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123 Capítulo VI - A vida cotidiana e os impactos ambientais abate para alimentação humana seria substituída pela simples presença das propriedades da carne em outro ser, no caso, a batata. A produção de alimentos pode sofrer alterações radicais caso situações hipotéticas como essa possam ser viabilizadas. O objetivo seria produzir mais alimentos em áreas menores e com mais elementos necessários à sobrevivência humana. Isso seria realmente importante e poderia livrar da fome cerca de 1/3 da população mundial. Mas as coisas não são tão simples... muitos pesquisadores argumentam que não são conhecidas as conseqüências da introdução de OGMs em áreas protegidas (áreas naturais que não podem ser alteradas de maneira drástica) nem o que eles podem causar em seres humanos após serem ingeridos. Por isso, em países onde são produzidos alimentos transgênicos, existem leis que criam o compromisso de produtores avisarem ao consumidor que ele vai comer algo que não é natural, dando a ele a opção de escolha. Isso é fundamental, pois existem pessoas que estão impedidas de ingerir determinados alimentos por motivos de saúde e outras, por motivos religiosos. No caso das áreas protegidas, existe o temor de que a presença de genes de seres que não existiam originalmente nelas possam desencadear mutações genéticas, ou seja, alterações inesperadas nos indivíduos de uma espécie que possam ser herdadas e transferidas para os descendentes, nas espécies que vivem na área. No Brasil, está proibido o plantio em escala comercial de OGMs. É uma medida cautelosa e importante porque existem poucos estudos sobre a presença deles em um ambiente tropical úmido, tipo climático que predomina em nosso país, onde ocorrem, na maior parte do território, chuvas fortes ao longo do ano ou em parte dele. A proibição gerou vantagem comercial. Países europeus, acostumados a consumir produtos de soja, preferem comprar soja natural a transgênica, como a cultivada na Argentina e nos Estados Unidos. Por isso, agricultores brasileiros conseguiram ampliar a participação no comércio internacional de soja, levando o país à segunda posição entre os produtores do mundo. Mas existem ao menos dois outros campos que investem muito dinheiro na pesquisa e desenvolvimento de OGMs: o farmacêutico e o de materiais. Remédios mais eficazes, que ajam diretamente no indivíduo ou mesmo a introdução de anticorpos em alimentos como prevenção contra doenças são citados como possíveis produtos. A mesma precaução que ocorre em relação aos alimentos deve-se ter em relação aos remédios transgênicos. A pesquisa de novos materiais é um dos campos de pesquisa mais dinâmicos nesse início de século. Busca-se a independência dos recursos não renováveis e a possibilidade de se repor de maneira permanente a base material da existência. A cana-de-açúcar para produção de álcool é um bom exemplo. Diferente do petróleo, um recurso não renovável e que se esvai após a queima da gasolina, um dos subprodutos do petróleo, o álcool produzido a partir da cana pode ser reposto com o cultivo de novas plantas, permitindo maior controle e planejamento da produção. 3 Desenvolvendo competências Quais os riscos do plantio de OGMs em larga escala? 124 Ciências Humanas e suas Tecnologias Ensino Médio A AGRICULTURA TRADICIONAL E ORGÂNICA Apesar do uso intenso de capital no campo para introduzir OGMs, existem outros modelos de produção agrícola e de criação de animais para consumo humano. Eles estão baseados no uso menos intensivo da terra, com a utilização de técnicas como a rotação de culturas e adubo orgânico, além disso, empregam mais mão- de-obra que no outro tipo. A rotação de culturas consiste na divisão da propriedade em áreas menores que vão ser destinadas ao cultivo de produtos diferentes. A cada colheita, o agricultor alterna o produto cultivado, deixando uma das áreas sem plantação para que o solo possa repor seus nutrientes e minerais necessários à boa agricultura. É comum, por exemplo, plantar milho em uma área, mandioca em outra e deixar crescer o mato em outra durante uma safra. Ao final do período, as culturas são plantadas em outra área. O milho vai para a área que teve mato, a mandioca é plantada na área que foi ocupada pelo milho e a área que recebeu mandioca na safra anterior fica sem cultura, o que permite sua recuperação. Como vantagem, o solo apresenta-se menos compactado, o que facilita a penetração da raiz, para a busca de nutrientes e a fixação da planta. Há também a presença da fauna (minhocas, por exemplo), vital para provê-lo de material orgânico e facilitar a infiltração da água pluvial, permitindo a reposição dos reservatórios subterrâneos. O adubo orgânico consiste no aproveitamento de dejetos animais (de porcos, aves e gado) para proteger o solo e repor os nutrientes. Para viabilizar o uso do adubo orgânico, é preciso coletar os dejetos animais, acondicioná-los e depois secá-los. Eles são aplicados diretamente ao solo com duas vantagens: permitem um destino final mais adequado com menores impactos ambientais para os dejetos orgânicos de animais e evitam a presença de insumos químicos no solo (os nutrientes artificiais que são lançados ao solo para repor sua capacidade produtiva). Outra vantagem da agricultura orgânica e tradicional é o uso intenso de mão-de-obra. Todas as etapas da produção são desenvolvidas por mãos humanas, desde o preparo do solo, a semeadura até a colheita. Em tempos de elevados índices de desemprego, a agricultura tradicional pode representar uma alternativa para milhares de trabalhadores que vivem sem trabalho e sem dignidade em cidades. Veja, no quadro abaixo, que a agricultura alternativa não é uma novidade no Brasil e no mundo: AGRICULTURA ALTERNATIVA: SÍNTESE HISTÓRICA Nas décadas de 1920 e 1930, a oposição à sedimentação do padrão químico, motomecânico e genético da agricultura moderna impulsionou o surgimento de ‘movimentos rebeldes’ que valorizavam o potencial biológico e vegetativo dos processos produtivos. Na Europa, surgiram as vertentes biodinâmica, orgânica e biológica, e, no Japão, a agricultura natural. Muito hostilizados, esses movimentos se mantiveram à margem da produção agrícola mundial e da comunidade científica agronômica. Nos anos 70, as evidências dos efeitos adversos provocados pelo padrão predominante – que passava a ser chamado agricultura convencional –, fortalecem um conjunto de propostas rebeldes que passam a ser conhecidas como alternativas. Na década de 80, cresce o interesse pelas práticas alternativas, principalmente no sistema oficial de pesquisa norte- americano; a hostilidade, aos poucos, vai se transformando em curiosidade. O movimento alternativo também tem desdobramentos no Brasil e, a partir dos anos 70, durante o auge da ‘modernização agrícola’, chegam ao país as principais vertentes internacionais. Nos anos 80, já havia dezenas de organizações não governamentais que criticávamos efeitos adversos do padrão