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A organização de uma infra-estrutura tecnológica para o desenvolvimento industrial brasileiro

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1. O complexo R,D&E;
2. Os serviços de suporte
científico e tecnológico - a
infra-estrutura tecnológica;
3. A infra-estrutura
tecnológica nacional.
Alberto Pereira de Castro"
• Superintendente do Instituto
de Pesquisas Tecnológicas da
Universidade de São Paulo.
R. Adm. Emp., Rio de Janeiro,
1. O COMPLEXO R,D&E
Estudos recentes vêm sugerindo que, na elabo-
ração das suas políticas de desenvolvimento, os
países em desenvolvimento tendem a identificar
tecnologia com "R&D" - researcii and deve-
lopment (pesquisa e desenvolvimento) - atraí-
dos que são pelos espetaculares resultados al-
cançados nos campos da energia nuclear, ex-
ploração espacial, física do estado sólido, ins-
trumentação e outros. Estes estudos propõem
que se passe a falar no complexo "R,D&E" -
research, development and engineering, em vez
de "R&D", pelo menos sempre que se refira aos
problemas de um país em desenvolvimento.
"'R,D&E' constitui um spectrum de ativida-
des associadas com o processo industrial. Nes-
te contexto, research (pesquisa) é pesquisa
orientada que é dirigida para aplicações práti-
cas do conhecimento - em contraste com a pes-
quisa básica dirigida ao crescimento do conhe-
cimento cientifico. Desenvolvimento (develop-
ment) é o uso sistemático do conhecimento
obtido na pesquisa para a elaboração de mate-
riais úteis, aparelhos, sistemas, métodos ou pro-
cessos, excluídos os aspectos de 'design' e en-
genharia de produção. A faixa 'engenharia'
(engineering) do spectrum está voltada à cons-
trução, montagem, projeto de instalações pro-
dutivas e ensaios de modelos para processos e
procedimentos-piloto - destinados a criarem
sistemas que funcionarão industrialmente. A
experiência das firmas individuais vem sugerin-
do que a seqüência R,D&E é usualmente in-
vertida e que a aquisição de capacidade proce-
de de E para D e para R." (US international
tirms and R7J&E in developing countries,
Washington, National Academy of Science,
1973.)
As raízes históricas desses conceitos podem
ser procuradas no estudo do grande surto in-
dustrial do fim do século passado, surto este
que muitos consideram como marcando uma
segunda revolução industrial, porque ele foi ba-
seado na aplicação intensa e sistemática das
descobertas científicas da física e da química
ao desenvolvimento da tecnologia industrial.
Duas figuras ímpares dessa época caracterizam
bem dois aspectos da tecnologia que então se
afirmava: Thomas Alva Edison e Frederick
Winslow Taylor.
Edison (1847-1931) representa bem a insti-
tucíonalízação do R&D, como peça integrante
do processo de inovação industrial. O ímígran-
14(3) : 13-22, maío/íun. 1974
A organização de uma infra estrutura tecnológica para o desenvolvimento industrial brasileiro
14
te pobre - cuja única instrução formal se cin-
giu a três meses de curso numa escola pública
de Michigan e que chegou mais tarde a ser
membro da National Academy of Science dos
Estados Unidos - sabia cercar-se, nos seus la-
boratórios, que eram verdadeiras "fábricas de
tecnologia", de PhDs e de profissionais de for-
mação acadêmica. Inventou e comercializou a
lâmpada incandescente, desenvolveu e instalou
as primeiras redes de transmissão elétrica, in-
ventou e industrializou o fonógrafo e registrou
ao todo 1 033 patentes. Embora muitas vezes
apresentado como personalidade romântica,
Edison estabelecia objetivos muito claros e prá-
ticos para as suas pesquisas; conforme cita Jor-
ge A. Sabato (Emprezas y fábricas de tecno-
logia, Washington, OEA, 1972), no seu cader-
no de notas, Edison assim definiu os objetivos
das suas pesquisas no campo elétrico: "Eletrici-
dade versus gás como um meio geral de ilumi-
nação. Objetivo: eletricidade deve perfazer uma
exata imitação de todos os efeitos do gás, de
modo a substituir-se a iluminação por gás pela
iluminação elétrica, melhorar a iluminação de
tal maneira que ela satisfaça todos os requisi-
tos das condições materiais, artificiais e comer-
cais." Em alguns dos seus desenvolvimentos,
Edison fixou, mesmo, objetivos que ficaram
muito aquém dos empregos industriais alcan-
çados quase que imediatamente pelas suas in-
venções; assim é que o seu objetivo ao desen-
volver o fonógrafo foi criar o ditafone, para uso
nos escritórios; ele não objetivava a criação do
gramofone, para a reprodução musical.
Taylor (1856-1915) foi o engenheiro metódi-
co que introduziu na produção industrial os
métodos científicos, lançando as bases de uma
tecnologia da produção; a adoção de padrões e
especificações para cada um dos produtos in-
termediários e finais da indústria, e o estabele-
cimento de métodos e procedimentos otímízan-
tes, baseados na experimentação científica e ri-
gidamente aplicados aos ateliers de produção,
que constituíram as bases para a produção in-
dustrial em massa. Para Taylor, não havia lu-
gar para surpresas ou indecisões nos ateliers
de produção: todas as dúvidas quanto a proje-
tos, materiais ou procedimentos deveriam ser,
com antecedência, resolvidas pelos corpos de
engenharia. A produção cabia o treinamento
e a seleção dos trabalhadores, para a execução
de tarefas minuciosamente descritas, e à ins-
peção, a verificação de todo desvio no resultado
de quaisquer das etapas intermediárias.
Revista de Admtntstração de Empresas
Se Edison representa o R&D inovativo, Tay-
lor foi a encarnação do "engineering". Ele tam-
bém fazia uso da pesquisa, porém, num sen-
tido diferente: para estabelecer e medir padrões
de dimensões e propriedades, para diminuir as
perdas de processo, para aperfeiçoar ferramen-
tas e máquinas, e para o aumento do conheci-
mento prático dos sistemas homem-máquina.
Edison representa a componente mais "gla-
mourosa" da tecnologia, mais rica em apelos à
ímagínação: a componente Taylor é menos ima-
ginosa, mais sistemática, e pode ser até mais
enfadonha, mesmo. Entretanto, a civilização in-
dustrial moderna está baseada no uso bem ba-
lanceado dessas duas componentes da tecnolo-
gia e não seriam possíveis os seus sucessos, se
uma das duas tivesse sido ignorada.
Para ilustrar a aplicação da componente Tay-
lor ao processo industrial, sou tentado a repro-
duzir aqui uma página da contribuição do Eng.
Amaro Lanari Jr. ao tema "Organização de em-
presas e instituições tecnológicas para o desen-
volvimento de técnicas para a indústria", na
Semana de Tecnologia Industrial, organizada
pelo MIC, em novembro último, em São Paulo:
". .. aceitei a incumbência de explicar, em
10 a 15 minutos, como deve agir uma empre-
sa, um instituto ou uma organização a fim de
capacitar-se a produzir tecnologia."
Sendo a tecnologia a descrição das técnicas
para a fabricação de um determinado produ-
to, vemos que ela é uma espécie de receita,
uma receita detalhada que deve definir os in-
gredientes, as operações necessárias e as carac-
terísticas do produto que se deseja obter.
Feita assim a analogia entre a tecnologia e
a receita, devemos dizer que, numa empresa,
essa receita se denomina padrão técnico de pro-
dução ou de operação. Qualquer indústria que
deseja melhorar sua tecnologia ou produzir
tecnologia nova deve primeiramente definir
com clareza sua tecnologia atual.
Se essa tecnologia atual foi simplesmente
comprada ou se veio transmitida por uma tra-
dição oral, não importa. O primeiro passo a ser
dado consiste em escrever a receita, em definir
por escrito o padrão técnico de fabricação.
Suponhamos uma indústria que produza pre-
gos. O padrão técnico começará definindo com
rigor a matéria-prima, no caso, arame trefila-
do em rolos de determinado peso, suas dimen-
sões e tolerâncias admissíveis, sua composição
química, suas propriedades físicas, etc.
--- -------------
Em seguida, o padrãoâefinirá as operações
de fabricação, a produção horária, os rendimen-
tos, a manutenção e outros elementos caracte-
rísticos .
Finalmente, o padrão especificará o produto
final, sua qualidade, suas características físi-
cas ou químicas, suas tolerâncias, sua embala-
gem final.
Isto feito, teremos definido claramente e por
escrito nossa tecnologia atual. Convém obser-
var, entretanto,que ao estabelecermos os pa-
drões de matéria-prima, de operação e de pro-
duto final não fixaremos números, valores, nor-
mas ou procedimentos arbitrários, porém os
mais convenientes, simples ou econômicos para
que seja garantido o tipo, a qualidade e o me-
nor custo do produto final que se visa a obter.
Devemos descrever o nosso padrão com o má-
ximo de detalhes necessários e compatíveis. A
proporção que estendemos e precisamos com
mais rigor esses detalhes, que começamos a re-
lacionar os padrões das matérias-primas com os
índices da operação e com a qualidade e rendi-
mentos dos produtos obtidos, a partir desse mo-
mento começamos a descobrir onde melhorar a
qualidade, como aumentar os rendimentos, de
que modo reduzir os custos.
Estou certo de que, neste momento, o nosso
industrial ficará extremamente admirado quan-
do verificar o quanto pode ser melhorada a sua
simples e elementar tecnologia da estampagem
de pregos.
O padrão não é, portanto, um elemento está-
tico, uma norma definitiva. É uma base sobre
a qual a ernpresa pode estimular os que partici-
pam da operação a discutir, sugerir, pesquisar
e propor modificações.
Mas, se o padrão não é estático a razão da
sua existência é justamente a possibilidade de
modificá-lo, a fim de melhorá-lo sempre. Por
outro lado, devemos tratar o nosso padrão con-
fidencialmente e com o devido respeito, porque
ele representa exatamente o patrimônio tecno-
lógico da empresa. As modificações somente de-
vem ser introduzidas depois de devidamente ex-
perimentadas e comprovadas, e a partir desse
momento, a obediência ao padrão tem de ser
rigidamente observada, religiosamente cum-
prida.
Produzir tecnologia é, portanto, produzir pa-
drões de operação. Para o controle da tecnolo-
gia, sua melhoria ou sua inovação deve a em-
presa, portanto, capacitar-se a melhorar e mo-
dificar os seus padrões."
2. OS SERVIÇOSDE SUPORTE CIENT:tFICO
E TECNOLóGICO - A INFRA-ESTRUTURA
TECNOLóGICA
Graham Jones em "The role of science and
technology" (In: Developing countries, Lon-
don, Oxford University Press, 1971), chama a
atenção para o fato de que, para o uso eficien-
te dos seus recursos, os países em desenvolvi-
mento deveriam dar mais importância à im-
plantação dos "serviços de suporte científico e
tecnológico", aí incluída uma vasta variedade
de atividades básicas, tais como: museus, ma-
peamento de recursos naturais, coleta de dados
estatísticos, sistemas de standarâs, serviços de
patentes, etc. Chama a atenção também para o
fato de que, ao contrário do que acontece com
R&D, não existem ainda, quanto a esses servi-
ços, definições geralmente aceitas e que, por-
tanto, os dados disponíveis sobre os gastos dos
países adiantados são extremamente limitados.
Não existem assim, elementos que possam orien-
tar os países em desenvolvimento na alocação
de recursos para essa área, embora se reco-
nheça, que, na maioria dos casos, os esforços
dedicados à organização desses serviços possam
ser mais rentáveis do que se aplicados em R&D.
Graham Jones conclui dizendo que esses ser-
viços têm "um papel essencial no desenvolvi-
mento da agricultura e da indústria. Embora,
infelizmente, faltem estatísticas internacionais
para estudos comparativos, uma bem maior
alocação de fundos para esses serviços do que
para o total do orçamento dedicado a pesquisa
e desenvolvimento (R&D) seria normalmente
justificada. "
Em geral, cada país desenvolveu, a seu modo
e ao longo do tempo, uma série de instituições
de caráter público e privado, de associações, de
companhias, de agências governamentais e de
estatutos legais ou de livre convenção, para co-
brirem a área representada por esses serviços.
A expressão "infra-estrutura tecnológica"
para abranger esse conjunto de entidades e de
estatutos foi empregada pela primeira vez, ao
que eu saiba, por um presidente do National
Bureau of Standards, órgão este que represen-
ta uma das mais vigorosas instituições da in-
fra-estrutura tecnológica americana. Outras
instituições notáveis da infra-estrutura tecno-
lógica americana seriam o National Bureau of
Mines, o National Geological Survey, o Bureau
of Reclamation, o Bureau of the Census, o Pa-
tent Office e muitas outras entidades ligadas
Infra-estrutura tecnol6gica
15
diretamente ao governo federal; fariam parte
também da infra-estrutura tecnológica o Ame-
rican National Standards Institute (ANSI), o
Underwriter's Laboratories, a American Society
for Tésting MateriaIs, e um sem-número de
outras organizações, públicas e privadas.
Tentei fazer uma enumeração dos sistemas
que compõem a infra-estrutura tecnológica de
uma nação, pelo menos na parte corresponden-
te à tecnologia industrial: na lista que se se-
gue, a palavra sistema é usada tanto para
abranger conjuntos de entidades altamente es-
truturadas por força de lei, até conjuntos mal-
estruturados, em que as entidades formadoras
são autônomas porém capazes de um razoável
grau de articulação entre si:
1. Sistema de mapeamento do meio físico; co-
leta e publicação sistemática dos resultados das
pesquisas geológicas, geofísicas, climatológicas
e de recursos minerais.
2 . Sistema de coleta e publicação periódica
das estatísticas sociais e econômicas; aí incluí-
das as séries de produção e comércio com um
grau de desagregação apropriado.
3 . Sistema de informação tecnológica.
4. Sistema de consultoria e assistência técni-
ca, inclusive serviços de extensão industrial;
rede de laboratórios apropriados.
5. Sistema de marcas e patentes (proprieda-
de industrial) , importação e exportação de
técnica.
16
6. Sistema de metrologia, com laboratórios
especializados, destinados a estabelecer as uni-
dades e os métodos de medir, bases das comu-
nicações e das transações.
7 . Sistema de normas técnicas e de procedi-
mentos de certüicação aptos a assegurar a qua-
lidade dos produtos; rede de laboratórios apro-
priados.
Os sistemas 5, 6 e 7 formam a "infra-estru-
tura tecnológica" propriamente dita, porque
eles estabelecem as regras e bases técnicas do
processo industrial; o sistema 4 engloba os ser-
viços técnicos, sejam eles de entidades gover-
namentais ou privadas; os sistemas 1, 2 e 3 en-
globam os serviços de alimentação do processo
industrial e se destinam à atualização quanto
aos aperfeiçoamentos e inovações tecnológicas,
Bev1sta de Administração de Empre8a8
quanto ao conhecimento estatístico do meio so-
cioeconômico, de onde saem a mão-de-obra, o
capital e o consumidor para a indústria, e quan-
to ao conhecimento do meio físico, de onde vêm
as matérias-primas, a energia e onde são lan-
çados os refugos industriais.
Os sistemas nacionais de metrologia, de nor-
mas técnicas e da propriedade industrial ten-
dem, cada vez mais, sob a influência do comér-
cio internacional, a se articularem em sistemas
mundiais. Quanto ao primeiro deles, desde 1875
existe o Bureau International des Poids et Me-
sures, de Paris, do qual o Brasil é membro. A
ISO, International Organization for Standarti-
zacion, associação internacional criada em
1946, sob os auspícios da Organização das Na-
ções Unidas, vem funcionando como o cen-
tro de articulação de um sistema interna-
cional de normas técnicas e de certificação
de qualidade. Por fim, a Organização Mun-
dial da Propriedade Industrial e os acordos in-
ternacionais de patentes vêm funcionando co-
mo elementos de articulação entre os vários
sistemas nacionais da propriedade industrial.
Quanto aos demais sistemas, várias organiza-
ções internacionais vêm promovendo a criação
de nomenclaturas, classüicações e metodolo-
gias comuns, de maneira a facilitar a agregação
de dados regionais ou ainda os estudos com-
parativos entre vários países e regiões.
3. A INFRA-ESTRUTURA TECNOLóGICA
NACIONAL
O Plano Básico de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico 73/74, aprovado em julho de 1973,
demonstra que essa infra-estrutura está sendo
objeto de preocupações especiais; com efeito, a
explicitação da política científica e tecnológica
do plano, a ser implementada, contém, nos seus
itens lI! (Consolidação da infra-estrutura depesquisa científica e tecnológica) e IV (Ativi-
dades de apoio ao desenvolvimento científico e
tecnológico), diretrizes a respeito do assunto.
O quadro presente das instituições e ativi-
dades ligadas a nossa infra-estrutura tecnoló-
gica, bem como alguns dos problemas com que
ela se defronta no momento, é o objeto da ter-
ceira e última parte deste artigo. Nela, alon-
guei-me propositadamente nas considerações
sobre o nosso sistema de normas e certificação
de qualidade industrial, porque uma já longa
vivência dos problemas de tecnologia industrial
trouxe-me a convicção de que este sistema cons-
titui, no presente momento da nossa evolução
industrial, o elemento infra-estrutural mais im-
portante e o de mais rápido retorno.
3. 1 A alimentação de informações
o PBDCT prevê o tratamento global das infor-
mações em um só Sistema Nacional de Infor-
mação Científica e Tecnológica (SNICT), sob
a coordenação central do CNPq, abrangendo
vários subsistemas especializados.
O sistema deverá captar, através dos subsis-
temas, as informações que decorrem da ação
dos múltiplos órgãos de ação do Governo, tais
como os ligados ao Ministério de Minas e Ener-
gia, ao Ministério dos Transportes, ao Ministé-
rio da Saúde, ao Ministério da Agricultura, etc.
A Fundação IBGE, vinculada ao Ministério
do Planejamento, reestruturada em maio de
1973, será um dos órgãos básicos do sistema.
Através do Instituto Brasileiro de Informática,
a fundação está organizando um banco de da-
dos, em computador, para o trabalho das séries
de estatísticas socioeconômicas do País. O Ins-
tituto Brasileiro de Bibliografia e Documenta-
ção também será órgão importante do sistema.
Um subsistema importante sob o ponto de
vista industrial será o das informações tecno-
lógicas referentes às patentes, o qual já está
sendo organizado pelo Instituto Nacional da
Propriedade Industrial. Um outro subsistema
de informações de tecnologia industrial, ainda
a ser estruturado, deverá captar as informações
sobre novos desenvolvimento técnicos externos
e internos e distribuí-los à indústria.
Assim, quanto a novos desenvolvimento tecno-
lógicos, o nosso sistema procurará organizar a
aquisição, a interpretação e a distribuição dos
elementos disponíveis na literatura mundial,
especializada (dita informação "livre"), ao la-
do da informação proveniente dos registros de
patentes de diversos países (dita informação
"patenteada") .
Quanto às informações internas, isto é, aos
dados socioeconômicos e aos relativos ao nos-
so conhecimento do meio físico, o sistema
coordenará a sua catalogação junto aos vários
órgãos de ação especializada do Governo, para
poder pô-los de uma maneira metódica à dis-
posição dos órgãos de planejamento e de pes-
quisa, tanto da área governamental quanto pri-
vada.
Ao nível estadual, o Conselho Estadual de
Tecnologia está estruturando um sistema pró-
prio de informações que se interligará com o
Sistema Federal, com o intuito de facilitar o
acesso das informações nele contidas às enti-
dades locais; o sistema paulista deverá também
desenvolver, com base nas instituições científi-
cas e tecnológicas do Estado, centros especia-
lizados capazes de analisar e interpretar as in-
formações tecnológicas setoriais e de represen-
tar, para o Estado, órgãos de technological
awareness, isto é, órgãos aptos a indicar, em
cada setor, o "estado da arte" mundial, as ten-
dências para a evolução desse estado da arte,
com base nos desenvolvimentos tecnológicos re-
centes, e também as possibilidades de modifi-
cações, próximas ou remotas, com base nas pes-
quisas avançadas em curso no mundo.
3.2 A infra-estrutura tecnológica
propriamente dita
3.2.1 O Sistema Nacional da Propriedade In-
dustrial tem como órgão central o INPI - Ins-
tituto Nacional da Propriedade Industrial -
autarquia ligada ao Ministério da Indústria e
do Comércio. O INPI foi o primeiro dos órgãos
nacionais a se aperceber da necessidade de
atualização da nossa infra-estrutura tecnológi-
ca - atualização esta ditada pela evolução ex-
terna, que fazia da "técnica" uma comodidade
de mercado que se produz e que se vende a um
preço sujeito às leis da oferta e da procura, e
pela evolução interna, que causava um aumen-
to no estoque e na capacidade criativa da tecno-
logia do nosso parque industrial, o qual pas-
sava, por isso, a exigir novas armas de ataque
e de defesa, na luta competitiva com os outros
parques industriais do mundo.
Os três subsistemas básicos de ação do INPI
são:
Subsistema de marcas
Subsistema de patentes
Subsistema de informação e de transferência
de tecnologia
O INPI conta com o apoio da UNDP (United
Nations Development Program) para o desen-
volvimento de um moderno banco de informa-
ções sobre patentes e sobre tecnologia indus-
trial; por intermédio desse banco, ele interage
com o Sistema Nacional de Informação Cientí-
fica e Tecnológica. Por outro lado, o INPI vem
ln~-e8truturatecn~g~
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interagindo com os institutos de pesquisa do
Sistema de Assistência e Consultoria Técnica,
aos quais ele alimenta com informações e so-
licita interpretações relacionadas com o nosso
meio.
A ação do INPI vem-se caracterizando por:
a) implantação de métodos empresariais mo-
dernos à gerência da aplicação dos estatutos
legais da propriedade industrial e da transfe-
rência da tecnologia;
18
b) elaboração e implementação, com base na
experiência dessa aplicação, de mecanismos de
desenvolvimento tecnológico interno;
c) envolvimento profundo com o movimento
mundial da propriedade industrial, represen-
tado pela Organização Mundial da Proprieda-
de Industrial, e com tratados internacionais;
d) aperfeiçoame;nto contínuo da capacidade
de decisão, com base num acervo crescente de
informações (banco de dadOS).
3.2.2 O Sistema Nacional de Metrologia, Nor-
mas Técnicas e Certificação de Qualidade In-
dustrial - recente Lei n.o 5966 votada pelo
Congresso e promulgada pelo presidente da Re-
pública em 11. 12.73, cria o novo sistema.
A lei prevê a criação da Conmetro, Conselho
com atividades diretivas e do Inmetro, Instituto
Nacional deMetrologia, Normas Técnicas e Qua-
lidade Industrial, entidade autárquica com ati-
vidades executivas; prevê também a possibili-
dade de descentralização da execução das ati-
vidades do Inmetro (com a exceção das liga-
das à metrologia legal). O Inmetro incorpora
os laboratórios e as atribuições do Instituto Na-
cional de Pesos e Medidas que foi extinto pela
lei.
O sistema abrange além do Inmetro, todos os
laboratórios federais e estaduais que executam
medidas e que trabalham ligados a problemas
de controle de qualidade, a Associação Brasilei-
ra de Normas Técnicas, os laboratórios parti-
culares de ensaios de materiais, as fábricas de
instrumentos de medir, os laboratórios de con-
trole de qualidade das fábricas e os serviços de
inspeção metrológica comercial.
Dadas as características abrangentes do sis-
tema criado, é difícil prever, no momento, qual
será a sua estruturação e como será estabeleci-
da a articulação ou subordinação dos diferen-
tes órgãos. O decreto de regulamentação da lei,
Bev"ta de Admtntstraç40 de Empresas
que se seguirá, deverá delinear mais claramen-
te os grandes aspectos estruturais do sistema;
porém, os aspectos mais detalhados do seu fun-
cionamento vão depender da ação da Conmetro.
Entretanto, a estruturação inicial do sistema
procurará certamente tirar vantagens da exis-
tência de entidades que já exercem atividades
ligadas às finalidades do sistema e, por outro
lado deverá levar em conta certos condicionan-
tes nacionais e internacionais que interessam
ao seu bom funcionamento.
Sob um ponto de vista estritamente metro-
lógico, o sistema só se integrará quando tiver
um laboratório central de metrologia, de nível
internacional e em estreito contato com o Bu-
reau International des Poids et Mesures. Com
relação aos laboratórios científicos do País e aos
laboratórios tecnológicos pertencentes ao sis-
tema, o laboratório central deverá funcionar co-
mo centro de calibração de instrumentos de
medida efornecedor de padrões. Com relação
à indústria de instrumentos de medir, além des-
sas funções, ele deve acrescentar a de órgão
certificador da qualidade dos instrumentos pro-
duzidos; para isso ele deverá aprovar os planos
e os métodos de produção, os planos e o ins-
trumental de controle de qualidade dessas fá-
bricas, e inspecionar os seus produtos. Deve
funcionar como um centro de treinamento em
metrologia e ter capacidade científica para de-
senvolver e adaptar novos métodos e instrumen-
tos de medida. Deve, por fim, supervisionar, do
lado técnico, a rede de serviços de fiscalização
de metrologia comercial do País.
Presentemente, sob o ponto de vista metro-
lógico, o sistema não apresenta consistência:
os laboratórios e indústrias adquirem no estran-
geiro padrões secundários aferidos por entida-
des de várias origens e instrumentos de me,
dida que, freqüentemente, só tem a calibração
de fábrica. Para que o sistema venha a ser, de
fato, um sistema nacional, será necessário que;
no mínimo, uma instituição com a autoridade
e a competência para isso, homologue essas afe-
rições e calibrações.
O Centro Nacional de Metrologia que o MIC
está constituindo no km 28 da Estrada Rio-
Petrópolis e que será parte integrante do
Inmetro, deverá representar este papel.
Quanto à normalização técnica, o novo sis-
tema encontra a ABNT, Associação Brasileira
de Normas Técnicas, já com uma sólida expe-
riência na elaboração de normas técnicas eo-
luntárias. A ABNT congrega entidades (públí-
cas e privadas) e pessoas físicas ligadas a ativi-
dades da indústria e da engenharia, em todo
o Brasil. Os órgãos técnicos do Governo fe-
deral, que sentem a necessidade de normas para
os seus serviços, de há muito vêm colaborando
decididamente com a ABNT; porém, ao que tu-
do indica, só recentemente o Governo se aper-
cebeu da importância estratégica que a norma-
lização técnica tem para o desenvolvimento do
País; por isso, o Plano Básico do Desenvolvi-
mento Científico e Tecnológico, aprovado em
julho do ano passado, coloca-a entre os "servi-
ços tecnológicos básicos", programando para
o biênio 73-74 a implantação do Sistema de
Normalização e Certificação de Qualidade In-
dustrial do MIC.
Uma condicionante externa que o novo sis-
tema não poderá ignorar, e que está obrigando
o País a reconceituar o próprio signüicado de
um sistema nacional de normas, é a importân-
cia que vem ganhando a normalização interna-
cional, iniciada no pós-guerra e que ganhou
ímpeto com o crescimento do comércio mun-
dial e com a constituição do Mercado Comum
Europeu.
As razões para o prestígio da normalização
internacional são muitas:
1. A existência de normas internacionais sim-
plifica a atividade das indústrias exportadoras, .
porque estas deixam de ter a necessidade de
atender a múltiplas normas nas suas progra-
mações de produção.
2. A experiência dos países europeus, que ti-
veram de ajustar as suas normas técnicas, ten-
do em vista a integração do mercado comum.
Por seu lado, os outros países exportadores, os
Estados Unidos, o Japão e a Rússia, interessa-
dos em penetrar no mercado comum, também
se dispuseram a ajustar as suas normas.
3. As normas nacionais freqüentemente in-
cluem as chamadas "barreiras técnicas", con-
tra a entrada de produtos estrangeiros; estas
"barreiras" podem consistir na incorporação de
certas peculiaridades técnicas que mal escon-
dem a sua finalidade protecionista ou podem
decorrer de diferenças de legislação, no que
tange a aspectos de segurança, de saúde, de
poluição do meio ou de proteção ao consumidor.
4. As organizações internacionais promotoras
do alargamento do comércio internacional, co-
mo a UNCTAD, GATT, a FAO (no que tange
a produtos de origem agropecuária) vêm re-
clamando normas técnicas internacionais para
as mercadorias, normas estas necessárias à
clareza e precisão dos acordos por elas patroci-
nados.
Parece portanto certo que o movimento de
normalização internacional tenderá a conti-
nuar; ainda mais, é muito provável que, ape-
sar da lerdeza característica da ação dos or-
ganismos internacionais, a ISO será capaz de
emitir normas mais rapidamente do que a
ABNT. Diante desta situação, pergunta-se: que
signüicado dar às normas do sistema nacional?
Consistirão elas em simples traduções das nor-
mas internacionais? A resposta não é simples;
se entendermos que o sistema nacional de nor-
mas deve ser considerado como um instrumen-
to da política industrial nacional, pelo menos
as três alternativas seguintes poderão ser váli-
das para certos produtos ou classes de produtos:
1. A norma nacional, embora concorde com
a norma internacional poderá ser mais expli-
cativa, mais "didática", no sentido de pô-las ao
alcance de indústrias menos preparadas. Uma
norma técnica é considerada como um meio
de "transferência de tecnologia" e, neste sen-
tido, a norma nacional explicitaria mais clara-
mente, para a nossa indústria, a tecnologia a
ser transferida.
2. No caso de produtos de uso restrito ao mer-
cado interno, a norma nacional poderia ser ela-
borada tendo em vista as condições desse mer-
cado, independentemente da existência de nor-
mas internacionais.
3. Nos casos em que isto for vantajoso para a
política industrial nacional, as normas nacio-
nais poderão incluir propositadamente "barrei-
ras técnicas" protecionistas.
Um segundo aspecto da condicionante exter-
na, normalização internacional a ser levado em
conta pelo sistema nacional, é o do acompanha-
mento da elaboração das normas da ISO, no
sentido de ínfluencíá-las segundo os interesses
da política industrial nacional, ou, pelo menos,
de procurar anular alguma possível cláusula
prejudicial. As normas da ISO são elaboradas
por suas 140 comissões técnicas, cujas secreta-
rias executivas são atribuídas aos países-mem-
bros; é indisfarçável o interesse dos países mais
Injra-e,truturatecno~g~
19
avançados pela ocupação dessas secretarias. A
grande maioria delas é ocupada por seis ou se-
te países. O Brasil só tem a secretaria executi-
va da Comissão Técnica do Café. As 140 comis-
sões técnicas se subdividem num total de mais
de 400 subcomissões, o que torna um acompa-
nhamento integral dos trabalhos da ISO qua-
se impossível. Entretanto algumas das comis-
sões técnicas estão trabalhando na normaliza-
ção de produtos que interessam muito de perto
à nossa posição de país exportador de produtos
industriais; portanto, deve ser possível uma es-
tratégia de concentrar-se o acompanhamento
a faixas de maior interesse.
Uma lista de comissões técnicas que elabo-
ram normas internacionais de produtos interes-
sando de perto as nossas exportações industriais
seria, a título de exemplo:
T .C.6 Papel, papelão, polpas
T. C.8 Construção de navios
T .C.11 Caldeiras e vasos de pressão
T.C.17 Aço
T .C.34 Produtos aUmentares
T .C .38 Têxteis
T .C. 39 Máquinas-ferramenta
T .C .54 óleos essenciais
T .C.55 Madeira serrada e toras para serraria
T .C.89 Chapas de fibras e de partículas de
madeiras
T.C.102 Minérios de ferro (o Brasil está re-
presentado pela CVRD)
T .C .120 Couros
T .C .126 Fumo e produtos do fumo
T .C. 123 Calçados
20
Existem, portanto, fortes razões para que o
nosso sistema se interesse pela normalização
internacional; em comércio internacional, o
preço do sucesso é a eterna vigilância. Todos
ainda devem lembrar-se da recente conferência
internacional em que a sardinha brasileira per-
deu o nome de sardinha para ganhar um no-
me complicado e foi alijada de uma faixa do
mercado exterior! ...
Uma segunda condicionante externa que o
nosso sistema terá de enfrentar é a da tendên-
cia crescente dos países adiantados de forma-
rem sistemas integrados de certüicação de qua-
lidade, a que ficam sujeitas também as mer-
cadorias importadas. Para aliviar os inconve-
nientes de ter de submeter as suas mercadorias
à inspeção de recebimento dentro do país com-
prador, estão desenvolvendo-se mecanismos de
Revista de Administração '" Empre,cu
entendimentos, pelos quais um país reconhece,
em bases de reciprocidade, o sistema de certi-
ficação de outrospaíses. Este movimento co-
meçou na Europa, com a formação do Merca-
do Comum e está se desenvolvendo com muita
rapidez na indústria elétrica e eletrônica. O
Estados Unidos, que tinham uma certüicação
de qualidade altamente descentralizada, está
estruturando um sistema nacional. Do lado do
Japão, este movimento encontra o país prepa-
rado, com um dos sistemas nacionais mais am-
plos de certificação de qualidade. Neste caso, a
experiência brasileira é quase nula; a ANBT
instituiu um sistema de "Marcas de Conformi-
dade às Normas", porém a sua aplicação se
restringiu a um grupo limitado de produtos.
O País, não criou, até hoje, tampouco, uma es-
trutura técnica voltada para a inspeção dos pro-
dutos industriais exportados, que pudesse servir
de base para um novo sistema. Entretanto, co-
mo se verá a seguir, um sistema atuante de cer-
tificação de qualidade poderia, também do lado
do mercado interno, representar um importante
fator de desenvolvimento tecnológico.
Dentre as condições prevalecentes atualmen-
te dentro do País, o novo sistema encontrará,
para agir como instrumento de uma política
industrial nacional, uma série de problemas e
de oportunidades, entre as quais:
1. O consumidor final individual tem recebi-
do poucas das vantagens que um sistema de
normas e certüicação de qualidade poderia tra-
zer-Ihe , O consumidor final não é bem repre-
sentado nas comissões que confeccionam as nor-
mas, o que aliás é fato até em países que têm
fortes instituições de defesa do consumidor, co-
mo os Estados Unidos. Ao contrário do que se
vem observando nos países industrializados, o
comércio varejista, que conta hoje com podero-
sas organizações, ainda não se interessou pelo
movimento de normalização e certüicação de
qualidade nacional. Assim, os produtos de con-
sumo constituem uma enorme tarefa (e tam-
bém uma oportunidade) para o novo sistema,
tarefa esta que certamente necessitará da pre-
sença governamental para polarizar a partici-
pação dos outros setores da comunidade nacio-
nal. Todos nós, de todos os setores, temos in-
teresse em que o novo sistema venha a bene-
ficiar o último consumidor, o "homem da rua";
afinal de contas, todos nós somos "homens da
rua"l ...
2. O nosso Governo, juntamente com as suas
organizações paraestatais, forma, como em to-
dos os países do mundo, um grande grupo con-
sumidor de produtos industriais. Portanto, ele
tem um interesse direto na normalização técni-
ca; porém, ainda mais, dentro de uma politica
industrial progressista, ele pode desenvolver
uma "liderança de qualidade" , tornando-se
cliente mais exigente e portanto, um fator di-
nâmico, na elevação do nível de qualidade na-
cional. Algumas das grandes empresas ligadas
ao Governo, notadamente a Petrobrás e a Ele-
trobrás, vêm já representando esse papel. En-
tretanto, dentro do sistema, o enorme poder
comprador representado pelo Governo e suas
agências, poderá constituir um decisivo fator
para a introdução da necessária dinâmica de
qualidade, no processo industrial. Este efeito
da componente governamental do sístema é
bastante marcado em muitos países industria-
lizados, notadamente nos Estados Unidos e é
evidente que, numa economia em desenvolvi-
mento como a nossa, em que as forças de con-
corrência ainda não são muito atuantes, ele
poderá representar ainda maior importância.
3 . As normas técnicas ainda não estão repre-
sentando para a maior parte da indústria ma-
nutatureíra brasileira o fator de aumento de
produtividade e portanto, de diminuição de
custos que poderia representar. Nos países in-
dustrializados, a racionalização de Taylor, tão
bem descrita na citação anterior, do Dr. Ama-
ro Lanari Jr., havia desenvolvido nas fábricas
os "padrões técnicos de produção e de opera-
ção" que não são outras coisas do que as nor-
mas internas de fábrica. Os produtos saíam,
assim, das fábricas, obedecendo a normas pró-
prias; durante o grande movimento de norma-
lização (chamado estandardização), que a in-
dústria dos países adiantados experimentou na
década dos 20, as diversas normas próprias das
várias indústrias que produziam o mesmo pro-
duto eram ajustadas entre si e daí saiam as
normas nacionais; o número de tipos de pro-
dutos foi diminuindo, os componentes interme-
diários (standard parts) foram padronizados
e o número de especificações de cada classe de
produtos foi reduzido. A indústria ganhou
assim uma economia de escala, com o corres-
pondente ganho de produtividade; além disso,
os estoques, tanto de produtos intermediários
quanto de produtos acabados, puderam ser sim-
plificados e diminuídos. Assim, a introdução
das normas nacionais beneficiaram imediata-
mente a indústria, toda ela treinada pela racio-
nalização tayloriana no uso da norma como
instrumento de aumento de produtividade. No
Brasil, a introdução da norma na indústria se
faz meio de fora para dentro, meio às avessas.
As indústrias mais adiantadas do nosso parque
industrial são compradoras de know-how e im-
portaram a tecnologia em bloco; importaram,
portanto, também, os métodos de racionaliza-
ção e uso de normas internas; entretanto, o
número de normas em cada setor industrial ten-
de a corresponder à soma das normas vigentes
para o mesmo setor, nos vários paises de onde
foi importada a tecnologia. Por isso, ainda é
muito comum, no Brasil, ver-se uma fábrica
de componentes intermediários fazer, ao mes-
mo tempo, produtos segundo normas america-
nas, francesas, inglesas, alemãs, etc., sem po-
der beneficiar-se da economia de escala, e sen-
do 'obrigada a suportar estoques multiplicados.
As indústrias mais "tradicionais" do nosso
parque manufatureiro, herdeiras de uma tecno-
logia que aqui evoluiu a partir de raízes quase
artesanais, de modo geral, ainda não se be-
neficiaram da racionalização tayloriana e não
têm experiência no uso das normas internas
como fator de aumento de produtividade; ain-
da não aprenderam a lição do fabricante de pre-
gos do Dr. Lanari... Para elas, as normas na-
cionais vêm como uma imposição do setor mais
adiantado da economia, uma coisa incômoda e
que não ajuda a aumentar nem a produtivida-
de nem os lucros. Além do interesse que o aper-
feiçoamento tecnológico dessas indústrias apre-
senta para a economia interna, é certo também
que as' indústrias "tradicionais" preponderam
em muitos setores onde as possibilidades de ex-
portação do País são bastante amplas. Se o no-
vo sistema conseguir criar um serviço de cer-
tüicação capaz de tirar partido das possibili-
dades educativas de um tal serviço, ele virá a
constituir o mecanismo mais eficiente de trans-
ferência de tecnologia para o aumento de pro-
dutividade e elevação de qualidade dessas in-
dústrías , Um serviço de certüicação de quali-
dade bem projetado põe em contato a gerência
de uma fábrica com os técnicos de uma insti-
tuição de tecnologia apropriada, para juntos
analisarem o processo produtivo da fábrica, de
uma maneira sistemática, que comporta as se-
guintes fases:
In/r"'"eltrutura tecnológica
21
1. Avaliação técnica do projeto do produto e
de seus componentes, no sentido de se assegurar
se este projeto é compatível com as exigências
previstas na norma nacional, Teste de protó-
tipos.
2. Avaliação do sistema produtivo e de nor-
mas de produção e de operação dos vários es-
tágios, com o fim de verificar se eles são apro-
priados para garantir consistentemente as exi-
gências do projeto.
3. Avaliação do plano de controle de qualida-
de e do equipamento de controle, com o fim
de verificar a sua adequação aos controles exi-
gidos.
4. Estabelecimento de um plano de auditoria
periódica do controle de qualidade e de um pla-
no de testes em amostras calculadas estatisti-
camente, para representarem a produção -
após ter sido a fábrica considerada aprovada
nas três primeiras fases.
Como se vê, estas três fases são tipicamente
educativas e ensejam uma interação entre a
gerência da fábrica e a equipe da instituição
tecnológica incumbida do serviço; a quarta fa-
se é uma fase de manutenção na qual, entre-
tanto, essa interação poderá trazer aperfeiçoa-mento importantes.
Na exposição anterior, restringi-me a abor-
dar aspectos ligados à política e ao conteúdo do
novo Sistema de Metrologia, Normas Técnicas e
Certificação de Qualidade Industrial, sem espe-
cular a sua estrutura, que, conforme foi dito,
deverá ser delineada a partir do próximo de-
creto de regulamentação da recente lei.
22
3 .3 O sistema nacional de assistência e
consultoria técnica
Este sistema é, no caso brasileiro, como aliás
na maioria dos países, o menos estruturado
da infra-estrutura. Entretanto, no período
atual do nosso desenvolvimento, um tratamen-
to sistêmico que coordenasse as entidades e as
atividades de assistência técnica no País seria
altamente benéfico, no sentido de se conseguir
maiores resultados com o escasso material
humano disponível; creio mesmo que, no mo-
mento presente, no caso brasileiro, o sistema
deveria exorbitar das atividades propriamente
de infra-estrutura, para incluir atividades liga-
Revista de Administração de Empresas
das diretamente ao processo produtivo; assim
compreendido, o sistema constituiria o reposi-
tório do knoui-tuno da indústria nacional e in-
cluiria:
a) entidades de pesquisa industrial do País;
b) órgãos de apoio técnico das agências de de-
senvolvimento econômico, tais como o BNDE,
o BNH, a Sudene, a Sudam, o Badesp, etc., bem
como dos bancos de investimento privados;
c) os escritórios de engenharia e de consulto-
ria técnica;
d) os corpos de engenharia das empresas in-
dustriais.
Um cadastramento dos perfis de experiência
técnica do sistema facilitaria um emprego ra-
cional da mão-de-obra disponível, para atender
aos múltiplos objetivos impostos ao sistema pelo
desenvolvimento econômico; com efeito, esse de-
senvolvimento está exigindo o ataque simultâ-
neo das seguintes linhas de ação, todas elas
dependentes de mão-de-obra técnica treinada:
1. expansão continuada da produção indus-
trial;
2. expansão das infra-estruturas de energia,
transportes e comunicações do País;
3. desenvolvimento do suprimento nacional
de matérias-primas nacionais, tendo em vista
diminuir a dependência da produção em ex-
pansão, de matérias-primas importadas;
4. racionalização do processo industrial visan-
do qualidade e competitividade;
5. participação crescente da engenharia na-
cional nos projetos de fábricas e equipamen-
tos para a expansão industrial, inclusive visan-
do à exportação de engenharia;
6. diminuição da importação de técnica, com
a definição de setores prioritários de importa-
ção, de um lado, e com o incentivo à criação
local de tecnologia, do outro.
Para atender estas necessidades, o sistema
deverá tratar a mão-de-obra técnica como um
recurso estratégico e, principalmente, procurar
identificar, onde quer que elas estejam, as ca-
pacidades e as vocações para especializações
mais críticas, tais como: gerência técnica, pro-
jeto e pesquisa. O
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