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Impresso por GEYSE DO ESPÍRITO SANTO REZENDE, E-mail geyserezende@academico.ufs.br para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 15/11/2022 17:45:13 ruptura com o sistema capitalista. - A questão do justo: A questão do justo futuro e da superação da atual injus�ça é a re�exão por excelência de Ernst Bloch. Por este autor, advirá as re�exões marxista que não se limitam ao Direito, mas também ao justo. HORIZONTES FILOSÓFICOS CONTEMPORÂNEOS O jusposi�vismo se apresenta como uma �loso�a conservadora, pois tem como base o presente, a conservação de uma ordem posta, ainda que com alterações não substanciais. Em que pese a existência de diferentes ma�zes (a exemplo de Habermas, que se orienta pelo posi�vismo socialmente a�vo), não se encontra no posi�vismo a defesa da ruptura radical das bases norma�vas já existentes. Na corrente não jusposi�vista e não marxista, Heidegger, Gadamer e Schmi� são pensadores que podem apontar diretamente para o reacionarismo. São marcados pelo rea�smo. Em termos de sen�do da história, Heidegger e Gadamer, se tomados por conta própria, sem um uso crí�co, apontam para o passado, para a ruptura com a técnica a par�r do ângulo do originário. Carl Schmi�, de modo peculiar, aponta para um superpresente, na medida da revelação das entranhas do próprio poder estatal e de sua exacerbação. O pensamento de Michel Foucault, por sua vez, tomado por um prisma crítico, há de se juntar ao marxismo numa perspec�va de futuro, mas, no seu entorno, as leituras que tentam fazer de Foucault um pós-moderno impulsionam- no a um presente fragmentado ou a um 10 Por Rayana Falcão futuro fragmentado, conforme o grau de leitura pós-moderna que se lhe aplique. O marxismo, por sua vez, é eminentemente voltado para o futuro. A �loso�a crí�ca não se volta para o passado como possível orientador, nem tampouco �xa-se no presente com o olhar de exacerbação. A transformação é a sua marca de�nidora. Filoso�a do direito Jusposi�vista Miguel Reale10 (1910-2005) Contexto: Filósofo brasileiro, do século XX, classi�cado na �loso�a do Direito como jusposi�vista eclé�co. Conhecido, notadamente, por sua teoria tridimensional do direito (exis�ram outras teorias tridimensionais, mas o seu modelo foi o de maior destaque). Obras: Na década de 1940, com a obra Fundamentos do direito, lançou-se à fundação de uma teoria tridimensional do direito. O livro , cuja primeira Filoso�a do direito edição é de 1953, é o grande marco sistemá�co da perspec�va jus�losó�ca de Miguel Reale. A tridimensionalidade Miguel Reale tem nas normas postas pelo Estado um dos eixos de sua análise do direito. Mas transcende claramente tais limites jusposi�vos. É na tríplice estrutura fenomenal de que norma, fato e valor Reale situa o acontecer jurídico. O seu ecle�smo aí fica patente: o direito não Impresso por GEYSE DO ESPÍRITO SANTO REZENDE, E-mail geyserezende@academico.ufs.br para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 15/11/2022 17:45:13 pode ser analisado apenas segundo um único padrão, norma�vista. A grande originalidade de Reale é a proposta de uma ontologia muito especí�ca do fenômeno jurídico, distinta do jusposi�vismo estrito daqueles que iden��cam o direito imediatamente à norma estatal, mas também diferente das visões moralistas do direito. A visão tridimensional de Miguel Reale se assenta na percepção de que o fenômeno jurídico se cons�tui como tal justamente pela interação real de fato, norma e valor, numa dinâmica processual, de mútua implicação. Os valores não são compreendidos, no pensamento de Miguel Reale, como se fossem preceitos eternos, advindos de uma natureza imóvel. Nem tampouco têm caráter divino. Nem também, por sua vez, são mera dependência das normas jurídicas. Os valores se desenvolvem historicamente, em sociedade, alterando- se. Não são exatas decorrências dos fatos sociais, porque se põem em um plano que não se esgota na própria realidade. À semelhança dos valores, os fatos também não são tomados como dados brutos à disposição do fenômeno jurídico e do jurista. A caracterís�ca de historicidade e cultura também se lhes aplica. Os fatos compõem o direito não como entes obje�vos, mas sim como realidade compreendida. Isso porque, para Reale, o conhecimento dos fatos, para as ciências humanas, difere do conhecimento dos fatos para os cien�stas da natureza. A vinculação entre fato e valor é intrínseca ao campo do direito. Toda a re�exão de Reale a respeito dos fatos, valores e normas, assim sendo, não é a de uma integração entre en�dades apartadas ou estranhas entre si, mas, sim, processual. Não se pensa em cada um desses momentos como instâncias isoladas. Nem se trata de encerrar o fenômeno jurídico num só valor, ou numa só norma, ou num só fato. São fatos, valores e normas, no plural, que compõem o fenômeno jurídico. A tridimensionalidade especí�ca de Miguel Reale compreendendo fato, – norma e valor num processo de interação que é dinâmico desemboca numa – par�cular visão a respeito da origem das normas jurídicas, o que Reale denomina por nomogênese jurídica. A nomogênese, isto é, o processo de formação da norma, se faz a par�r da junção de um complexo axiológico (valores) com o complexo fá�co (fatos). Muitos valores, posições e interesses se ligam a determinados fatos. Dessa relação dos fatos com os valores surgem várias possíveis proposições norma�vas. A norma jurídica é, então, a opção por uma das possíveis orientações jurídicas hauridas dessa interação entre valores e fatos. O direito se apresenta assim, para Reale, como um fenômeno necessariamente cultural. A integração de fato, valor e norma é a expressão maior desse culturalismo. A integração de três elementos na experiência jurídica (o axiológico, o fá�co e o técnico-formal) revela-nos a precariedade de qualquer compreensão do Direito isoladamente como , como fato valor ou como norma. Sendo o Direito um bem cultural, nele há sempre uma exigência axiológica Impresso por GEYSE DO ESPÍRITO SANTO REZENDE, E-mail geyserezende@academico.ufs.br para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 15/11/2022 17:45:13 atualizando-se na condicionalidade histórica, de maneira que a obje�vidade do vínculo jurídico está sempre ligada às circunstâncias de cada sociedade, aos processos de opção ou de preferência entre os múl�plos caminhos. -se, Põe assim, no âmago da experiência jurídica a problemá�ca do Poder, que procura assegurar por todos os modos, inclusive pela força �sica, a realização do Direito. Se Kelsen separa o dever-ser do ser, dis�nguindo entre ciência do direito e o próprio direito, lembrando pois Kant, Reale uni�ca razão e realidade, postulando uma compreensão teórica e uma fenomenologia do próprio direito enquanto tridimensionalidade, lembrando pois Hegel. A ontognoseologia A postulação de não isolar o saber sobre o direito do próprio direito representa, em Miguel Reale, a integração do conhecimento e da realidade em uma tensão dialé�ca própria. Reale dá a essa relação a denominação de dialé�ca de implicação e polaridade. Trata-se de um �po peculiar de dialé�ca, dis�nto daquelas consagradas por Hegel e Marx. Em Hegel e Marx, a dialé�ca pressupõe a contradição, e, nessa vinculação entre tese e an�tese, levanta-se a síntese como superação. Para Miguel Reale, no entanto, a dialé�ca de implicação e polaridade representa um tipoespecí�co de relação entre opostos, na medida em que não se excluem, mas, pelo contrário, se integram dinamicamente relação de – complementaridade. É dessa maneira que Miguel Reale busca superar a dicotomia moderna entre racionalismo e idealismo, de um lado, e empirismo, de outro. Tal junção de conhecimento e realidade em uma dialé�ca própria resulta, em Miguel Reale, numa peculiar teoria do conhecimento, a ontognoseologia. ontologia, enquanto A especulação sobre o ser, para Reale remonta à clássica �loso�a, como a aristotélica. A gnosiologia, como problema do conhecimento, é a problemá�ca da �loso�a moderna. Ocorre que o mundo contemporâneo também faz uma chamada ao ser, como no caso do existencialismo. O ser e o conhecer devem se integrar num mesmo movimento dialé�co. Diz Reale: Poderíamos, em síntese, dizer que a Ontognoseologia desenvolve e integra em si duas ordens de pesquisas: uma sobre as condições do conhecimento do ponto de vista do jeito a parte su ( subjec�) e a outra sobre essas condições do ponto de vista do objeto parte (a objec�). Mais tarde ver- -á que a se Ontognoseologia, após essa apreciação de caráter , culmina em uma está�co correlação dinâmica entre sujeito e objeto, como fatores que se exigem reciprocamente segundo um processo dialé�co de complementaridade. A ontognoseologia de Reale representa uma tenta�va de escapar do dilema Processo de interação dinâmico Valor NormaFato Impresso por GEYSE DO ESPÍRITO SANTO REZENDE, E-mail geyserezende@academico.ufs.br para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 15/11/2022 17:45:13 surgido com a cisão �losó�ca entre sujeito e objeto, �pica da modernidade. Ocorre, no entanto, que a fórmula de Reale não afasta tal divisão. Não se trata de uma superação da cisão entre razão e realidade, mas, sim, da sua diluição na medida de seu encontro, numa relação de complementaridade. A análise do valor do Direito nos dá a axiologia ou deontologia jurídica. O momento norma�vo da tridimensionalidade jurídica é objeto da epistemologia jurídica. O conhecimento �losó�co do Direito como fato se resolve na culturologia jurídica. Quatro, pois, são os problemas básicos da Filoso�a do Direito, no entender do Prof. Miguel Reale: o problema ontognosiológico e os temas axiológico, epistemológico e culturológico. Não se limitando às reduções do jusposi�vismo, o pensamento �losó�co de Miguel Reale funda o seu culturalismo jurídico num plano fenomenológico. Para Reale, o fenômeno jurídico se apresenta e se compreende lastreado no mundo da cultura. A experiência e a cultura serão, então, origens e desaguadouros naturais de seu pensamento. 11 Por Laura Helena Xavier Ferreira CRÍTICA DE MASCARO: Se não se �nca no reducionismo do jusposi�vismo, a tridimensionalidade de Reale, ganhando em vas�dão, não trata, por sua vez, da profundidade e da estrutura do fenômeno jurídico: os vínculos jurídicos são forjados de maneira histórica e social, mas sem a denúncia do caráter especí�co desse processo de concreção. Os �pos de relações sociais que ensejam o direito, as interações de poder que o fundam, o papel das relações histórico-sociais especí�cas que o formam, como o capitalismo, tais perspec�vas, que encaminhariam a jus�loso�a para o campo da crí�ca ao direito, não têm tratamento preferencial no pensamento realeano. Palavras-chaves: Fato, valor e norma; Tridimensionalidade do direito; Ontognoseologia jurídica; Dialé�ca de implicação e polaridade; Culturalismo. Kelsen (1881-1973)11 Contexto: Hans Kelsen (1881- 1973), nascido em Praga, mas criado em Viena, no pós Primeira Guerra, foi um — dos principais responsáveis pela redação da Cons�tuição da Áustria. Judeu, perseguido pelo nazismo, apoiou a República de Weimar e teve de abandonar sua cátedra na Alemanha, passando a parte �nal de sua vida nos EUA. O pensamento de Hans Kelsen representa o máximo engenho e o auge da construção do modelo jusposi�vista, que, lastreado na operacionalização das normas estatais, fez da prática jurídica uma técnica que se reputou universal. De fato, no pensamento de Kelsen está a •Análise do VALORAxiologia ou deontologia jurídica •Momento NORMATIVO Epistemologia jurídica •Conhecimento �losó�co do direito como FATO Culturologia Jurídica Problema ontonosiológico Impresso por GEYSE DO ESPÍRITO SANTO REZENDE, E-mail geyserezende@academico.ufs.br para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 15/11/2022 17:45:13 possibilidade de compreensão mais singela e, por isso mesmo, mais espraiada do fenômeno jurídico: a sua iden�dade cien��ca é total e inexorável com a norma estatal. A Pureza do Direito A Teoria pura do direito (1934), a obra que expõe os pressupostos mais importantes de sua visão jus�losó�ca. A primeira grande postulação kelseniana reside na dis�nção entre o fenômeno jurídico e a ciência do direito. Kelsen separa a manifestação bruta do direito, como fenômeno social, do entendimento cien��co que se possa fazer a respeito dessa manifestação. Para Kelsen, são coisas dis�ntas o e a direito ciência do direito. Na prá�ca, o direito se mistura a todos os demais fenômenos sociais. Há juízes que julgam de acordo com suas inclinações sociais e polí�cas, por exemplo. Isso está no mundo dos fatos. A ciência do direito paira noutro patamar, ela abstrai dos fatos concretos e trabalha em um outro nível, muito próximo das normas estatais. A teoria pura do direito, proposta por Kelsen, é, na verdade, a postulação da própria cien��cidade do direito. Kelsen propugna que seu modelo de entendimento norma�vo seja chamado por ciência jurídica. Reputa sua teoria por pura em razão de não tratar dos dados concretos da realidade jurídica, que são parciais e não dão conta de explicar a estrutura formal do direito. A ciência do direito não será, para Kelsen, uma sociologia do direito, nem tampouco uma �loso�a do direito. Não é especula�va nem empírica no sen�do de atrelada a fatos. A teoria pura do direito é norma�va: o entendimento norma�vo ilumina juridicamente os fatos. É importante que se faça a dis�nção entre direito e ciência do direito para entender que Kelsen não apregoa, como o vulgo imagina, que o direito seja puro, somente norma�vo. Pelo contrário, o direito é contraditório, haurido imediatamente das contradições sociais e de seus operadores A postulação de . Kelsen é menor que isso: a ciência do direito é que deve ser entendida como pura. Para Kelsen, o direito só pode ser entendido cien��camente a par�r de uma especi�cidade que é norma�va, do campo do dever-ser. Assim sendo, a proposta kelseniana reside numa ciência norma�va, isto é, do . O direito dever-ser não é analisado pelo campo de sua manifestação concreta, como ser. O que ele é, em termos factuais concretos, pode ser uma re�exão da sociologia ou da história, mas não da ciência do direito. De tal modo a teoria pura é dis�nguida apenas pela norma jurídica que até o , que pode ser analisado Estado como um fenômeno bruto de poder, força e coesão social, é tomado pela análise de Kelsen como sendo a exata medida do próprio direito estatal. O Estado só pode ser entendido a par�r de sua iden�dade com o nível jurídico. A analí�ca, como ferramenta �losó�ca kelseniana, advém dessa postulação de uma teoria puramente norma�va do direito. Não se trata de fazer valorações do direito, relacionando-o à moral, nem tampouco de estabelecer apreciações polí�cas, se é justo ou ú�l. Trata-se de uma ciência que opera como a lógica. Para Kelsen, sendo a ciênciado direito considerada, nas suas palavras, de maneira dinâmica, isto é, no movimento das normas jurídicas em conjunto, uma norma só guarda coerência com o todo do ordenamento por razões formais. Não se indaga de sua plena aderência social, de Impresso por GEYSE DO ESPÍRITO SANTO REZENDE, E-mail geyserezende@academico.ufs.br para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 15/11/2022 17:45:13 sua referência concreta, mas sim de sua origem formalmente válida e respaldada obje�vamente em normas superiores O resultado de tal método analí�co kelseniano é uma profunda obje�vidade, mas também um profundo desgarramento das manifestações da totalidade social. Para Kelsen, sua analí�ca das normas é uma ciência técnica universal. Ela serve a todo �po de direito, tomado no nível cien��co. Por isso, diz Kelsen, é uma teoria apta a explicar Estados liberais, os os socialistas e mesmo os totalitários. O conteúdo das normas varia em cada qual desses Estados, mas a lógica formal das normas não. A Teoria Geral do Direito No nível de uma teoria geral do direito, é de Kelsen a postulação da compreensão de duas esferas de abordagem das normas jurídicas: a está�ca e a dinâmica. A está�ca representaria o entendimento obje�vo das normas jurídicas em si mesmas, na medida em que todas têm uma certa universalidade que as cons�tui. A dinâmica representaria a tomada das normas em conjunto, dentro de um ordenamento jurídico, ao mesmo tempo em que trataria da criação e do perecimento das normas. O direito é também um fenômeno dinâmico, pois sua apresentação se faz por meio de atos norma�vos que autorizam a concreção de outros atos norma�vos, numa cadeia dinâmica. Para Kelsen, o vínculo entre uma hipótese e sua consequência, para o direito, é de imputação, e não de causalidade. No mundo jurídico, como decorrência de um fato, uma sanção surge como um dever imputado, não como uma necessidade. Por isso, ao contrário das regras da natureza, para Kelsen as normas jurídicas estão cons�tuídas pelo primado do dever-ser. A dis�nção entre ser ( ) e Sein dever-ser (Sollen) é fundamental para as pretensões teóricas kelsenianas. Cien��camente, o direito não é entendido como uma compreensão do ser, da realidade existente. Pelo contrário, o direito, enquanto ciência, limita-se a um entendimento das conexões de dever-ser. Deve-se imputar uma sanção a um fato. Não necessariamente do fato decorrerá a sanção, por isso não é esta uma relação necessária, mas sim de imputação. É no tratamento da norma jurídica como um dever-ser que, mais sensivelmente, Kelsen contrasta com as demais �loso�as do direito, que têm uma mirada maior no ser. Mas, justamente por isso, pela desconexão com o direito enquanto ser, é que Kelsen torna-se o pensador-padrão da prá�ca do jurista técnico contemporâneo. No que tange à dinâmica jurídica, Hans Kelsen reconhece alguma abertura à concreção social do direito. Isso se dá quando Kelsen trata da produção norma�va. As normas não são produzidas apenas pela lógica. As normas existem por razão dos atos de vontade do legislador que as cria . Para que uma norma possa exis�r e ser válida, é necessário um respaldo nas normas superiores, que facultem ao legislador, então, produzir as normas inferiores. De normas superiores abre-se o campo lógico de validade das normas inferiores, mas a criação da norma, ainda assim, é um ato de vontade, que se abre aos impulsos reais da imbricação do direito com a totalidade social. Assim sendo, a produção norma�va, para Kelsen, se dá sempre de acordo com o seguinte esquema: norma ato de vontade – – norma. A ciência do direito somente pode ser pensada a par�r de uma construção Impresso por GEYSE DO ESPÍRITO SANTO REZENDE, E-mail geyserezende@academico.ufs.br para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 15/11/2022 17:45:13 escalonada do ordenamento jurídico, que estabelece patamares tendo por base a hierarquia das normas. No ordenamento jurídico, as normas não se encontram esparsas, sem logicidade: pelo contrário, elas são estruturadas a par�r de uma hierarquia. Na base dessa hierarquia, há as normas individualizadas: sentenças ou portarias, por exemplo. Em escalões mais altos, há normas de outros níveis hierárquicos mais determinantes, como as leis. No úl�mo escalão, há as normas cons�tucionais. Pode-se fazer a imagem de uma para tal ordenamento pirâmide jurídico. A estrutura do ordenamento jurídico se concre�za, ainda, por meio da validade das normas. A validade é a qualidade da norma que revela sua adequação formal e material ao ordenamento. Uma norma só é válida porque normas hierarquicamente superiores lhe dão esse manto. Não é no mesmo patamar que se vislumbra a validade de uma norma: deve-se olhar para os escalões superiores para iden��car a validade de uma norma inferior. Se a validade de uma norma é dada pelas normas que lhe são superiores, a grande indagação teórica que se faz a Kelsen é a respeito da culminância do próprio ordenamento: quem dá validade às normas mais altas do ordenamento, isto é, as normas cons�tucionais? O pensamento de Kelsen se encaminha para a resolução do problema postulando a u�lização de uma ferramenta teórica original, a norma fundamental. Para não dar margem a iden��car o poder, as relações concretas, como sendo a base que impõe o ordenamento – o que faria uma ciência pura depender de fatos sociais para sua explicação , Kelsen – lança mão de um recurso não concreto, mas apenas teórico. A norma fundamental é um impera�vo da ciência do direito: é preciso pensar que se devem considerar válidas as normas cons�tucionais, e delas começar o escalão hierárquico do ordenamento. Mas por que tal ordenamento, e não outro, meramente imaginário? Há uma certa ligação entre a norma fundamental pressuposta e um mínimo de referências sociais concretas presentes em um determinado ordenamento. Ninguém há de considerar que o ordenamento jurídico aplicado no Brasil é o hindu, apenas por uma questão de imaginação ou de capricho do jurista. A norma fundamental não é apenas uma ideia do jurista que cria uma obrigação de se respeitar um ordenamento. É também uma diretriz prá�ca sobre o próprio ordenamento que se apresenta na realidade. Sendo uma condição do pensamento, Kelsen procede, nesse ponto, como Kant, quando, afastando-se dos conhecimentos prontos da meta�sica, que dizia o certo e o errado conforme mandamentos exteriores vontade de – Deus, por exemplo , passou a pensar nas – condições pelas quais se podia conceber o conhecimento. A cadeia das normas não se fundamenta em algo concreto, como um Cons�tuição Normas de níveis hierárquicos mais determinantes (leis) Normas individualizadas (sentenças, portarias) V alid ade Impresso por GEYSE DO ESPÍRITO SANTO REZENDE, E-mail geyserezende@academico.ufs.br para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 15/11/2022 17:45:13 poder que impõe a Cons�tuição e o ordenamento. Tratando do direito não em termos reais, mas sim apenas no nível “cien��co”, isto é, norma�vo, Kelsen aponta para a norma fundamental como uma pressuposição do cien�sta do direito. Para não dar margem a um ser (o poder) que impusesse o conjunto do dever-ser (o ordenamento), Kelsen lança mão de um pressuposto que deve ser o guia do cien�sta do direito, e, no limite, uma sua pro�ssão de fé. Mas, numa úl�ma fase de seu pensamento, Kelsen altera sua re�exão a respeito da norma fundamental. O seu livro póstumo, a , Teoria geral das normas já não mais trata a norma fundamental como do pensamento pressuposto cien��co do jurista. Nesteúl�mo livro, a norma fundamental é tratada como uma �cção. Para o úl�mo Kelsen, da Teoria geral das normas, a norma fundamental não é uma condição teoré�ca para pensar o todo do ordenamento uma – pressuposição, ao molde kan�ano , mas – sim uma ideia que não está conectada em termos lógicos à própria estrutura do ordenamento. Apontando para uma �cção, poder- -ia acusar Kelsen de se abandonar o neokan�smo, de que foi grande expoente no campo jurídico, em prol de uma certa introdução de elementos externos à própria logicidade norma�va da teoria pura. Contrastando com sua teoria hipoté�co-�ccional da norma fundamental, num outro tópico Kelsen reconhece um pouco mais a abertura para a realidade. Quando trata da hermenêu�ca das normas jurídicas, Kelsen aponta para uma indeterminabilidade da interpretação do direito. A interpretação, para Kelsen, é o preenchimento de uma possibilidade dentro de uma moldura oferecida pelas normas, e não necessariamente será apenas tal possibilidade que se apresentará dentro da moldura. Kelsen trata da rela�va indeterminação do ato de aplicação do direito. A interpretação das normas jurídicas não é um processo de extração da sua verdade lógica. No sistema jurídico, impera a interpretação que a autoridade competente tenha dado, e que, portanto, vincula a si todos os sujeitos e fatos. Trata- se, no dizer de Kelsen, da interpretação autên�ca, que diferenciará de uma não autên�ca. Não se há de dizer sobre a correção dessa interpretação, mas sim de sua auten�cidade, porque foi produzida pela autoridade competente. Qualquer outra interpretação da norma que não seja a da autoridade competente é uma interpretação não autên�ca, isto é, doutrinária. Pode ser esta até mesmo muito melhor e mais conveniente ao sen�do da norma, mas não tem o condão de vincular os casos a que se re�ra. PALAVRAS-CHAVE: direito e ciência do direito; ser; dever-ser; analí�ca; imputação; hierarquia; pirâmide; validade; norma fundamental; hermenêu�ca. Impresso por GEYSE DO ESPÍRITO SANTO REZENDE, E-mail geyserezende@academico.ufs.br para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 15/11/2022 17:45:13 HABERMAS12 Jürgen Habermas (1929 -) Contexto: Filósofo e sociólogo Alemão. Membro da Escola de Frankfurt. Inicialmente, in�uenciado pelo marxismo e hegelianismo. Teve contato com a nova tradição hermenêu�ca Alemã, cujos representantes são Heidegger e Gadamer. Posteriormente, promoveu virada linguís�ca, construindo a teoria do agir comunica�vo. Obras: Mudança estrutural da esfera pública inves�gações quanto a uma – categoria da sociedade burguesa (1961); 12 Por Rafaella Rodrigues Moreira Direito e democracia: entre fac�cidade e validade (1990). A par�r da virada linguís�ca, com a teoria do agir comunica�vo, Habermas defende que o fundamento da sociabilidade é a comunicação. Logo, a �loso�a deve se preocupar com o entendimento entre os indivíduos. Nesse quadro, o direito é ferramenta de consenso. O Agir comunica�vo. Suas obras da primeira fase, são marcadamente marxistas. Na obra “Mudança estrutural da esfera pública”, demonstra preocupação com a esfera pública, a relação entre Estado e sociedade civil, opinião pública. Aponta para ideia do �m do horizonte da revolução das sociedades capitalistas ocidentais, cujas contradições talvez se tornariam menos agudas, com o incremento da produção e do consumo de bens. Na década de 70, Habermas abandona o marxismo e adota a teoria do agir comunica�vo. Que não nega totalmente o marxismo, volta-se à linguagem, razão pela qual se diz que Habermas promoveu uma . virada linguís�ca Para Habermas, a interação comunicacional entre os indivíduos, a par�r de relações culturais estruturadas dos homens entre si, com o grupo social, a relação de produção e a natureza, é que se constrói o espaço basilar da sociabilidade. Desta feita, o fundamental da �loso�a deixa de ser uma teoria do conhecimento, como forma de apropriação pelo sujeito, dos conteúdos meta�sicos que lhe sejam Conclusão do autor: A teoria geral do direito de Kelsen tornou-se a mais canônica construção do tecnicismo do posi�vismo jurídico. Trata-se de uma construção tendente ao esvaziamento do ser, da realidade, e por isso sua pretensão à universalidade formal, fora da história e imune aos impulsos e contradições sociais. Sua singeleza e obje�vidade, que �zeram sua fama e sua quase unanimidade entre os juristas prá�cos, é a sua máxima virtude extraída de sua máxima fraqueza. A teoria pura kelseniana não re�ete o todo do direito, muito menos o todo do direito em relação à totalidade social. Por isso, enquanto técnica emasculada das contradições do direito e da realidade, consegue ca�var o jurista jusposi�vista, sem crí�ca, aos acordes que, mínimos e formalistas tecnicamente, entoaram-se universalmente. Impresso por GEYSE DO ESPÍRITO SANTO REZENDE, E-mail geyserezende@academico.ufs.br para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 15/11/2022 17:45:13 apartados da origem. Passando à verdade construída enquanto processo comunicacional. Afasta o idealismo e o empirismo de sua �loso�a. A teoria do agir comunica�vo cons�tui- se numa espécie de subterfúgio em relação aos horizontes e à tradição marxista. Esta que também rompeu com a meta�sica, obje�vando separar sujeito e objeto. Contudo, o horizonte do marxismo é mais profundo: o ser enquanto produtor – ou seja, o homem na sociedade a par�r do entendimento das relações de produção, tendo em vista a divisão social em classes e trabalho nível de – compreensão não alcançado pelo habermasianismo. A teoria do agir comunica�vo, baseada nas interações sociais, dialoga com a hermenêu�ca existencial, com ela par�lhando a verdade como produto do sen�do existencial. E também com o marxismo, que é mais profundo, que teoria em apreço. Mais que uma teoria da linguagem, o agir comunica�vo é espécie diale�camente superior de formulação de racionalidades universais. A interação entre os indivíduos sociais, através da comunicação, pode gerar consensos. E as estabilidade destes seria a razão. Habermas se põe em um quadro de pensamento pós-meta�sico, afastando também o pós-modernismo. Para Habermas a razão é um produto social, cultural, histórico e variável. A razão é possível, na medida do consenso das interações sociais. A negação da meta�sica poderia rela�vizar a razão se não há Deus, nem – 13 Por Val, Guilherme e Willian verdade absoluta, não há razão universal. Mas, para Habermas, ainda que não haja verdade que paire sobre todos, há verdade construída enquanto consenso. A aposta no consenso, leva Habermas a inves�gar as possibilidades de interações entre indivíduos em sociedade, voltadas a aparar con�itos exacerbados, iden��cando no espaço público, na democracia e no direito formas de construção de procedimentos e consensos universalizáveis. Habermas vê a racionalidade como abertura do consenso, não como verdade imposta. As ditaduras podem arrogar uma verdade eterna, rígida, que possam a impor sobre os indivíduos. O que é abominável. Já a renúncia aos consensos mínimos leva ao individualismo exagerado – economicamente representando pelo neoliberalismo o que acarreta – fragmentação social. Por isso, um meio termo entre a in�exibilidade e o esgarçamento resultaria em ins�tuições �exíveis, todavia, minimamente respeitáveis. Cujo instrumento polí�co deste projeto é o direito, que, no entender de Habermas, é o espaçoque diminui atritos e gera consensos, processual e democra�camente. Palavras-chaves: teoria do agir comunica�vo; polí�ca delibera�va; razão enquanto consenso Filoso�a do Direito não posi�vista Heidegger13 O pensamento do alemão Martin Heidegger (1889-1976) é um dos mais