seus objetivos de encontrar e produzir riquezas. 
Assim, por volta de 1580, os portugueses buscaram no continente africano 
a mão de obra necessária para produzir mercadorias que seriam comercializadas no 
mercado europeu. Esse intento foi alcançado com a escravização dos negros africa-
nos, os quais, além produzirem riqueza por seu trabalho na agricultura da cana-de-
-açúcar, eram eles próprios vendidos como mercadoria, na terrível prática do tráfico 
negreiro.
Tanto índios como negros resistiram à escravidão imposta pelos portu-
gueses. Porém, o saldo da escravidão para ambos foi negativo, pois houve a aplica-
ção nesses povos de castigos físicos de toda ordem, além de assassinatos em grande 
número, cometidos contra eles por portugueses e outros, entre os quais sertanejos e 
bandeirantes. Consequentemente, houve uma perda irreparável de elementos mate-
riais e imateriais de suas culturas. Assim mesmo, aspectos importantes das culturas 
indígenas e negras permanecem vivos até os dias de hoje.
No caso da cultura indígena, o gosto pelo plantio de determinados alimen-
tos, como a mandioca e o milho (cultura material), e a denominação de localidades, 
bairros e logradouros (cultura imaterial), como a cidade de Ubatuba, em São Paulo, 
o bairro Abaeté, em Salvador (BA), e a Rua Coroados, em Marília, são marcas in-
deléveis dessa herança cultural. Tais denominações, mais do que apenas nomeações, 
guardam estreita relação com a história e a cultura indígena dos locais mencionados.
A cultura negra tem, nos cultos africanos, importante legado de suas raízes 
(aspecto imaterial). Esses cultos, ao se mesclarem com santidades católicas, resulta-
ram nos cultos afro-brasileiros, que, embora discriminados por policiais e outras 
religiões, se fazem presentes até hoje, na cultura brasileira:
Desde o início as religiões afro-brasileiras se fizeram sincréticas, estabelecendo para-
lelismos entre divindades africanas e santos católicos, adotando o calendário de festas 
do catolicismo, valorizando a freqüência aos ritos e sacramentos da Igreja católica. 
Assim aconteceu com o candomblé da Bahia, o xangô de Pernambuco, o tambor-de-
-mina do Maranhão, o batuque do Rio Grande do Sul e outras denominações, todas 
elas arroladas pelo censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sob 
o nome único e mais conhecido: candomblé (PRANDI, 2004, p. 225).
O povo brasileiro foi sendo formado a partir do entrelaçamento entre índios, 
portugueses, negros e outros estrangeiros, nos primeiros anos da colonização, sendo 
que os paulistas, em especial, ao desbravarem as terras brasileiras à procura de ouro 
e outras riquezas, contribuíram para a diversidade humana e, portanto, cultural do 
Brasil, embora de forma muitas vezes perversa, pois, quando partiam de suas terras para 
a ocupação nas minas, se serviam de muitas mulheres índias, muitas vezes, contra sua

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