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22 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO CRÔNICA DO COTIDIANO – UM TAL DE VOUCHER Época de férias é uma onda. Tem de tudo um pouco: excur- sões, farofeiros, cruzeiros e simples viagens. Numa dessas viagens, um colega beradeiro aprontou uma, pois jamais tinha ido a um hotel. No máximo, uma hos- pedagem numa Kombi - (não vou dizer o nome, senão ganho um inimigo). Ajudado por colegas, fez a reserva em um hotel, pela internet, e levou a família: esposa e dois filhos. Os colegas fizeram todos os demais procedimentos e entregaram a ele a confirmação da reserva. Ao chegar ao hotel, o recepcionista perguntou se ele tinha trazido o VOUCHER. Ele de pronto respondeu: não. Só veio eu, a Gorete - minha esposa, o VALTER e o VOLBER - meus filhos. Não sei nem quem é esse tal de Voucher, e tenho pena dele, pois o cabra só nascer uma vez, e ainda ter um nome desses. É sacanagem dos pais. O recepcionista ‘tá até hoje se mijando de rir. 23 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO CRÔNICA DO COTIDIANO – ANO QUE SE VAI, ANO QUE SE VEM É, 2013 foi especial. Até a cirurgia me ajudou a voltar a es- crever e ficar mais tempo com a família. Mas 2014 vai ser mais especial ainda. Teremos muitas comemorações: no meu caso, farei 35 anos do Pré-Marista, 30 anos de formado em Odontologia, 23 anos de casamento, 23 anos de formado em Educação Física, 23 anos de trabalho na ETFRN/CEFET/IFRN, sem falar que ficarei um ano mais experiente. Ana Flávia completará 20 anos de formatura, e tere- mos os muitos aniversários das filhas e familiares. Juntando todas estas comemorações com o Carnaval, Copa do Mundo, São João, os feriadões e os finais de semana normais, os whiskytórios convencionais, além das eleições, acho que vão sobrar poucos dias sem ter farra. Dessa forma, já estou pesquisando em todos os gran- des magazines e nos sites de vendas pela internet se há dispo- nibilidade de fígado, para entrega imediata, pois ainda esqueci- me de falar do Réveillon. 24 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO CRÔNICA DO COTIDIANO – UMA VIAGEM ARRETADA Já viajou de avião de Natal para Maceió? Em certas empresas, você viaja quase o Brasil todo para chegar lá. Porém, no ano passado, consegui um voo da Avianca: Natal-Recife-Maceió, pois estava indo para um evento de Gestão de Pessoas. Fui o último a embarcar, pois quando cheguei ao sa- lão de embarque constatei que o avião ainda era do tempo de hélice, e eu queria ver se os demais passageiros iam ter coragem de viajar. De repente, a funcionária que conferiu a minha passa- gem no embarque passou por mim quase correndo, e eu fiquei curioso para saber o que estava acontecendo. O fato é que a coitada, além de nos atender no portão de embarque, também é quem nos recepciona na porta do avião, próxima a uma es- cadinha de três degraus (parecida com aquelas de alumínio que temos em casa). Foi aí que vi o porquê do avião não encostar-se àque- las passarelas de embarque. Bem baixinho, quase arrastando no chão. Como não deu tempo ir ao banheiro no aeroporto, antes da partida pedi para ir ao WC. Foi uma surpresa. Você passa por uma cortina e entra num espaço com um monte de mala (é o bagageiro do avião). Se estiver embriagado e aperta- do, vai urinar nas malas mesmo. Ao retornar ao assento, vi a aeromoça com uma ces- tinha distribuindo balas XAXÁ. Rapaz, como sou dentista, fiquei observando o pessoal, em busca de situações engraçadas. Essa bala é daquela que gruda em tudo. Quem usa “chapa” se lasca. Vi um cidadão com um pigarro da peste, e logo descobri que a danada da bala devia ter colado no “pinguelinho” da goela. O bom é o pessoal disfarçando para descolar a bala do céu da boca. É uma agonia. Como a aeromoça já sabe disso, logo vem passando com uns copos d’água. Mas essa é uma situação cômica. Como 25 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO o voo é rápido, ela passa quase jogando os copos nos nossos peitos e dizendo: olha a água, olha a água, olha a água... (até parece vendedor de praia), e quando você está no último gole, ela volta recolhendo os copos, dizendo: copos aqui, copos aqui, copos aqui. O momento da decolagem é hilário e apavorante ao mesmo tempo. Sacanearam com as aeromoças desse tipo de avião. Além de ser sozinha, a cadeirinha dela fica de frente para o corredor, bem no meio. Nas outras empresas fica todo mundo escondido. Essa coitada tinha as “canetas” bem fininhas. E quando sentou na cadeira e apertou o cinto, você via a se- guinte cena: duas canetinhas bic, bem juntinhas (igual fica num lapiseira), com as mãos no colo, e olhando para um ponto fixo no meio do nada. Pense numa vergonha. E a “embalagem” do avião para subir. Tem força não. Você só se lembra dos Flintstones e tem vontade de colocar os pés no chão para ajudar. Esse é o preço que se paga para chegar ligeiro. CRÔNICA DO COTIDIANO – CASAMENTO ENCHARCADO Peennnsseee num casamento. Pensou? Esse foi melhor. Muita gente na festa de recepção, banda da melhor estirpe e, consequentemente, muita birita. Os amigos do noivo encheram a cara dele “da mardita”. O combinado era: os re- cém-casados dormiriam em um hotel em Natal, e embarcariam para Nova York no outro dia às 14h. Portanto, deveriam estar no aeroporto ao meio-dia. Acontece que às 3h da madruga, só estavam no salão de festas o noivo (ou o seu projeto), o irmão, a mãe, a noiva e um amigo do noivo (que é médico, mas também estava só o bocal). 26 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO O recém-casado estava passando mal e foi levado à urgência de um hospital, e a noiva, vendo a situação, pediu para ser logo deixada no hotel. O quadro no hospital era uma atração: todo mundo já sabia que um era recém-casado, e que a noiva estava sozinha no hotel esperando por ele. A cena era de dois cabras de pa- letó dormindo nas cadeiras (um tomando o kit biriteiro – plasil, glicose, dramin e soro, e o outro, que deveria ser o auxiliar e vigiar o soro, estava roncando). Já amanhecendo o dia, o irmão levou os dois do hospital, e quando chegou ao hotel, o recém-casado sequer conseguiu sair do carro. Então, sem outra opção, o irmão levou o condenado para a casa dos pais. Em casa, ele conseguiu sair do carro e fez carreira para o quarto dele (acho que nem se lembrava de que tinha casado). Deitou na cama de paletó e tudo. Ocorre que a mãe ao acordar, encontrou o sacana em casa. E pior, na mesma cama estava dormindo o namorado da irmã, e nenhum dos dois se deu conta. A sorte do cunhado foi que estava de banda e com a bunda encostada na parede. Escapou por um triz... 27 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO CRÔNICA DO COTIDIANO – REI DO CHOPP E essa história de bebida? Quando falo em bebida, não é essa besteirinha de água, leite, suco e chá não. É birita mesmo. Temos um amigo que andou bebendo muito (ainda é o Rei do Chopp), e devido a algumas outras coisas, necessitou fazer umas sangrias, visando organizar a sua ferritina. Certa vez, estava fazendo a tal sangria num hemocen- tro, e o pessoal da administração se assustou com um conges- tionamento na porta do estabelecimento. Sabe o que foi? O cidadão anunciou que após cada sangria nele, o hemocentro ia vender álcool abaixo do preço de mercado, e ele era o fornecedor. Ele não tem álcool no sangue, e sim partículas de sangue no álcool. É tanto que quem analisa as taxas dele atualmente não é um médico, é um técnico da indústria etílica. Esse negócio de plaquetas, hemácias e leucóci- tos é coisa do passado. O técnico analisa é o nível de malte, lúpulo e fermento dele. Já causou congestionamento até na escada rolante de um shopping. Estava com a lata tão cheia, que não conseguia acertar a passada para pisar na escada rolante. E foi só jun- tando gente para ver a presepada. Ele foi o autor daquela frase que foi publicada e depois proibida: “se for dirigir, não beba, e se for beber, me chame”. Foi proibida porque ele processou quem publicou. O negócio é que na frase original era – se for beber CHOPP, me chame. O engraçado é que todocidadão, quando fica “enchar- cado”, apresenta defeito no feixe de molas de um dos lados. Anda todo “penso”. Nunca gira o corpo, faz é um contorno. Quer testar? Encha a lata e depois pergunte aos presentes. 28 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO CRÔNICA DO COTIDIANO – CEGUEIRA DAS CORES Sorte ou falta de sorte? Sei lá. Acromatopsia? Você sabe o que é? Popularmente é co- nhecida como a cegueira das cores. Cientificamente é um pro- blema de num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, bem invocado. E, didaticamente, é uma situação em que o sujeito não identifica determinadas cores, em especial as cores pardas. Esse troço só acomete 7% da população masculina mundial. E adivinhe que foi “premiado” com isso? O leso aqui. Um mundo tão grande, com tanta gente, e essa porcaria vir me achar aqui em Natal. E é por isso que faço parte da história da educação mundial, pois sou o único cidadão do mundo que repetiu o jardim de infância. Isso mesmo, repeti o jardim de infância. Fico pensando naquelas coleções de lápis coloridos em cima da mesa (que tem umas 200 cores), a professora me mandando usar a cor verde, e eu tateando todos os lápis, e pegando exa- tamente os que não eram verdes. Castigo na certa. Já mais crescido, devo ter usado algumas velhas táti- cas de sorteio: “je-sus- dis-se - que - eu -es-co-lhes-se - es- se - da-qui” (como se Jesus, com tantos pedidos importantes, fosse ficar escolhendo cores pra mim), ou. “pan – dê – co – lê – dá – pá – dé – pi – pê – rú – gê – pan – dê – pê” (esse é de lascar). Porém, só fui descobrir oficialmente essa dificuldade visual quando já estava na faculdade. Minha sorte foi que, quan- do criança, nunca escolhia roupas (antigamente era assim), no colégio havia farda e na faculdade andava de branco. Certamente foi motivo de muito fora de namorada. Elas pensavam – ô cara de mau gosto. Quando namorava com Ana Flávia, quase nunca saía nos finais de semana, e ela só veio me dizer, depois de casada, que era porque eu estava feito um 29 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO papangú. Se fosse hoje, eu seria o Agostinho da Grande Família – era troncho mesmo. Certa vez, em um evento de RH, o colega de apar- tamento sabia dessa minha dificuldade com as cores, e que minhas roupas iam arrumadas na mala já com as “pareias” separadas, e resolveu fazer uma mistura, enquanto eu tomava banho. Quando saí do banho, ele já tinha saído para a soleni- dade de abertura. Então, troquei de roupa e me mandei. Já no corredor do hotel, notei que as pessoas me olhavam diferentes. No elevado foi pior, pois algumas pessoas ficaram rindo. Quan- do a porta do elevador abriu no saguão do hotel e o pessoal desceu, a colega do RN que tinha ido comigo não me deixou nem descer, e foi logo dizendo: volta, volta para o apartamen- to, e pela caridade troque de roupa, porque o negócio tá feio. Voltei. Mas, e daí? Ia fazer o quê? Estava tudo esculhambado e eu não sabia nem o que procurar. Então, peguei uma calça escura e uma camisa escura e pronto, tudo resolvido (pelo menos pra mim). Mas, hoje em dia ainda tem os sacaninhas que inven- taram tal de degrade. Achando pouco já ter o verde, agora tem o verde claro, verde escuro, verde oliva, verde mais ou menos, verde mato, e haja verde. Só me lasco. Se me convidar e não quiser que eu chegue à sua casa, é só não dizer o número e dizer a cor. Se não tiver co- piloto, num chego não. Falar em copiloto, eu dou o maior valor quando tem alguém no carro, porque de vez em quando é necessário opinar sobre a cor do sinal de trânsito. É cada susto invocado... Na maioria das vezes, vou na onda dos carros vizinhos. Se eles fizerem merda, eu vou junto, só para ser solidário... 30 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO CRÔNICA DO COTIDIANO – O CARRO QUE EU LEVAVA PARA PASSEAR Na terra do sol, das praias e das dunas é muito bom andar de buggy. Tem muita gente que possui buggy e usufrui bastante. Acho que a única pessoa que o buggy não o levava para passear, e sim, ele é que levava o buggy para passear, era eu. Não fui o dono do buggy. Ele é que foi meu superior. Mesmo assim, tentei deixá-lo de primeira. Tinha até cinto de segurança. Mas faltava pneu de step, buzina e outros apetrechos. O danado do buggy tinha vontade. Só andava quando queria. Fincava pé, que nem jumento em beira de estrada. Eu nunca sabia se ele queria andar comigo. Era de veneta. Tinha dia que nem no empurrão ele queria pegar. Para se ter uma ideia da “prejura”, quando eu ia deixar minha filha na escola, ela pedia para eu não parar na frente da escola (tinha vergonha dele estancar e ter que empurrar o bicho). Não tinha marcador de nada. O nível da gasolina era verificado com um pedaço de cabo de vassoura. Os faróis esta- vam sempre brigados. Nunca vi os dois acesos de uma só vez. Sinaleira? Nem pensar. Se eu não acenasse com o bra- ço que ia entrar para um dos lados, tinha levado muita porrada. Teve uma vez que um mecânico foi mexer no motor do sacana do buggy, e depois de um tempo catucando, olhou pra mim e disse: você ainda tem coragem de gastar dinheiro nesse projeto de carro? Vendi no mesmo dia. Consegui achar outro abestalhado. 31 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO CRÔNICA DO COTIDIANO – MEU VELHO FUSCA Eita, fusca velho de guerra. É um carro pra toda obra. Quem nunca teve um, pelo menos tem um parente ou amigo que teve ou tem. O meu primeiro carro foi um fusca, e era possante: de bom, tinha o motor 1.600, volante esportivo e pneus largos. O resto? Era o resto (literalmente). Começando pela cor: amarelo queimado. Certamente, na hora de comprar, fui enrolado no que se refere à cor. Tinha ferrugem para todo lado. Em dia de chuva, era melhor ficar do lado de fora do que andar nele. Dei carona a um amigo, após a pelada de futsal do sábado à tarde que tinha no Campus Universitário, e estava chovendo. Na primeira poça d’água, tomamos uma “xiringada” de água bem no meio dos peitos. Qualquer coisa solta no piso do carro ficava boiando. Quando saía com Ana Flávia nesse carro, era um problema – ela toda arrumada, perfumada, mas bastava eu dar uma acelerada, que “empestava” o carro com o cheiro de gasolina. Se ela não andasse com perfume na bolsa, ficava fedendo a noite toda. Depois de um conserto no eixo deste possante por um mecânico embriagado numa manhã de sábado, o bicho fica- va fazendo a curva só para um lado. Para o lado direito, ele girava tudo, e para o lado esquerdo, não girava quase nada. Para fazer a curva para esse lado, era um vai e vem da pes- te. E esse serviço foi feito justamente quando eu ia participar do primeiro veraneio com a família de Ana Flávia. Pense numa vergonha. Logo na saída, arranhei o carro nos pilotis do prédio da tia dela, pois não tinha como sair, fazendo a curva só para um lado. Tinha uma folga tão miserável no volante, que quando alguém estava de carona e eu fazia uma movimentação exage- rada no volante (só de sacanagem), o carona dizia: ei, né nessa rua que é para entrar não. E eu dizia que não estava fazendo 32 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO a curva não, estava só “aprumando” o volante. A pessoa só faltava fechar os olhos, de tanto medo. Outra vez, estacionei na porta de um restaurante, pois era uma comemoração da turma de Odontologia. Na saída, na frente de todo mundo, o sacana não pegou, e juntou uma turma arrumada para empurrar – vergonha total. Depois de tanto aperreio, resolvi vender. Ocorre que, depois do anúncio de venda, eu viajei. E meu pai ficou com uma missão inusitada: se o comprador quisesse testar o carro, tinha que dizer a ele para andar devagar e só de um lado da rua (o lado que não tinha buracos), pois a bateria ficava apoiada numa pedaço de madeira, porque a ferrugem já tinha corroído o piso do carro (no fusca, a bateria ficava debaixo do banco do passageiro). Perdi o velho companheiro de viagens e de biritas, mas muita gente agradeceu e vibrou após a venda. Mas um fusca será sempre um grandecompanheiro. CRÔNICA DO COTIDIANO – AMIGOS, AMIGOS – GASES A PARTE Atualmente, cada situação que vivencio, já fico pensando no que vou escrever de forma cômica. Ao assistir uma palestra sobre a produção de gás natural no Brasil, e sua consequente distribuição e importância para a sociedade, já peguei o bloco de anotações e caneta entregues na entrada e fui escrevendo as minhas besteiras. Tendo em vista que o gás natural é a porção do pe- tróleo que existe na fase gasosa, e que dentre os seus compo- nentes consta Oxigênio, Gás Carbônico e Enxofre, foi inevitável não associar estas informações aos gases produzidos pelo ser humano – os populares peidos. 33 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO Considerando o que foi dito sobre a produção de gás e a riqueza que traz para as regiões que o produzem, fiquei pensando o quanto alguns colegas meus poderiam estar ricos, pois produzem gases em escala industrial. Esses colegas são “verdadeiros latifundiários” de gás sulfídrico, que contém enxo- fre e é responsável pela grande diferença com o gás natural – o cheiro (a catinga). A dieta dessas peças impolutas é constituída por pratos com couve-flor, ovos e carne, que são especiarias notórias por produzirem peidos malcheirosos. O gás natural não precisa explodir e nem fazer barulho na sua produção. Já o peido tem um som que depende da velocidade da expulsão do gás e da “embocadura do caneco”. Esses colegas ultrapassam todas as estatísticas de produção. Em média, uma pessoa normal produz mais ou me- nos um litro de peido por dia, distribuído em cerca de 14 pei- dos diários. Esses caras não. A produção é o triplo disso, e o barulho se assemelha a um terremoto. A esposa de um deles já possui uma máscara respi- ratória natural, e às vezes nós pensamos que está com icterí- cia, de tão amarela que ela fica – também, aguentando essa pisada há mais de 20 anos – é uma sobrevivente. Até poderia descontar a sacanagem, pois as mulheres peidam tanto quanto homens. O caso é que os homens têm mais orgulho disso. De manhã, então. Sequer diz bom dia, já libera um trovão matinal, com ressonância amplificada. Mas, são produtores de energia limpa, apesar de mal- cheirosa, e poderiam estar estimulando a economia do nosso estado. Muito ricos, certamente, já poderiam ser. Só não sei quem teria coragem de envasar essa produção deles... 34 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO CRÔNICA DO COTIDIANO – VUCO-VUCO NO “ISTOMBO” Aperreio só presta grande, mas é bom que você avise ao seu organismo que não é preciso exagerar. Já passei muito aperreio na vida, mas tem dois momentos que ficaram marcados na mente e nas casas em que estive. Namorando com Ana Flávia há apenas dois meses, fui veranear com a família dela na praia de Pitangui. Casa antiga, pequena, sem ser estucada, e daquelas em que o banheiro fica situado bem no meio da casa, exatamente entre a sala e a cozinha. E o pior, a parede do banheiro não vai até as telhas, pois é meia-parede. Sendo assim, e devido a um vu-vu-vu repentino no “istombo”, consegui esperar todo mundo descer para a praia, e fiz carreira para o tão sonhado vaso sanitário. Relaxei e fiz o “caneco” virar artista: uma obra gótica, e com forte odor. De repente, escuto uma voz vinda da cozinha: que dia- cho é isto? Mataram um urubu aqui dentro? Era a tia de Ana Flávia, que tinha ficado terminando o almoço, e na hora que fui ao banheiro, ela tinha ido à despensa. Fiquei pensando: e agora? Quando sair ela vai me ver e saber que eu sou o tal do urubu. Não adiantou, pois mesmo eu saindo sem ela me ver, ficou fácil saber quem era o autor da obra, pois só faltava eu lá na praia. Fiquei marcado na fa- mília dela como o cheiro podre de Pitangui. Mas não ficou só nessa não. Fui ao aniversário de um amigo na casa de praia em Búzios, e bem no meio da festa lá veio outro vu-vu-vu. Um sol da peste e eu me arrepiando. A cerveja descia parecendo um rodo – jogava tudo lá pra baixo. Perdi a vergonha e pedi para o dono da casa me in- dicar um local tranquilo. Não tinha. O mais perto era bem no meio da sala. E nesta peste de sala tinha três crianças assis- tindo televisão. Logo pensei: do jeito que criança é sincera, eu estou lascado se repetir a proeza de Pitangui. Escapei fedendo... Aliás, cheiroso. 35 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO CRÔNICA DO COTIDIANO – O PERIGO DA ESCRITA LIGEIRA Essa língua portuguesa vive nos pregando peças, ainda mais quando se torna necessário digitar de forma rápida. Se for nos celulares, os adultos “penam muito”, porque ainda não inventa- ram um “apontador” de dedos que faça o mesmo trabalho do apontador de lápis. A cabeça dos dedos simplesmente não foi desenhada para este tipo de tecnologia. Quando se parte para os computadores, notebooks, netbooks e outras máquinas, vêm o problema do travamento de teclas. Outro dia, um amigo que estava com muita pressa para confirmar um pedido a outra empresa, solicitou que a secretária fosse digitando um e-mail, pois seria necessário e urgente haver a solicitação por escrito, seguindo as normas da empresa fornecedora do serviço de adequação de ambientes para fins de isolamento acústico e de odores, devido trabalhar com agentes químicos. E foi logo dizendo assim: vamos, vamos, vamos, digita rápido. Coloca um cabeçalho, dá espaço e digita o texto. E lá se foi à secretária: “PEDIDO Caro Senhor Fulano, Conforme contato prévio, solicito encaminhar o pedido, urgentemente, na forma que combinamos, considerando que é necessário organizar o ambiente físico de uma sala para manipulação de componentes, pois é importante o isolamento acústico, assim como evitar que o cheiro se espalhe pelos ou- tros ambientes da empresa”. Tendo em vista que a tecla da letra D estava travando de vez em quando, o e-mail saiu assim: 36 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO “PEIDO Caro Senhor Fulano, Conforme contato prévio, solicito encaminhar o peido, urgentemente, na forma que combinamos, considerando que é necessário organizar o ambiente físico de uma sala para manipulação de componentes, pois é importante o isolamento acústico, assim como evitar que o cheiro se espalhe pelos ou- tros ambientes da empresa”. Resultado: o cidadão que ia fornecer o serviço não se fez de rogado, foi à empresa dele e deixou todo mundo abis- mado, porque “mandou ver” logo na recepção, e ainda deixou em cima da mesa a confirmação de pedido. Ninguém podia reclamar. CRÔNICA DO COTIDIANO – REPARAÇÃO Nada melhor do que, após um dia cansativo de trabalho e de fisioterapia, você ter um sono REPARADOR. Os especialistas sempre dizem que o importante não é a quantidade de horas dormidas, mas a qualidade destas horas. Pois bem, de ontem para hoje eu tive um sono bem REPARADOR. Passei a noite toda REPARANDO tudo o que passava na televisão e ao meu redor, e não tinha nem uma bandinha de remédio para dormir. Assisti até programa de vendas (o lado bom da coisa: fiz uma pesquisa de preços arretada, e só repasso mediante pagamento antecipado e em euro). Tô só o “mi da pipoca”, com os “zói” vermelhos, mas cheio de informação (ô consolo besta da p...). 37 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO CRÔNICA DO COTIDIANO – MÍDIAS SOCIAIS NA VIDA DE UM BERADEIRO Feicebuk, uatizapio e tuite. Nessa era da informação rápida e rasteira, as pessoas estão se comunicando muito e rapidamen- te. E haja aperreio. O tal do “Uatizapio” é uma “caninga” só. O celular apita toda hora, e ainda tem gente que bota uns toques de alerta bem interessantes. Um colega colocou o relinchar de um jumento e outro colocou uma buzina de caminhão. Não tem quem aguente. Uma colega colocou o toque que é “o gritinho de chatura de uma dondoca alvoroçada quando alguém diz que a cor das suas unhas não está combinando com a cor do terceiro botão do lado esquerdo da sub-blusa que ela está vestindo”. Lembre-se da dondoca mais chata e mais fresca que conhece, e imagine esse som: aaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiêêêêê. Ra- paz,quem está ao lado dela na hora que a peste do celular apita só tem vontade de dar-lhe um cascudo. No caso do Tuite, já foi descoberto que o inventor é homem. Jamais seria uma mulher, porque as conversas são curtíssimas. O povo gosta é de dizer o que está fazendo, pois acha importante e pensa que todo mundo quer saber. O dana- do é que se fosse mesmo importante, a pessoa não ia parar de fazer para tuitar. E o danado é que o importante é ter muitos seguidores, e cada vez mais. Mas, acho que esse negócio não é legal não. Jesus só tinha 12 seguidores, e um ainda o lascou. Quanto mais essa negada que quer ter milhões de seguidores. Vai só se lascar. 38 PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO CRÔNICA DO COTIDIANO - EITA, AINDA TEM UM TAL DE “ISTRAGADO” Pois é, além das pestes apitantes que já falei, ainda tem esse tal de instagran. É para se lascar mesmo. Além de postar um monte de porcaria, agora se posta as fotos para comprová-las. É lógico que nem sempre é assim. Mas um colega las- cou-se. Estava no maior romance com uma doidinha e era tudo escondido da mulher. Usava uatizapiu, feicebuk e tuite. No dia que inventou de usar o istragado – deu zebra. Estragou tudo, literalmente. Postou a foto dos dois num motel, logo na hora do “canguru cambeta”, “carrinho de mão desgovernado” e “vai que é tua Taffarel”. Quando a mulher descobriu e viu, não o deixou nem entrar em casa. Hoje, não pode nem ver uma máquina fotográfica, e voltou a usar celular sem câmera – daqueles que quando o ladrão vai lhe roubar e vê a desgraça, lhe dá uns trocados.