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Coleção 
UM NOVO COMEÇO: Reencontrando o Criador�
 
O SERMÃO DA MONTANHA 
Cristianismo Essencial 
Volume IV 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Reginâmio Bonifácio de Lima 
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Volumes da Coleção 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O SERMÃO DA MONTANHA: Cristianismo Essencial 
Copyright © LIMA, Reginâmio Bonifácio de. 2010. 
 
Capa: Ilustração de ambiente deserto com o símbolo cristão de um peixe 
desenhado em uma árvore caída 
Idéia Original e Editoração: LIMA, Reginâmio B. 
Revisão: Maria Iracilda G. C. Bonifácio 
 Regineison B. Lima 
 Sônia Queiroz 
 
Volume I (O Monte) – ISBN 978-85-907581-6-7 
Volume II (Israel) – ISBN 978-85-907581-7-4 
Volume III (Jesus) – ISBN 978-85-907581-8-1 
Volume IV (O Sermão da Montanha) – ISBN 978-85-907581-9-8 
Volume V (Retorno à Santidade) – ISBN 978-85-910370-0-1 
 
Ficha catalográfica preparada pela Biblioteca Central da UFAC 
 
 
L732r 
 
LIMA, Reginâmio Bonifácio de. 
O Sermão da Montanha: cristianismo essencial/ Reginâmio 
Bonifácio de Lima. – Rio Branco (AC): Boni, 2010. 
 
Coleção Um Novo Começo: reencontrando o Criador. v. 4 
 
ISBN 978-85-907581-9-8 
 
 1. Teologia Cristã. 2. Jesus. 3. Cristianismo. 
4. Igreja. I. Título 
 CDU 230.1 
 
Fica explicitamente proibida qualquer forma de reprodução total ou parcial 
deste livro, sem o expresso consentimento do autor. 
 
Contate o autor (68) 9997-4974 
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Ao Deus Todo-Poderoso pelas misericórdias, 
bênçãos outorgadas e permitir a conclusão 
desta obra. 
A todos os meus familiares que tanto me 
auxiliaram. 
A três mulheres especiais: minha mãe, Maria 
Bonifácio, pelo amor, carinho, afeto, 
compreensão e apoio dado no decorrer de 
toda uma vida; minha amiga, Missionária 
Sônia Queiroz, pelo apoio intelectual, 
dedicação, comprometimento e abnegação 
nesses últimos anos; minha musa 
inspiradora, Maria Iracilda, que me ensinou a 
viver de forma prática a teologia explicitada 
em centenas de páginas, interpelando por 
maior intimidade com o Criador. Muito 
obrigado a todos. 
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Se eu te adorar por medo do inferno, 
Queima-me no inferno. 
Se eu te adorar por causa do paraíso, 
Exclua-me do paraíso. 
Mas se eu te adorar pelo que Tu És, 
Não escondas de mim a tua face. 
 
 (Rabia, 800 d.C.) 
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SUMÁRIO 
Apresentação 07 
O método de Deus 09 
O Ensino do Monte 17 
Segurança em Cristo 29 
A vitória da Graça 37 
Referências 53 
 
 
 
 
 
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����presentação 
 
 
 vida cristã está diretamente ligada aos ensinos do Cristo, ao ter em 
vista a necessidade do homem estar de volta à comunhão com 
Deus, precisa-se analisar Suas palavras, para tanto, esta obra foi 
produzida como forma de buscar perceber nas palavras e atitudes de Jesus, 
contidas na Bíblia, tendo como fonte principal para estudos o cristianismo 
essencial, o conhecimento da vontade do Criador para com Suas criaturas. 
O Deus encarnado cumpriu um projeto divino para redenção dos 
pecadores, tanto que Seus ensinos fulguraram no cristianismo essencial – o 
Sermão da Montanha – e o cumprimento da promessa resplandeceu na 
redenção adquirida pela morte do Messias, no Calvário. A vontade humana 
em busca do Criador e seu encontro com a vontade atuante do Redentor se 
fez o centro dos estudos, tendo como base a doutrina teológica cristã. Esse 
elo de ligação entre a vontade de Deus e a vontade dos homens é a questão 
central na busca organizada de informações que constituíram os elementos 
fundamentais da pesquisa. 
Portanto, sem dúvida alguma, o Sermão do Monte é a essência do 
ensino de Jesus e do viver cristão. Há um fascínio em seu ensino, ou antes, 
em quem o pronunciou. O proferido divino aos bem-aventurados cidadãos 
de Seu reino e as vivências em conformidade com o Cristianismo 
Essencial, se postos ou quando postos em prática, podem realizar uma 
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verdadeira contracultura cristã com autenticidade e autoridade para fazer 
diferença neste mundo conturbado (STOTT, p. 2001). 
O Monte das Oliveiras é uma pequena elevação com quatro cumes, 
o mais alto atinge 830 metros de altura, a oeste do poço de Siloé, situado 
em frente ao templo de Jerusalém, tendo entre ambos o vale do Cedrom. 
Na época de Jesus o Monte era bem arborizado, cheio de oliveiras, o que 
lhe deu o nome. Desde o período do Velho Testamento ele é conhecido (2 
Sm: 15. 30; Ne: 8. 15; Ez: 11. 23). Vários foram os poemas escritos sobre 
o fulgor de suas luzes. O Monte das Oliveiras já foi chamado de “Monte de 
três luzes”, por causa do resplendor das chamas do altar do templo que 
refletiam em suas vertentes à noite, pelo dourar de seu cume com o 
resplendor dos primeiros raios de sol e por a oliva de lá retirada servir para 
produzir azeite para as lâmpadas do templo. 
O Sermão trata do caráter cristão, enfatiza a conduta e a índole 
daqueles que externam uma relação com Deus e com os homens, além de 
enfatizar as bênçãos dadas por Deus. Há nele a indicação de como os 
cristãos devem exercer sua influência na comunidade, ante a obediência a 
Deus e prática da justiça. Cada cidadão do reino deve atuar com 
misericórdia, fugindo das aparências religiosas, realmente agindo na busca 
das “coisas lá do alto”, tendo Cristo no comando de sua vida e 
relacionando-se uns com os outros, com a natureza, com Deus e com todas 
as pessoas em conformidade com a vontade de divina. 
A abordagem dada no Sermão é para a coletividade cristã, mas 
atinge a cada um, pessoalmente, porque o pregador do sermão salva a cada 
um individualmente e esses indivíduos juntos é que formam o reino. 
Portanto, é mister uma dedicação íntima, não basta chamá-Lo de “Senhor” 
ou ouvi-Lo, é preciso pôr em prática. Cristianismo é seguir ao Cristo. 
 
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CAPÍTULO I 
 
���� Método de Deus 
 
 
 tema central de toda a Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, é o amor 
de Deus, exposto no histórico propósito de Deus em chamar os 
homens para Si, santificando-os, para propriedade exclusiva e 
obediência à vontade dAquele que revigora o ser, pensamentos e ações, 
separando-os do mundo para a plenitude de vida na abundância 
conseguinte de Seu amor primeiro. 
Deus chamou Israel para ser o povo santo a testemunhar Sua 
grandeza e ser bênção. Mandou que o povo se mantivesse santo, não se 
contaminando com as práticas das outras nações; instituiu os 
mandamentos, o culto, a cerimônia e as práticas a serem seguidas em 
relação a Si, à natureza e ao próximo. Contudo, o povo se desviou, clamou 
o estabelecimento de um rei (1 Sm: 8.5, 19, 20), mesclou-se com as 
nações, fazendo obras que não aprazem o propósito divino (Nm: 23.9; 
Sl:103.35); Israel preferiu ser guiada por um rei terreno em detrimento do 
governo teocrático, onde Deus agia como Rei único e verdadeiro, porque 
queria “ser como as outras nações”,e quando Deus suscitou os profetas 
Jeremias e Ezequiel a anunciar: “não aprendais o caminho dos gentios” 
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(Jr: 10.1 e 2), e : “não vos contamineis com os ídolos do Egito, eu sou o 
SENHOR vosso Deus” (Ez: 20.7), o povo não ouviu. Os monarcas de Israel 
pecaram e fizeram o povo pecar, Deus viu tudo isso e cumpriu o que havia 
sido pactuado na aliança entre Si e Israel, porque “os filhos de Israel 
pecaram contra o Senhor seu Deus ... andaram nos estatutos das nações... 
também Judá não guardou os mandamentos do Senhor; antes andaram nos 
costumes que Israel introduziu” (2 Rs: 17.7, 8, 19; Ez: 5.7; 11.12). 
Israel foi exilado e, 150 anos mais tarde, Judá. O povo estava 
dividido e praticando atos espúrios, “povo de impuros lábios”, mesmo após 
voltar do cativeiro para a terra da promessa continuaram as dissensões, 
facções e intrigas. Deus retirou a posse da terra de Seu povo, mas não 
retirou a aliança. É possível manter a aliança sem a posse da terra, foi 
assim com Abraão e Moisés, também o era na época do planeta visitado. 
Deus permanece fiel à Sua aliança, mas o povo estava em práticas 
desagradáveis a Ele. 
Foi nesse contexto que o Sermão do Monte foi pregado, logo no 
início do ministério público de Jesus, anunciando as Boas Novas de que o 
reino de Deus, prometido desde há muito tempo no Velho Testamento, 
estava às portas. Esse cenário é essencial para que se veja a amplitude do 
Sermão do Monte e a abrangência em seu contexto. O próprio Deus feito 
carne inaugurava esse reino irrompendo na história, conclamando ao 
arrependimento e à retidão, que estão na base salutar do justo governo sob 
a graça divina. 
Após ter sido batizado e sofrido a tentação no deserto, no começo 
de Seu ministério, Jesus proferiu o Sermão do Monte, afirmando o reino de 
Deus, anunciado de longa data, estar às portas. As palavras proferidas 
tratavam de arrependimento e justiça, descrevendo a vontade de Jesus para 
que Seus seguidores fossem e agissem de acordo com a vontade de Deus. 
Não está ali escrito apenas um compêndio de valores, padrão ético, 
devoção religiosa e atitude para com Deus e com o próximo. Muitos 
declaram que os padrões estabelecidos no Sermão, por mais nobres e 
atraentes que sejam seus ideais, são impossíveis de realizar e de turva 
praticidade, tendo em vista a perversidade humana. Há ainda, os que 
acreditam ser o Sermão do Monte a epítome de um pensamento comum a 
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todas as religiões, expressando em seus capítulos a auto-evidência dos 
arquétipos de ética e moral inerentes ao pensamento cosmogônico 
postulado nos diversos agrupamentos ideológicos e culturais. Quem pensa 
de tal forma muito provavelmente não leu, ou antes, compreendeu a 
mensagem contida no Sermão da Montanha. 
Seus padrões não são fáceis de alcançar por todas as pessoas, nem 
inalcançáveis por qualquer pessoa. A descrição dada no Sermão descreve o 
tipo de pessoa que os cidadãos do reino de Deus, portanto, os filhos da 
família de Deus, deveriam ser. O Sermão foi dado aos discípulos e começa 
com a exposição das bênçãos dadas por Deus àqueles em quem Ele 
trabalha o caráter, agindo graciosamente para atingir a amplitude de uma 
vida centrada no alvo que é Jesus. 
Caso alguém venha estudar o Sermão do Monte com o olhar 
voltado para a formação morfológica, será tão mecânico quanto alguém 
que analisa Camões à parte de sua sensibilidade. O Sermão deve sim ser 
analisado morfologicamente, em sua sintaxe, exegese, estilística, aramaico 
e hebraico semítico, contudo, não se deve correr o risco de perder a 
mensagem por causa da estrutura. Esse texto particular está contido em um 
livro que, junto com outros sessenta e cinco, formam a revelação inspirada 
por Deus, a Bíblia. Não se pode isolar versos, partes ou textos do Sermão e 
tentar compreendê-lo aquém de sua totalidade. Isso não implica negar um 
estudo aprofundado das partes e sim, corroborar a sua inteireza. A junção 
de partes estudadas e montadas como um quebra-cabeça em nada é melhor 
que a inteireza de um quadro de Monet em suas particularidades. O mesmo 
se aplica ao Sermão, qualquer pessoa munida de teorias pode extrair partes 
do mesmo para afirmar ou negar postulações sem, contudo, ter coerência 
no todo. É necessário ver os ensinos proferidos por Jesus do todo para suas 
particularidades, com o espírito pronto para aprender, apreender e 
empreender, em busca do conhecimento nas mensagens ali expressas. 
A peculiaridade do Sermão do Monte em relação a outras obras está 
não apenas nos ensinos pregados, mas principalmente na pessoa que o 
pregou: Jesus, o Cristo. Não se deve dissociar Jesus de Suas obras para não 
sucumbir ao errôneo pensamento de um Jesus transcendente atuando em 
forma de homem, nem nas possíveis “controvérsias dialéticas” a que Sua 
obra seria submetida. O Deus Filho agiu em meio à humanidade, dirigiu 
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Sua palavra aos homens, pronunciou novas de alegria, sendo a Pessoa 
bendita de quem deriva o Sermão do Monte e o retorno à santidade em 
Deus, por meio do Santo Espírito. 
Após a introdutória descrita por Mateus, Jesus começa o Sermão 
com as bem-aventuranças e as segue com o tracejamento contrastante entre 
o padrão cristão e o não-cristão. Por vezes, faz o contraste de Seus 
discípulos com os gentios e, às vezes, com os próprios judeus. Jesus 
pretendia demonstrar que nem a forma pagã de agir (Mt: 6.25-32), nem a 
casuística ética dos escribas (Mt: 5.21-48), nem a piedade hipócrita dos 
fariseus (Mt: 6.1-18), estão de acordo com a vontade divina de um buscar o 
reino e a justiça de Deus, sobrepujantes às outras demandas terrenas 
(Mt: 6.23,33). 
A passagem contida no livro de Mateus capítulos 5, 6 e 7 registra 
os ensinos de Jesus, também em Lucas, vêem-se porções de ensinos 
paralelas e esse Sermão (Lc: 6.20-49). Em Lucas está a afirmativa de que 
quando desciam, os ensinos de Jesus foram dados em um lugar plano. 
Havia um lugar plano, o fato de Jesus ter subido a um monte, conforme 
Mateus, comprova isto. A Bíblia não diz que foi colina ou pico e sim que 
Jesus subiu a um monte, conforme conceito exposto no capítulo II, e, 
conforme Lucas, “descendo com eles”, só se desce de cima, por isso, havia 
uma elevação onde o ensino de Jesus foi exposto – é possível que tenha 
sido num altiplano. Ele caminhava a proclamar as novas do reino, 
percorrendo o acidentado território de Israel. 
Não é interessante aqui afirmar se o Sermão foi dito na íntegra por 
Jesus, em um só momento, conforme o conteúdo de Mateus ou foram 
vários discursos proferidos e mais tarde compilados por um ideário da 
cultura cristã do século I, na pessoa do evangelista Mateus. Vários teólogos 
defendem a primeira alternativa, enquanto outros, a segunda. Quanto ao 
Sermão, momentaneamente é interessante afirmar apenas o fato de em 
Lucas e Mateus a descrição começar pelas bem-aventuranças e, os assuntos 
sobre amar os inimigos e sobre o julgamento (Lc: 6.27 a 42) serem 
seqüenciais, assim também, ambos os sermões terminam com a parábola 
dos construtores. 
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Embora seja grande a ânsia de se querer afirmar um ou outro ponto 
de vista sobre o discurso, precisa-se levar em conta dois pontos: por um 
lado, a falta de espiritualidade dos discípulos para terem guardado tantos 
ensinos éticos, de tamanha riqueza e vastidão tópica, por isso, a provável 
reunião dos ensinos de Cristo sob esse título leva a crer num compêndio; 
por outro lado, os acontecimentos abordados em Mateus 4, verso 23 até o 
verso 1 do capítulo seguinte, contêm a esperança prelúdica de um grande 
sermão, algo específico a ser exposto àquela multidão,não tanto na forma 
kerigma, mas essencialmente didaché
1, a cristãos necessitados de 
referências para sua vida comportamental e espiritual, podendo o Cristo ter 
proferido um grande discurso com pequenos sermões inclusos para 
edificação. 
Mateus ficou conhecido por sua capacidade de agrupamentos de 
assuntos na obra que leva sua assinatura, o Sermão do Monte é o esboço 
mais completo no Novo Testamento da cultura cristã nascente. Muitos 
paralelismos se têm escrito correlacionando as passagens do Sermão com 
outras da Bíblia, como o fato de Jesus e Moisés terem subido a um monte 
para proclamar ao povo os princípios comportamentais, éticos e espirituais; 
Moisés estava com as doze tribos, Jesus estava com os doze apóstolos; a 
correspondência das oito bem-aventuranças aos dez mandamentos, com 
suas respectivas dissertações e explicações; dentre outros. Isso não quer 
dizer que realmente esses paralelos tenham sido tentados por Mateus ou 
que Jesus tenha querido apresentar os tais. 
Ao comparar os sermões contidos em Mateus e Lucas há o 
contraste de o primeiro apresentar cento e sete versos, enquanto o segundo 
apresenta trinta. Ambos afirmam ter sido apresentado no começo do 
ministério de Jesus, iniciado na Galiléia, ambos dão contexto histórico e 
geográfico precisos, destacando a perplexidade das multidões ao término 
do Sermão e dizendo que em seguida “entrou em Cafarnaum” (Mt: 8.5; Lc: 
7.1). Isso não quer dizer que os evangelhos transmitiram o Sermão na 
íntegra, Jesus deve tê-lo proferido em aramaico, a língua usual da região e 
os escritos foram produzidos em grego, isso sem contar a data da sua 
 
1 Kerigma é anuncio proclamatório, enquanto Didaché é o ensino. A proclamação está em 
eito para o ensino, enquanto a didática atua como instrução ética anunciada com ênfase. 
Ambas interdependem no sermão, sendo dado destaque ao ensino. 
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profissão, no início do ministério, e o tempo ocorrido até sua escrita, 
algumas décadas depois. Tanto Lucas quanto Mateus tiveram auxílio da 
memória popular para escrever os ensinos, embora não seja possível 
afirmar quais, ou de quem. Quanto à constituição do corpo do texto, Stott 
faz algumas considerações: 
 
Ou Lucas apresenta um resumo menor, omitindo grande parte, enquanto 
Mateus registra mais, senão maior parte dele; ou Mateus elabora um 
sermão originalmente mais curto, aumentando-o com o acréscimo de 
outros contextos autênticos e pronunciamentos apropriados de Jesus. 
Podemos ainda afirmar que o Espírito Santo orientou a seleção e o 
arranjo (STOTT. 1997, p. 10). 
 
Muitas foram as interpretações dadas ao Sermão do Monte. 
Agostinho, quando Bispo em Hipona, escreveu um tratado sobre o Sermão, 
descrevendo-o como uma “regra perfeita”, contrastante do novo padrão de 
vida com o antigo. Os monastas o viam como um “conselho de perfeição”; 
enquanto os reformadores o julgavam “a expressão franca da justiça divina 
dirigida a todos”. Há milhares de obras escritas sobre o a mensagem do 
Sermão do Monte e este capítulo não se propõe a inventar uma nova 
explicação ou compor novos paradigmas. O intuito é expor a mensagem 
contida no texto poético e prosaico, exposto em linguagem semita, cheio de 
peculiaridades do hebraísmo, proposto a pessoas anteriormente 
conhecedoras de alguns ensinos de Jesus, ou por ouvi-lo ou pelo que se 
dizia dEle e Seus feitos. É possível e quase certo que, em meio à multidão, 
houvesse pessoas que não O conhecessem, contudo, por sua visão 
expressa, desenvolvimento lógico e ensino salutar, o Sermão do Monte é 
cristianismo essencial e expõe a felicidade dos que estão no reino (5.3-16), 
a relação da mensagem de Jesus para com a ordem antiga (5.17-48), 
instruções práticas para a conduta no reino (6.7-12) e o desafio para uma 
vida de dedicação (7.13-29). 
Dito isto, é válido compartilhar a lógica como aparece formulado o 
Sermão, não casualmente Jesus proferiu tais ensinos. Há muitas maneiras 
de se dividir o Sermão do Monte, variações de pensamentos e propósitos. 
A forma aqui aplicada será a mesma encontrada também nas cartas 
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neotestamentárias, ou seja, o ensino doutrinário precede as deduções nele 
embasadas, e, os preceitos são sucedidos de descrições pormenorizadas. 
Por isso, numa sugerida subdivisão do Sermão serão consideradas duas 
partes: geral e específica. A parte geral contém as bem-aventuranças e 
preceitos de sociabilidade dos cristãos para a sociedade e o mundo nos 
quais estão inseridos, descritos no capítulo cinco do livro de Mateus, 
versos de um a doze. Os demais versículos do capítulo cinco descrevem a 
retidão almejada no cristão, o capítulo seis inteiro está relacionado à vida 
do cristão “diante de Deus, em ativa submissão a ele, em total dependência 
dele” (LLOYD-JONES, 1989, p. 22). E o capítulo sete descreve uma vida 
sob o jugo de Deus, no santo temor ao Senhor. Essas são algumas 
subdivisões feitas no texto estudado, os aprofundamentos são intentados 
para momento posterior. 
O padrão a ser seguido é Deus. Os filhos necessitam agir como 
reflexo da límpida imagem e semelhança do Pai. O próprio Cristo 
enfatizou que os cidadãos do reino de Deus tinham que ser diferente 
daquilo que estava posto nas pessoas em redor e nações em derredor. E 
aqui é possível um paralelo entre a não prática de Israel e a não prática dos 
cristãos, de forma que está contido em duas expressões, escritas com uma 
inserção temporal de quase dois mil anos, entre ambas e o significado 
contínuo, o mesmo do início: “não vos assemelheis, pois a eles”; “não 
fareis como eles” (Mt: 6.8 e Lv: 18.3). A primeira expressão é um dos 
núcleos da segunda parte do sermão proferido por Jesus, para a prática dos 
cidadãos do reino; e a segunda é a palavra do próprio Deus ao povo santo 
de Israel. Era preciso ser justo, agindo com nobreza, tanto em 
comportamento ético quanto na devoção religiosa, amando a Deus em 
primeiro lugar e, por conseqüência, ao próximo como a si mesmo. 
Querer que alguém que não nasceu do alto viva de conformidade 
com os ensinos contidos no Sermão é, grosso modo, querer que uma 
lagarta que ainda não foi transformada em borboleta alce vôo gracioso e 
belo, ou seja, é querer demais. Não basta dar noções comportamentais e 
exigir capacidade para agir como cristão: é o Espírito quem regenera. Um 
verdadeiro cristão sente – ou deveria sentir – prazer em agir de 
conformidade com os preceitos de Cristo. Para um não-cristão os ensinos 
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podem ser divagações, transcendências, implicações ideológicas, 
postulações teóricas, qualquer outra coisa do tipo, menos gozo em Cristo. 
As abordagens ao Sermão, tipificadas com o intuito de rotular 
determinadas ações de conformidade ou antagonismo ao texto expropriado 
de seu contexto, são falsificações heréticas, de prática retórica e 
hermenêutica deformadas, porque o Sermão do Monte não é um 
compêndio de leis morais ou códigos éticos, nem deve ser equiparado aos 
dez mandamentos; ele é sim, uma descrição do caráter do cristão restituído 
ao seio divino, prazerosamente agindo em conformidade com a vontade de 
Deus e nele esperando em todo o tempo. 
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CAPÍTULO II 
 
 
���� Ensino do Monte 
 
 
 SERMÃO DO MONTE 
 
Evangelho de Jesus segundo relata Mateus 
 nos Capítulos 05, 06 e 07 – As bem-aventuranças 
5 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os 
seus discípulos; 
2 e ele passou a ensiná-los, dizendo: 
3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. 
4 Bem-aventurados osque choram, porque serão consolados. 
5 Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 
6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. 
7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 
8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. 
9 Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. 
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10 Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. 
11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, 
mentindo, disserem todo mal contra vós. 
12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim 
perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. 
 
Os discípulos, o sal da terra 
13 Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para 
nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. 
14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; 
 
Os discípulos, a luz do mundo 
15 nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e 
alumia a todos os que se encontram na casa. 
16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas 
obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. 
 
Jesus não veio revogar a lei, mas cumprir 
17 Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para 
cumprir. 
18 Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais 
passará da Lei, até que tudo se cumpra. 
19 Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim 
ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os 
observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. 
20 Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, 
jamais entrareis no reino dos céus. 
 
 
 
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Jesus completa o que foi dito aos antigos 
DO HOMICÍDIO 
21 Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a 
julgamento. 
22 Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará 
sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento 
do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo. 
23 Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma 
coisa contra ti, 
24 deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, 
voltando, faze a tua oferta. 
25 Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, 
para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz, ao oficial de justiça, e sejas recolhido 
à prisão. 
26 Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último centavo. 
 
DO ADULTÉRIO 
27 Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. 
28 Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no 
coração, já adulterou com ela. 
29 Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se 
perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno. 
30 E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se 
perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno. 
31 Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. 
32 Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações 
sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete 
adultério. 
 
DOS JURAMENTOS 
33 Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás 
rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos. 
34 Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; 
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20 
35 nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do 
grande Rei; 
36 nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. 
37 Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno. 
 
DA VINGANÇA 
38 Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. 
39 Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face 
direita, volta-lhe também a outra; 
40 e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. 
41 Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. 
42 Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes. 
 
DO AMOR AO PRÓXIMO 
43 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. 
44 Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; 
45 para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre 
maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. 
46 Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os 
publicanos também o mesmo? 
47 E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios 
também o mesmo? 
48 Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. 
 
Da prática da justiça 
6 Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos 
por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste. 
 
Como se deve dar esmolas 
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2 Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os 
hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade 
vos digo que 
eles já receberam a recompensa. 
3 Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; 
4 para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. 
 
Como se deve orar 
5 E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas 
sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo 
que eles já receberam a recompensa. 
6 Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que 
está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. 
7 E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu 
8 Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes 
necessidade, antes que lho peçais. 
 
A oração dominical 
9 Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 
10 Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; 
11 o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; 
12 e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; 
 
13 e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal [pois teu é o reino, o poder e a 
glória para sempre. Amém]! 
14 Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos 
perdoará; 
15 se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos 
perdoará as vossas ofensas. 
 
Como jejuar 
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22 
16 Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque 
desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo 
que eles já receberam a recompensa. 
17 Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, 
18 com ofim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu 
Pai, que vê em secreto, te recompensará. 
 
Os tesouros no céu 
19 Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem 
corroem e onde ladrões escavam e roubam; 
20 mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e 
onde ladrões não escavam, nem roubam; 
21 porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. 
 
A luz e as trevas 
22 São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será 
luminoso; 
23 se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso 
a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! 
 
Os dois senhores 
24 Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao 
outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas 
 
A ansiosa solicitude pela vida 
25 Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer 
ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que 
o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? 
26 Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; 
contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as 
aves? 
27 Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? 
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28 E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do 
campo: eles não trabalham, nem fiam. 
29 Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como 
qualquer deles. 
30 Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no 
forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? 
31 Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com 
que nos vestiremos? 
32 Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que 
necessitais de todas elas; 
33 buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos 
serão acrescentadas. 
34 Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus 
cuidados; basta ao dia o seu próprio mal. 
 
O juízo temerário é proibido 
7 Não julgueis, para que não sejais julgados. 
2 Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que 
tiverdes medido, vos medirão também. 
3 Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no 
teu próprio? 
4 Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave 
no teu? 
5 Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o 
argueiro do olho de teu irmão. 
 
Não deis o que é santo aos cães 
6 Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que 
não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem. 
 
Jesus incita a orar 
7 Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. 
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24 
8 Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. 
9 Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? 
10 Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? 
11 Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais 
vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? 
12 Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; 
porque esta é a Lei e os Profetas. 
 
As duas estradas 
13 Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a 
perdição, e são muitos os que entram por ela), 
14 porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos 
os que acertam com ela. 
 
Os falsos profetas 
15 Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas 
por dentro são lobos roubadores. 
16 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos 
dos abrolhos? 
17 Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. 
18 Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. 
19Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. 
20 Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. 
21 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz 
a vontade de meu Pai, que está nos céus. 
22 Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós 
profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não 
fizemos muitos milagres? 
23 Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que 
praticais a iniqüidade. 
 
OO SS EE RR MM ÃÃ OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 25 
Os dois fundamentos 
24 Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um 
homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; 
25 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra 
aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. 
26 E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um 
homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; 
27 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra 
 aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína. 
 
O fim do Sermão do Monte 
28 Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da 
sua doutrina; 
29 porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. 
 
 
 
 
SERMÃO DA PLANICIE 
 
Lucas 06 – As bem-aventuranças 
 
20 Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os 
pobres, porque vosso é o reino de Deus. 
21 Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-
aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir. 
21 Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua 
companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho 
do Homem. 
23 Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois 
dessa forma procederam seus pais com os profetas. 
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26 
 
Os ais 
24 Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação Mas ai de vós, os ricos! 
Porque tendes a vossa consolação 
25 Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora 
rides! Porque haveis de lamentar e chorar. 
26 Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os 
falsos profetas. 
 
Da vingança 
27 Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos 
que vos odeiam; 
28 bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam. 
29 Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-
o levar também a túnica; 
30 dá a todo o que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres em demanda. 
31 Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles. 
 
Do amor ao próximo 
32 Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam 
aos que os amam. 
33 Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os 
pecadores fazem isso. 
34 E, se emprestais àqueles de quem esperais receber,qual é a vossa recompensa? 
Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. 
35 Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; 
será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com 
os ingratos e maus. 
36 Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. 
 
OO SS EE RR MM ÃÃ OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 27 
O juízo temerário é proibido 
37 Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e 
sereis perdoados; 
38 dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos 
darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também. 
 
A parábola do cego que guia a outro cego 
39 Propôs-lhes também uma parábola: Pode, porventura, um cego guiar a outro cego? Não 
cairão ambos no barranco? 
40 O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído 
será como o seu mestre. 
41 Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no 
teu próprio? 
42 Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não 
vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, 
então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão. 
 
Árvores e seus frutos 
43 Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto. 
44 Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos 
de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas. 
45 O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o 
mal; porque a boca fala do que está cheio o coração. 
 
Os dois fundamentos 
46 Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? 
47 Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei 
a quem é semelhante. 
48 É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e 
lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e 
não a pôde abalar, por ter sido bem construída. 
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28 
49 Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre 
a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi 
grande a ruína daquela casa. 
 
 
 
 
 
 
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CAPÍTULO III 
 
����egurança em Cristo 
 
 
ários pensadores têm olhado para as bem-aventuranças como a 
essência do que deve ser a vida cristã e a fé experimentada. 
Mesmo que haja abundância de hebraísmos e o ensino de Jesus 
tenha sido proferido em aramaico, há no Sermão o sobressair valorativo de 
grandeza espiritual e seriedade moral. A escrita dos evangelhos foi 
produzida na linguagem grega popular, koiné, e o termo utilizado para 
indicar as afirmativas, “bem-aventurados”, na língua grega, tem um 
significado riquíssimo. Para Lopes: 
 
 Trata-se do desfrutar perene das bênçãos de Deus, que começa aqui e 
agora... Trata-se de uma sinopse mais espiritual que literária, voltada 
para a natureza dos ensinos de Jesus... Na essência, é a bênção de Deus 
que torna as pessoas bem-aventuradas, conforme fica demonstrado 
etimológica e teologicamente (2001: 55-57). 
 
O termo “bem-aventurados” e seus cognatos aparecem mais de 
cinqüenta vezes no Novo Testamento, provém do grego makarioi, derivado 
do vocábulo grego makar, no período clássico da cultura grega utilizada 
para designar os deuses makarios, da mitologia, tidos por bem-
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30 
aventurados; também Heródoto utiliza o termo para descrever um lugar de 
perfeição, onde não há angústia, pena ou dor, mas tão somente serenidade e 
alegria para os bem-aventurados. Jesus utiliza esse conceito bem difundido 
entre os gregos para conferi-lo aos cidadãos do Reino de Deus; alguns 
estudiosos traduzem marakoi por “felizes”. Seria uma tradução correta se 
estivesse expropriada de seu contexto. A felicidade é um estado subjetivo 
de espírito que alguém tem sobre si; contudo, Jesus está falando de um 
estado objetivo imputado por Deus. É como Deus vê essas pessoas que 
importa, essa é a forma, e diante de Deus os cidadãos do reino são 
agraciados, bem-aventurados. 
Destaca-se em Jesus não apenas Seu caráter real ou sacerdotal; em 
muitas passagens estão contidas Suas atuações como um mestre que 
ensina, dando a entender que Seus discípulos são alunos ou aprendizes, 
isso ocorre por cerca de 243 vezes. J. M. Prince em sua obra “Mestre por 
Excelência” escreve sobre o caráter e mestria de Jesus: 
 
Nos evangelhos, Jesus é chamado mestre nada menos que 45 vezes, e 
nunca se fala nele como pregador. L. J. Sherrill diz que, somando-se todos 
os termos equivalentes a mestre, temos o total de 61. Normam Richardson 
anota que o vocábulo Mestre é usado 66 vezes na versão King James; 54 
vezes é derivado da palavra grega que significa professor ou mestre. Fala-
se em Jesus ensinando, 45 vezes; e 11 apenas pregando, e assim mesmo, 
pregando e ensinando, como vemos em Mateus 4.23: ‘...ensinando em 
suas sinagogas, pregando o evangelho do reino...’. Chamavam-no mestre 
apenas os doze, mas também outros discípulos seus (1954: 16). 
 
Ele, enquanto mestre, descreve as qualidades que devem estar 
contidas no seio de cada cristão por serem louváveis e evidenciar, pela 
graça de Deus, o trabalho que está sendo realizado ao caminhar em direção 
a Deus. Junto com as bem-aventuranças estão contidas bênçãos dadas por 
Deus – não como prêmio de mérito, e sim, gratuitamente aos cidadãos do 
reino de Deus. 
Está contido nos primeiros versos de Mateus capítulo cinco, a 
diversidade do caráter cristão em equilíbrio com cada uma das beatitudes. 
São qualidades tais que cada cristão é chamado a ter, todas ao mesmo ser, e 
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todos os seres a obtê-las. As bem-aventuranças são para todos os cidadãos 
do reino, sem exceção. Ao contrário dos dons do Espírito, que alguns 
cristãos têm um, dois, três e assim sucessivamente, e uns diferentes dos 
outros, as bem-aventuranças são todas oferecidas a todos os cristãos. 
Não obstante as bênçãos contidas nas bem-aventuranças são para o 
presente, mesmo a referida sobre os perseguidos contém como promessa 
“deles o reino dos céus” que traduzida por alguns como “deles no reino dos 
céus”, dando um significado escatológico ao cumprimento da bênçãos 
divinas. As bênçãos divinas são usufruídas no tempo presente; a cada ato 
dado a um estado dos cidadãos do reino é seguidamente acrescentado a 
bênção divina, não postergando para a transcendência futurística sua 
realização, mas relacionando diretamente um ao outro. Ainda que se 
ressalte o caráter futurístico com promessas como a de que “verão a Deus”, 
realmente, no “fim dos tempos”, Deus será visto, mas hoje também o é na 
pessoa de Cristo, na imagem restaurada do homem, no herdar a terra agora 
para usufruí-la no presente e tê-la em conformidade além no fim das 
eternidades. Há o cumprimento presente e futuro. Nas palavras de Stott: 
 
Portanto, as promessas de Jesus nas bem-aventuranças têm cumprimento 
presente e futuro. Desfrutamos agora das primícias, a colheita 
propriamente dita está por vir. E, como destacou o professor Tasker, “o 
tempo verbal futuro... enfatiza sua certeza, e não simplesmente o seu 
aspecto futuro. Os que choram serão certamente consolados (1997: 23). 
 
Bem no começo do Sermão, Jesus demonstra a natureza dos 
habitantes deSeu reino. Esses fazem parte não por mérito próprio, mas 
pela benevolência do Altíssimo. Esses nascidos de novo buscam agir sem 
hipocrisia, sendo servos mansos a buscar em primeiro lugar o reino de 
Deus e a sua justiça, num processo gradativo de santificação em e para 
Deus. 
É fundamental arrepender-se verdadeiramente dos pecados 
cometidos e se derramar diante de Deus, para que se reconheça a pequenez 
diante de Deus, assumindo a natureza decaída e corrupção, sendo mansos e 
buscando saciar a fome e a sede na justiça de Deus. Somente cristãos 
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cheios do Espírito podem doar-se em tal reconhecimento de seu estado de 
miséria, corrupção, engrandecendo o misericordioso Consolador. 
Na segunda parte do Sermão da Montanha, há o relacionamento dos 
cidadãos do reino para com o próximo e com a natureza, derivantes da 
vivência em Deus. A compaixão ou misericórdia de quem a necessite é 
refletir aos outros o que antes foi exercido por Deus para consigo, tendo na 
pureza de coração um santificar-se em sinceridade diante de Deus, 
pacificando a sociedade, ao não buscar conflitos ou ser responsáveis por 
eles, seguindo a paz com todos, no que depender de si, com a plena certeza 
de que o valor cristão exercido vai entrar em choque com os valores 
mundanos, daí a perseguição “por causa da justiça” e “por minha causa” 
(Mt: 5.10.11). 
Para se entender as bem-aventuranças é necessário ir beber na 
fonte, contudo não se anseia, nesta obra o destrinchar de todas as 
elaborações, já que, para tanto, várias obras foram escritas, como as 
contidas nas referências ao fim deste trabalho. Entretanto, vale ressaltar a 
necessidade de explanação de certos termos obscurecidos pelas traduções 
da Bíblia e pela própria variação lingüística, no decorrer de milênios. 
A tradução mais acertada para a primeira bem-aventurança, no 
contexto lingüístico atual da língua portuguesa, é: “Bem-aventurados os 
humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”, embora em várias 
traduções se encontre a expressão “pobres de espírito”. O que Jesus quis 
enfatizar não foi a pobreza espiritual, mas a humildade que se deve ter em 
despir-se dos próprios desejos de execução da vontade pessoal, 
renunciando aos preconceitos para proceder em uma vida de humilde 
dependência da vontade de Deus. 
 A humildade de espírito é, não por acaso, a primeira das bem-
aventuranças; conforme Lloyd-Jones (1999), todos os cidadãos do reino de 
Deus ou reino dos céus são humildes. A humildade é uma característica 
fundamental para embasar a vida cristã, sendo todas as demais, em grande 
medida, resultantes da primeira. 
O homem não deve fingir humildade, ou querer demonstrar 
insistentemente seu estado miserável aos outros. Não se é humilde pela 
busca da humildade, mas pela contrita busca a Deus ela é adquirida. Ser 
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humilde de espírito é, submissamente, assumir-se imprestável diante de 
Deus, miserável e incapaz, na dependência total do santo desígnio divino. 
Ela indica a consciência da pequenez e impotência do homem ante o 
Altíssimo. 
 “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”. O 
chorar contido no verso citado é pranto, lágrimas abundantes em choro 
convulsivo, a ponto de envolver todo o ser com sua intensidade. Esse 
desolar-se, pela dor, atinge o coração despontando arrependimento humano 
e consolo dado por Deus. 
O que se deve pensar acerca desse verso é o chorar pelo motivo da 
tristeza espiritualmente provocada, não um chorar pesaroso pela morte de 
alguém, ou um pranto de lamúria. Os humildes de espírito percebem seu 
estado de pecadores e choram diante do Deus Santo e Glorioso, 
lamentando as condições em que se encontram. 
 “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”. Manso é 
aquele que mesmo tendo poder para agir, é humilde e compassivo. Alguém 
gentil, atencioso e cortês. O próprio Deus Se apresenta na Bíblia arrogante 
para com os arrogantes e humilde para com os humildes. Portanto, a 
mansidão não é fraqueza ou incapacidade, mas ser compassivo quando 
necessário. 
A mansidão não é nulidade de si mesmo, mas os cidadãos do reino 
precisam interiorizar o caráter atuante no controle de si mesmos, produzido 
pelo Santo Espírito. É perfeitamente possível ser forte e manso, ser um 
líder atuante e agir com mansidão. Nas palavras de Lloyd- Jones 
(1999:62): “a mansidão é, essencialmente, um autêntico ponto de vista que 
o indivíduo forma de si mesmo, o que é então expresso como uma atitude e 
uma conduta em relação ao próximo”. A expressão supracitada reporta-se à 
relação do indivíduo consigo mesmo e com o próximo, agindo com 
paciência, gentileza, longanimidade como conseqüência. 
A mansidão produzida ocasiona a ausência do orgulho próprio, que 
é a expressão do individualismo egocêntrico humano. Ela age produzindo 
uma vontade ativa de servir e viver no espírito. Não é uma 
autocomiseração ou passividade. É a expressão de postura e conduta para 
Deus, consigo e com o próximo. 
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34 
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão 
fartos”. A fome e a sede no oriente, mesmo na época de Jesus, são comuns 
e horríveis de se passar. Mais que uma metáfora, Jesus quis mostrar aos 
discípulos que os cidadãos do reino devem aspirar à justiça. Porque o pão e 
a água são mais necessários pela sobrevivência que pela satisfação de obtê-
los; da mesma forma, a justiça precisaria ser almejada para uma vida com 
Deus. 
Jesus queria que se tivesse pela justiça o mesmo anseio que se tem 
pelo alimento e pela água; a dimensão holística total da justiça própria, 
atuando de forma a também beneficiar os outros, com retidão pela plena 
consciência de já haver sido justificado por Cristo. 
Ter fome e sede de justiça é querer viver de forma justa, livre do 
desejo egocêntrico do “eu”, livre de pecado, porque o pecado e os desejos 
nele contidos separam o homem de Deus. Quando se almeja a justiça se 
está querendo ficar em paz com Deus, porque Ele é justo. A busca faminta 
e sedenta é um separar-se para Deus, buscando as coisas do alto, na certeza 
de por mérito próprio não se alcançar o anelado, contudo, pelo agir do 
Santo Espírito, as necessidades pecebidas pelos humildes cidadãos do reino 
serão atendidas e, estes serão fartos. 
 “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão 
misericórdia”. Desde o Velho Testamento até durante o Novo, os atos de 
bondade e misericórdia estiveram presentes. A misericórdia sempre é 
inicialmente vertical, sendo de Deus para com os homens e, logo após, dos 
homens para com seus semelhantes. 
Ser misericordioso não é ser tolo, alguém que não liga para se algo 
de errado está acontecendo ou não. O misericordioso não é um tolo, mas 
alguém que recebeu graça proveniente do alto e, por isso, age 
graciosamente. A diferença entre graça e misericórdia é: “a graça é 
especialmente vinculada aos homens, em seus pecados; mas a misericórdia 
é especialmente associada aos homens, em sua miséria” (LLOYD-JONES, 
1999, p.91). O misericordioso é alguém perdoador, não omisso. É alguém 
disposto a perdoar as faltas, porque sente-se perdoado por Deus. 
 “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus”. A 
pureza no Velho Testamento tinha o significado exterior, no Novo, refere-
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se à pessoa sem contaminação moral, sem culpa; Jesus estava falando do 
interior, do coração, e a conseqüência é que verão a Deus, sendo que a 
expressão tem duas aplicações, a primeira compreende um visar 
interiormente e compreender a natureza da pessoa de Deus (Ef: 1.18) e a 
outra reporta-se à experiência mística escatológica, com o aperfeiçoamentofuturo, após mudada a natureza humana, refletindo mais limpidamente a 
imagem de Deus (Rm: 8.29; 1 Jo: 3.2; Ap: 22. 3 e 4). 
Na Bíblia, o coração é utilizado como centro da personalidade, a 
parte da volição, afetos, emoções, enfim, a sensibilidade está contida nele. 
Estar limpo de coração é mais que a singeleza de uma limpidez, é estar 
purificado, sem contaminação, conseqüentemente, santificado a Deus no 
presente, com a certeza do completar a santidade escatológica. É 
impossível ao homem limpar o próprio coração, mas quando da entrega de 
si a Deus, Ele lava e purifica todo o ser, tornando-o limpo e aprazível. 
 “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos 
de Deus”. A paz de Jesus é abundante e sobressai a todas as coisas, não é 
apenas ausência de guerras ou conflitos. A promessa contida nessa bem-
aventurança não é aos que sonham com a paz ou a desejam, e sim, com os 
que a promovem. Porque a paz não é passiva, mas dinâmica, agindo em 
harmonia pelo poder e ação de Jesus Cristo, realizando-se primeiramente 
em Deus, e, após, em Sua criação. 
A paz não é um simples apaziguamento que pode ser dado com 
mea culpa e aperto de mão. A verdadeira paz provém de Deus e sobrepuja 
qualquer tentativa de apaziguamento ou minoração de conflitos, uma 
pacificação verdadeira em Deus. “A paz é uma das virtudes cardeais da 
ética cristã” (CHAMPLIN, 1988, p. 206). 
O pacificador é alguém que almeja a glória de Deus e age com os 
conflituosos, não acusando-os ou inferindo culpa, mas com a consciência 
de que eles continuam sob o domínio do pecado e necessitam de auxílio. 
Procura refrear sua língua, agir em acordo com a vontade de Deus e 
esforçar-se por difundir a paz. 
 
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o 
reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos 
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36 
injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra 
vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; 
pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós (Mt: 5. 
10–12). 
 
Aqueles que são perseguidos são agraciados por sofrer por causa de 
Jesus, da lealdade para com a verdade e justiça proclamadas. Vários 
teólogos acreditam que os versos 10 e 11 de Mateus cinco contêm uma 
única bem-aventurança, pelo fato de haver a continuação de uma mesma 
idéia. 
Cada cristão, ao passar por essas agruras, nas palavras de Stott 
(2001: 53): “Não devemos revidar como incrédulos, nem amuar como 
crianças, nem ficar lambendo as feridas em autopiedade como cães, nem 
sorrir e agüentar como estóicos, menos ainda fingir como masoquistas. Em 
vez disso devemos: ‘regozijar-nos e exultar!’”. 
Os cidadãos do reino primeiramente são vistos prostrados, 
pranteando aos pés do Altíssimo, reconhecendo sua pobreza espiritual. E, 
pelo amor primeiro de Deus, esses cidadãos tornam-se gentis, proclamando 
as virtudes do Altíssimo, agindo com misericórdia, procurando não entrar 
em contendas e ser um feitor da paz, mesmo quando insultado e 
perseguido. 
As bem-aventuranças iniciam e terminam com a promessa do reino 
dos céus. Os herdeiros da pátria celeste são impressionados por Cristo com 
as bênçãos outorgadas aos filhos de Deus. Os perseguidos aqui retratados 
não o são por causa da política, de nobreza ou abnegação, e sim, por causa 
da justiça. Por quererem se parecer com Deus, agindo em santidade. 
 
 
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CAPÍTULO IV 
 
���� Vitória da Graça 
 
 
om as bem-aventuranças Jesus definiu o caráter essencial dos 
discípulos; o que se segue a elas é a influência que estes devem 
exercer para o bem do mundo, como sal e luz (Stott, 1989). Essas 
duas metáforas domésticas às quais Jesus recorreu definem a influência 
cristã, coisas tão básicas como essenciais, presentes no mais humilde lar, 
ambas são propostas como afirmativas a serem cumpridas, seguidas pelo 
apêndice condicional que valida sua atuação. 
Após a exposição do viver cristão contido nas bem-aventuranças, 
Jesus passa a ensinar em uma perspectiva mais particularizante. Ele passa às 
peculiaridades2. Jesus falara sobre o caráter cristão e sobre a influência que 
deveria ter sobre o mundo. Essa influência é atuante, e melhor 
compreendida quando correlacionada com a justiça, que excede o legalismo 
e ultrapassa o pietismo, tornando em sua plenitude a decorrência 
correspondente à lei moral divina. 
A conformidade externa e formal dos escribas e fariseus foi 
aprofundada pelo Messias e Sua atuação interna motivadora de mente e 
 
2 Os estudos realizados neste subcapítulo têm destaque na análise das obras de Lloyd-
Jones, Champlin e Stott, além de outros autores cristãos. 
��
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38 
coração (1 Sm: 16.7; Jr: 31.33; Ez: 36.27). Enquanto aqueles tentam 
restringir a aplicação da lei à literalidade, restringindo-a e adaptando a suas 
conveniências. Jesus atuou diretamente no significado espiritual dela, 
manifestando antíteses que seguem numa formulação progressiva dos 
ensinos do Mestre. 
O amor prático e a não vingança estão intimamente ligados com o 
caráter cristão e sua religiosidade, com vistas a uma atuação primeira 
constrangedora do Espírito Santo. Como bom observador que era e atuante 
expositor de comparações, Jesus começa as particularizações falando aos 
discípulos de seu valor, propriedade e necessidade de permanecerem puros. 
O sal era muito valorizado na Palestina, o Antigo Testamento faz 
referência e ele, também o Talmude. O sal é dotado de duas e distintas 
propriedades: a de conservar e condimentar. Os cidadãos do reino devem 
conservar o mundo, a razão de Deus não ter destruído este planeta é Sua 
fidelidade à escolha de um povo Seu, por isso conserva o lugar de sua 
habitação. Também esses cidadãos precisam ter sabor, fazer a diferença. De 
tudo que se pode dizer sobre esse verso que também é expresso por Marcos 
e Lucas, é que Jesus quer que os cidadãos do reino mantenham-se puros, 
sem se misturar com as coisas que o façam perder o sabor; uma vez que o 
sal, cloreto de sódio, em estado puro não deteriora, mas uma vez misturado 
a outros elementos que embora parecidos consigo, são subtraídos de 
salinidade, perde seu caráter distintivo, também o cristão que se mistura com 
outras práticas perde o sabor. Jesus proferiu essas palavras para que os 
cristãos, como o sal, sejam reais naquilo que professam e apresentem as 
propriedades por Ele esperadas. Por isso os pôs também por luz do mundo 
A luz deve brilhar, e seu fulgor resplandecer livremente. Todos os 
homens são à imagem e semelhança de Deus e, cada cidadão dos céus é 
reflexo de Deus, limpos, expressando a glória de Deus; o brilho da glória 
divina deve refletir, fazendo brilhar a luz de cada um para iluminar o 
mundo. 
Se alguém quiser aprofundar o assunto e começar a relativizar as 
coisas, afirmando a luz humana ser apenas uma figuração de pensamento 
talmúdico anterior ao Cristo, deve-se dizer a esse alguém que a luz divina 
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brilha desde antes da criação e essa luz jorra como fonte luminosa nos 
discípulos que segundamente fulguram iluminando o mundo. 
As trevas não existem por si mesmas, as trevas são a ausência da luz. 
É possível fazer um estudo detalhado da luz, mas não das trevas. Um 
simples raio de luz pode rasgar as densas trevas e tocar um objeto, 
iluminando-o. A única forma de determinar quão escuro é um local é pela 
quantidade de luz nele existente, o prisma de Newton decompõe a luz 
branca nas várias cores das quais se decompõe, com seus diferentes campos 
de onda. O mesmo não pode ser feito com a escuridãodas trevas, porque a 
escuridão é um termo criado para determinar a ausência de luz3, assim 
também as trevas da ausência de Deus devem ser refutadas com a luz dos 
cristãos, que ilumina o mundo. A exemplo da utilidade do sal, a luz deve 
radiar livremente como testemunho vivo. 
Jesus sempre põe objetos familiares em Suas citações, e ensina, ora 
com referência a coisas tidas por grandiosas como uma cidade, um monte, a 
luz, ora referindo-se a coisas do cotidiano de qualquer residência judaica, 
como a candeia, o velador, o alqueire; sempre expondo o viver dos cidadãos 
do reino: “assim brilhe também a vossa luz”. Esse brilhar humano faz com 
que as pessoas percebam no agir um algo maior, uma forma de viver que 
agrada a Deus. A luz dos cristãos são suas boas obras, elas não devem ser 
escondidas, mas manifestas para que o Pai seja glorificado. 
A nova lei foi dada por Jesus e Mateus a registra no Sermão do 
Monte. Vale ressaltar que o evangelho segundo Mateus foi escrito para os 
cristãos, os ensinos de Jesus dão conta de uma nova forma de ver e 
interpretar a lei. Há uma nova doutrina que contrasta com a antiga, não 
anulando-a, mas completando-a. 
O próprio Jesus explica Sua relação com a lei de Moisés. A terra e os 
céus poderiam passar, mas não as palavras de Jesus, até o cumprimento de 
todo o predito. Para os judeus a terra e os céus eram eternos, Jesus utilizou 
dessa forma de pensamento judaico para dizer que a lei e os profetas jamais 
seriam revogados. Jesus não ensinou que os céus e a terra não passariam, e 
sim, que nada, nem mesmo um “i”, “yod” hebraico, ou um til, uma pequena 
 
3 Baseado no folhetim “Questão Científica”, autor, data e local desconhecidos. 
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40 
marca que distingue certas letras hebraicas de outras, passaria sem o devido 
cumprimento. 
Quando Jesus fala da lei e dos profetas está falando da Torah e da 
interpretação aplicada da lei feita pelos profetas que também advertiam e 
ensinavam ao povo a vontade de Deus. Os profetas acima expostos são os 
profetas verdadeiros, os oráculos tidos como “boca de Deus” (Jr: 16.1), 
aqueles que falavam em nome de Deus e buscavam viver de acordo com Sua 
vontade. Bem diferente daqueles que se diziam profetas, mas estavam a 
serviço do poder político, agradando a homens e não a Deus (Am: 7.14). 
É preciso que o agir cristão seja melhor que o dos escribas e fariseus, 
porque estes preocupavam-se com as coisas exteriores e não guardavam o 
sentido moral da lei. A falsidade, a hipocrisia, o zelo no formalismo 
cerimonial e observação meticulosa da lei não encontrava-se em mesma 
proporcionalidade que o amor ao próximo, uma vez que este era deixado de 
lado e aquele intentado cumprimento pleno. 
Ao se reportar à lei, Jesus falava da lei moral, porque essa não sofre 
modificações. Ele havia dado as bases da vida cristã e não deveriam ser 
modificadas. Há um contraste entre os ensinos rabínicos comuns da lei e os 
ensinos proferidos por Jesus em Sua nova lei. Jesus esperava mais dos 
cidadãos do reino do que Moisés esperava de Israel. 
Por ser o novo legislador, Ele elevou a conduta dos cristãos como 
um ideal muito acima do que normalmente se pregava nas sinagogas. Ele 
ensinava sobre o homicídio, divórcio, concupiscência, juramentos, vingança, 
amor e ódio. 
“Ouviste o que foi dito aos antigos... eu, porém, vos digo...” grande 
parte do povo não sabia ler, o que conheciam das Escrituras era ouvido nas 
sinagogas e no templo, também não havia muitas cópias da Bíblia 
disponíveis para a aquisição popular. A contraposição feita por Jesus O 
embasa como “outro Moisés”, criando novas leis e reinterpretando as já 
existentes, expondo o conteúdo espiritual dessas leis, contrapondo-Se à 
interpretação legalista vigente. 
Para Jesus é inadmissível que um cidadão do reino sinta ódio por seu 
irmão, e o encolerizar-se é uma prova de falta de amor, uma quebra do 
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segundo mandamento a que se resumiu a lei: “amarás a teu próximo”. 
Também o proferir palavras torpes, de ofensa ao irmão é dito por Jesus 
como algo que não se deve fazer. Uma vez havendo contenda entre duas 
pessoas, é necessária uma reconciliação, porque isso é agradável a Deus e 
demonstra o cumprimento do amor ensejado. As atitudes são mais 
importantes que a vã religiosidade. Há a perda de valor do culto se for 
prestado como mero rito, em amor a Deus, mas com o ódio ao irmão. Por 
isso, deve-se buscar a paz com os homens para que se almeje apresentar-se 
diante de Deus. 
É preciso que cada um busque entrar em consenso com o próximo 
para que não haja divergências ou motivo de ser arrastado aos tribunais. 
Quando de uma dívida deve-se pagá-la por completo, caso não se venha a 
perdoá-la. 
Também manter-se casto, não cobiçando mulher que não seja a sua 
própria. Jesus interpretou o adultério como ato que vai além do intercurso, 
iniciando com o desejo. Insistindo em afirmar que só na cobiça já se faz o 
pecado, e qualquer parte do corpo que seja o agente pelo qual a tentação 
adentra para se alojar no desejo, seja ela o olho direito, a mão direita ou 
qualquer parte do corpo, deve-se abdicar dela, não num cortar literal ou no 
simbologismo do desejo ilegítimo, mas renúncia absoluta e dolorosa do 
desejo que leva ao pecado. 
O casamento foi instituído para que homem e mulher pudessem 
viver maritalmente, crescer e multiplicar; o casamento é bênção e mesmo 
que alguns tentem findá-lo por motivos banais, como no caso judeu 
contemporâneo a Jesus, e muitos povos na atualidade, os cidadãos do reino 
não deveriam repudiar suas esposas, nem estas levar seus maridos aos 
tribunais para pedir o divórcio, a menos que tenha havido o adultério. Vale 
ressaltar que Marcos e Lucas não citam o adultério como motivo de 
separação, mas Mateus põe esse motivo como única exceção. Talvez essa 
omissão tenha ocorrido em Marcos e Lucas por ficar subentendido que o 
amor a Deus, ao próximo e os cidadãos do reino, agindo de conformidade 
com os preceitos cristãos, não iriam cometer adultério. 
O modo de viver diferenciado dos discípulos do Cristo deveria ir 
além de um formalismo para chegar à verdade, se eles não agissemmal, 
como postulado acima, não haveria necessidade de carta de divórcio nem de 
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42 
juramento. Era costume entre os judeus jurar, e, alguns juramentos eram 
tidos por mais importantes que outros. De tanto se jurar e dar sentido 
comum de desobrigação ante alguns, o juramento era superficial, inclinando 
à mentira. O cristão busca um viver no Espírito de Deus, por estar na 
verdade não há necessidade de jurar, sendo suficiente o sim ou não. Não é 
que Jesus estivesse proibindo o juramento total e completo, já que este 
houvera sido instituído no Velho Testamento (Ex: 20.7; Lv: 19.12; Nm: 1-
19; Dt: 23.22), o que Ele afirma é que Deus não é obrigado a apoiar 
juramentos imprudentes, feitos sob falsas declarações em Seu nome, em 
nome da terra, do céu, de Jerusalém ou de qualquer outra coisa. 
O cidadão do céu não deveria esperar que Deus lhe imputasse justiça 
por algo falso, antes, permanecendo na verdade, basta uma afirmativa ou 
negativa. Esse mandato de não jurar é para os cidadãos do reino, Jesus não 
retirou o juramento, mas a necessidade de fazê-lo, pois o homem honesto 
não precisa jurar por nenhum outro nome que não seja o seu. “O homem 
cônscio da presença de Deus e que sente responsabilidade para com Deus, 
não mente. Tal honestidade não requer a confirmação de qualquer 
juramento” (CHAMPLIN, 1988, p. 316). 
Algumas das práticas permitidas e legisladas no Velho Testamento 
são submetidas por Jesus à nova ordem estabelecida, é assim com os 
juramentos, a lei do talião e outras. Há a elevação de princípios e aplicaçãode práticas, como as contidas nas bem-aventuranças, na vida cotidiana. 
Assim como houve a injeção da misericórdia nas leis judaicas e maior 
proposição da concepção do amor, Jesus manda que não se retribua o mal, 
nem se pratique justiça com as próprias mãos. É preciso que se use de 
mansidão e misericórdia, não vingando o mal, antes, preparando-se com o 
espírito pronto para sofrer outro mal. Isso não implica uma atitude 
masoquista ou estóica, mas se por valor de lei alguém pleitear garantia de 
que o cidadão do reino irá cumprir o que fora tratado entre ambos e pedir a 
túnica como garantia, que se-lhe dê também a capa como forma de 
demonstrar bom grado e interesse em não entrar em litígio. A capa vale 
muito mais que a túnica, agir dessa forma é evitar conflito maior. É um 
servir com a intenção de fazer mais do que o que se espera que seja feito, 
como caminhar dois mil passos em vez de mil ou acudir o necessitado e 
emprestar sem juros a quem precise, como mandava a lei (Ex: 22.25; Lv: 
OO SS EE RR MM ÃÃ OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 43 
25.37), sem cobrar garantias de pagamento. Não se trata de ser tolo, mas de 
“amar ao próximo como a si mesmo” e “acudi-lo em suas angústias”, na 
certeza de que Deus sabe de todas as coisas e não permite que haja a falta 
aos Seus, por conseqüência do reto cumprimento de Seus desígnios. 
Esse amor ao próximo, expresso como aos filhos de Israel (Lv: 
19.18), e o ódio, aos inimigos gentios, deveria ser substituído pelo amor a 
todos, indistintamente, por um acolhimento, contentável a todos. O ódio não 
faz bem, o homem não tem em sua essência o ódio, ele é fruto das 
implicações do pecado, portanto, os cristãos restaurados não deveriam ter 
em si algo que só é prejudicial e não faz parte de seu ser. Nisso, Jesus 
mandou orar pelos perseguidores; os cristãos eram perseguidos por diferir 
da forma mundana de agir e viver, portanto, devem orar por aqueles que 
ainda não foram alcançados pela graça, para que se demonstre nessas 
atitudes de verídica filiação do misericordioso salvador, que alcança a todos 
com Sua graça, e se O imite, não esperando recompensa. 
O amor ao próximo é constantemente citado por Cristo, e deveria ser 
expresso a todos, inclusive com saudações, buscando no presente a 
perfeição que só será plena na vida futura. O contraste entre os antigos e os 
novos padrões de conduta vai além de uma mera reforma na lei, o caráter de 
conduta é elevado por Jesus para muito acima do que era praticado pelos 
líderes religiosos, porque queria que os homens tivessem a consciência que 
Ele mesmo tinha, de um Deus vivo, que opera e age não apenas em 
transcendência, mas também emanentemente. 
O fazer o bem não é para a vanglória, mas como demonstração do 
amor primeiro de Deus. Portanto, o agir deve ser para exercitar de forma 
prática o amor, não para almejar o orgulho e ostentar a dádiva, almejando 
aprovação alheia, porque quem assim age, não tem o porquê de ser 
recompensado por Deus, uma vez que a recompensa já foi dada pelos 
homens. A esmola deveria ser dada evitando os aplausos públicos e soberba 
que só agradam a carne. 
A oração que Jesus ensinou é reconhecida como “oração dominical” 
ou “Pai Nosso”, e deve ser feita com humildade. Se alguém quiser falar com 
Deus não há a necessidade de ficar ostentando-se em público, somente para 
atrair a atenção alheia. Jesus condena isso tanto quanto as vãs repetições. 
Ele manda que se procure intimidade com Deus em local onde não haja 
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44 
incômodo nem demonstre um teatro de hipocrisia para mera percepção de 
que se está orando. 
Não se deveria assemelhar aos gentios, que repetiam várias vezes a 
mesma oração, por acreditar que seus deuses realizariam pelo aquilatar das 
orações muito repetidas. Essa prática tornou-se comum entre alguns judeus 
que se esqueceram do fato que Deus atende o espírito da oração pelo pedido 
de quem a faz, de acordo com Sua vontade. Jesus diz que esse tipo de oração 
é errada e Seus discípulos não devem agir assim, porque Deus conhece todas 
as necessidades de Seus filhos, mesmo antes que orem. Quanto à oração, o 
ensino de Jesus é que se evite a hipocrisia, a ostentação e as vãs repetições 
com o intuito de aumentar o valor do pedido. 
 Jesus propôs uma oração que nem mesmo o maior estudioso da 
Bíblia poderia captar sua totalidade de significado. A profundidade 
percebida na intimidade de Jesus com o Pai faz com que se tenha o vulto do 
real esplendor que nela está contido. Tanto em Lucas quanto em Mateus, as 
orações são colocadas como provenientes da mesma fonte, sendo que a de 
Lucas é mais curta que a de Mateus. Em Lucas ela é apresentada após o 
regresso dos setenta, de sua segunda viagem pela Galiléia, e Mateus a 
apresenta antes da chamada dos doze apóstolos. 
Vários autores já analisaram esse Sermão em suas particularidades, 
inclusive o fato de não se querer atribuir a autoria do Sermão a Jesus. Essa 
oração não encontra paralelo na literatura judaica e de outros povos. 
 
As petições (sete) refletem as necessidades básicas dos homens, quer 
espirituais ou físicas: 1. santificado seja o teu nome: a alma se eleva à 
presença de Deus, reconhece que Deus é santo, e isso é o alicerce da 
oração e de nossas relações com Deus. 2. Venha o teu reino: desejo de 
aplicação universal dos atributos e poderes de Deus. 3. Assim na terra: a 
aplicação direta da influência divina sobre a terra, aplicação essa pessoal, 
aqui onde habitamos. 4. Dá-nos pão: o discípulo de reino tem 
necessidades físicas. Deus se interessa por essas coisas também. (...) 5. 
Perdoa os nossos pecados: neste mundo topamos com obstáculos, 
especialmente com a nossa própria natureza. Para que obtenhamos a 
condição de espiritualidade e sintamos a presença de Deus em nossas 
vidas, precisamos remover os obstáculos. 6. Não nos deixes cair: a vitória 
sobre o mundo é algo necessário por aquele que anda no caminho de 
OO SS EE RR MM ÃÃ OO DD AA MM OO NN TT AA NN HH AA :: CC rr ii ss tt iiaa nn ii ss mm oo EE ss ss ee nn cc iiaa ll 45 
Deus. 7. Livra-nos do mal: concede-nos, finalmente, a vitória completa 
nessa esfera (CHAMPLIN, 1988, p.323). 
 
O ato de ter um grande Pai que está nos céus aumenta o valor dos 
cidadãos do reino. Esse Pai não precisa de repetições, o Seu nome é 
venerado e honrado, Ele é reconhecido entre os homens como já o é nos 
céus; e de lá, das alturas, oniscientemente, em majestade, tem poder sobre 
toda a criação. Esse Santo é onipresente e digno de devoção ao nome, 
portanto, os Seus filhos demonstram reverência a Ele, pedindo que venha o 
reino divino; reino estabelecido por Jesus, o Messias prometido. 
 A vontade de Deus é o anseio dos cristãos, por ela se ora que seja 
manifesta na terra, totalmente cumprida, como é nos céus. É o pedido de que 
a gloriosa majestade do reino divino já estabelecida no alto trono de Deus se 
realize também na terra. 
Deus é quem sustenta e o alimento como as demais coisas vêm dEle. 
Muito se tem debatido se esse pão a que se reporta Jesus é o pão espiritual, 
supersubstantialem, ou é o pão simples, quotidiannum, Ambas as 
expressões latinas são defendidas por vários pais da igreja, o alimento 
espiritual citado por Jesus em várias ocasiões (Jo: 6.22-40) não parece ter 
seu sentido aqui expresso, o que aparenta é a literalidade do pão físico, 
símbolo das necessidades fisiológicas. 
A petição de perdoar as dívidas, em Lucas, é tratada como perdoar 
os pecados (Lc: 11.4), uma vez que os pecados são dívidas para com Deus, e 
o homem não tem como pagá-la. A continuação que se faz é “assim como 
perdoamos...”, não é que Deus tenha que perdoar conforme o perdão 
humano, ou estender o perdão de Deus à proporcionalidade do humano. A 
essência do exposto é um perdão unilateral a ser exercido, sem pedir nada 
em troca. É o pedido dos discípulos do Cristo, atuando