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141 Capítulo VII - O mundo urbano e industrial O SISTEMA FABRIL Originalmente as máquinas também procuram imitar os movimentos humanos (os robôs não são imitação do homem?). Mas existem duas outras características mais importantes que as diferenciam: elas são formadas por uma série de articulações e mecanismos, compostos por ferramentas, dobradiças, pivôs e catracas; e usam a força da natureza (do vento, da água e do vapor) para criar e manter os movimentos mecanicamente. Iniciado o movimento, a máquina o repete, por meio de todas essa articulações e mecanismos, automaticamente, sem parar, enquanto tiver energia. E mais: esses movimentos repetem mecanicamente a ação de vários homens ao mesmo tempo. Sem precisar mais da ajuda humana, o trabalhador apenas dirige a máquina, que substitui assim o trabalho humano. A princípio, toda essa classificação parece bem simples, não é? Acontece que esses instrumentos e máquinas não funcionam sozinhos. É preciso a ação organizada dos homens para colocar ferramentas, máquinas antigas e modernas em movimento e operá-las. Isso implica sistemas e divisões de trabalho diferentes e algumas dessas divisões podemos identificar ainda nos dias de hoje. Os produtos artesanais, por exemplo, são feitos manualmente e produzidos integralmente apenas por um indivíduo, que você conhece com o nome de artesão. Inspirado na gravura de Debret, pense novamente naquele mesmo sapateiro que vive no seu bairro. Provavelmente sua oficina de trabalho fica nos fundos da casa. Ele sozinho – às vezes com a colaboração de um ajudante, geralmente alguém da família – produz do começo ao fim um sapato; ele compra a matéria-prima, corta, cola, rebita, costura, pinta, lustra e comercializa o mesmo sapato. Claro que ele tem as ferramentas certas para realizar cada etapa do trabalho, como as tesouras, canivetes, agulhas e até mesmo algumas máquinas rudimentares, como a rebitadeira manual ou a máquina de costura movida por pedal. Todo esse trabalhão feito apenas por uma pessoa é muito cuidadoso e lento e acaba sendo pouco produtivo. Ou seja, de maneira doméstica, baseado nesse ritmo lento e pessoal, o artesão produz pouco (por exemplo, um sapato por dia), mas controla e conhece todo o processo de produção. Essa pequena produção acaba sendo destinada ao consumo interno de um restrito conjunto social. Isso significa que ele alcança um pequeno número de consumidores. Hoje em dia, no mundo marcado pela produção industrial, caracterizado pela grande produção em série, na qual tudo é muito parecido, esse artesão passou a ser considerado quase um artista e seu produto, uma obra única, consumida por algumas poucas pessoas. Mas, se atualmente os artesãos são raros, foi exclusivamente assim que funcionou todo o sistema de produção até pelo menos o século XVI (1501-1600): de modo artesanal. Um pouco antes dessa época, na Idade Média, o número de artesãos cresceu bastante, e para eles protegerem seu trabalho, seus produtos e ensinarem bem seu ofício, criaram associações de acordo com sua especialidade, as Corporações de Ofício. Como indica o sugestivo nome, tratava-se de uma forma de associação que reunia os trabalhadores de cada atividade, como os sapateiros, tecelãos etc. Nela o aprendiz e o artesão recebiam salário e tinham horário e regulamentos para cumprir. Era uma grande oficina de aprendizagem e comercialização. Porém, no século XVI, ocorreram algumas mudanças e o artesão deixou de vender diretamente seus produtos. O comerciante se tornou figura muito importante, já que intermediava a venda da matéria-prima para o 142 Ciências Humanas e suas Tecnologias Ensino Médio artesão e do produto final para os consumidores. Nessa nova situação o trabalho do artesão continuava sendo realizado na sua própria oficina, mas o início e o fim da comercialização do produto passaram a ser controlados pelo intermediário. Assim, começou a ocorrer uma clara separação entre aquele que produz (o setor produtivo) e o que comercializa os produtos (setor comercial). Claro que dá pra você imaginar os conflitos de interesses que surgiram entre esses dois setores: o produtivo e o comercial, cada um querendo proteger o seu lado. Os comerciantes para se fortalecerem, tentaram criar novas alternativas de controle do trabalho dos artesãos. Alguns deles, por exemplo, resolveram colocar vários artesãos trabalhando em um único local, retirando-os da oficina. Eles ofereciam a matéria-prima e ferramentas aos artesãos dando em troca um salário, formando uma única e grande oficina. Reunidos nesse local ficava mais simples controlar e administrar o tempo da produção, tornando-o mais rápido e rentável. Veja que interessante: esse tipo de iniciativa deu origem um pouco mais tarde ao local de trabalho que ficaria conhecido como fábrica. Assim, começava a se organizar uma realidade diferente do trabalho artesanal, o trabalho fabril. Nesse novo sistema a intenção era tornar o trabalho mais rápido e racional possível, baseado em uma divisão de tarefas bem definidas. Vamos retornar novamente ao ato de produzir o sapato, para você entender bem as diferenças. No sistema fabril, a produção do sapato é separada em diversas especialidades, que antes formavam um conjunto só: cortar, colar, rebitar, costurar, pintar e lustrar. Operando com ferramentas e máquinas que fazem essas funções específicas (tesouras, rebites, máquinas de costura, etc.), várias pessoas realizam o mesmo tipo de movimento e trabalho. Então, ao invés de um sapateiro, surgem especialidades como cortadores, coladores, rebitadeiros, costureiros, pintores e lustradores. Estabelecida essa série, que é repetida centenas de vezes em um só dia, a tendência é de aumentar a produtividade. Sabe por quê? Porque o sujeito, apoiado por uma máquina ou ferramenta, repete mecanicamente o mesmo movimento. Desta maneira, o trabalhador se especializa nessa atividade e não conhece e muito menos controla a produção integral do produto. Ele se especializa e apenas conhece e reconhece aquela atividade. Bom, já tratamos das diferenças e características das ferramentas e máquinas e dos sistemas de divisão do trabalho para operá-las. Então vamos verificar o que você aprendeu de fato.