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Ciencias humanas -96

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Capítulo IX - Os homens, o tempo, o espaço
Podemos dizer que, em nossa sociedade perdemos,
em parte, a dimensão sagrada ou religiosa do
tempo, para adquirir uma dimensão científica,
objetiva, utilitária. No processo de construção da
sociedade capitalista, o tempo tornou-se um
objeto, algo que possa ser vendido, comprado e
que precisa ser controlado.
Quando utilizamos o relógio, estamos adotando
uma divisão do tempo precisa que toma por base
o movimento da Terra em torno de si mesma.
Assim, o relógio marca o tempo curto de um dia.
Mas, para organizar o tempo longo de um ano,
usamos o calendário.
CALENDÁRIOS
Vários povos criaram calendários para organizar
o tempo mais longo, porque entendiam as
mudanças, mas também percebiam que havia
repetições de acordo com os ciclos da natureza.
As estações do ano mais convenientes para as
plantações ou para as colheitas, e as épocas de
chuvas ou períodos mais secos passaram a
organizar o tempo denominado de cíclico - que
se repete -, criando os blocos de tempo que
chamamos de meses e anos.
OS CALENDÁRIOS EGÍPCIO E ASTECA
Foi observando a recorrência de certos fenômenos
que os egípcios, por exemplo, criaram aquele que
ficou conhecido como o primeiro calendário da
história, há pelo menos 6.000 anos. Eles partiram
de observações das cheias do rio Nilo, que eram
vitais para a sobrevivência de sua sociedade,
associando-as ao aparecimento de uma estrela
chamada Sirius. Com essa e outras observações
sobre o sol e a lua, os egípcios criaram um
calendário. Nesse calendário, os egípcios
dividiram o ano em 12 meses de 30 dias, aos
quais acrescentavam mais 5 dias para chegar aos
365 dias de um ano solar.
Na busca de maior exatidão na contagem do
tempo, os egípcios acabaram por aprimorar o
calendário. Eles descobriram que, na realidade,
um ano solar durava algo próximo a 365 dias e
um quarto, ou seja 365 dias e 6 horas. Esta
calendário
a palavra calendário vem do latim calenda, que
quer dizer o primeiro dia de cada mês, que para
os romanos era o dia de cobrança dos impostos.
precisão era importante pois qualquer erro do
calendário podia determinar o atraso na
preparação do solo, e no plantio, e,
conseqüentemente, o fracasso da agricultura,
atividade vital para a sobrevivência de seu povo.
Os astecas, um importante povo que vivia na
região que hoje é o México, antes da chegada dos
conquistadores europeus, também construíram
uma forma de calendário anual baseado no
movimento do sol. Os astecas chamavam este
calendário solar de tonalpohuali. Nele, o ano
estava dividido em 18 meses, ou períodos de 20
dias, totalizando 360 dias que eram completados
com mais 5 dias de nemotemi, conhecidos como
“dias de azar”.
Mas nem os astecas nem os egípcios aboliram
o calendário lunar, que era utilizado para
determinadas funções ligadas ao sagrado.
No caso dos astecas, o ano lunar era regido pelo
calendário sagrado, o tonalamatl, tendo 260 dias
repartidos em treze períodos de 20 dias.
Figura 3 – Na foto acima podemos ver o calendário solar
asteca. Os astecas utilizavam dois calendários para contar
o tempo: o solar e o lunar.
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Ensino Médio
Pudemos ver que, para produzir calendários, é
preciso um grande conhecimento do tempo físico.
A elaboração de um calendário requer
observações sobre a posição e o movimento do
sol e da lua, e até mesmo a identificação das
estrelas e das constelações. Por isso, povos como
os Tembé, os Astecas e os Egípcios desenvolveram
um importante conhecimento da astronomia.
Egípcios e Astecas perceberam, por exemplo, que
o ano lunar (baseado no ciclo das fases da lua)
era quase 11 dias mais curto que o ano solar
(baseado no ciclo das estações). Vejamos por que
isto acontece: o mês baseado nas fases da lua tem
29,5 dias. Se fizermos um ano lunar de 12 meses,
teremos um total de 354 dias. Por sua vez, o ano
solar possui pelo menos 365,25 dias. Resultado:
existe uma diferença de 11 dias entre um
calendário lunar e um solar.
Por isso, os antigos egípcios e os astecas
adotaram os dois calendários. Ambos eram
utilizados ao mesmo tempo: o lunar com
finalidades sagradas e o solar para uso no
trabalho agrícola.
Os calendários são organizados pelo
conhecimento astronômico, mas eles estão
relacionados a outras formas de controlar o
tempo e as atividades dos homens. Por esta razão,
as pessoas que criam os calendários possuem
poder. Afinal, a sociedade se organiza em função
de calendários. Pelos calendários, existem as
festas de Natal, de Ano Novo, do carnaval etc.
Com eles, a vida das pessoas pode ser ordenada e
controlada. No mundo ocidental, a Igreja Católica
procurou estabelecer um controle sobre o tempo,
que era considerado como pertinente a Deus,
organizando-o através dos calendários. Com o
cristianismo, o primeiro dia da semana passou a
ser chamado de domingo, sendo considerado
como dia em que não se trabalhava e deveria ser
consagrado a Deus. Assim, podemos perceber que
o poder dos calendários está também ligado à
religião.
O CALENDÁRIO GREGORIANO
No atual mundo ocidental cristão, seguimos o
calendário gregoriano, um calendário criado
pela religião cristã. Esse calendário foi elaborado
em 1582 pelo Papa Gregório XIII, para corrigir o
calendário juliano, instituído ainda na época da
Roma Antiga, pelo imperador Júlio César, no
ano 46 a.C. Assim como o ano solar egípcio, o
calendário adotado por César possuía 365,25 dias.
Devido à pequena diferença de quase 10 minutos
entre este calendário e o ano solar, através do
séculos, acumulou-se uma diferença de dias
prejudicando a identificação da chegada das
estações e das festas religiosas cristãs.
Para resolver este problema, o novo calendário
gregoriano tirou dez dias do ano de 1582,
acertando o calendário com o ano solar. Depois,
os chamados anos bissextos (quando o mês de
fevereiro tem 29 dias) foram criados para evitar
uma nova diferença entre o calendário e
ano solar.
O calendário gregoriano criou também o sistema
de contagem dos anos, séculos e milênios que
usamos em nossa sociedade. O calendário
gregoriano parte da idéia de que o nascimento de
Cristo é um marco tão importante para a
humanidade que o tempo teve que ser dividido
em duas partes: em antes e depois de Cristo. Por
isso, a partir desse calendário, passamos a contar
o tempo a partir do nascimento de Jesus Cristo,
que foi considerado o ano 1 da nossa era.
Por convenção, todos os anos anteriores ao
nascimento de Cristo passaram a ser contados em
ordem decrescente, e escritos acompanhados pelas
iniciais a.C. (antes do nascimento de Cristo). Os
anos posteriores ao ano 1 podem ser escritos
sem nenhuma sigla, ou usar d.C. (depois do
nascimento de Cristo) ou a sigla A.D. (do latim
anno domini, que quer dizer “ano do Senhor”).

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