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O alimento que você consome diariamente é transgênico? 283 Biologia Além de cruzar diferentes variedades e conduzir o processo por longo tempo, pesquisadores têm buscado outras formas de acelerar o processo de melhoramento genético clássico. Em uma das formas, o procedimento ocorre da seguinte maneira: primeiro, identifica-se em uma determinada espécie, um gene específico para determinada carac- terística; em seguida, há o isolamento e a inserção do mesmo em outra espécie. Esse gene é selecionado a partir do interesse em uma caracte- rística considerada importante para ser incluída nessa outra espécie. A espécie que passou a receber o novo gene é conhecida como or- ganismo geneticamente modificado (OGM), ou, mais divulgado, trans- gênica, pois ao seu patrimônio genético foi acrescido um gene carac- terístico de outra espécie. Conforme a Lei n. 11.105/05, organismos geneticamente modificados são aqueles cujo material genético, seja DNA ou RNA, tenha sido modificado por qualquer técnica de produ- ção e manipulação desse material. Para saber mais !!! A lei nº 11105/05 estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modifi- cados (OGM) e seus derivados. Para conhecer na íntegra essa lei acesse o endereço eletrônico da Casa Civil, da Presidência da República, disponível em www.planalto.gov.br/CCIVIL/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm Se considerar que transgênico é todo o organismo que recebe um novo gene, portanto um OGM, pode-se afirmar que todo organismo transgênico é geneticamente modificado, mas todo organismo ge- neticamente modificado pode ser considerado um transgênico? DEBATE Um exemplo de transgênico bastante conhecido é a soja transgêni- ca Roundup Read (RR), patenteada pela empresa Monsanto, líder mun- dial na produção do herbicida glifosato. Essa soja recebeu genes que conferem tolerância a esse herbicida, um tipo de agrotóxico utilizado para matar “ervas invasoras”. O processo acontece quando a variedade transgênica recebe gene da bactéria Agrobacterium tumefacicus que habita naturalmente o solo. Tal bactéria é resistente ao glifosato por conseguir sintetizar uma enzima denominada EPSPS, entretanto outras bactérias, como as que participam do ciclo do nitrogênio e são impor- tantes para as plantas leguminosas, não resistem. Este gene, incorpora- do ao material genético da soja permite que a mesma sintetize a enzi- ma que assegura, à planta, sobrevivência após aplicação do glifosato. Implicações dos Avanços Biológicos no Fenômeno VIDA284 Ensino Médio O glifosato (C 3 H 8 NO 5 P) é um organofosforado, definido como deri- vado do ácido ortofosfórico (H 3 PO 4 ) ou ácido pirofosfórico (H 4 P 2 O 7 ) e, quando aplicado, é absorvido pelas folhas e pelas partes novas do ve- getal. Tem a função de inibir o mecanismo enzimático responsável pe- la produção de aminoácidos e, conseqüentemente, produção de pro- teínas, de forma semelhante ao que acontece com os antibióticos. As “ervas daninhas” morrem lentamente devido ao transporte do glifosa- to para todas as suas partes. Para que o gene recombinado ao material genético da soja tenha atividade constante, foi inserido outro gene, retirado do vírus do mo- saico da couve-flor, com o objetivo de “promover” tal atividade bio- química. Da flor petúnia (Petunia hybrida) foi retirado outro gene, o CTP4, que contribui na cópia da seqüência genética e na síntese da en- zima necessária para conferir a tolerância ao herbicida. Com o objeti- vo de demarcar o final do “pacote genético” a ser recombinado com o material genético da soja, adicionou-se outro gene retirado da bactéria Agrobacterium tumefasciens. Acompanhe a representação a seguir. Para saber mais so- bre bactérias e vírus, leia os Folhas Bactérias: um universo microscópi- co e Vírus: fluído vene- noso, no Livro Didático Público de Biologia. Para saber mais so- bre agrotóxicos, leia o Folhas Você toma vene- no?, no Livro Didático Público de Geografia. Promotor E355 CTP4 Gene de tolerância a herbicida EPSPS CP4 NOS 3 transportador inserto aprovado sinal de terminação DNA SOJA Seqüência de genes autorizada E35S - gene de vírus CTP4 - gene da petúnia EPSPSCP4 - gene de bactéria NOS3 - gene de bactéria Representação da seqüência genética aprovada para ser inserida na soja. Fonte: Cartilha “Transgênicos: a verdade por trás dos mitos”. Disponível em http://www.greenpeace.org.br/transgenicos/pdf/cartilha.pdf. Acesso em: 21 dez. 2007. FIGURA 3 – Tomate longa vida. Fonte: http://www.onmeda.de/ ernaehrung/lebensmittel_heute/ gruene_gentechnologie/flavr_ savr_tomate.html Apesar da ampla divulgação em torno da soja transgênica, este não foi o primeiro alimento geneticamente modificado a ser desenvolvi- do por técnicas de manipulação genética. Considera-se a insulina sin- tética como sendo o primeiro produto, resultado da manipulação ge- nética, industrializado e comercializado nos EUA no início da década de 1980. O primeiro transgênico de origem vegetal, também originá- rio nos EUA, foi uma variedade de tomate (Solanun lycopersicum) co- nhecida comercialmente como “tomate longa vida” ou Flavr-Savr. Ve- ja a FIGURA 3.