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Ciencias humanas -63

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Capítulo VI - A vida cotidiana e os impactos ambientais
abate para alimentação humana seria substituída
pela simples presença das propriedades da carne
em outro ser, no caso, a batata.
A produção de alimentos pode sofrer alterações
radicais caso situações hipotéticas como essa
possam ser viabilizadas. O objetivo seria produzir
mais alimentos em áreas menores e com mais
elementos necessários à sobrevivência humana.
Isso seria realmente importante e poderia livrar
da fome cerca de 1/3 da população mundial.
Mas as coisas não são tão simples... muitos
pesquisadores argumentam que não são
conhecidas as conseqüências da introdução de
OGMs em áreas protegidas (áreas naturais que
não podem ser alteradas de maneira drástica) nem
o que eles podem causar em seres humanos após
serem ingeridos. Por isso, em países onde são
produzidos alimentos transgênicos, existem leis
que criam o compromisso de produtores avisarem
ao consumidor que ele vai comer algo que não é
natural, dando a ele a opção de escolha. Isso é
fundamental, pois existem pessoas que estão
impedidas de ingerir determinados alimentos por
motivos de saúde e outras, por motivos religiosos.
No caso das áreas protegidas, existe o temor de
que a presença de genes de seres que não
existiam originalmente nelas possam desencadear
mutações genéticas, ou seja, alterações
inesperadas nos indivíduos de uma espécie que
possam ser herdadas e transferidas para os
descendentes, nas espécies que vivem na área.
No Brasil, está proibido o plantio em escala
comercial de OGMs. É uma medida cautelosa e
importante porque existem poucos estudos sobre a
presença deles em um ambiente tropical úmido,
tipo climático que predomina em nosso país, onde
ocorrem, na maior parte do território, chuvas
fortes ao longo do ano ou em parte dele. A
proibição gerou vantagem comercial. Países
europeus, acostumados a consumir produtos de
soja, preferem comprar soja natural a
transgênica, como a cultivada na Argentina e nos
Estados Unidos. Por isso, agricultores brasileiros
conseguiram ampliar a participação no comércio
internacional de soja, levando o país à segunda
posição entre os produtores do mundo.
Mas existem ao menos dois outros campos que
investem muito dinheiro na pesquisa e
desenvolvimento de OGMs: o farmacêutico e o
de materiais.
Remédios mais eficazes, que ajam diretamente no
indivíduo ou mesmo a introdução de anticorpos
em alimentos como prevenção contra doenças são
citados como possíveis produtos. A mesma
precaução que ocorre em relação aos alimentos
deve-se ter em relação aos remédios transgênicos.
A pesquisa de novos materiais é um dos campos
de pesquisa mais dinâmicos nesse início de
século. Busca-se a independência dos recursos
não renováveis e a possibilidade de se repor de
maneira permanente a base material da
existência. A cana-de-açúcar para produção de
álcool é um bom exemplo. Diferente do petróleo,
um recurso não renovável e que se esvai após a
queima da gasolina, um dos subprodutos do
petróleo, o álcool produzido a partir da cana pode
ser reposto com o cultivo de novas plantas,
permitindo maior controle e planejamento da
produção.
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Desenvolvendo competências
Quais os riscos do plantio de OGMs em larga escala?
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Ensino Médio
A AGRICULTURA TRADICIONAL
E ORGÂNICA
Apesar do uso intenso de capital no campo para
introduzir OGMs, existem outros modelos de
produção agrícola e de criação de animais para
consumo humano. Eles estão baseados no uso
menos intensivo da terra, com a utilização de
técnicas como a rotação de culturas e adubo
orgânico, além disso, empregam mais mão-
de-obra que no outro tipo.
A rotação de culturas consiste na divisão da
propriedade em áreas menores que vão ser
destinadas ao cultivo de produtos diferentes.
A cada colheita, o agricultor alterna o produto
cultivado, deixando uma das áreas sem plantação
para que o solo possa repor seus nutrientes e
minerais necessários à boa agricultura. É
comum, por exemplo, plantar milho em uma área,
mandioca em outra e deixar crescer o mato em
outra durante uma safra. Ao final do período, as
culturas são plantadas em outra área. O milho vai
para a área que teve mato, a mandioca é plantada
na área que foi ocupada pelo milho e a área que
recebeu mandioca na safra anterior
fica sem cultura, o que permite sua recuperação.
Como vantagem, o solo apresenta-se menos
compactado, o que facilita a penetração da raiz,
para a busca de nutrientes e a fixação da planta. Há
também a presença da fauna (minhocas, por
exemplo), vital para provê-lo de material orgânico
e facilitar a infiltração da água pluvial, permitindo
a reposição dos reservatórios subterrâneos.
O adubo orgânico consiste no aproveitamento
de dejetos animais (de porcos, aves e gado)
para proteger o solo e repor os nutrientes. Para
viabilizar o uso do adubo orgânico, é preciso
coletar os dejetos animais, acondicioná-los e
depois secá-los. Eles são aplicados diretamente
ao solo com duas vantagens: permitem um destino
final mais adequado com menores impactos
ambientais para os dejetos orgânicos de animais e
evitam a presença de insumos químicos no solo (os
nutrientes artificiais que são lançados ao solo para
repor sua capacidade produtiva).
Outra vantagem da agricultura orgânica e
tradicional é o uso intenso de mão-de-obra. Todas
as etapas da produção são desenvolvidas por mãos
humanas, desde o preparo do solo, a semeadura até
a colheita. Em tempos de elevados índices de
desemprego, a agricultura tradicional pode
representar uma alternativa para milhares de
trabalhadores que vivem sem trabalho e sem
dignidade em cidades. Veja, no quadro abaixo, que
a agricultura alternativa não é uma novidade no
Brasil e no mundo:
AGRICULTURA ALTERNATIVA:
SÍNTESE HISTÓRICA
Nas décadas de 1920 e 1930, a
oposição à sedimentação do padrão
químico, motomecânico e genético da
agricultura moderna impulsionou o
surgimento de ‘movimentos rebeldes’ que
valorizavam o potencial biológico
e vegetativo dos processos produtivos.
Na Europa, surgiram as vertentes
biodinâmica, orgânica e biológica, e,
no Japão, a agricultura natural. Muito
hostilizados, esses movimentos se
mantiveram à margem da produção
agrícola mundial e da comunidade
científica agronômica. Nos anos 70,
as evidências dos efeitos adversos
provocados pelo padrão predominante –
que passava a ser chamado agricultura
convencional –, fortalecem um conjunto
de propostas rebeldes que passam a ser
conhecidas como alternativas. Na
década de 80, cresce o interesse pelas
práticas alternativas, principalmente no
sistema oficial de pesquisa norte-
americano; a hostilidade, aos poucos,
vai se transformando em curiosidade.
O movimento alternativo também tem
desdobramentos no Brasil e, a partir dos
anos 70, durante o auge da
‘modernização agrícola’, chegam ao país
as principais vertentes internacionais.
Nos anos 80, já havia dezenas de
organizações não governamentais que
criticávamos efeitos adversos do padrão

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