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Aula 05 - Teoria da Infração Penal

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BACHARELADO EM DIREITO
Direito Penal – Teoria Geral da Infração Penal.
Professor Mestre Roniery Rodrigues Machado.
Aula 05: Tipicidade; Dolo e Culpa.
TIPICIDADE
Para cuidarmos do fato típico, devemos voltar os olhos aos conceitos de tipo penal, tipicidade, conduta, resultado e nexo causal, pois o fato típico é a síntese da conduta ligada ao resultado pelo nexo causal, amoldando-se ao modelo legal incriminador. Em outras palavras, quando ocorre uma ação ou omissão, torna-se viável a produção de resultado juridicamente relevante; constatada a tipicidade (adequação do fato da vida real ao modelo descrito abstratamente em lei), encontramos o primeiro elemento do crime. Em suma: tipicidade é instrumento de adequação, enquanto o fato típico é a conclusão desse processo. 
Esquematicamente:
tipicidade = fato real perfeitamente adequado ao tipo;
fato típico = conduta + nexo causal + resultado, amoldados ao modelo legal.
Exemplificando: Tício elimina a vida de Caio, desferindo-lhe tiros de arma de fogo (fato da vida real). Constata-se haver o modelo legal previsto no art. 121 do Código Penal (“matar alguém”). Subsume-se o fato ao tipo e encontramos a tipicidade. Logicamente, para que os fatos da vida real possam ser penalmente valorados, é indispensável que o trinômio esteja presente (conduta + nexo + resultado). 
CONCEITO DE TIPO PENAL 
É a descrição abstrata de uma conduta, tratando-se de uma conceituação puramente funcional, que permite concretizar o princípio da reserva legal (não há crime sem lei anterior que o defina).
A existência dos tipos penais incriminadores (modelos de condutas vedadas pelo direito penal, sob ameaça de pena) tem a função de delimitar o que é penalmente ilícito do que é penalmente irrelevante, tem o objetivo de dar garantia aos destinatários da norma, pois ninguém será punido senão pelo que o legislador considerou delito, bem como tem a finalidade de conferir fundamento à ilicitude penal. Note-se que o tipo não cria a conduta, mas apenas a valora, transformando-a em crime. 
Estrutura do tipo penal
título ou “nomen juris”: é a rubrica dada pelo legislador ao delito (como o homicídio simples é a rubrica do modelo de comportamento “matar alguém”).
preceito primário: é a descrição da conduta proibida, quando se refere ao tipo incriminador, ou da conduta permitida, referindo-se ao tipo penal permissivo. Dois exemplos: o preceito primário do tipo
incriminador do art. 121 do Código Penal é “matar alguém”; o preceito primário do tipo permissivo do art. 25 do Código Penal, sob a rubrica “legítima defesa”, é repelir injusta agressão, atual ou iminente, a
direito próprio ou de terceiro, usando moderadamente os meios necessários . 
preceito secundário: é a parte sancionadora, que ocorre somente nos tipos incriminadores, estabelecendo a sanção penal. Ex.: no crime de homicídio simples, o preceito secundário é “reclusão, de seis a vinte anos”. 
CONCEITO DE CONDUTA PENALMENTE RELEVANTE 
Conduta é a ação ou omissão voluntária e consciente que determina movimentos corpóreos.
Vontade é o querer ativo, apto a levar o ser humano a praticar um ato, livremente. Não há vontade nos movimentos obtidos por coação física irresistível ou força maior irresistível; movimentos obtidos por coação física irresistível ou força maior irresistível; e, movimentos resultantes da hipnose.
Consciência é a possibilidade que o ser humano possui de separar o mundo que o cerca dos próprios atos, realizando um julgamento moral das suas atitudes. Não há consciência nos estados de sonambulismo; e, narcolepsia.
CONCEITO DE RESULTADO
Há dois critérios para analisar o resultado:
naturalístico: é a modificação sensível do mundo exterior. O evento está situado no mundo físico, de modo que somente pode-se falar em resultado quando existe alguma modificação passível de captação pelos sentidos. Exemplo: a morte de uma pessoa é um resultado naturalisticamente comprovável;
jurídico ou normativo: é a modificação gerada no mundo jurídico, seja na forma de dano efetivo ou na de dano potencial, ferindo interesse protegido pela norma penal. Sob esse ponto de vista, toda conduta que fere um interesse juridicamente protegido causa um resultado. Exemplo: a invasão de um domicílio, embora possa nada causar sob o ponto de vista naturalístico, certamente provoca um resultado jurídico, que é ferir o direito à inviolabilidade de domicílio do dono da casa.
CONCEITO DE NEXO CAUSAL 
É o vínculo estabelecido entre a conduta (ação ou omissão) do agente e o resultado por ele gerado, com relevância suficiente para formar o fato típico. 
Não há qualquer diferença entre causa, condição (aquilo que permite à causa produzir o seu efeito) e ocasião (circunstância acidental que favorece a produção da causa), para fins de aplicação da relação de causalidade. 
Para apurar se alguma circunstância fática é causa do crime, deve-se utilizar o critério do juízo hipotético de eliminação, ou seja, abstrai-se determinado fato do contexto e, se ainda assim o resultado se produzisse, não seria ele causa do resultado. 
Ex.: o fornecimento do revólver utilizado pelo agente para desfechar os tiros que levaram a vítima à morte é causa do crime, pois a sua abstração faria desaparecer a arma do delito e, consequentemente, os tiros. 
Teorias sobre o nexo de causalidade 
Há, fundamentalmente, duas posições doutrinárias predominantes no Brasil acerca do nexo causal, com reflexos na jurisprudência: 
TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS CONDIÇÕES (teoria da equivalência dos antecedentes ou teoria da condição simples ou generalizadora).
TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA (teoria das condições qualificadas).
Teorias sobre o nexo de causalidade 
A) TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS CONDIÇÕES: 
Qualquer das condições que compõem a totalidade dos antecedentes é causa do resultado, pois a sua inocorrência impediria a produção do evento. É a teoria adotada pelo Código Penal (conditio sine qua non), que sustenta que a “causa da causa também é causa do que foi causado” (causa causae est causa causati). 
Utilizando o exemplo anterior, o fornecimento da arma do crime, mesmo em atividade lícita de comércio, é causa do resultado (morte), porque sem a arma não teria havido os tiros fatais.
“CÓDIGO PENAL: Relação de causalidade
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.”
Teorias sobre o nexo de causalidade 
B) TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA
Um determinado evento somente será produto da ação humana quando esta tiver sido apta e idônea a gerar o resultado. 
No exemplo supra, o fornecimento da arma, desde que em atividade lícita de comércio, jamais seria considerado causa do crime, pois não se trata de ação idônea à produção desse tipo de resultado, vale dizer, armas não são vendidas em lojas para causar crimes de homicídio. 
Teorias sobre o nexo de causalidade 
O corte do nexo causal em ambas as teorias é feito de maneira diversa, mas se chegue ao mesmo resultado, p. ex., não haverá punição ao vendedor que entregou a arma ao comprador. Ambas sofrem críticas. 
Na primeira, adotada pelo Código, a venda é considerada causa do delito, mas o vendedor não é punido, uma vez que não agiu com dolo ou culpa. Sofre a crítica de gerar uma regressão ao infinito –, colocando no nexo causal condutas despropositadas, como a venda lícita de uma arma (poder-se-ia considerar causa até mesmo o momento de fabricação da arma e assim por diante). 
Na segunda teoria, a ação do vendedor não é razoável, nem idônea, para produzir o resultado morte. Sofre a crítica de aproximar, em demasia, causalidade e culpabilidade, colocando o juiz numa posição especial de análise do nexo causal (o que foi e o que não foi idôneo).
Teorias sobre o nexo de causalidade 
Há, ainda, uma terceira teoria, hoje dominante na Alemanha e bastante difundida na Espanha, que é a da imputação objetiva, pretendendo sanar os problemas existentes com as duas anteriores. 
Ela tempor finalidade imputar ao agente a prática de um resultado delituoso apenas quando o seu comportamento tiver criado, realmente, um risco não tolerado, nem permitido, ao bem jurídico. 
Por isso, a venda da arma, independentemente de qualquer outra análise, não pode ser considerada causa do resultado, uma vez que o vendedor não agiu de modo a produzir um risco não permitido e intolerável ao bem jurídico. 
Causas independentes e relativamente independentes 
“CÓDIGO PENAL: Superveniência de causa independente 
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.”
As causas independentes (aquelas que surgem e, por si mesmas, são aptas a produzir o resultado) cortam o nexo causal. 
Ex.: um raio que atinja a vítima, matando-a, pouco antes de ela ser alvejada a tiros pelo agente, é suficiente para cortar o nexo de causalidade (é a chamada “causalidade antecipadora”). 
Já as causas relativamente independentes, que surgem de alguma forma ligadas às causas geradas pelo agente, mas possuindo força suficiente para gerar o resultado por si mesmas. 
Ex.: se, por conta de um tiro, a vítima vai ao hospital e, lá estando internada, termina morrendo queimada num incêndio que toma conta do nosocômio, é preciso considerar que o fogo foi uma causa relativamente independente, que produziu o resultado morte. 
Concausas e seus efeitos 
“CÓDIGO PENAL: Superveniência de causa independente 
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.”
Concausas são as causas concomitantes que se unem para gerar o resultado. É comum, na relação de causalidade, detectarmos a confluência de uma causa principal associada a uma causa preexistente
para que haja força para gerar o resultado. O mesmo se dá na associação da causa principal com outras, consideradas preexistentes (já existentes antes do fato) e concomitantes (existentes no momento do fato) e supervenientes (posteriores ao fato). 
Dentro da esfera de previsibilidade, não se corta o nexo causal se houver a junção da causa principal com a preexistente, nem da principal com a concomitante, abrindo-se exceção, dependente de prova, no tocante à superveniente. 
Concausas e seus efeitos - Exemplos
A) A atira em B, com a finalidade de matá-lo, gerando ferimento que não seria fatal não fosse o fato de existir causa preexistente (doença grave, por exemplo). Dessa forma, associando-se a lesão leve à doença grave e consequente debilidade física da vítima, esta morre. O que levou ao resultado foi a confluência de causas. 
Responde o agente por homicídio consumado, pois é inequívoco que deu causa ao evento, embora o resultado só tenha ocorrido por haver causa preexistente.
Concausas e seus efeitos - Exemplos
B) A atira em B para matar, provocando lesão leve, mas que o faz perder o equilíbrio caindo na via pública, quando é atropelado. Há confluência de causas: tiro + atropelamento.
Responde o agente por homicídio consumado, pois também é previsível que sua ação poderia desencadear, concomitantemente, a queda na via pública, levando a vítima a ser colhida por algum veículo.
Concausas e seus efeitos - Exemplos
C) A atira em B para matar, gerando lesão leve, que conduz a vítima ao hospital. Nesse local,
tratando-se, contrai infecção hospitalar e falece. 
Responde o agente por homicídio consumado. As
concausas (tiro + infecção hospitalar), mesmo que supervenientes, levaram à produção do evento e dentro da esfera de previsibilidade do autor.
Concausas e seus efeitos - Exemplos
D) A atira em B para matar, causando lesão leve e fazendo com que a vítima ingresse no hospital para tratamento. Nesse local, porque há um desabamento, morre soterrada. 
O agente responde somente por tentativa de homicídio. A hipótese é a única exceção aberta pelo art. 13, § 1.º, do Código Penal, uma vez que se trata de causa superveniente relativamente independente que por si só gerou o resultado. Nessa situação, entende o legislador que há imprevisibilidade, motivo pelo qual o nexo causal pode ser cortado.
Relação de causalidade nos crimes omissivos próprios e omissivos impróprios 
“CÓDIGO PENAL: Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:”
São delitos omissivos próprios aqueles cuja conduta envolve um não fazer típico, que pode – ou não – dar causa a um resultado naturalístico. 
Exemplo: deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada configura o delito de omissão de socorro – art. 135, CP – porque o não fazer é previsto no tipo penal, como modelo de comportamento proibido.
Relação de causalidade nos crimes omissivos próprios e omissivos impróprios
“CÓDIGO PENAL: Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:”
São crimes omissivos impróprios os que envolvem um não fazer, que implica na falta do dever legal de agir, contribuindo, pois, para causar o resultado. Não têm tipos específicos, gerando uma tipicidade por extensão. Para que alguém responda por um delito omissivo impróprio é preciso que tenha o dever de agir, imposto por lei, deixando de atuar, dolosa ou culposamente, auxiliando na produção do resultado. 
Exemplo: um policial acompanha a prática de um roubo, deixando de interferir na atividade criminosa, propositadamente, porque a vítima é seu inimigo. Responderá por roubo, na modalidade comissiva por omissão.
Natureza jurídica da omissão própria 
Há duas posições: 
existência normativa: a omissão não tem existência no plano naturalístico, ou seja, existe apenas no mundo do dever-ser, sendo uma abstração, a sua existência se deve a uma determinação da lei. 
existência física: a omissão é um trecho do mundo real, embora não tenha a mesma existência física da ação.
Guilherme Nucci defende que o Código Penal adotou uma teoria eclética quanto à omissão, dando relevo à existência física, no caput do art. 13, mas concedendo especial enfoque à existência normativa no § 2.º do mesmo artigo.
Significado da expressão 
penalmente relevante 
A omissão que não é típica, vale dizer, quando o não fazer deixa de constar expressamente num tipo penal, somente se torna relevante para o direito penal caso o agente tenha o dever de agir. Do contrário, não se lhe pode exigir qualquer conduta. 
Ex.: qualquer do povo que acompanhe a ocorrência de uma agressão pode agir para impedir o resultado, mas não é obrigado. Daí por que, mesmo que aja assumido o risco da vítima ferir-se gravemente, não pode ser punido, pois não tinha o dever jurídico de impedir o resultado. A situação é diferente se a pessoa que acompanha a agressão, não agindo de propósito, era o guarda-costa da vítima, contratado para protegê-la.
Dever de agir 
“CÓDIGO PENAL: Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.”
Dever de agir imposto por lei 
A legislação impõe a várias pessoas o dever de cuidar, proteger e vigiar outras, tal como o faz com
os pais em relação aos filhos, com os tutores em relação aos tutelados, com os curadores em relação aos curatelados e até mesmo com o administrador de um presídio em relação aos presos. Assim, se um
detento está gravemente enfermo e o administrador da cadeia, dolosa ou culposamente, deixa de lhe
conferir tratamento adequado, pode responder por homicídio.
Dever de agir de quem assumiu a responsabilidade de evitar o resultadoÉ o dever decorrente de negócios jurídicos ou de relações concretas da vida. 
Ex. 1: o vigia contratado para tomar conta das casas de um determinado condomínio não pode ficar inerte ao acompanhar a ocorrência de um furto. Se agir dolosamente, responderá pelo crime contra o patrimônio tal como os agentes da subtração. 
Ex. 2: um exímio nadador que convida o amigo para uma travessia, prometendo-lhe ajuda, em caso de emergência, fica obrigado a intervir se o inexperiente nadador começar a se afogar.
Dever de agir por ter gerado o risco 
É o dever surgido de ação precedente do agente, que deu causa ao aparecimento do risco. 
Exemplo: alguém joga outro na piscina, por ocasião de um trote acadêmico, sabendo que a vítima não sabe nadar. Fica obrigado a intervir, impedindo o resultado trágico, sob pena de responder por homicídio.
CONCEITO DE TIPICIDADE
Tipicidade é a adequação do fato ao tipo penal, ou, em outras palavras, é o fenômeno representado pela confluência dos tipos concreto (fato do mundo real) e abstrato (fato do mundo normativo).
Há, ainda, a denominada tipicidade por extensão, que é a aplicação conjunta do tipo penal incriminador, previsto na Parte Especial do Código Penal, com uma norma de extensão, prevista na Parte Geral, tendo por finalidade construir a tipicidade de determinado delito. É o que se dá com a tentativa. 
Ex.: Não há, na Parte Especial, como regra, a descrição de crime tentado. Para a construção da tipicidade da tentativa é imprescindível a união entre o tipo incriminador com a norma prevista no art. 14, II, do Código Penal. Assim, a tentativa de roubo tem a seguinte tipicidade: art. 157, caput, combinando com art. 14, II, do Código Penal.
EXCLUDENTES DE TIPICIDADE
Quanto às excludentes de tipicidade, dividem-se em:
A) Legais (expressamente previstas em lei);
B) Supralegais (implicitamente previstas em lei).
Excludentes de tipicidade legais
Como exemplos de excludentes legais, podemos citar:
 
crime impossível (art. 17);
intervenção médico-cirúrgica e impedimento de suicídio (art. 146, § 3.º);
retratação no crime de falso testemunho (art. 342, § 2.º);
anulação do primeiro casamento no crime de bigamia (art. 235, § 2.º).
Registremos que as excludentes de tipicidade legalmente previstas não estão agrupadas em um único artigo.
Excludentes de tipicidade supralegais
As excludentes supralegais, que afastam a tipicidade, embora não estejam expressamente previstas no Código Penal, como ocorre com a adequação social e a insignificância.
Adequação social
Com relação à adequação social, pode-se sustentar que uma conduta aceita e aprovada consensualmente pela sociedade, pode ser considerada não lesiva ao bem jurídico tutelado e, por isso, não se cumpre o tipo concreto. 
É o caso da colocação do brinco em uma bebê, algo tradicionalmente aceito, embora se possa cuidar de lesão à integridade física, de se fazer tatuagens, entre outros.
Insignificância
Com relação à insignificância (crime de bagatela), sustenta-se que o direito penal, diante de seu caráter subsidiário, funcionando como ultima ratio, no sistema punitivo, não se deve ocupar de bagatelas. 
Há várias decisões de tribunais pátrios, absolvendo réus por considerar que ínfimos prejuízos a bens jurídicos. Alguns exemplos: a) ocorre nos casos de “importação de mercadoria proibida” (contrabando), tendo por objeto material coisas de insignificante valor, trazidas por sacoleiros do Paraguai; o furto de coisas insignificantes, tal como o de uma lata de salsicha, exposta à venda em uma mercearia. 
São três regras que devem ser seguidas:
consideração do valor do bem jurídico em termos concretos (para a vítima, o agressor e para a sociedade); 
consideração da lesão ao bem jurídico em visão global (é necessário observar as condutas em geral do agressor); 
consideração particular aos bens jurídicos imateriais de expressivo valor social. 
DOLO E CULPA
CÓDIGO PENAL: “Art. 18 - Diz-se o crime: 
Crime doloso 
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;”
Entre outras teorias, pode-se definir o dolo como a vontade consciente de praticar a conduta típica (visão finalista – é o denominado dolo natural).
O debate em torno desse conceito se dá em definir se a ação consciente da pessoa já deve ter um juízo de ilicitude, mas segundo a teoria acima apresentada esse juízo será feito no âmbito da culpabilidade, pois, por exemplo, há pessoas, com falsa percepção da realidade onde estão inseridas, podendo agir com vontade de praticar o tipo penal, mas convencidas de que fizeram algo certo, não significando, pois, que agiram sem dolo.
DISTINÇÃO ENTRE DOLO GENÉRICO E DOLO ESPECÍFICO 
A doutrina tradicional costuma fazer diferença entre o dolo genérico, que seria a vontade de praticar a conduta típica, sem qualquer finalidade especial, e o dolo específico, que seria a mesma vontade, embora adicionada de uma especial finalidade. 
O elemento subjetivo do tipo específico é explícito quando se pode constatar a sua presença no tipo penal (subtrair coisa alheia móvel para si ou para outrem, como no furto). 
É implícito quando, embora no tipo, não seja visível de pronto (é o caso dos crimes contra a honra, servindo o exemplo supramencionado da difamação; não há no tipo a especial vontade de prejudicar a reputação, o que se exige na prática). 
CARACTERÍSTICAS DO DOLO
São as seguintes:
 
abrangência: o dolo deve envolver todos os elementos objetivos do tipo; 
 atualidade: o dolo deve estar presente no momento da ação, não existindo dolo subsequente, nem dolo antecedente; 
possibilidade de influenciar o resultado: é indispensável que a vontade do agente seja capaz de produzir o evento típico.
CONCEITO DE DOLO DIRETO 
É a vontade do agente dirigida especificamente à produção do resultado típico, abrangendo os
meios utilizados para tanto. 
Exemplo: o agente quer subtrair bens da vítima, valendo-se de grave ameaça. Dirigindo-se ao ofendido, aponta-lhe um revólver, anuncia o assalto e carrega consigo os bens encontrados em seu poder. A vontade se encaixa com perfeição ao resultado. É, também, denominado dolo de primeiro grau. 
Dolo direto de primeiro grau e dolo direto de segundo grau 
O dolo direto de primeiro grau é a intenção do agente, voltada a determinado resultado, efetivamente perseguido, abrangendo os meios empregados para tanto.
Ex.: o atirador, almejando a morte da vítima, desfere-lhe certeiro e fatal tiro.
O dolo direto de segundo grau (dolo de consequências necessárias, dolo necessário ou dolo mediato), é a intenção do agente, voltada a determinado resultado, efetivamente desejado, embora, na utilização dos meios para alcançá-lo, termine por incluir efeitos colaterais, praticamente certos. 
Ex.: matador que, pretendendo atingir determinada pessoa, situada em lugar público, planta uma bomba, que, ao detonar, certamente matará outras pessoas ao redor. Ainda que não queira atingir essas outras vítimas, tem por certo o resultado, caso a bomba estoure como planejado. 
Essa segunda modalidade se diferencia do dolo eventual porque neste não quer o autor determinado objetivo, mas somente assume o risco que ocorra.
CONCEITO DE DOLO INDIRETO OU EVENTUAL 
CÓDIGO PENAL: “Art. 18 - Diz-se o crime: 
Crime doloso 
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;”
DOLO EVENTUAL: É a vontade do agente dirigida a um resultado determinado, porém vislumbrando a possibilidade de ocorrência de um segundo resultado, não desejado, mas admitido, unido ao primeiro. Por isso, a lei utiliza o termo “assumir o risco de produzi-lo”. Nesse caso, de situação mais complexa, o agente não quer o segundo resultado diretamente, embora sinta que ele pode se materializar juntamente com aquilo que pretende, o que lhe é indiferente.
Exemplo: A está desferindo tiros contra um muro, no quintal da sua residência (resultado pretendido: dar disparos contra o muro), vislumbrando, no entanto, a possibilidade de os tiros vararem o obstáculo, atingindo terceiros que passam por detrás.Ainda assim, desprezando o segundo resultado (ferimento ou morte de alguém), continua a sua conduta. Caso atinja, mortalmente, um passante, responderá por homicídio doloso (dolo eventual). 
EXIGIBILIDADE DO DOLO DIRETO E DO DOLO EVENTUAL 
A lei não faz distinção entre o dolo direto e o eventual para fins de tipificação e de aplicação da pena. Por isso, o juiz poderá fixar a mesma pena para quem agiu com dolo direto e para quem atuou com dolo eventual. Em regra, já que os tipos penais que nada falam a respeito do elemento subjetivo do delito são dolosos (ex.: “matar alguém” – art. 121, CP, onde nada se diz acerca do dolo), pode-se aplicar tanto o direto, quanto o indireto. 
Excepcionalmente, quando a lei exigir unicamente o dolo direto, tal circunstância vem claramente definida no tipo penal, como se pode observar, ilustrando, no tipo da denunciação caluniosa (“crime de que o sabe inocente”), do art. 339 do Código Penal.
CONCEITO DE CULPA 
CÓDIGO PENAL, ART. 18: 
“Crime culposo
        II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 
        Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.”
Culpa é o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado objetivo, lícito ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não desejado, mas previsível, que podia ter sido evitado.
O dolo é a regra; a culpa, exceção. Para se punir alguém por delito culposo, é indispensável que a culpa venha expressamente delineada no tipo penal (Ver, p. ex., o art. 254, do CP).
DISTINÇÃO ENTRE CULPA INCONSCIENTE E CULPA CONSCIENTE
Culpa inconsciente é a culpa por excelência, ou seja, a culpa sem previsão do resultado. O agente não tem previsão (ato de prever) do resultado, mas mera previsibilidade (possibilidade de prever). 
Ex.: indivíduo que atinge involuntariamente a pessoa que passava pela rua, porque atirou um objeto pela janela por acreditar que ninguém passaria naquele horário.
Culpa consciente é a chamada culpa com previsão, ocorrendo quando o agente prevê que sua conduta pode levar a um certo resultado lesivo, embora acredite, firmemente, que tal evento não se realizará, confiando na sua atuação (vontade) para impedir o resultado. 
Ex.: Caçador que, avistando um companheiro próximo do animal que deseja abater, confia em sua condição de perito atirador para não atingi-lo quando disparar, causando, ao final, lesões ou morte da vítima ao desfechar o tiro.
ELEMENTOS DA CULPA 
São os seguintes: 
concentração na análise da conduta voluntária do agente e não no resultado;
ausência do dever de cuidado objetivo (das regras sociais gerais de cuidado);
resultado danoso involuntário;
imprevisibilidade (p/ afastamento de culpa), ausência de previsão (p/ culpa inconsciente) e previsão com vontade de que não aconteça (p/ culpa consciente).
tipicidade;
nexo causal.
Culpa imprópria
CÓDIGO PENAL, ART. 20: “§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.”
Culpa imprópria, que é a denominada culpa com previsão, ou seja, ocorre quando o agente deseja atingir determinado resultado, embora o faça porque está envolvido pelo erro (falsa percepção da realidade) inescusável (não há justificativa para a conduta, pois, com maior prudência, teria sido evitada).
Exemplo: imaginando-se atacado por um desconhecido, o sujeito atira para matar, visando proteger-se. Após o fato, constata-se não ter havido agressão injusta. Houve dolo, no entanto, pois o tiro foi dado com intenção de matar ou ferir, ainda que para garantir a defesa pessoal. Entretanto, a lei penal prevê que, neste caso, se o erro for escusável estará configurada a legítima defesa putativa, não havendo punição. Mas, caso o erro seja inescusável, deve haver punição a título de culpa.
ESPÉCIES DE CULPA 
Divide o art. 18, II, do Código Penal, a culpa em: 
Imprudência: é a forma ativa de culpa, significando um comportamento sem cautela, realizado com precipitação ou com insensatez. Ex.: a pessoa que dirige em alta velocidade dentro da cidade, onde há passantes por todos os lados. 
Negligência: Negligência é a forma passiva de culpa, ou seja, assumir uma atitude passiva, inerte material e psiquicamente, por descuido ou desatenção, justamente quando o dever de cuidado objetivo determina agir de modo contrário. Ex.: deixar uma arma de fogo ao alcance de uma criança ou não frear o carro ao estacionar em uma ladeira.
 Imperícia: é a imprudência no campo técnico, pressupondo uma arte, um ofício ou uma profissão. Consiste na incapacidade, inaptidão, insuficiência ou falta de conhecimento necessário para o exercício de determinado mister. Ex.: o médico deixa de tomar as cautelas devidas de assepsia e anestesia em uma sala de cirurgia, demonstrando sua nítida inaptidão para o exercício profissional, situação que provoca a morte do paciente.
Distinção entre imperícia e erro profissional 
A deficiência profissional, que acarreta um dano a alguém, nem sempre pode ser caracterizada como imperícia. 
A imperícia é o erro grosseiro, que a média dos profissionais de determinada área não cometeria, em circunstâncias normais. Ex.: Médico de obstetra que se coloca a realizar uma cirurgia neuronal. 
O erro profissional faz parte da precariedade dos conhecimentos humanos, pois nem todos possuem o mesmo talento, a mesma cultura e idêntica habilidade. Ex.: Médico obstetra que comete algum erro em um parto
A imperícia se resolve na esfera penal, o erro resolve-se na esfera civil.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal / Guilherme de Souza Nucci. – 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014. 
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