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Orientacoes basicas em Macroscopia e Histotecnologia

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Faculdade de Medicina 
Hospital Universitário Antônio Pedro 
Programa de Pós-graduação em Patologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 PATOLOGIA ORAL 
 Orientações básicas em Macroscopia e Histotecnologia 
 Profa. Eliane Pedra Dias 
 Revisão: 18/05/2017 
 
 
BIÓPSIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Existem diferentes tipos de biópsia e a técnica deve ser planejada de acordo com a região 
anatômica a ser submetida à biópsia, tipo de lesão e experiência do profissional que 
realiza o procedimento. O fator mais importante é que a técnica de biópsia de escolha 
deve ser a que oferecerá o melhor material para análise histopatológica, tanto sob o ponto 
de vista quantitativo como qualitativo e para tanto deverão ser considerados: se a retirada 
da lesão será total ou parcial, o modo de fixação, clivagem e inclusão do material a ser 
analisado. Portanto o grande beneficiário do planejamento da biópsia é o paciente, já que 
uma biópsia adequadamente planejada irá facilitar a análise histopatológica e 
conseqüente redução do tempo de emissão do laudo. Toda esta etapa fica a cargo do 
dentista/médico que é o responsável pelo correto armazenamento e envio do material 
para um serviço/laboratório de Anatomia Patológica. O tempo de análise do material e a 
conseqüente emissão do laudo varia de acordo com o grau de dificuldade do 
processamento técnico, de interpretação dos aspectos microscópicos e da relação volume 
de trabalho/número de patologistas. 
As duas técnicas mais utilizadas na cirurgia oral menor utilizam o bisturi ou o punch. Nas 
biópsias realizadas com bisturi, deve-se considerar por regra a abrangência de tecido 
normal adjacente. E isto significa um volume de tecido maior que o aparentemente 
necessário. Justifica-se esta orientação por razão técnicas. A presença de margem de 
tecido clinicamente saudável oferece ao patologista: a) a possibilidade de avaliar a 
margem da lesão, definindo se a mesma encontra-se realmente livre de lesão; b) 
identificar aspectos patogênicos da lesão que podem já estar ausente na lesão plena e 
que podem ser decisivos no diagnóstico preciso da doença; c) utilizar a margem saudável 
como controle negativo ou positivo interno nas reações histoquímicas, imuno-
histoquímicas ou moleculares que podem ser necessárias poara a definição diagnóstica; 
d) a facilidade de melhor planejar a clivagem e, consequentemente, a realização de um 
processamento técnico adequado e uma lâmina de alta qualidade para análise 
 
 A biópsia é um procedimento simples realizado 
por dentistas e médicos, que consiste na remoção 
tecidos do organismo vivo. Após esta remoção, o 
material extraído é cuidadosamente acondicionado 
em recipiente identificado e contendo fomol salina 
ou tamponado à 10%, e enviado para o serviço de 
Anatomia Patológica. 
histopatológica. A biópsia com a utilização do puch é a mais indicada pela grande 
facilidade com que o material é fixado, clivado e incluído em parafina. De qualquer modo, 
seja uma elipse à bisturi ou um cilindro retirado com punch, três procedimento são 
fundamentais na manipulação da biópsia após a incisão: utilizar apenas a pinça 
anatômica e da forma mais delicada possível; utilizar preferencialmente uma tesoura de 
ponta delicada curva e romba para seccionar a base da biópsia; e depositar o material, 
pela face cruenta, num papel liso e poroso, idealmente papel filtro, aguardar alguns 
segundos para que a face cruenta possa ficar aderida ao papel e, na seqüência, 
acondicionar no frasco contendo formol tamponado ou salina, à 10% (fixador utilizado de 
rotina). 
A fixação da biópsia é uma importante etapa da biópsia, de responsabilidade do 
profissional que realiza a biópsia. A fixação tem por finalidade manter o seu aspecto 
morfofuncional o mais próximo possível daquele existente antes do início da biópsia, 
preservando a relação entre os diversos componentes teciduais e impedindo a autólise e 
a putrefação. Um fixador adequado preservará as diversas moléculas do tecido de tal 
modo a permitir o seu reconhecimento por reações histoquímicas, imuno-histoquímicas e 
moleculares. O material a ser processado poderá permanecer por anos imerso no formol, 
entretanto, há um tempo adequado para a fixação, que deve ser limitado ao necessário 
para preservar o tecido. Este tempo depende fundamentalmente do volume, sendo 
considerado o intervalo entre duas a 24 horas ótimo para fixação. Vale a pena ressaltar 
que após 48 horas o comprometimento dos determinantes antigênicos é progressivo, 
dificultando análises imuno-histoquímicas e moleculares. 
 
Fluxo Laboratorial (Serviço de Anatomia Patológica do HUAP/UFF) 
A partir do momento em que a biópsia é recebida pelo Serviço 
de Anatomia Patológica, este passa a ser o responsável legal 
pela guarda deste material e todos os procedimentos 
decorrentes. Na recepção, o frasco identificado e a requisição 
do exame, devidamente preenchida e assinada pelo médico 
ou dentista requisitante, recebem uma identificação 
correspondente ao registro da biópsia no laboratório. 
Esta identificação acompanhará todos os procedimentos realizados com o material 
registrado. No SAP/HUAP, o registro do material é feito por funcionária dedicada à 
atividade, em sistema informatizado. Em seguida, o material e a requisição são 
encaminhados à sala de macroscopia, adequadamente identificados com o número do 
 
registro: B de biópsia, seguido dos dois últimos algarismos representativos do ano 
corrente, hífen e pelo número do registro, sempre em ordem crescente (ex.: B17-234). 
 A macroscopia é um procedimento realizado, 
obrigatoriamente pelo patologista, médico ou dentista, e 
marca a primeira etapa do exame histopatológico de peças 
de necropsia, peças cirúrgicas e biópsias incisionais ou 
excisionais. Antes de iniciar o procedimento, todo o 
instrumental a ser utilizado deve estar disponível na 
bancada. A documentação fotográfica é desejável, sendo etapa obrigatória no setor 
de Patologia Oral do SAP/HUAP. Constitui o instrumental básico para realização da 
macroscopia: pinça anatômica, lâmina de bisturi, navalha de microtomia e facas de 
diferentes tamanhos com lâmina reta; tábua de apoio; luvas de látex; cassetes; lápis; 
borracha; caneta; régua de metal; apoio de fundo preto fosco para documentação 
fotográfica; régua para documentação fotográfica (preferencialmente branca); papel 
filtro já cortado. 
 Antes de iniciar a análise macroscópica, são etapas indispensáveis: 
1. Conferir os dados referentes ao frasco e a requisição. 
2. Verificar as condições de acondicionamento e fixação do material. 
3. Preparar todo o ambiente e instrumental necessário à realização da 
macroscopia, antes de iniciar o procedimento. 
4. Iniciada a análise, o material examinado deve ficar fora do fixador o menor 
tempo possível. O material não deve ser submetido a nenhum tipo de 
secagem (gaze, secagem ao ar, etc). O material pode ser lavado em água 
corrente para redução da exposição ao formol, devendo permanecer imerso 
na água nos casos de rápidas interrupções do procedimento. 
5. Todo material cortante deve estar muito bem afiado. 
 
A documentação escrita da análise macroscópica é obrigatória, fazendo parte do 
laudo do exame histopatológico, devendo ser feita preferencialmente no verso da 
requisição e/ou em folha anexa. É importante lembrar que a documentação 
manuscrita, feita à caneta, é o único documento inquestionável da realização do 
procedimento, podendo ser substituído por gravação ou digitação realizada por 
terceiro, sendo, neste caso, fundamental conferir a descriçãoe assinar. A descrição, 
embora de formato livre, segue algumas normas consensuais internacionais, sendo 
realizada, preferencialmente, em seqüência padronizada. Via de regra inicia-se a 
Serv iServ içço de Anatomia Patolo de Anatomia Patolóó gica gica –– HUAP/UFFHUAP/UFFServ iServ içço de Anatomia Patolo de Anatomia Patolóó gica gica –– HUAP/UFFHUAP/UFF 
descrição dos aspectos gerais do material e, numa segunda etapa, dos aspectos 
específicos (descrição detalhada da lesão): 
 
1. Identificação do material: quantidade (por extenso) de fragmentos (para retirada 
parcial da lesão menores que 2,0 cm), segmentos (retirada parcial da lesão igual 
ou maior que 2,0 cm), peça cirúrgica (retirada total da lesão). 
2. Forma: redondo, esférico, oval, retangular, losangular, cilíndrico, cônico, papilar, 
digitiforme, nodular, irregular. 
3. Medida: comprimento x largura x altura, em mm ou cm. 
4. Cor: branco, amarelo claro, amarelo-alaranjado, verde claro, verde escuro, pardo 
claro, pardo escuro, preta, vermelha, laranja, café, marron... Evitar vícios tipo 
brancacenta, amarronzada, amarelada. 
5. Consistência: líquida, pastosa, friável, mole, cística, elástica, firme, firme-elástica, 
pétrea. 
6. Superfície externa ou de corte: homogênea, heterogênea, granulosa, lisa, 
áspera, microgranular, macrogranular, lobular (para tecidos cuja arquitetura normal 
é em lóbulos – glândula salivar, adiposo), espicular, sólida, cavitária, projeções 
digitiformes, capsulada, septada. 
7. Descrição da lesão identificável: seguir os mesmos itens acima descritos. 
 
- Quando o produto da biópsia é constituído por mais de um material a descrição será 
única quando os fragmentos forem semelhantes, sendo então diferenciados pelo tamanho 
(máximo de três) ou pelo maior e menor e medida do conjunto. Quando forem diferentes, 
procede-se a descrição de cada um separadamente. 
- No caso da existência de duas ou mais biópsias do mesmo paciente, devidamente 
identificadas na requisição, deve-se realizar as descrições separadas e identificadas de 
acordo com a indicação da requisição, por exemplo: 1 – mucosa jugal, 2 – língua; ou 1 – 
fragmento maior, 2 – fragmento menor. Sempre lembrando que a descrição é um 
documento de valor legal e que o que sempre deve predominar é o bom senso. 
 
Clivagem 
A melhor clivagem é aquela que contempla: a mais ampla visibilidade do material em 
exame pelo patologista, a melhor inclusão do material e a melhor microtomia. 
☻ Se o material em avaliação é produto de um puch igual ou maior que 0,5 mm ele deve 
ser seccionado ao meio, longitudinalmente. 
☻ Se o material em avaliação é produto de uma biópsia com bisturi e mede em sua 
largura 0,4 mm ou mais, ele deve ser seccionado ao meio no maior eixo do fragmento e 
deve-se indicar no mapa de clivagem o cuidado com a inclusão e, se necessário, a face 
oposta a de inclusão deve ser pintada com nanquim (anotar isto no mapa de clivagem) 
☻ Se material em avaliação é produto de uma biópsia excisional, deve-se sempre 
planejar a clivagem de modo a possibilitar a avaliação das margens cirúrgicas, ainda 
que em suspeita de lesão benigna. Aqui, obrigatoriamente, a face de inclusão 
(margem cirúrgica) deve ser pintada com nanquim (preferencialmente preto) 
Exemplos: 
 punch 
 
 
Atenção!!! um desenho esquemático da(s) lesão(ões), bem como da área de clivagem 
deve acompanhar o laudo manuscrito. 
 
Ao terminar a descrição macroscópica, deve-se indicar o número do cassete e de 
fragmentos contidos em cada um, bem como a referência se foi tudo incluído ou se 
permaneceu reserva do material. Como cada cassete irá originar um bloco, a identificação 
se faz do seguinte modo: 
 
 
 
 
 
Não esquecer de assinar e datar a descrição macroscópica, preencher o mapa de 
clivagem com cópia e entregar na técnica histológica para o processamento. A 
requisição deve permanecer na sala de macroscopia, na prancheta específica. Deixar o 
material utilizado para ser adequadamente lavado pelo técnico ou, na ausência no 
mesmo, proceder a lavagem adequada de todo o material e bancada. 
 
Exemplo de descrição de uma biópsia incisional de lesão ulcerada: 
MACROSCOPIA: 
Um fragmento elíptico de tecido pardo e elástico, medindo 1,0 x 0,6 x 0,2 cm, 
parcialmente recoberto por mucosa pardo-claro e lisa, exibindo depressão em uma das 
metades, delineada por margem levemente sobrelevada, medindo 0,5 x 0,4 cm, com 
B1 2F TI ou CR 
Número do 
cassete/bloco 
parafinado 
Número de 
fragmentos no 
cassete 
Tudo Incluído 
Com Reserva 
Exemplos de clivagem com limites cirúrgicos 
fundo granuloso e pardo-escuro. Ao corte, observa-se superfície homogênea, pardo-claro 
e elástica. 
B1 2F TI 
Eliane/Adrianna 
 
Processamento técnico 
 A observação de tecidos ou órgãos ao microscópio ótico exige que eles sejam 
cortados em fatias muito finas e corados. O processamento destes tecidos é constituído 
por várias etapas. 
 Após a clivagem, o material é colocado nos cassetes identificados e encaminhados 
à técnica histológica, onde são colocados do processador de tecidos (histotécnico) onde 
ocorrerá a desidratação, clarificação e impregnação do tecido. A desidratação 
habitualmente é realizada por meio de banhos sucessivos de álcool (etanol) que retiram a 
água do tecido. Após a desidratação procedemos à clarificação, em que o tecido é 
submetido a banhos em xilol, que retiram o álcool. Finalmente procedemos à 
impregnação em parafina, onde o xilol é substituído por parafina quente (60oC). Após a 
impregnação, os cassetes são retirados do histotécnico e levados para a central de 
inclusão em parafina. A inclusão é feita a partir da colocação do fragmento impregnado 
por parafina num molde de inox, que é preenchido por parafina líquida (60oC) e coberto 
com a base do cassete contendo a identificação do material. 
Todo este processamento visa a tornar o tecido suficientemente firme para que 
possa ser seccionado em finas fatias para ser observado ao microscópio. O 
processamento para microscopia eletrônica segue o mesmo fundamento, porém utiliza 
substancias químicas diferentes para a desidratação e clarificação e a inclusão é feita em 
resina plástica (Araldite ou outra). 
 O corte histológico é feito no micrótomo. Nele cortes geralmente com 4-5  (micra) 
de espessura são obtidos, distendidos em um banho-maria histológico, colocados sobre 
uma lâmina de vidro, desparafinizados, re-hidratados e corados. Depois da coloração, que 
rotineiramente é feita pela hematoxilina e eosina (HE), o material é novamente 
desidratado, clarificado e montado com uma lamínula e bálsamo do Canadá ou 
equivalente. O bálsamo do Canadá tem índice de refração semelhante ao do vidro, 
servindo como uma “cola invisível” entre lâmina e lamínula. A feitura das lâminas 
histológicas é um processo que requer habilidade, paciência e capricho do técnico 
responsável, além de exigir material de boa qualidade e equipamento de custo 
relativamente alto. 
O micrótomo e a inclusão em parafina não são métodos adequados para tecidos 
duros, que necessitam de inclusão em resina e micrótomo específico. Deste modo, é 
necessário submeter todos os fragmentos ósseos ou ósseo-cartilaginosos à 
descalcificação. O produto a ser utilizado pode variar em cada serviço, sendo o óxido 
nítrico o mais utilizado. Em nosso serviço estamos utilizando um produto comercializado 
pela Allkimia®, que deve ser mantido sempre em frasco de vidro e manipulado com 
muito cuidado. 
 
 
Instruções: 
1- Submeter o tecido ao descalcificador em no máximo 8 horas, sendo que, conforme 
tamanho e concentração de cálcio no fragmento, o tempo pode variar de 2 - 8 horas ou 
mais. Neste caso, nunca deixe o fragmento no descalcificador durante a noite. Lavar com 
água e deixar no álcool 70%. No dia seguinte lavar com água novamente e iniciar o 
processo. 
 2- Teste os fragmentos com alfinete ou lâmina de bisturi. Se, ao penetrarno tecido, 
perceber um “ranger” revelando textura vítrea, continue o processo. 
3- Concluído o processo de descalcificação, lave em água corrente por uma hora. Se 
houver reserva do material, conserve-o em formol à 10%. 
Observações: 
1. Ao executar a macroscopia, procure observar se existe algum fragmento pétreo, 
mesmo se diminuto. Este NÃO poderá seguir o processamento sem ser submetido à 
descalcificação. 
2. Fragmentos ósseos maiores que 0,4 cm devem ser seccionados ao meio tão logo o 
processo de descalcificação permita. Isto reduzirá o tempo de descalcificação e, 
principalmente, irá diminuir o tempo de exposição da parte externa do tecido ao 
descalcificador. 
3. A requisição do exame deverá ser duplicada (xerox ou manuscrito). Uma (original) 
segue o fluxo habitual, com uma observação manuscrita no alto e à direita: material no 
descalcificador ou material para ser descalcificado. A cópia permanece na caixa própria 
para requisições de materiais em processo de descalcificação.