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Células-tronco: a realidade de muitos sonhos ou a frustração da humanidade? 235 Biologia go Aristarco de Samos, mas só com Nicolau Copérnico, e em especial com Galileu Galilei, é que se tornou mais sustentada. Alguns autores medievais já especulavam que a Terra era redonda, mas aceitavam o Geocentrismo como fora estruturado por Aristóteles e Ptolomeu. Esse sistema cosmoló- gico ensinava que a Terra estava parada no centro do Universo e os outros corpos orbitavam em círculos concêntricos ao seu redor. Na época, a Igre- ja Católica aceitava amplamente esse modelo, apesar de a esfericidade da Terra estar em aparente contradição com interpretações literais de algumas passagens bíblicas. Essa visão geocêntrica tradicional foi abalada por Co- pérnico que, em 1514, começou a divulgar um modelo matemático em que a Terra e os outros corpos celestes giravam ao redor do Sol. Essa era uma teoria de tal forma revolucionária que Copérnico escreveu no seu DE REVO- LUTIONIBUS: “quando dediquei algum tempo à idéia, o meu receio de ser desprezado pela sua novidade e o aparente contra-senso, quase me fez largar a obra feita”. Fonte: www.wikipedia.org A quarta revolução, a revolução de Ian Wilmut (produziu o pri- meiro clone de um mamífero adulto do mundo), mostra à humanida- de que podemos ter cópias idênticas de nós mesmos, portanto, somos únicos. O grupo liderado por Ian Wilmut, o cien- tista escocês que se tornou famoso por essa experiência, afirma que praticamente todos os animais que foram clonados nos últimos anos a partir de células não embrionárias es- tão com problemas. Entre os diferentes de- feitos observados nos pouquíssimos animais que nasceram vivos após inúmeras tentati- vas, observa-se: telômeros encurtados; placentas anormais; gigantismo em ovelhas e gado; defeitos cardíacos em porcos; problemas pulmona- res em vacas, ovelhas e porcos; problemas imunológicos; falha na pro- dução de leucócitos; defeitos musculares em carneiros. De acordo com Hochedlinger e Jaenisch, os avanços recentes em clonagem reprodutiva permitem quatro conclusões importantes: 1. a maioria dos clones morre no início da gestação; 2. os animais clonados têm defeitos e anormalidades semelhantes, inde- pendentemente da célula doadora ou da espécie; 3. essas anormalidades provavelmente ocorrem por falhas na reprograma- ção do genoma; 4. a eficiência da clonagem depende do estágio de diferenciação da célula doadora. De fato, a clonagem reprodutiva a partir de células embrioná- rias tem mostrado uma eficiência de 10 a 20 vezes maior provavelmen- Pesquisador. Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br Implicações dos Avanços Biológicos no Fenômeno VIDA236 Ensino Médio te porque os genes, que são fundamentais no início da embriogênese, estão ainda ativos no genoma da célula doadora. É interessante que dentre todos os mamíferos que já foram clonados, a eficiência é um pouco maior em bezerros (cerca de 10% a 15%). Por outro lado, um fato intrigante é que ainda não se tem notícias de macaco ou ca- chorro que tenha sido clonado. Talvez seja por isto que a cientista inglesa Ann McLaren afirme que as falhas na reprogramação do núcleo somático podem se constituir em uma barreira intransponível para a clonagem humana. Mesmo assim, pessoas como o médico italiano Antinori, ou a seita dos raelianos, defendem a clonagem humana, um procedimento que tem sido proibido em todos os países. De fato, um documento assinado pelas aca- demias de ciências de 63 países, inclusive o Brasil, em 2003, pedem o ba- nimento da clonagem reprodutiva humana. O fato é que a simples possi- bilidade de clonar humanos tem suscitado discussões éticas em todos os segmentos da sociedade, tais como: Por que clonar? Quem deveria ser clonado? Quem iria decidir? Quem será o pai ou a mãe do clone? O que fazer com os clones que nascerem defeituosos? Na realidade o maior problema ético atual é o enorme risco biológico associado à clonagem reprodutiva. No meu entender, seria a mesma coisa que discutir os prós e os contras em relação à liberação de uma medicação nova, cujos efeitos são devastadores e ainda totalmente incontroláveis. Apesar de todos esses argumentos contra a clonagem humana repro- dutiva, experiências com animais clonados têm nos ensinado muito acerca do funcionamento celular. Por outro lado, a tecnologia de transferência de núcleo para fins terapêuticos, a chamada clonagem terapêutica, poderá ser extremamente útil para a obtenção de células-tronco. ZATZ, Mayana. Clonagem e células-tronco. Revista Ciência e Cultura, Jul/Set. 2004, vol.56, nº.3, p.23-27. Não são os problemas ligados à técnica que alimentam mais a dis- cussão ética. A possibilidade de influir sobre o caráter dos indivíduos e os desvios eugênicos que podem emanar dele, ou a querela entre um direito à saúde e um direito a um patrimônio genético não modificado, são pon- tos importantes que nos parecem baseados em uma questão fundamen- tal: será que temos o direito de manipular o genoma humano? O homem pode se tornar objeto de sua técnica, se programar, assumir a sua própria evolução? (CANTO-SPERBER, 2003, p.691)