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OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 1 Coleção UM NOVO COMEÇO: Reencontrando o Criador� O SERMÃO DA MONTANHA Cristianismo Essencial Volume IV Reginâmio Bonifácio de Lima RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 2 Volumes da Coleção OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 3 O SERMÃO DA MONTANHA: Cristianismo Essencial Copyright © LIMA, Reginâmio Bonifácio de. 2010. Capa: Ilustração de ambiente deserto com o símbolo cristão de um peixe desenhado em uma árvore caída Idéia Original e Editoração: LIMA, Reginâmio B. Revisão: Maria Iracilda G. C. Bonifácio Regineison B. Lima Sônia Queiroz Volume I (O Monte) – ISBN 978-85-907581-6-7 Volume II (Israel) – ISBN 978-85-907581-7-4 Volume III (Jesus) – ISBN 978-85-907581-8-1 Volume IV (O Sermão da Montanha) – ISBN 978-85-907581-9-8 Volume V (Retorno à Santidade) – ISBN 978-85-910370-0-1 Ficha catalográfica preparada pela Biblioteca Central da UFAC L732r LIMA, Reginâmio Bonifácio de. O Sermão da Montanha: cristianismo essencial/ Reginâmio Bonifácio de Lima. – Rio Branco (AC): Boni, 2010. Coleção Um Novo Começo: reencontrando o Criador. v. 4 ISBN 978-85-907581-9-8 1. Teologia Cristã. 2. Jesus. 3. Cristianismo. 4. Igreja. I. Título CDU 230.1 Fica explicitamente proibida qualquer forma de reprodução total ou parcial deste livro, sem o expresso consentimento do autor. Contate o autor (68) 9997-4974 RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 4 Ao Deus Todo-Poderoso pelas misericórdias, bênçãos outorgadas e permitir a conclusão desta obra. A todos os meus familiares que tanto me auxiliaram. A três mulheres especiais: minha mãe, Maria Bonifácio, pelo amor, carinho, afeto, compreensão e apoio dado no decorrer de toda uma vida; minha amiga, Missionária Sônia Queiroz, pelo apoio intelectual, dedicação, comprometimento e abnegação nesses últimos anos; minha musa inspiradora, Maria Iracilda, que me ensinou a viver de forma prática a teologia explicitada em centenas de páginas, interpelando por maior intimidade com o Criador. Muito obrigado a todos. OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 5 Se eu te adorar por medo do inferno, Queima-me no inferno. Se eu te adorar por causa do paraíso, Exclua-me do paraíso. Mas se eu te adorar pelo que Tu És, Não escondas de mim a tua face. (Rabia, 800 d.C.) RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 6 SUMÁRIO Apresentação 07 O método de Deus 09 O Ensino do Monte 17 Segurança em Cristo 29 A vitória da Graça 37 Referências 53 OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 7 ����presentação vida cristã está diretamente ligada aos ensinos do Cristo, ao ter em vista a necessidade do homem estar de volta à comunhão com Deus, precisa-se analisar Suas palavras, para tanto, esta obra foi produzida como forma de buscar perceber nas palavras e atitudes de Jesus, contidas na Bíblia, tendo como fonte principal para estudos o cristianismo essencial, o conhecimento da vontade do Criador para com Suas criaturas. O Deus encarnado cumpriu um projeto divino para redenção dos pecadores, tanto que Seus ensinos fulguraram no cristianismo essencial – o Sermão da Montanha – e o cumprimento da promessa resplandeceu na redenção adquirida pela morte do Messias, no Calvário. A vontade humana em busca do Criador e seu encontro com a vontade atuante do Redentor se fez o centro dos estudos, tendo como base a doutrina teológica cristã. Esse elo de ligação entre a vontade de Deus e a vontade dos homens é a questão central na busca organizada de informações que constituíram os elementos fundamentais da pesquisa. Portanto, sem dúvida alguma, o Sermão do Monte é a essência do ensino de Jesus e do viver cristão. Há um fascínio em seu ensino, ou antes, em quem o pronunciou. O proferido divino aos bem-aventurados cidadãos de Seu reino e as vivências em conformidade com o Cristianismo Essencial, se postos ou quando postos em prática, podem realizar uma �� RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 8 verdadeira contracultura cristã com autenticidade e autoridade para fazer diferença neste mundo conturbado (STOTT, p. 2001). O Monte das Oliveiras é uma pequena elevação com quatro cumes, o mais alto atinge 830 metros de altura, a oeste do poço de Siloé, situado em frente ao templo de Jerusalém, tendo entre ambos o vale do Cedrom. Na época de Jesus o Monte era bem arborizado, cheio de oliveiras, o que lhe deu o nome. Desde o período do Velho Testamento ele é conhecido (2 Sm: 15. 30; Ne: 8. 15; Ez: 11. 23). Vários foram os poemas escritos sobre o fulgor de suas luzes. O Monte das Oliveiras já foi chamado de “Monte de três luzes”, por causa do resplendor das chamas do altar do templo que refletiam em suas vertentes à noite, pelo dourar de seu cume com o resplendor dos primeiros raios de sol e por a oliva de lá retirada servir para produzir azeite para as lâmpadas do templo. O Sermão trata do caráter cristão, enfatiza a conduta e a índole daqueles que externam uma relação com Deus e com os homens, além de enfatizar as bênçãos dadas por Deus. Há nele a indicação de como os cristãos devem exercer sua influência na comunidade, ante a obediência a Deus e prática da justiça. Cada cidadão do reino deve atuar com misericórdia, fugindo das aparências religiosas, realmente agindo na busca das “coisas lá do alto”, tendo Cristo no comando de sua vida e relacionando-se uns com os outros, com a natureza, com Deus e com todas as pessoas em conformidade com a vontade de divina. A abordagem dada no Sermão é para a coletividade cristã, mas atinge a cada um, pessoalmente, porque o pregador do sermão salva a cada um individualmente e esses indivíduos juntos é que formam o reino. Portanto, é mister uma dedicação íntima, não basta chamá-Lo de “Senhor” ou ouvi-Lo, é preciso pôr em prática. Cristianismo é seguir ao Cristo. � � � OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 9 � CAPÍTULO I ���� Método de Deus tema central de toda a Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, é o amor de Deus, exposto no histórico propósito de Deus em chamar os homens para Si, santificando-os, para propriedade exclusiva e obediência à vontade dAquele que revigora o ser, pensamentos e ações, separando-os do mundo para a plenitude de vida na abundância conseguinte de Seu amor primeiro. Deus chamou Israel para ser o povo santo a testemunhar Sua grandeza e ser bênção. Mandou que o povo se mantivesse santo, não se contaminando com as práticas das outras nações; instituiu os mandamentos, o culto, a cerimônia e as práticas a serem seguidas em relação a Si, à natureza e ao próximo. Contudo, o povo se desviou, clamou o estabelecimento de um rei (1 Sm: 8.5, 19, 20), mesclou-se com as nações, fazendo obras que não aprazem o propósito divino (Nm: 23.9; Sl:103.35); Israel preferiu ser guiada por um rei terreno em detrimento do governo teocrático, onde Deus agia como Rei único e verdadeiro, porque queria “ser como as outras nações”,e quando Deus suscitou os profetas Jeremias e Ezequiel a anunciar: “não aprendais o caminho dos gentios” �� RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 10 (Jr: 10.1 e 2), e : “não vos contamineis com os ídolos do Egito, eu sou o SENHOR vosso Deus” (Ez: 20.7), o povo não ouviu. Os monarcas de Israel pecaram e fizeram o povo pecar, Deus viu tudo isso e cumpriu o que havia sido pactuado na aliança entre Si e Israel, porque “os filhos de Israel pecaram contra o Senhor seu Deus ... andaram nos estatutos das nações... também Judá não guardou os mandamentos do Senhor; antes andaram nos costumes que Israel introduziu” (2 Rs: 17.7, 8, 19; Ez: 5.7; 11.12). Israel foi exilado e, 150 anos mais tarde, Judá. O povo estava dividido e praticando atos espúrios, “povo de impuros lábios”, mesmo após voltar do cativeiro para a terra da promessa continuaram as dissensões, facções e intrigas. Deus retirou a posse da terra de Seu povo, mas não retirou a aliança. É possível manter a aliança sem a posse da terra, foi assim com Abraão e Moisés, também o era na época do planeta visitado. Deus permanece fiel à Sua aliança, mas o povo estava em práticas desagradáveis a Ele. Foi nesse contexto que o Sermão do Monte foi pregado, logo no início do ministério público de Jesus, anunciando as Boas Novas de que o reino de Deus, prometido desde há muito tempo no Velho Testamento, estava às portas. Esse cenário é essencial para que se veja a amplitude do Sermão do Monte e a abrangência em seu contexto. O próprio Deus feito carne inaugurava esse reino irrompendo na história, conclamando ao arrependimento e à retidão, que estão na base salutar do justo governo sob a graça divina. Após ter sido batizado e sofrido a tentação no deserto, no começo de Seu ministério, Jesus proferiu o Sermão do Monte, afirmando o reino de Deus, anunciado de longa data, estar às portas. As palavras proferidas tratavam de arrependimento e justiça, descrevendo a vontade de Jesus para que Seus seguidores fossem e agissem de acordo com a vontade de Deus. Não está ali escrito apenas um compêndio de valores, padrão ético, devoção religiosa e atitude para com Deus e com o próximo. Muitos declaram que os padrões estabelecidos no Sermão, por mais nobres e atraentes que sejam seus ideais, são impossíveis de realizar e de turva praticidade, tendo em vista a perversidade humana. Há ainda, os que acreditam ser o Sermão do Monte a epítome de um pensamento comum a OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 11 todas as religiões, expressando em seus capítulos a auto-evidência dos arquétipos de ética e moral inerentes ao pensamento cosmogônico postulado nos diversos agrupamentos ideológicos e culturais. Quem pensa de tal forma muito provavelmente não leu, ou antes, compreendeu a mensagem contida no Sermão da Montanha. Seus padrões não são fáceis de alcançar por todas as pessoas, nem inalcançáveis por qualquer pessoa. A descrição dada no Sermão descreve o tipo de pessoa que os cidadãos do reino de Deus, portanto, os filhos da família de Deus, deveriam ser. O Sermão foi dado aos discípulos e começa com a exposição das bênçãos dadas por Deus àqueles em quem Ele trabalha o caráter, agindo graciosamente para atingir a amplitude de uma vida centrada no alvo que é Jesus. Caso alguém venha estudar o Sermão do Monte com o olhar voltado para a formação morfológica, será tão mecânico quanto alguém que analisa Camões à parte de sua sensibilidade. O Sermão deve sim ser analisado morfologicamente, em sua sintaxe, exegese, estilística, aramaico e hebraico semítico, contudo, não se deve correr o risco de perder a mensagem por causa da estrutura. Esse texto particular está contido em um livro que, junto com outros sessenta e cinco, formam a revelação inspirada por Deus, a Bíblia. Não se pode isolar versos, partes ou textos do Sermão e tentar compreendê-lo aquém de sua totalidade. Isso não implica negar um estudo aprofundado das partes e sim, corroborar a sua inteireza. A junção de partes estudadas e montadas como um quebra-cabeça em nada é melhor que a inteireza de um quadro de Monet em suas particularidades. O mesmo se aplica ao Sermão, qualquer pessoa munida de teorias pode extrair partes do mesmo para afirmar ou negar postulações sem, contudo, ter coerência no todo. É necessário ver os ensinos proferidos por Jesus do todo para suas particularidades, com o espírito pronto para aprender, apreender e empreender, em busca do conhecimento nas mensagens ali expressas. A peculiaridade do Sermão do Monte em relação a outras obras está não apenas nos ensinos pregados, mas principalmente na pessoa que o pregou: Jesus, o Cristo. Não se deve dissociar Jesus de Suas obras para não sucumbir ao errôneo pensamento de um Jesus transcendente atuando em forma de homem, nem nas possíveis “controvérsias dialéticas” a que Sua obra seria submetida. O Deus Filho agiu em meio à humanidade, dirigiu RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 12 Sua palavra aos homens, pronunciou novas de alegria, sendo a Pessoa bendita de quem deriva o Sermão do Monte e o retorno à santidade em Deus, por meio do Santo Espírito. Após a introdutória descrita por Mateus, Jesus começa o Sermão com as bem-aventuranças e as segue com o tracejamento contrastante entre o padrão cristão e o não-cristão. Por vezes, faz o contraste de Seus discípulos com os gentios e, às vezes, com os próprios judeus. Jesus pretendia demonstrar que nem a forma pagã de agir (Mt: 6.25-32), nem a casuística ética dos escribas (Mt: 5.21-48), nem a piedade hipócrita dos fariseus (Mt: 6.1-18), estão de acordo com a vontade divina de um buscar o reino e a justiça de Deus, sobrepujantes às outras demandas terrenas (Mt: 6.23,33). A passagem contida no livro de Mateus capítulos 5, 6 e 7 registra os ensinos de Jesus, também em Lucas, vêem-se porções de ensinos paralelas e esse Sermão (Lc: 6.20-49). Em Lucas está a afirmativa de que quando desciam, os ensinos de Jesus foram dados em um lugar plano. Havia um lugar plano, o fato de Jesus ter subido a um monte, conforme Mateus, comprova isto. A Bíblia não diz que foi colina ou pico e sim que Jesus subiu a um monte, conforme conceito exposto no capítulo II, e, conforme Lucas, “descendo com eles”, só se desce de cima, por isso, havia uma elevação onde o ensino de Jesus foi exposto – é possível que tenha sido num altiplano. Ele caminhava a proclamar as novas do reino, percorrendo o acidentado território de Israel. Não é interessante aqui afirmar se o Sermão foi dito na íntegra por Jesus, em um só momento, conforme o conteúdo de Mateus ou foram vários discursos proferidos e mais tarde compilados por um ideário da cultura cristã do século I, na pessoa do evangelista Mateus. Vários teólogos defendem a primeira alternativa, enquanto outros, a segunda. Quanto ao Sermão, momentaneamente é interessante afirmar apenas o fato de em Lucas e Mateus a descrição começar pelas bem-aventuranças e, os assuntos sobre amar os inimigos e sobre o julgamento (Lc: 6.27 a 42) serem seqüenciais, assim também, ambos os sermões terminam com a parábola dos construtores. OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 13 Embora seja grande a ânsia de se querer afirmar um ou outro ponto de vista sobre o discurso, precisa-se levar em conta dois pontos: por um lado, a falta de espiritualidade dos discípulos para terem guardado tantos ensinos éticos, de tamanha riqueza e vastidão tópica, por isso, a provável reunião dos ensinos de Cristo sob esse título leva a crer num compêndio; por outro lado, os acontecimentos abordados em Mateus 4, verso 23 até o verso 1 do capítulo seguinte, contêm a esperança prelúdica de um grande sermão, algo específico a ser exposto àquela multidão,não tanto na forma kerigma, mas essencialmente didaché 1, a cristãos necessitados de referências para sua vida comportamental e espiritual, podendo o Cristo ter proferido um grande discurso com pequenos sermões inclusos para edificação. Mateus ficou conhecido por sua capacidade de agrupamentos de assuntos na obra que leva sua assinatura, o Sermão do Monte é o esboço mais completo no Novo Testamento da cultura cristã nascente. Muitos paralelismos se têm escrito correlacionando as passagens do Sermão com outras da Bíblia, como o fato de Jesus e Moisés terem subido a um monte para proclamar ao povo os princípios comportamentais, éticos e espirituais; Moisés estava com as doze tribos, Jesus estava com os doze apóstolos; a correspondência das oito bem-aventuranças aos dez mandamentos, com suas respectivas dissertações e explicações; dentre outros. Isso não quer dizer que realmente esses paralelos tenham sido tentados por Mateus ou que Jesus tenha querido apresentar os tais. Ao comparar os sermões contidos em Mateus e Lucas há o contraste de o primeiro apresentar cento e sete versos, enquanto o segundo apresenta trinta. Ambos afirmam ter sido apresentado no começo do ministério de Jesus, iniciado na Galiléia, ambos dão contexto histórico e geográfico precisos, destacando a perplexidade das multidões ao término do Sermão e dizendo que em seguida “entrou em Cafarnaum” (Mt: 8.5; Lc: 7.1). Isso não quer dizer que os evangelhos transmitiram o Sermão na íntegra, Jesus deve tê-lo proferido em aramaico, a língua usual da região e os escritos foram produzidos em grego, isso sem contar a data da sua 1 Kerigma é anuncio proclamatório, enquanto Didaché é o ensino. A proclamação está em eito para o ensino, enquanto a didática atua como instrução ética anunciada com ênfase. Ambas interdependem no sermão, sendo dado destaque ao ensino. RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 14 profissão, no início do ministério, e o tempo ocorrido até sua escrita, algumas décadas depois. Tanto Lucas quanto Mateus tiveram auxílio da memória popular para escrever os ensinos, embora não seja possível afirmar quais, ou de quem. Quanto à constituição do corpo do texto, Stott faz algumas considerações: Ou Lucas apresenta um resumo menor, omitindo grande parte, enquanto Mateus registra mais, senão maior parte dele; ou Mateus elabora um sermão originalmente mais curto, aumentando-o com o acréscimo de outros contextos autênticos e pronunciamentos apropriados de Jesus. Podemos ainda afirmar que o Espírito Santo orientou a seleção e o arranjo (STOTT. 1997, p. 10). Muitas foram as interpretações dadas ao Sermão do Monte. Agostinho, quando Bispo em Hipona, escreveu um tratado sobre o Sermão, descrevendo-o como uma “regra perfeita”, contrastante do novo padrão de vida com o antigo. Os monastas o viam como um “conselho de perfeição”; enquanto os reformadores o julgavam “a expressão franca da justiça divina dirigida a todos”. Há milhares de obras escritas sobre o a mensagem do Sermão do Monte e este capítulo não se propõe a inventar uma nova explicação ou compor novos paradigmas. O intuito é expor a mensagem contida no texto poético e prosaico, exposto em linguagem semita, cheio de peculiaridades do hebraísmo, proposto a pessoas anteriormente conhecedoras de alguns ensinos de Jesus, ou por ouvi-lo ou pelo que se dizia dEle e Seus feitos. É possível e quase certo que, em meio à multidão, houvesse pessoas que não O conhecessem, contudo, por sua visão expressa, desenvolvimento lógico e ensino salutar, o Sermão do Monte é cristianismo essencial e expõe a felicidade dos que estão no reino (5.3-16), a relação da mensagem de Jesus para com a ordem antiga (5.17-48), instruções práticas para a conduta no reino (6.7-12) e o desafio para uma vida de dedicação (7.13-29). Dito isto, é válido compartilhar a lógica como aparece formulado o Sermão, não casualmente Jesus proferiu tais ensinos. Há muitas maneiras de se dividir o Sermão do Monte, variações de pensamentos e propósitos. A forma aqui aplicada será a mesma encontrada também nas cartas OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 15 neotestamentárias, ou seja, o ensino doutrinário precede as deduções nele embasadas, e, os preceitos são sucedidos de descrições pormenorizadas. Por isso, numa sugerida subdivisão do Sermão serão consideradas duas partes: geral e específica. A parte geral contém as bem-aventuranças e preceitos de sociabilidade dos cristãos para a sociedade e o mundo nos quais estão inseridos, descritos no capítulo cinco do livro de Mateus, versos de um a doze. Os demais versículos do capítulo cinco descrevem a retidão almejada no cristão, o capítulo seis inteiro está relacionado à vida do cristão “diante de Deus, em ativa submissão a ele, em total dependência dele” (LLOYD-JONES, 1989, p. 22). E o capítulo sete descreve uma vida sob o jugo de Deus, no santo temor ao Senhor. Essas são algumas subdivisões feitas no texto estudado, os aprofundamentos são intentados para momento posterior. O padrão a ser seguido é Deus. Os filhos necessitam agir como reflexo da límpida imagem e semelhança do Pai. O próprio Cristo enfatizou que os cidadãos do reino de Deus tinham que ser diferente daquilo que estava posto nas pessoas em redor e nações em derredor. E aqui é possível um paralelo entre a não prática de Israel e a não prática dos cristãos, de forma que está contido em duas expressões, escritas com uma inserção temporal de quase dois mil anos, entre ambas e o significado contínuo, o mesmo do início: “não vos assemelheis, pois a eles”; “não fareis como eles” (Mt: 6.8 e Lv: 18.3). A primeira expressão é um dos núcleos da segunda parte do sermão proferido por Jesus, para a prática dos cidadãos do reino; e a segunda é a palavra do próprio Deus ao povo santo de Israel. Era preciso ser justo, agindo com nobreza, tanto em comportamento ético quanto na devoção religiosa, amando a Deus em primeiro lugar e, por conseqüência, ao próximo como a si mesmo. Querer que alguém que não nasceu do alto viva de conformidade com os ensinos contidos no Sermão é, grosso modo, querer que uma lagarta que ainda não foi transformada em borboleta alce vôo gracioso e belo, ou seja, é querer demais. Não basta dar noções comportamentais e exigir capacidade para agir como cristão: é o Espírito quem regenera. Um verdadeiro cristão sente – ou deveria sentir – prazer em agir de conformidade com os preceitos de Cristo. Para um não-cristão os ensinos RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 16 podem ser divagações, transcendências, implicações ideológicas, postulações teóricas, qualquer outra coisa do tipo, menos gozo em Cristo. As abordagens ao Sermão, tipificadas com o intuito de rotular determinadas ações de conformidade ou antagonismo ao texto expropriado de seu contexto, são falsificações heréticas, de prática retórica e hermenêutica deformadas, porque o Sermão do Monte não é um compêndio de leis morais ou códigos éticos, nem deve ser equiparado aos dez mandamentos; ele é sim, uma descrição do caráter do cristão restituído ao seio divino, prazerosamente agindo em conformidade com a vontade de Deus e nele esperando em todo o tempo. OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 17 CAPÍTULO II ���� Ensino do Monte SERMÃO DO MONTE Evangelho de Jesus segundo relata Mateus nos Capítulos 05, 06 e 07 – As bem-aventuranças 5 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; 2 e ele passou a ensiná-los, dizendo: 3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. 4 Bem-aventurados osque choram, porque serão consolados. 5 Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. 7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. 9 Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. �������� RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 18 10 Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. 11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. 12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. Os discípulos, o sal da terra 13 Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; Os discípulos, a luz do mundo 15 nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. 16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. Jesus não veio revogar a lei, mas cumprir 17 Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. 18 Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. 19 Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. 20 Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus. OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 19 Jesus completa o que foi dito aos antigos DO HOMICÍDIO 21 Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. 22 Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo. 23 Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24 deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta. 25 Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz, ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão. 26 Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último centavo. DO ADULTÉRIO 27 Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. 28 Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela. 29 Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno. 30 E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno. 31 Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. 32 Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério. DOS JURAMENTOS 33 Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos. 34 Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 20 35 nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; 36 nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. 37 Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno. DA VINGANÇA 38 Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. 39 Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; 40 e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. 41 Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. 42 Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes. DO AMOR AO PRÓXIMO 43 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. 44 Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; 45 para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. 46 Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? 47 E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo? 48 Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. Da prática da justiça 6 Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste. Como se deve dar esmolas OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 21 2 Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. 3 Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; 4 para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. Como se deve orar 5 E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. 6 Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. 7 E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu 8 Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais. A oração dominical 9 Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10 Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; 11 o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; 12 e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; 13 e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal [pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém]! 14 Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; 15 se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas. Como jejuar RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 22 16 Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. 17 Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, 18 com ofim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. Os tesouros no céu 19 Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; 20 mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; 21 porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. A luz e as trevas 22 São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; 23 se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! Os dois senhores 24 Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas A ansiosa solicitude pela vida 25 Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? 26 Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? 27 Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 23 28 E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. 29 Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. 30 Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? 31 Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? 32 Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; 33 buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. 34 Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal. O juízo temerário é proibido 7 Não julgueis, para que não sejais julgados. 2 Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. 3 Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? 4 Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? 5 Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão. Não deis o que é santo aos cães 6 Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem. Jesus incita a orar 7 Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 24 8 Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. 9 Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? 10 Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? 11 Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? 12 Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas. As duas estradas 13 Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), 14 porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela. Os falsos profetas 15 Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. 16 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? 17 Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. 18 Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. 19Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. 20 Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. 21 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. 22 Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? 23 Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade. OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 25 Os dois fundamentos 24 Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; 25 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. 26 E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; 27 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína. O fim do Sermão do Monte 28 Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; 29 porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. SERMÃO DA PLANICIE Lucas 06 – As bem-aventuranças 20 Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. 21 Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem- aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir. 21 Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem. 23 Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas. �������� RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 26 Os ais 24 Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação 25 Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar. 26 Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas. Da vingança 27 Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; 28 bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam. 29 Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa- o levar também a túnica; 30 dá a todo o que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres em demanda. 31 Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles. Do amor ao próximo 32 Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam. 33 Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso. 34 E, se emprestais àqueles de quem esperais receber,qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. 35 Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. 36 Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 27 O juízo temerário é proibido 37 Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; 38 dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também. A parábola do cego que guia a outro cego 39 Propôs-lhes também uma parábola: Pode, porventura, um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no barranco? 40 O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu mestre. 41 Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? 42 Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão. Árvores e seus frutos 43 Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto. 44 Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas. 45 O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração. Os dois fundamentos 46 Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? 47 Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. 48 É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem construída. RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 28 49 Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa. OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 29 CAPÍTULO III ����egurança em Cristo ários pensadores têm olhado para as bem-aventuranças como a essência do que deve ser a vida cristã e a fé experimentada. Mesmo que haja abundância de hebraísmos e o ensino de Jesus tenha sido proferido em aramaico, há no Sermão o sobressair valorativo de grandeza espiritual e seriedade moral. A escrita dos evangelhos foi produzida na linguagem grega popular, koiné, e o termo utilizado para indicar as afirmativas, “bem-aventurados”, na língua grega, tem um significado riquíssimo. Para Lopes: Trata-se do desfrutar perene das bênçãos de Deus, que começa aqui e agora... Trata-se de uma sinopse mais espiritual que literária, voltada para a natureza dos ensinos de Jesus... Na essência, é a bênção de Deus que torna as pessoas bem-aventuradas, conforme fica demonstrado etimológica e teologicamente (2001: 55-57). O termo “bem-aventurados” e seus cognatos aparecem mais de cinqüenta vezes no Novo Testamento, provém do grego makarioi, derivado do vocábulo grego makar, no período clássico da cultura grega utilizada para designar os deuses makarios, da mitologia, tidos por bem- �� RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 30 aventurados; também Heródoto utiliza o termo para descrever um lugar de perfeição, onde não há angústia, pena ou dor, mas tão somente serenidade e alegria para os bem-aventurados. Jesus utiliza esse conceito bem difundido entre os gregos para conferi-lo aos cidadãos do Reino de Deus; alguns estudiosos traduzem marakoi por “felizes”. Seria uma tradução correta se estivesse expropriada de seu contexto. A felicidade é um estado subjetivo de espírito que alguém tem sobre si; contudo, Jesus está falando de um estado objetivo imputado por Deus. É como Deus vê essas pessoas que importa, essa é a forma, e diante de Deus os cidadãos do reino são agraciados, bem-aventurados. Destaca-se em Jesus não apenas Seu caráter real ou sacerdotal; em muitas passagens estão contidas Suas atuações como um mestre que ensina, dando a entender que Seus discípulos são alunos ou aprendizes, isso ocorre por cerca de 243 vezes. J. M. Prince em sua obra “Mestre por Excelência” escreve sobre o caráter e mestria de Jesus: Nos evangelhos, Jesus é chamado mestre nada menos que 45 vezes, e nunca se fala nele como pregador. L. J. Sherrill diz que, somando-se todos os termos equivalentes a mestre, temos o total de 61. Normam Richardson anota que o vocábulo Mestre é usado 66 vezes na versão King James; 54 vezes é derivado da palavra grega que significa professor ou mestre. Fala- se em Jesus ensinando, 45 vezes; e 11 apenas pregando, e assim mesmo, pregando e ensinando, como vemos em Mateus 4.23: ‘...ensinando em suas sinagogas, pregando o evangelho do reino...’. Chamavam-no mestre apenas os doze, mas também outros discípulos seus (1954: 16). Ele, enquanto mestre, descreve as qualidades que devem estar contidas no seio de cada cristão por serem louváveis e evidenciar, pela graça de Deus, o trabalho que está sendo realizado ao caminhar em direção a Deus. Junto com as bem-aventuranças estão contidas bênçãos dadas por Deus – não como prêmio de mérito, e sim, gratuitamente aos cidadãos do reino de Deus. Está contido nos primeiros versos de Mateus capítulo cinco, a diversidade do caráter cristão em equilíbrio com cada uma das beatitudes. São qualidades tais que cada cristão é chamado a ter, todas ao mesmo ser, e OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 31 todos os seres a obtê-las. As bem-aventuranças são para todos os cidadãos do reino, sem exceção. Ao contrário dos dons do Espírito, que alguns cristãos têm um, dois, três e assim sucessivamente, e uns diferentes dos outros, as bem-aventuranças são todas oferecidas a todos os cristãos. Não obstante as bênçãos contidas nas bem-aventuranças são para o presente, mesmo a referida sobre os perseguidos contém como promessa “deles o reino dos céus” que traduzida por alguns como “deles no reino dos céus”, dando um significado escatológico ao cumprimento da bênçãos divinas. As bênçãos divinas são usufruídas no tempo presente; a cada ato dado a um estado dos cidadãos do reino é seguidamente acrescentado a bênção divina, não postergando para a transcendência futurística sua realização, mas relacionando diretamente um ao outro. Ainda que se ressalte o caráter futurístico com promessas como a de que “verão a Deus”, realmente, no “fim dos tempos”, Deus será visto, mas hoje também o é na pessoa de Cristo, na imagem restaurada do homem, no herdar a terra agora para usufruí-la no presente e tê-la em conformidade além no fim das eternidades. Há o cumprimento presente e futuro. Nas palavras de Stott: Portanto, as promessas de Jesus nas bem-aventuranças têm cumprimento presente e futuro. Desfrutamos agora das primícias, a colheita propriamente dita está por vir. E, como destacou o professor Tasker, “o tempo verbal futuro... enfatiza sua certeza, e não simplesmente o seu aspecto futuro. Os que choram serão certamente consolados (1997: 23). Bem no começo do Sermão, Jesus demonstra a natureza dos habitantes deSeu reino. Esses fazem parte não por mérito próprio, mas pela benevolência do Altíssimo. Esses nascidos de novo buscam agir sem hipocrisia, sendo servos mansos a buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, num processo gradativo de santificação em e para Deus. É fundamental arrepender-se verdadeiramente dos pecados cometidos e se derramar diante de Deus, para que se reconheça a pequenez diante de Deus, assumindo a natureza decaída e corrupção, sendo mansos e buscando saciar a fome e a sede na justiça de Deus. Somente cristãos RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 32 cheios do Espírito podem doar-se em tal reconhecimento de seu estado de miséria, corrupção, engrandecendo o misericordioso Consolador. Na segunda parte do Sermão da Montanha, há o relacionamento dos cidadãos do reino para com o próximo e com a natureza, derivantes da vivência em Deus. A compaixão ou misericórdia de quem a necessite é refletir aos outros o que antes foi exercido por Deus para consigo, tendo na pureza de coração um santificar-se em sinceridade diante de Deus, pacificando a sociedade, ao não buscar conflitos ou ser responsáveis por eles, seguindo a paz com todos, no que depender de si, com a plena certeza de que o valor cristão exercido vai entrar em choque com os valores mundanos, daí a perseguição “por causa da justiça” e “por minha causa” (Mt: 5.10.11). Para se entender as bem-aventuranças é necessário ir beber na fonte, contudo não se anseia, nesta obra o destrinchar de todas as elaborações, já que, para tanto, várias obras foram escritas, como as contidas nas referências ao fim deste trabalho. Entretanto, vale ressaltar a necessidade de explanação de certos termos obscurecidos pelas traduções da Bíblia e pela própria variação lingüística, no decorrer de milênios. A tradução mais acertada para a primeira bem-aventurança, no contexto lingüístico atual da língua portuguesa, é: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”, embora em várias traduções se encontre a expressão “pobres de espírito”. O que Jesus quis enfatizar não foi a pobreza espiritual, mas a humildade que se deve ter em despir-se dos próprios desejos de execução da vontade pessoal, renunciando aos preconceitos para proceder em uma vida de humilde dependência da vontade de Deus. A humildade de espírito é, não por acaso, a primeira das bem- aventuranças; conforme Lloyd-Jones (1999), todos os cidadãos do reino de Deus ou reino dos céus são humildes. A humildade é uma característica fundamental para embasar a vida cristã, sendo todas as demais, em grande medida, resultantes da primeira. O homem não deve fingir humildade, ou querer demonstrar insistentemente seu estado miserável aos outros. Não se é humilde pela busca da humildade, mas pela contrita busca a Deus ela é adquirida. Ser OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 33 humilde de espírito é, submissamente, assumir-se imprestável diante de Deus, miserável e incapaz, na dependência total do santo desígnio divino. Ela indica a consciência da pequenez e impotência do homem ante o Altíssimo. “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”. O chorar contido no verso citado é pranto, lágrimas abundantes em choro convulsivo, a ponto de envolver todo o ser com sua intensidade. Esse desolar-se, pela dor, atinge o coração despontando arrependimento humano e consolo dado por Deus. O que se deve pensar acerca desse verso é o chorar pelo motivo da tristeza espiritualmente provocada, não um chorar pesaroso pela morte de alguém, ou um pranto de lamúria. Os humildes de espírito percebem seu estado de pecadores e choram diante do Deus Santo e Glorioso, lamentando as condições em que se encontram. “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”. Manso é aquele que mesmo tendo poder para agir, é humilde e compassivo. Alguém gentil, atencioso e cortês. O próprio Deus Se apresenta na Bíblia arrogante para com os arrogantes e humilde para com os humildes. Portanto, a mansidão não é fraqueza ou incapacidade, mas ser compassivo quando necessário. A mansidão não é nulidade de si mesmo, mas os cidadãos do reino precisam interiorizar o caráter atuante no controle de si mesmos, produzido pelo Santo Espírito. É perfeitamente possível ser forte e manso, ser um líder atuante e agir com mansidão. Nas palavras de Lloyd- Jones (1999:62): “a mansidão é, essencialmente, um autêntico ponto de vista que o indivíduo forma de si mesmo, o que é então expresso como uma atitude e uma conduta em relação ao próximo”. A expressão supracitada reporta-se à relação do indivíduo consigo mesmo e com o próximo, agindo com paciência, gentileza, longanimidade como conseqüência. A mansidão produzida ocasiona a ausência do orgulho próprio, que é a expressão do individualismo egocêntrico humano. Ela age produzindo uma vontade ativa de servir e viver no espírito. Não é uma autocomiseração ou passividade. É a expressão de postura e conduta para Deus, consigo e com o próximo. RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 34 “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos”. A fome e a sede no oriente, mesmo na época de Jesus, são comuns e horríveis de se passar. Mais que uma metáfora, Jesus quis mostrar aos discípulos que os cidadãos do reino devem aspirar à justiça. Porque o pão e a água são mais necessários pela sobrevivência que pela satisfação de obtê- los; da mesma forma, a justiça precisaria ser almejada para uma vida com Deus. Jesus queria que se tivesse pela justiça o mesmo anseio que se tem pelo alimento e pela água; a dimensão holística total da justiça própria, atuando de forma a também beneficiar os outros, com retidão pela plena consciência de já haver sido justificado por Cristo. Ter fome e sede de justiça é querer viver de forma justa, livre do desejo egocêntrico do “eu”, livre de pecado, porque o pecado e os desejos nele contidos separam o homem de Deus. Quando se almeja a justiça se está querendo ficar em paz com Deus, porque Ele é justo. A busca faminta e sedenta é um separar-se para Deus, buscando as coisas do alto, na certeza de por mérito próprio não se alcançar o anelado, contudo, pelo agir do Santo Espírito, as necessidades pecebidas pelos humildes cidadãos do reino serão atendidas e, estes serão fartos. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Desde o Velho Testamento até durante o Novo, os atos de bondade e misericórdia estiveram presentes. A misericórdia sempre é inicialmente vertical, sendo de Deus para com os homens e, logo após, dos homens para com seus semelhantes. Ser misericordioso não é ser tolo, alguém que não liga para se algo de errado está acontecendo ou não. O misericordioso não é um tolo, mas alguém que recebeu graça proveniente do alto e, por isso, age graciosamente. A diferença entre graça e misericórdia é: “a graça é especialmente vinculada aos homens, em seus pecados; mas a misericórdia é especialmente associada aos homens, em sua miséria” (LLOYD-JONES, 1999, p.91). O misericordioso é alguém perdoador, não omisso. É alguém disposto a perdoar as faltas, porque sente-se perdoado por Deus. “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus”. A pureza no Velho Testamento tinha o significado exterior, no Novo, refere- OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 35 se à pessoa sem contaminação moral, sem culpa; Jesus estava falando do interior, do coração, e a conseqüência é que verão a Deus, sendo que a expressão tem duas aplicações, a primeira compreende um visar interiormente e compreender a natureza da pessoa de Deus (Ef: 1.18) e a outra reporta-se à experiência mística escatológica, com o aperfeiçoamentofuturo, após mudada a natureza humana, refletindo mais limpidamente a imagem de Deus (Rm: 8.29; 1 Jo: 3.2; Ap: 22. 3 e 4). Na Bíblia, o coração é utilizado como centro da personalidade, a parte da volição, afetos, emoções, enfim, a sensibilidade está contida nele. Estar limpo de coração é mais que a singeleza de uma limpidez, é estar purificado, sem contaminação, conseqüentemente, santificado a Deus no presente, com a certeza do completar a santidade escatológica. É impossível ao homem limpar o próprio coração, mas quando da entrega de si a Deus, Ele lava e purifica todo o ser, tornando-o limpo e aprazível. “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”. A paz de Jesus é abundante e sobressai a todas as coisas, não é apenas ausência de guerras ou conflitos. A promessa contida nessa bem- aventurança não é aos que sonham com a paz ou a desejam, e sim, com os que a promovem. Porque a paz não é passiva, mas dinâmica, agindo em harmonia pelo poder e ação de Jesus Cristo, realizando-se primeiramente em Deus, e, após, em Sua criação. A paz não é um simples apaziguamento que pode ser dado com mea culpa e aperto de mão. A verdadeira paz provém de Deus e sobrepuja qualquer tentativa de apaziguamento ou minoração de conflitos, uma pacificação verdadeira em Deus. “A paz é uma das virtudes cardeais da ética cristã” (CHAMPLIN, 1988, p. 206). O pacificador é alguém que almeja a glória de Deus e age com os conflituosos, não acusando-os ou inferindo culpa, mas com a consciência de que eles continuam sob o domínio do pecado e necessitam de auxílio. Procura refrear sua língua, agir em acordo com a vontade de Deus e esforçar-se por difundir a paz. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 36 injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós (Mt: 5. 10–12). Aqueles que são perseguidos são agraciados por sofrer por causa de Jesus, da lealdade para com a verdade e justiça proclamadas. Vários teólogos acreditam que os versos 10 e 11 de Mateus cinco contêm uma única bem-aventurança, pelo fato de haver a continuação de uma mesma idéia. Cada cristão, ao passar por essas agruras, nas palavras de Stott (2001: 53): “Não devemos revidar como incrédulos, nem amuar como crianças, nem ficar lambendo as feridas em autopiedade como cães, nem sorrir e agüentar como estóicos, menos ainda fingir como masoquistas. Em vez disso devemos: ‘regozijar-nos e exultar!’”. Os cidadãos do reino primeiramente são vistos prostrados, pranteando aos pés do Altíssimo, reconhecendo sua pobreza espiritual. E, pelo amor primeiro de Deus, esses cidadãos tornam-se gentis, proclamando as virtudes do Altíssimo, agindo com misericórdia, procurando não entrar em contendas e ser um feitor da paz, mesmo quando insultado e perseguido. As bem-aventuranças iniciam e terminam com a promessa do reino dos céus. Os herdeiros da pátria celeste são impressionados por Cristo com as bênçãos outorgadas aos filhos de Deus. Os perseguidos aqui retratados não o são por causa da política, de nobreza ou abnegação, e sim, por causa da justiça. Por quererem se parecer com Deus, agindo em santidade. OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 37 CAPÍTULO IV ���� Vitória da Graça om as bem-aventuranças Jesus definiu o caráter essencial dos discípulos; o que se segue a elas é a influência que estes devem exercer para o bem do mundo, como sal e luz (Stott, 1989). Essas duas metáforas domésticas às quais Jesus recorreu definem a influência cristã, coisas tão básicas como essenciais, presentes no mais humilde lar, ambas são propostas como afirmativas a serem cumpridas, seguidas pelo apêndice condicional que valida sua atuação. Após a exposição do viver cristão contido nas bem-aventuranças, Jesus passa a ensinar em uma perspectiva mais particularizante. Ele passa às peculiaridades2. Jesus falara sobre o caráter cristão e sobre a influência que deveria ter sobre o mundo. Essa influência é atuante, e melhor compreendida quando correlacionada com a justiça, que excede o legalismo e ultrapassa o pietismo, tornando em sua plenitude a decorrência correspondente à lei moral divina. A conformidade externa e formal dos escribas e fariseus foi aprofundada pelo Messias e Sua atuação interna motivadora de mente e 2 Os estudos realizados neste subcapítulo têm destaque na análise das obras de Lloyd- Jones, Champlin e Stott, além de outros autores cristãos. �� RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 38 coração (1 Sm: 16.7; Jr: 31.33; Ez: 36.27). Enquanto aqueles tentam restringir a aplicação da lei à literalidade, restringindo-a e adaptando a suas conveniências. Jesus atuou diretamente no significado espiritual dela, manifestando antíteses que seguem numa formulação progressiva dos ensinos do Mestre. O amor prático e a não vingança estão intimamente ligados com o caráter cristão e sua religiosidade, com vistas a uma atuação primeira constrangedora do Espírito Santo. Como bom observador que era e atuante expositor de comparações, Jesus começa as particularizações falando aos discípulos de seu valor, propriedade e necessidade de permanecerem puros. O sal era muito valorizado na Palestina, o Antigo Testamento faz referência e ele, também o Talmude. O sal é dotado de duas e distintas propriedades: a de conservar e condimentar. Os cidadãos do reino devem conservar o mundo, a razão de Deus não ter destruído este planeta é Sua fidelidade à escolha de um povo Seu, por isso conserva o lugar de sua habitação. Também esses cidadãos precisam ter sabor, fazer a diferença. De tudo que se pode dizer sobre esse verso que também é expresso por Marcos e Lucas, é que Jesus quer que os cidadãos do reino mantenham-se puros, sem se misturar com as coisas que o façam perder o sabor; uma vez que o sal, cloreto de sódio, em estado puro não deteriora, mas uma vez misturado a outros elementos que embora parecidos consigo, são subtraídos de salinidade, perde seu caráter distintivo, também o cristão que se mistura com outras práticas perde o sabor. Jesus proferiu essas palavras para que os cristãos, como o sal, sejam reais naquilo que professam e apresentem as propriedades por Ele esperadas. Por isso os pôs também por luz do mundo A luz deve brilhar, e seu fulgor resplandecer livremente. Todos os homens são à imagem e semelhança de Deus e, cada cidadão dos céus é reflexo de Deus, limpos, expressando a glória de Deus; o brilho da glória divina deve refletir, fazendo brilhar a luz de cada um para iluminar o mundo. Se alguém quiser aprofundar o assunto e começar a relativizar as coisas, afirmando a luz humana ser apenas uma figuração de pensamento talmúdico anterior ao Cristo, deve-se dizer a esse alguém que a luz divina OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 39 brilha desde antes da criação e essa luz jorra como fonte luminosa nos discípulos que segundamente fulguram iluminando o mundo. As trevas não existem por si mesmas, as trevas são a ausência da luz. É possível fazer um estudo detalhado da luz, mas não das trevas. Um simples raio de luz pode rasgar as densas trevas e tocar um objeto, iluminando-o. A única forma de determinar quão escuro é um local é pela quantidade de luz nele existente, o prisma de Newton decompõe a luz branca nas várias cores das quais se decompõe, com seus diferentes campos de onda. O mesmo não pode ser feito com a escuridãodas trevas, porque a escuridão é um termo criado para determinar a ausência de luz3, assim também as trevas da ausência de Deus devem ser refutadas com a luz dos cristãos, que ilumina o mundo. A exemplo da utilidade do sal, a luz deve radiar livremente como testemunho vivo. Jesus sempre põe objetos familiares em Suas citações, e ensina, ora com referência a coisas tidas por grandiosas como uma cidade, um monte, a luz, ora referindo-se a coisas do cotidiano de qualquer residência judaica, como a candeia, o velador, o alqueire; sempre expondo o viver dos cidadãos do reino: “assim brilhe também a vossa luz”. Esse brilhar humano faz com que as pessoas percebam no agir um algo maior, uma forma de viver que agrada a Deus. A luz dos cristãos são suas boas obras, elas não devem ser escondidas, mas manifestas para que o Pai seja glorificado. A nova lei foi dada por Jesus e Mateus a registra no Sermão do Monte. Vale ressaltar que o evangelho segundo Mateus foi escrito para os cristãos, os ensinos de Jesus dão conta de uma nova forma de ver e interpretar a lei. Há uma nova doutrina que contrasta com a antiga, não anulando-a, mas completando-a. O próprio Jesus explica Sua relação com a lei de Moisés. A terra e os céus poderiam passar, mas não as palavras de Jesus, até o cumprimento de todo o predito. Para os judeus a terra e os céus eram eternos, Jesus utilizou dessa forma de pensamento judaico para dizer que a lei e os profetas jamais seriam revogados. Jesus não ensinou que os céus e a terra não passariam, e sim, que nada, nem mesmo um “i”, “yod” hebraico, ou um til, uma pequena 3 Baseado no folhetim “Questão Científica”, autor, data e local desconhecidos. RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 40 marca que distingue certas letras hebraicas de outras, passaria sem o devido cumprimento. Quando Jesus fala da lei e dos profetas está falando da Torah e da interpretação aplicada da lei feita pelos profetas que também advertiam e ensinavam ao povo a vontade de Deus. Os profetas acima expostos são os profetas verdadeiros, os oráculos tidos como “boca de Deus” (Jr: 16.1), aqueles que falavam em nome de Deus e buscavam viver de acordo com Sua vontade. Bem diferente daqueles que se diziam profetas, mas estavam a serviço do poder político, agradando a homens e não a Deus (Am: 7.14). É preciso que o agir cristão seja melhor que o dos escribas e fariseus, porque estes preocupavam-se com as coisas exteriores e não guardavam o sentido moral da lei. A falsidade, a hipocrisia, o zelo no formalismo cerimonial e observação meticulosa da lei não encontrava-se em mesma proporcionalidade que o amor ao próximo, uma vez que este era deixado de lado e aquele intentado cumprimento pleno. Ao se reportar à lei, Jesus falava da lei moral, porque essa não sofre modificações. Ele havia dado as bases da vida cristã e não deveriam ser modificadas. Há um contraste entre os ensinos rabínicos comuns da lei e os ensinos proferidos por Jesus em Sua nova lei. Jesus esperava mais dos cidadãos do reino do que Moisés esperava de Israel. Por ser o novo legislador, Ele elevou a conduta dos cristãos como um ideal muito acima do que normalmente se pregava nas sinagogas. Ele ensinava sobre o homicídio, divórcio, concupiscência, juramentos, vingança, amor e ódio. “Ouviste o que foi dito aos antigos... eu, porém, vos digo...” grande parte do povo não sabia ler, o que conheciam das Escrituras era ouvido nas sinagogas e no templo, também não havia muitas cópias da Bíblia disponíveis para a aquisição popular. A contraposição feita por Jesus O embasa como “outro Moisés”, criando novas leis e reinterpretando as já existentes, expondo o conteúdo espiritual dessas leis, contrapondo-Se à interpretação legalista vigente. Para Jesus é inadmissível que um cidadão do reino sinta ódio por seu irmão, e o encolerizar-se é uma prova de falta de amor, uma quebra do OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 41 segundo mandamento a que se resumiu a lei: “amarás a teu próximo”. Também o proferir palavras torpes, de ofensa ao irmão é dito por Jesus como algo que não se deve fazer. Uma vez havendo contenda entre duas pessoas, é necessária uma reconciliação, porque isso é agradável a Deus e demonstra o cumprimento do amor ensejado. As atitudes são mais importantes que a vã religiosidade. Há a perda de valor do culto se for prestado como mero rito, em amor a Deus, mas com o ódio ao irmão. Por isso, deve-se buscar a paz com os homens para que se almeje apresentar-se diante de Deus. É preciso que cada um busque entrar em consenso com o próximo para que não haja divergências ou motivo de ser arrastado aos tribunais. Quando de uma dívida deve-se pagá-la por completo, caso não se venha a perdoá-la. Também manter-se casto, não cobiçando mulher que não seja a sua própria. Jesus interpretou o adultério como ato que vai além do intercurso, iniciando com o desejo. Insistindo em afirmar que só na cobiça já se faz o pecado, e qualquer parte do corpo que seja o agente pelo qual a tentação adentra para se alojar no desejo, seja ela o olho direito, a mão direita ou qualquer parte do corpo, deve-se abdicar dela, não num cortar literal ou no simbologismo do desejo ilegítimo, mas renúncia absoluta e dolorosa do desejo que leva ao pecado. O casamento foi instituído para que homem e mulher pudessem viver maritalmente, crescer e multiplicar; o casamento é bênção e mesmo que alguns tentem findá-lo por motivos banais, como no caso judeu contemporâneo a Jesus, e muitos povos na atualidade, os cidadãos do reino não deveriam repudiar suas esposas, nem estas levar seus maridos aos tribunais para pedir o divórcio, a menos que tenha havido o adultério. Vale ressaltar que Marcos e Lucas não citam o adultério como motivo de separação, mas Mateus põe esse motivo como única exceção. Talvez essa omissão tenha ocorrido em Marcos e Lucas por ficar subentendido que o amor a Deus, ao próximo e os cidadãos do reino, agindo de conformidade com os preceitos cristãos, não iriam cometer adultério. O modo de viver diferenciado dos discípulos do Cristo deveria ir além de um formalismo para chegar à verdade, se eles não agissemmal, como postulado acima, não haveria necessidade de carta de divórcio nem de RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 42 juramento. Era costume entre os judeus jurar, e, alguns juramentos eram tidos por mais importantes que outros. De tanto se jurar e dar sentido comum de desobrigação ante alguns, o juramento era superficial, inclinando à mentira. O cristão busca um viver no Espírito de Deus, por estar na verdade não há necessidade de jurar, sendo suficiente o sim ou não. Não é que Jesus estivesse proibindo o juramento total e completo, já que este houvera sido instituído no Velho Testamento (Ex: 20.7; Lv: 19.12; Nm: 1- 19; Dt: 23.22), o que Ele afirma é que Deus não é obrigado a apoiar juramentos imprudentes, feitos sob falsas declarações em Seu nome, em nome da terra, do céu, de Jerusalém ou de qualquer outra coisa. O cidadão do céu não deveria esperar que Deus lhe imputasse justiça por algo falso, antes, permanecendo na verdade, basta uma afirmativa ou negativa. Esse mandato de não jurar é para os cidadãos do reino, Jesus não retirou o juramento, mas a necessidade de fazê-lo, pois o homem honesto não precisa jurar por nenhum outro nome que não seja o seu. “O homem cônscio da presença de Deus e que sente responsabilidade para com Deus, não mente. Tal honestidade não requer a confirmação de qualquer juramento” (CHAMPLIN, 1988, p. 316). Algumas das práticas permitidas e legisladas no Velho Testamento são submetidas por Jesus à nova ordem estabelecida, é assim com os juramentos, a lei do talião e outras. Há a elevação de princípios e aplicaçãode práticas, como as contidas nas bem-aventuranças, na vida cotidiana. Assim como houve a injeção da misericórdia nas leis judaicas e maior proposição da concepção do amor, Jesus manda que não se retribua o mal, nem se pratique justiça com as próprias mãos. É preciso que se use de mansidão e misericórdia, não vingando o mal, antes, preparando-se com o espírito pronto para sofrer outro mal. Isso não implica uma atitude masoquista ou estóica, mas se por valor de lei alguém pleitear garantia de que o cidadão do reino irá cumprir o que fora tratado entre ambos e pedir a túnica como garantia, que se-lhe dê também a capa como forma de demonstrar bom grado e interesse em não entrar em litígio. A capa vale muito mais que a túnica, agir dessa forma é evitar conflito maior. É um servir com a intenção de fazer mais do que o que se espera que seja feito, como caminhar dois mil passos em vez de mil ou acudir o necessitado e emprestar sem juros a quem precise, como mandava a lei (Ex: 22.25; Lv: OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 43 25.37), sem cobrar garantias de pagamento. Não se trata de ser tolo, mas de “amar ao próximo como a si mesmo” e “acudi-lo em suas angústias”, na certeza de que Deus sabe de todas as coisas e não permite que haja a falta aos Seus, por conseqüência do reto cumprimento de Seus desígnios. Esse amor ao próximo, expresso como aos filhos de Israel (Lv: 19.18), e o ódio, aos inimigos gentios, deveria ser substituído pelo amor a todos, indistintamente, por um acolhimento, contentável a todos. O ódio não faz bem, o homem não tem em sua essência o ódio, ele é fruto das implicações do pecado, portanto, os cristãos restaurados não deveriam ter em si algo que só é prejudicial e não faz parte de seu ser. Nisso, Jesus mandou orar pelos perseguidores; os cristãos eram perseguidos por diferir da forma mundana de agir e viver, portanto, devem orar por aqueles que ainda não foram alcançados pela graça, para que se demonstre nessas atitudes de verídica filiação do misericordioso salvador, que alcança a todos com Sua graça, e se O imite, não esperando recompensa. O amor ao próximo é constantemente citado por Cristo, e deveria ser expresso a todos, inclusive com saudações, buscando no presente a perfeição que só será plena na vida futura. O contraste entre os antigos e os novos padrões de conduta vai além de uma mera reforma na lei, o caráter de conduta é elevado por Jesus para muito acima do que era praticado pelos líderes religiosos, porque queria que os homens tivessem a consciência que Ele mesmo tinha, de um Deus vivo, que opera e age não apenas em transcendência, mas também emanentemente. O fazer o bem não é para a vanglória, mas como demonstração do amor primeiro de Deus. Portanto, o agir deve ser para exercitar de forma prática o amor, não para almejar o orgulho e ostentar a dádiva, almejando aprovação alheia, porque quem assim age, não tem o porquê de ser recompensado por Deus, uma vez que a recompensa já foi dada pelos homens. A esmola deveria ser dada evitando os aplausos públicos e soberba que só agradam a carne. A oração que Jesus ensinou é reconhecida como “oração dominical” ou “Pai Nosso”, e deve ser feita com humildade. Se alguém quiser falar com Deus não há a necessidade de ficar ostentando-se em público, somente para atrair a atenção alheia. Jesus condena isso tanto quanto as vãs repetições. Ele manda que se procure intimidade com Deus em local onde não haja RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 44 incômodo nem demonstre um teatro de hipocrisia para mera percepção de que se está orando. Não se deveria assemelhar aos gentios, que repetiam várias vezes a mesma oração, por acreditar que seus deuses realizariam pelo aquilatar das orações muito repetidas. Essa prática tornou-se comum entre alguns judeus que se esqueceram do fato que Deus atende o espírito da oração pelo pedido de quem a faz, de acordo com Sua vontade. Jesus diz que esse tipo de oração é errada e Seus discípulos não devem agir assim, porque Deus conhece todas as necessidades de Seus filhos, mesmo antes que orem. Quanto à oração, o ensino de Jesus é que se evite a hipocrisia, a ostentação e as vãs repetições com o intuito de aumentar o valor do pedido. Jesus propôs uma oração que nem mesmo o maior estudioso da Bíblia poderia captar sua totalidade de significado. A profundidade percebida na intimidade de Jesus com o Pai faz com que se tenha o vulto do real esplendor que nela está contido. Tanto em Lucas quanto em Mateus, as orações são colocadas como provenientes da mesma fonte, sendo que a de Lucas é mais curta que a de Mateus. Em Lucas ela é apresentada após o regresso dos setenta, de sua segunda viagem pela Galiléia, e Mateus a apresenta antes da chamada dos doze apóstolos. Vários autores já analisaram esse Sermão em suas particularidades, inclusive o fato de não se querer atribuir a autoria do Sermão a Jesus. Essa oração não encontra paralelo na literatura judaica e de outros povos. As petições (sete) refletem as necessidades básicas dos homens, quer espirituais ou físicas: 1. santificado seja o teu nome: a alma se eleva à presença de Deus, reconhece que Deus é santo, e isso é o alicerce da oração e de nossas relações com Deus. 2. Venha o teu reino: desejo de aplicação universal dos atributos e poderes de Deus. 3. Assim na terra: a aplicação direta da influência divina sobre a terra, aplicação essa pessoal, aqui onde habitamos. 4. Dá-nos pão: o discípulo de reino tem necessidades físicas. Deus se interessa por essas coisas também. (...) 5. Perdoa os nossos pecados: neste mundo topamos com obstáculos, especialmente com a nossa própria natureza. Para que obtenhamos a condição de espiritualidade e sintamos a presença de Deus em nossas vidas, precisamos remover os obstáculos. 6. Não nos deixes cair: a vitória sobre o mundo é algo necessário por aquele que anda no caminho de OO SS EE RR MM Ãà OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 45 Deus. 7. Livra-nos do mal: concede-nos, finalmente, a vitória completa nessa esfera (CHAMPLIN, 1988, p.323). O ato de ter um grande Pai que está nos céus aumenta o valor dos cidadãos do reino. Esse Pai não precisa de repetições, o Seu nome é venerado e honrado, Ele é reconhecido entre os homens como já o é nos céus; e de lá, das alturas, oniscientemente, em majestade, tem poder sobre toda a criação. Esse Santo é onipresente e digno de devoção ao nome, portanto, os Seus filhos demonstram reverência a Ele, pedindo que venha o reino divino; reino estabelecido por Jesus, o Messias prometido. A vontade de Deus é o anseio dos cristãos, por ela se ora que seja manifesta na terra, totalmente cumprida, como é nos céus. É o pedido de que a gloriosa majestade do reino divino já estabelecida no alto trono de Deus se realize também na terra. Deus é quem sustenta e o alimento como as demais coisas vêm dEle. Muito se tem debatido se esse pão a que se reporta Jesus é o pão espiritual, supersubstantialem, ou é o pão simples, quotidiannum, Ambas as expressões latinas são defendidas por vários pais da igreja, o alimento espiritual citado por Jesus em várias ocasiões (Jo: 6.22-40) não parece ter seu sentido aqui expresso, o que aparenta é a literalidade do pão físico, símbolo das necessidades fisiológicas. A petição de perdoar as dívidas, em Lucas, é tratada como perdoar os pecados (Lc: 11.4), uma vez que os pecados são dívidas para com Deus, e o homem não tem como pagá-la. A continuação que se faz é “assim como perdoamos...”, não é que Deus tenha que perdoar conforme o perdão humano, ou estender o perdão de Deus à proporcionalidade do humano. A essência do exposto é um perdão unilateral a ser exercido, sem pedir nada em troca. É o pedido dos discípulos do Cristo, atuando