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FACULDADE UNINASSAU CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO DISCIPLINA: CRIMES EM ESPÉCIE II PROFESSOR JOÃO AMÉRICO RODRIGUES DE FREITAS 5º PERÍODO AULA - 14 - TEMA/TÍTULO: DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: CORRUPÇÃO PASSIVA (ART. 317), FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO (ART. 318); PREVARICAÇÃO E PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA (ART. 319 E 319-A): ADVOCACIA / ADMINISTRATIVA (ART. 321) - DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL. DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CORRUPÇÃO PASSIVA ARTIGO 317 - Iniciamos com a reflexão de Rogério Grego acera do tema: “(...) a corrupção pode ser equiparada a uma doença, a um vício que impulsiona o sujeito a sempre querer mais e mais. O corrupto é insaciável, ou seja, nunca se satisfaz com um único ato de corrupção. Parece que o crescimento de sua fortuna pessoal o impulsiona, e ele procura ajuntar aquilo que nunca conseguirá gastar, em toda a sua existência.” - No fim o autor associa a corrupção a ganância, continua o autor “Muitas pessoas trocam honra por dinheiro, amizade por riquezas”. - O autor Bento Faria assim definia corrupção: "prostituição da pureza do cargo pela parcialidade ou pelo interesse" - Podemos ainda destaca como notas introdutórias a presença do chamado pequeno corrupo, que não irriquece mas que pratica corrupção se valendo de sua função pública. - A pena de corrupção foi elevada no Brasil por conta de um TRATADO INTERNACIONAL – A CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA A CORRUPÇÃO, ADOTADA EM CARACAS, EM 29 DE MARÇO DE 1996: PENA ATES DE 2003 Lei nº 10.763, de 12 de novembro de 2003 1 (um) a 8 (oito) anos 2 (dois) a 12 (doze) anos de reclusão. - O bem jurídico protegido e a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA pelo tipo penal que prevê o delito de corrupção passiva. - SUJEITO ATIVO- CRIME PRÓPRIO, somente o funcionário público pode ser sujeito ativo do delito de corrupção passiva, tipificado no art. 317 do Código Penal. - Sem distinção de classe ou categoria, podendo ser típico ou equiparado (art. 327 do CP), ainda que afastado do seu exercício. - Também aquele que AINDA NÃO ASSUMIU O SEU POSTO, mas em razão dele, solicita ou recebe a vantagem ou promessa de vantagem indevida, pratica o delito de corrupção. - Caso o funcionário público ocupe cargo em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público, a pena sofrerá aumento de um terço. - Se o funcionário for fiscal de rendas, comete o crime contra a ordem tributária previsto no art. 3°, II, da Lei 8.137 /90 (princípio da especialidade). - Se o agente for testemunha, perito não oficial, tradutor ou intérprete em processo judicial, policial, administrativo ou em juízo arbitral, o crime será o do art. 342 do CP, com a pena aumentada de 1/6 a 1/3 (art. 342, § 1 °). - O particular colaborador responde pelo crime, desde que ciente das qualidades do agente público autor (art. 30 do CP). - SUJEITO PASSIVO – o Estado e, secundariamente, quem for prejudicado. - Analisando o tipo do art. 317 do Código Penal, podemos apontar os seguintes elementos: a) a conduta de solicitar ou receber, para si ou para outrem; b) direta ou indiretamente; c) ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela; d) vantagem indevida; e) ou aceitar promessa de tal vantagem. - Podemos descatar como condutas três elementos, quai sejam SOLICITAR (PEDIR), explícita ou implicitamente, vantagem indevida RECEBER referida vantagem ACEITAR PROMESSA DE TAL VANTAGEM, anuindo com futuro recebimento - PRIMEIRA CONDUTA exige ação ativa do funcionário público, “o próprio funcionário público quem toma a iniciativa da mercancia” - Rogério Sanches Cunha - SEGUNDA CONDUTA uma doação voluntária, ou seja, o funcionário público mante- se em uma postura passiva, a iniciativa é do corruptor, podendo este transferir a vantagem até de modo simbólico. - TERCEIRA CONDUTA promessa (aceitação de promessa de uma vantagem indevida), Ação ativa do corruptor - há corrupção por parte do corruptor (particular que faz a promessa). VANTAGEM - ELEMENTO SUBJETIVO geral é o dolo, exigido pelo tipo penal que prevê o delito de corrupção passiva, não havendo previsão legal para a modalidade de natureza culposa. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. - CONSUMA-SE na modalidade SOLICITAR E ACEITAR, o crime é de natureza formal, consumando-se ainda que a gratificação não se concretize. - Modalidade RECEBER, o crime é material, exigindo efetivo enriquecimento ilícito do autor. - TENTATIVA - Admite-se a tentativa apenas na modalidade solicitar. MAJORANTE E FORMA PRIVILEGIADA CAUSA DE AUMENTO DE PENA – MAJORANTE - EXAURIMENTO PERSONALIZADO: o agente cumpre o prometido, realizando a pretensão do corruptor. FORMA PRIVILEGIDA - Nesta figura criminal, o agente, sem visar satisfazer interesse próprio, ao contrário do que ocorre com a modalidade de corrupção passiva prevista no caput do art. 317 do Código Penal, o agente não visa, para si ou para outrem, à obtenção de vantagem indevida. Procura, outrossim, atender a um pedido de alguém, ou cede em virtude da influência exercida por aquele que lhe faz a solicitação. - É o caso dos famigerados 'favores' administrativos. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA - A ação penal será pública incondicionada. SINGULARIDADES - Ao delito de corrupção passiva poderá ser aplicado o raciocínio correspondente ao PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, EXCLUINDO-SE DA FIGURA TÍPICA CONSTANTE DO ART. 317 DO CÓDIGO PENAL AQUELAS “VANTAGENS” DE VALOR IRRISÓRIO, como ocorre com muita frequência quando os funcionários são presenteados com bombons, doces, canetas, algumas pequenas lembranças, principalmente em datas comemorativas, a exemplo do que ocorre com o Natal. - Na verdade, tais fatos poderiam ser excluídos pela ausência de dolo, pois, nesses casos, não se poderia falar em verdadeira corrupção, mas, sim, em “agrados”, “gentilezas”, “política de bom relacionamento”, mesmo que não tão sinceras quanto pareçam. - O Código de Processo Penal contém norma expressa a respeito da possibilidade de serem os JURADOS responsabilizados criminalmente pelo delito de CORRUPÇÃO PASSIVA, dizendo, em seu art. 445: Art. 445. O jurado, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la, será responsável criminalmente nos mesmos termos em que o são os juízes togados - Corrupção passiva e Código Penal Militar Se verifica pela leitura do art. 308 e parágrafos, verbis: CORRUPÇÃO PASSIVA Art. 308. RECEBER, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou ACEITAR promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de dois a oito anos. Aumento de pena § 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o agente retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. Diminuição de pena § 2º Se o agente pratica, deixa de praticar ou retarda o ato de ofício com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano. - CORRUPÇÃO PASSIVA DESPORTIVA - lei nº 12.299, de 27 de julho de 2010, dispondo sobre medidas de prevenção e repressão aos fenômenos de violência por ocasião de competições esportivas, alterando o Estatuto de Defesa do Torcedor (Lei nº 10.671, de15 de maio de 2003), diz, verbis: Art. 41-C. Solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa devantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva: Pena – reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa. Vide discussões levadas a efeito em destaque no crime de corrupção ativa desportiva. DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTRABANDO OU DESCAMINHO (ART. 318) - Primeiro partiremos de uma berve definição de contrabando e descaminho: - O bem jurídico protegido é a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA é o bem juridicamente protegido pelo tipo penal que prevê o delito de facilitação de contrabando ou descaminho. - SUJEITO ATIVO- somente o FUNCIONÁRIO PÚBLICO INCUMBIDO DE IMPEDIR A PRÁTICA DO CONTRABANDO E DO DESCAMINHO • Caso não ostente essa atribuição funcional, responderá pelos delitos de descaminho (art. 334) ou contrabando (art. 334-A), na condição de partícipe. - Com fundamento no art. 30 do CP, é possível a participação de terceiro. - Aliás, por terceiro participante entende-se não apenas o estranho aos quadros públicos, mas também o funcionário sem a obrigação específica de combate aos crimes de contrabando e descaminho, desde que ciente de estar colaborando com a ação ou omissão criminosa de um fiscal incumbido de tal mister. - SUJEITO PASSIVO – o Estado. - A conduta punida pelo tipo em estudo é a de facilitar, seja por ação ou omissão, a prática dos crimes de descaminho (art. 334) e contrabando (art. 334-A). - ELEMENTO SUBJETIVO geral é o dolo, representado pela vontade consciente de facilitar o descaminho ou contrabando, consciente de estar infringindo o dever funcional. Não há modalidade culposa. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. - CONSUMA-SE com a efetiva facilitação, ciente o agente de estar infringindo o seu dever funcional, pouco importando se completou ou não o descaminho ou contrabando (crime formal ou de consumação antecipada).. - TENTATIVA, é inadmissível quando se tratar de facilitação ativa, caso em que a execução do crime admite fracionamento em vários atos. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA - CRIME PRÓPRIO no que diz respeito ao sujeito ativo (pois somente o funcionário público, com infração de dever funcional, pode praticá-lo); - DOLOSO; comissivo ou omissivo próprio (haja vista que o núcleo facilitar pode ser praticado mediante omissão do agente); - DE FORMA LIVRE; instantâneo; monossubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente (dependendo do modo como o delito é praticado, poderá ou não ser fracionado o iter criminis); - TRANSEUNTE (podendo, no entanto, dependendo da hipótese concreta, ser considerado um delito não transeunte, em virtude da possibilidade de realização de prova pericial) - A pena cominada ao delito de facilitação de contrabando ou descaminho é de reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, - A pena poderá ser aumentada da terça parte, conforme determina o § 2º do art. 327 do Código Penal, nas hipóteses nele previstas. - A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PREVARICAÇÃO ARTIGO 319 - O traço marcante do delito de prevaricação reside no fato de que o funcionário retarda, deixa de praticar o ato de ofício ou o pratica contrariamente à disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Conforme ressalta Fragoso: “O interesse pessoal pode ser de qualquer espécie (patrimonial, material ou moral). O sentimento pessoal diz com a afetividade do agente em relação às pessoas ou fatos a que se refere a ação a ser praticada, e pode ser representado pelo ódio, pela afeição, pela benevolência etc. A eventual nobreza dos sentimentos e o altruísmo dos motivos determinantes são indiferentes para a configuração do crime, embora possam influir na medida da pena.” - BEM JURÍDICO protegido é a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - O objeto material é o ato de ofício que fora retardado, ou deixado de ser praticado, bem como aquele praticado contra disposição expressa de lei. - SUJEITO ATIVO- é o funcionário público (art. 327 do CP), sendo perfeitamente possível a participação de terceiro não qualificado, desde que conhecedor da condição funcional do agente público (art. 30 do CP). - A Lei 1.079/50 (art. 9°) traz algumas figuras específicas de prevaricação, aplicadas ao Presidente da República, Ministros de Estado, Ministros do STF e Procurador-Geral da República. - Tratando-se de Prefeitos, não somente o Decreto-lei 201/67 regula hipóteses especiais do crime em estudo (art. 1 °, V a XXIII), mas também a Lei 6.766/79 (art. 52). As do procedimento criminal cabível, sob pena de responsabilidade penal pela prática do crime de prevaricação, se assim agirem para satisfazer interesse ou sentimento pessoal (art. 7° da Lei 4.729/65). - SUJEITO PASSIVO – o Estado-Administração, é o ente público, atingido com a conduta irregular do funcionário, podendo ofender, ainda, interesses de particulares. - Três são as formas de praticar o crime em estudo: retardando (atrasar, procrastinar) ato de ofício; deixando de praticá-lo (omissão); e, por fim, praticando-o de forma ilegal. - Em qualquer caso, porém, é necessário que o ato retardado, omitido ou praticado se revele contra disposição expressa de lei (norma penal em branco). - O núcleo retardar nos dá a ideia de que o funcionário público estende, prolonga, posterga para além do necessário a prática do ato que lhe competia. - ELEMENTO SUBJETIVO geral é o dolo, ou seja, vontade consciente de retardar, omitir ou praticar ilegalmente ato de ofício, acrescido do intuito de satisfazer interesse ou sentimento pessoal (elemento subjetivo do tipo), colocando o seu interesse particular acima do interesse público. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. - CONSUMA-SE com o retardamento, a omissão ou a prática do ato, sendo dispensável a satisfação do interesse visado pelo servidor. - TENTATIVA, é inadmissível em tese apenas na modalidade comissiva. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA - A ação penal é pública incondicionada DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA ARTIGO 319-A - Como o legislador não lhe conferiu título, coube à doutrina a tarefa de etiquetá-lo, chamando o crime do art. 319-A de prevaricação imprópria. - Protege-se a Administração Pública contra comportamentos de funcionários que, ignorando o seu dever funcional, colocam em risco a segurança interna e externa (da sociedade em geral) dos presídios, não vedando o acesso dos presos a aparelhos de comunicação. - BEM JURÍDICO é a Administração Pública é que prevê o delito de omissão de dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar. - Objeto material é o aparelho telefônico, de rádio ou similar. - SUJEITO ATIVO - Tratando-se de crime próprio, o sujeito ativo do delito de omissão de dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar somente poderá ser o Diretor de Penitenciária e/ou o agente público. - A expressão agente público compreende qualquer pessoa que, no exercício de sua função pública, tenha o dever de impedir que o preso tenha acesso aos mencionados aparelhos de comunicação,como ocorre não somente com os agentes penitenciários aos quais, de acordo com o art. 2º da Lei nº 10.693, de 25 de junho de 2003, compete o exercício das atividades de atendimento, vigilância, custódia, guarda, assistência e orientação de pessoas recolhidas aos estabelecimentos penais, bem como aos policiais (delegados, detetives etc.) que de alguma forma tomarem conhecimento do fato. - O sujeito ativo não será qualquer funcionário público, mas aquele que, no exercício das suas funções, tem o dever de evitar o acesso do preso aos aparelhos de comunicação proibidos (Diretor de Penitenciária, carcereiro, policial na escolta etc.) - E o preso que for surpreendido com o aparelho? Este, em princípio, pratica falta grave, sujeito a sanção disciplinar (art. 50, VII, da LEP). - SUJEITO PASSIVO – Estado, e, secundário, a sociedade. - O crime consiste em deixar (omitir, não cumprir) o agente seu dever funcional de vedar (proibir, impedir) ao preso o acesso (o alcance) a aparelho que possibilite a comunicação com outros presos (do mesmo estabelecimento ou não) ou com o ambiente externo (qualquer pessoa situada fora do ambiente carcerário) - Desse modo, o tipo quer proibir não a comunicabilidade do preso com o mundo exterior, mas a intercomunicabilidade, isto é, a transmissão de informações entre pessoas (sendo, pelo menos uma, habitante prisional). - O núcleo deixar pressupõe um comportamento omissivo por parte do agente, tratando- se, consequentemente, de uma omissão própria, verbo que literalmente se refere a comportamento omissivo. Dessa forma, não se utiliza a construção jurídica da posição de garantidor (art. 13, § 2º, do CP) que é reservada aos casos em que se mostra necessário caracterizar a omissão imprópria. - Caso o funcionário introduza o aparelho no presídio, incorre no crime do art. 349-A do Código. - Caso se omita ou introduza o aparelho no presídio em troca de vantagem indevida, responde por corrupção passiva. - ELEMENTO SUBJETIVO geral é o dolo vontade consciente de não vedar, quando obrigado (dever), o acesso do preso ao aparelho de comunicação. - Diferentemente da prevaricação propriamente dita (art. 319), a forma imprópria (art. 319-A) dispensa finalidade especial do agente. - Não se pune a forma culposa, podendo acarretar responsabilidade civil ou sanção administrativa CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. - CONSUMA-SE O delito se consuma quando o Diretor de Penitenciária e/ou o agente público, tendo conhecimento da situação, dolosamente, nada fazem para evitar que o preso tenha acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. - O tipo penal não exige a efetiva comunicação do preso por meio de aparelho telefônico, de rádio ou similar, bastando que, exista essa indevida possibilidade. TENTATIVA, é inadmissível em tese, pois a inação dolosa do agente, permitindo o indevido acesso do preso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, consuma a infração penal sub examen. – CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA - Crime próprio (somente podendo ser praticado pelo Diretor de Penitenciária e/ou agente público); doloso; omissivo próprio; de forma livre; instantâneo; monossubjetivo; monossubsistente; não transeunte (haja vista a necessidade de ser apreendido o aparelho telefônico, de rádio ou similar). - A pena cominada ao delito tipificado no art. 319-A do Código Penal é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. - A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. Compete, pelo menos inicialmente, ao Juizado Especial Criminal o processo e julgamento do delito de omissão de dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, tendo em vista que a pena máxima cominada em abstrato não ultrapassa o limite de 2 (dois) anos, imposto pelo art. 61 da Lei nº 9.099/95. Será possível a confecção de proposta de suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei nº 9.099/95. DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ADVOCACIA ADMINISTRATIVA ARTIGO 321 - Ao funcionário público não é permitido agir para a satisfação de interesse privado, valendo-se de sua qualidade em face da Administração Pública. - A Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, não permite que o funcionário atue, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou companheiro (art. 117, XI). - E o art. 30, I, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, diz que o advogado servidor público não pode patrocinar qualquer interesse perante a Administração Pública que o remunere ou à qual seja vinculada a entidade que o emprega (Lei n. 8.906, de 4-7-1994) - Busca o presente dispositivo resguardar a moralidade administrativa, impedindo que funcionários públicos patrocinem, valendo-se do cargo, interesse privado em detrimento da Administração Pública. - BEM JURÍDICO protegido é a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Não há objeto material. - SUJEITO ATIVO- É o funcionário público na ampla definição do art. 327 do CP. - Tratando-se de crime contra a ordem tributária, aplica-se o art. 3°, III, da Lei 8.137 /90, que pune com reclusão, de um a quatro anos, além de multa, aquele que: "patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público". - Cuidando-se, entretanto, de crime relacionado com licitação pública, aplica-se o art. 91 da Lei 8.666/93, que, impondo pena de detenção, de seis meses a dois anos e multa, tem a seguinte redação 91 da Lei 8.666/93 337-G – Lei 14.133, de 1 de abril de 2021 Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração, dando causa à instauração de licitação ou à celebração de contrato, cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração Pública, dando causa à instauração de licitação ou à celebração de contrato cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário: - Nova redação da lei de licitações passou a prever o crime de 6 (seis) meses a 3 (três) anos. - Em suma, se o interesse patrocinado pelo agente for contra a ordem tributária ou visando licitação pública, aplica-se ao caso a regra especial; em qualquer outra hipótese, incidirá a regra geral do Código Penal. - SUJEITO PASSIVO – é a Administração Pública, diretamente interessada em coibir o patrocínio de interesses privados junto a seus órgãos - A conduta típica é patrocinar o agente, direta ou indiretamente, ainda que não no exercício do cargo, emprego ou função, mas valendo-se da sua qualidade de funcionário, interesse privado perante a Administração Pública. - PATROCINAR corresponde a defender, pleitear, advogar junto a companheiros ou superiores hierárquicos o interesse particular. - Para que se configure o crime do art. 321 do CP, não basta que o agente ostente a condição de funcionário público, mas é necessário e indispensável que pratique a ação aproveitando-se das facilidades que sua qualidade de funcionário lhe proporciona. - Este crime se difere, portanto, da corrupção passiva, que pressupõe um ato de ofício a ser realizado, retardado ou omitido pelo agente, em torno do qual se realiza a transação em que o agente público pretende obter vantagem. Isso não ocorre na advocacia administrativa, na qual não existe ato de ofício e tampoucoobtenção de vantagem. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2014.133-2021?OpenDocument - ELEMENTO SUBJETIVO geral é o dolo, vontade livre e consciente de patrocinar interesse privado junto à Administração Pública. Na forma qualificada (art. 321, parágrafo único), deve abranger a ilegitimidade do interesse CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. - CONSUMA-SE se consuma com a prática de qualquer ato que importe em patrocínio de interesse privado perante a Administração Pública. Não é mister que a ação do sujeito ativo se prolongue ou conste de vários atos, o que já está a dizer não ser preciso consiga o funcionário-advogado o coroamento da pretensão do cliente, ou, de qualquer modo, a solução delito. - TENTATIVA, porquanto se trata de delito plurissubsistente e, inclusive, de forma livre, podendo o agente ver interrompido o iter criminis, depois de já praticados atos executórios e antes da consumação, por circunstâncias alheias à sua vontade. FORMA QUALIFICADA – - Se o interesse privado, patrocinado pelo funcionário perante a Administração Pública, for ilegítimo, a pena será de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, além da multa, tendo em vista o maior juízo de censura, de reprovação, que recai sobre a conduta do agente. É fundamental, no entanto, que o agente saiba ser ilegítimo o interesse particular por ele patrocinado perante a Administração, pois, caso contrário, poderá ser afastada a qualificadora. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA - Trata-se de crime simples (ofende um único bem jurídico); próprio (somente pode ser cometido pelo funcionário público); formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado (consuma-se com o patrocínio do interesse alheio de natureza privada, independentemente da obtenção do resultado pretendido); de dano (causa prejuízo à regularidade da Administração Pública); de forma livre (admite qualquer meio de execução); comissivo ou omissivo; instantâneo (consuma-se em um momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (normalmente praticado por um só agente, mas admite o concurso); e unissubsistente ou plurissubsistente. - No tipo simples, a pena é alternativa: detenção, de um a três meses, ou multa. Na forma qualificada, as penas são cumulativas: detenção, de três meses a um ano, e multa. O fato consubstancia infração de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n. 9.099/95). Trata- se, portanto, de delito abrangido pela competência ratione materiae dos Juizados Especiais Criminais. Admite, em razão da pena máxima, a transação penal (art. 76 da Lei n. 9.099/95) e, dada a pena mínima não superior a um ano, a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n. 9.099/95).A ação penal é pública incondicionada