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Culpada ou inocente comentários de internautas sobre crimes corporativos

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ISSN 0034-7590 © RAE | São Paulo | V. 53 | n. 6 | nov-dez 2013 | 617-628
CINTIA RODRIGUES DE OLIVEIRA
cintia@fagen.ufu.br
Professora da Faculdade de Gestão 
e Negócios, Universidade Federal de 
Uberlândia, Uberlândia – MG,Brasil.
VALDIR MACHADO VALADÃO JÚNIOR
valdirjr@ufu.br
Professor da Faculdade de Gestão e 
Negócios, Universidade Federal de 
Uberlândia, Uberlândia – MG,Brasil.
RODRIGO MIRANDA
rodmiranda02@gmail.com
Professor da Faculdade de Gestão e 
Negócios, Universidade Federal de 
Uberlândia, Uberlândia – MG,Brasil.
ARTIGOS
Recebido em 10.06.2012. Aprovado em 03.10.2012
Avaliado pelo sistema double blind review. Editor Científico: Alexandre de Pádua Carrieri
CULPADA OU INOCENTE? COMENTÁRIOS 
DE INTERNAUTAS SOBRE CRIMES 
CORPORATIVOS
Guilty or innocent? Comments from internet users about white-collar crime
¿Culpable o inocente? Comentarios de internautas sobre delitos corporativos
RESUMO
Neste artigo, analisamos comentários de internautas postados em notícias sobre crimes corporativos 
veiculadas na imprensa eletrônica nacional. Concentramos nossa análise em reportagens sobre um 
tipo específico de crime corporativo, o trabalho escravo, com o objetivo de identificar as concepções 
em torno do assunto, partindo da análise da dinâmica intertextual entrelaçada na sua produção. 
Como resultados, evidenciamos temas discursivos, discursos e ideologias imersos nos comentários 
analisados, sinalizando para a importância de se compreender a produção intertextual sobre a atua-
ção das corporações. 
PALAVRAS-CHAVE | Crime corporativo, ideologia, trabalho escravo, discurso, intertextualidade.
ABSTRACT
In this paper, we analyze comments from Internet users posted in news about white-collar crime found 
in the national electronic press. We focused our analysis on reports about a specific type of white-
collar crime, slave labor, with the objective of identifying the conceptions surrounding the subject 
based on a dynamic inter-textual analysis woven in its production. As a result, we observe discourse, 
speech and ideologies imbedded in the analyzed comments, indicating the importance of understan-
ding inter-textual production about corporate action. 
KEY WORDS | White-collar crime, ideology, slave labor, discourse, intertextuality.
RESUMEN
En este artículo, analizamos comentarios de internautas posteados en noticias sobre delitos corpo-
rativos difundidos en la prensa electrónica nacional. Concentramos nuestro análisis en reportajes 
sobre un tipo específico de delito corporativo, el trabajo esclavo, con el objetivo de identificar las 
concepciones en torno del tema, partiendo del análisis de la dinámica intertextual entrelazada en su 
producción. Como resultados, evidenciamos temas discursivos, discursos e ideologías inmersos en 
los comentarios analizados, señalando para la importancia de comprenderse la producción intertex-
tual sobre la actuación de las corporaciones. 
PALABRAS CLAVE | Delito corporativo, ideología, trabajo esclavo, discurso, intertextualidad. 
RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020130609
mailto:valdirjr@ufu.br
mailto:rodmiranda02@gmail.com
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020130609
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ISSN 0034-7590
ARTIGOS | Culpada ou inocente? Comentários de internautas sobre crimes corporativos
© RAE | São Paulo | V. 53 | n. 6 | nov-dez 2013 | 617-628
INTRODUÇÃO
A veiculação de notícias e informações em tempo real e em 
maior abrangência contribui para trazer à tona questões que 
incomodam a sociedade em geral e estimula o surgimento de 
grupos, movimentos e organizações (Greenpeace, Occupy Wall 
Street, Corporate Crime Reporter, Source Watch, entre outros), 
visando monitorar e denunciar corporações e governos, em ma-
nifestações que tomam proporções geográficas e sociais cada 
vez maiores. Ainda assim, práticas desse tipo tornaram-se parte 
do nosso cotidiano, associando as corporações a uma “impres-
sionante quantidade de devastação infligida sobre a vida hu-
mana e o meio ambiente” (PEARCE, 1993, p. 135). Diante de acu-
sações e denúncias, as corporações agem de diversas formas, 
ora defendendo-se, ora negando, amparando-se em um apara-
to ideológico e servindo-se de discursos que fabricam verdades 
sobre a sua atuação (BARLEY e KUNDA, 1992; FREITAS, 2000).
Unnever, Benson e Cullen (2008) exploram a discussão 
da culpabilidade e punição das corporações e seus agentes, ao 
analisarem a evolução da regulação e legislação criminal diri-
gida ao mundo corporativo, nos Estados Unidos, que ocorre do 
seguinte modo: um tipo de escândalo é descoberto; o clamor 
público demanda uma ação do governo; esse reage, formali-
zando uma acusação ou criando novas leis e regulações. Dessa 
questão, emergem outras, como as que orientam esta pesqui-
sa: Quais as concepções da sociedade diante de um crime cor-
porativo noticiado? Como se manifestam os leitores de notícias 
veiculadas na imprensa acerca da empresa denunciada por con-
duta criminosa? Ela é culpada ou inocente?
Na produção dos discursos que envolvem as organiza-
ções, notícias veiculadas pela imprensa tornam-se um elemen-
to fundamental, por constituírem-se em práticas discursivas do 
cotidiano que produzem os sentidos sobre os fenômenos so-
ciais (FAIRCLOUGH, 1992; DJIK, 1998). No caso das notícias vei-
culadas em jornais on-line ou webjornais, os leitores interagem, 
postando seus comentários, produzindo um texto (discurso) a 
partir de outros textos (discursos), que são sempre um intertex-
to em uma cadeia de textos em diálogo (FAIRCLOUGH, 1992). 
Assim, os comentários postados em notícias sobre corporações 
são discursos, cujos sentidos são produzidos pela interação so-
cial dos atores com outros textos, incluindo-se ideologias, vi-
sões de mundo e relações de poder (DJIK, 1998; FAIRCLOUGH, 
1992).
Nesta pesquisa, centramos nossa análise em reporta-
gens veiculadas na mídia eletrônica nacional, sobre um tipo 
específico de crime corporativo, o trabalho escravo, com o ob-
jetivo de identificar as concepções presentes em torno desse fe-
nômeno, analisando a dinâmica intertextual entrelaçada com a 
sua produção. A escolha por esse tipo de crime justifica-se pe-
las suas dimensões sociais, políticas e pelas suas estatísticas. 
Em 2005, a Organização Internacional do Trabalho (INTERNATIO-
NAL LABOUR OFFICE, 2007) estimou que cerca de 12,3 milhões 
de pessoas são forçadas ao trabalho, em todo o mundo; o pano-
rama traçado pela ONG Free The Slaves Americans aponta que, 
atualmente, 27 milhões de trabalhadores no mundo vivem em 
condições análogas ao trabalho escravo, gerando 40 bilhões de 
dólares para as empresas, por ano (REPÓRTER BRASIL, 2012). 
Organizamos o texto da seguinte forma: apresentamos, 
inicialmente, o contexto do domínio ideológico das corpora-
ções e dos crimes corporativos; em seguida, introduzimos o 
modo pelo qual conduzimos a pesquisa e descrevemos a abor-
dagem intertextual adotada para analisar os crimes corporati-
vos em comentários de internautas sobre o trabalho escravo; 
e, por fim, mostramos os resultados e as considerações finais.
CORPORAÇÕES, IDEOLOGIA 
NAS CORPORAÇÕES E CRIMES 
CORPORATIVOS
A corporação como forma de negócios surgiu no século XIX, 
mais propriamente sob o sistema institucional-legal norte-ame-
ricano, quando a produção artesanal foi suplantada pelo siste-
ma fabril. As particularidades do novo sistema de produção e a 
quantidade de capital necessária para construir e operar fábri-
cas impulsionaram a associação de capitais e modificaram os 
mecanismos de propriedade de empresas, inclusive, no âmbito 
legal. O modelo de corporação tornou-se o padrão para o gran-
de capital organizar suas empresas (CLINARD e outros, 1979). 
A forma moderna de corporação, que Peter Drucker 
(1993) descreve como a instituição econômica e social que ope-
ra negócios em larga escala (big business), em um sistema de 
livre-iniciativa (free-enterprise), é, para Tragtenberg (2005, p. 
16), “uma ideologia neocapitalista, cuja função éa legitimação 
do status quo como o único e desejável”. A maioria das corpo-
rações é formada por conglomerados, e, embora todas tenham 
linhas principais de negócios, adquiriram outras linhas de pro-
dutos por meio de fusões e aquisições, tornando-se mais fortes 
e poderosas na medida em que ficam protegidas contra flutua-
ções dos negócios e têm maior abrangência geográfica, cultu-
ral e social, além de maiores lucros (CLINARD e outros, 1979).
Assim, a relação entre o Estado, a sociedade e as cor-
porações, no contexto contemporâneo, adquiriu outras conota-
ções. O interesse de Weber (1991) nas organizações burocráti-
cas e suas formas de dominação abriu caminho para a visão 
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de que o modelo burocrático constitui-se em uma ameaça à li-
berdade do espírito humano e aos valores da democracia, pois, 
nesse processo, os controladores e gestores (TRAGTENBERG, 
2005) servem-se da racionalização administrativa para subor-
dinar os interesses e o bem-estar das massas. 
Inspirado no filósofo e sociólogo grego Nicos Poulant-
zas, Motta (1981) analisa que as empresas, como um aparelho 
de Estado, são sistemas cuja função é reproduzir a sociedade 
de classes, do mesmo modo que as instituições religiosas, mi-
litares e educacionais, sendo aquelas de natureza econômica, 
repressiva e ideológica. Alvesson e Deetz (2000, p. 84) consi-
deram que a Administração e os estudos organizacionais pro-
duzem ideologias legitimadoras e reforçadoras das relações so-
ciais e objetivos organizacionais específicos, as quais visam ao 
“controle cultural-ideológico ao nível do local de trabalho e pro-
porcionam uma aura científica para apoiar a introdução e o uso 
de técnicas de dominação administrativas”.
São vários os estudos (TRAGTENBERG, 1974; 2005; MO-
TTA, 1981, 1992; BARLEY, MEYER, GASH, 1988; BARLEY e KUN-
DA, 1992; FREITAS, 2000; FARIA, 2004; entre outros) que discu-
tem a ideologia nas corporações, bem como a forma pela qual 
ela é criada, reproduzida e transmitida. Wood Jr. e Paula (2006, 
p. 94), por exemplo, utilizando a denominação de cultura do 
management para definir “um conjunto de pressupostos com-
partilhados pelas organizações e, em larga medida, imbuída no 
tecido social”, apontam, entre outros pressupostos: a crença 
numa sociedade de mercado livre; a visão do indivíduo como 
autoempreendedor; o culto da excelência como forma de aper-
feiçoamento individual e coletivo; o culto de símbolos e figuras 
emblemáticas, como “palavras de efeito” (inovação, sucesso, 
excelência) e “gerentes heróis”; a crença em tecnologias geren-
ciais que permitem racionalizar as atividades organizacionais.
Já Barley, Meyer e Gash (1988) e Barley e Kunda (1992), 
referindo-se ao mesmo fenômeno, afirmam que, desde 1870 até 
os dias atuais, surgiram ideologias gerenciais, como melhoria 
industrial, administração científica, capitalismo do bem-estar 
e relações humanas, racionalismo sistêmico e cultura organi-
zacional, reforçando o domínio das empresas nas esferas eco-
nômica, social e cultural. Essa sucessão de ideologias, acresci-
da de outras (MOTTA, 1992; FREITAS, 2000; WOOD JR. e PAULA, 
2006), incluindo-se nessas o próprio conceito de corporação 
(TRAGTENBERG, 2005), influencia sobremaneira a vida social, 
sendo transmitida por meio de mensagens, recursos simbólicos 
e outras manifestações discursivas.
Para Fairclough (1993), o discurso é uma prática política, 
haja vista que estabelece, mantém e transforma as relações de 
poder e as entidades coletivas nas quais essas relações existem; 
é também, entretanto, uma prática ideológica. As ideologias pre-
sentes nas práticas discursivas das corporações obscurecem as 
reflexões de empregados, consumidores e da sociedade em ge-
ral sobre suas ações (ALVESSON; DEETZ, 2000), como os crimes 
corporativos, que colocam a sociedade em risco. Os crimes cor-
porativos ou business crimes despertaram maior interesse de so-
ciólogos e criminologistas na década de 1930, e, ainda hoje, seu 
conceito é motivo de controvérsias. Braithwaite e Geis (1982, p. 
294), por exemplo, definem crime corporativo como a “conduta 
de uma corporação ou de indivíduos agindo em benefício de uma 
corporação, que é prescrito e punível por lei”, diferentemente de 
Baucus e Dworkin (1991, p. 234), pois, para essas autoras, so-
mente podem ser consideradas crime corporativo aquelas “viola-
ções da lei criminal em que os tribunais decidiram que a firma co-
meteu um ato criminal”. No campo jurídico, o termo crime é uma 
categoria legal, referindo-se a um tipo de conduta particular que 
as instituições reconhecem como criminosa. Para os cientistas 
sociais (sociólogos e criminologistas), contudo, essa definição 
não comporta a complexidade do termo, visto que se orientam 
para a descrição de padrões desse comportamento, suas causas 
e as atitudes da sociedade diante do crime (PAYNE, 2012). 
Alexander e Cohen (1999) e Simpson e Piquero (2002) 
associam os crimes corporativos ao desempenho anterior da 
empresa e às pressões e barreiras para esta obter desempe-
nho superior, sendo incentivados pela estrutura, processos e 
cultura. A escolha das condutas a serem tomadas nas corpora-
ções é motivada pelos seus interesses, não importando quais 
serão suas consequências. No decurso de suas funções, exe-
cutivos, gerentes e trabalhadores agem e tomam decisões se-
gundo o conjunto de normas, procedimentos, políticas e regu-
lamentos da empresa que os aprisiona, resultando, para esta, 
em economia de custos. As corporações não querem assumir os 
custos incorridos pelos crimes corporativos (MOKHIBER, 1995), 
preferindo adotar práticas que lesam a sociedade em geral (CLI-
NARD e outros, 1979), gerando uma miopia coletiva (CHIKUDA-
TE, 2009). Uma visão sociológica do crime corporativo amplia, 
assim, a compreensão do comportamento criminal, no âmbito 
das corporações, o qual não pode ser analisado apenas como 
um desvio pessoal, e, sim, como um produto das relações entre 
os membros de determinados sistemas organizacionais. 
Para Schrager e Short Jr. (1978), as vítimas dos crimes 
corporativos são descritas em três categorias: empregados (al-
tos níveis de riscos, condições de trabalho ilegais, exposição a 
substâncias e condições cujos efeitos potenciais em longo pra-
zo não são conhecidos); consumidores (produtos prejudiciais e 
perigosos); e o público em geral, que sofre os impactos dos pro-
cessos e produtos introduzidos no meio ambiente. Um dos tipos 
de crimes cometidos por corporações com altos custos sociais 
é o trabalho escravo. A condição análoga à de escravo é defini-
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da, pelo Código Penal Brasileiro, como a submissão do empre-
gado “a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujei-
tando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, 
por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída 
com o empregador ou preposto” (INSTITUTO OBSERVATÓRIO SO-
CIAL, 2004, p. 8). Por trabalho forçado ou escravo, entende–se 
aquele em que empregadores ou prepostos recorrem à coação 
física ou moral e privação da liberdade do empregado, sendo 
comum a retenção de documentos e práticas de servidão ba-
seadas em dívidas contraídas para o consumo, no próprio traba-
lho, de alimentos, roupas, ferramentas, alojamento e transpor-
te, configurando-se na escravidão por dívida (MARTINS, 1994).
Discordando do termo “condição análoga à de escravo”, 
visto entender que é mesmo escravidão, Martins (1994) discu-
te uma das formas escravistas de relações de trabalho presen-
tes na sociedade capitalista, a escravidão por dívida, como a 
variação extremada do trabalho assalariado em condições de 
superexploração do trabalhador, a ponto de comprometer sua 
sobrevivência. Oferecendouma compreensão sociológica da 
persistência e da revitalização do trabalho escravo no Brasil, 
Martins (1994, p. 2) mostra como a escravidão por dívida, en-
contrada em diferentes atividades econômicas, constitui-se em 
uma “prática de empresas cuja lógica econômica, caracteristi-
camente capitalista e moderna, faz supor que nelas a escravi-
dão seria uma contradição e uma irracionalidade”.
Essas práticas, que se configuram como crime, encontra-
ram espaço para crescer, diante da tolerância do público em re-
lação a sua ocorrência. A criminalidade nas ruas, historicamen-
te, recebeu maior atenção por parte dos governos, resultando na 
adoção de políticas públicas de controle mais punitivas contra o 
crime. Em relação à criminalidade corporativa, porém, a despei-
to da onda de escândalos, não foi dirigida a atenção necessária, 
resultando em uma lacuna (UNNEVER, BENSON, CULLEN, 2008). 
Conforme Payne (2012), a população em geral considera as ofen-
sas corporativas como sérias apenas quando suas consequên-
cias são físicas, substanciais e, relativamente, imediatas. E, ain-
da, a ambiguidade da opinião pública diante do comportamento 
corporativo ilegal faz com que a lei também seja ambígua. 
Conforme Snider (2000) alerta quanto ao “desapareci-
mento do crime corporativo”, os grupos dominantes (enten-
da-se interesses capitalistas) e uma elite gerencial (entenda-se 
executivos de grandes corporações) foram competentes em de-
senvolver um discurso, ou produzir uma verdade, sobre o que 
seja crime corporativo, mais compatível com seus interesses. 
Dessa forma, os crimes cometidos em nome da racionalidade 
escondem-se atrás de uma suposta fatalidade e, ainda, são co-
metidos por seres humanos, contra seres humanos, em nome 
de uma entidade, a corporação.
DESCRIÇÃO DA ESTRATÉGIA DE 
PESQUISA E ANÁLISE
Nossa pesquisa, de natureza qualitativa, concentra-se nos co-
mentários de internautas sobre notícias de um tipo de crime 
corporativo veiculadas em jornais eletrônicos nacionais, es-
pecificamente, as denúncias contra a Zara, empresa do grupo 
espanhol Inditex, sobre a utilização de trabalho escravo. Em 
agosto de 2011, os principais jornais do País noticiaram uma 
operação de investigação da Superintendência Regional do Tra-
balho e Emprego de São Paulo, tendo sido flagrados trabalha-
dores submetidos a condições de superexploração do trabalho 
e escravidão por dívida, naquele estado, produzindo peças de 
roupa para essa marca internacional. 
Diante da quantidade considerável de webjornais ou jor-
nais on-line no Brasil, optamos por selecionar as versões ele-
trônicas de dois grandes jornais do estado onde ocorreram as 
denúncias: Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. Uma análi-
se de suas versões on-line permitiu verificar a existência de pos-
tagens nas notícias veiculadas. Inicialmente, inserimos no siste-
ma de busca da Folha.com a expressão “Zara trabalho escravo”, 
o qual retornou 18 notícias, das quais 17 geraram 715 comentá-
rios de internautas (Tabela 1), entre os dias 18 de agosto de 2011 
e 30 de dezembro de 2011. Repetimos o procedimento no siste-
ma de busca do Estadão.com.br, o que resultou em 20 notícias, 
das quais apenas 8 tinham postagens, totalizando 106 comentá-
rios (Tabela 2). Assim, o corpus de pesquisa constitui-se dos 821 
comentários postados pelos internautas, em 25 notícias, mate-
rial considerado suficiente para os nossos propósitos.
Os comentários dos internautas têm sido utilizados (EFI-
MOVA e MOOR, 2005) no campo dos estudos da sociologia, an-
tropologia e comunicação. Nos estudos organizacionais, as pos-
tagens de internautas são uma fonte rica para análise, quando 
se pretende conhecer opiniões e concepções heterogêneas e 
multifacetadas sobre determinados aspectos relacionados às 
organizações e gestão. Os internautas são leitores e produtores 
de textos e, ainda que estejam espalhados por diversos lugares, 
se entrelaçam em uma rede de interações ricas e heterogêneas. 
No caso dos webjornais, os leitores interagem entre si, partici-
pando da construção da notícia. Conforme Rheingold (1996, p. 
156), “não existe uma subcultura on-line única e monolítica, mas 
antes um ecossistema de subculturas, umas frívolas e outras sé-
rias”. Assim, consideramos o internauta como o autor e leitor 
ideal, ou seja, aquele que é pressuposto pela obra.
As notícias veiculadas na mídia participam da constru-
ção de representações de mundo, identidades sociais e, ainda, 
constroem versões da realidade conforme determinados propó-
sitos (FAIRCLOUGH, 1993; LI, 2009), pois os textos são organi-
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TABELA 1. Notícias veiculadas sobre o trabalho escravo na Zara na Folha.Com (2011)
Data Notícia Q*
17/08
1. Zara reconhece trabalho irregular em 3 confecções de SP 140 
2. Internautas atacam Zara após denúncia de trabalho escravo – redes sociais 24
18/08
3. Editora de Moda comenta trabalho irregular em confecções da Zara 21
4. Voltar para a Bolívia não é uma opção, diz vítima de exploração em SP 27
5. Zara revisará condições trabalhistas de fornecedores no Brasil 3
6. Multas trabalhistas aplicadas à Zara somam R$ 1 milhão 108
7. Mais 6 marcas serão investigadas por trabalho irregular 160
19/08
8. Ação da Inditex, dona da Zara, cai 4% por denúncias em SP 26
9. 35 marcas de roupa são investigadas por trabalho irregular 74
28/08 10. Assembleia convocará Zara para esclarecer trabalho degradante 1
31/08 11. Ausência da Zara em assembleia pode resultar em CPI 7
15/09
12. Zara anuncia a criação de disque-denúncia 19
13. Zara aguarda Ministério Público para indenizar trabalhadores 5
21/09 14. Presidente da Zara nega que sabia de trabalho irregular em SP 17
15/10 15. Ministério Público propõe que Zara pague até R$ 20 mi 39
30/11 16. Fracassa acordo entre Zara e Ministério Público 18
19/12 17. Procuradoria desiste de indenização de R$ 20 mi contra a Zara 26
715
* Q = quantidade de comentários
Fonte: dados de pesquisa
TABELA 2. Notícias veiculadas sobre o trabalho escravo na Zara no Estadão.com.br (2011)
Data Notícia Q*
17/08 18. Fiscalização flagra trabalho escravo em oficinas da marca Zara em SP 28
18/08 19. Zara é envolvida em denúncia de trabalho escravo 11
19/08 20. Após Zara, trabalho escravo é investigado em 20 grifes 14
29/08 21. Deputados convocam Zara para explicar trabalho escravo 1
31/08 22. Acusada de trabalho escravo, Zara não comparece em audiência 11
14/09 23. Após flagra, Zara cria linha para denúncias de trabalho escravo 5
20/12 24. MP dá 'desconto' de 80% na multa da Zara por trabalho escravo 19
30/12 25. Ministério inclui 52 novos nomes na lista do trabalho escravo 17
106
* Q = quantidade de comentários
Fonte: dados de pesquisa
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zados, produzidos e transformados dentro de um processo de 
construção ideológica. Dessa forma, as notícias sobre as corpo-
rações produzem sentido sobre, entre outros aspectos, o que 
essas são, o que fazem e como fazem, servindo de fragmento 
para a composição de outros discursos. Esses, por sua vez, adi-
cionados a outros já existentes, reproduzem e/ou transformam 
representações sociais, crenças e valores sobre as corporações 
e o contexto socioeconômico e cultural do qual fazem parte.
Nesta pesquisa, adotamos a intertextualidade, conforme 
Fairclough (1992), que a define como a propriedade que os tex-
tos têm de se constituírem de fragmentos de outros textos, os 
quais podem ser delimitados, explicitamente ou não, e, ainda, 
de transformar textos anteriores e reestruturar convenções exis-
tentes. Fairclough (1992) propõe a análise intertextual em dois 
aspectos: (1) intertextualidade manifesta – os textos aos quais 
o autor recorreu estão explícitos dentro do texto analisado; e (2)intertextualidade constitutiva ou interdiscursividade – os tipos 
de discurso que entram na sua produção.
Quanto à intertextualidade manifesta, Fairclough (1992) 
a discute em cinco aspectos: (1) representação do discurso – 
aquele discurso que é relatado pelo autor, distinguindo-se do 
discurso indireto por representar, explicitamente, o que o ou-
tro disse; (2) pressuposições – proposições tomadas pelo au-
tor do texto como estabelecidas, podendo ter intenção mani-
pulativa ou não; (3) negação – contestação de outros textos, 
buscando contradizê-los; (4) ironias – disparidade entre um 
enunciado e o que foi ecoado; e (5) metadiscurso – distancia-
mento do autor por meio de expressões evasivas, metáforas e 
outros recursos.
A esses dois tópicos, acrescentamos um terceiro: ideolo-
gias manifestas, neste caso, das corporações. Para Fairclough 
(1993), ideologias são significados ou representações da rea-
lidade geradas entre as relações de poder que se manifestam, 
implicitamente, nas práticas discursivas, em todas as instân-
cias e contextos sociais, contribuindo para estabelecer, manter 
e mudar as relações sociais, estando subjacentes à intertextua-
lidade manifesta e discursiva.
Ao considerar o caráter intertextual dos comentários se-
lecionados, procuramos analisá-los focalizando os textos espe-
cíficos aos quais os internautas recorrem (intertextualidade ma-
nifesta), os tipos de discursos (intertextualidade constitutiva) e, 
por fim, as ideologias. Ressaltamos que, dado o caráter qualita-
tivo da pesquisa, nos preocupamos em identificar os elementos 
de análise, sem nos deter na sua quantificação.
Para operacionalizar nossa proposta, criamos um arqui-
vo para cada uma das reportagens e seus comentários, aos 
quais atribuímos um número para sua identificação na notícia 
(por exemplo, C1.1 refere-se ao comentário 1 da notícia 1). Em 
seguida, analisamos os comentários, buscando identificar os 
elementos da análise intertextual, os quais apresentamos na 
seção a seguir.
INTERTEXTUALIDADE NOS 
COMENTÁRIOS DE INTERNAUTAS SOBRE 
UM TIPO DE CRIME CORPORATIVO, O 
TRABALHO ESCRAVO
Nesta seção, apresentamos os resultados em três aspectos da 
análise intertextual.
Intertextualidade manifesta: fragmentos
Os comentários de internautas sobre o trabalho escravo são 
constituídos de fragmentos de outros textos que dialogam en-
tre si. Esses textos expressam as representações de mundo dos 
internautas sobre o assunto em foco e, tecidos com outros tex-
tos, formam a trama do texto, que pode, conforme Fairclough 
(1993), ser reconhecida pela representação do discurso, pres-
suposições, metadiscurso, negação e ironias.
A representação do discurso é manifestada por várias ve-
zes nos comentários analisados. O programa A Liga, da Rede 
Bandeirantes, é citado, em vários comentários, pela realização 
de duas reportagens sobre o assunto: “Eh Pholha! Tá atrasada! 
‘A LIGA’ mostrou essa matéria ontem, em furo de reportagem, 
inclusive, cobrindo a ação dos fiscais do trabalho e da receita. 
Eh jornaleco atrasado sô!” (C39.1) e “Será que se o programa ‘A 
Liga’ não tivesse mostrado os trabalhadores, os diretores da tal 
marca Zara teriam reconhecido o trabalho irregular na confec-
ção?” (C35.1). Os internautas recorrem a outro texto, no caso, o 
programa televisivo, para comentar a notícia da Folha.com, in-
dicando que o fato já é de seu conhecimento.
Além desse programa, outros discursos são representa-
dos, relatando que a prática de trabalho escravo ocorre em ou-
tros locais, como é o caso da Associação Brasileira da Indústria 
Têxtil, cujo endereço eletrônico é mencionado pelo internauta: 
“No Camboja, os funcionários de uma oficina, que produz pe-
ças para a Zara, desmaiaram durante o expediente. O inciden-
te, que aconteceu no dia 25 de julho, atingiu cerca de 100 cola-
boradores da fábrica. Pode confirmar no site www.abit.com.br” 
(C12.1), e do Jornal Nacional, da Rede Globo: “De acordo com re-
portagem de ontem do Jornal Nacional, os bolivianos recebem 
vinte centavos por peça costurada. Isso é exploração, é escravi-
dão!” (C.78.1), em que o internauta interpreta a exploração do 
trabalhador como trabalho escravo.
http://www.abit.com.br
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Identificamos, ainda, uma referência a Karl Marx, repre-
sentada no C10.25: “E ainda dizem que os preceitos do velho 
Marx estão ultrapassados!”, em que o internauta faz referência 
à exploração do trabalhador pelo capitalista como algo atual, 
ao contrário de outros textos (não identificados) que apregoam 
estarem as ideias marxistas ultrapassadas. 
O texto religioso também é representado de maneira ex-
plícita: “A bíblia FUNDAMENTA a escravidão! Levítico 25:44 E 
quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das na-
ções que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e es-
cravas” (C3.25). Os internautas utilizam, ainda, trechos da no-
tícia para reforçar sua opinião, não sobre o trabalho escravo, 
mas sobre a ineficiência do sistema, como no caso do C5.12: “é 
que eles contrataram auditores cegos, surdos e mudos. Por isso 
não sabiam de nada. Aprenderam rápido com nosso ex” (grifos 
no original). O comentário ganha a extensão de outros fatos do 
cenário político nacional, utilizando-se da ironia. Os internau-
tas comentam ironicamente (por exemplo: “Parece que desco-
briram a pólvora (C1.1)”) que esse fato não deveria surpreender 
a população, pois denúncias sobre trabalho escravo no Brasil 
são comuns.
Os comentários de internautas sobre as denúncias 
contra a empresa Zara pela prática de trabalho escravo evi-
denciam diversas facetas, quando analisados pela intertex-
tualidade (FAIRCLOUGH, 1993). O trabalho escravo objeto de 
denúncia contra a empresa configura-se na escravidão por 
dívida (MARTINS, 1994), uma forma contemporânea de escra-
vidão, que também se configura em um tipo de crime cor-
porativo, conforme a visão de diversos autores, como Brai-
thwaite e Geis (1982), para os quais o crime corporativo é a 
violação “punível por lei”. 
No comentário C3.3, o internauta relata o discurso de 
uma entrevistada, para, ao mesmo tempo, fazer uma negação, 
apontar que o dito da entrevistada é “um absurdo”, sugerindo 
que conhece a definição de trabalho escravo. “Desde quando 
pagar pouco por muito trabalho é uma definição de trabalho es-
cravo? Foi isto que a Editora de Moda disse e é absurdo” e, ain-
da, o metadiscurso: “Então, a maioria dos trabalhadores no Bra-
sil, e em outras partes do mundo, é escrava (talvez até alguns 
dentro da Folha/UOL)!” (C3.3). 
Identificamos, nos comentários dos internautas, várias 
pressuposições, como o desprezo da empresa pelo ocorrido: 
“Ixe... os caras [Zara] não estão nem aí...” (C3.25) e o trabalho 
escravo como algo comum nas políticas das empresas espanho-
las, sendo o lucro “mais importante”:
Essa conversa toda para esses espanhoes [sic] 
é mole para boi dormir. O intuito deles, a visão 
de America, sempre foi de exploração e colônias 
[sic]. Eles vão esfriar o assunto até que não se 
lembrem mais (entenda-se corromper alguns). 
A politica das empresas desse pais [sic] sempre 
foi de despreso [sic] pelos Sul Americanos e o 
mais importante é levar o máximo de lucro, doa a 
quem doer. Essa cambada deveria levar um belo 
sermão e serem convidados a se retirar do país 
(C20.5).
No comentário C23.2, a pressuposição do internauta a 
respeito das grandes fortunas é de que são conquistadas à cus-
ta de exploração do trabalho, e, ainda, relembra um crime prati-
cado, recentemente, por outra empresa.
Sempre atrás de grandes fortunas existem gran-
des segredos, Sugeiras [sic]. Roubos, desones-
tidades, trambicagens, manipulações, Menti-
ras, trapaças, explorações e todo tipo e estilos 
de ladroagens enriquecimento elícitos [sic]. Que 
às vezes são coniventes com justiça e poder pú-
blico... Ou Será que algum se esqueceu da Das-
lú [sic] (C23.2).Ao analisar a intertextualidade manifesta nos comentá-
rios dos internautas, identificamos fragmentos explícitos de vá-
rios outros textos. A representação do discurso de associações, 
jornais televisivos e eletrônicos, da Bíblia, entre outros, indica 
que os internautas expressam sua visão de mundo, especifica-
mente, a respeito de um tipo de crime corporativo, o trabalho 
escravo, com base em outros textos aos quais tiveram acesso, 
porém esses não são textos de cunho acadêmico. 
Ao expressar sua visão de mundo, os internautas uti-
lizam-se da ironia, que, conforme Fairclough (1993), ocorre 
quando há dissonância entre o significado do texto e o contex-
to no qual ele está inserido. Quanto ao aspecto da negação, 
os internautas contestam as notícias, principalmente, quando 
se referem às ações do Estado. O metadiscurso, que se carac-
teriza por expressões próprias, de modo que o autor distingue 
seu próprio texto (FAIRCLOUGH, 1993), foi por nós identifica-
do, várias vezes, quando os internautas apresentam suas con-
clusões.
Os internautas expressam suas concepções acerca do 
trabalho escravo, sendo as mais comuns: (a) as multinacionais 
exploram o trabalhador; (b) o trabalho escravo deve ser comba-
tido pelo Estado; (c) o trabalho escravo é algo comum no Brasil 
e no mundo; (d) o trabalho escravo é fruto de uma longa histó-
ria de escravidão.
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Intertextualidade constitutiva: temas 
discursivos
A intertextualidade constitutiva ou interdiscursividade ocorre 
quando o autor do texto recorre a outros de maneira implícita. 
Nesta seção, apresentamos os temas discursivos mais recorren-
tes nos comentários dos internautas, observando que não são 
os únicos.
Tema 1: O Estado, ineficiente e corrupto, é culpado por as 
empresas praticarem o trabalho escravo. 
Esse é um discurso bastante recorrente. O Estado é o ver-
dadeiro culpado, e não a empresa, pois ele favorece essas prá-
ticas ao regulamentar a terceirização.
[...] Acusar estas empresas de trabalho escravo é 
no mínimo precipitação. [...] O que de fato está er-
rado não é a iniciativa da Zara ou de outras empre-
sas citadas, mas sim a possibilidade que a lei cria 
com a terceirização. [...] O ESTADO É O VERDADEI-
RO VILÃO DESTA SITUAÇÃO e olha que sequer citei 
as tais cooperativas de trabalho (C3.18).
Comentários que condenam a empresa Zara também são 
comuns, porém o crime cometido pela empresa é produzido em 
uma rede de agentes, entre empresas e governos, dificultando 
a sua evitação.
Cadeia nessa empresa ZARA, multinacional da 
moda escravista, deve ter aprendido com as elites 
brasileiras escravistas, cadeia nestes empresários 
corruptos e corruptores dos trabalhadores e dos 
serviços públicos. [...] Esses capitalistas corrupto-
res são os patrocinadores dos corruptos, pagan-
do propinas para receberem em dobro do ESTA-
DO, gerando corruptos públicos e privados (C2.9).
Tema 2: A população deve boicotar as empresas que uti-
lizam o trabalho escravo e cometem outras práticas abusivas.
Identificamos, em muitos comentários, outros textos im-
plícitos, como o discurso do “consumo consciente”.
Vamos ser consumidores conscientes. Não com-
pre nada de empresas que usam trabalho escra-
vo ou infantil. Mostre sua indignação. Rejeite 
estas marcas. Avise a todos os seus contatos. Di-
vulgue esta notícia. Vamos fazer valer nosso di-
reito. Quem não age direito tem de ser denuncia-
do (C9.1).
Os clientes e consumidores são chamados a reagir, boico-
tando a marca. O discurso da força do cliente também é evoca-
do: “Vamos dar o exemplo e boicotar essa empresa. Não precisa-
mos esperar a justiça formal. Cada um de nós que boicotar essa 
empresa, ajudará a mostrar o quanto isso é inaceitável. Justiça 
maior será a loja fechar as portas por falta de consumidores. Esse 
poder está nas nossas mãos” (C2.2).
Tema 3: As empresas são “psicopatas sociais”, seus lu-
cros são tão altos que compensam qualquer multa.
Esse tema reúne comentários que vão ao encontro da ideia 
de que os empresários agem para servir aos interesses de acu-
mulação de capital, no mesmo sentido dos argumentos de Motta 
(1981; 1992), Tragtenberg (2005) e Morgan (1996), quanto ao fato 
de que as multas são insignificantes perante os lucros auferidos. 
As corporações ganham personalidade psicopata no C12.14, quan-
do o internauta utiliza textos sobre o capitalismo selvagem, e, no 
C1.14, o internauta questiona se os “Empresários do Ano no Brasil” 
se importam com as condições de trabalho de seus empregados.
Multinacionais em geral são psicopatas sociais. 
Elas pouco se importam com o social. Usam a po-
pulação desprotegida para chegar por qqer [sic] 
meio ao lucro. Eles mentem ao dizendo não ter 
culpa mas esse eh só mais um sintoma de psi-
copatia. Tao pouco mostram remorsos ou qqer 
[sic] outro sentimento em relação danos causa-
dos ao próximo [sic]. São frutos do capitalismo 
‘selvagem’. Sabem usar a mídia muito bem para 
nos fazer acreditar numa falsa democracia. Infe-
lizmente, muitos são iludidos p/ seus falsos va-
lores (C12.14).
Vejam os exemplos dos Empresários do Ano no 
Brasil, comandam Cadeias enormes, movimen-
tam milhões de mercadorias, empregam milha-
res de pessoas, mas não abaixam a rentabilidade 
para melhorar as condições de seus emprega-
dos... Pagam salários mínimos. Eles realmente 
se importam? (C 1.14).
Tema 4: As empresas são vítimas: os empresários não sa-
bem o que fazem seus fornecedores, e os impostos e taxas são 
tão altos que é impossível arcar com eles.
Para C1.1, a Zara é vítima, porém não a exime de culpa de 
comprar “destas empresas”: “COMO É A ZARA ESTÃO FAZENDO 
ESTE AUE [sic] TODO. NOTE QUE A ZARA É COMPRADORA DESTAS 
EMPRESAS, PORTANTO ELA TAMBÉM É VÍTIMA. ISTO NÃO TIRA A 
CULPA DELA. TEM COISA PIOR” (C1.1).
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Tema 5: A sociedade é hipócrita, pois o trabalho escravo 
é uma prática comum. 
Em muitos comentários, o interdiscurso é de que “Isso 
não é novidade para ninguém. Não é somente a Inditex (Zara) 
que faz isso” (C4.1). O trabalho escravo é uma prática co-
mum, estando à vista de qualquer pessoa que queira con-
firmar. 
é só ir na josé paulino e adjacências e olhar 
para os andares superiores das lojas. são antro 
de prisões de coreanos, chineses, bolivianos 
que em troca de comida e abrigo se dipõem a 
trabalhos que chegam até mesmo a prostituição 
de menores. é só ir la [sic] e confirmar. mas... 
(C1.1).
Ainda, no comentário de C2.1, o internauta manifesta-se 
sobre a continuidade dessa prática, ao questionar se alguém 
vai deixar de comprar: “Mas as roupas e demais acessórios (ele-
trônicos, tênis, etc) vendidos na Zepa (R. José Paulino) e 25 de 
março também não são oriundas de trabalho escravo? E alguém 
deixa de comprar?????????” (C2.1).
Ideologias nas corporações
Para finalizar nossa análise, identificamos que a interação entre 
os significados e visões de mundo expressas nos comentários 
dos internautas, apesar de não reproduzir as ideologias corpo-
rativas, é utilizada como um esforço para compreender e ex-
plicar por que o trabalho escravo é uma prática adotada pelas 
empresas. Entre as ideologias corporativas manifestadas, apre-
sentamos, a seguir, as duas mais significativas, as quais fazem 
parte dos pressupostos da “cultura do management” (WOOD JR. 
e PAULA, 2006).
As tecnologias gerenciais,
como a terceirização, permitem racionalizar 
as atividades organizacionais
A racionalização dos processos permite às empresas 
maior produtividade, trazendo consequências (TRAGTENBERG, 
1974; 2005; MOTTA, 1981; 1992; MORGAN, 1996, entre outros) 
para o trabalhador e a sociedade. A racionalização dos proces-
sos empresariais é uma ideologia gerencial (BARLEY, MEYER, 
GASH, 1988; BARLEY e KUNDA, 1992)e, como tal, é utilizada 
para explicar por que essas práticas (condições de trabalho 
abaixo da crítica) persistem nas empresas, e, ainda, aponta 
para sua naturalização.
Hoje a palavra de ordem é bater as metas, ga-
nhar mais e gastar o mínimo possível. Alguém 
de dentro da ZARA sabia sim dessas coisas, mas 
como vivemos no país na impunidade, é vantajo-
so continuar a economizar na mão-de-obra. Não 
se preocupem já já todo mundo esquece disso 
(C15.9).
Toda terceirização carrega consigo o potencial 
de gerar a precarização das condições de traba-
lho. [...] Medalhões ganham contratos milioná-
rios dos governos para prestar serviços de segu-
rança, limpeza, transporte, etc. Esses medalhões 
terceirizam os serviços para os “gatos”, e estes 
contratam “escravos”, que receberão salários 
humilhantes e condições de trabalho abaixo da 
crítica. [...] (C20.8).
Diversos comentários, a exemplo de C20.8, manifestam 
a ideia de que o trabalho escravo é caracterizado pela explora-
ção dos trabalhadores e das condições de trabalho a que esses 
são submetidos.
Sociedade de livre mercado
Identificamos, nos comentários, que a crença em uma socieda-
de de livre mercado é utilizada para explicar (sem justificar) as 
ações da empresa: “Incrível o que o poder econômico, com cla-
ro consentimento de autoridades públicas, ainda faz com o tra-
balhador em pleno século XXI” (C5.1), referindo-se ao poder das 
corporações perante o Estado. Esse poder é analisado por Mot-
ta (1981), que as considera um aparelho de Estado, cuja função 
é reproduzir a sociedade de classes, do mesmo modo que as 
instituições religiosas, militares e educacionais.
Essa crença também está presente no comentário C3.3, o 
qual questiona os deveres do Estado e a transferência de suas 
funções ao setor privado: “Quer dizer que agora o trabalho de 
fiscalização quanto ao cumprimento da legislação trabalhista 
também cabe ao setor privado? É mais uma função pública que 
está sendo transferida ao privado? [sic]” (C3.3).
Os crimes corporativos são cometidos pelas corpora-
ções na busca por desempenho superior (ALEXANDER e COHEN, 
1999; SIMPSON e PIQUERO, 2002), produzindo, como vítimas, 
consumidores, trabalhadores e a sociedade em geral, os quais 
arcam com os custos sociais e materiais advindos desses cri-
mes (SCHRAGER e SHORT JR, 1978). Nesse sentido, os internau-
tas se manifestaram, em seus comentários, quanto aos moti-
vos pelos quais esse tipo de crime ocorre, entre eles, a busca 
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por maiores lucros na forma de racionalização do trabalho e re-
dução de custos por parte das corporações e a ineficiência, o 
descaso e a corrupção do governo e agentes fiscalizadores. Ma-
nifestam-se, também, a respeito do fato de as empresas trans-
ferirem os custos para a sociedade, pois, ainda que suas práti-
cas incorram em multas e outras despesas, continuam sendo 
lucrativas (MORGAN, 1996; MOKHIBER, 1995).
Para o internauta que postou o C5.7, a exploração faz 
parte do sistema capitalista e expressa reconhecimento do 
modo pelo qual as ideologias corporativas obscurecem a re-
flexão:
É tudo hipocrisia! Onde é que se viu o capitalis-
mo sem a exploração. A gente é forçada a cor-
rer atrás dessas bobagens, sem o direito de se 
defender. A lavagem cerebral que nos leva atrás 
dessas besteiras acontece diariamente, sem dar-
mos conta. Se hoje um miserável, que vive com 
menos de um dólar por dia, possa também ter 
iPod, mp4, celular e adidas, é graças a esses paí-
ses chamados China e Índia. Porque não faz sen-
tido alguém colocar diariamente um prato de co-
mida à minha frente sem que possa degustá-la 
(C5.7).
Ainda quanto a essa questão, a sociedade do consumo é 
referenciada: “A diferença de preço só demonstra como a socie-
dade se tornou tola no consumo. [...] somos vítimas dos nossos 
próprios valores” (C25.8) (grifo no original).
Quanto à concepção de trabalho escravo, reproduzimos 
um comentário postado no qual o internauta contesta a utiliza-
ção do termo “escravidão” para referir-se às condições denun-
ciadas no caso.
O termo “Escravidão” que está sendo usado é ri-
dículo. Os trabalhadores podem ser irregulares 
por não serem registrados e receber baixo salá-
rio, mas nenhum deles é propriedade do dono da 
confecção e se estão lá é porque precisam do di-
nheiro do trabalho, mesmo que seja pouco. As 
portas estão abertas e eles têm liberdade para 
trabalhar em outro local. Agora perguntem pra 
eles o que eles preferem. O trabalho “escravo”, 
como estão dizendo, ou o desemprego?
As manifestações dos internautas dividem-se quanto à 
concepção de trabalho escravo. Diversos internautas fizeram 
alusão à escravidão por dívida, que, conforme Martins (1994), é 
uma variação do trabalho assalariado e, como tal, ressurge na 
superexploração do trabalhador, a ponto de comprometer sua 
sobrevivência. São vários os comentários, porém, que conside-
ram ser o trabalhador “livre para trabalhar em outro local”, re-
velando um conceito de escravidão histórico, em que o escra-
vo é acorrentado. Essa visão dificulta e distorce a compreensão 
da situação atual em relação à exploração do trabalho escravo, 
cujas amarras não são correntes grossas. 
Em relação ao trabalho escravo como um tipo de crime 
corporativo, os comentários também se dividem. Embora não 
tenhamos identificado a utilização do termo “crime corporati-
vo” como referência ao trabalho escravo, as expressões “em-
presa criminosa” e “um crime desses”, “criminosos”, entre ou-
tros termos, remetem à concepção do trabalho escravo como 
um crime produzido, no caso pesquisado, pelas corporações, 
termo também referenciado nos comentários. Como esse tipo 
de crime não recebeu a atenção de governos da mesma for-
ma que a criminalidade nas ruas (UNNEVER, BENSON, CULLEN, 
2008; PAYNE, 2012), a sociedade em geral vê os crimes corpo-
rativos como algo sério somente quando suas consequências 
atingem proporções maiores.
Outra faceta presente nas concepções dos internautas 
diz respeito às práticas discursivas das corporações em ge-
ral (ALVESSON e DEETZ, 2000), não se limitando ao caso no-
ticiado. Muitos comentários evidenciam que seus autores re-
conhecem as multinacionais como um modelo de negócios 
que, explorando consumidores, trabalhadores e o meio am-
biente, torna-se cada vez mais forte e poderoso (CLINARD e ou-
tros, 1979). Esse modelo de negócios, na concepção de muitos 
internautas, configura-se em uma “ideologia neocapitalista” 
(TRAGTEMBERG, 2005) que, estando envolta em uma rede de 
agentes, corrompe e domina governos e a sociedade em ge-
ral. Esses internautas ainda reconhecem o que Wood Jr. e Pau-
la (2006) e Barley, Meyer e Gash (1988) denominam, respecti-
vamente, cultura do management e ideologias gerenciais, ao 
se referirem aos discursos das corporações como “conversa 
[...] mole para boi dormir” e às técnicas gerenciais para racio-
nalização do trabalho.
Se, para muitos internautas, as práticas discursivas das 
corporações são ideológicas, visando ocultar reais intenções de 
lucro, exploração e dominação, como os autores referenciados 
(MORGAN, 1996; MOTTA, 1981, 1992, entre outros) neste artigo 
sugerem, para outros internautas, entretanto, a Zara é a marca 
favorita, e, como há muitas outras empresas fazendo o mesmo 
(trabalho escravo), preferem continuar fiéis a ela. Essa concep-
ção indica o modo pelo qual as empresas atingem o imaginário 
social (FREITAS, 2000), reforçando seu domínio nas esferas eco-
nômica, social e cultural.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE AS 
CONCEPÇÕES DE CRIME CORPORATIVO 
NOS COMENTÁRIOS DE INTERNAUTAS: 
CULPADA OU INOCENTE?
Nesta pesquisa, analisamos os comentários de internautas 
acerca de crimes corporativos, especificamente,em relação às 
denúncias de trabalho escravo contra a Zara. Os crimes corpo-
rativos ocorrem no contexto das organizações e das suas inter
-relações com a sociedade, portanto discuti-los no campo dos 
estudos organizacionais amplia o conhecimento sobre suas 
causas, o processo por meio do qual ocorrem e a opinião públi-
ca em relação a esses acontecimentos.
Retomamos o título deste artigo, na tentativa de esboçar 
uma resposta sobre se a empresa é culpada ou inocente, con-
forme as concepções nos comentários de internautas. De modo 
geral, a empresa do caso ilustrado é culpada e vítima, embora, 
em alguns poucos comentários, os internautas a tenham decla-
rado inocente ou, ainda, tenham se mantido neutros, pois apre-
ciam os produtos da marca. Quando a consideram culpada, eles 
utilizam como explicações: o próprio sistema capitalista; o Esta-
do, por sua benevolência e ineficiência; e, em algumas vezes, os 
próprios consumidores e trabalhadores, por aceitarem tais con-
dições. Quando é considerada vítima, a explicação mais recor-
rente é de que a empresa, ao utilizar-se de serviços de terceiros, 
não tem a obrigação de fiscalizar o processo de trabalho deles.
Na análise dos textos e intertextos, as concepções que en-
volvem o crime corporativo, neste caso ilustrado pelo trabalho 
escravo, podem ser sintetizadas da seguinte forma: (1) o crime 
corporativo compensa, financeiramente, para a corporação – as-
sim, deve ser punido não só com multas mas também de manei-
ra mais severa; (2) o crime corporativo deve ter fiscalização mais 
intensa por parte do Estado; (3) o crime corporativo é inevitável, 
pois o que interessa é a obtenção de maiores lucros; (4) o crime 
corporativo continuará a existir, pois a população aceita que ele 
ocorra, adquirindo os produtos da empresa e ignorando esse tipo 
de fato. Os crimes corporativos são evitáveis, porém a um custo 
que as corporações não querem assumir (MOKHIBER, 1995), ado-
tando práticas como o trabalho escravo, cujo custo é da socieda-
de em geral (CLINARD e outros, 1979), gerando o que Chikudate 
(2009) denomina miopia coletiva, que pouco associa a palavra 
crime aos acontecimentos do ambiente empresarial.
Muitos internautas manifestaram o entendimento de um 
conceito histórico de trabalhador escravo, cujo estereótipo é 
o do escravo acorrentado, mostrando desconhecer a concep-
ção contemporânea desse fenômeno, conforme Martins (1994) 
discute. Hoje, o empregador acorrenta o trabalhador oferecen-
do condições mínimas para sua sobrevivência, visto que a sua 
substituição pode ser feita sem maiores custos.
Esta pesquisa tem implicações de natureza prática e teóri-
ca. Quanto às primeiras, os resultados indicam, para os gestores 
e os responsáveis pelas organizações, que a sociedade acompa-
nha as suas ações, tomando posicionamentos que podem levar 
a outros movimentos, como boicotes, utilizando-se de uma vas-
ta possibilidade de ferramentas on-line, como as redes sociais. 
Esta pesquisa traz, ainda, contribuições para a prática gerencial, 
ao apontar para a necessidade de as empresas implementarem 
políticas organizacionais sérias e efetivas para conduzir os negó-
cios sem colocar os lucros acima da dignidade humana.
Em relação às implicações de natureza teórica, destacamos 
que, ao iniciar esta pesquisa, o fizemos considerando-a um ponto 
de partida para outros trabalhos no campo dos estudos organizacio-
nais, visto que os crimes corporativos ainda são um território obscu-
ro. Esta pesquisa contribui, assim, por chamar a atenção dos pesqui-
sadores do campo para a necessidade de avançar no conhecimento 
sobre os crimes corporativos de modo geral e, em particular, o traba-
lho escravo, no que concerne tanto aos seus antecedentes e motivos 
quanto ao contexto sócio-histórico no qual eles ocorrem. O conheci-
mento gerado a partir daí pode clarificar questões ainda marginali-
zadas nos estudos organizacionais, como: Por que e como as cor-
porações tornam-se criminosas? Diante disso, vislumbramos outras 
possibilidades que podem ampliar esta pesquisa, como: (a) consi-
derar outros tipos de crimes corporativos para análise; (b) estabe-
lecer comparações entre os comentários de internautas em relação 
aos outros tipos de crimes corporativos; e (c) criar uma agenda de 
pesquisas, considerando as múltiplas abordagens do campo dos 
estudos organizacionais, especialmente, as abordagens críticas.
Ao considerarmos notícias jornalísticas sobre organiza-
ções, apontamos para outros atores na construção dos discur-
sos sobre corporações, como os jornais, o que consiste, tam-
bém, em uma contribuição desta pesquisa para o campo dos 
estudos organizacionais, por adotar a análise intertextual. Nes-
se sentido, sugerimos: (a) considerar o(s) texto(s) das notícias 
que estimularam os comentários; (b) analisar as conversas en-
tre os internautas; (c) realizar comparações entre os comentá-
rios veiculados nos diferentes veículos.
É preciso, ainda, ressaltar as limitações da pesquisa ao 
utilizar postagens de internautas como fontes de pesquisa. Es-
tes são sujeitos anônimos, heterogêneos e virtuais, podendo, 
portanto, vir a ser múltiplos, privilegiando-se de inúmeras op-
ções, de vários caminhos e da faculdade de formarem diversas 
concepções. Outra limitação de natureza metodológica refere-
se à impossibilidade de generalização deste caso para outros ti-
pos de crime corporativo, e mesmo outros tipos de trabalho es-
cravo, como aquele que envolve o trabalho infantil.
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ARTIGOS | Culpada ou inocente? Comentários de internautas sobre crimes corporativos
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REFERÊNCIAS
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