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Aula 04 - Teoria da Infração Penal

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BACHARELADO EM DIREITO
Direito Penal – Teoria Geral da Infração Penal.
Professor Mestre Roniery Rodrigues Machado.
Aula 04: Contagem de prazo e frações da penas; Conflito aparente de normas; O crime.
Contagem de prazos
PRAZOS PENAIS E PROCESSUAIS PENAIS – O prazo penal conta-se de maneira diversa do prazo processual penal. 
Naquele se inclui o primeiro dia desprezando-se o último: “CP, Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.”
Exemplos: a) se uma pessoa é recolhida ao cárcere para cumprir dois meses de pena privativa de liberdade, tendo início o cumprimento no dia 20 de março, que é incluído no cômputo, a pena findará no dia 19 de maio. b) se alguém for preso às 22:00 horas de um dia, este dia é integralmente computado, ainda que faltem somente duas horas para findar.
Contagem de prazos
PRAZOS PENAIS E PROCESSUAIS PENAIS – O prazo penal conta-se de maneira diversa do prazo processual penal. 
No segundo não se inclui o dia do começo, mas sim o do vencimento: “CPP, art. 798, § 1o   Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento.
Exemplo: se o réu é intimado de uma sentença condenatória no dia 20 de março, cujo prazo de recurso é de 5 dias, vencerá no dia 25 de março.
PRAZOS PROCESSUAIS PENAIS 
E PENAIS 
Quando se tratar de instituto de dupla previsão – inserido nos Códigos Penal e de Processo Penal –, como a decadência, por exemplo, deve-se contar o prazo da forma mais favorável ao réu, ou seja, conforme o Código Penal.
Lembremos, por fim, que os prazos penais não se interrompem de modo algum. “CPP, Art. 798.  Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado.”
Portanto, se alguém tiver que sair da prisão no domingo, este será o dia derradeiro, não havendo prorrogação para a segunda-feira. 
FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA 
“CP, Art. 11 - Desprezam-se, [1] nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, [2] na pena de multa, as frações de cruzeiro.” 
Exemplo 1: alguém é condenado, inicialmente, a 6 meses e 15 dias de detenção, pena da qual o juiz deve subtrair um sexto, em razão de alguma atenuante ou causa de diminuição. Seria o caso de extrair 1 mês, 2 dias e 12 horas do total. Entretanto, reduz-se somente o montante de 1 mês e 2 dias, rejeitando-se as horas que são “as frações de dias”.
Exemplo 2: Embora o art. 11 mencione, no seu texto, as frações de cruzeiro, deve-se interpretar como sendo a moeda vigente atualmente, ou seja, o real. As frações de real são os centavos, que devem ser desprezados na fixação da pena de multa. 
CONFLITO APARENTE DE NORMAS
É a situação que ocorre quando ao mesmo fato parecem ser aplicáveis duas ou mais normas, formando um conflito apenas aparente entre elas. O conflito aparente de normas (ou concurso aparente de normas) surge no universo da aplicação da lei penal, quando esta entra em confronto com outros dispositivos penais, ilusoriamente aplicáveis ao mesmo caso.
Exemplo: quando alguém importa substância entorpecente, à primeira vista pode-se sustentar a aplicação do disposto no art. 334 do Código Penal (crime de contrabando), embora o mesmo fato esteja previsto no art. 33 da Lei de Drogas. Aplica-se, no caso, o art. 33 da Lei de Drogas (tráfico ilícito de drogas), por se tratar de lei especial. 
Esse conflito aparente pode ser resolvido pelos seguintes critérios: a) critério da sucessividade; b) critério da especialidade; c) critério da subsidiariedade; d) critério da absorção (consunção); e) critério da alternatividade.
CONFLITO APARENTE DE NORMAS
A) CRITÉRIO DA SUCESSIVIDADE ou CRONOLÓGICO: se houver um período de tempo separando duas ou mais normas aplicáveis ao mesmo fato, é sempre preferível a lei posterior (lex posterior derogat priori).
Exemplo: o art. 3.º, V, da Lei 1.521/51 (crimes contra a economia popular) prevê ser delito “vender mercadorias abaixo do preço de custo com o fim de impedir a concorrência”. Entretanto, o art. 4.º, VI, da Lei 8.137/90, preceitua, identicamente, ser crime “vender mercadorias abaixo do preço de custo com o fim de impedir a concorrência”. Dessa forma, havendo duas normas penais incriminadoras, passíveis de aplicação ao mesmo fato, resolve-se o pretenso conflito, através do critério da sucessividade, isto é, vale o disposto na Lei 8.137/90, que é mais recente.
CONFLITO APARENTE DE NORMAS
B) CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE: “CP, Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso.” Lei especial afasta a aplicação de lei geral (lex specialis derogat generali). Para identificar a lei especial, leva-se em consideração a existência de uma particular condição (objetiva ou subjetiva), que lhe imprima severidade menor ou maior em relação à outra. Deve haver entre os delitos geral e especial uma relação de gênero a espécie. Requer-se que a norma considerada especial contenha todos os elementos da figura geral, apresentando outras particulares características típicas que podem ser denominadas específicas, especializadoras ou de concreção.
Ex.: furto qualificado exclui o simples (CP, art. 155); crime militar (CPM) exclui o comum (CP); infanticídio (art. 123, CP) exclui o homicídio (art. 121, CP); tráfico de entorpecentes (Lei Anti-Drogas) exclui o contrabando (art. 318, CP). 
CONFLITO APARENTE DE NORMAS
C) CRITÉRIO DA SUBSIDIARIEDADE (TIPO DE RESERVA): uma norma é considerada subsidiária em relação a outra, quando a conduta nela prevista integra o tipo da principal (lex primaria derogat subsidiariae), significando que a lei principal afasta a aplicação de lei secundária. A justificativa é que a figura subsidiária está inclusa na principal. Há duas formas de ocorrência: 
a) subsidiariedade explícita, quando a própria lei indica ser a norma subsidiária de outra (“se o fato não constitui crime mais grave”, “se o fato não constitui elemento de crime mais grave”, “se o fato não constitui elemento de outro crime”). Ex.: exposição a perigo (art. 132), subtração de incapazes (art. 249) etc.
b) subsidiariedade implícita (tácita), quando o fato incriminado em uma norma entra como elemento componente ou agravante especial de outra norma. Ex.: estupro contendo o constrangimento ilegal; dano no furto qualificado pelo arrombamento. 
CONFLITO APARENTE DE NORMAS
D) CRITÉRIO DA ABSORÇÃO (OU CONSUNÇÃO): Quando o fato previsto por uma lei está, igualmente, contido em outra de maior amplitude, aplica-se somente esta última. Em outras palavras, quando a infração prevista na primeira norma constituir simples fase de realização da segunda infração, prevista em dispositivo diverso, deve-se aplicar apenas a última.
Exemplos: 1) Sujeito viola domicílio com a finalidade de praticar furto a uma residência. A violação é mera fase de execução do delito patrimonial. 2) Sujeito porta arma para cometer homicídio. O porte de arma é fase necessária para eliminação da vítima. 3) Sujeito usa de documentos falsos para cometer estelionato. A falsidade é parte do golpe que é objetivo final. Sobre esse último caso, “Súmula 17, STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. 
CONFLITO APARENTE DE NORMAS
E) CRITÉRIO DA ALTERNATIVIDADE: significa que a aplicação de uma norma a um fato exclui a aplicabilidade de outra, que também o prevê, de algum modo, como delito. A maior parte da doutrina desconsidera esse critério, entendendo-o apenas como um acontecimento lógico.
Ex.: o fato conjunção carnal permite o enquadramento nos delitos de estupro (art. 213), violação sexual mediante fraude (art. 215) e até mesmo assédio sexual (art. 216-A).
Assim, eleito o estupro, estão, automaticamente, afastados os delitos de posse sexual mediante fraude e
assédio sexual. 
CONCEITO DE CRIME 
O conceito de crime é artificial, ou seja, não é natural, uma vez que se torna impossível classificaruma conduta, ontologicamente, como criminosa. 
Em verdade, é a sociedade a criadora inaugural do crime, qualificativo que reserva às condutas ilícitas mais gravosas e merecedoras de maior rigor punitivo. 
Após, cabe ao legislador transformar esse intento em figura típica, criando a lei que permitirá a aplicação do anseio social aos casos concretos. 
A partir daí, verifiquemos os três prismas dispensados ao conceito de crime (material, formal e analítico). 
Conceito material de crime
É a concepção da sociedade sobre o que pode e deve ser proibido, mediante a aplicação de sanção penal. É, pois, a conduta que ofende um bem juridicamente tutelado, merecedora de pena. Esse conceito é aberto e informa o legislador sobre as condutas que merecem ser transformadas em tipos penais incriminadores. 
Como ensina Roxin, “o conceito material de crime é prévio ao Código Penal e fornece ao legislador um critério político-criminal sobre o que o Direito Penal deve punir e o que deve deixar impune”.
Conceito formal de crime
É a concepção do direito acerca do delito, constituindo a conduta proibida por lei, sob ameaça de aplicação de pena, numa visão legislativa do fenômeno. Quando a sociedade entende necessário criminalizar determinada conduta, através dos meios naturais de pressão, leva sua demanda ao Legislativo, que, aprovando uma lei, materializa o tipo penal. 
Cuida-se, na realidade, de fruto do conceito material, devidamente formalizado.
Assim sendo, respeita-se o princípio da legalidade (ou reserva legal), para o qual não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem lei anterior que a comine.
Conceito analítico de crime
É a concepção da ciência do direito, que não difere, na essência, do conceito formal. Na realidade, é o conceito formal fragmentado em elementos que propiciam o melhor entendimento da sua abrangência. 
Trata-se de uma conduta típica, antijurídica e culpável, vale dizer, uma ação ou omissão ajustada a um modelo legal de conduta proibida (tipicidade), contrária ao direito (antijuridicidade) e sujeita a um juízo de reprovação social incidente sobre o fato e seu autor, desde que existam imputabilidade, consciência potencial de ilicitude e exigibilidade e possibilidade de agir conforme o direito.
Justamente quanto ao conceito analítico é que se podem encontrar as maiores divergências doutrinárias. 
DIFERENÇA ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL 
O direito penal estabelece diferença entre crime (ou delito) e contravenção penal, espécies de infração penal. Entretanto, essa diferença não é ontológica ou essencial, situando-se, tão somente, no campo da pena. 
Os crimes sujeitam seus autores a penas de reclusão ou detenção, enquanto as contravenções, no máximo, implicam em prisão simples. Além disso, aos crimes cominam-se penas privativas de liberdade, isolada, alternativa ou cumulativamente com multa, enquanto, para as contravenções penais, admite-se a possibilidade de fixação unicamente da multa.
SUJEITOS DO CRIME: Sujeito ativo 
 
É a pessoa que pratica a conduta descrita pelo tipo penal. 
Não se admite que animais ou coisas sejam consideras criminosas. 
Quanto à pessoa jurídica, é um tema ainda controverso, mas a Constituição Federal faz expressa menção ao crime ambiental e o contra a economia popular que podem a ela serem atribuídos e há um crescente posicionamento dos doutrinadores de que essa possibilidade seja mais amplamente admitida.
SUJEITOS DO CRIME: Sujeito passivo
É o titular do bem jurídico protegido pelo tipo penal incriminador, que foi violado. Divide-se em:
a) sujeito passivo formal (ou constante), que é o titular do interesse jurídico de punir, surgindo com a prática da infração penal. É sempre o Estado; 
b) sujeito passivo material (ou eventual), que é o titular do bem jurídico diretamente lesado pela conduta do agente. Podem repetir-se na mesma pessoa o sujeito passivo formal e o material.
Ressalte-se que inexistem as seguintes possibilidades: a) animais, coisas e mortos como sujeitos passivos; b) confusão, na mesma pessoa, do sujeito ativo e passivo, levando-se em consideração uma única conduta, haja vista que a autolesão não é punida no Brasil.
OBJETO DO CRIME
É o bem jurídico que sofre as consequências da conduta criminosa. Pode ser:
a) objeto material: é o bem, de natureza corpórea ou incorpórea, sobre o qual recai a conduta criminosa. 
b ) objeto jurídico: é o interesse protegido pela norma penal, como a vida, o patrimônio, a fé pública, entre outros. 
Exemplificando sujeitos e 
objeto do crime
No caso do FURTO DE UM VEÍCULO:
Sujeito ativo: a pessoa que subtraiu o carro;
Sujeito passivo material: o proprietário do automóvel.
Sujeito passivo formal: o Estado;
Objeto material: o veículo. 
Objeto jurídico: o patrimônio. 
CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES
CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES
Constitui tema de suma importância para o estudo dos tipos penais o conhecimento de algumas classificações, que, a seguir, serão expostas. 
Crimes comuns e próprios 
Crimes comuns são os delitos que podem ser cometidos por qualquer pessoa (ex.: homicídio, roubo, falsificação).
Crimes próprios são os crimes que exigem sujeito ativo especial ou qualificado, isto é, somente podem ser praticados por determinadas pessoas. Nesse caso, as qualidades do sujeito ativo podem ser: 
de fato: referentes à natureza humana ou à inserção social da pessoa (ex.: mulher no autoaborto; mãe no infanticídio; enfermo no perigo de contágio venéreo), ou 
de direito: referentes à lei (ex.: funcionário público, em vários delitos do Capítulo I, Título XI, da Parte Especial; testemunha no falso testemunho; perito na falsa perícia).
Crimes próprios puros, impuros e 
de mão própria
Crimes próprios puros: delitos que, quando não forem cometidos pelo sujeito indicado no tipo penal, deixam de ser crimes, caso a conduta se concretize por ato de outra pessoa (ex.: advocacia administrativa – art. 321. Nesse caso, somente o funcionário pode praticar a conduta; outra pessoa que o faça não pratica infração penal). 
Crimes próprios impuros: delitos que, se não cometidos pelo agente indicado no tipo penal, transformam-se em figuras delituosas diversas (ex.: se a mãe mata o filho recém-nascido, após o parto, em estado puerperal, é infanticídio; caso um estranho mate o recém-nascido, sem qualquer participação da mãe, cuida-se de homicídio). 
Crimes de mão própria: exigem sujeito ativo qualificado, devendo este cometer pessoalmente a conduta típica (ex.: falso testemunho, em que somente a testemunha pode, diretamente, cometer o crime, apresentando-se ao juiz para depor e faltando com a verdade; crime de reingresso de estrangeiro expulso)
Crimes instantâneos e permanentes 
Crimes instantâneos: são aqueles cuja consumação se dá com uma única conduta e não produzem um resultado prolongado no tempo. Assim, ainda que a ação possa ser arrastada no tempo, o resultado é sempre instantâneo (ex.: furto, roubo). Nessa categoria também se inserem os crimes instantâneos de efeitos permanentes, p. ex., roubo e bigamia. 
Crimes permanentes: são os que se consumam com uma única conduta, embora a situação antijurídica gerada se prolongue no tempo até quando queira o agente (ex.: sequestro ou cárcere privado; extorsão mediante sequestro; porte ilegal de arma; porte de substância entorpecente). Por isso, o delito permanente admite prisão em flagrante enquanto não cessar a sua realização, além de não ser contada a prescrição até que finde a permanência.
Crime eventualmente permanente: é o delito instantâneo, como regra, mas que, em caráter excepcional, pode realizar-se de modo a lesionar o bem jurídico de maneira permanente (ex.: furto de energia elétrica).
Crimes comissivos e omissivos 
Crimes comissivos: são os cometidos por intermédio de uma ação (ex.: estupro).
Crimes omissivos: são praticados através de uma abstenção (ex.: omissão de socorro). 
Comissivos por omissão: são os delitos de ação, excepcionalmente praticados por omissão, restrita aos casos de quem tem o dever de impedir o resultado(ex.: deixar de prestar socorro a criança abandonada ou extraviada, por força do CP, art. 13, § 2.º).
Omissivos por comissão: são os cometidos, normalmente, através de uma abstenção, mas que podem ser, excepcionalmente, praticados pela ação de alguém (ex.: é o caso do agente que impede outrem, pelo emprego da força física, de socorrer pessoa ferida). 
Crimes de atividade e de resultado 
Crime de resultado, material ou causal: é aquele em que, para se consumar, exige-se uma alteração no mundo exterior, que a doutrina também chama de resultado naturalístico e sem a sua ocorrência, o delito é apenas uma tentativa. . Ex.: homicídio, furto, roubo.
Crimes de atividade: são os que a ação humana esgota a descrição típica, havendo ou não resultado naturalístico. Ex.: prevaricação, ato obsceno.
Crimes de atividade:
crimes formais, crimes de mera conduta
Parte da doutrina sustenta a divisão dos crimes de atividade em crimes formais e de mera conduta.
crimes formais, de consumação antecipada ou de resultado cortado: não precisa desse resultado naturalístico para se configurar inteiramente. A norma até pode prever o resultado, mas estará tipificado o crime ainda que tal resultado não ocorra. Ex.: extorsão mediante sequestro, prevaricação. 
Aqui se insere o crime exaurido, em que o delito que continua a produzir resultado danoso, depois de estar consumado. Ex.: No caso da prevaricação, um cidadão pode ter sido prejudicado pelo agente público somente por ele ter deixado de fazer ato que deveria ser feito de ofício; no caso da extorsão mediante sequestro, a vítima tem a sua liberdade cerceada consiga o criminoso a extorsão ou não.
 crimes de mera conduta ou de simples atividade: não preveem qualquer resultado naturalístico previsto na norma. Ex.: ato obsceno, porte ilegal de arma.
Crimes de dano e de perigo 
Crimes de dano: são os que se consumam com a efetiva lesão a um bem jurídico tutelado. Ex.: roubo, lesão, dano, homicídio.
Crimes de perigo: são os que se contentam, para a consumação, com a mera probabilidade de haver um dano.
Crimes de perigo: individual e coletivo; 
Dividem-se os crimes de perigo em:
Crime de perigo individual: quando a probabilidade de dano abrange apenas uma pessoa ou um grupo determinado de pessoas (arts. 130 a 137, CP); 
Crime de perigo coletivo: quando a probabilidade de dano envolve um número indeterminado de pessoas (arts. 250 a 259, CP).
Crimes de perigo: abstrato e concreto.
Dividem-se os crimes de perigo em:
Crime de perigo abstrato: quando a probabilidade de ocorrência de dano está presumida no tipo penal, independendo de prova (ex.: porte ilegal de substância entorpecente – arts. 28 e 33, Lei 11.343/2006, conforme a finalidade –, em que se presume o perigo para a saúde pública); 
Crime de perigo concreto: quando a probabilidade de ocorrência de dano precisa ser investigada e provada (ex.: expor a vida ou saúde de alguém a perigo – art. 132, CP).
Crimes unissubjetivos e 
plurissubjetivos 
Crimes unissubjetivos: os que podem ser praticados por uma só pessoa. Ex: aborto, extorsão, epidemia, homicídio, constrangimento ilegal, entre outros).
Crimes plurissubjetivos (convergentes, de encontro, de concurso ncessário, coletivos, multitudinários, de autoria múltipla): aqueles que somente podem ser cometidos por mais de uma pessoa. Ex.: rixa, associação criminosa, bigamia, entre outros. 
Isto não significa, no caso dos plurissubjetivos, que todas as pessoas devam ser penalmente punidas. É o caso da bigamia, que exige, pelo menos, duas pessoas para a sua configuração, embora uma delas possa não ser responsabilizada, pois, não sendo casada, pode não saber que a outra o é.
Crimes complexos e progressivos
Complexos em sentido estrito: o tipo penal é formado pela junção de dois ou mais tipos. Ex.: o roubo o roubo envolve o furto, a ameaça e/ou a ofensa à integridade física.
Complexos em sentido amplo: o tipo penal é formado pela junção de um tipo penal com outra conduta lícita. Ex: o estupro é a junção do crime de constrangimento ilegal com ato sexual que é uma conduta lícita. 
Crime progressivo: um tipo mais grave contém outro menos grave. Não se comete o mais grave sem passar pelo menos grave. É um delito de passagem.  Ex: homicídio e lesão; homicídio qualificado e tortura. 
Progressão criminosa 
Progressão criminosa: Trata-se da evolução na vontade do agente, fazendo-o passar, embora num mesmo contexto, de um crime a outro. Será punido unicamente pelo fato mais grave. Difere esta situação (progressão criminosa) do crime progressivo, em função do elemento subjetivo (o dolo; a vontade; o elemento volitivo do agente). Ex.: quer o agente lesionar a vítima; após um período, delibera matá-la. 
Atenção! Na progressão criminosa, a intenção inicial era a lesão, que evoluiu para o homicídio, enquanto no crime progressivo, o agente delibera matar, passando, por necessidade, pela lesão (ele realiza diretamente o tipo mais grave que engloba, por sua natureza, um outro menos grave). 
Crime habitual
Crime habitual: A lei exige uma reiteração de condutas para a consumação do crime. A definição é de um estilo de vida indesejado pela lei penal. Ex.: rufianismo (tirar proveito da prostituição alheia); curanderismo.
Elementos constitutivos do crime habitual: 
reiteração de condutas;
homogeneidade das condutas;
nexo de habitualidade.
Atenção! Não confundir o crime continuado com o crime habitual.
O crime continuado é uma espécie de concurso de crimes previsto no CP, art. 71. São vários crimes em continuidade delitiva.  
É diferente do crime habitual. Neste há apenas um crime cometido de forma habitual, com várias condutas. 
Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes 
Crimes unissubsistentes: são os que admitem a sua prática através de um único ato. Não se admite tentativa nesse caso. Ex.: injúria e ameça verbal.
Crimes plurissubsistentes: exigem vários atos, componentes de uma ação. Ex.: Homicidio, estupro, furto.
Há figuras delitivas que admitem ambas as hipóteses. Ex.: A injúria e ameaça podem ser por escrito, assim, teremos mais de uma to que compõe a ação desse crime.
Crimes de forma livre e 
de forma vinculada 
Crimes de forma livre: pode ser realizada de qualquer modo. Ex: homicídio - pode ser cometido de várias formas, não importa o meio escolhido. 
Crimes de forma vinculada: o modo de execução é descrito na lei. Ex: Curandeirismo - CP, art. 284.
Crimes vagos (multivitimários ou 
de vítimas difusas) 
Crimes vagos: São aqueles que não possuem sujeito passivo determinado, sendo este a coletividade, sem personalidade jurídica. Ex.: perturbação de cerimônia funerária; da violação de sepultura; necrofilia, entre outros 
Crimes remetidos 
Crimes remetidos: são os tipos penais que fazem expressa remissão a outros. Ex.: uso de documento falso (art. 304), que remete aos delitos previstos nos arts. 297 a 302 do Código Penal.
Crimes condicionados 
Crimes condicionados: são os que dependem do advento de uma condição qualquer, prevista no tipo (interna) ou não (externa), para se configurarem. 
Ex.: o delito de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio depende do advento do suicídio ou, em caso de tentativa de suicídio, da ocorrência de lesões graves para a vítima (art. 122, CP). Não admitem tentativa. 
Crimes de atentado (ou de empreendimento) 
Crimes de atentado: são os que preveem, no tipo penal, a forma tentada equiparada à modalidade consumada.
Ex.: art. 352 (“Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa”). 
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal / Guilherme de Souza Nucci. – 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014. 
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