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103Biomedicina na prática: da teoria à bancada SUMÁRIO 4. PRÁTICA: Análise do Líquido Sinovial O líquido sinovial é um líquido presente na cavidade das articulações sinoviais, ou diartroses, ou seja, aquelas articulações que permitem movimentos. A avaliação do líquido sinovial pode fornecer de várias doenças articulares, como: artrite infecciosa, doença articular degenerativa, osteocondrite dissecante, artropatia inicial ou em regressão, osteoartropatia hipertrófica, sinovite vilonodular pigmentada, artrite reumatoide e sinovite. Também pode servir para o diagnóstico de espondilite anquilosante, febre reumática, lúpus eritematoso, esclerose sistêmica, infecções bacterianas piogênicas, traumas dentre outras. Os casos mais comuns de acúmulo de líquido sinovial são de origem traumática ou infecciosa após procedimentos como a videoartroscopia de joelho. A coleta deve ser feita por artrocentese sob anestesia, por profissional médico habilitado, onde uma agulha estéril é inserida na cavidade articular e aspirado uma amostra do líquido para análise. Os testes mais importantes a serem feitos no líquido sinovial, são a citologia total e diferencial, a pesquisa de cristais e bacteriologia. O material colhido é distribuído em 3 tubos com 3 mL: 1 tubo com anticoagulante EDTA: para análises de citologia; 1 tubo sem anticoagulante: para exames bioquímicos e/ou imunológicos; 1 Tubo estéril: para exame microbiológico. 4.1. Análise macroscópica: O líquido sinovial é normalmente claro, transparente ou levemente amarelo. A turvação pode se dar pela presença de células (leucócitos e hemácias) ou pela presença de cristais ou fibrina. Cor: normal: transparente ou levemente amarelo. Caso esteja avermelhada, pode ser provocada por um acidente durante a punção ou pode ser uma hemartrose verdadeira. A diferenciação se dá pelo fato de que, nos casos de acidente de punção, a coloração varia, clareando no fim da coleta, além da presença de coágulos. A coloração esverdeada pode ser observada em artrites sépticas. Dica: A presença de coágulos é outro dado importante da avaliação. Em condições normais, o líquido sinovial não coagula. Portanto, a presença de coágulos é indicativa de processos inflamatórios Viscosidade: normal: alta viscosidade A viscosidade está diretamente relacionada à quantidade de ácido hialurônico e encontra-se diminuída nos processos inflamatórios. A observação se faz durante a coleta do material, pela velocidade de queda pela agulha de punção e analisada laboratorialmente pelo teste da mucina. Teste da mucina: Acrescentar 1 gota da amostra a uma solução de ácido acético a 5% e observar a formação do coágulo: bom (sólido), regular (mole), ruim (frágil) e péssimo (ausência de coágulo). Este teste analisa a viscosidade do líquido, que deve ser viscoso e desta forma o coágulo deve ser sólido. Doenças inflamatórias diminuem a produção de ácido hialurônico e a viscosidade do líquido sinovial. 104Biomedicina na prática: da teoria à bancada SUMÁRIO 4.2. Análises citológicas A avaliação citológica auxilia no diagnóstico diferencial de inflamações e infecções. O Líquido Sinovial normalmente é quase que acelular. Possui cerca de 20% de células polimorfonucleares (basófilos, neutrófilos e eosinófilos) e os demais 80% de mononucleares (monócitos, linfócitos). Um aumento de polimorfonucleares aparece na gota e nas artrites séptica, já na artrite reumatoide pode-se observar o predomínio de linfócitos. As análises citológicas (contagem de hemácias, leucócitos, diferencial) são realizadas da mesma forma que foram descritas na análise do líquor. Os valores de referência estão listados a seguir: Hemácias (contagem em câmara de Neubauer): < 150/mL Leucócitos (contagem em câmara de Neubauer): < 200/mL Contagem diferencial: (Esfregaço de 500 ml da amostra citocentrifugada) Neutrófilos: < 25% Linfócitos: > 75% Monócitos: < 20% Ainda, durante a análise microscópica, é avaliada através da análise de uma gota do líquido colocado em uma lâmina coberta com lamínula e observada no microscópio, a presença de cristais. Os cristais podem estar livres ou no interior das células, podendo ajudar no diagnóstico de artropatias induzidas por cristais. Permite também identificar os cristais como os de urato monossódico (presentes na gota), pirofosfato de cálcio (presente na condrocalcinose ou pseudogota) e outros, como apatita e oxalato de cálcio. 4.3. Análises bioquímicas As análises bioquímicas são feitas de acordo com o protocolo dos kits empregados. Normalmente se analisa a glicose e proteínas. Com relação à glicose, sua concentração no líquido sinovial normal é semelhante à plasmática. Desta forma, para a interpretação adequada dos valores de glicose do líquido sinovial é necessária comparar os valores encontrados com os níveis séricos da glicose em jejum. Em condições normais e na maioria das condições não inflamatórias, a diferença é menor que 10 mg/dL. Diferenças significativas são encontradas nos processos inflamatórios e infecciosos. A concentração normal de proteínas varia de 1,2 a 2,5 g/dL. Valores aumentados são encontrados em processos inflamatórios e sépticos. 4.4. Exame Microbiológico Podem ser realizados testes para a identificação de agentes etiológicos, como cultura e coloração de gram, entre outros. Os métodos são descritos no capítulo de bacteriologia. 5. Análise de líquidos serosos (ascítico, pleural) Líquido ascítico O líquido ascítico ou peritoneal é utilizado para o diagnóstico das peritonites. Homens saudáveis apresentam pouco ou nenhum fluido intraperitoneal, mas as mulheres podem normalmente conter até 20 mL, dependendo da fase do ciclo menstrual. As causas do acúmulo