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1. Tipo de colonização e papel do Estado; 2. Papel do Estado e camadas médias urbanas. J. A. Guillon-Albuquerque ** * publicado originalmente na revista L'Homme et la Société, n. 24/25, 186-207, 1972, sob o título Notes sur le systême du sous-développement, le rôle de l'~tat et le concept de classes moyennes modernes; traduzido por M.Th. da Costa Albuquerque e revisto pelo autor. ** Professor-Doutor em Ciências Políticas do Departamento de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo. R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, Os acontecimentos recentes da Argentina e do Chile chamam a atenção para a perplexidade dos sociólogos e cientistas políticos diante da interpretação a ser dada às camadas médias urbanas latino-americanas, às suas orientações, condutas e atitudes. Basicamente, essa inter- pretação oscila entre a noção clássica de pe- quena burguesia e a idéia de classes médias mo- dernas. Neste trabalho, procuraremos mostrar a impossibilidade de se situar uma camada so- cial dentro do sistema social englobante, atra- vés do mero apelo a uma concepção ontológica da sociedade e dos grupos que a compõem, sem levar-se em conta a maneira particular segun- do a qual se organiza a produção econômica em cada sociedade dada. E que não se pode com- preender esse modo de organização da produ- ção econômica, nos países ditos subdesenvolvi- dos, sem fazer apelo a uma tipologia da colo- nização, isto é, um instrumento de análise da maneira como a economia européia articulou- se à economia dos países colonizados. Mais par- ticularmente, insistimos sobre o papel funda- mental desempenhado pelas formas do Estado nessa articulação. Após um exame dos pressupostos do conceito de classes médias modernas - que não tem ou- tro objetivo senão o de demonstrar seu caráter normativo e residual - em que se procura mos- trar a vinculação, em última análise, dessa no- ção à teoria weberiana das origens do capitalis- mo, tenta-se apresentar as bases para uma ti- pología dos modos de organízação da produção econômica nos .países colonizados, no período da primeira expansão do capitalismo. Em seguida, esboça-se uma análise do papel desempenhado pelo Estado nesses tipos de formação social, o que permite situar, no caso que nos interessa mais de perto - o da América Latina - uma nova conceituação das camadas médias ur- banas. Finalmente, tenta-se aplicar esta reformu- lação do conceito a um caso concreto, levantan- do-se a hipótese de uma reinterpretação do que foi a aliança populista, com base na maneira de encarar as camadas médias urbanas que pro- pomos no corpo do artigo. O conceito de classes médias modernas é um conceito residual e normativo. Não se trata, por- tanto, de um conceito no sentido estrito. ~ resi- dual, porque não se pode situar seu objeto - as camadas médias da população urbana - no sistema de classes, segundo os mesmos critérios que servem para situar os outros elementos do 14(2) : 93-106, mar./abr. 1974 --------_._--------- - --- - Notas sobre o papel das classes médias e do aparelho de estado nas sociedades em desenvolvimento 94 sistema. Além disso, o aspecto residual é tam- bém revelado pelo adjetivo modernas, que serve para distinguir este setor da população das an- tigas classes médias: a pequena burguesia, por um lado e, por outro, os notáveis das sociedades agrárias. E por meio deste termo que o aspecto normativo se introduz também no conceíto.. A idéia de classes médias modernas refere-se à idéia de classes modernizadoras, de classes que estão na origem da industrialização. O aspecto normativo é, portanto, ligado ao caráter residual do conceito, e deriva do papel geralmente atribuído às classes médias na aná- lise da industrialização dos Estados Unidos. As práticas econômicas, os valores e as qualidades psicológicas das classes médias modernas ame- ricanas são tidos como fatores que produziram a industrialização e desempenharam o papel de modelo para o conjunto da sociedade. Para que isto seja verdade é preciso que esta classe tenha aparecido num momento determinado - recen- te - da história, e que seja uma nova classe: moderna. A diferenciação histórica das popula- ções urbanas - a burguesia no sentido primiti- vo do termo - em setores distintos da ativida- de econômica, bem como em setores diversos do sistema social é incompatível com a idéia de classes médias modernas. Se a industrialização é tida como tendo sido iniciativa exclusiva das classes médias modernas americanas, estas úl- timas não podem, no espírito dos teóricos das classes médias, ter tido a mesma origem que as burguesias agrárias do Sul dos Estados Unidos. A hipótese de uma diferenciação da pequena burguesia emigrada para a América em burgue- sia agrária, burguesia financeira e burguesia industrial (classes médias modernas) é, efetiva- mente, incompatível com a idéia de um sistema de valores, de práticas e de qualidades psicoló- gicas ontologicamente ligadas a esta camada social portadora de modernidade. Nos países em desenvolvimento onde existe uma população urbana importante, as camadas médias desta população freqüentemente exer- cem um tipo de atividade comparável, ou então se definem segundo um sistema de valores se- melhante, ou, ainda, têm origem social (peque- na burguesia emigrada) idêntica às atividades, valores e origens das classes médias america- nas. Jamais, no entanto, nestas camadas médias urbanas dos países subdesenvolvídos, estas três características são ao mesmo tempo idênticas às características outrora reunidas nos Estados Unidos. Revista de Administração de Empresas A conotação normativa do conceito revela-se, assim, como o resultado desta confusão formal que consiste em definir um conceito, ao mesmo tempo, pelas variáveis independentes e depen- dentes, sem fazer alusão à intervenção de variá- veis contextuais. O papel empresarial desempenhado pelas classes médias é, justamente, uma variável dependente, um explanandum. A variável inde- pendente - explanans - é a origem social, ou o sistema de valores desta população, ou os dois; nas três hipóteses, a variável independen- te não basta para explicar o papel empresarial - não é, portanto, suficiente para constituir um explanans - a não ser que se leve em con- sideração o contexto. A variável contextual é, neste caso, o tipo de imigração que depende, por sua vez, do tipo de colonização. 1 Compreendemos, assim, que o conceito de classes médias modernas não é um conceito mas toda uma teoria; e uma teoria incompleta, não generalizável que podemos resumir da se- guinte maneira: a) são os valores que produzem a história; b) são os valores de classe média (ascéticos?) que produzem e orientam a industrialização; c) (esta proposição não é baseada num contex- to científico, mas está "no ar") uma só classe média histórica engloba essas três variáveis (ti- po de atividade econômica, tipo de sistema de valores, papel empresarial) e só ela pode ainda hoje produzir e orientar a industrialização, on- de ainda não se efetivou. Trata-se, evidentemen- te, da exportação de valores de classe média, ex- portação subentendida (o que quer que se diga ou se pense) por todo projeto de cooperação téc- nica (por mais bem intencionado que se queira ser) . Reconhece-se facilmente nas duas primeiras proposições (a e b) os mesmos pressupostos da teoria de Weber sobre as origens do capitalismo. Como a teoria Weberiana é a fonte clássica de todas as tentativas mais ou menos bem sucedi- das de explicação das condutas empresariais, também não é difícil reconhecer aí os pressu- postos das teorias de Schumpeter, de Moore, Kerr e outros. Não se trata de resumir estas teorias para de- monstrar o fundamento da redução que aqui fazemos. Ent;retanto, vamos tentar justificar brevemente a pertinência das duas primeiras proposições' no quadro destas teorias citando exemplos precisos. Quando Weber tenta demonstrar a legitimi- dade com que o protestantismo ascético enco- bre certas condutas capitalistas, especifica: "dava (ao homem de negócios burguês) a se- gurança reconfortante deque a distribuição de- sigual dos bens deste mundo era uma deferência especial da Providência Divina que, através destas diferenças - assim como na Sua Graça pessoal - buscava objetivos secretos, desconhe- cidos dos homens" (Weber, M. The protestant ethic and the spirit 01 capitalism, Londres, Unwin University, tradução de T. Parsons, 1968, p. 177). Em seguida, o autor analisa a progressão desta idéia, progressão que acompa- nha sua secularização: "Calvino afirma que a massa dos trabalhadores não obedece a Deus a não ser que permaneça pobre; donde se conclui que as massas só trabalham forçadas pela ne- cessidade; a que se acrescentam as teorias ca- pitalistas referentes à produtividade dos baixos salários" (op. cit., p. 177). Se bem que Weber constate que os "puritanos queriam trabalhar por vocação (ao passo que) nós somos forçados a fazê-lo" (p. 181), não con- clui que os valores (o espirito) do ascetismo le- gitimam uma prática já corrente. Pelo contrá- rio, este "traço ascético fundamental do modo de vida da classe média" (p. 180) é, para ele, uma "conduta racional baseada na idéia da vo- cação (que) nasceu ( ... ) do espirito ascético cristão" (180). O conjunto dos elementos reunidos por We- ber permite concluir tanto pela determinação das condutas pelos valores ("conduta· racio- nal. .. nascida... do espírito") quanto pela legitimação das condutas por um discurso so- cial ("dando-lhe a reconfortante segurança") . Se o autor mantém a primeira hipótese, é por ela ser pressuposta desde o começo. 1: esse pres- suposto que nós exprimimos na primeira pro- posição: "são os valores que fazem a história". A primeira vista, parece mais dificil reduzir a teoria de Schumpeter às mesmas proposições, tendo em vista que este autor pretende restrin- gir-se ao domínio econômico, tratando o desen- volvimento econômico como um tipo de mu- dança endógena. 2 Além do mais, Schumpeter começa negando qualquer papel criador aos in- divíduos, no sistema econômico (p. 27), tratan- do a produção como resposta a um sistema de necessidades (p, 11-2) e o ato econômico como um comportamento guiado pelo hábito (empi- rically lamili4r, p. 26). Como não se trata de resumir a teoria da inovação empresarial de Schumpeter, mas de demonstrar a pertinência de sua redução às proposições introduzidas, assinalaremos somen- te os pontos de articulação entre a teoria fun- cional do fluxo econômico (production toüoio« neeâs, p. 12) e a teoria da inovação empre- sarial. Estes pontos de articulação são três: a) o desenvolvimento é a combinação de no- vos meios de produção, o que transfere a inicia- tiva econômica do consumidor ao produtor (p. 65); b) a inovação exige condutas mais racionais e mais conscientes do que as do consumidor ou do capitalista (p, 79-80 e 85); c) a racionalidade da conduta empresarial é incompatível com o sistema de necessidades/ desejos que comanda o fluxo econômico (p. 90-93) . Estes três pontos convergem no sentido de justificar a hipótese da existência de um tipo humano particular, vocacionado ao exercício da função empresarial. Schumpeter não hesita em levantar a hipótese de uma distribuição normal deste tipo em toda população cultural- mente homogênea (p. 81-2). Entretanto, a hipó- tese do tipo humano tem por efeito afastar a idéia de uma classe empresarial; assim sendo, como poderíamos, ainda, justificar a existência de uma ligação entre a teoria de Schumpeter e as teorias sobre as classes médias modernas? Três pontos de articulação permitem, ainda aqui, estabelecer a passagem de uma teoria a outra. Em primeiro lugar, a possibilidade de combinar novos meios de produção não supõe a propriedade desses bens, mas sim a possibili- dade de exercer um controle sobre os mesmos. Se o empresário não é ele mesmo proprietário, é-lhe necessário, contudo, certa credibilidade diante dos organismos de financiamento (p. 68- 71); isto exclui do papel empresarial as massas trabalhadoras em geral, com exceção daqueles indivíduos que já percorreram, ao menos em parte, a estreita senda da mobilidade vertical. Em segundo lugar, as motivações das classes superiores e dos capitalistas em particular (ca- O papel das classes médias 95 pitalistas no sentido de Schumpeter) são opos- tas às do empresário, e é daqueles que a inova- ção econômica sofre as mais fortes resistências (p. 87). Em terceiro lugar, na medida em que a inovação é correlativa de uma conduta racio- nal e consciente, os conhecimentos podem subs- tituir a iniciativa econômica (p. 85-6). Desse modo, a iniciativa do desenvolvimento econô- mico deve ser esperada, não das .classes supe- riores ou inferiores (primeiro e segundo pon- tos de articulação) mas de uma camada inter- mediária. Esta camada média é formada, por um lado, pela parte das classes médias tradi- cionais que monopolizam certo tipo de saber (terceiro ponto de articulação), ou em conse- qüência da mobilidade. Ora, a idéia de nova classe média encobre justamente estas duas possibilidades: ou se trata de uma nova ca- mada originária das classes médias tradicionais, distinguindo-se destas últimas pelo domínio de um novo saioir-taire econômico; ou então, tra- ta-se de uma nova camada e, neste caso, a mo- bilidade que está na origem dessa nova camada deve ser compreendida nos dois sentidos - mo- bilidade vertical para o alto ou para baixo, e ímígração ,« Observada com atenção, a típología mais completa das elites industrializadoras é apenas um comentário exaustivo da teoria de Schum- peter, comentário especificado pela referência feita ao contexto. Estamo-nos referindo à tipo- logia de Kerr, Dunlop, Harbison e Myers. 4 A idéia dos autores, de buscar a iniciativa da mudança não mais na massa dos trabalhado- res, mas nas elites industrializadoras (The seeds of future, p. 8) refere-se à hipótese de que estas minorias são destinadas à conquista da sociedade através da superioridade dos novos meios de produção, por elas introduzidos ou controlados (p. 47). A alusão à teoria de 96 Schumpeter é bastante clara. Além disso, qual- quer que seja o tipo de elite trata-se, para esses autores, de minorias (ver a idéia de distribuição normal do tipo empresarial), minorias que não pertencem à classe dominante tradícíonal, mas a uma subcultura (p. 48) ou a uma minoria religiosa ou nacional (p. 55) . De fato, somente o grupo que corresponde mais exatamente ao tipo de industrialização da Inglaterra e dos Estados Unidos merece ser cha- . mado pelos autores de middle-classes (cf. nos- sa proposição c). Todavia, a composição da eli- te propriamente dita compreende, essencial- mente, em todos os tipos - middle-classes, in- Revista de Administração de Empresas telectuais revolucionários, administradores co- loniais, líderes nacionalistas - setores das clas- ses médias ditas tradicionais (p. 50). Só surge um problema a respeito do quinto tipo: a elite aristocrática (dynastic elite). Não obstante, os autores são forçados, ainda aí, a assinalar que este tipo de elite compreende uma minoria exis- tente no interior da classe dominante tradicio- nal e, no máximo, as camadas aliadas à elite tradicional, quer dizer, em última análise, as classes médias tradicionais. Esta minoria é rea- lista e sofre as maiores resistências por parte da elite tradicional (p. 52-5), o que nos leva ao se- gundo e terceiro pontos da articulação entre a teoria de Schumpeter e a teoria sobre as classes médias modernas. Realmente, esta teoria é incompleta apesar de suas diferentes formulações porque não leva em consideração o contexto de colonização. Nisto revela-se a sua limitação: em cada tipo de colonização dada encontraremos atividades econômicas diversas e sistemas de valores par- ticulares associados à origem da industrializa- ção. Na América Latina, tipo de colonização di- ferente daquele que teve lugar nos Estados Unidos, tanto a burguesia agrária como a bur- guesia financeira ligada à economia de expor- tação estão na origem do processo de industria- lização; esse fato não pode ser explicado pela teoria em questão. A dificuldade que seencontra na definição do conceito de classes médias é comum a toda ten- tativa de tratar teoricamente um conceito iso- lado. De fato, um conceito é sempre definido dentro de uma teoria. Seu alcance teórico é-lhe dado pela sua função dentro da teoria, e não por uma correspondência qualquer com um ob- jeto real. Evitaremos estas dificuldades indi- cando inicialmente a teoria na qual o conceito de classes médias pode ganhar sentido. Indi- caremos brevemente os traços essenciais desta teoria, a do sistema do subdesenvolvimento. Fa- remos, então, especialmente, alusão ao papel representado pelo Estado, o que nos ajudará a definir o conceito de classes médias urbanas." Antes de fazê-lo, é preciso lembrar que a no- ção de "novas classes médias" toma, em Wright MUls,um sentido bem distante daquele das teo- rias sobre as classes médias modernas. Para MUls,a antiga classe média era composta essen- cialmente de empresários, ao passo que a nova classe média perdeu toda iniciativa econômica. Neste sentido, sua análise do fenômeno do White couars é finalmente bem próxima da que proporemos aqui. Entretanto, veremos que, se os elementos da análise são os mesmos, a inter- pretação de conjunto é diferente. 1. TIPO DE COLONIZAÇAO E PAPEL DO ESTADO A empresa colonizadora pode ser interpretada como um processo de criação e de ampliação de um mercado de produtos-mercadorias. (Uma mercadoria pode servir ao consumo, à troca e à acumuação, sendo estritamente equivalente à moeda.) É sob este aspecto que a coloniza- ção nos interessa e também pelo fato de que é contemporânea da industrialização. As formas transitórias de produção econômica que prece- deram a grande indústria - a manufatura, por exemplo - são impensáveis fora de um sistema econômico dentro do qual existe um mercado para mercadorias. O tipo de organização industrial da produção pode ser definido em função de dois elementos: a) o trabalho individual é estritamente inter- cambiável e equivalente a seu valor em moeda; b) do ponto de vista de sua forma de produ- ção, bem como do seu modo de utilização, os meios de produção (instrumentos e objeto da produção) são coletivos. Este sistema de produção caracteriza-se por sua tendência à hegemonia, isto é, a organiza- ção industrial da produção tende a substítuír a todo e qualquer outro tipo de organização econômica: a) acaparando o mercado; , b) atraindo para sua engrenagem os produto- res que constituem a mão-de-obra de outros ti- pos de produção; c) reproduzindo-se cada vez que um novo ob- jeto passa a ser mercadoria, e cada vez que é preciso ou possível tornar um objeto qualquer mercadoria. Esses três modos de reprodução hegemôníca do tipo industrial de organização da produção formam um sistema que se fecha ao generali- zar-se: cada um desses modos reforça os dois outros. Nos países de antiga industrialização esses três modos de reprodução operam desde o início da industrialização, 6 cuja condição pré- via é a expansão do mercado de mercadorias. O desencadeamento desses três modos de re- produção, dentro de uma sociedade, assegura ao setor industrial desta sociedade um papel pre- dominante sobre os setores não-industriais da economia. Entretanto, o papel dominante de- sempenhado pela organização industrial da pro- dução apresenta uma característica comple- mentar: a condição para que a indústria de- sempenhe esse papel dominante sobre os setores não-industriais da produção é a dominação do conjunto da economia pelo setor financeiro. Se definimos a organização industrial como a utilização de meios coletivos de produção, sua condição de possibilidade é a existência de um mercado de capitais. De fato, a inovação tec- nológica e a inovação organizacional (exigên- cias de qualquer emprego de meios coletivos de trabalho) não são, contudo, suficientes para a instauração da indústria. É ainda necessário que se possa dispor, fora do circuito de consu- mo, de mercadorias que são fruto do trabalho coletivo acumulado. É, portanto, indispensável um mercado de capitais no qual se encontre a fonte para o financiamento das inovações tec- nológicas e organizacionais, isto é, a instala- ção de meios coletivos de trabalho. O setor fi- nanceiro exerce, desse modo, uma função de controle sobre a utilização da inovação: so- mente a inovação financiada é utilizada; nem toda inovação é efetivamente industrializada. Em suma, a inovação tecnológica e organizacio- nal, quando assumida sob o modo industrial de produção, cai sob o controle do setor finan- ceíro." O tipo de colonização, que é nosso objeto de estudo apresentará variações pertinentes para nossa análise, segundo o modo de reprodução da organização industrial predominante em cada caso; entretanto, o papel desempenhado pelo 97 setor financeiro será sempre predominante, sua composição não sendo muito diferente do que Marx descrevia em 1848.8 Um primeiro tipo de colonização é o que se caracteriza por uma competição ao nível do mercado. Existe, em cada país colonizado desse modo, um mercado constituído, e é nesse mer- cado (de especiarias, no sentido primitivo do termo) que o país colonizador exerce, primeira- mente, seu papel dominante. Acaparar esse mercado e desempenhar nele o papel dominante é um dos modos de reprodução do setor indus- trial do próprio país colonizador. o papel das classes médias 98 A colonização torna-se presente na sociedade colonizada sem alterar fundamentalmente o conjunto da sociedade; acrescenta dois novos setores econômicos, perfeitamente compatíveis com a sociedade tal qual ela existe: um setor financeiro e um setor de imporl-exporl (os compradores). Estes setores tendem a se con- fundir entre si e, sobretudo, a confundir-se com o setor fínanceíro do país colonizador. Não se pode esquecer que um setor industrial começa a existir e se reproduz acaparando o mercado já existente. Entretanto, este setor in- dustrial situa-se alhures, na metrópole. Este tipo de colonização é característico das regiões da Asia, onde existiam sociedades capa- zes, no início, de entrar em competição com o colonizador ao nível do intercâmbio comercial. Um segundo tipo de colonização é o das re- giões em que não havia mercado constituído, mas que dispunham, ao contrário, de riquezas naturais, assim como de uma população que podia ser atraída para a produção de tipo in- âustruü » Estabelece-se aí uma competição ao nível da produção. A reprodução do setor indus- trial colonizador faz-se através da mão-de-obra dos outros setores de produção existentes no lugar, em geral a agricultura e a pecuá- ria. Este setor industrial faz parte, de fato, da economia do país colonizador. O setor financeiro que ai se constitui é igualmente par- te integrante da economia da metrópole. As sociedades locais guardam seu tipo próprio de organização social e sua economia, pelo menos enquanto todos os seus membros não são recru- tados para o setor de produção colonial. Neste tipo de colonização, as transformações que a região sofre são, ao mesmo tempo, mais fundamentais e mais exteriores se comparadas às do primeiro tipo. Um setor industrial e finan- ceiro se estabelece in loco, além de uma buro- cracia e um aparelho de Estado. Entretanto, se no primeiro tipo o setor de import-export e o setor financeiro de origem exógena são integra- dos na economia local, só o setor industrial mantém-se ausente. No segundo caso, os seto- res acrescentados à economia local são extrater- ritoriais; a mão-de-obra do setor de produção colonial, a burocracia nativa (quando existe) e o aparelho de Estado constituem-se e repro- duzem-se fora das sociedades existentes na re- gião.lo O terceiro tipo de colonização existe nas re- giões onde um mercado ainda não é constituí- do, nem é possível atrair mão-de-obra autóctone Revista de Admtni8tração de Empresas para o setor de produção colonial. Neste caso, toda a organização econômica e social é de um tipo novo, e não é possível a coexistência dos colonizadores com os povos preexistentes. 11 Dois casos bem diferente são, então, possí- veis. No primeiro,as condições de exploração de produtos coloniais são decisivas: formam-se grandes empresas de exploração colonial com a mão-de-obra ímportada.P No segundo caso, quando não existem produtos coloniais, a nova sociedade organiza-se a partir dos três modos de reprodução da economia industrial. Apesar das dessemelhanças culturais que a distinguem da antiga metrópole, é o mesmo tipo de so- ciedade que se reproduz. É o caso de uma parte das colônias da América do Norte; a outra, que se constituiu no Sul e que explorava produtos coloniais, é representativa do primeiro caso. Estes dois tipos de economia coexistem no seio dos Estados Unidos, uma reproduzindo-se no interior e a outra, da qual o setor industrial é ausente (a do Sul), reproduzindo-se em fun- ção da antiga metrópole. A solução desse con- flito foi nos Estados Unidos mais precoce e mais radical do que na maior parte dos países sub- desenvolvidos que se depararam com esse tipo de problema, por ocasião da crise de 1929: já em meados do século XIX, a Guerra Civil fez com que a região exportadora de produtos co- loniais mudasse de interlocutor. A partir da Guerra de Secessão, é o setor industrial do Nor- te e não mais o da metrópole européia que desempenha o papel dominante sobre a econo- mia do Sul. O caso das regiões destinadas à exploração de produtos coloniais interessa-nos mais parti- cularmente, pois permite revelar certos traços comuns a todos os tipos de colonização. 11: o caso mais düundido na América Latina: não há, no início da colonização, nem mercado a acaparar nem mão-de-obra para atrair, somente o ter- ceiro modo se reproduz. Metais preciosos e es- tratégicos, couro, açúcar, frutas, constituem a economia de ciclos dos primeiros séculos de co- lonização; é a monoprodução, predominante desde então até hoje. No início, esta reprodução do tipo industrial de organização da produção faz-se a partir e em função da economia metropolitana. Não se instaura nenhum mercado nem existe mão-de- obra exterior ao setor que se reproduz (café, açúcar, minas); a reprodução apenas neste mo- do e nestas condições não assegura a consti- tuição de uma sociedade, mas de um "pedaço" de sociedade, de um único setor econômico. A anãlise da economia açucareira no Nordeste brasileiro ilustra o processo de formação de uma sociedade a partir deste tipo de colonização. A análise deste processo de formação mostrará, ademais, o papel estratégico desempenhado pelo Estado na criação da sociedade. Naquela região, a tecnologia da indústria do açúcar, bem como a exportação eram controla- das pelos portugueses. Mas o financiamento e a comercialização na Europa eram, por sua vez, controlados pelos holandeses. Podemos simpli- ficar o problema desprezando o fato de que o controle da importação de mão-de-obra africana era compartilhado entre os portugueses e os in- gleses. Utilizando capitais holandeses e adqui- rindo, assim, os engenhos, os portugueses orga- nizavam a produção do açúcar na base do tra- balho escravo. O produto era transportado para Lisboa e de lã embarcado em navios holandeses que se ocupavam da comercialização. Esta operação de transporte entre os portos brasileiros e o porto de Lisboa é muito mais im- portante do que pode parecer à primeira vista. Assegura à metrópole política a única possibili- dade de desempenhar um papel econômico na totalidade do processo. Sem esta operação, que simbolizava a soberania portuguesa, a econo- mia açucareira teria passado inteiramente para o controle daqueles que [á detinham o financia- mento e a comercialização - o que de fato não tardou a acontecer, ainda que por breve pe- ríodo. De fato, no fim do século XVI e inicio do sé- culo XVII, a coroa de Portugal cai nas mãos de espanhóis e o pacto se rompe: excluidos do jo- go, os holandeses ocupam o Nordeste brasileiro e vêm, assim, a controlar a totalidade das ope- rações da economia açucareira, desde o finan- ciamento até a comercialização. 13 Este fato mostra claramente o papel desem- penhado pela soberania do Estado metropolita-· no neste tipo de colônia; constituir a sociedade a partir de um único setor econômico extrater- ritorial, impedir o controle direto do setor in- dustrial dominante sobre o setor colonial, asse- gurar a existência de uma classe dominante in- terna, eis alguns dos aspectos diferentes de um mesmo papel representado por uma única es- trutura: o aparelho de Estado colonial. Notemos que este aparelho de Estado era ne- cessãrio aos portugueses porque lhes faltava um setor financeiro autônomo e não dispunham de um setor industrial que pudesse dominar a reprodução da economia colonial. O exemplo da invasão holandesa é interessan- te porque o Príncipe de Nassau não chegou a Recife como soberano, mas como .chere de em- presa (Companhia das índias Ocidentais), em- bora com poderes de governo. 2. PAPEL DO ESTADO E CAMADAS MÉDIAS URBANAS Em todos estes tipos de colonização, o Estado é essencialmente intermediário entre a economia colonial e a sociedade colonizadora. É neeessá- rio, devido à ausência de um setor industrial predominante in loco. O Estado é a presença desta ausência. Garante, além disso, que esta presença permanecerá ausente, único meio de assegurar a existência de uma classe dominan- te interna. A primeira colonização consistia, essencial- mente - do ponto de vista econômico - na expansão de um mercado de mercadorias. 14 Os primeiros colonizadores exauriram-se nesta ta- refa. A segunda colonização jã é fruto do im- pulso do setor industrial. Este impulso obriga os primeiros colonizadores a construir um apa- relho de Estado, e obriga as classes dominantes internas, no inicio do século XIX, a escolher entre a antiga metrópole (tornada simplesmen- te metrópole politica) e a sua própria sobrevi- vência como classes dominantes internas, do- tando-se de um Estado nacional. Os movimentos de independência latino-ame- ricanos são, evidentemente, contemporâneos da Revolução Americana e da Revolução Francesa. Não eram os revolucionãrios brasileiros do fim do século XVII conhecidos como os "france- ses"? Não obstante, não se pode superestimar o papel desempenhado pela influência ideoló- gica liberal-burguesa nos movimentos de inde- pendência. As classes que conduziram o movi- mento de independência na América Latina eram burguesas no sentido de que sua supre- macia política era assegurada por sua suprema- cia econômica; pelo fato de que seu predomínio econômico exercia-se no próprio processo de produção; pela organização do trabalho, sob o modo industrial, por eles imposta nas colônias. Não eram burgueses no sentido de uma popula- ção urbana que se opusesse ao feudalismo; não viviam nas cidades (abandonadas ao aparelho de EstadO), e não havia feudalismo a combater. o papeZ das classes médias 99 A ideologia liberal-burguesa que acompanha os movimentos de independência não era, con- tudo, inteiramente sem propósito, não era ado- tada arbitrariamente. Em primeiro lugar, por- que se tratava de um movimento conduzido pela burguesia (ou melhor, pela fração da bur- guesia existente in loco). Em segundo lugar, porque a forma liberal do Estado nacional, eli- minando o monopólio das antigas metrópoles sobre a exportação, reduzia parte dos custos de comercialização dos produtos coloniais, aumen- tando a parte das classes dominantes internas no produto social. Ao mesmo tempo, o impe- rialismo inglês mudava de intermediário (os Es- tados nacionais tomando o lugar dos Estados colonizadores) e assegurava a comercialização a partir dos portos coloniais; além disso, en- quanto os Estados nacionais existissem, impe- dia-se aos ingleses de controlar a totalidade do processo: a produção propriamente dita ficava sob controle nacional, acrescentava-se um setor financeiro, doravante constituído in loco. Desta forma, desde o início da colonização na América Latina, a constituição de um apa- relho de Estado sui-çeneris é indispensável ao funcionamento do sistema. A originalidade des- te aparelho de Estado vem do fato de que ele não é, ao contrário das colôniasinglesas, ema- nação direta da sociedade que comanda o pro- cesso colonial. Também não é, ao contrário das colônias da Asia, originário da própria sociedade coloniza- da. Os aparelhos de Estado coloniais português e espanhol na América Latina, que se desenvol- veram suficientemente a ponto de se converte- rem em Estados nacionais, foram soluções ori- ginais exigidas pelo tipo particular de economia colonial que ali se instaurou. O aparelho de Estado colonial (o setor local do aparelho de Estado metropolitano) consti- 100 tui-se lá onde pode desempenhar um papel de intermediário, nos portos. Todo o hinterland é deixado ao controle das autoridades naturais, isto é, os dirigentes da produção (seria preciso lembrar que a burguesia é a única classe diri- gente cuja autoridade natural provém do fato de organizar e dirigir a produção econômica?) . Este papel essencialmente exterior dos Esta- dos coloniais e, posteriormente, dos Estados na- cionais latino-americanos produziu muita de- sarticulação no sistema social, o que explica as dificuldades de análise e as aberrações do gêne- ro "sociedades dualisticas", "feudalismo ligado à exportação de matérias-primas" etc. Revista de Administração de Empresas o papel político interno representado pela burguesia, tendo tomado formas semelhantes à clientela, fez pensar num tipo de sociedade feu- dal que teria existido na América Latina, no início da colonização. Uma pequena burguesia ter-se-ia, pouco a pouco, formado com os no- táveis rurais emigrados para os centros de ex- portação, apossando-se do aparelho de Estado; e, favorecida pela crise mundial de 1929, cons- tituindo-se em "modernas classes médias", te- ria iniciado o processo de industrialização. As crises políticas, tão características destes países, seriam a confirmação do conflito existente en- tre essa classe modernizadora e as classes feu- dais. Nada é mais clássico, nada é mais falso. Primeiramente, não há feudalismo nem cli- entela à base de trabalho escravo. A economia feudal é, por definição, autárquica, e não pode- ria basear-se na exportação maciça nem na monoprodução. O papel econômico desempe- nhado pelas classes feudais é-lhes assegurado por seu papel político (ou, se se prefere, jurí- dico, religioso, místico; em uma palavra, sim- bólico). Ora, o papel econômico desempenhado pelas burguesias latino-americanas tradicionais é assegurado por sua função técnica de organi- zadores da produção, e pela apropriação dos meios de produção. Apenas sua competição (ou aliança, o que vem a dar no mesmo) com as classes industriais e financeiras metropolitanas é que é assegurada por seu papel político, atra- vés dos Estados nacionais. 15 Em segundo lugar, não há notáveis rurais que emigrem, pouco a pouco para as cidades, pelo menos no período em questão. A coloniza- ção fez-se, na América Latina, a partir do lito- ral que viria a ser, mais tarde, zona urbana. São, ao contrário, os notáveis urbanos (cuja função é essencialmente ligada ao aparelho de Estado) que emigram para o campo: funcioná- rios de todo tipo, padres, contabilistas; sem fa- lar nos doutores que vão em busca de casamen- to no seio da burguesia rural. Em terceiro lugar, a população urbana cons- tituiu-se, desde o início, numa população com funções essencialmente urbanas e jamais foi outra coisa. Aristocratas e pequenos burgueses de origem metropolitana ocupados no aparelho de Estado colonial, reproduziram-se pouco a pouco rompendo toda ligação com suas classes sociais de origem. Sua reprodução fez-se intei- ramente no interior da burocracia de Estado e da burocracia privada, constituída na época da independência. Não existe pequena burguesia, no sentido clássico do termo, no seio da qual as burocracias pudessem recrutar seus efetivos. De fato, o artesanato e a manufatura foram proibidos às colônias na maior parte do período colonial. Estas atividades (ou melhor, a parte destas atividades que não deixava de existir por causa das proibições), bem como o pequeno comércio, eram exercidos por escravos. Padres, tabeliães, burocratas de todos os gêneros, alo- cavam seus escravos (e os alugavam, às vezes) a estas tarefas menos nobres. A particularidade destas camadas médias ur- banas - tornadas médias em coru;eqüência da crise das exportações, com a emigração para a cidade da mão-de-obra rural e com a industria- lização - é devida a dois fatos distintos, mas ligados entre si. Já observamos que suas origens sociais, aristocracia e pequena burguesia metro- politana, bem como os burgueses locais arrui- nados perdem a eficácia própria, pois essa po- pulação urbana renova-se no interior de si mes- ma, e não no seio das classes sociais de origem. Ao contrário, nos países colonizadores da época, a burocracia de Estado e a administração pri- vada recrutam-se ainda hoje no seio de classes sociais que desempenham, por outro lado, um papel econômico ou político definido e ainda vigente. A este fato está ligado o segundo: as cama- das médias urbanas da América Latina, en- quanto grupo social com função específica, ja- mais desempenharam papel direto na produção econômica. Seu papel é essencialmente polí- tico, o de produtores políticos do Estado. E, na medida em que é o Estado que nesses países constitui a sociedade a partir de um setor eco- nômico incompleto e não-autônomo, o papel que lhes cabe é, de certa forma, o de produtores políticos da sociedade. 16 Não se pode, portanto, esperar que as orien- tações das camadas médias urbanas da Améri- ca Latina sejam da mesma natureza das clas- ses médias americanas ou dos restos de peque- na burguesia européia. Não se pode encontrar, nas camadas médias urbanas da América Lati- na, referência a um modelo próprio de produ- ção econômica. O modelo de produção do cam- ponês de parceria, do pequeno burguês, do tra- balhador industrial podem explicar o tipo de reivindicações e orientações que caracterizam essas classes. Entretanto, no que toca às ca- madas médias urbanas latino-americanas, as reivindicações próprias deste grupo, bem como sua participação nos diferentes movimentos 80- ciais, não podem ser compreendidas a partir de um modelo de produção, aliás, ausente de sua experiência. É possível, pelo contrário, compre- endê-lo a partir do papel político que lhes cabe, assim como em função de uma análise de sua relação ao trabalho. Relação ao trabalho vem a ser um trabalho coletivo; os meios de trabalho (instrumentos e objeto) são apropriados coletivamente, tanto do ponto de vista técnico como do ponto de vista jurídico (pelo Estado). Desse modo, as reivin- dicações de controle coletivo das atividades do Estado podem perfeitamente aparecer ou serem aceitas sem resistência por este grupo. É, aliás, o que explica a pouca resistência que estas ca- madas opuseram à estatização de boa parte da economia, e à política assistencial dos Estados latino-americanos, políticas que marcaram os últimos 40 anos, das quais estas camadas mé- dias (muito mais do que os trabalhadores) be- neficiaram-se em primeiro lugar. No entanto, sua resistência manifesta-se - e nisto as camadas médias aliam-se às classes di- rigentes - quando surge a ameaça, para o Es- tado, de ter que dividir seu poder com as buro- cracias não-estatais (partidos políticos, sindi- catos, etc.). Foi, de fato, o que produziu a ade- são das camadas médias aos movimentos que puseram fim aos regimes populistas na Argen- tina e no Brasil. No entanto, na medida em que, na sua expe- riência de trabalho, reconhecem-se como pro- dutores coletivos do Estado, é dificilmente com- preensível de que maneira poderiam surgir rei- vindicações de controle individual da produção econômica. A ausência de tais orientações e rei- vindicações no meio das camadas médias urba- nas não deveria, portanto, ter provocado tanto espanto em tantos economistas e sociólogos do desenvolvimento. Pelo contrário, o papel político desempenha- 101 do por estes grupos na construção do Estado e da sociedade pode explicar suas orientações para o desenvolvimento. Realmente, durante a crise daeconomia de exportação, o Estado viu- se obrigado a desempenhar a fundo seu papel de intermediário. Passa a ser, assim, o único negociador da crise face às classes dominantes do exterior, assumindo pela primeira vez um papel econômico e político interno. Os efeitos da crise fazem-se sentir, sobretudo, de duas maneiras: emigração maciça da mão- de-obra rural e impossibilidade de satisfazer às importações que constituíam o essencial do o papel das classes médias mercado urbano. Abandonado a si mesmo, o processo só poderia conduzir a duas saídas. O mercado urbano, inflado pela chegada maciça de trabalhadores rurais, esgotaria até o último tostão das rendas da exportação, dada a "dete- rioração dos preços'";" A economia de expor- tação tenderia a desaparecer, na medida em que todas as suas rendas teriam de ser destinadas ao mercado urbano; com ela desapareceria o mercado urbano, à míngua de rendas (ligadas, como se sabe, à exportação) . A segunda saída seria o abandono do merca- do urbano à sua própria sorte. Entretanto, isto não estancaria a decadência do setor de expor- tação. A população urbana cresceria ainda mais, e não se sabe qual seria o resultado da mistura explosiva de uma população urbana privada de seu consumo, com uma população imigrada procurando trabalho inexistente. Ora, o controle dos portos, das cidades, era o trunfo principal das classes ligadas à exportação. Desse modo, mesmo se supusermos que as classes ur- banas, tendo mantido o controle do aparelho de Estado, não tentassem desviar a crise em seu próprio proveito, a liquidação das classes liga- das à exportação seria certa e próxima: sem a proteção do aparelho do Estado, a economia de exportação cairia, cedo ou tarde, sob o controle direto das metrópoles industrializadas. 18 Na verdade, o Estado manteve seu papel de intermediário e negociou junto aos interlocuto- res externos as soluções da crise (Argentina, Brasil, México), ou puseram-se a fazê-lo nos úl- timos 10 anos (Chile, Peru). Esta negociação consistiu essencialmente no seguinte: expro- priação de uma parte das rendas do setor de ex- portação, financiamento de um setor industrial local, bloqueio das importações e manutenção do mercado interno, graças à inflação. 19 Este projeto de desenvolvimento e de liquida- 102 ção dos resíduos da colonização (conhecido, des- de os anos 50 como desenvolvimentismo) be- neficia, em primeiro lugar, o novo setor indus- trial. Por esta razão é a este grupo que se atri- bui, geralmente, a iniciativa do projeto. A difi- culdade está em que este grupo não existia ain- da enquanto fração de classe autônoma, e for- mou-se, de fato, no processo de realização de um projeto que o precede. Além do mais, o grupo social industrializador - com exceção dos que tiveram origem na própria burocracia de Estado, que são, portanto, posteriores à ini- ciativa estatal em matéria de industrialização - é originário do setor de exportação e man- Revista de Administração de Empresas têm-se, em todo caso, ligado ao mesmo setor financeiro. 20 Nesse caso, ou este grupo ganha uma autonomia com relação à sua classe de ori- gem e torna-se uma fração de classe - mas, nes- sa hipótese, não se pode comprender a falta pe- culiar de autonomia interna das burguesias in- dustriais latino-americanas, nem sua aliança privilegiada contínua com as burguesias tradi- cionais - ou então, a burguesia industrial não tem nenhuma autonomia com relação à bur- guesia tradicional - mas, neste caso, não se pode compreender os conflitos que opuseram o Estado desenvolvimentista às burguesias tra- dicionais, conflitos que constituem o pano de fundo da fase populista do desenvolvimento la- tino-americano. A solução encontrada para superar estas ex- plicações contraditórias consiste na distinção entre, de um lado, a burguesia industrial, à qual faltaria uma consciência de classe e, do outro, os ídeólogos da burguesia índustríal .» De onde vêm estes ídeólogos - essencialmente os polí- ticos e altos funcionários que forjaram o pro- jeto desenvolvimentista e conduziram o mo- vimento populista? Já eram ideólogos das bur- guesias tradicionais? Então, de que maneira se "reciclaram"? Se não o eram, como então se constituíram, arautos de uma classe ainda ine- xistente? Pode-se introduzir novas hipóteses se, ao contrário, for possível interpretar o papel das camadas médias urbanas de acordo com sua função política, tendo-se em conta a relativa autonomia do aparelho de Estado com relação à classe dirigente. É a este grupo, relativamen- te autônomo com relação à burguesia tradicio- nal, que cabe a iniciativa do desenvolvimento. Ele consegue dar ao Estado a iniciativa e o predomínio no setor índustríal,» se bem que o projeto desenvolvimentista se proponha expres- samente a favorecer a iniciativa privada. A criação de um setor industrial privado - em- bora de constituição bem fraca - provoca a ilusão da existência de uma burguesia indus- trial nacional, que teria tomado a frente na coalizão populista. Na verdade, essa coalizão pode ser interpreta- da como uma aliança entre as classes urbanas: camadas médias e trabalhadores rurais trans- formados ou se transformando em operários. Tal coalizão exerce a supremacia política, o que permite ao mesmo tempo equilibrar a supre- macia econômica da burguesia agrária, e ga- rantir a sobrevivência de um setor industrial, pelo menos em um primeiro momento. A lógica do populismo deveria conduzir à ex- propriação progressiva do setor de exportação, e à extensão do mercado industrial ao campo. A análise do programa chamado de reformas de base do último dos governos populistas - o de João Goulart no Brasil- mostra exatamente estas tendências. Ora, os beneficiários diretos desta política seriam, em primeiro lugar, os se- tores industriais nacionais. Se se faz a hipótese de que a coalizão populista era dirigida pela burguesia industrial nacional, ou por seus arautos, não se pode compreender por que eles propõem e ao mesmo tempo recusam uma polí- tica concebida de acordo com seus próprios in- teresses. Se, ao contrário, interpreta-se o populísmo como uma coalizão dirigida pelas camadas mé- dias urbanas, pode-se compreender seu fracas- so. Incapaz de definir um modelo próprio de produção sobre o qual pudesse basear seu pro- jeto societal, este grupo crê estar a serviço de uma classe imaginária, quando, na verdade, cria uma espécie de capitalismo de Estado. De fato, a industrialização progressiva bene- ficiava, secundariamente, as camadas médias e o operariado urbano e, a longo prazo, os traba- lhadores rurais. Significava também uma auto- nomia crescente e uma mobilização cada vez maior do movimento operário. É a importância crescente do setor operário na coalizão popu- lista e a ameaça de mobilização das massas ru- rais que provocam a queda da coalizão, e não a ênfase posta na industrialização. 23 Na verda- de, com o fim do populismo a industrialização não estancou, mas foi acelerada; e mesmo as tendências à estatização da economia mantive- ram-se constantes ou se aguçaram. A mudança radical repercutiu sobretudo no estado de mobi- lização e de agitação das classes urbanas. Se excluímos as conseqüências da opção por uma expansão industrial baseada na diversificação do mercado urbano - que não é objeto deste estudo - a earacterístíca principal dos regimes pós-populístas seria a de vetar qualquer tenta- tiva de recondução de uma coalizão de tipo po- pulista e, em geral, de qualquer aliança basea- da na mobilização e na agitação das classes ur- banas, provando assim que as classes dirigentes podem manter o ritmo de expansão industrial sem serem forçadas a mobilizar as massas ur- banas para neutralizar a burguesia agrária; o que, de certo modo, põe em questão a idéia que está por trás de todas as interpretações do po- pulísmo , Se a insuficiência de um conceito forjado para explicar o desenvolvimento, revela-se na sua impossibilidade de desempenhar o papel que se lhe atribui, é no contexto do desenvolvi- mento que é necessário experimentar todo novo conceito destinadoa substituir o primeiro. Por isso fomos levados a basear-nos, ao mesmo tem- po, na teoria do subdesenvolvimento e, especial- mente, no papel desempenhado pelo Estado nos países subdesenvolvidos. A análise que efetua- mos, desse duplo ponto de vista, mostrou-nos porque é impossível dar um conteúdo rigoroso ao conceito de "classes médias modernas", se nos contentamos em comentar as hipóteses le- vantadas a propósito da pequena burguesia ou da burguesia industrial. Atribuir um conteúdo rigoroso ao conceito de classes médias modernas exige que se defina a relação ao trabalho predominante no seio das novas camadas urbanas. No caso latino-ameri- cano, vimos que essa relação ao trabalho não pode ser compreendida fora de uma organiza- ção social do trabalho de tipo industrial. Em outras palavras, estas camadas médias são in- corporadas a uma organização do trabalho na qual objeto e instrumento de produção são co- letivos e em que o trabalho é quantitativamen- te intercambiável. 24 Se é verdade que as reivindicações de uma categoria social relevam da relação ao traba- lho predominante no seio dessa população, é teoricamente inconcebível interpretar as rei- vindicações e condutas das camadas médias ur- banas - em uma palavra, sua ação - nos mesmos termos em que se interpretam reivin- dicações e condutas da pequena burguesia ou de camponeses de parceria. Todavia, não é su- ficiente definir a relação ao trabalho para com- preender o conjunto de reivindicações de uma 103 categoria social. É ainda necessário saber o lu- gar onde se realiza esta relação ao trabalho (em nosso caso: o aparelho de Estado) assim como sua função societal (em nosso caso: a produção política da sociedade). Mais ainda, se o con- ceito de "classes médias modernas", tal qual o definimos no início deste trabalho, recobre de fato uma teoria, é impossível substituí-lo por um conceito isolado: é necessário pensar este novo conceito num novo quadro teórico. Em todas as sociedades desenvolvidas, cama- das cada vez mais numerosas da população in- corporam-se a uma organização social do tra- o papeZ das cZasses médias balho de tipo industrial. 26 As novas orientações destas camadas sociais vão depender, não so- mente dessa nova relação ao trabalho, mas também do lugar onde ela se exerce. Desse mo- do, é preciso distinguir: a) os setores onde o novo modo de organiza- ção da produção substitui um outro (por exem- plo, a industrialização tardia da agricultura eu- ropéia) ; b) os setores em que antes predominavam instituições consideradas não-produtivas (a universidade em geral e a pesquisa científica em particular; os lazeres) : c) os setores criados aparentemente ex-nihilo pela sociedade pós-indusrial (a informática, a engenharia ambiental etc.) ; 26 d) os setores precocemente incorporados à or- ganização industrial do trabalho e tardiamen- te incorporados à produção econômica (o caso das camadas médias urbanas da América La- tina) . Em cada um desses casos, a relação ao tra- balho que define as novas classes médias é con- dição necessária mas não suficiente para ex- plicar o conjunto de novas orientações e reivin- dicações. Por exemplo, no caso da universidade, parece evidente que as novas orientações encon- traram grandes dificuldades para exprimir-se em um meio ainda marcado pela antiga rela- ção ao trabalho. A simultaneidade de tipos de relação ao trabalho encontrada hoje em toda instituição universitária, torna possível, entre outras coisas, a expressão das novas reivindica- ções nos termos das antigas orientações. Refe- 'rmdo-nos ao movimento de maio de 68 em Pa- 104 ris. e aos movimentos que abalaram as univer- sidades européias, observamos que raramente os novos trabalhadores intelectuais reivindica- ram um controle da jornada de trabalho ou da própria qualificação, mas reclamasão a manu- tenção de seu "papel crítico". Este papel crí- tico, no entanto, nada mais é do que o subpro- duto da antiga relação ao trabalho, e a univer- sidade não se encontra mais em condições de assegurá-lo, já que é cada vez menos uma ins- tituição guardiã de valores e cada vez mais um conjunto de empresas produtoras de valores (mercantis) . Revista de Administração de Empresas Outro exemplo da especificidade do setor em que se instaura a nova relação ao trabalho é o caso das camadas médias urbanas latino-ame- ricanas. Sua incorporação precoce na organiza- ção de tipo industrial poupa-lhes a simultanei- dade de diferentes relações ao trabalho. Isto ex- plica, em parte, a homogeneidade das orienta- ções desenvolvimentistas que tornaram possível a coalizão populista. Além disso, sua incorpo- ração tardia no domínio da produção econômi- ca poupa-lhes o processo de diferenciação pelo nível de renda, diferenciação que, nos países de- senvolvidos, encobre a identidade entre a rela- ção ao trabalho das "novas" classes médias e da "antiga" classe operária. De qualquer maneira, é a relação ao traba- lho que desempenha o papel decisivo na deter- minação das orientações de uma categoria so- cial. A incorporação progressiva e maciça das camadas não-operárias na organização indus- trial do trabalho tenderá a provocar a conjun- ção das orientações e reivindicações, qualquer que seja o setor. E essas orientações, certamen- te, não serão as mesmas da pequena burguesia. O 1 ~ necessário acrescentar uma dificuldade suple- mentar. O tipo de atividade econômica de um setor da população seria outra coisa que não o papel eco- nômico por ela desempenhado? Em outras palavras, é o tipo de atividade econômica das classes médias modernas outra coisa do que seu papel empresarial? De fato, um dos elementos do explanandum encontra- se, também, no explanans, o que certos teóricos es- truturalistas chamam de papel especular de um ele- mento teórico. 2 Schumpeter, J. A. The theory 01 economic deve- lopment. Cambridge, Mass., Havard University Press, 1955,p. 61-3. Todas as referências à teoria de Schum- peter provêm desta obra; indicaremos, daqui por di- ante, a página entre parênteses. 3 Lipset apresenta um excelente resumo das teorias que ligam a existência de uma camada que detém o monopólio da iniciativa econômica à heterogeneidade cultural provocada pela imigração. Lipset, S.M. Eli- tes, education and entrepreneurship in Latín Ameri- ca. In: Lipset, S.M. & Solari, A. (eds.) . Elites in La- tin America. N. York, Oxford university press, 1967. 4 Industrialism and industrial mano Londres, Heine- mann, 1962. Os números entre parênteses indicam a página e referem-se todos a esta edição. 5 Trata-se do conceito de classes médias urbanas no sistema do subdesenvolvimento. ~ aqui, aliàs, que o conceito pode ter uma utilidade qualquer na explica- ção do processo de industrialização. Nas sociedades industriais e pós-industriais, as classes médias mo- dernas têm outra origem ou, mesmo, desempenham outro papel. 6 Um ou outro desses modos pode, perfeitamente, desempenhar, em dado momento, um papel domi- nante: a industrialização da produção científica & a transformação, em mercadoria, dos lazeres (e, bre- vemente, do próprio ar que respiramos), são exem- plos do terceiro modo de reprodução que parece de- sempenhar papel determinante nas sociedades indus- triais de hoj e . 7 O papel dominante desempenhado pelo setor fi- nanceiro não caracteriza, a nosso ver, uma simples fase do sistema de produção de tipo industrial. As observações seguintes, de Marx, referem-se à primei- ra metade do século XIX: "Não era a burguesia que reinava sob Louis-philippe, mas uma fração da mes- ma: banqueiros, reis da Bolsa, reis da estrada de fer- ro, proprietários de minas de carvão e de ferro, pro- prietários de florestas, e a parte da propriedade fundiária a eles ligada ( ... ). A burguesia industrial propriamente dita, fazia parte da oposição oficial" ... Marx, K. As lutas de classe na França WI48-1850). Tradução francesa, paris, Ed. Sociales, 1967, p. 38. 8 Ver a nota precedente. 9 De tipo industrial: o país colonizado instaura um tipo de produção que utiliza a organização coletiva do trabalho, emeios coletivos de produção; trata-se tanto de minas como de plantations. 10 Cf. Coquéry-Vidrovitch, C. De l'impérialisme brí- tannique à l'impérialisme contemporain, In: L'Hom- me et la Société, n. 18, p. 61-90, 1970. 11 Estes são caçados e exterminados quando se re- vela a impossibilidade de utilização de sua mão-de- obra. Um novo tipo de sociedade se cria no vazio dei- xado pelas sociedades autóctones, ou às suas fron- teiras. As seguintes observações de Marx são parti- cularmente esclarecedoras a este respeito: "Na pessoa do escravo, o instrumento de produção é diretamente pilhado. porém, a produção do país em cujo proveito o instrumento é tomado, deve ser organizada de ma- neira a permitir o trabalho escravo ou (como na Amé- rica do Sul, etc.> é necessário que se crie um modo de produção conforme à escravidão" (grifo nosso). Marx, K. Introdução à crítica da economia política. Contribuições à crítica da economia política. Tradu- ção francesa, Paris, Ed. Sociales, 1957, p. 162-3. 12 O tipo de atividade agrícola de certas sociedades africanas era perfeitamente compatível com a inte- gração de sua mão-de-obra na produção colonial. Os indíos americanos, com exceção das grandes civiliza- ções pré-colombianas, pelo contrário, desenvolviam tipos de atividade econômica incompatíveis com o trabalho escravo ou livre, tais como as metrópoles aí o instauraram. A mão-de-obra devia, portanto, ser importada. 13 Desde então, outras companhias das índias re- fizeram, pelas mesmas razões, a mesma operação mi- litar e econômica na América Latina. A partir do sé- culo XIX, entretanto, uma classe dominante interna já constituída impedia estes grupos econômicos de gerenciar, ao mesmo tempo, a sociedade e a econo- mia colonial. Nestes casos mais recentes o aparelho de Estado interno deve ser mantido e se é obrigado a recorrer ao golpe de Estado (América Latina) ou então, à secessão (Africa). 14 Ver, a esse respeito, Ch. Palloix, em seu artigo publicado em L'Homme et la Société, n. 15,p. 103-38,' 1970, especialmente o resumo das teses, p. 135-6. 15 De outra maneira, o caudilhismo posterior à inde- pendência não teria nenhum sentido. por que senho- res feudais lutariam para adquirir O controle do apa- relho de Estado, deixando, ao contrário, o poder real nas mãos dos senhores locais? Na verdade, não é da competência do Estado o poder político interno, mas sim, a função de intermediário e o controle da ex- portação. Sem exercer nenhum controle econômico ou político sobre a produção, os caudilhos e os gru- pos que lhes eram ligados obtinha o direito de de- sempenhar, através do aparelho de Estado, um papel econômico fundamental. 16 Quanto à função não-econômica das camadas médias na América Latina, ver weffort, F. C. Le po- pulisme dans la politique brésiliense. In: Le Temps Modernes, n. 257, p. 624-49, 1967, especialmente p, 629; ver, também, do mesmo autor, Classes populares e política. Tese de doutoramento, São Paulo, FFL, USP, 1968, p. 45 e sego mímeogr.; e Duarte, N. A or- dem privada e a organização política nacional. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1966. 17 Esta expressão é utilizada aqui num sestído não- teórico; admitimos que ela desloca o problema da desigualdade do intercâmbio e seguimos, neste caso particular, as teses introduzidas por Ch. palloix em seu artigo: La question de l'échange inégal - une critique de l'économie politique. In: L'Homme et la société, n. 18, p. 5-33, 1970. 18 Este caso não é pura hipótese: nos países onde a solução de industrialização não pôde ser tentada, as classes dominantes internas desapareceram ou foram obrigadas a dividir o essencial de suas tarefas com grandes companhias estrangeiras. A América Central nos dá numerosos exemplos semelhantes. 19 Cf. Furtado, Celso. Dialética do desenvolvimento. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1964; ver também Martins, L. L'épuisement d'un modele de changement 105 social: la crise du développementisme au Brésil. In: Balandier, G. (ed.) . Sociologie des mutations. Paris, Anthropos, 1970, p. 451-62. 20 Cf. Cardoso, F. H. Empresário industrial e desen- volvimento industrial no Brasil. Rio de Janeiro, Ins- tituto de Ciências Sociais, UFRJ, 1966. 21 Cf. Cardoso, F. H. Entrepreneurial elites. In: Lip- set, S.M. & Solari, A. (eds.) . Elites in Latin America, N. York, Oxford University Press, 1967. 22 Ainda hoje, apesar das tentativas conscientes em contrário, num país como o Brasil, o Estado está na origem de mais da metade dos investimentos indus- triais. o papel das classes médias 23 Sobre o novo caráter tomado pela crise, ver Wef- fort, F. C. op. cito 1968; a propósito da homogenei- dade da nova coalizão,ver Las Casas, R. D. de. L'Etat autoritaire - essai sur Ies formes actuelles de domi- nation impérialiste. In: L'Homme et la Société, n. 18,p. 99-111,1970. 24 Apesar de utilizar termos diferentes, cremos que a análise de C. W. Mills leva a estas conclusões. Cf. White collares. Tradução francesa: Maspero, Paris, 1966,passim. 25 Certos autores chamam "sociedade pós-indus- trial" o conjunto deste processo, chamando a atenção para aspectos - no entanto, secundários - desta in- corporação maciça da mão-de-obra na organização de tipo industrial, tais como o papel predominante da informação, o caráter intelectual do trabalho, etc. 26 Se pensamos nos sátrapas (olhos e ouvidosdo rei), constatamos que o tratamento da informação não é tão recente quanto se pretende. O que é novo é a transformação do seu resultado em mercadoria. A coleção que vale por uma biblioteca para o empresário brasileiro. .t=. ------. 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