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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
CRÔNICA DO COTIDIANO – UM TAL DE VOUCHER
Época de férias é uma onda. Tem de tudo um pouco: excur-
sões, farofeiros, cruzeiros e simples viagens.
Numa dessas viagens, um colega beradeiro aprontou 
uma, pois jamais tinha ido a um hotel. No máximo, uma hos-
pedagem numa Kombi - (não vou dizer o nome, senão ganho 
um inimigo). Ajudado por colegas, fez a reserva em um hotel, 
pela internet, e levou a família: esposa e dois filhos. Os colegas 
fizeram todos os demais procedimentos e entregaram a ele a 
confirmação da reserva.
Ao chegar ao hotel, o recepcionista perguntou se ele 
tinha trazido o VOUCHER. Ele de pronto respondeu: não. Só 
veio eu, a Gorete - minha esposa, o VALTER e o VOLBER - meus 
filhos. Não sei nem quem é esse tal de Voucher, e tenho pena 
dele, pois o cabra só nascer uma vez, e ainda ter um nome 
desses. É sacanagem dos pais.
O recepcionista ‘tá até hoje se mijando de rir.
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
CRÔNICA DO COTIDIANO – ANO QUE SE VAI, ANO QUE 
SE VEM
É, 2013 foi especial. Até a cirurgia me ajudou a voltar a es-
crever e ficar mais tempo com a família. Mas 2014 vai ser 
mais especial ainda. Teremos muitas comemorações: no meu 
caso, farei 35 anos do Pré-Marista, 30 anos de formado em 
Odontologia, 23 anos de casamento, 23 anos de formado em 
Educação Física, 23 anos de trabalho na ETFRN/CEFET/IFRN, 
sem falar que ficarei um ano mais experiente.
Ana Flávia completará 20 anos de formatura, e tere-
mos os muitos aniversários das filhas e familiares.
Juntando todas estas comemorações com o Carnaval, 
Copa do Mundo, São João, os feriadões e os finais de semana 
normais, os whiskytórios convencionais, além das eleições, acho 
que vão sobrar poucos dias sem ter farra.
Dessa forma, já estou pesquisando em todos os gran-
des magazines e nos sites de vendas pela internet se há dispo-
nibilidade de fígado, para entrega imediata, pois ainda esqueci-
me de falar do Réveillon.
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
CRÔNICA DO COTIDIANO – UMA VIAGEM ARRETADA
Já viajou de avião de Natal para Maceió? Em certas empresas, 
você viaja quase o Brasil todo para chegar lá. Porém, no ano 
passado, consegui um voo da Avianca: Natal-Recife-Maceió, pois 
estava indo para um evento de Gestão de Pessoas.
Fui o último a embarcar, pois quando cheguei ao sa-
lão de embarque constatei que o avião ainda era do tempo 
de hélice, e eu queria ver se os demais passageiros iam ter 
coragem de viajar.
De repente, a funcionária que conferiu a minha passa-
gem no embarque passou por mim quase correndo, e eu fiquei 
curioso para saber o que estava acontecendo. O fato é que a 
coitada, além de nos atender no portão de embarque, também 
é quem nos recepciona na porta do avião, próxima a uma es-
cadinha de três degraus (parecida com aquelas de alumínio que 
temos em casa). 
Foi aí que vi o porquê do avião não encostar-se àque-
las passarelas de embarque. Bem baixinho, quase arrastando 
no chão.
Como não deu tempo ir ao banheiro no aeroporto, 
antes da partida pedi para ir ao WC. Foi uma surpresa. Você 
passa por uma cortina e entra num espaço com um monte de 
mala (é o bagageiro do avião). Se estiver embriagado e aperta-
do, vai urinar nas malas mesmo.
Ao retornar ao assento, vi a aeromoça com uma ces-
tinha distribuindo balas XAXÁ. Rapaz, como sou dentista, fiquei 
observando o pessoal, em busca de situações engraçadas. Essa 
bala é daquela que gruda em tudo. Quem usa “chapa” se lasca. 
Vi um cidadão com um pigarro da peste, e logo descobri que 
a danada da bala devia ter colado no “pinguelinho” da goela. 
O bom é o pessoal disfarçando para descolar a bala do céu 
da boca. É uma agonia.
Como a aeromoça já sabe disso, logo vem passando 
com uns copos d’água. Mas essa é uma situação cômica. Como 
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
o voo é rápido, ela passa quase jogando os copos nos nossos 
peitos e dizendo: olha a água, olha a água, olha a água... (até 
parece vendedor de praia), e quando você está no último gole, 
ela volta recolhendo os copos, dizendo: copos aqui, copos aqui, 
copos aqui.
O momento da decolagem é hilário e apavorante ao 
mesmo tempo. Sacanearam com as aeromoças desse tipo de 
avião. Além de ser sozinha, a cadeirinha dela fica de frente 
para o corredor, bem no meio. Nas outras empresas fica todo 
mundo escondido. Essa coitada tinha as “canetas” bem fininhas. 
E quando sentou na cadeira e apertou o cinto, você via a se-
guinte cena: duas canetinhas bic, bem juntinhas (igual fica num 
lapiseira), com as mãos no colo, e olhando para um ponto fixo 
no meio do nada. Pense numa vergonha.
E a “embalagem” do avião para subir. Tem força não. 
Você só se lembra dos Flintstones e tem vontade de colocar 
os pés no chão para ajudar.
Esse é o preço que se paga para chegar ligeiro.
CRÔNICA DO COTIDIANO – CASAMENTO ENCHARCADO
Peennnsseee num casamento. Pensou? Esse foi melhor.
Muita gente na festa de recepção, banda da melhor 
estirpe e, consequentemente, muita birita. Os amigos do noivo 
encheram a cara dele “da mardita”. O combinado era: os re-
cém-casados dormiriam em um hotel em Natal, e embarcariam 
para Nova York no outro dia às 14h. Portanto, deveriam estar 
no aeroporto ao meio-dia.
Acontece que às 3h da madruga, só estavam no salão 
de festas o noivo (ou o seu projeto), o irmão, a mãe, a noiva 
e um amigo do noivo (que é médico, mas também estava só 
o bocal).
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
O recém-casado estava passando mal e foi levado à 
urgência de um hospital, e a noiva, vendo a situação, pediu 
para ser logo deixada no hotel.
O quadro no hospital era uma atração: todo mundo já 
sabia que um era recém-casado, e que a noiva estava sozinha 
no hotel esperando por ele. A cena era de dois cabras de pa-
letó dormindo nas cadeiras (um tomando o kit biriteiro – plasil, 
glicose, dramin e soro, e o outro, que deveria ser o auxiliar e 
vigiar o soro, estava roncando).
Já amanhecendo o dia, o irmão levou os dois do 
hospital, e quando chegou ao hotel, o recém-casado sequer 
conseguiu sair do carro. Então, sem outra opção, o irmão levou 
o condenado para a casa dos pais.
Em casa, ele conseguiu sair do carro e fez carreira 
para o quarto dele (acho que nem se lembrava de que tinha 
casado). Deitou na cama de paletó e tudo.
Ocorre que a mãe ao acordar, encontrou o sacana 
em casa. E pior, na mesma cama estava dormindo o namorado 
da irmã, e nenhum dos dois se deu conta. A sorte do cunhado 
foi que estava de banda e com a bunda encostada na parede.
Escapou por um triz...
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
CRÔNICA DO COTIDIANO – REI DO CHOPP
E essa história de bebida? Quando falo em bebida, não é essa 
besteirinha de água, leite, suco e chá não. É birita mesmo.
Temos um amigo que andou bebendo muito (ainda é 
o Rei do Chopp), e devido a algumas outras coisas, necessitou 
fazer umas sangrias, visando organizar a sua ferritina.
Certa vez, estava fazendo a tal sangria num hemocen-
tro, e o pessoal da administração se assustou com um conges-
tionamento na porta do estabelecimento. 
Sabe o que foi? O cidadão anunciou que após cada 
sangria nele, o hemocentro ia vender álcool abaixo do preço de 
mercado, e ele era o fornecedor. Ele não tem álcool no sangue, 
e sim partículas de sangue no álcool. É tanto que quem analisa 
as taxas dele atualmente não é um médico, é um técnico da 
indústria etílica. Esse negócio de plaquetas, hemácias e leucóci-
tos é coisa do passado. O técnico analisa é o nível de malte, 
lúpulo e fermento dele.
Já causou congestionamento até na escada rolante de 
um shopping. Estava com a lata tão cheia, que não conseguia 
acertar a passada para pisar na escada rolante. E foi só jun-
tando gente para ver a presepada.
Ele foi o autor daquela frase que foi publicada e depois 
proibida: “se for dirigir, não beba, e se for beber, me chame”. 
Foi proibida porque ele processou quem publicou. O negócio 
é que na frase original era – se for beber CHOPP, me chame.
O engraçado é que todocidadão, quando fica “enchar-
cado”, apresenta defeito no feixe de molas de um dos lados. 
Anda todo “penso”. Nunca gira o corpo, faz é um contorno.
Quer testar?
Encha a lata e depois pergunte aos presentes.
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
CRÔNICA DO COTIDIANO – CEGUEIRA DAS CORES
Sorte ou falta de sorte? Sei lá.
Acromatopsia? Você sabe o que é? Popularmente é co-
nhecida como a cegueira das cores. Cientificamente é um pro-
blema de num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, bem 
invocado. E, didaticamente, é uma situação em que o sujeito 
não identifica determinadas cores, em especial as cores pardas.
Esse troço só acomete 7% da população masculina 
mundial. E adivinhe que foi “premiado” com isso? O leso aqui. 
Um mundo tão grande, com tanta gente, e essa porcaria vir me 
achar aqui em Natal.
E é por isso que faço parte da história da educação 
mundial, pois sou o único cidadão do mundo que repetiu o 
jardim de infância. Isso mesmo, repeti o jardim de infância. Fico 
pensando naquelas coleções de lápis coloridos em cima da 
mesa (que tem umas 200 cores), a professora me mandando 
usar a cor verde, e eu tateando todos os lápis, e pegando exa-
tamente os que não eram verdes. Castigo na certa.
Já mais crescido, devo ter usado algumas velhas táti-
cas de sorteio: 
“je-sus- dis-se - que - eu -es-co-lhes-se - es-
se - da-qui” (como se Jesus, com tantos pedidos importantes, 
fosse ficar escolhendo cores pra mim), ou.
“pan – dê – co – lê – dá – pá – dé – pi – pê – rú – gê 
– pan – dê – pê” (esse é de lascar).
Porém, só fui descobrir oficialmente essa dificuldade 
visual quando já estava na faculdade. Minha sorte foi que, quan-
do criança, nunca escolhia roupas (antigamente era assim), no 
colégio havia farda e na faculdade andava de branco.
Certamente foi motivo de muito fora de namorada. Elas 
pensavam – ô cara de mau gosto. Quando namorava com Ana 
Flávia, quase nunca saía nos finais de semana, e ela só veio 
me dizer, depois de casada, que era porque eu estava feito um 
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
papangú. Se fosse hoje, eu seria o Agostinho da Grande Família 
– era troncho mesmo.
Certa vez, em um evento de RH, o colega de apar-
tamento sabia dessa minha dificuldade com as cores, e que 
minhas roupas iam arrumadas na mala já com as “pareias” 
separadas, e resolveu fazer uma mistura, enquanto eu tomava 
banho. Quando saí do banho, ele já tinha saído para a soleni-
dade de abertura. Então, troquei de roupa e me mandei. Já no 
corredor do hotel, notei que as pessoas me olhavam diferentes. 
No elevado foi pior, pois algumas pessoas ficaram rindo. Quan-
do a porta do elevador abriu no saguão do hotel e o pessoal 
desceu, a colega do RN que tinha ido comigo não me deixou 
nem descer, e foi logo dizendo: volta, volta para o apartamen-
to, e pela caridade troque de roupa, porque o negócio tá feio. 
Voltei. Mas, e daí? Ia fazer o quê? Estava tudo esculhambado 
e eu não sabia nem o que procurar. Então, peguei uma calça 
escura e uma camisa escura e pronto, tudo resolvido (pelo 
menos pra mim).
Mas, hoje em dia ainda tem os sacaninhas que inven-
taram tal de degrade. Achando pouco já ter o verde, agora tem 
o verde claro, verde escuro, verde oliva, verde mais ou menos, 
verde mato, e haja verde. Só me lasco.
Se me convidar e não quiser que eu chegue à sua 
casa, é só não dizer o número e dizer a cor. Se não tiver co-
piloto, num chego não.
Falar em copiloto, eu dou o maior valor quando tem 
alguém no carro, porque de vez em quando é necessário opinar 
sobre a cor do sinal de trânsito. É cada susto invocado...
Na maioria das vezes, vou na onda dos carros vizinhos. 
Se eles fizerem merda, eu vou junto, só para ser solidário...
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
CRÔNICA DO COTIDIANO – O CARRO QUE EU LEVAVA 
PARA PASSEAR
Na terra do sol, das praias e das dunas é muito bom andar de 
buggy. Tem muita gente que possui buggy e usufrui bastante.
Acho que a única pessoa que o buggy não o levava 
para passear, e sim, ele é que levava o buggy para passear, 
era eu. Não fui o dono do buggy. Ele é que foi meu superior.
Mesmo assim, tentei deixá-lo de primeira. Tinha até 
cinto de segurança. Mas faltava pneu de step, buzina e outros 
apetrechos.
O danado do buggy tinha vontade. Só andava quando 
queria. Fincava pé, que nem jumento em beira de estrada. Eu 
nunca sabia se ele queria andar comigo. Era de veneta. Tinha 
dia que nem no empurrão ele queria pegar.
Para se ter uma ideia da “prejura”, quando eu ia deixar 
minha filha na escola, ela pedia para eu não parar na frente 
da escola (tinha vergonha dele estancar e ter que empurrar o 
bicho).
Não tinha marcador de nada. O nível da gasolina era 
verificado com um pedaço de cabo de vassoura. Os faróis esta-
vam sempre brigados. Nunca vi os dois acesos de uma só vez. 
Sinaleira? Nem pensar. Se eu não acenasse com o bra-
ço que ia entrar para um dos lados, tinha levado muita porrada.
Teve uma vez que um mecânico foi mexer no motor 
do sacana do buggy, e depois de um tempo catucando, olhou 
pra mim e disse: você ainda tem coragem de gastar dinheiro 
nesse projeto de carro?
Vendi no mesmo dia. Consegui achar outro abestalhado.
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
CRÔNICA DO COTIDIANO – MEU VELHO FUSCA
Eita, fusca velho de guerra. É um carro pra toda obra. Quem 
nunca teve um, pelo menos tem um parente ou amigo que teve 
ou tem.
O meu primeiro carro foi um fusca, e era possante: de 
bom, tinha o motor 1.600, volante esportivo e pneus largos. O 
resto? Era o resto (literalmente). Começando pela cor: amarelo 
queimado. Certamente, na hora de comprar, fui enrolado no 
que se refere à cor. Tinha ferrugem para todo lado. Em dia de 
chuva, era melhor ficar do lado de fora do que andar nele.
Dei carona a um amigo, após a pelada de futsal do 
sábado à tarde que tinha no Campus Universitário, e estava 
chovendo. Na primeira poça d’água, tomamos uma “xiringada” 
de água bem no meio dos peitos. Qualquer coisa solta no piso 
do carro ficava boiando.
Quando saía com Ana Flávia nesse carro, era um 
problema – ela toda arrumada, perfumada, mas bastava eu 
dar uma acelerada, que “empestava” o carro com o cheiro de 
gasolina. Se ela não andasse com perfume na bolsa, ficava 
fedendo a noite toda.
Depois de um conserto no eixo deste possante por um 
mecânico embriagado numa manhã de sábado, o bicho fica-
va fazendo a curva só para um lado. Para o lado direito, ele 
girava tudo, e para o lado esquerdo, não girava quase nada. 
Para fazer a curva para esse lado, era um vai e vem da pes-
te. E esse serviço foi feito justamente quando eu ia participar 
do primeiro veraneio com a família de Ana Flávia. Pense numa 
vergonha. Logo na saída, arranhei o carro nos pilotis do prédio 
da tia dela, pois não tinha como sair, fazendo a curva só para 
um lado.
Tinha uma folga tão miserável no volante, que quando 
alguém estava de carona e eu fazia uma movimentação exage-
rada no volante (só de sacanagem), o carona dizia: ei, né nessa 
rua que é para entrar não. E eu dizia que não estava fazendo 
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
a curva não, estava só “aprumando” o volante. A pessoa só 
faltava fechar os olhos, de tanto medo.
Outra vez, estacionei na porta de um restaurante, pois 
era uma comemoração da turma de Odontologia. Na saída, 
na frente de todo mundo, o sacana não pegou, e juntou uma 
turma arrumada para empurrar – vergonha total.
Depois de tanto aperreio, resolvi vender. Ocorre que, 
depois do anúncio de venda, eu viajei. E meu pai ficou com uma 
missão inusitada: se o comprador quisesse testar o carro, tinha 
que dizer a ele para andar devagar e só de um lado da rua 
(o lado que não tinha buracos), pois a bateria ficava apoiada 
numa pedaço de madeira, porque a ferrugem já tinha corroído 
o piso do carro (no fusca, a bateria ficava debaixo do banco 
do passageiro).
Perdi o velho companheiro de viagens e de biritas, mas 
muita gente agradeceu e vibrou após a venda.
Mas um fusca será sempre um grandecompanheiro.
CRÔNICA DO COTIDIANO – AMIGOS, AMIGOS – GASES 
A PARTE
Atualmente, cada situação que vivencio, já fico pensando no 
que vou escrever de forma cômica. Ao assistir uma palestra 
sobre a produção de gás natural no Brasil, e sua consequente 
distribuição e importância para a sociedade, já peguei o bloco 
de anotações e caneta entregues na entrada e fui escrevendo 
as minhas besteiras.
Tendo em vista que o gás natural é a porção do pe-
tróleo que existe na fase gasosa, e que dentre os seus compo-
nentes consta Oxigênio, Gás Carbônico e Enxofre, foi inevitável 
não associar estas informações aos gases produzidos pelo ser 
humano – os populares peidos.
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
Considerando o que foi dito sobre a produção de gás 
e a riqueza que traz para as regiões que o produzem, fiquei 
pensando o quanto alguns colegas meus poderiam estar ricos, 
pois produzem gases em escala industrial. Esses colegas são 
“verdadeiros latifundiários” de gás sulfídrico, que contém enxo-
fre e é responsável pela grande diferença com o gás natural – o 
cheiro (a catinga). A dieta dessas peças impolutas é constituída 
por pratos com couve-flor, ovos e carne, que são especiarias 
notórias por produzirem peidos malcheirosos.
O gás natural não precisa explodir e nem fazer barulho 
na sua produção. Já o peido tem um som que depende da 
velocidade da expulsão do gás e da “embocadura do caneco”.
Esses colegas ultrapassam todas as estatísticas de 
produção. Em média, uma pessoa normal produz mais ou me-
nos um litro de peido por dia, distribuído em cerca de 14 pei-
dos diários. Esses caras não. A produção é o triplo disso, e o 
barulho se assemelha a um terremoto. 
A esposa de um deles já possui uma máscara respi-
ratória natural, e às vezes nós pensamos que está com icterí-
cia, de tão amarela que ela fica – também, aguentando essa 
pisada há mais de 20 anos – é uma sobrevivente. Até poderia 
descontar a sacanagem, pois as mulheres peidam tanto quanto 
homens. O caso é que os homens têm mais orgulho disso. De 
manhã, então. Sequer diz bom dia, já libera um trovão matinal, 
com ressonância amplificada.
Mas, são produtores de energia limpa, apesar de mal-
cheirosa, e poderiam estar estimulando a economia do nosso 
estado. Muito ricos, certamente, já poderiam ser. Só não sei 
quem teria coragem de envasar essa produção deles...
 
 
 
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
CRÔNICA DO COTIDIANO – VUCO-VUCO NO 
“ISTOMBO”
Aperreio só presta grande, mas é bom que você avise ao 
seu organismo que não é preciso exagerar. Já passei muito 
aperreio na vida, mas tem dois momentos que ficaram 
marcados na mente e nas casas em que estive.
Namorando com Ana Flávia há apenas dois meses, fui 
veranear com a família dela na praia de Pitangui. Casa antiga, 
pequena, sem ser estucada, e daquelas em que o banheiro fica 
situado bem no meio da casa, exatamente entre a sala e a 
cozinha. E o pior, a parede do banheiro não vai até as telhas, 
pois é meia-parede.
Sendo assim, e devido a um vu-vu-vu repentino no 
“istombo”, consegui esperar todo mundo descer para a praia, e 
fiz carreira para o tão sonhado vaso sanitário. Relaxei e fiz o 
“caneco” virar artista: uma obra gótica, e com forte odor.
De repente, escuto uma voz vinda da cozinha: que dia-
cho é isto? Mataram um urubu aqui dentro? Era a tia de Ana 
Flávia, que tinha ficado terminando o almoço, e na hora que fui 
ao banheiro, ela tinha ido à despensa.
Fiquei pensando: e agora? Quando sair ela vai me ver 
e saber que eu sou o tal do urubu. Não adiantou, pois mesmo 
eu saindo sem ela me ver, ficou fácil saber quem era o autor 
da obra, pois só faltava eu lá na praia. Fiquei marcado na fa-
mília dela como o cheiro podre de Pitangui.
Mas não ficou só nessa não. Fui ao aniversário de um 
amigo na casa de praia em Búzios, e bem no meio da festa 
lá veio outro vu-vu-vu. Um sol da peste e eu me arrepiando. A 
cerveja descia parecendo um rodo – jogava tudo lá pra baixo. 
Perdi a vergonha e pedi para o dono da casa me in-
dicar um local tranquilo. Não tinha. O mais perto era bem no 
meio da sala. E nesta peste de sala tinha três crianças assis-
tindo televisão. Logo pensei: do jeito que criança é sincera, eu 
estou lascado se repetir a proeza de Pitangui.
Escapei fedendo... Aliás, cheiroso.
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
CRÔNICA DO COTIDIANO – O PERIGO DA ESCRITA 
LIGEIRA
Essa língua portuguesa vive nos pregando peças, ainda mais 
quando se torna necessário digitar de forma rápida. Se for nos 
celulares, os adultos “penam muito”, porque ainda não inventa-
ram um “apontador” de dedos que faça o mesmo trabalho do 
apontador de lápis. A cabeça dos dedos simplesmente não foi 
desenhada para este tipo de tecnologia. 
Quando se parte para os computadores, notebooks, 
netbooks e outras máquinas, vêm o problema do travamento 
de teclas. Outro dia, um amigo que estava com muita pressa 
para confirmar um pedido a outra empresa, solicitou que a 
secretária fosse digitando um e-mail, pois seria necessário e 
urgente haver a solicitação por escrito, seguindo as normas da 
empresa fornecedora do serviço de adequação de ambientes 
para fins de isolamento acústico e de odores, devido trabalhar 
com agentes químicos.
E foi logo dizendo assim: vamos, vamos, vamos, digita 
rápido. Coloca um cabeçalho, dá espaço e digita o texto. E lá 
se foi à secretária:
“PEDIDO
Caro Senhor Fulano,
Conforme contato prévio, solicito encaminhar o pedido, 
urgentemente, na forma que combinamos, considerando que 
é necessário organizar o ambiente físico de uma sala para 
manipulação de componentes, pois é importante o isolamento 
acústico, assim como evitar que o cheiro se espalhe pelos ou-
tros ambientes da empresa”.
Tendo em vista que a tecla da letra D estava travando 
de vez em quando, o e-mail saiu assim:
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
“PEIDO
Caro Senhor Fulano,
Conforme contato prévio, solicito encaminhar o peido, 
urgentemente, na forma que combinamos, considerando que 
é necessário organizar o ambiente físico de uma sala para 
manipulação de componentes, pois é importante o isolamento 
acústico, assim como evitar que o cheiro se espalhe pelos ou-
tros ambientes da empresa”.
Resultado: o cidadão que ia fornecer o serviço não se 
fez de rogado, foi à empresa dele e deixou todo mundo abis-
mado, porque “mandou ver” logo na recepção, e ainda deixou 
em cima da mesa a confirmação de pedido.
Ninguém podia reclamar.
CRÔNICA DO COTIDIANO – REPARAÇÃO
Nada melhor do que, após um dia cansativo de trabalho e de 
fisioterapia, você ter um sono REPARADOR. Os especialistas 
sempre dizem que o importante não é a quantidade de horas 
dormidas, mas a qualidade destas horas. Pois bem, de ontem 
para hoje eu tive um sono bem REPARADOR. Passei a noite 
toda REPARANDO tudo o que passava na televisão e ao meu 
redor, e não tinha nem uma bandinha de remédio para dormir. 
Assisti até programa de vendas (o lado bom da coisa: fiz uma 
pesquisa de preços arretada, e só repasso mediante pagamento 
antecipado e em euro). Tô só o “mi da pipoca”, com os “zói” 
vermelhos, mas cheio de informação (ô consolo besta da p...).
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
CRÔNICA DO COTIDIANO – MÍDIAS SOCIAIS NA VIDA 
DE UM BERADEIRO
Feicebuk, uatizapio e tuite. Nessa era da informação rápida e 
rasteira, as pessoas estão se comunicando muito e rapidamen-
te. E haja aperreio.
O tal do “Uatizapio” é uma “caninga” só. O celular 
apita toda hora, e ainda tem gente que bota uns toques de 
alerta bem interessantes. Um colega colocou o relinchar de um 
jumento e outro colocou uma buzina de caminhão. Não tem 
quem aguente. Uma colega colocou o toque que é “o gritinho 
de chatura de uma dondoca alvoroçada quando alguém diz 
que a cor das suas unhas não está combinando com a cor 
do terceiro botão do lado esquerdo da sub-blusa que ela está 
vestindo”. Lembre-se da dondoca mais chata e mais fresca que 
conhece, e imagine esse som: aaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiêêêêê. Ra-
paz,quem está ao lado dela na hora que a peste do celular 
apita só tem vontade de dar-lhe um cascudo.
No caso do Tuite, já foi descoberto que o inventor 
é homem. Jamais seria uma mulher, porque as conversas são 
curtíssimas. O povo gosta é de dizer o que está fazendo, pois 
acha importante e pensa que todo mundo quer saber. O dana-
do é que se fosse mesmo importante, a pessoa não ia parar de 
fazer para tuitar. E o danado é que o importante é ter muitos 
seguidores, e cada vez mais. Mas, acho que esse negócio não 
é legal não. Jesus só tinha 12 seguidores, e um ainda o lascou. 
Quanto mais essa negada que quer ter milhões de seguidores. 
Vai só se lascar. 
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PARTE I - AS SAGAS DE UM BERADEIRO
CRÔNICA DO COTIDIANO - EITA, AINDA TEM UM TAL 
DE “ISTRAGADO”
Pois é, além das pestes apitantes que já falei, ainda tem esse 
tal de instagran. É para se lascar mesmo. Além de postar um 
monte de porcaria, agora se posta as fotos para comprová-las.
É lógico que nem sempre é assim. Mas um colega las-
cou-se. Estava no maior romance com uma doidinha e era tudo 
escondido da mulher. Usava uatizapiu, feicebuk e tuite. No dia 
que inventou de usar o istragado – deu zebra.
Estragou tudo, literalmente. Postou a foto dos dois 
num motel, logo na hora do “canguru cambeta”, “carrinho de 
mão desgovernado” e “vai que é tua Taffarel”. Quando a mulher 
descobriu e viu, não o deixou nem entrar em casa.
Hoje, não pode nem ver uma máquina fotográfica, e 
voltou a usar celular sem câmera – daqueles que quando o 
ladrão vai lhe roubar e vê a desgraça, lhe dá uns trocados.