Prévia do material em texto
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM Unidade 2 Psicopedagogia CEO DAVID LIRA STEPHEN BARROS DIRETORA EDITORIAL ALESSANDRA FERREIRA GERENTE EDITORIAL LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS PROJETO GRÁFICO TIAGO DA ROCHA AUTORIA RAQUEL ELISABETH DUMASZAK 4 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 A U TO RI A Raquel Elisabeth Dumaszak Olá. Sou formada em Psicologia, nas modalidades bacharelado e licenciatura, e, desde então, atuo com Psicologia, Educação e Aprendizagem. Tenho interesse por assuntos que envolvem neurociências, comportamento e cognição, temáticas que segui na pós-graduação. Fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes e espero contribuir bastante com seu aprendizado teórico e profissional! 5PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 ÍC O N ES 6 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Origem da Psicopedagogia ....................................................... 9 Introdução ............................................................................................................. 9 Breve histórico da Psicopedagogia .................................................................. 9 A Psicopedagogia brasileira ............................................................................12 A Psicopedagogia ..............................................................................................16 Concepções teóricas da Psicopedagogia ............................... 18 Notas introdutórias ...........................................................................................18 Behaviorismo ......................................................................................................18 Humanismo .........................................................................................................19 Associacionismo .................................................................................................21 Construtivismo ...................................................................................................22 A Psicanálise .......................................................................................................24 Psicopedagogia na prática ..................................................... 28 Introdução ...........................................................................................................28 Avaliação e diagnóstico psicopedagógico .................................................... 30 A avaliação psicopedagógica ...........................................................32 O diagnóstico psicopedagógico ...................................................... 35 Atuação do psicopedagogo no mercado .............................. 42 Notas introdutórias ...........................................................................................42 O psicopedagogo institucional: atuando na escola ................................... 44 Intervenção psicopedagógica na instituição ................................. 48 SU M Á RI O 7PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 A PR ES EN TA ÇÃ O Nesta unidade, aprenderemos sobre a história da Psicopedagogia e seus precursores e teóricos, conheceremos as práticas e os instrumentos que são utilizados nos atendimentos psicopedagógicos (institucional e clínico) e veremos as diversas formas que o psicopedagogo pode se inserir no mercado de trabalho. A Psicopedagogia é um campo de conhecimento transdisciplinar, que interage com inúmeras áreas e conhecimentos científicos, como Filosofia, Sociologia e Neurologia. As principais áreas que contribuíram, e ainda contribuem, diretamente para a Psicopedagogia são a Educação e a Psicologia. A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem do ser humano em seus diferentes aspectos. A aprendizagem é um processo complexo, influenciado por diversas variáveis, por exemplo, a família, o meio em que o sujeito está inserido, e aspectos físicos e biológicos. Desta forma, a Psicopedagogia analisa e interfere no processo de aprendizagem, a fim de entender como ele funciona, quais são os seus obstáculos e o que fazer para superá-los. Podemos destacar dois enfoques de atuação psicopedagógica: o terapêutico e o preventivo. No enfoque preventivo, a Psicopedagogia age no sentido de antecipar possíveis obstáculos para a aprendizagem, fazendo com que o processo flua melhor. No terapêutico, a dificuldade de aprendizagem já está aparente, ou seja, os problemas já estão acontecendo. A Psicopedagogia, então, age no sentido de auxiliar o indivíduo a pensar em uma solução para tal dificuldade. A Psicopedagogia, por ser uma área transdisciplinar, insere-se em diferentes tipos de atuação. Pode estar presente na escola, em hospitais, empresas, ONGs e clínicas de atendimento à saúde de modo geral. Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar neste universo de conhecimento. Então, preparado? Vamos lá! 8 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 O BJ ET IV O S Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Entender a origem da Psicopedagogia, identificando seus principais marcos históricos. 2. Definir os conceitos segundo as concepções teóricas da Psicopedagogia. 3. Aplicar as técnicas de avaliação e diagnóstico psicopedagógicos. 4. Discernir sobre a atuação do psicopedagogo no mercado. E, então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! 9PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Origem da Psicopedagogia OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender a origem da Psicopedagogia, identificando seus principais marcos históricos. Além de compreender a relevância deste saber, o cenário atual deste setor e a atuação de seus profissionais no mercado de trabalho. E, então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Introdução A Psicopedagogia surgiu da necessidade de se entender mais os problemas de aprendizagem e tem se tornado uma área de conhecimento específico, que tem se difundido principalmente entre os profissionais da Educação e da Psicologia que buscam sistematizar os conhecimentos não somente sobre as dificuldades de aprendizagem, mas também – e principalmente – acerca da importância e das nuances do processo de ensino e aprendizagem. Desse modo, a Psicopedagogia é um campo de conhecimento multidisciplinar, que atua em duas frentes: a preventiva e a “curativa”. Breve histórico da Psicopedagogia Em meados do século XIX, surgiram na Europa os primeiros estudos sobre a criança que não aprendia. Janine Mery, psicopedagoga francesa, aponta este século como aquele em que teve início o interesse por compreender e atender portadores de deficiências sensoriais, debilidade mental e outros problemas que poderiam comprometer a aprendizagem. Jean Itard, médico francês (1774-1838), estudou sobre a percepção e o retardo mental. A partir daí, foram surgindo outros 10 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 pesquisadores e estudiosos, como o educador suíço Johann H. Pestalozzi (1746-1827), o educador francês Jacob R. Pereira e o médico e educador francês Édouard Seguin (1812-1880). Esses educadores foram pioneiros no tratamento das dificuldades de aprendizagem. Contudo, eles se preocupavam com as deficiências sensoriais e debilidades mentais. Figura 1 - Johann Heinrich Pestalozzi Fonte: Wikimedia Commons Na Europa do séc. XX, tínhamos o avanço do capitalismo, avanços científicos e uma expansão nas concepções teóricas que buscavam justificar as desigualdades sociais, e, aqui, os primeiros problemas de aprendizagem foram verificados. Neste contexto, surge na França, além da psicopedagoga Janine Mery, George Mauco (1899-1988), que foram pioneiros em utilizar o termo Psicopedagogia paracaracterizar uma ação terapêutica. Mauco foi o fundador, juntamente com J. Boutonier, do primeiro Centro Médico-Psicopedagógico na França, em 1946. Esse Centro tinha como finalidade tratar crianças com comportamentos inadequados socialmente, com o objetivo de adaptá-los. 11PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 A Pedagogia Curativa, exercida na França, era um método que favorecia a readaptação pedagógica do aluno, auxiliando na aquisição de conhecimento científico e também no desenvolvimento pessoal. Isso é o que está no cerne daquilo que hoje chamamos de Psicopedagogia. VOCÊ SABIA? Na América do Sul, a Psicopedagogia teve destaque na Argentina, tendo suas ideias pautadas na literatura francesa. Os estudos argentinos foram marcados pelos autores franceses, como: Lacan (1901-1981) e sua Psicanálise Estruturalista, Maud Mannoni (1923-1998), fundadora da Escola Experimental de Bonneuil-Sur-Marne, Françoise Dolto (1908-1988), especialista em distúrbios da psicomotricidade e da linguagem, Janine Mery, ainda viva, que considerava o pedagógico e o psicológico no tratamento de distúrbios de aprendizagem, Michel Lobrot, pedagogo, psicopedagogo e teórico dos efeitos da autoridade na educação e outros mais que foram importantes na fundamentação desse campo. Na Argentina, a graduação de Psicopedagogia surgiu em meados da década de 1950, na Universidade de Buenos Aires, com a escola de Psicologia e tinha como eixo central de formação as práticas da docência, assistência e investigação. Mais tarde, na década de 1970, com a criação dos Centros de Saúde Mental, houve uma mudança, os psicopedagogos começam a incluir no seu trabalho o olhar e a escuta da Psicanálise (BOSSA, 2000). Assim, passou-se a valorizar a área clínica da Psicopedagogia, incluindo o diagnóstico e tratamento das crianças que não aprendem. Na prática do psicopedagogo argentino, estavam presentes vários testes, por exemplo: as provas de inteligência (Wisc), as provas de nível de pensamento (Piaget), a avaliação 12 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 do nível pedagógico (Eoca), a avaliação perceptomotora (teste Bender), os testes projetivos (CAT, TAT, desenho da família, desenho da figura humana e HTP), os testes psicomotores (provas de estruturas rítmicas e o teste da lateralidade) e o jogo psicopedagógico (objetos lúdicos). Isso difere muito da atuação no Brasil, pois a utilização de muitos desses testes era somente permitida para psicólogos. A Psicopedagogia Argentina influenciou fortemente a Psicopedagogia no Brasil. Os teóricos que se destacam são: Jorge Visca (1935-2000) com sua Epistemologia Convergente e Emília Ferreiro com seus estudos sobre o processo de alfabetização. Citamos também Sara Pain, por meio de seus estudos que diferenciam os problemas de aprendizagem dos problemas das instituições, e Alícia Fernández (1946-2015), que introduz a escuta e o olhar psicanalítico nos atendimentos psicopedagógicos (escuta psicopedagógica). SAIBA MAIS Quer se aprofundar na história da Psicopedagogia? Então recomendamos a leitura do livro “A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática” de Nadia Bossa. A Psicopedagogia brasileira Como já vimos, no Brasil, a Psicopedagogia tem forte influência das ideias argentinas, pela proximidade geográfica e também pelo fácil acesso à literatura. 13PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Figura 2 – Psicopedagogia Fonte: Freepik A Psicopedagogia no Brasil pode ser dividida em três momentos históricos. No primeiro, meados da década de 1960, a maneira de se pensar sobre os distúrbios de aprendizagem sofreu algumas transformações. Antes, a criança era considerada inapta diante do sistema convencional de educação e era avaliada e encaminhada para um trabalho de reeducação, que se utilizava da repetição e do treino de exercícios referentes à dificuldade de aprendizagem. Posteriormente, levantaram-se hipóteses de que essas dificuldades estavam relacionadas à carência cultural dos brasileiros. O aspecto orgânico foi somado a outros fatores, principalmente ao manejo inadequado das instituições. No segundo momento, por volta das décadas de 1970 e 1980, a Psicopedagogia ampliou o seu objeto de estudo, ocupando- se com a compreensão mais generalizada da aprendizagem humana. Buscou fundamentos em outras disciplinas, como: a Psicanálise, a Psicologia Genética, a Linguística, a Neurologia, a Sociologia e a Filosofia. A Psicopedagogia foi além de prevenir possíveis desajustes na aprendizagem, otimizando os processos e produzindo conhecimento. O indivíduo foi inserido em um 14 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 contexto, e o olhar da Psicopedagogia começou a considerar suas múltiplas dimensões: aspecto orgânico, aspecto subjetivo e aspecto sociocultural. Na década de 1970, surgiram os primeiros cursos de especialização em Psicopedagogia, voltados para a formação complementar de psicólogos e educadores. Na década de 1980, começou-se a disseminar teorias sobre o problema de aprendizagem escolar, que passou a ser chamado também de “problema de ensinagem”. Em Porto Alegre, profissionais organizaram um centro de estudos de Psicopedagogia e, em 1970, iniciaram os cursos de formação na Clínica Médico–Pedagógica com duração de dois anos. Em 1984, foi realizado em São Paulo o primeiro encontro de Psicopedagogia, com a presença de Clarissa Golbert e Sonia Kiguel. A partir deste evento, criou-se um grupo de estudos de Psicopedagogia, que mais tarde se tornaria a Associação de Psicopedagogos de São Paulo e, posteriormente, a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). A criação da associação foi um marco para a institucionalização da profissão de psicopedagogo no Brasil. ACESSE Conheça o site da Associação. Lá tem várias informações sobre eventos, documentos, publicações e novidades referentes à Psicopedagogia. Disponível no QR-Code. http://www.abpp.com.br 15PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Em 1979, foi criado o primeiro Curso de Psicopedagogia no Instituto Sedes Sapientiae em São Paulo, com o objetivo de valorizar a ação do educador. Começou com o tema da reeducação em Psicopedagogia, depois assumiu um caráter terapêutico, discutindo também o papel do psicopedagogo e a sua identidade profissional. Assim, as mudanças continuaram refletindo sobre a prática psicopedagógica. Atualmente, a formação em Psicopedagogia se dá por meio de cursos de graduação e de pós-graduação em institutos de ensino superior espalhados pelo país. VOCÊ SABIA? A atividade de Psicopedagogia foi regulamentada no Brasil somente em 2014, após anos de tramitação no congresso. De acordo com o texto do Projeto de Lei da Câmara n.° 31 de 2010, podem exercer essas atividades profissionais que possuam diploma de graduação em Psicopedagogia, profissionais psicólogos, pedagogos ou licenciados e fonoaudiólogos que tenham concluído o curso de especialização em Psicopedagogia. Disponível no QR-Code. O terceiro momento, ainda muito ligado ao segundo, tem como foco o processo de construção do sujeito. Sujeito esse que pensa, sente, relaciona-se e tem uma história, ou seja, um sujeito pluridimensional. Assim, entendemos que a Psicopedagogia brasileira ainda é um campo em construção, em busca de uma identidade formal, mas que nem por isso é menos estruturada que qualquer outro campo do saber. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2014/02/05/senadores-aprovam-regulamentacao-da-profissao-de-psicopedagogo 16 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 A Psicopedagogia A Psicopedagogia, como disciplina confluente, é apoiada pela Psicologia e Pedagogia e concebe sua interseção disciplinar, para formar um profissional que irá trabalhar com o professor para resolver esses problemas. A partir disto, a fundação dessas disciplinas conjuntas incorporou outro conhecimento epistemológico, antes do grande e rápido desenvolvimento científico, tecnológico, social, filosófico,econômico, político, antropológico e ecológico, estendendo a sua epistemológica e local de trabalho, a ponto de resolver a junção entre elas, construção ou ciência. Hoje, dizemos que é uma construção disciplinar que lida com o processo de aprendizagem de todo ser humano ao longo de seu ciclo de vida, desde o processo de gênese ou gravidez até sua finalidade. O entendimento se dá como o processo de mudança de comportamentos dos seres humanos em todo o seu desenvolvimento de vida, que é operado pela interação com o ambiente sociocultural, que é realizada no tempo e estabilizada, permitindo adaptação à realidade atual. Por isso, não só trata de um processo de aprendizagem saudável e adaptativo, mas também de fraturas, sejam elas causadas por desequilíbrios bioquímicos, funcionais ou socioambientais. A Psicopedagogia abre sua intervenção em diferentes campos disciplinares, saúde, educação, trabalho, terceira e quarta idade, judicial, meios de comunicação, atendendo várias funções, incluindo: gestão, aconselhamento, diagnóstico, tratamento, prevenção, entre outras. O eixo da abordagem psicopedagógica é, sem hesitação, o processo diagnóstico psicopedagógico, em Saúde, Educação ou qualquer um de seus campos. Como 17PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 qualquer processo avaliativo, ele tem uma sequência de etapas, começando no início, propondo um desenvolvimento e terminando com um encerramento. RESUMINDO E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter compreendido a origem da Psicopedagogia, identificando seus principais marcos históricos, desde o seu surgimento e desenvolvimento no contexto mundial até a sua chegada e seu desenvolvimento no Brasil. Assim, você pôde compreender a importância que a Psicopedagogia exerceu na vida das pessoas e os avanços que ela ocasiona para elas. Por fim, com uma abordagem geral sobre a Psicopedagogia, vimos que ela é apoiada pela Psicologia e Pedagogia e concebe sua interseção disciplinar, para formar um profissional que irá trabalhar com o professor para resolver esses problemas. 18 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Concepções teóricas da Psicopedagogia OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de definir os conceitos segundo as concepções teóricas da Psicopedagogia. E, então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Notas introdutórias Desde o surgimento da Psicopedagogia, incontáveis abordagens teóricas contribuíram para a construção de um saber sobre os processos de aprendizagem e suas dificuldades. A Psicopedagogia é um campo de saber interdisciplinar. Suas concepções teóricas têm como fonte principal a Educação e a Psicologia. Nos anos 1960 e 1970, as teorias mais utilizadas na Psicopedagogia eram o Behaviorismo e o Humanismo. Vejamos a seguir. Behaviorismo No Behaviorismo, temos o ensino tradicional, em que o estímulo da criticidade e da reflexão era basicamente nulo. O professor era reconhecido como um instrutor, em uma relação vertical com o aluno. O psicólogo norte-americano Jonh B. Watson (1878-1958), que era um dos importantes teóricos dessa corrente, afirmava que monitorando e controlando os estímulos corretos de uma criança, ao longo do seu crescimento, poderíamos transformá-la no que quiséssemos. Ou seja, a aprendizagem era entendida como um processo externo, que se concretizava na 19PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 equação estímulo-resposta e, controlando as variáveis do meio externo, teríamos controle sobre a aprendizagem. Figura 3 - John B. Watson Fonte: Wikimedia Commons ACESSE Assista ao vídeo “Behaviorismo (1): metodológico e radical”, disponível no QR-Code. Humanismo O Humanismo teve como seu principal representante o psicólogo americano Carl Rogers (1902-1987). Em sua teoria, era valorizada a criatividade do aluno e sua liberdade, com o objetivo de favorecer a aprendizagem. O professor é https://youtu.be/ipHFpXAgjiA acesso: 16/04/19 20 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 considerado um facilitador do processo, devendo aguardar que seus alunos assumam o controle sobre as suas ações em direção à aprendizagem. Rogers afirmava que o indivíduo é responsável pela capacidade de mudança e que o importante não é aprender certos conteúdos, mas sim sua autorrealização e o aprender a aprender. Figura 4 - Carl Rogers Fonte: Wikimedia Commons ACESSE Sobre a terapia não diretiva de Carl Rogers e a tarefa do professor como facilitador do aprendizado, leia o artigo “Carl Rogers, um psicólogo a serviço do estudante” de Márcio Ferrari. Para realizar a leitura, clique no QR-Code. https://novaescola.org.br/conteudo/1453/carl-rogers-um-psicologo-a-servico-do-estudante 21PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Na história mais recente da Psicopedagogia, observa- se que existem três teorias que são discutidas: a Psicanálise, o Associacionismo e o Construtivismo. Associacionismo O principal representante do associacionismo foi Edward Thorndike (1874-1949). Figura 5 - Edward Thorndike Fonte: Wikimedia Commons Para esta teoria, a aprendizagem se dá por um processo de associação de ideias, do mais simples para o mais complexo. Assim, o ensino é mais tecnicista, não priorizando as funções cognitivas. Os conteúdos são aplicados sequencialmente para que o aluno siga um raciocínio até chegar à resposta correta. 22 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 SAIBA MAIS Você sabia que a origem do Associacionismo remonta de longa data? Saiba mais, leia o artigo “Como surgiu o associacionismo”. Disponível no QR-Code. Construtivismo Como alternativa ao Associacionismo, surgiu o Construtivismo. Essa teoria não beneficia somente os conteúdos, mas também a construção do conhecimento, valorizando as interações feitas no processo. Figura 6 - Jean William Fritz Piaget Fonte: Wikimedia Commons https://filosofarhiliete.blogspot.com/2011/09/como-surgiu-o-associacionismo.html 23PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 O Construtivismo é inspirado pelos estudos de Jean Piaget, teórico suíço que representa essa abordagem. Ele acreditava que a criança precisa assimilar o conhecimento para depois acomodá-lo. Cada conhecimento que é acomodado leva o sujeito a alcançar a adaptação e a organização de todo novo conhecimento. A aprendizagem acontece em cada procedimento, não privilegiando nem o início nem o fim do processo, mas cada passo. Piaget propôs quatro estágios de desenvolvimento da infância: • Período sensório-motor (0-2 anos). • Período pré-operacional (2-7 anos). • Período operacional concreto (7-11). • Período operacional formal (11 e mais, até cerca de 19 anos). Em cada um desses estágios, segundo o estudioso, a criança amadurece habilidades e capacidades, entre elas a de percepção e representação do meio, o autoconhecimento e as relações sociais mais intensas, o estabelecimento de relações de respeito e obediência, e a busca por situar a sua identidade pessoal e o seu meio social. SAIBA MAIS Leia o artigo “Desenvolvimento infantil: o que é? Conheça as 4 fases de Jean Piaget”. Acesse o link disponível no QR-Code. https://www.opas.org.br/desenvolvimento-infantil-o-que-e-e-as-4-fases-de-jean-piaget/ 24 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 A Psicanálise A Psicanálise surgiu no início do século XX, por meio dos estudos do médico neurologista austríaco, Sigmund Freud (1856- 1939). Embora o objeto da Psicanálise não seja a Educação, ela também contribui para o arcabouço teórico da Psicopedagogia. Melanie Klein (1882-1960), psicanalista austríaca e seguidora de Freud, sugere que sempre haverá um objeto a ser conhecido, alguém que impulsiona para o conhecimento e que o vínculo afetivo é como uma ponte, estabelecendo conexões para que tanto o emocional quanto o intelectualse desenvolvam. Figura 7 – Melanie Klein em 1952 Fonte: Wikimedia Commons Percebemos que o arcabouço teórico se organizou principalmente a partir de teorias como a Psicanálise e Psicologia Genética. 25PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Você já sabe que autores como Sara Paín, Jorge Visca e Alicia Fernandez foram pioneiros na criação de um modelo de diagnóstico e intervenção psicopedagógica. Para fazer um diagnóstico, é importante entender como a criança aprende em diferentes contextos, seja na família ou no mundo externo. É preciso, então, adentrar o mundo desse sujeito, compreendendo como ele vê o mundo. Para que isso ocorra, precisamos atentar a três estruturas: Figura 8 – Estruturas do ser humano Estrutura biológica Estrutura psíquica Estrutura mental Fonte: Elaborada pela autoria (2023). Sobre essas estruturas, destacaremos três teóricos da Psicologia que fazem parte do referencial teórico da Psicopedagogia. A estrutura biológica se refere à maturação ou aos danos do Sistema Nervoso Central (SNC). Em seus estudos, Vygotsky apontava para a importância que a maturação tem nos processos de aprendizagem. Foi ele também que assinalou a noção de neuroplasticidade, possibilitando intervenções que podem reverter quadros aparentemente irreversíveis. Vygotsky afirmava que todo ser humano é capaz de aprender no seu tempo. A estrutura psíquica compreende os aspectos subjetivos do indivíduo. Destacamos Sigmund Freud, que formulou aTeoria do Aparelho Psíquico, composto por: consciente, pré-consciente e inconsciente, que apontam para o funcionamento dinâmico 26 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 do psiquismo, e, em segundo lugar, o id, o ego e o superego, que são as suas diferentes instâncias. A teoria freudiana até hoje é fortemente marcada pela descoberta do inconsciente e suas influências no cotidiano. A estrutura mental é onde estão os processos mentais que serão utilizados para a construção de conhecimento. Destaque para Piaget, que descreveu os estágios do desenvolvimento cognitivo, que são: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. O teórico dizia que o aprendizado se dá por meio de desafios que geram desequilíbrios e que depois geram equilíbrio novamente, assim sucessivamente até que se desenvolva o nível operatório formal. Também destacamos os estudos da Psicologia Social de Pichon-Rivière, da Psicologia Institucional de Bleger e da Análise Institucional de Lapassede, que impulsionaram os estudos da Psicopedagogia Institucional. EXPLICANDO MELHOR São inúmeras as teorias que influenciaram e ainda influenciam as concepções psicopedagógicas. Dado o seu caráter transdisciplinar, devemos também reconhecer as áreas de conhecimento que foram e são responsáveis pela composição desse campo de saber. São elas: a Filosofia, a Neurologia, a Sociologia, a Linguística, a Psicologia e principalmente a Educação. 27PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 RESUMINDO E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Aprendemos sobre o Behaviorismo, que foi impulsionado por Jonh B. Watson, que afirmava que monitorando e controlando os estímulos corretos de uma criança, ao longo do seu crescimento, poderíamos transformá-la no que quiséssemos. Em seguida, estudamos sobre o Humanismo que teve como representante Carl Rogers, sendo valorizada a criatividade do aluno e sua liberdade, com o objetivo de favorecer a aprendizagem. Vimos também o Associacionismo que teve como principal representante Edward Thorndike, defendendo que a aprendizagem se dá por um processo de associação de ideias, do mais simples para o mais complexo. No que diz respeito ao Construtivismo, a inspiração são os estudos de Jean Piaget que acreditava que a criança precisa assimilar o conhecimento para depois acomodá- lo. Por fim, estudamos sobre a Psicanálise e as suas três estruturas: estrutura biológica se refere à maturação ou aos danos do sistema nervoso central; estrutura psíquica compreende os aspectos subjetivos do indivíduo; e estrutura mental na qual estão os processos mentais que serão utilizados para a construção de conhecimento. 28 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Psicopedagogia na prática OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de aplicar as técnicas de avaliação e diagnóstico psicopedagógicos. E, então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Introdução A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, entendendo que tal aprendizagem ocorre de forma processual e contextualizada. Isso quer dizer que a Psicopedagogia considera que a aprendizagem envolve o sujeito como um todo: seus aspectos físico-biológicos, afetivo-emocionais e também socioculturais, que influenciam e são influenciados a todo o momento pelo meio em que o sujeito está inserido. A partir disso, podemos fazer os seguintes questionamentos: como se aprende? Como essa aprendizagem varia gradativamente e está condicionada por vários fatores? Como se produzem alterações na aprendizagem? Como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las? Não temos todas as respostas. Mas, disso se trata a prática e o objeto de estudo da Psicopedagogia: compreender que esse objeto é um sujeito complexo, que adquire características específicas a depender da sua vivência e maneira de perceber o mundo. O psicopedagogo deve estar comprometido com qualquer tipo de aprendizado e de ensino, não somente o que é exercido na escola. Diante desse objeto de estudo, a Psicopedagogia tem duas formas principais de atuação, seja no âmbito clínico ou institucional: a preventiva e a terapêutica. 29PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Na atuação preventiva, a ação é com a equipe envolvida no processo, como os professores, familiares e a comunidade de vários modos. Destacamos algumas formas de atuação de forma preventiva: • Participar das dinâmicas das relações da comunidade educativa, com o objetivo de favorecer processos de integração e troca. • Promover reflexão e orientação metodológica, a fim de encontrar soluções mais acessíveis. • Realizar processos de orientação educacional, ocupacional, em grupo ou individualmente. • Proporcionar momentos de reflexão sobre o papel da escola para a comunidade. • Proporcionar reflexão sobre habilidades, princípios e estratégias que são importantes para a aprendizagem. • Auxiliar a equipe escolar na determinação, escolha e elaboração dos objetivos educacionais, das estratégias de ensino e dos instrumentos de avaliação. Na prática terapêutica, entendemos que o psicopedagogo irá atuar principalmente com o sujeito ou instituição que demanda uma atenção específica. O enfoque terapêutico tem como premissa a identificação, análise e elaboração de uma metodologia diagnóstica e tratamento das dificuldades no processo de aprendizagem. Destacamos também algumas atividades na prática terapêutica, que são: • Discutir, preparar e ajudar o professor no encaminhamento de alunos para atendimento psicopedagógico em grupo ou individualmente. 30 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 • Participar do diagnóstico de distúrbios de aprendizagem. • Atendimento clínico de demandas de transtornos e distúrbios de aprendizagem. • Auxiliar o professor a compreender o problema ou bloqueio do aluno, levando alternativas para a solução. A prática da Psicopedagogia, seja preventiva ou terapêutica, deve ser pensada em um enfoque transdisciplinar, analisando sempre as bases do processo de aprendizagem. Estas bases estão presentes na existência do homem, na sua constituição, no seu modo de aprender e/ou ensinar, nas diferenças e singularidades que existem. A transdisciplinaridade implica em um modo de entender o processo de aprendizagem como complexo plural, que considera ascapacidades humanas e suas diversas maneiras de elaborar, simbolizar, captar, criar, mostrar e expressar algum conhecimento. ACESSE Recomendamos que assista ao vídeo “Psicopedagogia (parte 1)”, da Psicopedagoga Nadia Bossa, para aprofundar mais seu conhecimento sobre a Psicopedagogia, disponível no QR-Code. Avaliação e diagnóstico psicopedagógico O objeto da Psicopedagogia é, como temos afirmado, o processo de aprendizagem do sujeito em questão. Dito isto, https://youtu.be/YPCMnUr2RVE 31PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 entendemos que a sua prática se insere nesse contexto: levar aqueles que têm alguma dificuldade de aprendizagem por um caminho que os conduza a uma melhor execução desse processo e também que resgatem o prazer de adquirir novos conhecimentos. Há vários fatores que interferem na aprendizagem. Por isso a importância de identificar quais são esses fatores, para, então, poder minimizar a sua interferência nesse processo. Assim como existem várias dificuldades diferentes, há também várias formas de identificá-las, avaliá-las, diagnosticá-las e de tratá-las. Cada psicopedagogo possui um estilo para fazer tal avaliação, de acordo com a sua formação, seus referenciais teóricos e sua forma de compreender o indivíduo. Apresentaremos alguns aspectos da avaliação e do diagnóstico psicopedagógico, mas de uma forma generalista. Lembrando sempre que esse processo deve ser feito de forma ampla, considerando todas as dimensões do sujeito, auxiliando na busca por um caminho que o leve à desconstrução dos bloqueios e das dificuldades no aprendizado. Figura 9 - Atendimento psicopedagógico Fonte: Freepik 32 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 A avaliação psicopedagógica A avaliação psicopedagógica é a forma de iniciar uma investigação dos componentes do processo de aprendizagem. Nela, busca-se coletar dados e informações que servirão de base para fundamentar as decisões para prevenção ou solução dos problemas, dificuldades e bloqueios do sujeito. EXPLICANDO MELHOR A avaliação é um processo dinâmico, que tem como objetivo entender a origem da dificuldade e/ ou do distúrbio apresentado na queixa. Ela inclui a entrevista inicial com os pais, com a criança e também com a escola, análise de material escolar e a utilização de recursos como: testes, atividades e instrumentos de avaliação de desenvolvimento, áreas de competência e dificuldades apresentadas. Algumas etapas da avaliação psicopedagógica: a. Identificação dos fatores responsáveis pelas dificuldades da criança. b. Levantamento do repertório infantil relativo às habilidades acadêmicas e cognitivas. c. Identificação de características emocionais da criança. Na primeira etapa descrita, o psicopedagogo deve identificar quando se trata de um transtorno de aprendizagem ou de uma dificuldade advinda por outros fatores (emocionais, cognitivos ou sociais). São coletados dados referentes à dificuldade da criança e investiga-se a existência de quadros neurológicos, psicológicos, psiquiátricos, condições familiares e ambiente escolar. Para que essa investigação tenha maior credibilidade, é necessária uma equipe multidisciplinar, com psicólogos, neuropediatras, fonoaudiólogos e outros que sejam 33PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 adequados ao caso, além de ter uma boa parceria e cooperação com a escola. Na segunda etapa, é importante que o profissional tenha conhecimento sobre as habilidades que a criança já possui, ou que já teve a oportunidade de adquirir. Para isso, indica- se que seja feito um levantamento do conteúdo acadêmico, da proposta pedagógica da escola que a criança está inserida, investigação da atenção, hábitos de estudo, solução de problemas, psicomotricidade, desenvolvimento da linguagem, avaliação de requisitos que facilitem a aprendizagem, padrões de raciocínio, déficits e preferências da criança. A terceira etapa envolve a investigação de estímulos e reforçadores aos quais a criança responde ou não, além de entender qual a interação com as exigências e expectativas escolares e familiares que recaem sobre ela. Para que essas etapas sejam concluídas, podem ser realizadas diversas atividades, tudo vai depender da forma como o psicopedagogo vai conduzir o processo de avaliação e também da sua criatividade. Muitas vezes a queixa trazida pelos pais ou pela escola já indica o caminho inicial para a investigação, além da forma com que eles compreendem a dificuldade da criança e qual é o lugar que ela ocupa. Isso também é uma informação importante para a avaliação da queixa inicial. Podem ser realizadas atividades matemáticas, provas de nível de pensamento e outras funções cognitivas, leitura, escrita, desenhos e jogos. Outros instrumentos que também podemos destacar são: escrita livre e dirigida que avalia a grafia, ortografia e produção de texto, leitura (que avalia a decodificação e compreensão), provas de avaliação de nível de pensamento e funções cognitivas como atenção, cálculos, jogos simbólicos e jogos com regras, desenho e análise de grafismo. 34 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Existem ainda outros recursos, como os testes psicométricos. Mas, no Brasil, estes são de uso exclusivo dos profissionais da Psicologia. Depois de coletadas as informações e os dados necessários, o psicopedagogo elabora uma intervenção que busca solucionar minimamente os problemas de aprendizagem. A avaliação também serve para reorganizar a vida escolar e doméstica da criança. A avaliação nada mais é do que a localização das dificuldades e o comprometimento com a sua superação. Esse comprometimento tem que partir de todos os envolvidos na questão: criança, família, escola e profissional psicopedagogo. IMPORTANTE Ressaltamos que a avaliação deve ser um processo breve, e que o diagnóstico, em muitos casos, somente é concluído no decorrer do tratamento. Além disso, é importante dizer que nem todos que se submetem a uma avaliação psicopedagógica irão necessitar ou continuar em um atendimento nessa área. As dificuldades avaliadas e identificadas durante o processo (salvo em casos de transtorno de aprendizagem ou uma questão mais grave) podem ser solucionadas por outras vias, por exemplo: um programa de assistência ao aluno na escola ou encaminhamento para outro profissional (psicólogo, fonoaudiólogo etc.). A avaliação psicopedagógica irá fornecer informações importantes e necessárias em relação às dificuldades do aluno, bem como de seu contexto escolar, familiar e social. Com tais informações, justifica-se a real necessidade de intervir, gerando modificações na proposta educacional em que a criança está inserida, no seu meio social e nas suas funções cognitivas. Esta avaliação pode ou não dar início a um atendimento 35PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 psicopedagógico, pois algumas dificuldades de aprendizagem podem ser solucionadas em outros contextos, como a escola, atendimentos psicológicos, assistência à família etc. Daí a importância fundamental de se ter uma equipe multidisciplinar disponível no momento da avaliação. ACESSE No vídeo, disponível no QR-Code, Nadia Bossa relata um caso de atendimento psicopedagógico inicial, avaliação e processo diagnóstico. O diagnóstico psicopedagógico Estabelecer um diagnóstico é uma tarefa difícil, para tanto, é necessária à participação de uma equipe multidisciplinar e, também, a utilização de recursos variados, a fim de se fazer uma investigação e um levantamento de hipóteses que serão testadas ao longo do processo. Acreditamos que o diagnóstico não é um dado concreto e vitalício, mas é um conjunto de informações e dados referentes a um dado momento do sujeito. Isso significa dizer que um diagnóstico deve ser revisto e atualizado periodicamente, não servindo de rótulo para essas crianças. https://youtu.be/KYh2PpXxY6E 36 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Figura 10 - Diagnóstico psicopedagógicoFonte: Freepik O diagnóstico psicopedagógico é uma investigação que abre os caminhos para uma intervenção mais precisa, dando início ao processo de superação das dificuldades. O objetivo do diagnóstico é entender qual o obstáculo no processo de aprendizagem e quais são os caminhos para superá-lo. É uma forma de se analisar a situação do aluno, seja no contexto escolar, da sala de aula, familiar ou social. NOTA Durante esse processo, é importante que o psicopedagogo esteja atento ao discurso, à postura, à atitude do paciente e também dos envolvidos com a queixa. Esses comportamentos dão dicas importantes a respeito das questões que devem ser avaliadas. Ter esse olhar e escuta atenta possibilita lançar mão das primeiras hipóteses sobre o indivíduo. Esses dados que chegam por meio da percepção do profissional, muitas vezes, ultrapassam os dados relatados. Cabe ao profissional buscar nas entrelinhas, na emoção e na elaboração do discurso informações que estão implícitas e, por vezes, inconscientes. 37PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 O diagnóstico, para ser mais preciso, envolve ao menos três áreas profissionais: Neurologia, Psicopedagogia e Psicologia. Estes campos de conhecimento possibilitam a identificação das causas do problema, além de descartarem possíveis fatores que não são importantes ou hipóteses infundadas. O objetivo é compreender de forma global o modo como o indivíduo aprende e quais os desvios que ocorrem durante o processo. Isso levará a um encaminhamento e prognóstico mais acertados para cada caso. Os dados obtidos em relação aos diferentes aspectos do indivíduo são organizados de forma particular e são individualizados. Nesse momento, o psicopedagogo deve interagir com as partes envolvidas na queixa e no processo de aprendizagem: aluno, família e escola. O diagnóstico deve ser um trabalho conjunto, no qual os envolvidos participam de fato do processo. Ele não aponta somente para as manifestações aparentes das dificuldades escolares, mas implica em uma investigação profunda, na qual são identificadas questões que interferem no desenvolvimento do aluno e sugerem atividades adequadas para a compreensão e correção dessas dificuldades. IMPORTANTE É importante dizer que o diagnóstico é tão relevante quanto o tratamento, devendo ser conduzido com muito cuidado, observando a criança e suas mudanças de comportamento. É necessário também que o profissional atente para o significado do sintoma no âmbito familiar e escolar, não analisando apenas como um recorte. O diagnóstico não pode ser considerado um momento estático. Ele deve ser visto como um momento transitório, uma 38 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 fase a ser concluída entre a avaliação e a intervenção. Para isso, deve seguir alguns princípios, como: análise do contexto e identificação do sintoma, análise de fatores coexistentes com o sintoma, bloqueio de ordem do conhecimento, de ordem da interação, da ordem do funcionamento e da estrutura, análise da origem do sintoma e suas causas históricas, diferenciação dos parâmetros aceitáveis de desenvolvimento, levantamento de hipóteses de confirmação futura, indicações e encaminhamentos. A hipótese diagnóstica não deve se fundamentar apenas nas dificuldades e nos problemas, mas indicar também e, principalmente, as potencialidades do indivíduo. Não somente as características e habilidades que o sujeito já possui que são importantes, mas também o que ainda está por se desenvolver, aquilo que o sujeito pode se tornar. Isso é muito importante e deve ser valorizado. Ao pensar nos instrumentos para o diagnóstico, o psicopedagogo pode utilizar como recursos: a entrevista com a família e com a escola e investigar o motivo da queixa. É importante conhecer o histórico da criança, fazendo a anamnese, entrevistando o aluno, contatar a escola e outros profissionais e realizar encaminhamentos quando necessário. Existem também os testes. Provas de inteligência (Wisc), testes projetivos (HTP), avaliação perceptomotora (Teste de Bender), teste de apercepção infantil (CAT) e teste de apercepção temática (TAT). Mas estes são de uso exclusivo dos profissionais psicólogos, pois são necessários uma formação específica e o registro no conselho profissional para sua utilização. Mas o psicopedagogo pode utilizar outros instrumentos, como as provas piagetianas, desenhos e testes que mencionam o nível de pensamento e de escolarização. Além disso, pode usar a criatividade para elaborar atividades que possibilitem as mesmas observações feitas nos testes. 39PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Os jogos, tanto os simbólicos quanto os jogos com regras, são importantes recursos também. Por meio deles, o sujeito manifesta sua visão de mundo, seus mecanismos de defesa e seus desejos. Nos jogos, também podem ser simulados problemas reais e cotidianos, apresentando desafios e possibilitando observar como a criança age em determinadas situações. Elencamos algumas etapas do diagnóstico psicopedagógico. Lembrando que essas etapas estão descritas de modo generalizado, pois cada psicopedagogo atua de forma única e singular de acordo com as suas vivências, suas experiências e sua concepção teórica. Quadro 1 - Etapas do diagnóstico psicopedagógico ETAPA DESCRIÇÃO ENTREVISTA FAMILIAR Tem como objetivo compreender a queixa no âmbito da escola e da família. Entender as relações e expectativas referentes à aprendizagem escolar e em relação ao psicopedagogo. Perceber o engajamento do paciente e da família no processo e esclarecimento de possíveis dúvidas. ANAMNESE Colher dados sobre a história do sujeito na família: história presente, passada e projeções para o futuro. Nesta etapa, são levantados dados sobre as primeiras aprendizagens, desenvolvimento geral, histórico clínico, histórico familiar e histórico escolar. É importante também descobrir em que medida a família possibilita o desenvolvimento cognitivo da criança. Nos aspectos gerais de desenvolvimento infantil (controle de esfíncteres, aquisição de hábitos, linguagem etc.), é interessante saber se ocorreram na faixa normal de desenvolvimento ou se houve defasagem. Também é importante investigar o histórico clínico: doenças, como foram tratadas, possíveis sequelas, laudos etc.; e também o histórico escolar: quando começou a frequentar a escola, como foi a adaptação, se houve rejeição ou entusiasmo, troca de escolas, enfim, tudo que envolva positiva ou negativamente o sujeito em questão. 40 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 SESSÕES LÚDICAS São fundamentais para entender todos os aspectos já mencionamos anteriormente. Nesse tipo de atendimento, observamos o sujeito como um todo, pois na brincadeira estão implicados seu funcionamento cognitivo, motor e suas emoções. PROVAS E TESTES Podem e são utilizados para especificar o nível pedagógico, cognitivo e/ou emocional. O seu uso não é obrigatório, mas é uma forma complementar que funciona estimulando e provocando variadas reações e respostas. SÍNTESE DIAGNÓSTICA É a resposta mais direta à queixa inicial. É o momento em que a hipótese é formulada a partir da análise dos dados obtidos. É a síntese que aponta um prognóstico, uma indicação ou um possível encaminhamento. DEVOLUÇÃO E ENCAMINHAMENTO É o encerramento do processo de diagnóstico. Um encontro entre psicopedagogo, sujeito e família, que tem como objetivo relatar os resultados e dar o devido encaminhamento à questão, procurando sanar dúvidas, afastando rótulos e delegando responsabilidades aos envolvidos no processo. É importante ressaltar os pontos positivos do aluno, para que este se sinta valorizado e não inviabilize novas conquistas. Ao mencionar os aspectos negativos, que interferem na aprendizagem, devem ser mencionadas também as recomendações para sua superação. O encaminhamento para outros profissionais também pode ser feito neste momento. Fonte:Moraes (2010). 41PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 RESUMINDO E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. A Psicopedagogia lida com o processo de aprendizagem de forma completa, considerando todos os aspectos que o influenciam: físico- biológico, afetivo-emocional e sociocultural. Atua diante desses aspectos de forma preventiva se antecipando aos problemas de aprendizagem, ou de forma terapêutica, identificando, analisando e dando alternativas para a minimização das dificuldades de aprendizagem. O diagnóstico psicopedagógico é um processo de investigação. Consiste na coleta de dados sobre a criança em seus diversos aspectos, desde o seu desenvolvimento físico, motor, aquisição de linguagem, até o desenvolvimento no âmbito social e escolar, além de todas as relações que o cercam. Nesse processo de avaliação, encontramos algumas etapas, como: entrevistas com a família e escola, anamnese, sessões lúdicas, aplicação de testes, levantamento de hipóteses e, então, o encaminhamento para o tratamento adequado, que pode ou não ser um atendimento psicopedagógico. É importante ter uma equipe de apoio que seja multidisciplinar, para que sejam descartadas hipóteses infundadas e seja uma avaliação mais assertiva. 42 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Atuação do psicopedagogo no mercado OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de discernir sobre a atuação do psicopedagogo no mercado. E, então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Notas introdutórias A Psicopedagogia se insere no mercado de trabalho basicamente com duas formas de atuação: clínica e institucional. Essas duas formas podem se subdividir, atuando em diversos campos e ambientes. Mercado de trabalho é o nome que se dá à relação que existe entre a oferta de trabalho e a procura por trabalhadores, na qual há negociação de preços, quantidades e serviços. Nesse campo, estão incluídas empresas públicas e privadas, de economia mista, pessoas físicas e outros tipos de prestação de serviços A Psicopedagogia Clínica é o modo terapêutico de atuação. O profissional atende em um consultório, a fim de descobrir o porquê de o sujeito não aprender, para, então, iniciar um processo terapêutico, auxiliando na superação das suas dificuldades. Estes atendimentos são realizados normalmente em centros de saúde ou clínicas especializadas, de forma individual, podendo também ocorrer em grupo. Nesse tipo de atendimento clínico, é mais comum a prática da avaliação e do diagnóstico de transtornos de aprendizagem. Na avaliação psicopedagógica, é feita a investigação da queixa e se indicam os caminhos para a intervenção. 43PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 O psicopedagogo precisa estar atualizado com relação aos conhecimentos e às pesquisas científicas da sua área, bem como aos manuais internacionais de diagnóstico, que são o CID- 10 e o DMS-5. Estes manuais devem ser de conhecimento do psicopedagogo não apenas no que diz respeito aos transtornos de aprendizagem, mas também com relação às outras síndromes e aos outros transtornos que podem ser associados. A consulta aos manuais auxilia no estabelecimento de critérios e hipóteses diagnósticas mais precisas, além de favorecer a comunicação com outros profissionais de outras áreas. A Psicopedagogia Institucional tem caráter preventivo e pode se inserir em vários contextos: família, escola, hospital, empresas, organizações assistenciais, ONGs ou no setor público. O objetivo da atuação nesses contextos pode ser: analisar as relações interpessoais, os conhecimentos que circulam e como circulam e pensar alternativas para conflitos. Assim, por exemplo, no trabalho hospitalar, podem ser oferecidas oficinas ou trabalhos lúdicos para os internos. Com as famílias, pode ser oportuno um trabalho sobre a importância das funções materna e paterna, resgatando-se o papel educacional da família, hoje tão esquecido. Na escola, o psicopedagogo pode analisar a identidade da instituição, os papéis e as funções na dinâmica relacional, os conceitos de aprendizagem, ensino, inclusão, o diálogo com as famílias etc. Portanto, nesses diferentes contextos da escola, da empresa, da família, do hospital, para cada situação conflitiva diagnosticada pelo psicopedagogo, torna-se imprescindível pensar, planejar, pesquisar e executar, com o grupo envolvido, um plano de intervenção que possa ressignificar o que atrapalha o bem-estar. Nesse caso, o papel do psicopedagogo é o de facilitador, mediador, ou de auxiliador na busca por alternativas para determinada situação. 44 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Bortolanza, Krakl e Biasus (2005) fazem uma reflexão sobre o papel do psicopedagogo após experiências que tiveram com grupos de idosos. Os autores relatam que o papel do psicopedagogo nesses grupos é o de mediador na construção e reconstrução do conhecimento, interagindo com os idosos no sentido de superar as dificuldades tanto de aprendizagem como na dinâmica do grupo. Para isso, é necessário transpor os conceitos e preconceitos existentes sobre a velhice, reconhecendo o seu valor, sua experiência e sabedoria, investindo nas potencialidades e no poder modificador do afeto. Os autores concluem afirmando que: deu-se início a uma ação-reflexão sobre o saber-fazer psicopedagógico junto ao idoso [...]. O psicopedagogo tem papel importante na inclusão do idoso nos grupos de convivência, facilitando a interação do mesmo com o conhecimento e com seus pares [...]. (BORTOLANZA; KRAHL; BIASUS, 2005, p. 169- 170) O psicopedagogo institucional: atuando na escola Sabemos que, quando se fala em Psicopedagogia, o primeiro campo de atuação que pensamos é a escola. Sem dúvidas que a escola é a instituição que mais requisita a presença do psicopedagogo, seja na sua forma de atuar clínica ou institucional. Neste momento, como já tratamos bastante da prática clínica, avaliação, diagnóstico, recursos e outros aspectos, iremos agora falar sobre a prática institucional, privilegiando a instituição escolar. A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana em seus diversos aspectos: físico-biológico, afetivo- emocional e sociocultural, como já vimos. 45PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 A Psicopedagogia Institucional é um campo que tem crescido e se desenvolvido com foco de ação preventiva aos problemas de aprendizagem. Mas é também vista como ameaçadora, pois tem como objetivo fortalecer a identidade do grupo e transformar a realidade escolar. Para que isso ocorra, deve haver mudanças naquilo que já está estabelecido como cultura institucional. Bossa (2007) afirma que: pensar a escola à luz da Psicopedagogia significa analisar um processo que inclui questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo a participação da família e da sociedade. (BOSSA, 2007, 142) A primeira coisa que o psicopedagogo pode e deve fazer em uma instituição escolar é o diagnóstico institucional. Observando as características organizacionais, a história da escola e a cultura institucional. O psicopedagogo deve conhecer os documentos que regem a escola e que dão o perfil de identificação para a unidade escolar. Exemplos desses documentos são o regimento escolar e o Projeto Político Pedagógico (PPP). O PPP é um documento obrigatório e pode ser considerado o coração da escola. É ele que comanda a energia e a vida da escola. É um documento que deve ser elaborado, preferencialmente, com a participação de toda a equipe escolar. Mas, sabemos que juntar pensamentos e ideias diferentes para a construção de um documento é difícil. Por isso, algumas equipes gestoras acabam contratando uma consultoria de fora para a elaboração do documento ou acabam por construí-losozinhas. Mas os professores precisam conhecê-lo, para entenderem a história e os fundamentos da escola e também para saberem com o que estão concordando, já que todos assinam o documento. 46 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 O psicopedagogo na instituição vai trazer questionamentos. Questionar basicamente tudo e todos os aspectos da instituição, começando pela gestão da escola. Se existe democracia, como fluem as relações de trabalho, por exemplo, são aspectos que o psicopedagogo institucional deve observar. A cultura da instituição é uma rede de comportamentos, e o psicopedagogo é chamado, normalmente, quando algo nesta rede não está funcionando. Assim, o processo de diagnóstico institucional serve para viabilizar caminhos e propor mudanças organizacionais. Mudanças estas que podem ser entendidas de forma positiva ou negativa. O psicopedagogo é chamado para entender qual o motivo de a rede de comportamentos e de relações dentro da empresa não estar funcionando da melhor maneira. O desafio do psicopedagogo é mobilizar a equipe para refletir sobre as suas ações e entender que é preciso que haja esse movimento, para que a mudança possa ocorrer. Em qualquer instituição e na escola não é diferente, existem algumas manifestações de comportamento que são identificadas e retratam o ambiente institucional. As manifestações verbais e conceituais são: os heróis e os mitos, ou seja, algo ou alguém que pode ser bom ou ruim e que é de certa forma inatingível. As narrativas marcam o ambiente escolar, ditando os comportamentos e as regras implícitas. Na observação da instituição, o psicopedagogo deve identificar essas crenças e narrativas e no decorrer do processo deve saber lidar com elas. Exemplo – um exemplo dessas manifestações: quando alguém chega até o psicopedagogo e afirma que “quando for falar com o diretor, deve ir bem preparado”. Observamos o mito – o diretor – e a narrativa – uma advertência. 47PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Quando alguém está na posição de mito ou de herói, a atuação dentro da instituição fica limitada e inviabilizada. Esses são os dados que o psicopedagogo deve entrar em contato, deve se manter atento. Desse modo, pode auxiliar o grupo a desconstruir os mitos e as crenças e entrar em contato com a realidade e com novas crenças. Também existem as manifestações visuais e simbólicas, que são os elementos que podem ser observados de forma concreta. São os murais, painéis, exposições e cartazes feitos pelos alunos. Existem também algumas manifestações comportamentais, que influenciam na atuação das pessoas envolvidas na organização escolar, que são: atividades normais da escola e como são desempenhadas, as normas e os regulamentos internos e os rituais e cerimônias que fazem parte da vida da escola (acolhida, oração e outros). Essas manifestações são singulares e particulares de cada instituição. Cada instituição possui seus rituais, seu modo de funcionamento e seu regulamento. Cabe ao psicopedagogo observar esses elementos e ponderar sobre possíveis modificações. A escola é um espaço social, que é composto por uma trama de relações sociais e materiais que gerenciam o cotidiano das pessoas que por ali circulam. Por este motivo, deve ser entendida e analisada como uma organização, assim como seria analisada uma pequena indústria ou uma empresa. No diagnóstico institucional, o psicopedagogo faz uma leitura: das narrativas, do currículo aparente e oculto, da dinâmica das relações entre os atores da escola, das possibilidades e abertura para mudanças, da necessidade de ajuda, dos trabalhos já realizados, das dificuldades detectadas, dos vínculos estabelecidos, dos comportamentos e atitudes e tudo o mais relacionado com a instituição escolar. 48 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 É a partir do diagnóstico que o psicopedagogo pode propor e executar um plano de intervenção. Na intervenção psicopedagógica, o objetivo é a construção de uma nova identidade para a instituição, trabalhando sempre em corresponsabilidade com a equipe da instituição, com enfoque interdisciplinar e sempre disposto às trocas e aos diálogos. O diagnóstico institucional tem caráter preventivo no sentido de reconstruir processos, redefinir papéis, valorizar novos conhecimentos, novas forma de aprender e de pensar, e também novas pessoas, processos, produtos e objetivos. ACESSE Saiba mais sobre a diferença entre Psicopedagogia Clínica e a Institucional, clicando no QR-Code. Intervenção psicopedagógica na instituição Intervenção é o ato de exercer influência em determinada situação na tentativa de alterar o seu resultado. É a ação de expressar um ponto de vista, acrescentando argumentos ou ideias. Ainda, a intervenção pedagógica é a interferência feita por um especialista com o objetivo de melhorar o processo de aprendizagem do aluno. https://youtu.be/dgPNHsXfvcU 49PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 O psicopedagogo não deve confundir intervir com interferir. Intervir tem como meta ajudar a pensar nos caminhos para chegar a uma resposta. Interferir, não. Entendemos que há a manipulação da ação do outro e não é este o trabalho do psicopedagogo. Como você sabe, o objeto de estudo da Psicopedagogia é o sujeito aprendente. O processo de aprendizagem envolve o sujeito que aprende, o sujeito que ensina, além do meio em que está inserido. Tudo isso se relaciona de forma sistemática. Na escola, o psicopedagogo tem como objetivo de intervenção resgatar ou fortalecer a identidade da instituição e sua história, ao mesmo tempo que procura pareá-la com a realidade e o momento histórico atual, adequando às demandas sociais e ao contexto ideal de aprendizagem. O trabalho do psicopedagogo institucional é a prevenção dos problemas de aprendizagem. Para isso, é seu dever: analisar a formação dos professores, o currículo que está sendo utilizado na escola, se está sendo adequado às necessidades dos alunos, se os professores estão preparados para atenderem os alunos, inclusive alunos que tenham alguma necessidade especial. O psicopedagogo vai intervir nesses aspectos, a fim de orientar a equipe pedagógica para que o processo de aprendizagem ocorra de forma mais produtiva. REFLITA O psicopedagogo analisa a formação de professores e supervisores. Há casos que o professor tem uma formação que possibilita que ele esteja mais bem preparado que o seu supervisor. Ora, como o supervisor pode coordenar um trabalho pedagógico específico, com os professores, se ele não tem o conhecimento necessário para tanto? 50 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 O psicopedagogo vai, então, após analisar todos estes aspectos, propor mudanças no currículo, no projeto político pedagógico, na metodologia de ensino, nas formas de aprender e de ensinar. Ele também pode contribuir na melhoria da comunicação interna da escola e na comunicação da escola com a família, favorecendo uma relação de confiança. O psicopedagogo pode auxiliar os atores que dão vida à escola a retornarem às origens, aos princípios fundamentais que regem a escola. A intervenção é pautada nos recursos que promovem a operacionalização da instituição, fazendo com que o movimento de aprender nunca cesse, sempre acompanhando o momento histórico e prevenindo a cristalização de crenças que dificultam o desenvolvimento. O psicopedagogo deve trabalhar as questões que servem de obstáculo para o ensinar e o aprender, interagindo, integrando, vinculando-se, articulando conhecimentos e cuidando das relações. Compreendemos que o psicopedagogo na escola, ou em qualquer instituição, tem papel fundamental na criação e no aperfeiçoamento do clima e das relações dentro da instituição, na escola, entre os professores, alunos, funcionários, famílias e comunidade. O psicopedagogo desmistifica a manifestação de crenças e de narrativas que limitam e inviabilizam o desenvolvimento e o progresso da aprendizagem,examinando aspectos destrutivos que são arraigados nas relações interpessoais, diagnosticando e intervindo nos sintomas e discursos que se repetem e não colaboram para o crescimento do grupo. Damos ênfase ao fato de que o psicopedagogo pode fazer muita diferença em uma instituição, com sua escuta e olhares atentos e sensíveis às demandas da equipe, dos alunos, das famílias e da sociedade. 51PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 SAIBA MAIS Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos a leitura da seguinte fonte de consulta e aprofundamento: SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. Esperamos que este contato com a Psicopedagogia possa fazer com que você reflita sobre a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade entre a Psicologia e as áreas afins. RESUMINDO E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. O psicopedagogo observa todos os aspectos da instituição e tenta detectar os elementos que necessitam de mudança. Assim, ele identifica como funciona a cultura institucional e sua rede de comportamentos e quais são as expectativas da instituição com relação à sua avaliação para propor e executar uma intervenção, um plano de mudança nos aspectos que precisam ser mudados. 52 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 BORTOLANZA, M. L.; KRAHL, S.; BIASUS, F. Um olhar Psicopedagógico sobre a velhice. Revista Psicopedagogia, [s. l.], v. 22, n. 68, p. 162- 170, 2005. BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. MORAES, D. N. M. Diagnóstico e avaliação psicopedagógica. Revista de Educação do IDEAU, [s. l.], v. 5, n. 10, p. 2-15, jan./jun. 2010. Disponível em: https://www.ideau.com.br/getulio/restrito/ upload/revistasartigos/203_1.pdf. Acesso em: 18 jul. 2023. PONTES, I. A. M. Atuação psicopedagógica no contexto escolar: manipulação, não; contribuição, sim. Revista Psicopedagogia, [s. l.], n. 27, v. 84, p. 417-427, 2010. Disponível em: http:// www.revistaPsicopedagogia.com.br/detalhes/196/atuacao- psicopedagogica-no-contexto-escolar--manipulacao--nao-- contribuicao--sim. Acesso em: 18 jul. 2023. RE FE RÊ N CI A S 53PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 2 Origem da Psicopedagogia Introdução Breve histórico da Psicopedagogia A Psicopedagogia brasileira A Psicopedagogia Concepções teóricas da Psicopedagogia Notas introdutórias Behaviorismo Humanismo Associacionismo Construtivismo A Psicanálise Psicopedagogia na prática Introdução Avaliação e diagnóstico psicopedagógico A avaliação psicopedagógica O diagnóstico psicopedagógico Atuação do psicopedagogo no mercado Notas introdutórias O psicopedagogo institucional: atuando na escola Intervenção psicopedagógica na instituição