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126 • ©RAE • VOL. 47 • Nº 2 Moisés Balassiano e Isabel de Sá Afon- so da Costa são os organizadores desta apropriada coletânea sobre o tema de carreiras em nosso país. O livro reúne artigos teóricos e pesquisas empíri- cas de vários pesquisadores brasilei- ros e apresenta também um texto de pesquisadores estrangeiros ligados a instituições francesas de ensino e pesquisa, Christophe Falcoz e Jean- François Chanlat. Em boa hora, o livro de Balassiano e Costa propõe a discussão do tema da carreira sem fugir às contradições inevitáveis que a questão traz no mo- mento atual. O tema é tratado por di- ferentes prismas, que problematizam os dilemas de uma individualidade mutante em face das profundas trans- formações das sociedades contem- porâneas. Na apresentação do livro, É POSSÍVEL FALAR DE GESTÃO DE CARREIRA NO BRASIL? Por Maria José Tonelli Professora da FGV-EAESP E-mail: maria.jose.tonelli@fgv.br RESENHA • É POSSÍVEL FALAR DE GESTÃO DE CARREIRA NO BRASIL? Maria Tereza Gomes, redatora-chefe da revista Você S/A, mostra que esta- mos em uma encruzilhada, pois, se o individualismo extremo prevalecer, não haverá mais o sentido de coletivo, fundamental para o crescimento e de- senvolvimento das corporações. Apesar de se tratar de uma coletâ- nea, o livro apresenta uma unidade. Após a Introdução, em que os orga- nizadores apresentam o projeto co- letivo do livro, são apresentados 11 artigos, que destacaremos brevemente a seguir. O artigo de Paulo Roberto Motta, que abre a coletânea, apresenta uma visão geral do contexto que, há mais de 50 anos, incentivou a carreira ge- rencial, mostrando que hoje esses va- lores mudaram: de um lado, o indivi- dualismo está mais presente; de ou- tro, as empresas estão mais próximas da comunidade. Para que o indivíduo possa conduzir sua própria carreira, é necessário desenvolver competências e empregabilidade. Contudo, o autor mostra a existência de contradições nesse processo, pois ao mesmo tempo em que a individualidade é encoraja- da, há também pressões no sentido da conformidade e da obediência para a obtenção de recompensas ou bônus fi nanceiros. Em seu artigo, Thiry-Cherques discute, a partir de evidências de um estudo empírico, o sentido de indivi- dualismo nas empresas brasileiras. Seu estudo foi realizado com 85 executivos das regiões norte e sudeste do país. O autor observa que o tipo de individu- alismo defi nido por ele de “possessi- vo” está fortemente presente no gru- GESTÃO DE CARREIRAS: DILEMAS E PERSPECTIVAS De Moisés Balassiano e Isabel de Sá Affonso da Costa (Orgs.) Editora Atlas, São Paulo, 2006, 221p. 124-129.indd 126124-129.indd 126 4/13/07 4:15:48 PM4/13/07 4:15:48 PM ABR./JUN. 2007 • ©RAE • 127 MARIA JOSÉ TONELLI po pesquisado. Para Thiry-Cherques, esse individualismo implica compor- tamentos de autonomia, mas também de sujeição aos esquemas regulatórios das empresas. O próximo artigo, de Ana Heloisa da Costa Lemos, analisa o conceito controverso de empregabilidade. A autora recorre a pesquisadores con- temporâneos importantes, como Za- rifi an e Hirata, para defender que o conceito de empregabilidade revela o deslocamento do conceito de compe- tência em decorrência de mudanças mais profundas no sistema econômi- co. Buscando referências também em autores nacionais, Lemos faz uma crí- tica contundente das implicações que a palavra produz, e mostra a crescente individualização do emprego e do de- semprego no Brasil. O artigo escrito por Isabel de Sá Affonso da Costa e Anna Maria de Souza Monteiro Campos discute que a carreira teve um papel central no contrato psicológico que se estabelecia entre as pessoas e a organização. Se, de um lado, a identidade das pessoas foi construída em torno do projeto de trabalho, que teve – e continua a ter – centralidade na construção de si, por outro, os frágeis e efêmeros víncu- los contemporâneos levam ao que as autoras chamaram de “abertura ao acaso”. A carreira proteana é discutida no artigo de Helio Tadeu Martins. Nele,o autor apresenta os principais tipos de carreira e relaciona o conceito com práticas de gestão de pessoas, a partir da análise de sete universidades cor- porativas brasileiras. As conclusões do autor mostram que muitas práticas gerencias corporativas baseiam o ge- renciamento da carreira nas ações da área de Recursos Humanos, e não no seu auto-gerenciamento. Joyce Ajuz Coelho mostra em seu artigo os caminhos que levaram à emergência do modelo de carreira sem fronteiras, em contraposição ao senti- do tradicional de carreira. De acordo com a autora, a carreira sem fronteira é o modelo paradigmático dos novos tempos. Extremamente pertinente para os que estão no mundo do ensino da Ad- ministração, o artigo de Beatriz Maria Braga Lacome e Rebeca Chu trata da carreira do professor universitário. As autoras realizaram entrevistas com 19 professores e, a partir delas, observam que, entre eles, há uma forte vincula- ção com o trabalho, autonomia para o desenvolvimento de competências, a existência de uma rede de relacio- namentos e mobilidade profi ssional – todas características do conceito de carreira sem fronteiras, “que sugere a independência e autonomia de car- reira em relação a uma única organi- zação” (p. 109). Denise Medeiros Ribeiro Salles e Miriam Garcia Nogueira discutem a questão da carreira no setor público. De acordo com elas, esse setor está hoje defasado dos benefícios permiti- dos pelas novas tecnologias, e, desde o princípio, os planos de carreira ba- seiam-se na noção de cargos. A Consti- tuição de 1988 impede que ocupantes de cargos efetivos possam ascender funcionalmente, já que o processo de admissão nesses cargos está vincu- lado exclusivamente aos concursos públicos. Além da discussão sobre a infl exibilidade presente nesse tipo de carreira, o artigo traz um belo resga- te histórico dos diferentes momentos da administração das pessoas nesse setor. Também sobre o setor público, o ar- tigo de Enrique Saravia traz relevante contribuição sobre o tema dentro da reforma do Estado e da Administra- ção Pública, com críticas ao tipo ideal weberiano que tornou o sistema mais rígido. A noção de função publica, o conceito de funcionário público e os sistemas de emprego público são apre- sentados nesse artigo, com compara- ções interessantes com os sistemas de outros países. Os dois últimos artigos discutem a carreira após os 40 anos. Joaquim Rubens Fontes Filho mostra que, no processo de renovação das empre- sas, tanto no exterior como em nosso país, os executivos com mais de 40 foram substituídos por jovens com salários mais baixos. O autor ques- tiona a aplicabilidade do conceito de carreira sem fronteiras no mercado de trabalho brasileiro. O autor apresenta dados da força de trabalho no Brasil e problematiza o impacto do amadure- cimento da força de trabalho para as organizações. Nessa mesma direção, Falcoz e Chanlat mostram que a possibilidade de a carreira fi car estagnada está asso- ciada a diversos fatores. Em geral, de acordo com os autores, quanto mais avançada a idade, maior a chance de estagnação. O estudo empírico con- duzido com 58 profi ssionais mostra que fatores organizacionais e indivi- duais também interferem nas pers- pectivas de continuidade de trabalho, como, por exemplo, o tempo de per- manência nos cargos, a concorrência no setor, as políticas de aposentado- ria e os sentimentos envolvidos na aposentadoria. É possível falar de gestão de car- reiras no Brasil? Os autores mostram que sim, apesar das difi culdades ine- vitáveis que o tema enfrenta por aqui. Em síntese, o livro apresenta uma vi- são abrangente sobre a questão de car- reiras no Brasil. Desse modo, a leitura dessa coletânea é extremamente rele- vante para pesquisadores, professores de Administração e profi ssionais da área de Gestão de Pessoas. Mas con- sideramos que se trata de uma leitura adequada também para opúblico exe- cutivo, que muito tem a se benefi ciar, pessoal e profi ssionalmente, de todos os aspectos aqui tratados. 124-129.indd 127124-129.indd 127 4/13/07 4:15:48 PM4/13/07 4:15:48 PM << /ASCII85EncodePages false /AllowTransparency false /AutoPositionEPSFiles false /AutoRotatePages /PageByPage /Binding /Left /CalGrayProfile () /CalRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CalCMYKProfile (U.S. Web Coated \050SWOP\051 v2) /sRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CannotEmbedFontPolicy /Warning /CompatibilityLevel 1.3 /CompressObjects /Off /CompressPages true /ConvertImagesToIndexed true /PassThroughJPEGImages true /CreateJDFFile false /CreateJobTicket true /DefaultRenderingIntent /Default /DetectBlends false /DetectCurves 0.0000 /ColorConversionStrategy /LeaveColorUnchanged /DoThumbnails false /EmbedAllFonts true /EmbedOpenType false /ParseICCProfilesInComments true /EmbedJobOptions true /DSCReportingLevel 0 /EmitDSCWarnings false /EndPage -1 /ImageMemory 524288 /LockDistillerParams true /MaxSubsetPct 100 /Optimize false /OPM 1 /ParseDSCComments true /ParseDSCCommentsForDocInfo true /PreserveCopyPage true /PreserveDICMYKValues true /PreserveEPSInfo false /PreserveFlatness true /PreserveHalftoneInfo false /PreserveOPIComments false /PreserveOverprintSettings true /StartPage 1 /SubsetFonts false /TransferFunctionInfo /Remove /UCRandBGInfo /Remove /UsePrologue false /ColorSettingsFile (None) /AlwaysEmbed [ true ] /NeverEmbed [ true /Helvetica /Helvetica-Bold /Helvetica-BoldOblique /Helvetica-Oblique ] /AntiAliasColorImages false /CropColorImages true /ColorImageMinResolution 150 /ColorImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleColorImages true /ColorImageDownsampleType /Bicubic /ColorImageResolution 300 /ColorImageDepth -1 /ColorImageMinDownsampleDepth 1 /ColorImageDownsampleThreshold 1.10000 /EncodeColorImages true /ColorImageFilter /DCTEncode /AutoFilterColorImages false /ColorImageAutoFilterStrategy /JPEG /ColorACSImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /ColorImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000ColorACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000ColorImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasGrayImages false /CropGrayImages true /GrayImageMinResolution 150 /GrayImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleGrayImages true /GrayImageDownsampleType /Bicubic /GrayImageResolution 300 /GrayImageDepth -1 /GrayImageMinDownsampleDepth 2 /GrayImageDownsampleThreshold 1.10000 /EncodeGrayImages true /GrayImageFilter /DCTEncode /AutoFilterGrayImages false /GrayImageAutoFilterStrategy /JPEG /GrayACSImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /GrayImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000GrayACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000GrayImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasMonoImages false /CropMonoImages true /MonoImageMinResolution 1200 /MonoImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleMonoImages false /MonoImageDownsampleType /Average /MonoImageResolution 1200 /MonoImageDepth -1 /MonoImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeMonoImages true /MonoImageFilter /CCITTFaxEncode /MonoImageDict << /K -1 >> /AllowPSXObjects false /CheckCompliance [ /None ] /PDFX1aCheck false /PDFX3Check false /PDFXCompliantPDFOnly false /PDFXNoTrimBoxError true /PDFXTrimBoxToMediaBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXSetBleedBoxToMediaBox true /PDFXBleedBoxToTrimBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXOutputIntentProfile () /PDFXOutputConditionIdentifier () /PDFXOutputCondition () /PDFXRegistryName () /PDFXTrapped /False >> setdistillerparams << /HWResolution [2540 2540] /PageSize [680.315 864.567] >> setpagedevice