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Crítica da Violência por Benjamin

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Universidade Federal de Sergipe
Discente: Geyse do Espírito Santo Rezende
Matrícula: 202200085983
FICHAMENTO 2
BENJAMIN, Walter. Para uma crítica da violência. In: _____. Escritos sobre Mito e Linguagem (1915-1921). Trad. Susana Kampf Lages e E. Chaves. São Paulo: Editora 34, 2011. p. 121-157
O texto Para uma Crítica da Violência, escrito por Walter Benjamin[footnoteRef:1], é composto por 19 parágrafos e pode ser melhor organizado de acordo com a seguinte divisão: [1: Filósofo alemão (1892-1940)] 
· Introdução p. 121-122
· I (§ 1-10 / § 11-14)
· II (§ 14 - 16)
III (§ 17 - 19)
· Introdução
Este escrito se trata de uma crítica da Ideologia Jurídica, mais especificamente a Contemporânea. Benjamin faz uma associação entre Direito e Violência, de modo a entender por meio da crítica que o direito é a violência.
A violência a qual o autor se refere, só aparece de fato quando esta interfere em relações éticas; ou seja, a violência se apresenta a partir das relações com o direito e a justiça. Dentre as relações expressas, a mais elementar e fundamental é aquela que se dá entre fins e meios. Além disso, é possível constatar que a violência só pode ser procurada na esfera dos meios e não dos fins.
· Parte I
Por meio dessas constatações, são obtidos mais aspectos para compor a crítica da violência, pois, se a violência for um meio, então acredita-se que há critérios para sua crítica. Desta forma, é possível questionar se a violência é, em determinados casos, meio para fins justos e injustos. Entende-se que não exista um critério para a violência em si, mas para a sua aplicação; ainda assim permaneceria aberta a questão se a violência em geral, enquanto princípio, é ética, mesmo como meio para fins justos. Este questionamento caberia ao Direito Natural, pois este não vê como um problema o uso de meios violentos quando a justiça é objetivada. Este ponto pode ser melhor observado quando o autor discorre:
Este vê na aplicação de meios violentos para fins justos tampouco um problema como o homem encontra um problema no “direito” de locomover seu corpo até um fim desejado. (...) a violência é um produto da natureza semelhante a uma matéria-prima, cuja utilização não está sujeita a nenhuma problemática, a não ser que se abuse da violência visando fins injustos (p.123).
Esta reflexão trazida pelo autor refere-se aos filósofos do direito que não são críticos o suficiente sobre o problema da violência como meio e fim, mostrando nesse âmbito, que o problema não seria a violência em si, mas sim o abuso desta, independente da sua finalidade. 
Existe uma distinção entre o direito natural e o direito positivo. Para Benjamin, o direito natural pode julgar cada direito existente apenas por meio da crítica aos seus fins, o direito positivo, por sua vez, pode avaliar qualquer direito nascente apenas pela crítica aos seus meios. Nessa ótica, os dois direitos apresentam um dogma fundamental: 
(...) fins justos podem ser alcançados por meios justificados, meios justificados podem ser aplicados para fins justos. O direito natural almeja “justificar” os meios pela justiça dos fins, o direito positivo, “garantir” a justiça dos fins pela “justificação” dos meios. A antinomia se mostraria insolúvel se o pressuposto dogmático comum fosse falso: se, por um lado, meios justificados, e, por outro, fins justos, se encontrassem num conflito inconciliável (p. 124).
	Há o questionamento da justificação de certos meios que constituem a violência; no entanto, ambos os direitos (Natural e Positivo) não respondem a esse questionamento, pois eles são “cegos” para os fins ou meios, reagindo basicamente da mesma forma; eles não são antinômicos. O direito positivo é cego para o caráter incondicional dos fins e o direito natural também é cego para o caráter condicional dos meios. Para o autor, essa distinção entre o poder legítimo e ilegítimo não é tão evidente, mas uma saída aceitável para compreender e fazer análise crítica tanto do direito natural quanto do direito positivo, é por meio de um estudo aprofundado e reflexivo pautado na filosofia da história.
	O autor discorre sobre o indivíduo enquanto sujeito do direito e a sua tendência característica de não admitir os fins naturais em todos os casos em que estes fins precisassem fazer uso da violência; a ordem jurídica se empenha em impor limites desde que se deseje alcançar esses fins naturais com excesso de violência, como uma forma de 
	O direito se auto conserva, ao buscar manter a violência e poder dentro de sua própria esfera na justificativa de assegurar os fins jurídicos; qualquer indivíduo que tenha o poder em mãos, é considerado ameaça e por isso que existe essa busca por retirar das mãos dos indivíduos os domínios de ação que aparentemente possa ser ameaçadora ou que ganhe a simpatia da população. Uns dos medos é que, a sociedade, ao se reunir em multidões, permita ser gerado sentimento que vá contra o direito e que seja preciso fazer uso de violência contra o Estado, com é o caso do direito de greve e a luta de classes. Nesse caso, o abandono do trabalho é entendido como um meio não violento, porém, esse momento de violência passa a existir dependendo das condições ali impostas, para que o serviço volte a ocorrer; nessa ótica, a luta de classes aparentemente ameaça o direito. 
	É sobre essa mesma violência que Benjamim discorre ao falar que o Estado teme como uma forma de poder que vá estabelecer um tipo de direito; mas essa mesma violência também pode ser vista em forma de chantagem, quando é necessário ser retomada a ação suspensa anteriormente sob determinadas condições. Desta forma, a sociedade pode sim exercer o direito à greve, mas o Estado poderá intervir com argumentos cabíveis da função daquela violência. 
O serviço militar também foi citado na crítica da violência como algo que não poderia mais ser tolerado; porém, também é vista um duplo sentido no emprego dessa violência, que seria a violência instauradora do direito e a violência mantenedora do direito. Além disso, era entendido que a violência que mantém o direito também é a violência que p ameaça, mas se fosse observado de outro ângulo, seria possível notar que essa ameaça se dá na linguagem, como uma violência performativa.
Esta dupla finalidade da violência (instauradora e mantenedora) está presente no poder de polícia, a qual tem sua atuação comparada a uma espécie de mistura espectral, algo sem forma definida; essa violência se trata de uma violência que tem por finalidade instaurar e manter o direito, sem que esses objetivos entrem em conflito. 
O autor também discorre sobre o sentido da violência como meio, o qual diz que, mesmo no caso mais favorável, participa da problemática do direito em geral. Segundo ele, toda violência como meio ou é instauradora ou mantenedora do direito. E, seguindo nesse mesmo ponto, Benjamin aborda a questão do contrato jurídico como mentor de violência, por meio do qual é possível que ambas as partes possam reivindicar e regulamentar os interesses humanos em conflitos. Esse modo, apesar de ser pacífico, também pode ser acompanhado de violência, pois o mesmo dá margem para que quaisquer das partes façam uso da violência em momento oportuno, que seria quando uma das duas rompesse com o contrato.
O acordo não violento pode surgir em decorrência das boas relações humanas, com o envolvimento de sentimentos para resolver os conflitos humanos; o diálogo é uma ferramenta interessante na resolução desses conflitos e se configura como uma estratégia não violenta para obter civilidade no entendimento. Por meio da comunicação humana, do uso da linguagem, é possível haja uma compreensão mútua entre as partes, desta forma, o diálogo se mostra como uma esfera da não violência no entendimento humano que é totalmente inacessível à violência. Porém, ao serem utilizados meios totalmente não violentos, abre margem para o uso da violência como reação.
Benjamim também se refere à luta de classes, a greve, como um meio puro se for feita sob certas condições. A greve é subdividida em greve geralpolítica e greve geral proletária; a primeira dá a entender que o Estado não vai perder a força e que esta irá passar de privilegiado para privilegiado, já a segunda é vista como uma oposição à primeira e tem como objetivo principal acabar com o poder do Estado. Assim sendo, entende-se que a primeira modalidade de greve seja instauradora e a segunda anarquista.
Ainda na mesma temática, o autor discorre sobre a greve dos médicos como uma greve brutal, desumana, extremamente violenta; por outro lado, dá destaque à forma que os diplomatas usam para solucionar os conflitos, o que é feito de forma pacífica, caso a caso. Ainda assim, seria complexo determinar se haveria no sistema jurídico uma saída justa para os conflitos, uma vez que para o autor, o sistema jurídico deriva de um poder mítico.
· Parte II
O autor inicia essa parte do texto identificando que, dentro do direito natural ou do direito positivo, ambos não conseguem escapar dessa problemática da violência do direito. Assim poderia ser perguntado sobre a possibilidade de fins justos serem alcançados por meios justificados e se meios justificados podem ser aplicados para fins justos. O mesmo continua refletindo sobre a temática ao dizer: 
Assim incidiria uma luz sobre a experiência estranha e, de início, desanimadora da indecibilidade última de todos os problemas do direito (aporia que na sua falta de perspectiva só pode ser comparada à impossibilidade de uma decisão conclusiva sobre o que é certo ou errado em línguas que se encontram em devir) (p. 146).
No texto é evidenciada a diferença entre o poder mítico e poder divino. Segundo Benjamin, o poder mítico é de onde o direito deriva, já o poder divino é a força destruidora do direito. Para melhor ilustração desse comparativo, o autor citou o Mito de Níobe, onde ela é punida com a morte dos seus 7 herdeiros; este mito mostrou a violência como a instauração do direito ao invés de um castigo derivado do orgulho de Níobe.
Em conseguinte, ele pontua que, se a violência mítica é instauradora do direito, a violência divina é a aniquiladora; porém, ao passo que aniquila, o juízo divino expia a culpa, de modo que tira a sobrecarga do culpado, dando assim um caráter purificatório dessa violência. Nessa ótica, a violência mítica agiria em favor dos próprios interesses, contra a mera vida; já a violência divina e pura seria exercida em favor do vivente. O autor trata do poder educativo derivado do poder divino, que vai além do âmbito direito e permeia a religião. Assim, Deus é visto como o soberano onipotente, capaz de perdoar e absolver a culpa do homem, sendo assim esse poder inacessível aos mortais.
	Os mandamentos divinos são colocados como diretrizes para o bom andamento da comunidade e não como medidas de julgamento. Em caso de solitude, o homem tem o dever de realizar a autorreflexão, confrontar seus erros e assumir a responsabilidade dos mesmos. Isso se trata do caráter do homem em viver uma vida de acordo com os princípios que lhe foram impostos, mas não como um peso e sim como um a possibilidade de vida harmoniosa.
	O ser, possui uma sacralidade da vida que é mais que uma mera vida, é uma vida justa, uma vida com propósito, uma vida com singularidade de sua pessoa física. Mas o autor também questiona o que diferencia a sacralidade do homem, posto que qual a diferença para as plantas e animais. 
· Parte III
 	Nessa vertente entre a vida e mera vida, há o cerne da violência do direito. Para ter e manter o direito (da vida, por exemplo), há quebra e enfraquecimento do direito. Essa quebra, perdura até que uma nova violência (instigante) gere um novo direito (seguindo o mesmo raciocínio, como usar a vida, por exemplo?).
	Nesse vai e vem de rupturas, violências novas são geradas e o que antes era vazio (porém sem o ser totalmente), passa ter significado intrínseco. Sendo assim, há sempre a perpetuação da violência do direito. Para os homens, não é urgente decidir quando a violência pura se efetiva em casos específicos, pois essa força expiatória da violência não é clara aos seus olhos. 
Por fim, o autor reitera que toda violência mítica, que é a violência que instaura o direito e é chamada de violência arbitrária, deve ser rejeitada. Ao mesmo tempo, também se faz necessário rejeitar a violência que mantenedora do direito, ou seja, a violência arbitrária, pois esta está a serviço da primeira.

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