Prévia do material em texto
Autonomia e Terapia Ocupacional J U L I A M A R T I N S D E L M U N D E P A G E 0 2 Artigos analisados COSTA, Luciana Assis; ALMEIDA, S. C.; ASSIS, M. G. Reflexões epistêmicas sobre a Terapia Ocupacional no campo da Saúde Mental/Epistemic reflections on Occupational Therapy in Mental Health. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, [S. l.], v. 23, n. 1, p. 189–196, 2015. ALMEIDA, D. T. DE .; TREVISAN, É. R.. Estratégias de intervenção da Terapia Ocupacional em consonância com as transformações da assistência em saúde mental no Brasil. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 15, n. 36, p. 299– 308, jan. 2011. JUNS, Angélica Garcia; LANCMAN, Selma. O trabalho interdisciplinar no CAPS e a especificidade do trabalho do terapeuta ocupacional . Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 22, n. 1, p. 27–35, 2011. ASSAD, F. B.; PEDRÃO, L. J.; CIRINEU, C. T. Estratégias de cuidado utilizadas por terapeutas ocupacionais em centros de atenção psicossocial/Care strategies used by occupational therapists in psychosocial care centers. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, [S. l.], v. 24, n. 4, p. 743–753, 2016. SHIMOGUIRI, A. F. D. T.; COSTA-ROSA, A. DA .. Do tratamento moral à atenção psicossocial: a terapia ocupacional a partir da reforma psiquiátrica brasileira*. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 21, n. 63, p. 845–856, out. 2017. VIEIRA, F. R.; LUSSI, I. A. DE O.. Participação e autonomia de pessoas que moram nos serviços residenciais terapêuticos: contribuições da terapia ocupacional. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, v. 30, p. e3006, 2022. COLATO, Erika Regina de Oliveira. Projeto terapêutico singular em saúde mental: contribuições da terapia ocupacional. 2022. 124 p. Dissertação (Mestrado em Terapia Ocupacional) - Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. RIBEIRO, M. B. S.; OLIVEIRA, L. R. DE .. Terapia ocupacional e saúde mental: construindo lugares de inclusão social. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 9, n. 17, p. 425–431, mar. 2005. P A G E 0 3 Definições “O processo de facilitar ao indivíduo com limitações, a restauração, no melhor nível possível de autonomia do exercício de suas funções na comunidade” (PITTA, 1996, p.19 apud Juns & Lancman, 2011 / apud Shimoguiri & Costa-Rosa, 2017) “[...] a capacidade de autogoverno, de livre arbítrio quanto à regência de seu próprio destino, no fazer ou não fazer, no ir ou não ir, no aceitar ou no recusar e assim por diante, concedida pouco a pouco, por parâmetros biológicos e de convívio social, que afastam os seres humanos dos animais e criam os contornos de sua personalidade (Cohen & Salgado, 2009, p. 227 apud Vieira & Lussi, 2022) “A autonomia é a capacidade do indivíduo tomar decisões por si mesmo a partir das informações que possui ou tem disponível [...] indica um processo, um “ganho” de liberdade proporcional com as condições variadas constituintes de cada sujeito.” (Cohen & Salgado, 2009, p. 227 apud Vieira & Lussi, 2022) P A G E 0 3 Definições Só é possível falar de autonomia quando se há participação, diferenciando os termos a autonomia diz sobre decisão e escolha e participação sobre ação. “uma pessoa pode ser participativa, ou ser colocada em situações de participação, mas não ter autonomia para escolher e decidir o que quer; e é possível também que outra pessoa tenha autonomia, mas não seja participativa, seja por limitações físicas e/ou cognitivas, seja devido às barreiras físicas/estruturais, econômicas, culturais e sociais.” (Vieira & Lussi, 2022 p.11) “Entendemos a autonomia como a capacidade de um indivíduo gerar normas, ordens para a sua vida, conforme as diversas situações que enfrente. Assim, não se trata de confundir autonomia com auto-suficiência nem com independência. Dependentes somos todos; a questão dos usuários é antes uma questão quantitativa: dependem excessivamente de apenas poucas relações/coisas. Esta situação de dependência restrita/restritiva é que diminui a sua autonomia. Somos mais autônomos quanto mais dependentes de tantas mais coisas pudermos ser, pois isso amplia as nossas possibilidades de estabelecer novas normas, novos ordenamentos para a vida (Kinoshita, 1996, p. 57 apud Vieira e Lussi, 2022). P A G E 0 3 Autonomia A palavra autonomia foi citada pelo menos uma vez em 7 dos 8 artigos O texto que não menciona autonomia, traz alguns conceitos que se associam a autonomia “atenção à saúde mental em rede de bases territoriais cria espaços de sociabilidade - integrando o espaço doméstico ao da cidade - constrói um campo relacional e de ampliação das atividades cotidianas.” (COSTA; ALMEIDA & ASSIS, 2015) P A G E 0 3 Autonomia Apenas 1 artigo discute sobre a autonomia e terapia ocupacional de modo mais aprofundado Os demais apontam de forma objetiva e direta e trazem a autonomia enquanto: Objetivo da reabilitação psicossocial Objetivo do cuidado em atenção a saúde mental Objetivo da Terapia Ocupacional no campo da saúde mental Objetivo fundamental da Terapia Ocupacional independente do campo de atuação Objetivo comum da equipe do serviço (CAPS) Objetivo comum entre T.O e RP (pela incorporação do referencial e pelos Aspecto indissociável da promoção da inclusão social Objetivo do PTS, da Clínica Ampliada, da Equipe de Referência e do Apoio Matricial P A G E 0 3 Autonomia VIEIRA, F. R.; LUSSI, I. A. DE O.. Participação e autonomia de pessoas que moram nos serviços residenciais terapêuticos: contribuições da terapia ocupacional. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, v. 30, p. e3006, 2022. O sofrimento psíquico grave tem como consequência a perda de autonomia, pela invalidação do discurso e ação do sujeito atrelados aos sintomas de seu quadro, o resgate dessa autonomia não é considerado A limitação está sempre posta, mesmo na “normalidade”, pelo contexto ou fase da vida. Desse modo, o ponto de partida deve ser a possibilidade de experimentação da própria vida, para depois se pensar na intervenção nas limitações e dificuldades sejam elas de ação e/ou decisão. O interesse ou a falta dele se altera com momento da vida, estimulo e ambiente, dessa forma, é necessário que estímulo, graduação e adaptação de atividades sejam constantemente revistas com o sujeito P A G E 0 3 Autonomia Apenas 1 artigo discute sobre a autonomia e terapia ocupacional de modo mais aprofundado Os demais apontam de forma objetiva e direta e trazem a autonomia enquanto: Objetivo da reabilitação psicossocial Objetivo do cuidado em atenção a saúde mental Objetivo da Terapia Ocupacional no campo da saúde mental Objetivo fundamental da Terapia Ocupacional independente do campo de atuação Objetivo comum da equipe do serviço (CAPS) Objetivo comum entre T.O e RP (pela incorporação do referencial e pelos Aspecto indissociável da promoção da inclusão social Objetivo do PTS, da Clínica Ampliada, da Equipe de Referência e do Apoio Matricial Terapia Ocupacional e autonomia São associadas pela(o): uso da atividade para produção de autonomia priorização de atendimentos grupais e oficinas visando a produção de autonomia os terapeutas ocupacionais possuem um conceito próprio de autonomia que autonomia, criatividade e mobilidade são bem trabalhadas pelo T.O ao passo que ele trabalha a relação do corpo com objetos. T.O desenvolve ações que buscam direitos e promoção de autonomia, colaborando com a incorporação do PTS ao passo que ela reconhece a singularidade do sujeito. possibilidade de tecer articulações entre os aspectos micro e macrossociais que atravessam a efetivação da autonomia e da participação social. Projeção do fazer outras coisas para fora do CAPS Estar com sujeito e ampliar as possibilidades de fazer mais coisa do dia a dia Objeto de estudo, cotidiano, que é reconhecido como espaço em que se efetiva projetos sociais e coletivos e se gera autonomia. Analise da organização psíquica para se pensar independência e autonomia. P A G E 0 5 Terapia Ocupacional e autonomia A Terapia Ocupacionaltem um papel de destaque nos novos serviços de atenção a SM (CeCos), pelo uso da atividade para buscar autonomia e participação social. (Ribeiro & Oliveira, 2005) A Terapia Ocupacional tem priorizado o atendimento grupal e oficinas terapêuticas como oportunidade para produzir autonomia e participação social (Almeida & Trevisan, 2011) “A Terapia Ocupacional tem um conceito específico de autonomia, diferente dos outros profissionais que têm uma prática muito assistencialista” (Juns & Lancman, 2011 p.32) “essa questão da criatividade, a própria questão da autonomia,(...) a mobilidade do paciente no espaço, à gente trabalha legal isso. Na medida em que a gente tira e guarda coisas, que trabalha a relação do seu corpo com os objetos.” (Juns & Lancman, 2011 p.32) T.O é reconhecida por colaborar na incorporação do PTS, pois reconhece a singularidade dos sujeitos e desenvolve ações potencialmente inclusivas na busca por direitos e promoção de autonomia. (Colato, 2022) A autonomia e a participação perpassam por aspectos micro e macrossociais, e a terapia ocupacional tem muito a contribuir, pois através de sua perspectiva crítica é possível tecer uma articulação entre esses dois aspectos. (Vieira e Lussi, 2022) P A G E 0 6 “...eu tento apostar que eles possam ta na vida, que ele possam fazer outras coisas fora, entendo com ele o que ele tem feito fora do espaço do CAPS” (Assad; Pedrão & Cirineu, 2016 p.750) “[...]outros tem sucesso de você conseguir com que a pessoa amplie mesmo a vida dela, no sentido de fazer mais coisas no dia-a-dia, além de ir na oficina de trabalho, mas o que mais ela pode preencher” (Assad; Pedrão & Cirineu, 2016 p.750) O cotidiano, objeto de estudo da terapia ocupacional é reconhecido como local de efetivação de projetos sociais e coletivos, como local onde se absorve valores, normas, conhecimento, visões de mundo, o que gera autonomia e inicia o processo de construção de um lugar social. (Assad; Pedrão & Cirineu, 2016 p.750) “São muitos aspectos, não é específico na Terapia Ocupacional, mas acho que é essencial, por exemplo, a organização psíquica, né. Como é que está cognitivamente conseguindo elaborar ou não o contexto de fora, o real, contexto interno e como é que ele pode funcionar dentro disso. Não tem como não observar isso. Então isso vai levar, então, a pensar o quanto que ele pode ser independente e ter autonomia” (Colato, 2022) Terapia Ocupacional e autonomia P A G E 0 5 Possibilidades Diante da cristalização do pensamento de desvalor e incapacidade dos sujeitos em sofrimento, o t.o, mais do que investigar limitações, deve buscar as interesses e potencialidades buscar novas possibilidades de participação, de forma gradual. com ou sem ajuda, com ou sem adaptações e dispositivos, conforme avanço e interesse dos sujeitos. Visto que o PTS objetiva a participação ativa e autonomia do usuário nesse processo, propõe que em momentos de crise, onde se reconhece que a autonomia está inviabilizada, pensar propostas de “diretivas antecipadas”, acordos e negociações prévias para serem utilizadas nesses momentos. Diante da discrepância e das práticas que deveriam valorizar a autonomia do usuário e dos familiares na construção do PTS, entende-se que a T.O pode trabalhar esse aspecto em duas dimensões, a clínica, considerando a autonomia do usuário nas atividades propostas a partir da construção do PTS, e metodológica, trazendo para reflexão e discussão com todos aqueles que planejam e executam o respeito e a autonomia do usuário.