Buscar

Concepções de Filosofia do Direito

Prévia do material em texto

· Texto 01: CONCEPÇÕES DE FILOSOFIA DO DIREITO
O texto trata sobre diferentes abordagens sobre filosofia do direito. São quatro autores com pensamentos distintos, mas que se complementam no que se refere a filosofia jurídica, sendo eles: Norberto Bobbio, Manuel Atienza, Theodor Vieweg e Franz von Kutschera.
· Norberto Bobbio: vincula a filosofia do direito como método, sendo uma filosofia analítica.
Para ele, a Filosofia do Direito é o método usado para entender o direito, por mais que ele acredite que tentar definir é uma tarefa fadada ao fracasso. Ele faz agrupamentos nos quais estão atreladas questões da filosofia do direito. Dentre elas cabe citar a primeira que vincula a filosofia política, ou seja, a abordagem está ligada a recomendações para reformas sociais, ou seja, temas pertinentes à justiça, liberdade e bem-estar. Um olhar para princípios condizentes a conduta dos homens na sociedade. Compreende-se aqui também a filosofia do direito dos filósofos. 
	Filosofia política ou Filosofia do Direito (no sentido amplo)
	Filosofia Política:
	Propostas de reforma na sociedade segundo determinados fins, declarados ou não (liberdade, ordem, justiça e bem-estar) e segundo algumas regras elevadas à condição de princípios supremos da conduta do ser humano em sociedade
	Filosofia do Direito (no sentido estrito)
	Teoria geral do direito:
	Análise e definição e noções ferais comuns a todos os ordenamentos jurídicos, permitindo uma delimitação do campo do direito em relação à moral, aos costumes
	
	Sociologia Jurídica
	Estudo do direito como fenômeno social, sua evolução, função, relações com a sociedade 
	
	Metodologia Jurídica
	Estudos sobre a ciência jurídica
Ele acredita que há uma independência entre a filosofia do direito e a filosofia geral, sendo assim, em sua concepção existe a filosofia do direito dos filósofos e a filosofia do direito dos juristas.
· Filosofia do direito dos filósofos:
· Concepção do mundo aplicada ao direito
· O filósofo adotaria uma determinada concepção, com seus pressupostos, conceitos e premissas pré-constituídas, tentando responder de modo sistemático aos problemas do direito e/ou da justiça
· Filosofia do direito dos juristas:
· É uma teoria geral do direito
· O jurista-filósofo não parte de uma prévia concepção de mundo, mas dos problemas conceituais específicos do direito
Considera-se um jurista filósofo, pois considera-se um analítico, para ele a filosofia do direito é aplicada, diante disso, pode ser utilizada de forma metodológica não apenas para compreender o fenômeno jurídico, mas para melhorar a jurisprudência.
· Manuel Atienza: relaciona a filosofia do direito como uma reflexão metajurídica, ou seja, uma teoria de saberes jurídicos. 
Significa dizer que o direito reflete sobre o próprio direito, ou seja, a evolução jurídica define o que é justo ou injusto. Há a perspectiva filosófica e a perspectiva científica, enquanto que o viés científico possibilita o surgimento dos conceitos e marcos conceituais, já no que tange ao viés filosófico ele confronta/questiona os conceitos e marcos conceituais. Por isso, a filosofia é crítica, questionando os saberes, por isso, possui função interdisciplinar.
· Theodor Vieweg: propõe a filosofia do direito como investigação básica. 
Diante disso, seu pensamento conecta-se a zetética do direito, ou seja, não se conforma com o dogmatismo que pode vir a prevalecer, sendo assim, a filosofia do direito melhora a dogmática jurídica, pois investiga/questiona o direito positivo. Mas, há a interdisciplinaridade, pois relaciona-se com as zetéticas especializadas (sociologia jurídica, história do direito, teoria geral do Estado, criminologia, etc). Então, a filosofia do direito seria a zetética filosófica.
· Franz von Kutschera: define a filosofia do direito como integrante da filosofia prática.
Com base nessa perspectiva, compreende-se que há uma investigação independente, pois, a filosofia do direito é uma disciplina autônoma que busca colaborar com a dogmática jurídica, mas trazendo críticas na sua condução e possibilitando correções conceituais. Sendo assim, há aqui uma investigação filosófica que vincula os princípios éticos existentes na sociedade que podem interagir com a política e, diante disso, criam-se princípios fundamentais condizentes ao pensamento social vigente. Por isso, diz Steinmetz (2018, p. 363): “Em síntese, a filosofia do direito, como parte da filosofia prática, deve dar conta das relações entre ética, política e direito, tendo como objeto o direito positivo e o Estado”.
A filosofia do direito tem como um dos seus propósitos a desdogmatização, ou seja, as normas não são verdades absolutas, deve-se questionar, refletir sobre os acontecimentos vinculados ao direito, sendo assim, é uma disciplina autônoma e relevante para que haja justiça na sociedade. Através dela, há a oportunidade de evolução, pois os erros cometidos do passado são contestados e avaliados mediante a racionalidade.
· Texto 02: A CONEXÃO DOS TEÓRICOS DA PHYSIS COM O TRÁGICO E A JUSTIÇA
A cultura era importante para os cidadãos atenienses, por isso, o teatro era um espaço para promover reflexões e as tragédias gregas é um símbolo para a busca da verdade. O teatro grego enaltece as virtudes e as fraquezas do ser humano. Diante disso, promovia uma reflexão em seus espectadores, ou seja, um olhar para o seu interior, promovendo descobertas atreladas a verdade do ser.
A phýsis (natureza; processo de nascimento e crescimento) tem importância para os filósofos gregos Anaximandro, Heráclito e Parmênides, por isso, estão vinculados ao período cosmológico (600-450 a.C.), momento esse relacionado ao surgimento da filosofia. Outro ponto importante é que os três filósofos citados se conectam também com a tragédia grega.
Anaximandro liga a phýsis ao infinito, ou seja, para ele a origem de tudo vem de algo que é ilimitado, ou seja, o ápeiron, sendo ele o início e o fim de tudo. No que se refere à justiça ele foi o primeiro a abordar o que vem a ser o justo, algo que pode ser fundamentado a partir de sua frase: “De onde as coisas têm seu nascimento, para lá devem afundar-se na perdição, segundo a necessidade; pois elas devem expiar e ser julgadas pela injustiça, segundo a ordem do tempo” (apud MASCARO, 2022, p. 31).
Heráclito é o pensador pré-socrático mais próximo da tragédia, ele afirma o devir e acredita na luta dos opostos e, com isso, chega-se a manutenção da ordem cósmica. Significa dizer que para ele é inevitável a guerra para nortear a conduta humana. Frisa-se que deve ocorrer a concórdia e a discórdia para que se chegue à justiça (MASCARO, 2022, p. 32).
Há um fragmento do pensamento de Heráclito que diz: “No mesmo rio entramos e não entramos; somos e não somos”, “não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”. (apud MASCARO, 2022, p. 32). Aqui entende-se que a mudança é algo constante, tudo modifica-se, transforma-se e até mesmo chega ao fim.
· Texto 03: A justiça e o melhor regime político em Platão e Aristóteles
Parmênides acredita na mudança, mas afirma que o que for único não se muda, ou seja, pode ocorrer estabilidade nas coisas. Vislumbra-se nele dois princípios: o princípio da identidade que significa que o que é, é; princípio da não contradição, no qual o que é não pode não ser (MASCARO, 2022, p. 33).
Os sofistas ensinavam a oratória e a retórica no séc. V a. C. Mas, cabe destacar que havia a lógica da ambiguidade, há uma luta travada pela palavra, onde a vitória é alcançada por teses argumentativas. Salienta-se que os sofistas posicionavam-se politicamente, detinham opiniões relacionadas ao antropocentrismo, o homem é o centro das coisas, por isso há nesse período o fortalecimento das instituições democráticas e do teatro grego, essa expressão artística, em que o texto expressado pelos atores é um mecanismo de promover a racionalidade, utilizando-se dos seus enredos para propiciar o debate acerca da condutas pertinentes ao ser humano.
Os teóricos da phýsis se conectam com o trágico e a justiça com o auxílio dos sofistas. Anaximandro,Heráclito e Parmênides compreendem a formação do mundo não mais com ligação com os deuses, mas buscam uma forma racional para o surgimento das coisas, um lógos (palavra, razão). Os seus pensamentos vinculam-se a phýsis e sua relação com os atos humanos, sendo assim, há também uma abordagem trágica e também um olhar para a justiça.
A justiça é algo intrínseco nas tragédias gregas. A discussão do que é justo e injusto é tema de diversos textos tais como Antígone de Sófocles. Na atualidade, a tragédia grega ainda consegue promover discussões acaloradas sobre temas que não ainda não se esgotaram e merecem atenção, pois o injusto não pode prevalecer na sociedade e a arte pode promover a sabedoria entre os seus espectadores.
· A República de Platão
A filosofia política surge ainda na Grécia Antiga tendo como precursor Platão. A República é uma obra dividida em 10 livros que apresentam diálogos que fomentam discussões sobre a política na Cidade, transcorrendo sobre qual o melhor regime e aqueles que são tidos como impuros.
O autor André Menezes Rocha (2021), utiliza como embasamento do seu texto, estudos de Victor Goldschimidt. Sendo assim, com base nesse olhar pode-se afirmar que: a justiça conecta o livro I aos demais livros, no qual inicia-se um caminho em que a dialética promove a ideia de essência da justiça.
O livro II afirma que a justiça se faz com a harmonia na divisão do trabalho dos que compõem a Cidade. No livro III surge a justiça como virtude em cada indivíduo e em relação à Cidade seria também uma harmonia entre os que fazem parte dela.
A partir dos livros IV e V pode-se compreender a essência da justiça na Cidade, sendo que há um vínculo com as três classes sociais que interagem entre si, sendo elas; os sábios, os guardiões e a os comerciantes.
Com base no IV entende-se a partir da dialética que existe uma forma pura e outras 4 impuras de Cidade, mas em todas elas existe as três classes sociais.
No livro V a educação (paideia) dos cidadãos possibilita a ascensão, mas pautando-se pela ciência do Bem.
Platão nos livros VI e VII afirma a ciência do Bem como a ciência que é exercida pelos governantes e, com o auxílio dela, chega-se à Justiça. Ressalta que a dialética, a geometria, a aritmética, a harmonia e a cosmologia integram a ciência do Bem.
Os livros VIII e IX destacam as formas de regime e, há uma análise descendente, ou seja, cita-se o pior regime que seria o tirânico. Frisa-se que também no livro é escolhido a aristocracia como regime ideal. Os quatro regimes impuros são: timocracia, oligarquia, democracia e tirania. Pode ocorrer nesses regimes a degeneração dos indivíduos e, com isso, ocorrer o afastamento do que seria a Justiça e o Bem.
O livro X trata sobre a injustiça no indivíduo e diferencia o cidadão sábio que seria aquele que é virtuoso e o tirano que possui vícios, independente de qual Cidade faça parte.
Goldschimidt enfatiza em seus estudos que Platão teceu uma base filosófica para a política, sendo assim, compreende-se como discurso de filosofia política. Cabe destacar que Platão divergia do pensamento dos sofistas, não basta a arte da retórica para haver justiça, não se trata de mera convenção, ou seja, um acordo entre as partes, onde um torna- se vitorioso pelo uso da palavra.
Importante destacar que o Bem para Platão não seria algo vinculado a bondade, ou seja, não é o antônimo de mal. Seria algo metafísico, superior, na qual seria uma iluminação, algo como sol que irradia as ideias do filósofo, estaria no mundo das ideias e irradia para o mundo dos sentidos, mas para que haja Justiça o ideal é que a Cidade seja governada por filósofos reis, pois eles conseguem promover a Justiça através de sua sabedoria, sendo que isso é pautado pelo uso da razão.
· A Política de Aristóteles
O autor utiliza os pensamentos de Francis Wolff para a escrita do seu estudo acadêmico em que se analisou os oitos livros que compõem A Política de Aristóteles. Informa-se que os livros possuem discurso retórico e a manifestação de opiniões diversas, informando que nos textos não é possível criar por dedução uma linha de pensamento única, pois aborda-se diversos temas. Propõem-se os princípios de Bobbio no que tange a história das teorias das formas de governo.
Para Francis Wolff a obra de Aristóteles possui questões descritivas e prescritivas, mas também há dois tipos de procedimentos, sendo eles o especulativo e o positivo. A investigação da pesquisa se dará em relação aos livros I, III, VII e VIII, pautando pelo procedimento especulativo e a justiça como princípio norteador para conhecer os tipos de regime e a indicação prescritiva do melhor regime.
O livro I há a citação da igualdade natural e a desigualdade natural. Em relação a igualdade diz que ela existe entre os homens livres, já a desigualdade natural tem o homem livre como superior, ou seja, existe a desigualdade natural entre homens livres e escravos, homens livres e mulheres, homens livres e crianças. Cita-se também o poder despótico e o poder político em que o primeiro é legítimo seu uso no âmbito privado da família, pois seria justo o homem mandar em seus subordinados, mas é inconcebível sua utilização no governo da Cidade, pois seria injusto um homem livre dar ordens a outro homem livre. Já no poder político há um governo comandado por homens livres, há aqui a igualdade entre eles, alternando assim o poder entre eles.
Aristóteles, em seu livro II, informa que a cidadania se caracteriza pelo direito de participação no governo da Cidade, ou seja, não há vínculo com a família a que pertence, não sendo definido ao nascer, é algo que está relacionado a instituição política: “ [...] direito de votar nas assembleias e de participar no exercício do poder público de sua pátria.”
O livro III começa a investigar os regimes ou constituições (polithea). Para Aristóteles: “[...] quando o governo é constituído segundo o princípio da igualdade da equivalência entre os cidadãos, estes pleiteiam o exercício alternado das funções governamentais. [,,,] enquanto as que visam apenas ao bem dos próprios governantes são impuras.”
Aristóteles também define em seu livro III as diferentes espécies de Cidade, sendo ao todo seis. As três justas são: a Monarquia, a Aristocracia e o Regime Popular e as três injustas: a Tirania, a Oligarquia e a Democracia. Ressalta que nas Cidades justas prevalece a isonomia no que se refere as leis, governa-se para o bem público, respeitando- se as leis. Entretanto, nas Cidades injustas ocorre o contrário.
O bem público da Cidade é comum a todos os homens iguais, ou seja, há uma igualdade proporcional. Cabe destacar o entendimento de justiça participativa e justiça distributiva, visto que na participativa cada cidadão usufrui do bem público por participação e não por divisão. Na justiça distributiva há a distribuição, ou seja, aqui os bens econômicos podem ser divididos e distribuídos. Destaca-se que toda Cidade tem como propósito a vida boa dos seus cidadãos, ressalta-se a felicidade de cada indivíduo, mas cada Cidade faz a escolha dos fundamentos da sua cidadania e participação dos seus indivíduos.
A Cidade define as características de sua cidadania, por isso, há diferentes tipos de cidadãos e de Cidades. Para a existência de uma Cidade justa ou injusta relaciona-se com sua finalidade natural, ou seja, os seus princípios. Aristóteles afirma que a felicidade é uma finalidade suprema da Cidade e está relacionada as virtudes de seus cidadãos, sendo assim, as práticas das virtudes (coragem, justiça e prudência), no dia a dia, promove assim a felicidade dos cidadãos, propiciando também uma Cidade mais feliz, sendo algo explicado em seu livro VII.
Os autores Wolff e Bobbio concordam que Aristóteles considerava o Regime Popular (polithea) como sendo o melhor. Há que se falar que essa concepção seria o mais justo, pois há um enfoque na justiça participativa, com isso, todos participam ativamente, sendo a amizade um ponto importante conforme diz o livro IX da Ética a Nicômaco.
Aristóteles assim como Platão acredita que paraocorrer justiça na Cidade deve ocorrer a harmonia entre as classes sociais e como elo entre os cidadãos a amizade. A injustiça se relaciona com desarmonia das classes sociais. No entanto, as divisões de classes são diferentes para ambos. Para Aristóteles a divisão é distributiva, por isso, existe os ricos, pobres e as classes médias. Já para Platão há os sábios, guardiões e comerciantes. Finaliza André Menezes Rocha (2021, p. 96): “O regime popular [polithea] é a espécie de constituição que melhor permite à Cidade realizar a sua felicidade, na medida em que as classes médias se estabelecem como o meio termo entre os excessos dos ricos e as faltas dos pobres.” Ou seja, há uma harmonia entre as classes, as diferenças não geram conflitos e com isso há uma maior propensão para que todos sejam felizes pois existe também a amizade entre os iguais.

Mais conteúdos dessa disciplina