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189 Capítulo IX - Os homens, o tempo, o espaço Podemos dizer que, em nossa sociedade perdemos, em parte, a dimensão sagrada ou religiosa do tempo, para adquirir uma dimensão científica, objetiva, utilitária. No processo de construção da sociedade capitalista, o tempo tornou-se um objeto, algo que possa ser vendido, comprado e que precisa ser controlado. Quando utilizamos o relógio, estamos adotando uma divisão do tempo precisa que toma por base o movimento da Terra em torno de si mesma. Assim, o relógio marca o tempo curto de um dia. Mas, para organizar o tempo longo de um ano, usamos o calendário. CALENDÁRIOS Vários povos criaram calendários para organizar o tempo mais longo, porque entendiam as mudanças, mas também percebiam que havia repetições de acordo com os ciclos da natureza. As estações do ano mais convenientes para as plantações ou para as colheitas, e as épocas de chuvas ou períodos mais secos passaram a organizar o tempo denominado de cíclico - que se repete -, criando os blocos de tempo que chamamos de meses e anos. OS CALENDÁRIOS EGÍPCIO E ASTECA Foi observando a recorrência de certos fenômenos que os egípcios, por exemplo, criaram aquele que ficou conhecido como o primeiro calendário da história, há pelo menos 6.000 anos. Eles partiram de observações das cheias do rio Nilo, que eram vitais para a sobrevivência de sua sociedade, associando-as ao aparecimento de uma estrela chamada Sirius. Com essa e outras observações sobre o sol e a lua, os egípcios criaram um calendário. Nesse calendário, os egípcios dividiram o ano em 12 meses de 30 dias, aos quais acrescentavam mais 5 dias para chegar aos 365 dias de um ano solar. Na busca de maior exatidão na contagem do tempo, os egípcios acabaram por aprimorar o calendário. Eles descobriram que, na realidade, um ano solar durava algo próximo a 365 dias e um quarto, ou seja 365 dias e 6 horas. Esta calendário a palavra calendário vem do latim calenda, que quer dizer o primeiro dia de cada mês, que para os romanos era o dia de cobrança dos impostos. precisão era importante pois qualquer erro do calendário podia determinar o atraso na preparação do solo, e no plantio, e, conseqüentemente, o fracasso da agricultura, atividade vital para a sobrevivência de seu povo. Os astecas, um importante povo que vivia na região que hoje é o México, antes da chegada dos conquistadores europeus, também construíram uma forma de calendário anual baseado no movimento do sol. Os astecas chamavam este calendário solar de tonalpohuali. Nele, o ano estava dividido em 18 meses, ou períodos de 20 dias, totalizando 360 dias que eram completados com mais 5 dias de nemotemi, conhecidos como “dias de azar”. Mas nem os astecas nem os egípcios aboliram o calendário lunar, que era utilizado para determinadas funções ligadas ao sagrado. No caso dos astecas, o ano lunar era regido pelo calendário sagrado, o tonalamatl, tendo 260 dias repartidos em treze períodos de 20 dias. Figura 3 – Na foto acima podemos ver o calendário solar asteca. Os astecas utilizavam dois calendários para contar o tempo: o solar e o lunar. 190 Ciências Humanas e suas Tecnologias Ensino Médio Pudemos ver que, para produzir calendários, é preciso um grande conhecimento do tempo físico. A elaboração de um calendário requer observações sobre a posição e o movimento do sol e da lua, e até mesmo a identificação das estrelas e das constelações. Por isso, povos como os Tembé, os Astecas e os Egípcios desenvolveram um importante conhecimento da astronomia. Egípcios e Astecas perceberam, por exemplo, que o ano lunar (baseado no ciclo das fases da lua) era quase 11 dias mais curto que o ano solar (baseado no ciclo das estações). Vejamos por que isto acontece: o mês baseado nas fases da lua tem 29,5 dias. Se fizermos um ano lunar de 12 meses, teremos um total de 354 dias. Por sua vez, o ano solar possui pelo menos 365,25 dias. Resultado: existe uma diferença de 11 dias entre um calendário lunar e um solar. Por isso, os antigos egípcios e os astecas adotaram os dois calendários. Ambos eram utilizados ao mesmo tempo: o lunar com finalidades sagradas e o solar para uso no trabalho agrícola. Os calendários são organizados pelo conhecimento astronômico, mas eles estão relacionados a outras formas de controlar o tempo e as atividades dos homens. Por esta razão, as pessoas que criam os calendários possuem poder. Afinal, a sociedade se organiza em função de calendários. Pelos calendários, existem as festas de Natal, de Ano Novo, do carnaval etc. Com eles, a vida das pessoas pode ser ordenada e controlada. No mundo ocidental, a Igreja Católica procurou estabelecer um controle sobre o tempo, que era considerado como pertinente a Deus, organizando-o através dos calendários. Com o cristianismo, o primeiro dia da semana passou a ser chamado de domingo, sendo considerado como dia em que não se trabalhava e deveria ser consagrado a Deus. Assim, podemos perceber que o poder dos calendários está também ligado à religião. O CALENDÁRIO GREGORIANO No atual mundo ocidental cristão, seguimos o calendário gregoriano, um calendário criado pela religião cristã. Esse calendário foi elaborado em 1582 pelo Papa Gregório XIII, para corrigir o calendário juliano, instituído ainda na época da Roma Antiga, pelo imperador Júlio César, no ano 46 a.C. Assim como o ano solar egípcio, o calendário adotado por César possuía 365,25 dias. Devido à pequena diferença de quase 10 minutos entre este calendário e o ano solar, através do séculos, acumulou-se uma diferença de dias prejudicando a identificação da chegada das estações e das festas religiosas cristãs. Para resolver este problema, o novo calendário gregoriano tirou dez dias do ano de 1582, acertando o calendário com o ano solar. Depois, os chamados anos bissextos (quando o mês de fevereiro tem 29 dias) foram criados para evitar uma nova diferença entre o calendário e ano solar. O calendário gregoriano criou também o sistema de contagem dos anos, séculos e milênios que usamos em nossa sociedade. O calendário gregoriano parte da idéia de que o nascimento de Cristo é um marco tão importante para a humanidade que o tempo teve que ser dividido em duas partes: em antes e depois de Cristo. Por isso, a partir desse calendário, passamos a contar o tempo a partir do nascimento de Jesus Cristo, que foi considerado o ano 1 da nossa era. Por convenção, todos os anos anteriores ao nascimento de Cristo passaram a ser contados em ordem decrescente, e escritos acompanhados pelas iniciais a.C. (antes do nascimento de Cristo). Os anos posteriores ao ano 1 podem ser escritos sem nenhuma sigla, ou usar d.C. (depois do nascimento de Cristo) ou a sigla A.D. (do latim anno domini, que quer dizer “ano do Senhor”).