Prévia do material em texto
1. O complexo R,D&E; 2. Os serviços de suporte científico e tecnológico - a infra-estrutura tecnológica; 3. A infra-estrutura tecnológica nacional. Alberto Pereira de Castro" • Superintendente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo. R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, 1. O COMPLEXO R,D&E Estudos recentes vêm sugerindo que, na elabo- ração das suas políticas de desenvolvimento, os países em desenvolvimento tendem a identificar tecnologia com "R&D" - researcii and deve- lopment (pesquisa e desenvolvimento) - atraí- dos que são pelos espetaculares resultados al- cançados nos campos da energia nuclear, ex- ploração espacial, física do estado sólido, ins- trumentação e outros. Estes estudos propõem que se passe a falar no complexo "R,D&E" - research, development and engineering, em vez de "R&D", pelo menos sempre que se refira aos problemas de um país em desenvolvimento. "'R,D&E' constitui um spectrum de ativida- des associadas com o processo industrial. Nes- te contexto, research (pesquisa) é pesquisa orientada que é dirigida para aplicações práti- cas do conhecimento - em contraste com a pes- quisa básica dirigida ao crescimento do conhe- cimento cientifico. Desenvolvimento (develop- ment) é o uso sistemático do conhecimento obtido na pesquisa para a elaboração de mate- riais úteis, aparelhos, sistemas, métodos ou pro- cessos, excluídos os aspectos de 'design' e en- genharia de produção. A faixa 'engenharia' (engineering) do spectrum está voltada à cons- trução, montagem, projeto de instalações pro- dutivas e ensaios de modelos para processos e procedimentos-piloto - destinados a criarem sistemas que funcionarão industrialmente. A experiência das firmas individuais vem sugerin- do que a seqüência R,D&E é usualmente in- vertida e que a aquisição de capacidade proce- de de E para D e para R." (US international tirms and R7J&E in developing countries, Washington, National Academy of Science, 1973.) As raízes históricas desses conceitos podem ser procuradas no estudo do grande surto in- dustrial do fim do século passado, surto este que muitos consideram como marcando uma segunda revolução industrial, porque ele foi ba- seado na aplicação intensa e sistemática das descobertas científicas da física e da química ao desenvolvimento da tecnologia industrial. Duas figuras ímpares dessa época caracterizam bem dois aspectos da tecnologia que então se afirmava: Thomas Alva Edison e Frederick Winslow Taylor. Edison (1847-1931) representa bem a insti- tucíonalízação do R&D, como peça integrante do processo de inovação industrial. O ímígran- 14(3) : 13-22, maío/íun. 1974 A organização de uma infra estrutura tecnológica para o desenvolvimento industrial brasileiro 14 te pobre - cuja única instrução formal se cin- giu a três meses de curso numa escola pública de Michigan e que chegou mais tarde a ser membro da National Academy of Science dos Estados Unidos - sabia cercar-se, nos seus la- boratórios, que eram verdadeiras "fábricas de tecnologia", de PhDs e de profissionais de for- mação acadêmica. Inventou e comercializou a lâmpada incandescente, desenvolveu e instalou as primeiras redes de transmissão elétrica, in- ventou e industrializou o fonógrafo e registrou ao todo 1 033 patentes. Embora muitas vezes apresentado como personalidade romântica, Edison estabelecia objetivos muito claros e prá- ticos para as suas pesquisas; conforme cita Jor- ge A. Sabato (Emprezas y fábricas de tecno- logia, Washington, OEA, 1972), no seu cader- no de notas, Edison assim definiu os objetivos das suas pesquisas no campo elétrico: "Eletrici- dade versus gás como um meio geral de ilumi- nação. Objetivo: eletricidade deve perfazer uma exata imitação de todos os efeitos do gás, de modo a substituir-se a iluminação por gás pela iluminação elétrica, melhorar a iluminação de tal maneira que ela satisfaça todos os requisi- tos das condições materiais, artificiais e comer- cais." Em alguns dos seus desenvolvimentos, Edison fixou, mesmo, objetivos que ficaram muito aquém dos empregos industriais alcan- çados quase que imediatamente pelas suas in- venções; assim é que o seu objetivo ao desen- volver o fonógrafo foi criar o ditafone, para uso nos escritórios; ele não objetivava a criação do gramofone, para a reprodução musical. Taylor (1856-1915) foi o engenheiro metódi- co que introduziu na produção industrial os métodos científicos, lançando as bases de uma tecnologia da produção; a adoção de padrões e especificações para cada um dos produtos in- termediários e finais da indústria, e o estabele- cimento de métodos e procedimentos otímízan- tes, baseados na experimentação científica e ri- gidamente aplicados aos ateliers de produção, que constituíram as bases para a produção in- dustrial em massa. Para Taylor, não havia lu- gar para surpresas ou indecisões nos ateliers de produção: todas as dúvidas quanto a proje- tos, materiais ou procedimentos deveriam ser, com antecedência, resolvidas pelos corpos de engenharia. A produção cabia o treinamento e a seleção dos trabalhadores, para a execução de tarefas minuciosamente descritas, e à ins- peção, a verificação de todo desvio no resultado de quaisquer das etapas intermediárias. Revista de Admtntstração de Empresas Se Edison representa o R&D inovativo, Tay- lor foi a encarnação do "engineering". Ele tam- bém fazia uso da pesquisa, porém, num sen- tido diferente: para estabelecer e medir padrões de dimensões e propriedades, para diminuir as perdas de processo, para aperfeiçoar ferramen- tas e máquinas, e para o aumento do conheci- mento prático dos sistemas homem-máquina. Edison representa a componente mais "gla- mourosa" da tecnologia, mais rica em apelos à ímagínação: a componente Taylor é menos ima- ginosa, mais sistemática, e pode ser até mais enfadonha, mesmo. Entretanto, a civilização in- dustrial moderna está baseada no uso bem ba- lanceado dessas duas componentes da tecnolo- gia e não seriam possíveis os seus sucessos, se uma das duas tivesse sido ignorada. Para ilustrar a aplicação da componente Tay- lor ao processo industrial, sou tentado a repro- duzir aqui uma página da contribuição do Eng. Amaro Lanari Jr. ao tema "Organização de em- presas e instituições tecnológicas para o desen- volvimento de técnicas para a indústria", na Semana de Tecnologia Industrial, organizada pelo MIC, em novembro último, em São Paulo: ". .. aceitei a incumbência de explicar, em 10 a 15 minutos, como deve agir uma empre- sa, um instituto ou uma organização a fim de capacitar-se a produzir tecnologia." Sendo a tecnologia a descrição das técnicas para a fabricação de um determinado produ- to, vemos que ela é uma espécie de receita, uma receita detalhada que deve definir os in- gredientes, as operações necessárias e as carac- terísticas do produto que se deseja obter. Feita assim a analogia entre a tecnologia e a receita, devemos dizer que, numa empresa, essa receita se denomina padrão técnico de pro- dução ou de operação. Qualquer indústria que deseja melhorar sua tecnologia ou produzir tecnologia nova deve primeiramente definir com clareza sua tecnologia atual. Se essa tecnologia atual foi simplesmente comprada ou se veio transmitida por uma tra- dição oral, não importa. O primeiro passo a ser dado consiste em escrever a receita, em definir por escrito o padrão técnico de fabricação. Suponhamos uma indústria que produza pre- gos. O padrão técnico começará definindo com rigor a matéria-prima, no caso, arame trefila- do em rolos de determinado peso, suas dimen- sões e tolerâncias admissíveis, sua composição química, suas propriedades físicas, etc. --- ------------- Em seguida, o padrãoâefinirá as operações de fabricação, a produção horária, os rendimen- tos, a manutenção e outros elementos caracte- rísticos . Finalmente, o padrão especificará o produto final, sua qualidade, suas características físi- cas ou químicas, suas tolerâncias, sua embala- gem final. Isto feito, teremos definido claramente e por escrito nossa tecnologia atual. Convém obser- var, entretanto,que ao estabelecermos os pa- drões de matéria-prima, de operação e de pro- duto final não fixaremos números, valores, nor- mas ou procedimentos arbitrários, porém os mais convenientes, simples ou econômicos para que seja garantido o tipo, a qualidade e o me- nor custo do produto final que se visa a obter. Devemos descrever o nosso padrão com o má- ximo de detalhes necessários e compatíveis. A proporção que estendemos e precisamos com mais rigor esses detalhes, que começamos a re- lacionar os padrões das matérias-primas com os índices da operação e com a qualidade e rendi- mentos dos produtos obtidos, a partir desse mo- mento começamos a descobrir onde melhorar a qualidade, como aumentar os rendimentos, de que modo reduzir os custos. Estou certo de que, neste momento, o nosso industrial ficará extremamente admirado quan- do verificar o quanto pode ser melhorada a sua simples e elementar tecnologia da estampagem de pregos. O padrão não é, portanto, um elemento está- tico, uma norma definitiva. É uma base sobre a qual a ernpresa pode estimular os que partici- pam da operação a discutir, sugerir, pesquisar e propor modificações. Mas, se o padrão não é estático a razão da sua existência é justamente a possibilidade de modificá-lo, a fim de melhorá-lo sempre. Por outro lado, devemos tratar o nosso padrão con- fidencialmente e com o devido respeito, porque ele representa exatamente o patrimônio tecno- lógico da empresa. As modificações somente de- vem ser introduzidas depois de devidamente ex- perimentadas e comprovadas, e a partir desse momento, a obediência ao padrão tem de ser rigidamente observada, religiosamente cum- prida. Produzir tecnologia é, portanto, produzir pa- drões de operação. Para o controle da tecnolo- gia, sua melhoria ou sua inovação deve a em- presa, portanto, capacitar-se a melhorar e mo- dificar os seus padrões." 2. OS SERVIÇOSDE SUPORTE CIENT:tFICO E TECNOLóGICO - A INFRA-ESTRUTURA TECNOLóGICA Graham Jones em "The role of science and technology" (In: Developing countries, Lon- don, Oxford University Press, 1971), chama a atenção para o fato de que, para o uso eficien- te dos seus recursos, os países em desenvolvi- mento deveriam dar mais importância à im- plantação dos "serviços de suporte científico e tecnológico", aí incluída uma vasta variedade de atividades básicas, tais como: museus, ma- peamento de recursos naturais, coleta de dados estatísticos, sistemas de standarâs, serviços de patentes, etc. Chama a atenção também para o fato de que, ao contrário do que acontece com R&D, não existem ainda, quanto a esses servi- ços, definições geralmente aceitas e que, por- tanto, os dados disponíveis sobre os gastos dos países adiantados são extremamente limitados. Não existem assim, elementos que possam orien- tar os países em desenvolvimento na alocação de recursos para essa área, embora se reco- nheça, que, na maioria dos casos, os esforços dedicados à organização desses serviços possam ser mais rentáveis do que se aplicados em R&D. Graham Jones conclui dizendo que esses ser- viços têm "um papel essencial no desenvolvi- mento da agricultura e da indústria. Embora, infelizmente, faltem estatísticas internacionais para estudos comparativos, uma bem maior alocação de fundos para esses serviços do que para o total do orçamento dedicado a pesquisa e desenvolvimento (R&D) seria normalmente justificada. " Em geral, cada país desenvolveu, a seu modo e ao longo do tempo, uma série de instituições de caráter público e privado, de associações, de companhias, de agências governamentais e de estatutos legais ou de livre convenção, para co- brirem a área representada por esses serviços. A expressão "infra-estrutura tecnológica" para abranger esse conjunto de entidades e de estatutos foi empregada pela primeira vez, ao que eu saiba, por um presidente do National Bureau of Standards, órgão este que represen- ta uma das mais vigorosas instituições da in- fra-estrutura tecnológica americana. Outras instituições notáveis da infra-estrutura tecno- lógica americana seriam o National Bureau of Mines, o National Geological Survey, o Bureau of Reclamation, o Bureau of the Census, o Pa- tent Office e muitas outras entidades ligadas Infra-estrutura tecnol6gica 15 diretamente ao governo federal; fariam parte também da infra-estrutura tecnológica o Ame- rican National Standards Institute (ANSI), o Underwriter's Laboratories, a American Society for Tésting MateriaIs, e um sem-número de outras organizações, públicas e privadas. Tentei fazer uma enumeração dos sistemas que compõem a infra-estrutura tecnológica de uma nação, pelo menos na parte corresponden- te à tecnologia industrial: na lista que se se- gue, a palavra sistema é usada tanto para abranger conjuntos de entidades altamente es- truturadas por força de lei, até conjuntos mal- estruturados, em que as entidades formadoras são autônomas porém capazes de um razoável grau de articulação entre si: 1. Sistema de mapeamento do meio físico; co- leta e publicação sistemática dos resultados das pesquisas geológicas, geofísicas, climatológicas e de recursos minerais. 2 . Sistema de coleta e publicação periódica das estatísticas sociais e econômicas; aí incluí- das as séries de produção e comércio com um grau de desagregação apropriado. 3 . Sistema de informação tecnológica. 4. Sistema de consultoria e assistência técni- ca, inclusive serviços de extensão industrial; rede de laboratórios apropriados. 5. Sistema de marcas e patentes (proprieda- de industrial) , importação e exportação de técnica. 16 6. Sistema de metrologia, com laboratórios especializados, destinados a estabelecer as uni- dades e os métodos de medir, bases das comu- nicações e das transações. 7 . Sistema de normas técnicas e de procedi- mentos de certüicação aptos a assegurar a qua- lidade dos produtos; rede de laboratórios apro- priados. Os sistemas 5, 6 e 7 formam a "infra-estru- tura tecnológica" propriamente dita, porque eles estabelecem as regras e bases técnicas do processo industrial; o sistema 4 engloba os ser- viços técnicos, sejam eles de entidades gover- namentais ou privadas; os sistemas 1, 2 e 3 en- globam os serviços de alimentação do processo industrial e se destinam à atualização quanto aos aperfeiçoamentos e inovações tecnológicas, Bev1sta de Administração de Empre8a8 quanto ao conhecimento estatístico do meio so- cioeconômico, de onde saem a mão-de-obra, o capital e o consumidor para a indústria, e quan- to ao conhecimento do meio físico, de onde vêm as matérias-primas, a energia e onde são lan- çados os refugos industriais. Os sistemas nacionais de metrologia, de nor- mas técnicas e da propriedade industrial ten- dem, cada vez mais, sob a influência do comér- cio internacional, a se articularem em sistemas mundiais. Quanto ao primeiro deles, desde 1875 existe o Bureau International des Poids et Me- sures, de Paris, do qual o Brasil é membro. A ISO, International Organization for Standarti- zacion, associação internacional criada em 1946, sob os auspícios da Organização das Na- ções Unidas, vem funcionando como o cen- tro de articulação de um sistema interna- cional de normas técnicas e de certificação de qualidade. Por fim, a Organização Mun- dial da Propriedade Industrial e os acordos in- ternacionais de patentes vêm funcionando co- mo elementos de articulação entre os vários sistemas nacionais da propriedade industrial. Quanto aos demais sistemas, várias organiza- ções internacionais vêm promovendo a criação de nomenclaturas, classüicações e metodolo- gias comuns, de maneira a facilitar a agregação de dados regionais ou ainda os estudos com- parativos entre vários países e regiões. 3. A INFRA-ESTRUTURA TECNOLóGICA NACIONAL O Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 73/74, aprovado em julho de 1973, demonstra que essa infra-estrutura está sendo objeto de preocupações especiais; com efeito, a explicitação da política científica e tecnológica do plano, a ser implementada, contém, nos seus itens lI! (Consolidação da infra-estrutura depesquisa científica e tecnológica) e IV (Ativi- dades de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico), diretrizes a respeito do assunto. O quadro presente das instituições e ativi- dades ligadas a nossa infra-estrutura tecnoló- gica, bem como alguns dos problemas com que ela se defronta no momento, é o objeto da ter- ceira e última parte deste artigo. Nela, alon- guei-me propositadamente nas considerações sobre o nosso sistema de normas e certificação de qualidade industrial, porque uma já longa vivência dos problemas de tecnologia industrial trouxe-me a convicção de que este sistema cons- titui, no presente momento da nossa evolução industrial, o elemento infra-estrutural mais im- portante e o de mais rápido retorno. 3. 1 A alimentação de informações o PBDCT prevê o tratamento global das infor- mações em um só Sistema Nacional de Infor- mação Científica e Tecnológica (SNICT), sob a coordenação central do CNPq, abrangendo vários subsistemas especializados. O sistema deverá captar, através dos subsis- temas, as informações que decorrem da ação dos múltiplos órgãos de ação do Governo, tais como os ligados ao Ministério de Minas e Ener- gia, ao Ministério dos Transportes, ao Ministé- rio da Saúde, ao Ministério da Agricultura, etc. A Fundação IBGE, vinculada ao Ministério do Planejamento, reestruturada em maio de 1973, será um dos órgãos básicos do sistema. Através do Instituto Brasileiro de Informática, a fundação está organizando um banco de da- dos, em computador, para o trabalho das séries de estatísticas socioeconômicas do País. O Ins- tituto Brasileiro de Bibliografia e Documenta- ção também será órgão importante do sistema. Um subsistema importante sob o ponto de vista industrial será o das informações tecno- lógicas referentes às patentes, o qual já está sendo organizado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Um outro subsistema de informações de tecnologia industrial, ainda a ser estruturado, deverá captar as informações sobre novos desenvolvimento técnicos externos e internos e distribuí-los à indústria. Assim, quanto a novos desenvolvimento tecno- lógicos, o nosso sistema procurará organizar a aquisição, a interpretação e a distribuição dos elementos disponíveis na literatura mundial, especializada (dita informação "livre"), ao la- do da informação proveniente dos registros de patentes de diversos países (dita informação "patenteada") . Quanto às informações internas, isto é, aos dados socioeconômicos e aos relativos ao nos- so conhecimento do meio físico, o sistema coordenará a sua catalogação junto aos vários órgãos de ação especializada do Governo, para poder pô-los de uma maneira metódica à dis- posição dos órgãos de planejamento e de pes- quisa, tanto da área governamental quanto pri- vada. Ao nível estadual, o Conselho Estadual de Tecnologia está estruturando um sistema pró- prio de informações que se interligará com o Sistema Federal, com o intuito de facilitar o acesso das informações nele contidas às enti- dades locais; o sistema paulista deverá também desenvolver, com base nas instituições científi- cas e tecnológicas do Estado, centros especia- lizados capazes de analisar e interpretar as in- formações tecnológicas setoriais e de represen- tar, para o Estado, órgãos de technological awareness, isto é, órgãos aptos a indicar, em cada setor, o "estado da arte" mundial, as ten- dências para a evolução desse estado da arte, com base nos desenvolvimentos tecnológicos re- centes, e também as possibilidades de modifi- cações, próximas ou remotas, com base nas pes- quisas avançadas em curso no mundo. 3.2 A infra-estrutura tecnológica propriamente dita 3.2.1 O Sistema Nacional da Propriedade In- dustrial tem como órgão central o INPI - Ins- tituto Nacional da Propriedade Industrial - autarquia ligada ao Ministério da Indústria e do Comércio. O INPI foi o primeiro dos órgãos nacionais a se aperceber da necessidade de atualização da nossa infra-estrutura tecnológi- ca - atualização esta ditada pela evolução ex- terna, que fazia da "técnica" uma comodidade de mercado que se produz e que se vende a um preço sujeito às leis da oferta e da procura, e pela evolução interna, que causava um aumen- to no estoque e na capacidade criativa da tecno- logia do nosso parque industrial, o qual pas- sava, por isso, a exigir novas armas de ataque e de defesa, na luta competitiva com os outros parques industriais do mundo. Os três subsistemas básicos de ação do INPI são: Subsistema de marcas Subsistema de patentes Subsistema de informação e de transferência de tecnologia O INPI conta com o apoio da UNDP (United Nations Development Program) para o desen- volvimento de um moderno banco de informa- ções sobre patentes e sobre tecnologia indus- trial; por intermédio desse banco, ele interage com o Sistema Nacional de Informação Cientí- fica e Tecnológica. Por outro lado, o INPI vem ln~-e8truturatecn~g~ ------------ 17 interagindo com os institutos de pesquisa do Sistema de Assistência e Consultoria Técnica, aos quais ele alimenta com informações e so- licita interpretações relacionadas com o nosso meio. A ação do INPI vem-se caracterizando por: a) implantação de métodos empresariais mo- dernos à gerência da aplicação dos estatutos legais da propriedade industrial e da transfe- rência da tecnologia; 18 b) elaboração e implementação, com base na experiência dessa aplicação, de mecanismos de desenvolvimento tecnológico interno; c) envolvimento profundo com o movimento mundial da propriedade industrial, represen- tado pela Organização Mundial da Proprieda- de Industrial, e com tratados internacionais; d) aperfeiçoame;nto contínuo da capacidade de decisão, com base num acervo crescente de informações (banco de dadOS). 3.2.2 O Sistema Nacional de Metrologia, Nor- mas Técnicas e Certificação de Qualidade In- dustrial - recente Lei n.o 5966 votada pelo Congresso e promulgada pelo presidente da Re- pública em 11. 12.73, cria o novo sistema. A lei prevê a criação da Conmetro, Conselho com atividades diretivas e do Inmetro, Instituto Nacional deMetrologia, Normas Técnicas e Qua- lidade Industrial, entidade autárquica com ati- vidades executivas; prevê também a possibili- dade de descentralização da execução das ati- vidades do Inmetro (com a exceção das liga- das à metrologia legal). O Inmetro incorpora os laboratórios e as atribuições do Instituto Na- cional de Pesos e Medidas que foi extinto pela lei. O sistema abrange além do Inmetro, todos os laboratórios federais e estaduais que executam medidas e que trabalham ligados a problemas de controle de qualidade, a Associação Brasilei- ra de Normas Técnicas, os laboratórios parti- culares de ensaios de materiais, as fábricas de instrumentos de medir, os laboratórios de con- trole de qualidade das fábricas e os serviços de inspeção metrológica comercial. Dadas as características abrangentes do sis- tema criado, é difícil prever, no momento, qual será a sua estruturação e como será estabeleci- da a articulação ou subordinação dos diferen- tes órgãos. O decreto de regulamentação da lei, Bev"ta de Admtntstraç40 de Empresas que se seguirá, deverá delinear mais claramen- te os grandes aspectos estruturais do sistema; porém, os aspectos mais detalhados do seu fun- cionamento vão depender da ação da Conmetro. Entretanto, a estruturação inicial do sistema procurará certamente tirar vantagens da exis- tência de entidades que já exercem atividades ligadas às finalidades do sistema e, por outro lado deverá levar em conta certos condicionan- tes nacionais e internacionais que interessam ao seu bom funcionamento. Sob um ponto de vista estritamente metro- lógico, o sistema só se integrará quando tiver um laboratório central de metrologia, de nível internacional e em estreito contato com o Bu- reau International des Poids et Mesures. Com relação aos laboratórios científicos do País e aos laboratórios tecnológicos pertencentes ao sis- tema, o laboratório central deverá funcionar co- mo centro de calibração de instrumentos de medida efornecedor de padrões. Com relação à indústria de instrumentos de medir, além des- sas funções, ele deve acrescentar a de órgão certificador da qualidade dos instrumentos pro- duzidos; para isso ele deverá aprovar os planos e os métodos de produção, os planos e o ins- trumental de controle de qualidade dessas fá- bricas, e inspecionar os seus produtos. Deve funcionar como um centro de treinamento em metrologia e ter capacidade científica para de- senvolver e adaptar novos métodos e instrumen- tos de medida. Deve, por fim, supervisionar, do lado técnico, a rede de serviços de fiscalização de metrologia comercial do País. Presentemente, sob o ponto de vista metro- lógico, o sistema não apresenta consistência: os laboratórios e indústrias adquirem no estran- geiro padrões secundários aferidos por entida- des de várias origens e instrumentos de me, dida que, freqüentemente, só tem a calibração de fábrica. Para que o sistema venha a ser, de fato, um sistema nacional, será necessário que; no mínimo, uma instituição com a autoridade e a competência para isso, homologue essas afe- rições e calibrações. O Centro Nacional de Metrologia que o MIC está constituindo no km 28 da Estrada Rio- Petrópolis e que será parte integrante do Inmetro, deverá representar este papel. Quanto à normalização técnica, o novo sis- tema encontra a ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, já com uma sólida expe- riência na elaboração de normas técnicas eo- luntárias. A ABNT congrega entidades (públí- cas e privadas) e pessoas físicas ligadas a ativi- dades da indústria e da engenharia, em todo o Brasil. Os órgãos técnicos do Governo fe- deral, que sentem a necessidade de normas para os seus serviços, de há muito vêm colaborando decididamente com a ABNT; porém, ao que tu- do indica, só recentemente o Governo se aper- cebeu da importância estratégica que a norma- lização técnica tem para o desenvolvimento do País; por isso, o Plano Básico do Desenvolvi- mento Científico e Tecnológico, aprovado em julho do ano passado, coloca-a entre os "servi- ços tecnológicos básicos", programando para o biênio 73-74 a implantação do Sistema de Normalização e Certificação de Qualidade In- dustrial do MIC. Uma condicionante externa que o novo sis- tema não poderá ignorar, e que está obrigando o País a reconceituar o próprio signüicado de um sistema nacional de normas, é a importân- cia que vem ganhando a normalização interna- cional, iniciada no pós-guerra e que ganhou ímpeto com o crescimento do comércio mun- dial e com a constituição do Mercado Comum Europeu. As razões para o prestígio da normalização internacional são muitas: 1. A existência de normas internacionais sim- plifica a atividade das indústrias exportadoras, . porque estas deixam de ter a necessidade de atender a múltiplas normas nas suas progra- mações de produção. 2. A experiência dos países europeus, que ti- veram de ajustar as suas normas técnicas, ten- do em vista a integração do mercado comum. Por seu lado, os outros países exportadores, os Estados Unidos, o Japão e a Rússia, interessa- dos em penetrar no mercado comum, também se dispuseram a ajustar as suas normas. 3. As normas nacionais freqüentemente in- cluem as chamadas "barreiras técnicas", con- tra a entrada de produtos estrangeiros; estas "barreiras" podem consistir na incorporação de certas peculiaridades técnicas que mal escon- dem a sua finalidade protecionista ou podem decorrer de diferenças de legislação, no que tange a aspectos de segurança, de saúde, de poluição do meio ou de proteção ao consumidor. 4. As organizações internacionais promotoras do alargamento do comércio internacional, co- mo a UNCTAD, GATT, a FAO (no que tange a produtos de origem agropecuária) vêm re- clamando normas técnicas internacionais para as mercadorias, normas estas necessárias à clareza e precisão dos acordos por elas patroci- nados. Parece portanto certo que o movimento de normalização internacional tenderá a conti- nuar; ainda mais, é muito provável que, ape- sar da lerdeza característica da ação dos or- ganismos internacionais, a ISO será capaz de emitir normas mais rapidamente do que a ABNT. Diante desta situação, pergunta-se: que signüicado dar às normas do sistema nacional? Consistirão elas em simples traduções das nor- mas internacionais? A resposta não é simples; se entendermos que o sistema nacional de nor- mas deve ser considerado como um instrumen- to da política industrial nacional, pelo menos as três alternativas seguintes poderão ser váli- das para certos produtos ou classes de produtos: 1. A norma nacional, embora concorde com a norma internacional poderá ser mais expli- cativa, mais "didática", no sentido de pô-las ao alcance de indústrias menos preparadas. Uma norma técnica é considerada como um meio de "transferência de tecnologia" e, neste sen- tido, a norma nacional explicitaria mais clara- mente, para a nossa indústria, a tecnologia a ser transferida. 2. No caso de produtos de uso restrito ao mer- cado interno, a norma nacional poderia ser ela- borada tendo em vista as condições desse mer- cado, independentemente da existência de nor- mas internacionais. 3. Nos casos em que isto for vantajoso para a política industrial nacional, as normas nacio- nais poderão incluir propositadamente "barrei- ras técnicas" protecionistas. Um segundo aspecto da condicionante exter- na, normalização internacional a ser levado em conta pelo sistema nacional, é o do acompanha- mento da elaboração das normas da ISO, no sentido de ínfluencíá-las segundo os interesses da política industrial nacional, ou, pelo menos, de procurar anular alguma possível cláusula prejudicial. As normas da ISO são elaboradas por suas 140 comissões técnicas, cujas secreta- rias executivas são atribuídas aos países-mem- bros; é indisfarçável o interesse dos países mais Injra-e,truturatecno~g~ 19 avançados pela ocupação dessas secretarias. A grande maioria delas é ocupada por seis ou se- te países. O Brasil só tem a secretaria executi- va da Comissão Técnica do Café. As 140 comis- sões técnicas se subdividem num total de mais de 400 subcomissões, o que torna um acompa- nhamento integral dos trabalhos da ISO qua- se impossível. Entretanto algumas das comis- sões técnicas estão trabalhando na normaliza- ção de produtos que interessam muito de perto à nossa posição de país exportador de produtos industriais; portanto, deve ser possível uma es- tratégia de concentrar-se o acompanhamento a faixas de maior interesse. Uma lista de comissões técnicas que elabo- ram normas internacionais de produtos interes- sando de perto as nossas exportações industriais seria, a título de exemplo: T .C.6 Papel, papelão, polpas T. C.8 Construção de navios T .C.11 Caldeiras e vasos de pressão T.C.17 Aço T .C.34 Produtos aUmentares T .C .38 Têxteis T .C. 39 Máquinas-ferramenta T .C .54 óleos essenciais T .C.55 Madeira serrada e toras para serraria T .C.89 Chapas de fibras e de partículas de madeiras T.C.102 Minérios de ferro (o Brasil está re- presentado pela CVRD) T .C .120 Couros T .C .126 Fumo e produtos do fumo T .C. 123 Calçados 20 Existem, portanto, fortes razões para que o nosso sistema se interesse pela normalização internacional; em comércio internacional, o preço do sucesso é a eterna vigilância. Todos ainda devem lembrar-se da recente conferência internacional em que a sardinha brasileira per- deu o nome de sardinha para ganhar um no- me complicado e foi alijada de uma faixa do mercado exterior! ... Uma segunda condicionante externa que o nosso sistema terá de enfrentar é a da tendên- cia crescente dos países adiantados de forma- rem sistemas integrados de certüicação de qua- lidade, a que ficam sujeitas também as mer- cadorias importadas. Para aliviar os inconve- nientes de ter de submeter as suas mercadorias à inspeção de recebimento dentro do país com- prador, estão desenvolvendo-se mecanismos de Revista de Administração '" Empre,cu entendimentos, pelos quais um país reconhece, em bases de reciprocidade, o sistema de certi- ficação de outrospaíses. Este movimento co- meçou na Europa, com a formação do Merca- do Comum e está se desenvolvendo com muita rapidez na indústria elétrica e eletrônica. O Estados Unidos, que tinham uma certüicação de qualidade altamente descentralizada, está estruturando um sistema nacional. Do lado do Japão, este movimento encontra o país prepa- rado, com um dos sistemas nacionais mais am- plos de certificação de qualidade. Neste caso, a experiência brasileira é quase nula; a ANBT instituiu um sistema de "Marcas de Conformi- dade às Normas", porém a sua aplicação se restringiu a um grupo limitado de produtos. O País, não criou, até hoje, tampouco, uma es- trutura técnica voltada para a inspeção dos pro- dutos industriais exportados, que pudesse servir de base para um novo sistema. Entretanto, co- mo se verá a seguir, um sistema atuante de cer- tificação de qualidade poderia, também do lado do mercado interno, representar um importante fator de desenvolvimento tecnológico. Dentre as condições prevalecentes atualmen- te dentro do País, o novo sistema encontrará, para agir como instrumento de uma política industrial nacional, uma série de problemas e de oportunidades, entre as quais: 1. O consumidor final individual tem recebi- do poucas das vantagens que um sistema de normas e certüicação de qualidade poderia tra- zer-Ihe , O consumidor final não é bem repre- sentado nas comissões que confeccionam as nor- mas, o que aliás é fato até em países que têm fortes instituições de defesa do consumidor, co- mo os Estados Unidos. Ao contrário do que se vem observando nos países industrializados, o comércio varejista, que conta hoje com podero- sas organizações, ainda não se interessou pelo movimento de normalização e certüicação de qualidade nacional. Assim, os produtos de con- sumo constituem uma enorme tarefa (e tam- bém uma oportunidade) para o novo sistema, tarefa esta que certamente necessitará da pre- sença governamental para polarizar a partici- pação dos outros setores da comunidade nacio- nal. Todos nós, de todos os setores, temos in- teresse em que o novo sistema venha a bene- ficiar o último consumidor, o "homem da rua"; afinal de contas, todos nós somos "homens da rua"l ... 2. O nosso Governo, juntamente com as suas organizações paraestatais, forma, como em to- dos os países do mundo, um grande grupo con- sumidor de produtos industriais. Portanto, ele tem um interesse direto na normalização técni- ca; porém, ainda mais, dentro de uma politica industrial progressista, ele pode desenvolver uma "liderança de qualidade" , tornando-se cliente mais exigente e portanto, um fator di- nâmico, na elevação do nível de qualidade na- cional. Algumas das grandes empresas ligadas ao Governo, notadamente a Petrobrás e a Ele- trobrás, vêm já representando esse papel. En- tretanto, dentro do sistema, o enorme poder comprador representado pelo Governo e suas agências, poderá constituir um decisivo fator para a introdução da necessária dinâmica de qualidade, no processo industrial. Este efeito da componente governamental do sístema é bastante marcado em muitos países industria- lizados, notadamente nos Estados Unidos e é evidente que, numa economia em desenvolvi- mento como a nossa, em que as forças de con- corrência ainda não são muito atuantes, ele poderá representar ainda maior importância. 3 . As normas técnicas ainda não estão repre- sentando para a maior parte da indústria ma- nutatureíra brasileira o fator de aumento de produtividade e portanto, de diminuição de custos que poderia representar. Nos países in- dustrializados, a racionalização de Taylor, tão bem descrita na citação anterior, do Dr. Ama- ro Lanari Jr., havia desenvolvido nas fábricas os "padrões técnicos de produção e de opera- ção" que não são outras coisas do que as nor- mas internas de fábrica. Os produtos saíam, assim, das fábricas, obedecendo a normas pró- prias; durante o grande movimento de norma- lização (chamado estandardização), que a in- dústria dos países adiantados experimentou na década dos 20, as diversas normas próprias das várias indústrias que produziam o mesmo pro- duto eram ajustadas entre si e daí saiam as normas nacionais; o número de tipos de pro- dutos foi diminuindo, os componentes interme- diários (standard parts) foram padronizados e o número de especificações de cada classe de produtos foi reduzido. A indústria ganhou assim uma economia de escala, com o corres- pondente ganho de produtividade; além disso, os estoques, tanto de produtos intermediários quanto de produtos acabados, puderam ser sim- plificados e diminuídos. Assim, a introdução das normas nacionais beneficiaram imediata- mente a indústria, toda ela treinada pela racio- nalização tayloriana no uso da norma como instrumento de aumento de produtividade. No Brasil, a introdução da norma na indústria se faz meio de fora para dentro, meio às avessas. As indústrias mais adiantadas do nosso parque industrial são compradoras de know-how e im- portaram a tecnologia em bloco; importaram, portanto, também, os métodos de racionaliza- ção e uso de normas internas; entretanto, o número de normas em cada setor industrial ten- de a corresponder à soma das normas vigentes para o mesmo setor, nos vários paises de onde foi importada a tecnologia. Por isso, ainda é muito comum, no Brasil, ver-se uma fábrica de componentes intermediários fazer, ao mes- mo tempo, produtos segundo normas america- nas, francesas, inglesas, alemãs, etc., sem po- der beneficiar-se da economia de escala, e sen- do 'obrigada a suportar estoques multiplicados. As indústrias mais "tradicionais" do nosso parque manufatureiro, herdeiras de uma tecno- logia que aqui evoluiu a partir de raízes quase artesanais, de modo geral, ainda não se be- neficiaram da racionalização tayloriana e não têm experiência no uso das normas internas como fator de aumento de produtividade; ain- da não aprenderam a lição do fabricante de pre- gos do Dr. Lanari... Para elas, as normas na- cionais vêm como uma imposição do setor mais adiantado da economia, uma coisa incômoda e que não ajuda a aumentar nem a produtivida- de nem os lucros. Além do interesse que o aper- feiçoamento tecnológico dessas indústrias apre- senta para a economia interna, é certo também que as' indústrias "tradicionais" preponderam em muitos setores onde as possibilidades de ex- portação do País são bastante amplas. Se o no- vo sistema conseguir criar um serviço de cer- tüicação capaz de tirar partido das possibili- dades educativas de um tal serviço, ele virá a constituir o mecanismo mais eficiente de trans- ferência de tecnologia para o aumento de pro- dutividade e elevação de qualidade dessas in- dústrías , Um serviço de certüicação de quali- dade bem projetado põe em contato a gerência de uma fábrica com os técnicos de uma insti- tuição de tecnologia apropriada, para juntos analisarem o processo produtivo da fábrica, de uma maneira sistemática, que comporta as se- guintes fases: In/r"'"eltrutura tecnológica 21 1. Avaliação técnica do projeto do produto e de seus componentes, no sentido de se assegurar se este projeto é compatível com as exigências previstas na norma nacional, Teste de protó- tipos. 2. Avaliação do sistema produtivo e de nor- mas de produção e de operação dos vários es- tágios, com o fim de verificar se eles são apro- priados para garantir consistentemente as exi- gências do projeto. 3. Avaliação do plano de controle de qualida- de e do equipamento de controle, com o fim de verificar a sua adequação aos controles exi- gidos. 4. Estabelecimento de um plano de auditoria periódica do controle de qualidade e de um pla- no de testes em amostras calculadas estatisti- camente, para representarem a produção - após ter sido a fábrica considerada aprovada nas três primeiras fases. Como se vê, estas três fases são tipicamente educativas e ensejam uma interação entre a gerência da fábrica e a equipe da instituição tecnológica incumbida do serviço; a quarta fa- se é uma fase de manutenção na qual, entre- tanto, essa interação poderá trazer aperfeiçoa-mento importantes. Na exposição anterior, restringi-me a abor- dar aspectos ligados à política e ao conteúdo do novo Sistema de Metrologia, Normas Técnicas e Certificação de Qualidade Industrial, sem espe- cular a sua estrutura, que, conforme foi dito, deverá ser delineada a partir do próximo de- creto de regulamentação da recente lei. 22 3 .3 O sistema nacional de assistência e consultoria técnica Este sistema é, no caso brasileiro, como aliás na maioria dos países, o menos estruturado da infra-estrutura. Entretanto, no período atual do nosso desenvolvimento, um tratamen- to sistêmico que coordenasse as entidades e as atividades de assistência técnica no País seria altamente benéfico, no sentido de se conseguir maiores resultados com o escasso material humano disponível; creio mesmo que, no mo- mento presente, no caso brasileiro, o sistema deveria exorbitar das atividades propriamente de infra-estrutura, para incluir atividades liga- Revista de Administração de Empresas das diretamente ao processo produtivo; assim compreendido, o sistema constituiria o reposi- tório do knoui-tuno da indústria nacional e in- cluiria: a) entidades de pesquisa industrial do País; b) órgãos de apoio técnico das agências de de- senvolvimento econômico, tais como o BNDE, o BNH, a Sudene, a Sudam, o Badesp, etc., bem como dos bancos de investimento privados; c) os escritórios de engenharia e de consulto- ria técnica; d) os corpos de engenharia das empresas in- dustriais. Um cadastramento dos perfis de experiência técnica do sistema facilitaria um emprego ra- cional da mão-de-obra disponível, para atender aos múltiplos objetivos impostos ao sistema pelo desenvolvimento econômico; com efeito, esse de- senvolvimento está exigindo o ataque simultâ- neo das seguintes linhas de ação, todas elas dependentes de mão-de-obra técnica treinada: 1. expansão continuada da produção indus- trial; 2. expansão das infra-estruturas de energia, transportes e comunicações do País; 3. desenvolvimento do suprimento nacional de matérias-primas nacionais, tendo em vista diminuir a dependência da produção em ex- pansão, de matérias-primas importadas; 4. racionalização do processo industrial visan- do qualidade e competitividade; 5. participação crescente da engenharia na- cional nos projetos de fábricas e equipamen- tos para a expansão industrial, inclusive visan- do à exportação de engenharia; 6. diminuição da importação de técnica, com a definição de setores prioritários de importa- ção, de um lado, e com o incentivo à criação local de tecnologia, do outro. Para atender estas necessidades, o sistema deverá tratar a mão-de-obra técnica como um recurso estratégico e, principalmente, procurar identificar, onde quer que elas estejam, as ca- pacidades e as vocações para especializações mais críticas, tais como: gerência técnica, pro- jeto e pesquisa. O ---- -------