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Capítulo VII - O mundo urbano e industrial
O SISTEMA FABRIL
Originalmente as máquinas também procuram
imitar os movimentos humanos (os robôs não são
imitação do homem?). Mas existem duas outras
características mais importantes que as
diferenciam: elas são formadas por uma série de
articulações e mecanismos, compostos por
ferramentas, dobradiças, pivôs e catracas; e usam
a força da natureza (do vento, da água e do vapor)
para criar e manter os movimentos
mecanicamente. Iniciado o movimento, a máquina
o repete, por meio de todas essa articulações e
mecanismos, automaticamente, sem parar,
enquanto tiver energia. E mais: esses movimentos
repetem mecanicamente a ação de vários homens
ao mesmo tempo. Sem precisar mais da ajuda
humana, o trabalhador apenas dirige a máquina,
que substitui assim o trabalho humano.
A princípio, toda essa classificação parece bem
simples, não é? Acontece que esses instrumentos e
máquinas não funcionam sozinhos. É preciso a ação
organizada dos homens para colocar ferramentas,
máquinas antigas e modernas em movimento e
operá-las. Isso implica sistemas e divisões de
trabalho diferentes e algumas dessas divisões
podemos identificar ainda nos dias de hoje.
Os produtos artesanais, por exemplo, são feitos
manualmente e produzidos integralmente apenas
por um indivíduo, que você conhece com o nome
de artesão. Inspirado na gravura de Debret, pense
novamente naquele mesmo sapateiro que vive no
seu bairro. Provavelmente sua oficina de trabalho
fica nos fundos da casa. Ele sozinho – às vezes
com a colaboração de um ajudante, geralmente
alguém da família – produz do começo ao fim um
sapato; ele compra a matéria-prima, corta, cola,
rebita, costura, pinta, lustra e comercializa o
mesmo sapato. Claro que ele tem as ferramentas
certas para realizar cada etapa do trabalho, como
as tesouras, canivetes, agulhas e até mesmo
algumas máquinas rudimentares, como a
rebitadeira manual ou a máquina de costura
movida por pedal. Todo esse trabalhão feito
apenas por uma pessoa é muito cuidadoso e lento
e acaba sendo pouco produtivo. Ou seja, de
maneira doméstica, baseado nesse ritmo lento e
pessoal, o artesão produz pouco (por exemplo, um
sapato por dia), mas controla e conhece todo o
processo de produção. Essa pequena produção
acaba sendo destinada ao consumo interno de um
restrito conjunto social. Isso significa que ele
alcança um pequeno número de consumidores.
Hoje em dia, no mundo marcado pela produção
industrial, caracterizado pela grande produção em
série, na qual tudo é muito parecido, esse artesão
passou a ser considerado quase um artista e seu
produto, uma obra única, consumida por algumas
poucas pessoas.
Mas, se atualmente os artesãos são raros, foi
exclusivamente assim que funcionou todo o
sistema de produção até pelo menos o século XVI
(1501-1600): de modo artesanal. Um pouco antes
dessa época, na Idade Média, o número de
artesãos cresceu bastante, e para eles protegerem
seu trabalho, seus produtos e ensinarem bem seu
ofício, criaram associações de acordo com sua
especialidade, as Corporações de Ofício. Como
indica o sugestivo nome, tratava-se de uma
forma de associação que reunia os trabalhadores
de cada atividade, como os sapateiros, tecelãos
etc. Nela o aprendiz e o artesão recebiam salário e
tinham horário e regulamentos para cumprir. Era
uma grande oficina de aprendizagem e
comercialização.
Porém, no século XVI, ocorreram algumas
mudanças e o artesão deixou de vender
diretamente seus produtos. O comerciante se
tornou figura muito importante, já que
intermediava a venda da matéria-prima para o
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Ensino Médio
artesão e do produto final para os consumidores.
Nessa nova situação o trabalho do artesão
continuava sendo realizado na sua própria oficina,
mas o início e o fim da comercialização do
produto passaram a ser controlados pelo
intermediário. Assim, começou a ocorrer uma
clara separação entre aquele que produz (o setor
produtivo) e o que comercializa os produtos
(setor comercial). Claro que dá pra você imaginar
os conflitos de interesses que surgiram entre esses
dois setores: o produtivo e o comercial, cada um
querendo proteger o seu lado.
Os comerciantes para se fortalecerem, tentaram
criar novas alternativas de controle do trabalho
dos artesãos. Alguns deles, por exemplo,
resolveram colocar vários artesãos trabalhando
em um único local, retirando-os da oficina. Eles
ofereciam a matéria-prima e ferramentas aos
artesãos dando em troca um salário, formando
uma única e grande oficina. Reunidos nesse local
ficava mais simples controlar e administrar o
tempo da produção, tornando-o mais rápido e
rentável. Veja que interessante: esse tipo de
iniciativa deu origem um pouco mais tarde ao
local de trabalho que ficaria conhecido como
fábrica. Assim, começava a se organizar uma
realidade diferente do trabalho artesanal, o
trabalho fabril. Nesse novo sistema a intenção era
tornar o trabalho mais rápido e racional possível,
baseado em uma divisão de tarefas bem definidas.
Vamos retornar novamente ao ato de produzir o
sapato, para você entender bem as diferenças.
No sistema fabril, a produção do sapato é
separada em diversas especialidades, que antes
formavam um conjunto só: cortar, colar, rebitar,
costurar, pintar e lustrar. Operando com
ferramentas e máquinas que fazem essas funções
específicas (tesouras, rebites, máquinas de costura,
etc.), várias pessoas realizam o mesmo tipo de
movimento e trabalho. Então, ao invés de um
sapateiro, surgem especialidades como cortadores,
coladores, rebitadeiros, costureiros, pintores e
lustradores. Estabelecida essa série, que é repetida
centenas de vezes em um só dia, a tendência é de
aumentar a produtividade. Sabe por quê? Porque
o sujeito, apoiado por uma máquina ou
ferramenta, repete mecanicamente o mesmo
movimento. Desta maneira, o trabalhador se
especializa nessa atividade e não conhece e muito
menos controla a produção integral do produto.
Ele se especializa e apenas conhece e reconhece
aquela atividade.
Bom, já tratamos das diferenças e características
das ferramentas e máquinas e dos sistemas de
divisão do trabalho para operá-las. Então vamos
verificar o que você aprendeu de fato.

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