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Resumo Filosofia do Direito Alysson Mascaro 6 _ Passei Direto

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Impresso por GEYSE DO ESPÍRITO SANTO REZENDE, E-mail geyserezende@academico.ufs.br para uso pessoal e privado. Este material
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ruptura com o sistema capitalista. 
- A questão do justo: A questão do justo 
futuro e da superação da atual injus�ça é 
a re�exão por excelência de Ernst Bloch. 
Por este autor, advirá as re�exões marxista 
que não se limitam ao Direito, mas 
também ao justo. 
 
HORIZONTES FILOSÓFICOS 
CONTEMPORÂNEOS 
O jusposi�vismo se apresenta como uma 
�loso�a conservadora, pois tem como 
base o presente, a conservação de uma 
ordem posta, ainda que com alterações 
não substanciais. Em que pese a existência 
de diferentes ma�zes (a exemplo de 
Habermas, que se orienta pelo posi�vismo 
socialmente a�vo), não se encontra no 
posi�vismo a defesa da ruptura radical das 
bases norma�vas já existentes. 
Na corrente não jusposi�vista e não 
marxista, Heidegger, Gadamer e Schmi� 
são pensadores que podem apontar 
diretamente para o reacionarismo. São 
marcados pelo rea�smo. Em termos de 
sen�do da história, Heidegger e Gadamer, 
se tomados por conta própria, sem um uso 
crí�co, apontam para o passado, para a 
ruptura com a técnica a par�r do ângulo 
do originário. Carl Schmi�, de modo 
peculiar, aponta para um superpresente, 
na medida da revelação das entranhas do 
próprio poder estatal e de sua 
exacerbação. O pensamento de Michel 
Foucault, por sua vez, tomado por um 
prisma crítico, há de se juntar ao marxismo 
numa perspec�va de futuro, mas, no seu 
entorno, as leituras que tentam fazer de 
Foucault um pós-moderno impulsionam-
no a um presente fragmentado ou a um 
 
10 Por Rayana Falcão 
futuro fragmentado, conforme o grau de 
leitura pós-moderna que se lhe aplique. 
O marxismo, por sua vez, é 
eminentemente voltado para o futuro. A 
�loso�a crí�ca não se volta para o passado 
como possível orientador, nem tampouco 
�xa-se no presente com o olhar de 
exacerbação. A transformação é a sua 
marca de�nidora. 
 
Filoso�a do direito Jusposi�vista 
 
Miguel Reale10 (1910-2005) 
Contexto: Filósofo brasileiro, do século XX, 
classi�cado na �loso�a do Direito como 
jusposi�vista eclé�co. Conhecido, 
notadamente, por sua teoria 
tridimensional do direito (exis�ram outras 
teorias tridimensionais, mas o seu modelo 
foi o de maior destaque). 
Obras: 
Na década de 1940, com a obra 
Fundamentos do direito, lançou-se à 
fundação de uma teoria tridimensional do 
direito. 
O livro , cuja primeira Filoso�a do direito
edição é de 1953, é o grande marco 
sistemá�co da perspec�va jus�losó�ca de 
Miguel Reale. 
A tridimensionalidade 
Miguel Reale tem nas normas postas pelo 
Estado um dos eixos de sua análise do 
direito. Mas transcende claramente tais 
limites jusposi�vos. É na tríplice estrutura 
fenomenal de que norma, fato e valor 
Reale situa o acontecer jurídico. O seu 
ecle�smo aí fica patente: o direito não 
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pode ser analisado apenas segundo um 
único padrão, norma�vista. 
A grande originalidade de Reale é a 
proposta de uma ontologia muito 
especí�ca do fenômeno jurídico, distinta 
do jusposi�vismo estrito daqueles que 
iden��cam o direito imediatamente à 
norma estatal, mas também diferente das 
visões moralistas do direito. 
A visão tridimensional de Miguel Reale se 
assenta na percepção de que o fenômeno 
jurídico se cons�tui como tal justamente 
pela interação real de fato, norma e valor, 
numa dinâmica processual, de mútua 
implicação. 
Os valores não são compreendidos, no 
pensamento de Miguel Reale, como se 
fossem preceitos eternos, advindos de 
uma natureza imóvel. Nem tampouco têm 
caráter divino. Nem também, por sua vez, 
são mera dependência das normas 
jurídicas. Os valores se desenvolvem 
historicamente, em sociedade, alterando-
se. Não são exatas decorrências dos fatos 
sociais, porque se põem em um plano que 
não se esgota na própria realidade. 
À semelhança dos valores, os fatos 
também não são tomados como dados 
brutos à disposição do fenômeno jurídico 
e do jurista. A caracterís�ca de 
historicidade e cultura também se lhes 
aplica. Os fatos compõem o direito não 
como entes obje�vos, mas sim como 
realidade compreendida. Isso porque, 
para Reale, o conhecimento dos fatos, 
para as ciências humanas, difere do 
conhecimento dos fatos para os cien�stas 
da natureza. A vinculação entre fato e 
valor é intrínseca ao campo do direito. 
Toda a re�exão de Reale a respeito dos 
fatos, valores e normas, assim sendo, não 
é a de uma integração entre en�dades 
apartadas ou estranhas entre si, mas, sim, 
processual. Não se pensa em cada um 
desses momentos como instâncias 
isoladas. Nem se trata de encerrar o 
fenômeno jurídico num só valor, ou numa 
só norma, ou num só fato. São fatos, 
valores e normas, no plural, que compõem 
o fenômeno jurídico. 
A tridimensionalidade especí�ca de 
Miguel Reale compreendendo fato, –
norma e valor num processo de interação 
que é dinâmico desemboca numa –
par�cular visão a respeito da origem das 
normas jurídicas, o que Reale denomina 
por nomogênese jurídica.
A nomogênese, isto é, o processo de 
formação da norma, se faz a par�r da 
junção de um complexo axiológico 
(valores) com o complexo fá�co (fatos). 
Muitos valores, posições e interesses se 
ligam a determinados fatos. Dessa relação 
dos fatos com os valores surgem várias 
possíveis proposições norma�vas. A 
norma jurídica é, então, a opção por uma 
das possíveis orientações jurídicas 
hauridas dessa interação entre valores e 
fatos. 
O direito se apresenta assim, para Reale, 
como um fenômeno necessariamente 
cultural. A integração de fato, valor e 
norma é a expressão maior desse 
culturalismo. 
A integração de três elementos na 
experiência jurídica (o axiológico, o fá�co 
e o técnico-formal) revela-nos a 
precariedade de qualquer compreensão 
do Direito isoladamente como , como fato
valor ou como norma. 
Sendo o Direito um bem cultural, nele há 
sempre uma exigência axiológica 
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atualizando-se na condicionalidade 
histórica, de maneira que a obje�vidade 
do vínculo jurídico está sempre ligada às 
circunstâncias de cada sociedade, aos 
processos de opção ou de preferência 
entre os múl�plos caminhos. -se, Põe
assim, no âmago da experiência jurídica a 
problemá�ca do Poder, que procura 
assegurar por todos os modos, inclusive 
pela força �sica, a realização do Direito. 
Se Kelsen separa o dever-ser do ser, 
dis�nguindo entre ciência do direito e o 
próprio direito, lembrando pois Kant, 
Reale uni�ca razão e realidade, 
postulando uma compreensão teórica e 
uma fenomenologia do próprio direito 
enquanto tridimensionalidade, lembrando 
pois Hegel. 
 
A ontognoseologia 
A postulação de não isolar o saber sobre o 
direito do próprio direito representa, em 
Miguel Reale, a integração do 
conhecimento e da realidade em uma 
tensão dialé�ca própria. Reale dá a essa 
relação a denominação de dialé�ca de 
implicação e polaridade. Trata-se de um 
�po peculiar de dialé�ca, dis�nto 
daquelas consagradas por Hegel e Marx. 
Em Hegel e Marx, a dialé�ca pressupõe a 
contradição, e, nessa vinculação entre 
tese e an�tese, levanta-se a síntese como 
superação. Para Miguel Reale, no entanto, 
a dialé�ca de implicação e polaridade 
representa um tipoespecí�co de relação 
entre opostos, na medida em que não se 
excluem, mas, pelo contrário, se integram 
dinamicamente relação de –
complementaridade. 
É dessa maneira que Miguel Reale busca 
superar a dicotomia moderna entre 
racionalismo e idealismo, de um lado, e 
empirismo, de outro. Tal junção de 
conhecimento e realidade em uma 
dialé�ca própria resulta, em Miguel Reale, 
numa peculiar teoria do conhecimento, a 
ontognoseologia. ontologia, enquanto A 
especulação sobre o ser, para Reale 
remonta à clássica �loso�a, como a 
aristotélica. A gnosiologia, como problema 
do conhecimento, é a problemá�ca da 
�loso�a moderna. Ocorre que o mundo 
contemporâneo também faz uma 
chamada ao ser, como no caso do 
existencialismo. O ser e o conhecer devem 
se integrar num mesmo movimento 
dialé�co. 
Diz Reale: Poderíamos, em síntese, dizer 
que a Ontognoseologia desenvolve e 
integra em si duas ordens de pesquisas: 
uma sobre as condições do conhecimento 
do ponto de vista do jeito a parte su (
subjec�) e a outra sobre essas condições 
do ponto de vista do objeto parte (a 
objec�). Mais tarde ver- -á que a se
Ontognoseologia, após essa apreciação de 
caráter , culmina em uma está�co
correlação dinâmica entre sujeito e 
objeto, como fatores que se exigem 
reciprocamente segundo um processo 
dialé�co de complementaridade. 
A ontognoseologia de Reale representa 
uma tenta�va de escapar do dilema 
Processo 
de 
interação 
dinâmico
Valor
NormaFato
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surgido com a cisão �losó�ca entre sujeito 
e objeto, �pica da modernidade. 
Ocorre, no entanto, que a fórmula de 
Reale não afasta tal divisão. Não se trata 
de uma superação da cisão entre razão e 
realidade, mas, sim, da sua diluição na 
medida de seu encontro, numa relação de 
complementaridade. 
 
A análise do valor do Direito nos dá a 
axiologia ou deontologia jurídica. O 
momento norma�vo da 
tridimensionalidade jurídica é objeto da 
epistemologia jurídica. O conhecimento 
�losó�co do Direito como fato se resolve 
na culturologia jurídica. Quatro, pois, são 
os problemas básicos da Filoso�a do 
Direito, no entender do Prof. Miguel 
Reale: o problema ontognosiológico e os 
temas axiológico, epistemológico e 
culturológico. 
 
 
Não se limitando às reduções do 
jusposi�vismo, o pensamento �losó�co de 
Miguel Reale funda o seu culturalismo 
jurídico num plano fenomenológico. Para 
Reale, o fenômeno jurídico se apresenta e 
se compreende lastreado no mundo da 
cultura. A experiência e a cultura serão, 
então, origens e desaguadouros naturais 
de seu pensamento. 
 
11 Por Laura Helena Xavier Ferreira 
CRÍTICA DE MASCARO: Se não se �nca no 
reducionismo do jusposi�vismo, a 
tridimensionalidade de Reale, ganhando 
em vas�dão, não trata, por sua vez, da 
profundidade e da estrutura do fenômeno 
jurídico: os vínculos jurídicos são forjados 
de maneira histórica e social, mas sem a 
denúncia do caráter especí�co desse 
processo de concreção. Os �pos de 
relações sociais que ensejam o direito, as 
interações de poder que o fundam, o 
papel das relações histórico-sociais 
especí�cas que o formam, como o 
capitalismo, tais perspec�vas, que 
encaminhariam a jus�loso�a para o 
campo da crí�ca ao direito, não têm 
tratamento preferencial no pensamento 
realeano. 
 
Palavras-chaves: Fato, valor e norma; 
Tridimensionalidade do direito; 
Ontognoseologia jurídica; Dialé�ca de 
implicação e polaridade; Culturalismo. 
 
 
Kelsen (1881-1973)11 
Contexto: Hans Kelsen (1881-
1973), nascido em Praga, mas criado em 
Viena, no pós Primeira Guerra, foi um —
dos principais responsáveis pela redação 
da Cons�tuição da Áustria. Judeu, 
perseguido pelo nazismo, apoiou a 
República de Weimar e teve de abandonar 
sua cátedra na Alemanha, passando a 
parte �nal de sua vida nos EUA. 
O pensamento de Hans Kelsen 
representa o máximo engenho e o auge da 
construção do modelo jusposi�vista, que, 
lastreado na operacionalização das 
normas estatais, fez da prática jurídica 
uma técnica que se reputou universal. De 
fato, no pensamento de Kelsen está a 
•Análise do VALORAxiologia ou 
deontologia jurídica
•Momento NORMATIVO
Epistemologia 
jurídica
•Conhecimento �losó�co do 
direito como FATO
Culturologia 
Jurídica
Problema 
ontonosiológico
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possibilidade de compreensão mais 
singela e, por isso mesmo, mais espraiada 
do fenômeno jurídico: a sua iden�dade 
cien��ca é total e inexorável com a norma 
estatal. 
 
 
A Pureza do Direito 
A Teoria pura do direito (1934), a 
obra que expõe os pressupostos mais 
importantes de sua visão jus�losó�ca. A 
primeira grande postulação kelseniana 
reside na dis�nção entre o fenômeno 
jurídico e a ciência do direito. Kelsen 
separa a manifestação bruta do direito, 
como fenômeno social, do entendimento 
cien��co que se possa fazer a respeito 
dessa manifestação. Para Kelsen, são 
coisas dis�ntas o e a direito ciência do 
direito. 
Na prá�ca, o direito se mistura a 
todos os demais fenômenos sociais. Há 
juízes que julgam de acordo com suas 
inclinações sociais e polí�cas, por 
exemplo. Isso está no mundo dos fatos. A 
ciência do direito paira noutro patamar, 
ela abstrai dos fatos concretos e trabalha 
em um outro nível, muito próximo das 
normas estatais. 
A teoria pura do direito, proposta 
por Kelsen, é, na verdade, a postulação da 
própria cien��cidade do direito. Kelsen 
propugna que seu modelo de 
entendimento norma�vo seja chamado 
por ciência jurídica. Reputa sua teoria por 
pura em razão de não tratar dos dados 
concretos da realidade jurídica, que são 
parciais e não dão conta de explicar a 
estrutura formal do direito. A ciência do 
direito não será, para Kelsen, uma 
sociologia do direito, nem tampouco uma 
�loso�a do direito. Não é especula�va 
nem empírica no sen�do de atrelada a 
fatos. A teoria pura do direito é norma�va: 
o entendimento norma�vo ilumina 
juridicamente os fatos. 
É importante que se faça a 
dis�nção entre direito e ciência do direito 
para entender que Kelsen não apregoa, 
como o vulgo imagina, que o direito seja 
puro, somente norma�vo. Pelo contrário, 
o direito é contraditório, haurido 
imediatamente das contradições sociais e 
de seus operadores A postulação de . 
Kelsen é menor que isso: a ciência do 
direito é que deve ser entendida como 
pura. 
Para Kelsen, o direito só pode ser 
entendido cien��camente a par�r de uma 
especi�cidade que é norma�va, do campo 
do dever-ser. Assim sendo, a proposta 
kelseniana reside numa ciência 
norma�va, isto é, do . O direito dever-ser
não é analisado pelo campo de sua 
manifestação concreta, como ser. O que 
ele é, em termos factuais concretos, pode 
ser uma re�exão da sociologia ou da 
história, mas não da ciência do direito. 
De tal modo a teoria pura é 
dis�nguida apenas pela norma jurídica 
que até o , que pode ser analisado Estado
como um fenômeno bruto de poder, força 
e coesão social, é tomado pela análise de 
Kelsen como sendo a exata medida do 
próprio direito estatal. O Estado só pode 
ser entendido a par�r de sua iden�dade 
com o nível jurídico. 
A analí�ca, como ferramenta 
�losó�ca kelseniana, advém dessa 
postulação de uma teoria puramente 
norma�va do direito. Não se trata de fazer 
valorações do direito, relacionando-o à 
moral, nem tampouco de estabelecer 
apreciações polí�cas, se é justo ou ú�l. 
Trata-se de uma ciência que opera como a 
lógica. 
Para Kelsen, sendo a ciênciado 
direito considerada, nas suas palavras, de 
maneira dinâmica, isto é, no movimento 
das normas jurídicas em conjunto, uma 
norma só guarda coerência com o todo do 
ordenamento por razões formais. Não se 
indaga de sua plena aderência social, de 
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sua referência concreta, mas sim de sua 
origem formalmente válida e respaldada 
obje�vamente em normas superiores 
O resultado de tal método analí�co 
kelseniano é uma profunda obje�vidade, 
mas também um profundo 
desgarramento das manifestações da 
totalidade social. 
Para Kelsen, sua analí�ca das 
normas é uma ciência técnica universal. 
Ela serve a todo �po de direito, tomado no 
nível cien��co. Por isso, diz Kelsen, é uma 
teoria apta a explicar Estados liberais, os
os socialistas e mesmo os totalitários. O 
conteúdo das normas varia em cada qual 
desses Estados, mas a lógica formal das 
normas não. 
 
A Teoria Geral do Direito 
No nível de uma teoria geral do 
direito, é de Kelsen a postulação da 
compreensão de duas esferas de 
abordagem das normas jurídicas: a 
está�ca e a dinâmica. A está�ca 
representaria o entendimento obje�vo 
das normas jurídicas em si mesmas, na 
medida em que todas têm uma certa 
universalidade que as cons�tui. A 
dinâmica representaria a tomada das 
normas em conjunto, dentro de um 
ordenamento jurídico, ao mesmo tempo 
em que trataria da criação e do 
perecimento das normas. O direito é 
também um fenômeno dinâmico, pois sua 
apresentação se faz por meio de atos 
norma�vos que autorizam a concreção de 
outros atos norma�vos, numa cadeia 
dinâmica. 
Para Kelsen, o vínculo entre uma 
hipótese e sua consequência, para o 
direito, é de imputação, e não de 
causalidade. No mundo jurídico, como 
decorrência de um fato, uma sanção surge 
como um dever imputado, não como uma 
necessidade. Por isso, ao contrário das 
regras da natureza, para Kelsen as normas 
jurídicas estão cons�tuídas pelo primado 
do dever-ser. 
A dis�nção entre ser ( ) e Sein
dever-ser (Sollen) é fundamental para as 
pretensões teóricas kelsenianas. 
Cien��camente, o direito não é entendido 
como uma compreensão do ser, da 
realidade existente. Pelo contrário, o 
direito, enquanto ciência, limita-se a um 
entendimento das conexões de dever-ser. 
Deve-se imputar uma sanção a um fato. 
Não necessariamente do fato decorrerá a 
sanção, por isso não é esta uma relação 
necessária, mas sim de imputação. 
É no tratamento da norma jurídica 
como um dever-ser que, mais 
sensivelmente, Kelsen contrasta com as 
demais �loso�as do direito, que têm uma 
mirada maior no ser. Mas, justamente por 
isso, pela desconexão com o direito 
enquanto ser, é que Kelsen torna-se o 
pensador-padrão da prá�ca do jurista 
técnico contemporâneo. 
No que tange à dinâmica jurídica, 
Hans Kelsen reconhece alguma abertura à 
concreção social do direito. Isso se dá 
quando Kelsen trata da produção 
norma�va. As normas não são produzidas 
apenas pela lógica. As normas existem por 
razão dos atos de vontade do legislador 
que as cria . 
Para que uma norma possa exis�r 
e ser válida, é necessário um respaldo nas 
normas superiores, que facultem ao 
legislador, então, produzir as normas 
inferiores. De normas superiores abre-se o 
campo lógico de validade das normas 
inferiores, mas a criação da norma, ainda 
assim, é um ato de vontade, que se abre 
aos impulsos reais da imbricação do 
direito com a totalidade social. Assim 
sendo, a produção norma�va, para Kelsen, 
se dá sempre de acordo com o seguinte 
esquema: norma ato de vontade – –
norma. 
A ciência do direito somente pode 
ser pensada a par�r de uma construção 
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escalonada do ordenamento jurídico, que 
estabelece patamares tendo por base a 
hierarquia das normas. No ordenamento 
jurídico, as normas não se encontram 
esparsas, sem logicidade: pelo contrário, 
elas são estruturadas a par�r de uma 
hierarquia. Na base dessa hierarquia, há as 
normas individualizadas: sentenças ou 
portarias, por exemplo. Em escalões mais 
altos, há normas de outros níveis 
hierárquicos mais determinantes, como as 
leis. No úl�mo escalão, há as normas 
cons�tucionais. Pode-se fazer a imagem 
de uma para tal ordenamento pirâmide
jurídico. 
 
 
A estrutura do ordenamento 
jurídico se concre�za, ainda, por meio da 
validade das normas. A validade é a 
qualidade da norma que revela sua 
adequação formal e material ao 
ordenamento. Uma norma só é válida 
porque normas hierarquicamente 
superiores lhe dão esse manto. Não é no 
mesmo patamar que se vislumbra a 
validade de uma norma: deve-se olhar 
para os escalões superiores para 
iden��car a validade de uma norma 
inferior. 
Se a validade de uma norma é dada 
pelas normas que lhe são superiores, a 
grande indagação teórica que se faz a 
Kelsen é a respeito da culminância do 
próprio ordenamento: quem dá validade 
às normas mais altas do ordenamento, 
isto é, as normas cons�tucionais? 
O pensamento de Kelsen se 
encaminha para a resolução do problema 
postulando a u�lização de uma 
ferramenta teórica original, a norma 
fundamental. 
Para não dar margem a iden��car 
o poder, as relações concretas, como 
sendo a base que impõe o ordenamento –
o que faria uma ciência pura depender de 
fatos sociais para sua explicação , Kelsen –
lança mão de um recurso não concreto, 
mas apenas teórico. A norma fundamental 
é um impera�vo da ciência do direito: é 
preciso pensar que se devem considerar 
válidas as normas cons�tucionais, e delas 
começar o escalão hierárquico do 
ordenamento. 
Mas por que tal ordenamento, e 
não outro, meramente imaginário? Há 
uma certa ligação entre a norma 
fundamental pressuposta e um mínimo de 
referências sociais concretas presentes 
em um determinado ordenamento. 
Ninguém há de considerar que o 
ordenamento jurídico aplicado no Brasil é 
o hindu, apenas por uma questão de 
imaginação ou de capricho do jurista. A 
norma fundamental não é apenas uma 
ideia do jurista que cria uma obrigação de 
se respeitar um ordenamento. É também 
uma diretriz prá�ca sobre o próprio 
ordenamento que se apresenta na 
realidade. 
Sendo uma condição do 
pensamento, Kelsen procede, nesse 
ponto, como Kant, quando, afastando-se 
dos conhecimentos prontos da meta�sica, 
que dizia o certo e o errado conforme 
mandamentos exteriores vontade de –
Deus, por exemplo , passou a pensar nas –
condições pelas quais se podia conceber o 
conhecimento. 
A cadeia das normas não se 
fundamenta em algo concreto, como um 
Cons�tuição
Normas de níveis 
hierárquicos mais 
determinantes 
(leis)
Normas individualizadas 
(sentenças, portarias)
V
alid
ade 
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poder que impõe a Cons�tuição e o 
ordenamento. Tratando do direito não 
em termos reais, mas sim apenas no nível 
“cien��co”, isto é, norma�vo, Kelsen 
aponta para a norma fundamental como 
uma pressuposição do cien�sta do 
direito. Para não dar margem a um ser (o 
poder) que impusesse o conjunto do 
dever-ser (o ordenamento), Kelsen lança 
mão de um pressuposto que deve ser o 
guia do cien�sta do direito, e, no limite, 
uma sua pro�ssão de fé. 
Mas, numa úl�ma fase de seu 
pensamento, Kelsen altera sua re�exão a 
respeito da norma fundamental. O seu 
livro póstumo, a , Teoria geral das normas
já não mais trata a norma fundamental 
como do pensamento pressuposto 
cien��co do jurista. Nesteúl�mo livro, a 
norma fundamental é tratada como uma 
�cção. 
Para o úl�mo Kelsen, da Teoria 
geral das normas, a norma fundamental 
não é uma condição teoré�ca para pensar 
o todo do ordenamento uma –
pressuposição, ao molde kan�ano , mas –
sim uma ideia que não está conectada em 
termos lógicos à própria estrutura do 
ordenamento. Apontando para uma 
�cção, poder- -ia acusar Kelsen de se
abandonar o neokan�smo, de que foi 
grande expoente no campo jurídico, em 
prol de uma certa introdução de 
elementos externos à própria logicidade 
norma�va da teoria pura. 
Contrastando com sua teoria 
hipoté�co-�ccional da norma 
fundamental, num outro tópico Kelsen 
reconhece um pouco mais a abertura para 
a realidade. Quando trata da 
hermenêu�ca das normas jurídicas, 
Kelsen aponta para uma 
indeterminabilidade da interpretação do 
direito. A interpretação, para Kelsen, é o 
preenchimento de uma possibilidade 
dentro de uma moldura oferecida pelas 
normas, e não necessariamente será 
apenas tal possibilidade que se 
apresentará dentro da moldura. Kelsen 
trata da rela�va indeterminação do ato de 
aplicação do direito. 
A interpretação das normas 
jurídicas não é um processo de extração da 
sua verdade lógica. No sistema jurídico, 
impera a interpretação que a autoridade 
competente tenha dado, e que, portanto, 
vincula a si todos os sujeitos e fatos. Trata-
se, no dizer de Kelsen, da interpretação 
autên�ca, que diferenciará de uma não 
autên�ca. 
Não se há de dizer sobre a correção 
dessa interpretação, mas sim de sua 
auten�cidade, porque foi produzida pela 
autoridade competente. Qualquer outra 
interpretação da norma que não seja a da 
autoridade competente é uma 
interpretação não autên�ca, isto é, 
doutrinária. Pode ser esta até mesmo 
muito melhor e mais conveniente ao 
sen�do da norma, mas não tem o condão 
de vincular os casos a que se re�ra. 
 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: direito e ciência do 
direito; ser; dever-ser; analí�ca; 
imputação; hierarquia; pirâmide; 
validade; norma fundamental; 
hermenêu�ca. 
 
 
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HABERMAS12 
 
Jürgen Habermas (1929 -) 
Contexto: Filósofo e sociólogo Alemão. 
Membro da Escola de Frankfurt. 
Inicialmente, in�uenciado pelo marxismo 
e hegelianismo. Teve contato com a nova 
tradição hermenêu�ca Alemã, cujos 
representantes são Heidegger e Gadamer. 
Posteriormente, promoveu virada 
linguís�ca, construindo a teoria do agir 
comunica�vo. 
Obras: Mudança estrutural da esfera 
pública inves�gações quanto a uma –
categoria da sociedade burguesa (1961); 
 
12 Por Rafaella Rodrigues Moreira 
Direito e democracia: entre fac�cidade e 
validade (1990). 
 
A par�r da virada linguís�ca, com a 
teoria do agir comunica�vo, Habermas 
defende que o fundamento da 
sociabilidade é a comunicação. Logo, a 
�loso�a deve se preocupar com o 
entendimento entre os indivíduos. Nesse 
quadro, o direito é ferramenta de 
consenso. 
O Agir comunica�vo. 
Suas obras da primeira fase, são 
marcadamente marxistas. Na obra 
“Mudança estrutural da esfera pública”, 
demonstra preocupação com a esfera 
pública, a relação entre Estado e 
sociedade civil, opinião pública. Aponta 
para ideia do �m do horizonte da 
revolução das sociedades capitalistas 
ocidentais, cujas contradições talvez se 
tornariam menos agudas, com o 
incremento da produção e do consumo de 
bens. 
Na década de 70, Habermas abandona 
o marxismo e adota a teoria do agir 
comunica�vo. Que não nega totalmente o 
marxismo, volta-se à linguagem, razão 
pela qual se diz que Habermas promoveu 
uma . virada linguís�ca
Para Habermas, a interação 
comunicacional entre os indivíduos, a 
par�r de relações culturais estruturadas 
dos homens entre si, com o grupo social, a 
relação de produção e a natureza, é que se 
constrói o espaço basilar da sociabilidade. 
Desta feita, o fundamental da �loso�a 
deixa de ser uma teoria do conhecimento, 
como forma de apropriação pelo sujeito, 
dos conteúdos meta�sicos que lhe sejam 
Conclusão do autor: A teoria geral do 
direito de Kelsen tornou-se a mais 
canônica construção do tecnicismo do 
posi�vismo jurídico. Trata-se de uma 
construção tendente ao esvaziamento 
do ser, da realidade, e por isso sua 
pretensão à universalidade formal, 
fora da história e imune aos impulsos e 
contradições sociais. Sua singeleza e 
obje�vidade, que �zeram sua fama e 
sua quase unanimidade entre os 
juristas prá�cos, é a sua máxima 
virtude extraída de sua máxima 
fraqueza. 
A teoria pura kelseniana não re�ete o 
todo do direito, muito menos o todo 
do direito em relação à totalidade 
social. Por isso, enquanto técnica 
emasculada das contradições do 
direito e da realidade, consegue ca�var 
o jurista jusposi�vista, sem crí�ca, aos 
acordes que, mínimos e formalistas 
tecnicamente, entoaram-se 
universalmente. 
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apartados da origem. Passando à verdade 
construída enquanto processo 
comunicacional. Afasta o idealismo e o 
empirismo de sua �loso�a. 
A teoria do agir comunica�vo cons�tui-
se numa espécie de subterfúgio em 
relação aos horizontes e à tradição 
marxista. Esta que também rompeu com a 
meta�sica, obje�vando separar sujeito e 
objeto. Contudo, o horizonte do marxismo 
é mais profundo: o ser enquanto produtor 
– ou seja, o homem na sociedade a par�r 
do entendimento das relações de 
produção, tendo em vista a divisão social 
em classes e trabalho nível de –
compreensão não alcançado pelo 
habermasianismo. 
A teoria do agir comunica�vo, baseada 
nas interações sociais, dialoga com a 
hermenêu�ca existencial, com ela 
par�lhando a verdade como produto do 
sen�do existencial. E também com o 
marxismo, que é mais profundo, que 
teoria em apreço. 
Mais que uma teoria da linguagem, o 
agir comunica�vo é espécie 
diale�camente superior de formulação de 
racionalidades universais. A interação 
entre os indivíduos sociais, através da 
comunicação, pode gerar consensos. E as 
estabilidade destes seria a razão. 
Habermas se põe em um quadro de 
pensamento pós-meta�sico, afastando 
também o pós-modernismo. 
Para Habermas a razão é um produto 
social, cultural, histórico e variável. A 
razão é possível, na medida do consenso 
das interações sociais. 
A negação da meta�sica poderia 
rela�vizar a razão se não há Deus, nem –
 
13 Por Val, Guilherme e Willian 
verdade absoluta, não há razão universal. 
Mas, para Habermas, ainda que não haja 
verdade que paire sobre todos, há 
verdade construída enquanto consenso. 
A aposta no consenso, leva Habermas a 
inves�gar as possibilidades de interações 
entre indivíduos em sociedade, voltadas a 
aparar con�itos exacerbados, 
iden��cando no espaço público, na 
democracia e no direito formas de 
construção de procedimentos e consensos 
universalizáveis. 
Habermas vê a racionalidade como 
abertura do consenso, não como verdade 
imposta. As ditaduras podem arrogar uma 
verdade eterna, rígida, que possam a 
impor sobre os indivíduos. O que é 
abominável. Já a renúncia aos consensos 
mínimos leva ao individualismo exagerado 
– economicamente representando pelo 
neoliberalismo o que acarreta –
fragmentação social. 
Por isso, um meio termo entre a 
in�exibilidade e o esgarçamento resultaria 
em ins�tuições �exíveis, todavia, 
minimamente respeitáveis. Cujo 
instrumento polí�co deste projeto é o 
direito, que, no entender de Habermas, é 
o espaçoque diminui atritos e gera 
consensos, processual e 
democra�camente. 
Palavras-chaves: teoria do agir 
comunica�vo; polí�ca delibera�va; razão 
enquanto consenso 
 
Filoso�a do Direito não posi�vista 
Heidegger13 
O pensamento do alemão Martin 
Heidegger (1889-1976) é um dos mais

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