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O SÍMBOLO ARQUETÍPICO INVESTIGADO ENTRE AS MULHERES

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Daniely Damasceno de Melo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CINDERELA: O SÍMBOLO ARQUETÍPICO INVESTIGADO ENTRE AS MULHERES 
CASADAS DE PALMAS/TO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palmas 
2010 
 
 
 
 
 
 
Daniely Damasceno de Melo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CINDERELA: O SÍMBOLO ARQUETÍPICO INVESTIGADO ENTRE AS MULHERES 
CASADAS DE PALMAS/TO 
 
Monografia apresentada ao Centro 
Universitário Luterano de Palmas como 
requisito para obtenção do título de graduado 
em psicologia – Formação de Psicólogo, 
orientado pelo Prof. Msc. Wayne Francis 
Mathews e pela co-orientadora Profa. Camila 
de Menezes Brusch. 
 
 
 
 
 
 
 
Palmas 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária –Raquel Modesto CRB_2/1285 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Melo, Daniely Damasceno de. 
M528c Cinderela: o símbolo arquetípico investigado entre as mulheres 
casadas de Palmas/To./ Daniely Damasceno de Melo. – Palmas, 
2010. 
 71 f.; 28cm 
 
 
 Orientação: Profª. Wayne Francis Mathews 
 TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) Psicologia. Centro 
Universitário Luterano de Palmas. 2010 
 
 
 1. Arquetípico 2. Cinderela 3. Casamento – amor - romântico I. 
Titulo II. Psicologia 
 
 
 CDU 159.964.2 
 
Daniely Damasceno de Melo 
 
 
 
CINDERELA: O SÍMBOLO ARQUETÍPICO INVESTIGADO ENTRE AS MULHERES 
CASADAS DE PALMAS/TO 
 
 
Monografia apresentada ao Centro 
Universitário Luterano de Palmas como 
requisito para obtenção do título de graduado 
em psicologia – Formação de Psicólogo, 
orientado pelo Prof. Msc. Wayne Francis 
Mathews e pela co-orientadora Profa. Camila 
de Menezes Brusch. 
 
Aprovada em 11/11/2010. 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Prof. Msc. Wayne Francis Mathews - Centro Universitário Luterano de Palmas/ 
Palmas-TO 
 
Profa. Carolina Santin Cotica - Centro Universitário Luterano de Palmas/Palmas-TO 
 
Profa. Msc. Juliana Pinto Corgozinho - Faculdade Católica do Tocantins/Palmas-TO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palmas 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todas as mulheres que dentro do seu casamento buscam/buscaram a sua 
individuação. Que mesmo levadas por seus impulsos do inconsciente coletivo, conseguiram 
de algum modo se perceber, fazendo de seu casamento um local de autoconhecimento, 
crescimento e amadurecimento. Que conseguem transformar seu casamento com sabedoria, 
saindo vencedoras e mais conhecedoras de si mesmas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço a todos que me ajudaram a realizar esta pesquisa. Em especial agradeço: 
A Deus, a essa energia vital universal, por permitir minha existência e por ter me dado 
inspiração necessária para o desenvolvimento deste trabalho. 
Ao meu marido pelas prazerosas discussões sobre o tema desta Monografia, por me 
mostrar que o casamento também pode ser um espaço de crescimento e autoconhecimento, 
que muito me ajudou para o desenvolvimento deste trabalho. 
À minha família por todo amor sempre dedicado: a minha mãe por sempre estar 
disposta a ouvir e me estender o braço quando preciso; a minha irmã por utilizar o pouco 
tempo que lhe resta de descanso para ler este trabalho de conclusão; ao meu irmão por 
compartilhar as experiências que teve com o seu trabalho de conclusão ensinando-me como 
devo proceder em relação ao meu. 
Ao orientador prof. Wayne Francis Mathews, pelo apoio em relação ao tema, 
incentivo e por sua sabedoria. 
À co-orientadora professora Camila de Menezes Brusch, pela bondade, dedicação, boa 
vontade e disponibilidade em me ajudar. 
Às mulheres que participaram da pesquisa, colaborando de forma generosa. 
Enfim, a todos os amigos que de algum modo contribuíram com um ouvido amigo, um 
conselho, um incentivo ou debatendo sobre o tema em questão. 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Este estudo teve como objetivo investigar se o símbolo arquetípico do casamento 
predominante em um grupo de mulheres tem relação com o conto de fada da Cinderela, 
influenciado pelo amor romântico para sua manifestação. A análise aqui apresentada trata dos 
dados adquiridos com a pesquisa de campo, no qual foram entrevistadas, com a aplicação de 
um questionário, 20 mulheres casadas, de classe média, residentes no município de 
Palmas/TO entre 20 à 55 anos de idade. A imagem arquetípica do casamento, sendo o conto 
de fada da Cinderela, influencia as mulheres a possivelmente valorizarem mais o ritual do que 
o casamento em si, a idealizar o futuro marido como príncipe encantado e a acreditar que 
viverão felizes para sempre, sem questionar o que tem por vir, enfim, uma idéia fantasiosa de 
casamento. A análise dos resultados confirmou a hipótese de que existe o símbolo arquetípico 
da Cinderela entre as mulheres casadas de Palmas/TO e que este é predominante. Também foi 
possível verificar que estas mulheres, mesmo após o casamento, continuam com um 
pensamento fantasioso sobre o próprio, o que nos mostra a ausência do processo de 
individuação em seus relacionamentos, dificultando uma visão mais realista sobre o mesmo. 
Além disso, foi constatado que 100% das entrevistadas possuem influência do amor 
romântico em suas vidas e 95% considera de algum modo importante o ritual de casamento, o 
qual explica a predominância do símbolo arquetípico da Cinderela. Neste sentido o símbolo 
arquetípico predominante e a falta de individuação podem ser considerados possíveis motivos 
de frustrações, separações e dificuldades nestes casamentos. 
PALAVRAS-CHAVE: Arquétipo. Símbolo arquetípico. Cinderela. Casamento. Amor 
romântico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This study aimed to research whether the predominant archetypal symbol of marriage among 
a group of women is related to the fairy tale of Cinderella, affected by romantic love for its 
manifestation. The analysis presented here deals with the data acquired in a field research, in 
which 20 middle class Palmas/TO residents married women, ages from 20 to 55 years old, 
had been interviewed with the application of a questionnaire. The archetypal image of 
marriage, seen as the fairy tale of Cinderella, influences women more likely to consider the 
ritual of wedding than the partnership itself, idealizing the future husband as the Prince 
Charming and believing that they will live happily ever after, without making any questions 
about the future, at long last, a delusive idea of marriage. The results confirmed the 
hypothesis that the tale of Cinderella seems to be the predominant archetypal symbol of 
Palmas's women. Also it was possible to observe that these women, even after the marriage, 
kept an unreal idea about the marriage, which shows the lack of the process of individuation 
in their relationship, making tougher to get a more realistic view on it. Besides, it was 
evidenced that 100% of the interviewed ones have the idea of romantic love influencing their 
particular lives and 95% think somehow the ritual of marriage important, which explains the 
predominance of the archetypal symbol of Cinderella. In this direction, the archetypal symbol 
and the prevailing absence of individuation can be possibly considered the reason for 
frustration, separation and difficulties in these marriages. 
KEYWORDS: Archetype. Archetype symbol. Cinderella. Marriage. Romantic love. 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
TABELA 1 - Qual a imagem que mais te suscita sentim entos em relação ao 
casamento?......................................... ......................................................................44 
TABELA 2 - Qual a imagem que mais se assemelha com a imagem que surge 
em sua mente quando você pensa em seu casamento?... ...................................44 
TABELA 3 - Qual o graude importância que você dá a cerimônia/ritual de 
casamento?......................................... ......................................................................44 
TABELA 4 - Você se considera uma mulher romântica?. ....................................45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
 
GRÁFICO 1 - O símbolo arquetípico predominante: a i magem que suscita 
sentimentos em relação a casamento................. ...................................................45 
GRÁFICO 2 - Imagem que mais se assemelha com o próp rio casamento........ 47 
GRÁFICO 3 – Grau de importância dado ao ritual/ceri mônia de casamento.....49 
GRÁFICO 4 – Percepção do próprio romantismo........ .........................................50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
FIGURA 1 – Conto de fada: Cinderela................ ....................................................46 
FIGURA 2 – Vincent Van Gogh: two lovers............ ................................................46 
FIGURA 3 – Conto de fada: Branca de Neve........... ...............................................47 
FIGURA 4 – Jan Van Eyck: o Casal Arnolfini......... ................................................48 
FIGURA 5 – Seriado: eu, a patroa e as crianças..... ...............................................49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11 
1.1 Objetivos...................................... .......................................................................13 
1.1.1 Objetivo geral....................................................................................................13 
1.1.2 Objetivos específicos.........................................................................................14 
1.2 Justificativa.................................. .......................................................................14 
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................ ..................................................16 
2.1 Os arquétipos.................................. ...................................................................16 
2.2 O conto da Cinderela........................... ..............................................................18 
2.3 As representações sociais do casamento ao longo da história....................20 
2.4 A individualidade: o surgimento do amor românti co no casamento............24 
2.5 As mulheres contemporâneas e as fantasias român ticas.............................27 
2.6 A história do amor romântico versus arquétipo do casamento....................29 
2.7 A sobrevivência da instituição casamento....... ...............................................32 
2.8 O possível símbolo arquétipo do casamento: Cind erela...............................33 
2.9 Processo de individuação....................... ..........................................................36 
3 METODOLOGIA...................................... ...............................................................39 
3.1 Sujeitos e material de estudo.................. ..........................................................41 
3.2 Procedimentos para a coleta de dados........... .................................................42 
3.2.1 Instrumento........................................................................................................42 
4 RESULTADOS....................................... .................................................................44 
5 ANÁLISE DOS DADOS ............................... ..........................................................51 
6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS......................... ................................................54 
7 CONCLUSÃO........................................ .................................................................57 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................... .................................................60 
GLOSSÁRIO.......................................... ....................................................................65 
APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARE CIDO............67 
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO..... ...........................68 
ANEXO A – CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA.... .........................70 
 
 
 
11 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
 Na atualidade, no ocidente, nos deparamos com as constantes separações, casamentos 
relâmpagos, nos quais diversos pesquisadores (ABOIM, 2009; AQUINO, 2010; FÉRES-
CARNEIRO, 1998; DAMASCENO, 2008; GARCIA & TASSARA, 2003; MAGALHÃES, 
1993; VILHENA, 2009) debatem no intuito de se saber o motivo dessa mudança nos quadros 
matrimoniais. De fato não é simples dizer quais os motivos influenciadores, pois nunca é um 
só, existem vários. 
 Porém, se observarmos, a nossa sociedade ocidental foi construindo, desde a 
antiguidade até a contemporaneidade, modelos ideais de casamentos a serem seguidos e, 
nesse meio tempo, diferentes sentimentos em relação ao mesmo foram sendo substituídos. 
Isto porque o casamento, ao longo da história, passou por diferentes momentos e/ou funções 
na sociedade. Tendo em princípio a função básica e a manutenção da riqueza/propriedade, 
depois passando pela interferência dos dogmas religiosos (como a indissolubilidade do 
casamento no cristianismo), até a inclusão da perspectiva amorosa com a escolha dos 
parceiros (LASCH, 1991). 
 Do mesmo modo que o casamento passou por diferentes momentos, as manifestações 
dos arquétipos, ou seja, os símbolos arquetípicos em relação ao casamento acompanharam 
essas mudanças e também foram se modificando. Os arquétipos são uma forma de 
pensamento universal com concentração de energia psíquica, uma entidade hipotética 
irrepresentável em si mesma e evidente através de suas manifestações, no qual se revelam 
através de imagens/símbolos, tais como os mitos e contos de fadas (JUNG, 2008). 
Essas imagens/símbolos que se manifestam são construídas historicamente, no 
entanto, “[...] não existe uma só idéia ou concepção essencial que não possua antecedentes 
históricos. Em última análise, estes se fundamentam em formas arquetípicas primordiais, cuja 
concretitude data de uma época em que a consciência ainda não pensava, mas percebia” 
(JUNG, 2008, p.43). 
Para Coelho (2003), os símbolos de situações arquetípicas vêm sendo revividas desde 
a origem dos tempos, sob diferentes formas, em virtude do desejo de auto-realização do eu em 
relação ao mundo. 
Os arquétipos, no entanto, são percebidos em comportamentos externos, como em 
torno de experiências básicas e universais da vida, como: nascimento, casamento, 
12 
 
maternidade, morte e separação. Como estão aderidos à estrutura da própria psique humana, 
podem também ser observados na relação com a vida interior ou psíquica (SAMUELS, 
SHORTER e PLAUT, 2010b). 
Podemos observar, no entanto, que todas as nossas experiências básicas são permeadas 
por arquétipos que traduzem os conteúdos inconscientes da nossa mente sobre algo, e que 
estes habitam a mente de todos, influenciando em suas vivências através de uma idéia pré-
concebida que tem sobre determinado tema em questão. Como por exemplo, quando se fala 
em “bruxa” a nossa reação instantânea e o sentimento suscitado é que estamos pensando em 
algo negativo, escuro e sombrio, mas refletindo, percebemos que na verdade as bruxas 
existentes, como os Wiccans não cultuam a maldade, mas a natureza, não se vestem de preto, 
não usam chapéus pontudos, não tem nariz grande e nem verruga sobre o mesmo. 
Analisamos então que esse pensamento negativo que possuímos sobre as bruxas, foi 
construído historicamente e está presente no nosso inconsciente coletivo, visto que, não 
sabemos desde quando esta idéia negativa sobre as bruxas surgiram em nossamente, só 
sabemos que desde muito pequeno, reproduzimos esse pensamento/sentimento negativo 
sobre, sem questionar o que realmente seria uma bruxa. 
Essa mesma situação acontece quando pensamos em fadas, mãe, espíritos, e dentre 
outras tantas situações, a nossa mente será remetida de imediato, respectivamente, por 
sentimentos de bondade e magia, fraternidade e pureza, medo e desconhecido. Estas são 
algumas das influências do arquétipo, que são existentes em todas as épocas da humanidade. 
 Desse mesmo modo, isso acontece em relação ao arquétipo que manifestamos quanto 
ao assunto casamento. E, de acordo com Jung (2008), essas imagens que habitam nosso 
inconsciente, são herdadas de gerações a gerações e influenciam no modo como enxergamos 
nossa vida. E assim, o símbolo arquetípico que manifestamos em relação ao casamento, pode 
influenciar as mulheres na idéia pré-concebida sobre o que significa casamento, fazendo-as 
divergirem sobre aquilo que se espera daquilo que realmente é. 
Neste trabalho foi defendida a hipótese de que o símbolo arquetípico, em relação ao 
casamento, predominante em muitas mulheres do ocidente e, especificamente, em Palmas/TO, 
tem relação com o conto de fadas, como o da Cinderela, escrito por Charles Perrault e 
adaptado por Carrasco (2009). O conto da Cinderela fala de uma moça muito bondosa, que 
sofre com os maus tratos da madrasta e que sonha com o dia em que será feliz. Até que um 
dia esta moça, que é a Cinderela, com a ajuda da Fada Madrinha consegue ir ao baile, onde se 
torna o centro das atenções, conhece o príncipe encantado e que, por conseguinte, são felizes 
para sempre. 
13 
 
Este conto foi utilizado por se tratar de um dos contos de fadas mais conhecidos e 
disseminados na contemporaneidade e por observar que muitas mulheres, antes de se casar, 
atribuíam ao matrimonio uma idéia fantasiosa de casamento, similar especificamente ao conto 
da Cinderela. Que é a idealização do futuro marido como príncipe encantado, a valorização da 
magia do baile/ritual mais do à vida conjugal, imaginar um dia de princesa no qual terá toda a 
atenção para ela e a crença no “felizes para sempre”. De acordo com Chvatal (2010), os 
contos de fadas, da mesma forma que os mitos, falam de uma realidade individual e coletiva 
que faz parte da nossa vida cotidiana, como uma das formas do existir humano. 
DAMASCENO (2008) defende em sua dissertação a influência dos diversos contos de 
fadas na idéia fantasiosa de muitas mulheres sobre o casamento, abordando também assuntos 
como o amor romântico, por isso seu trabalho foi fundamental para a construção da 
fundamentação teórica desta monografia. 
A base teórica utilizada neste trabalho para compreender o processo de construção do 
pensamento de muitas mulheres em relação ao casamento foi a psicologia analítica de Carl 
Gustav Jung, na qual este teoriza a existência de um inconsciente coletivo, permeado por 
arquétipos. 
 Através desta pesquisa, analisou-se o símbolo arquetípico que passou a manifestar a 
partir do amor romântico, no sentido deste ter relação com o conto da Cinderela. Para validar 
a hipótese apresentada, investigou-se a imagem arquetípica predominante num grupo de 
mulheres na cidade de Palmas/TO. A hipótese deste trabalho aponta um dos motivos de 
tantos casamentos divergirem entre o ideal fantasiado pelas mulheres e o real vivido, sendo a 
causa de alguns problemas nos casamentos e separações. 
 
 
1.1 Objetivos 
 
 
1.1.1 Objetivo geral 
 
 
Analisar se o símbolo arquetípico do casamento predominante em um grupo de 
mulheres de Palmas/TO tem relação com o conto de fadas da Cinderela, influenciado pelo 
amor romântico. 
 
14 
 
 
1.1.2 Objetivos específicos 
 
 
� Tratar das representações sociais do casamento ao longo da história; 
� Discorrer sobre as mulheres modernas e as fantasias românticas; 
� Versar sobre a individualidade e o surgimento do amor romântico nos casamentos; 
� Expor possíveis motivos influenciadores/determinantes dos símbolos arquetípicos em 
relação ao casamento; 
� Falar da sobrevivência da instituição casamento devido ao arquétipo; 
� Analisar a influência do símbolo arquetípico da Cinderela sobre o casamento; 
� Explicar o processo de individuação das mulheres em relação ao arquétipo do 
casamento. 
 
 
1.2 Justificativa 
 
 
Ao se observar as constantes frustrações de algumas mulheres após a realização do 
casamento, no que se refere à fantasia criada e à experiência do real, chegou-se a uma 
hipótese de que as constantes idealizações podem ter relação com o arquétipo que as 
influenciam em relação ao casamento, sendo este possivelmente manifestado através das 
histórias de contos de fadas, como a da Cinderela e que estas poderiam estar presentes no 
inconsciente coletivo feminino, as influenciando no sentido de ter uma visão fantasiosa sobre 
casamento. 
A relevância desta pesquisa tem relação com a contribuição que irá trazer no sentido 
de se entender o porquê de tantos casamentos frustrados, como também incentivar as 
mulheres a procurarem conhecer/avaliar melhor a imagem arquetípica em relação ao 
casamento, seja através de terapia ou de auto-reflexão antes da realização do mesmo. Pois 
como dito por Jung (2008) é através dos símbolos que conseguimos nos apoderar dos nossos 
conteúdos inconscientes. 
A contribuição deste trabalho para a psicologia é apresentar um exemplo prático ou 
contextualizado da teoria dos arquétipos da psicologia analítica, o que poderia 
15 
 
contribuir/auxiliar terapeuticamente mulheres ou casais a resignificar a idéia de namoro, 
casamento e relacionamento, dentro da terapia individual, de casal ou na mediação jurídica. 
Por outro lado a contribuição no âmbito social poderia ser verificada na medida em 
que a disseminação do conteúdo do trabalho pode favorecer o desenvolvimento de 
relacionamentos menos idealizados, baseados nas características concretas e objetivas de cada 
indivíduo. Isto por sua vez possibilita a construção de relacionamentos mais sólidos e 
harmoniosos fortalecendo o núcleo familiar e sua respectiva importância dentro da sociedade. 
Por fim, este trabalho propõe a inovação de pesquisar a influência do arquétipo, suas 
influencias e conseqüências nos casamentos e relacionamentos atuais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
 
2.1 Os arquétipos 
 
 
 Para que se possa falar de arquétipos, é necessário explicar o conceito de inconsciente 
coletivo, que foi a grande descoberta de Jung. No qual, segundo ele, é a camada mais 
profunda da psique e constitui-se como um depósito de traços de memória herdados do 
passado do homem. É nesta camada que existem as imagens virtuais, comuns a todos os seres 
humanos, como referências prontas para serem concretizadas mediante experiências reais. 
Todo ser humano tem, mais ou menos, o mesmo inconsciente coletivo (MEDNICOFF, 2008). 
 
O inconsciente coletivo é a parte da psique que é possível distinguir do inconsciente 
pessoal, pelo fato de sua existência não depender da experiência pessoal. O 
inconsciente pessoal compõe-se de conteúdos que foram, em certo momento, 
conscientes, ao passo que os conteúdos do inconsciente coletivo jamais foram 
conscientes no período da vida de um indivíduo, e acabam refletindo os processos 
arquetípicos (MEDNICOFF, 2008, p.60). 
 
Portanto o inconsciente pessoal consiste em sua maior parte de complexos, enquanto 
os conteúdos do inconsciente coletivo são constituídos essencialmente de arquétipos. Para 
Jung (2008) os arquétipos são uma espécie de depósitos das impressões superpostas, deixadas 
por certas vivências fundamentais, comuns a todos os humanos (presentes no inconsciente 
coletivo), repetidas incontavelmente, através dos milênios. Seja qual for sua origem, o 
arquétipo funciona como nódulo de concentração de energia psíquica. Quando esta energia 
toma forma, temosa “imagem arquetípica”, ou símbolo, pois o arquétipo é apenas uma 
virtualidade. Ou seja, são os símbolos arquetípicos (e não os arquétipos em si) que dão forma 
aos impulsos psíquicos comuns nos seres humanos. 
Para Samuels, Shorter e Plaut (2010b) o arquétipo é um conceito psicossomático, 
unindo corpo e psique, instinto e imagem. E que podem ser percebidos em comportamentos 
externos, especialmente aqueles que se aglomeram em torno de experiências básicas e 
universais da vida (nascimento, casamento, maternidade, morte, separação e dentre outros). 
Os arquétipos também se aderem à estrutura da própria psique humana e são observáveis na 
relação com a vida interior ou psíquica, revelando-se por meio de figuras, assim como 
também através da anima e animus, sombra, persona e outras mais. Teoricamente, poderia 
17 
 
existir qualquer número de arquétipos para qualquer situação da vida, como para o 
casamento. 
A anima e o animus são respectivamente a figura interior de mulher contida num 
homem e a figura de homem atuando na psique de uma mulher. Ambos possuem 
característica em comum, porém se manifestam de modos diferentes. Como são formas 
fundamentais que subjazem aos aspectos “femininos” do homem e aos aspectos “masculinos” 
da mulher, são considerados opostos. E como componentes psíquicos, são subliminares à 
consciência, funcionando a partir de dentro da psique inconsciente (SAMUELS, SHORTER e 
PLAUT, 2010a). 
Cada mulher desenvolveu seu arquétipo de animus através de experiências com o 
homem durante toda a evolução da humanidade. Anima e animus desempenham funções 
semelhantes no homem e na mulher, possuindo característica em comum (MEDNICOFF, 
2008). 
 
Anima e animus são responsáveis pelas qualidades das relações com pessoas do 
sexo oposto. Enquanto inconscientes, o contato com esses arquétipos são feitos em 
forma de projeções. Por exemplo, quando o homem se apaixona por uma mulher 
está projetando a imagem da mulher que ele tem internalizada.[...]Quando uma 
pessoa se apaixona e depois diz ter se decepcionado, significa que a projeção que ela 
fez sobre o objeto externo foi retirada (MEDNICOFF, 2008, p. 72). 
 
De acordo com Mednicoff (2008) a representação da anima costuma se dar por meio 
da sereia, da princesa, da fada, da feiticeira, da ninfa e outros mais. E o animus pode se dar 
por meio do príncipe, bruxo, do demônio, do herói, do feiticeiro/bruxo e dentre outros. 
Além da anima e animus, como dito anteriormente, existe o arquétipo sombra. Jung 
reconhecia-a como uma parte viva da personalidade e que “quer viver com esta” de alguma 
forma, e que identifica-se, antes de tudo, com os conteúdos do inconsciente pessoal. Estes 
conteúdos estão inexplicavelmente fundidos com os conteúdos arquetípicos do inconsciente 
coletivo, estes por sua vez contendo seu próprio lado obscuro (SAMUELS, SHORTER e 
PLAUT, 2010d). 
A sombra seria então de acordo com Mednicoff (2008, p. 73) “[...] todos os defeitos e 
impulsos que a pessoa gostaria de negar em si mesma. [...] é a parte escondida bem atrás da 
consciência, quando o foco de luz incide sobre ela”. 
 
Visto a sombra ser um arquétipo, seus conteúdos são poderosos, marcados pelo 
afeto, obsessivos, possessivos, autônomos – em suma, são capazes de alarmar e 
dominar o ego estruturado. Como todos os conteúdos capazes de se introduzir na 
consciência, no início aparecem na projeção e, quando a consciência se vê em uma 
18 
 
condição ameaçadora ou duvidosa, a sombra se manifesta como uma projeção forte 
e irracional, positiva ou negativa, sobre o próximo. Aqui Jung encontrava uma 
explicação convincente não só das antipatias pessoais, mas também dos cruéis 
preconceitos e perseguições de nosso tempo (SAMUELS, SHORTER e PLAUT, 
2010d, p.1). 
 
Para Jung (2008) as formas bem conhecidas de expressão dos arquétipos são 
encontradas nos mitos e nos contos de fadas. Pois Jung percebeu que os contos de fadas assim 
como os mitos eram expressões do inconsciente coletivo. Eles, do mesmo modo que os 
sonhos, são representações de acontecimentos psíquicos. A diferença é que nos sonhos as 
expressões oníricas têm uma natureza totalmente pessoal, enquanto os contos de fadas 
representam dramas pertencentes a todos os seres humanos (MEDNICOFF, 2008). 
Na visão de Jung os contos de fadas: 
 
[...] são histórias desenvolvidas em torno de temas arquetípicos. Jung tinha como 
hipótese que sua intenção original não era de entretenimento, mas de que 
viabilizavam um modo de falar sobre forças obscuras temíveis e inabordáveis em 
virtude de sua numinosidade e seu poder. Os atributos dessas forças eram projetados 
nos contos de fadas lado a lado com lendas, mitos e, em certos casos, na vida de 
personagens históricos. A percepção disso levou Jung a afirmar que o 
comportamento arquetípico poderia ser estudado de dois modos, ou através do conto 
de fadas e do mito, ou na análise do indivíduo (SAMUELS, SHORTER e PLAUT, 
2010c, p.1). 
 
Para Von Franz (1970) apud Samuels, Shorter e Plaut (2010c, p.1) o conto de fadas é 
“a expressão mais pura e mais simples dos processos psíquicos inconscientes”. E por isso 
neste trabalho será considerado o conto da Cinderela como o símbolo arquetípico de algumas 
mulheres, sendo este aquele que as levam a ter certas posturas fantasiosas em relação ao 
casamento. 
 
 
2.2 O conto da Cinderela 
 
 
O conto da Cinderela tem sua origem em diferentes versões. A versão mais conhecida 
é a do escritor francês Charles Perrault, de 1697, que recuperou da tradiçao oral o conto 
popular chamado A Gata Borralheira (COELHO, 2003). A versão de Perrault será a utilizada 
neste trabalho. 
Pesquisadores, como Damasceno (2008), percebem na história de Cinderela muito 
mais que uma simples trama romântica. Devido a trajetória da protagonista manifestar uma 
19 
 
espécie de arquétipo fundamental, traduzindo o anseio natural da psiquê feminina, que é a de 
ser reconhecida especial, encontrar seu príncipe encantado e de se feliz para sempre. 
Abaixo um resumo do conto da Cinderela, da adaptação de Carrasco (2009): 
“Cinderela era filha de um comerciante rico. Sua mãe havia falecido quando ela 
ainda era muito jovem, o que fez com que seu pai se casasse novamente. Cinderela então, 
passou a viver com sua madrasta malvada, que junto de suas duas filhas, transformaram-na 
em uma serviçal e a denominaram de Gata Borralheira. Seu refúgio era o quarto no sótão da 
casa e seus únicos amigos, os animais da floresta.Cinderela sempre sonhava com o dia que 
alguém iria tirá-la dessa sofrimento e ser feliz. 
Um belo dia, foi anunciado que o Rei iria realizar um baile no Castelo, para que o 
princípe escolhesse sua esposa dentre todas as moças do reino. No convite, distribuído a 
todos os cidadãos, havia o aviso de que todas as moças, fossem pobres, altas, magras, feias 
ou bonitas, deveriam comparecer ao Grande Baile promovido pelo Rei. 
A madrasta de Cinderela sabia que ela era a mais bonita da região, então disse que 
ela não poderia ir, pois não tinha um vestido apropriado para a ocasião. A madrasta não 
queria que Cinderela comparecesse ao baile de forma alguma, pois sua beleza impediria que 
o princípe se interessasse por suas duas filhas, muito feias. 
Muito triste, Cinderela foi para seu quarto no sótão e ficou à janela, olhando para o 
Castelo na colina. Chorou, chorou e rezou muito. De suas orações e lágrimas, surgiu sua 
Fada-madrinha que confortou a moça e usou de sua mágica para criar um lindo vestido para 
Cinderela. Também surgiu uma linda carruagem e os amiguinhos da floresta foram 
transformados em humanos, cocheiros e ajudantes de Cinderela. Antes de sua afilhada sair, a 
Fada-madrinha lhe deu um aviso: a moça deveria chegar antes da meia-noite, ou toda a 
mágica iria se desfazer aos olhos de todos. 
Cinderela chegou à festa como uma princesa. Estava tão bonita, que não foi 
reconhecida por ninguém. O princípe, tão-logo a viu, se apaixonou ea convidou para 
dançar. A ciumeira foi generalizada, todas as moças do reino sentiram-se rejeitadas mas 
logo procuraram outros pares e a festa foi animada. Apenas a madrasta de Cinderela e suas 
duas filhas passaram a noite em um canto, tentando descobrir de onde teria vindo aquela 
moça tão bonita. 
Cinderela e o príncipe dançaram e dançaram a noite inteira. Conversaram e riram 
como duas almas gêmeas e logo se perceberam feitos um para o outro. Porém, a fada-
madrinha tinha avisado que toda a magia só iria durar até a meia-noite. Quando o relógio 
badalou as dozes batidas, Cinderela teve de sair correndo pela escadaria do Castelo. Foi 
20 
 
quando deixou um dos pés de seu sapatinho de cristal. O príncipe, muito preocupado por não 
saber o nome da moça ou como reencontrá-la, pegou o pequeno sapatinho e saiu em sua 
busca no reino e em outras cidades. Muitas moças disseram ser a dona do sapatinho, mas o 
pé de nenhuma delas se encaixava no objeto. 
Quando o príncipe bateu à porta da casa de Cinderela, a madastra trancou a moça no 
sótão e deixou apenas que suas duas filhas feias experimentassem o sapatinho. Apesar das 
filhas da madrasta se esforçarem, encolherem os dedos, passarem óleo e farinha nos pés, o 
sapatinho de cristal não serviu. Foi quando um ajudante do príncipe viu que havia uma moça 
na janela do sótão da casa. 
Sob as ordens do príncipe, a madrasta teve de deixar Cinderela descer. A moça então 
experimentou o sapatinho, mas antes mesmo que ele servisse em seus pés, o príncipe já tinha 
dentro do seu coração a certeza de que havia reencontrado o amor de sua vida. Cinderela e o 
princípe se casaram em uma linda cerimônia. Cinderela e o príncipe foram felizes para todo 
o sempre.” 
 
 
2.3 As representações sociais do casamento ao longo da história 
 
 
 Para Moscovici (2007) as representações sociais estão principalmente relacionadas 
com o estudo das trocas simbólicas infinitamente desenvolvidas em nossos ambientes sociais 
(em nível de macro quanto de micro análise), de nossas relações interpessoais e de como isto 
influencia na construção do conhecimento compartilhado, ou seja, da cultura. 
Falar das representações sociais do casamento é discorrer sobre suas configurações ao 
longo da história. De acordo com Ferreira (2008a) evidencia-se que essas reconfigurações 
presentes dentro da Instituição Matrimonial (união do tipo Civil, Religiosa ou Consensual) 
estão diretamente relacionadas com as mudanças sociais, culturais, comportamentais e 
históricas com as quais teve contato a sociedade humana. O casamento sedimentou-se no 
imaginário cultural e na mentalidade da população como um padrão de comportamento a ser 
transmitido de geração à geração, após ter passado por um processo de institucionalização e 
posterior sacralização. E este padrão de comportamento tem relação com a simbologia 
construída e dada ao casamento ao longo da história, através das representações sociais que as 
pessoas em cada época criaram ou seguiram. 
21 
 
No entanto, a idéia mais remota que se tem do casamento no ocidente vem da união de 
Adão e Eva através da teoria criacionista. A Eva surgiu da costela de Adão para se tornar sua 
companheira e, por conseguinte, vir a procriar, devido estes serem responsáveis pela 
multiplicação humana na terra. Coincidentemente, os registros mais remotos que se tem dos 
casamentos tinham como objetivo principal a procriação (FERREIRA, 2008a). 
De acordo com Foucault (2005) o casamento, na Antiguidade Clássica, na Grécia e em 
Roma, antes de ganhar status de acontecimento público era um ato privado, que dizia respeito 
à família, à sua autoridade, às regras que ela praticava e reconhecia como suas e que não 
exigia a intervenção dos poderes públicos. Na Grécia era uma prática destinada a assegurar a 
permanência do oikos, no qual os atos fundamentais e vitais marcavam a transferência para o 
marido da tutela exercida até então pelo pai e a entrega efetiva da esposa ao seu cônjuge. 
Enquanto união conjugal entre homens e mulheres, o casamento tornou-se um dos 
mais significativos instrumento institucional já criado pelo homem, já que sua realização 
simbolizou a própria invenção da sociedade. E assim dentro da Antiguidade Greco-Romana, o 
casamento passou por um processo de transformação estrutural, definindo daí por diante, seu 
reconhecimento moral e legal pelo Estado, ao começar a promover sua publicação a partir da 
elaboração de uma legislação específica relacionada ao casamento (FERREIRA, 2008a). 
O estado ao transformar o casamento como uma instituição oficial e determinar como 
seria este, transformou em elaborados contratos comerciais as antigas negociações familiares 
que tinham por objetivo "transmissão do nome, constituição de herdeiros, organização de um 
sistema de alianças e junção de fortunas" (FOUCAULT, 2005, p. 81). Ou seja, o casamento 
nesta época além de ser representado por um sentido de negócio e reprodução, passou a ser 
visto como um organizador da sociedade 
O casamento na Idade Média, assim como na Antiguidade, figurava como elemento 
primordial a organização e reprodução da sociedade. Como dito por Duby (2001) apud 
Ferreira (2008a) o casamento desempenhou uma função essencial dentro daquela sociedade 
quando promovia: regulação, oficialização, controle e codificação. A instituição matrimonial 
se encontrava, por sua própria posição e pelo papel que ela assumia, encerrada numa firme 
estrutura de ritos e interditos. 
 E assim, na Idade Média, tanto quanto na Antiguidade a comunidade familiar criada 
era considerada como a célula social e não o casal, pois correspondia diretamente aos fins 
patrimoniais, e em certo ponto territoriais, criados pelo enlace entre as famílias, dando conta 
dos constantes acordos comerciais que contextualizavam os futuros matrimônios, o que por 
22 
 
várias vezes garantiu, ora a aliança entre famílias de grandes proprietários, ora até mesmo a 
paz (FERREIRA, 2008a). 
 Foi na Idade Média também que a Igreja passou a interferir no casamento, ou seja, 
cristianização da instituição matrimonial. De acordo com Richards (1993) apud Ferreira 
(2008a) no século IX (no século XII a Igreja havia efetivamente assumido o controle legal, 
moral e organizacional do casamento) teve início o processo de sacralização do casamento, 
forçando a mudanças que convergiram diretamente aos crescentes interesses da Igreja sobre 
as uniões conjugais legítimas, as quais, concomitantemente, conduziram a um maior controle 
sobre a vida cotidiana da sociedade. 
 
Com isso, o que a Igreja buscava era a ordenação do mundo cristão como um todo. 
Sua interferência procurava chegar às esferas mais particulares, como o 
comportamento sexual, às mais públicas, no caso das cerimônias e rituais de 
casamento. Esse processo também indica uma grande hierarquização da Igreja, 
determinando quem detinha o direito de celebrar as núpcias ou decidir litígios 
(SILVA, 2008, p. 113). 
 
Desse modo as negociações e contratações familiares foram incrementadas pelas 
novas diretrizes determinadas pela Igreja, no qual a sacralização envolvia o cumprimento de 
novas regras elaboradas para aumentar o efeito estabilizador do casamento sobre a sociedade, 
tais como: o cumprimento das determinações de monogamia, indissolubilidade do casamento, 
a proibição do casamento até o sétimo grau de parentesco consangüíneo (RICHARDS, 1993 
apud FERREIRA, 2008a). Diferente da Antiguidade, onde era estimulado o casamento com 
parentes consangüíneos, para que evitasse a dissolução patrimonial. É importante ressaltar que 
essa influencia da igreja foi tão forte, que até hoje ainda a percebemos como aquela que dita 
as normas dentro da instituição casamento. 
Diante as transformações do casamento da Antiguidade para a Idade Média, o que não 
mudou foi a representação da mulher no casamento, já que na Idade Média continuou sendo 
um objeto de propriedade, passivo, em que seuprincipal dever consistia na obediência e 
submissão ao marido. 
De acordo com Carvalho (2009) no início do Renascimento (final da Idade Média e 
início da Idade Moderna), as meninas de classe baixa saíam de casa muito cedo, em média aos 
doze anos de idade, não para casarem, mas para trabalharem e juntar posses para seu dote, 
diferente da classe nobre onde os pais pagavam o dote. As mulheres só podiam casar-se com 
iguais, no caso, da mesma classe, enquanto os homens eram livres para se casarem com quem 
lhes fosse mais interessante. A instituição do casamento era uma maneira de se viver melhor, 
23 
 
já que as mulheres não possuíam muitas opções de emprego e ascensão econômica, pois todos 
os seus bem eram controlados por homens, sejam eles seus pais, irmãos, patrões ou maridos. 
 
Pode-se ver que o casamento, nos primeiros séculos do Renascimento, dava-se 
principalmente por motivos financeiros e conveniência social. A união era vista 
como um negócio que deveria impulsionar a vida econômica do homem e para a 
mulher dar-lhe segurança e estabilidade. Evidente que nesta união em ambas as 
partes procuravam-se para ter melhorias na vida social, o amor não era um fator de 
peso ou sequer cogitado, isso começa a mudar a partir dos séculos XVI e XVII 
(CARVALHO, 2009, p.29). 
 
Foi na Idade Moderna que novas práticas e comportamentos surgiram na vida dos 
cônjuges: 
Apesar da reprodução de vários elementos concretos e imaginários, foi no período 
Moderno que o casamento incorporou a prática do amor entre os cônjuges e se 
desvinculou das limitações sexuais impostas pela Reforma Gregoriana (1050-1215). 
O amor foi elevado ao casamento pelo pensamento romântico que tendia a suplantar 
a realidade social com um discurso cortês, embora, na prática ainda não fosse 
elemento decisivo para a escolha dos cônjuges, estando esta, da mesma forma de 
outrora, atrelada aos pais e a família que, para firmarem contrato, levavam em 
consideração a manutenção do status quo e a descendência legítima dos filhos. A 
procriação continuava a ser uma das principais finalidades do casamento 
(FERREIRA, 2008a, p.1). 
 
No entanto, foi no século XVIII/XIX segundo os autores Damasceno (2008), Vainfas 
(1986) e Vilhena (2009) que o amor romântico de fato adentrou os espaços do casamento, 
pois no século XII, apesar de passar a existir o amor cortês, o casamento ainda tinha toda a 
interferência da família. 
 
[...] no século XVII há o início de um processo de grandes mudanças no casamento, 
com a valorização do amor individual, estabelecendo o ideal de casamento por amor, 
amor-paixão, predominando o erotismo na relação conjugal. Este ideal exige que o 
casal se ame, ou pareçam se amar e que tenham expectativas a respeito do amor e da 
felicidade no casamento. Esta exigência criou um problema à medida que se 
acentuaram as idealizações, os conflitos resultantes da desilusão e o não atendimento 
das expectativas cresceram também (Ariés,1987 apud Damasceno, 2002, p. 38). 
 
A constituição e a manutenção do casamento contemporâneo são muito 
influenciadas pelos valores do individualismo. Os ideais contemporâneos de relação 
conjugal enfatizam mais a autonomia e a satisfação de cada cônjuge do que os laços 
de dependência entre eles (FÉRES-CARNEIRO, 1998). 
 
Como percebido, foi a partir do século XVII com a valorização da individualidade, 
que a representação social do casamento se transformou, tal qual vemos hoje (na 
contemporaneidade), deixando este de ser por finalidade de união de riquezas/estratégias 
24 
 
patrimoniais e de procriação, para uma realização pessoal e individual, através da livre 
escolha dos parceiros por enamoramento. 
 
 
2.4 A individualidade: o surgimento do amor românti co no casamento 
 
 
Dominique, nique, nique, 
Sempre alegre esperando alguém que 
possa amar. 
O seu príncipe encantado, seu eterno 
namorado 
Que não cansa de esperar. 
 
Dominique tem um sonho e alguém 
pode realizar. 
Há de vir um cavaleiro que a conduza 
para o altar. 
 
(Dominique - Giane) 
 
 Atualmente, no ocidente, é impossível se pensar na existência do casamento sem amor 
nas classes média e alta, realizá-lo sem amor, seria algo no mínimo imoral. Para Aboim 
(2009) e Vilhena (2009) o amor romântico passou a ser cada vez mais apreciado, devido a 
sociedade estar apoiada na valorização da individualidade, e assim organizou-se sobre a égide 
do culto ao amor, estando este sentimento especialmente associado às exigências românticas 
da complementaridade. 
Com a valorização do amor e da individualidade, os casais se sentiram mais livres na 
busca de sua felicidade, porém, mesmo diante de tanta liberdade e culto à felicidade com a 
realização do casamento, muitos casais ainda não se sentem realizados. Isso acontece 
principalmente com as mulheres, que com a convivência do casal, vêem despencar seu sonho 
de amor romântico, nutrido desde a infância. 
E por isso neste trabalho, falar-se-á do surgimento do amor no casamento e suas 
conseqüências, especialmente no que tange a vida da mulher visto que: 
 
Quanto ao consumo cultural do ideário romântico, [...] foi incorporado, sobretudo, 
pelas mulheres. Isto porque poucos foram os homens sensibilizados por essa forma 
de significar o amor. Nesse sentido, parece que a educação dos sentidos no universo 
masculino delineou-se, predominantemente, na aprendizagem da classificação das 
mulheres em casadouras e não casadouras e, ao mesmo tempo, na elaboração de 
códigos de postura diferenciados para um modelo e outro de mulher (CARDOSO, 
2007, p. 88). 
25 
 
 
Para a mulher, no entanto, o casamento seria/é uma realização romântica, com o 
encontro do parceiro ideal (como um príncipe encantado), assim como os passos dados para 
constituição do mesmo, como o namoro e o noivado. Já para o homem, diferente da mulher, o 
conceito de casamento ainda continua mais focado, como antigamente, no objetivo 
relacionado a constituição de um lar e a necessidade de ter uma boa esposa para realização 
deste. 
Magalhães (1993) verificou em sua pesquisa que as mulheres entrevistadas definiram 
casamento como "relação amorosa", enquanto todos os homens do grupo, definiram 
casamento como "constituição de família". O que não significa que todos os homens têm uma 
idéia não romântica, mas que o ideário romântico de casamento predomina sobretudo nas 
mentes femininas. 
Com a introdução do amor romântico no casamento, passou a existir o namoro. O 
namoro torna-se o intervalo no qual se possibilita fazer a escolha do parceiro e de se ter um 
tempo para se preparar para o casamento. Para Cardoso (2007), entre as décadas de 1940 e 
1950, o namoro foi significado como o momento de formação do par, como uma das etapas 
do processo de seleção dos cônjuges, em que o sentido era dado pela possibilidade de 
casamento. 
Desse modo, muitas moças têm em suas mentes a expectativa do namoro, pois sabem 
que através deste dará o primeiro passo, para conseguir concretizar sua fantasia, a de realizar 
seu casamento, no caso, de ver-se realizar o conto de fadas. Uma moça que não tenha tido ao 
menos um namorado, sente-se demasiadamente frustrada, visto que nem o primeiro passo 
para constituição do casamento ainda foi dado, já aquelas que por muitos anos namoram e 
nunca noivam, se frustram também, por nunca verem se realizar sua fantasia. 
Namorar, noivar, desde a introdução do amor romântico, passou a ser o sonho de 
muitas mulheres, que se estendeu até os tempos atuais. Atingir estes ideais é conseguir 
realizar o maior sonho e alcançar uma das maiores felicidades, que é o casamento. Ser feliz 
passa a ser uma realização individual, não mais coletiva como antes, quando casar tinha como 
objetivo satisfazer o desejo da família de dar continuidade às gerações e à união de riquezas. 
E assim, com as mudanças ocorridas no cerne do casamento, com a priorização da 
existência do amor, foram geradas mudanças na estrutura do casamento,ou seja, na solidez 
que este possuía, pois, como já dito, antes se valorizava o coletivo, com o amor passou-se a 
valorizar o individual: 
 
26 
 
[...] a eleição do amor, como eixo central de nossas escolhas e de nossas vidas, não 
poderia deixar de trazer conseqüências enormes para a família. Se ao invés da 
tradição, do compromisso com a comunidade, da perpetuação através das gerações, 
elegemos um afeto tão forte e tão frágil simultaneamente, como norteador de nossas 
vidas as conseqüências não tardam em se manifestar (VILHENA, 2009, p.7). 
 
O casamento, preso neste sentido da felicidade suprema e individual se tornou frágil, 
pois a felicidade nem sempre era/é encontrada pelos noivos após o casamento, já que trata-se, 
inicialmente, de tempo de adaptação e muitas vezes de dificuldades. “Ao investigar o 
pensamento das mulheres sobre o casamento, verificamos que elas o vêem ainda de forma 
romantizada e idealizada, o que dificulta o casamento real ser visto como algo bom e capaz de 
tornar alguém feliz e satisfeito” (DAMASCENO, 2008, p. 108). 
A questão não está no fato de que hoje, para existir casamento, seja priorizado o amor 
romântico, o problema está na fantasia que foi e é criada em torno deste, nas repercussões 
tidas em torno deste tipo de amor, que passou a permanecer no inconsciente coletivo, fazendo 
com que as mulheres não olhem para o casamento, no primeiro momento, de forma realista. 
 E assim devido a inconsciência das mulheres de algumas dificuldades do casamento 
antes da realização do mesmo, passam a se conscientizar, muitas vezes, só após à sua 
realização, e então se frustram. Se o amor nutrido pelo outro não for suficiente ou maior que o 
amor nutrido pela fantasia do casamento, o casal pode vir a se separar ou a acreditar que o 
casamento é algo ruim, sem perceber que sua forma de encarar/enxergar o casamento é que 
estava idealizado. “Certamente, se o pensamento estiver na realidade, serão evitadas as 
frustrações, as desilusões e as separações. Os casais terão muito mais satisfação no convívio 
com seu parceiro real, pois saberão o que esperar do outro“. (DAMASCENO, 2008, p. 111). 
 Esta forma de idealização do casamento, é motivo para queixas futuras entre os casais, 
podemos perceber isso na clínica, nos freqüentes atendimentos de mulheres insatisfeitas com 
seus casamentos. 
 
Na clínica contemporânea, seja ela individual ou dedicada ao atendimento de casais, 
observamos que muitas das queixas apresentadas pelos indivíduos estão associadas a 
problemas de relacionamento [...] a discrepância existente entre a idealização e a 
realidade da vida a dois, os tipos de escolhas amorosas, as separações e divórcios. 
Todas essas situações têm um denominador comum, que é a impossibilidade de 
perceber o outro como ele é, como alguém diferente, de maneira que se gere um 
relacionamento livre de tantas projeções e fantasias, promovendo uma vivência de 
respeito à coexistência dessas subjetividades (GOMES, 2003, p.6). 
 
27 
 
 Nesse contexto, percebe-se que as mulheres carregam consigo uma imagem de 
casamento idealizada que as fazem fantasiar sobre o sentido do casamento, gerando 
conseqüências após a sua realização. 
 
 
2.5 As mulheres contemporâneas e as fantasias român ticas 
 
 
Cadê você príncipe encantado 
Vem ser, o meu namorado 
Me fazer feliz 
Pra sempre, com você [...] 
 
(Príncipe encantado - Xuxa) 
 
 
A idéia de amor romântico no casamento passou a influenciar as uniões na sociedade 
ocidental e a sua existência, para haver a união, passou a ser imprescindível. Porém, essa idéia 
de amor, que surgiu e se instalou nas mentes femininas, tem um quê de fantasia, de 
idealização, enfim, é como as histórias de contos de fadas, onde os noivos são príncipes 
(homens perfeitos) e que após a união, vivem felizes para sempre. 
 
O prazer e a felicidade amorosa não estavam previstos no contrato, já que o 
casamento “por amor” é um evento recente na história da humanidade, pois não 
muito tempo atrás, os pais escolhiam de forma sutil ou declaradamente, os cônjuges 
de seus filhos, de acordo com os interesses familiares, econômicos ou políticos, 
como já visto, o amor apaixonado é um fenômeno encontrado em todas as épocas e 
lugares, mas se diferencia do amor romântico, específico culturalmente do Ocidente 
e a partir do final do século XIX (DAMASCENO, 2008, p.44). 
 
Nos tempos atuais, apesar de todo um pensamento contemporâneo em relação a 
casamento (casais abertos para desempenhar novos papéis dentro do casamento como: a 
mulher sendo provedora do lar enquanto o homem desempenha o papel do “dono de casa”), 
ainda nos deparamos com idéias fantasiosas quanto ao que esperamos de um matrimônio 
(príncipe encantado, felizes para sempre etc). Idéias estas que apesar de serem novas 
comparando com a quantidade de tempo que não predominou (da antiguidade até a 
modernidade), mas que é antigo, se observarmos que há muito já se sabe, que nem de longe o 
casamento é feito de um amor fantasioso. 
 
28 
 
Os tempos mudaram, o ar de modernidade seduziu e remodelou os comportamentos. 
A mulher deixou de omitir-se e garantiu sua escalada, degrau por degrau, na 
pirâmide social, conquistou o voto, o mercado de trabalho e, principalmente, o 
direito de si, deixou de ser a mulher de propriedade inconteste de outrem, para se 
tornar esposa de seu esposo (FERREIRA, 2008b). 
 
Para Féres-Carneiro (1998) os ideais do amor romântico, no casamento 
contemporâneo, tendem a se fragmentar, pela pressão da emancipação da mulher e da 
autonomia feminina. Porém, ainda não vimos isso se manifestar nos ideários femininos, pois 
mesmo com os diferentes tipos de relacionamentos da atualidade, o ideal de amor romântico 
ainda continua presente. 
 Como dito, as mulheres através de sua emancipação adquiriram liberdade, deixando de 
serem somente donas-de-casa. Apesar de toda liberdade, ascensão e de poder exercer os 
mesmos direitos que os homens, a mente de algumas mulheres continua presa numa idéia 
fantasiosa e idealizada sobre casamento. 
 Novelas e filmes românticos, tem como público alvo as mulheres, que se emocionam e 
se identificam com o conteúdo ali expresso. Há aqueles que digam que as mulheres, devido 
sua sensibilidade, se emocionam mais facilmente, e são mais sensíveis e por isso as novelas, 
os contos, os romances, mexem mais com elas. Mas na atualidade, rompemos com essa 
barreira no qual é dito que só as mulheres são sensíveis, a mulher rompeu a barreira da 
repressão sexual e de individuo passivo; e ao homem é rompido a barreira de não poder 
chorar e ser sensível, agora o homem também pode ser igual a mulher. Mas por que, mesmo 
com todas essas mudanças na postura, na forma de se comportar e enxergar, a mulher ainda 
assim, continua sendo o maior alvo da influência das fantasias românticas, fazendo-as a 
idealizar um casamento perfeito, um marido perfeito e a valorizar tanto o ritual de casamento? 
Para Stendhal (1999, p.16) as mulheres são muito presas na idéia de amor antes do 
casamento, como citado em seu livro “[...] dezenove vinte avos de seus devaneios habituais 
são relacionados ao amor”. 
Isto também se deve ao fato das mulheres preferirem as emoções sobre à razão, 
diferente dos homens. Para Stendhal (1999) as mulheres preferem as emoções, graças aos 
costumes da sociedade, onde as mulheres não são encarregadas de nenhum negócio na 
família, e assim elas sentem que a razão nunca lhes é útil. 
No entanto, “Parte-se da premissa que a configuração do que é problema é delineada a 
partir da existência de um padrão de desejabilidade projetado para a relação conjugal. Tal 
padrão é histórica e socialmente definido e delimita aquilo a que se deve aspirar e aquilo que 
não se vai alcançar numa relação afetivo-sexual“. (GARCIA & TASSARA, 2003, p. 27). 
29 
 
Este padrão de desejabilidade pode ter relação ao fato das mulheres, carregarem 
inconscientemente, de gerações à gerações,um arquétipo, representado pelo conto de fada da 
Cinderela. Este símbolo arquetípico pode influenciar algumas mulheres a terem uma visão 
fantasiosa sobre casamento. E que mexidas por esse sentimento, guardado no mais profundo 
de seus seres, idealizam um par perfeito, casamento perfeito, amor perfeito, enfim, um ideal 
de amor cheio de fantasias. 
 
 
2.6 A história do amor romântico versus arquétipo do casamento 
 
 
 Antes do amor romântico, existiram outras formas de amor no decorrer da história da 
humanidade ocidental e que são importantes de serem citadas. Flandrin (1991) apud 
Damasceno (2008) relata que o amor esteve presente na literatura ocidental pelo menos desde 
o século XII, mas que este, salvo raras exceções, não era um amor conjugal, já que o amor-
paixão era essencialmente extraconjugal. O amor surgido no século XII era chamado de amor 
cavalheiresco, e caracterizava-se pela ligação a um adultério carnal, ou uma proeza que 
resultava no casamento. Colocava a mulher numa atitude passiva, inferior ao homem e 
dependente de sua iniciativa. 
 No século XIII, de acordo com Damasceno (2008), aparece o amor cortês, se 
apresentando como um tipo de amor, traduzido por uma experiência contraditória entre o 
desejo erótico e a realização espiritual. 
 
O amor cortês [...] apresenta-se como um amor adúltero espiritual, que jamais 
implicava no casamento entre amantes, onde o homem era sempre inferior 
socialmente à dama cortejada e se dispunha a qualquer sacrifício como prova de seu 
amor. Disposto ao sacrifício, este herói não buscava o encontro carnal com sua 
amada. Através de declarações, conversas amáveis, gestos ou simplesmente um 
olhar, assim se fazia a confissão de amor. Esperava-se apenas, da mulher, um ato de 
carinho, um reconhecimento, mas nunca a entrega do corpo. Exaltava a mulher, 
colocando-a a um plano superior ao homem. Não havia ligação entre o amor cortês e 
o casamento, já que a mulher era sempre casada e seu amante jamais o marido. 
Enlace de corações que nunca mistura os corpos (DAMASCENO, 2008, p.36). 
 
 De acordo com Johnson (1987) o amor cortês foi um dos primeiros ideais de amor 
romântico na sociedade ocidental durante a idade média, surgindo pela primeira vez na 
literatura no mito de Tristão e Isolda, depois nos poemas e nas canções de amor dos 
trovadores. O amor cortês para Johnson (1987, p. 15) tinha por modelo: “[...] o intrépido 
30 
 
cavaleiro que honrava uma bela dama e fazia dela sua inspiração, o símbolo de toda a beleza e 
perfeição, o ideal que o incentivava a ser nobre, espiritualizado, refinado e voltado para 
assuntos ‘elevados’”. 
No século XV surge o amor conjugal, neste é exigido dos esposos por sua própria 
natureza, uma fidelidade inviolável. O amor quer ser definitivo. Mas é a partir do século 
XVIII e XIX que este quadro se modifica definitivamente e um novo ideal de casamento vai-
se constituindo aos poucos no Ocidente, em que se impõe aos cônjuges que se amem ou que 
pareçam se amar, e que tenham expectativas a respeito do amor. Na atualidade, ninguém 
duvida da dignidade do amor conjugal, porém com bases no amor romântico. A sociedade 
contemporânea não aceita mais que alguém possa se casar sem desejo e sem amor 
(DAMASCENO, 2008). 
 E a partir daí deixou de ser realizado um contrato matrimonial onde a importância 
pela união de riquezas e reprodução era o foco, e sim que, para existir um contrato 
matrimonial era imprescindível existir o amor romântico. Durante toda essa evolução do 
sentido do matrimônio, que também pode ser percebido no capítulo que fala das 
“representações sociais do casamento ao longo da história”, os símbolos arquetípicos 
acompanharam essas mudanças. 
 
Os mitos [e os contos de fada] são ricas fontes de insights psicológicos. A produção 
literária e artística de alto nível registra e retrata a condição humana com uma 
precisão indelével. Os mitos [dá-se ao mito o mesmo sentido dos contos de fadas, 
visto que para Jung os contos de fadas assim como os mitos são expressões dos 
arquétipos], porém, constituem um gênero muito especial de literatura. Não são 
escritos ou criados por um único indivíduo, porque na realidade são produtos da 
imaginação e experiências de toda uma era, de toda uma cultura (JOHNSON, 1993, 
p.12). 
 
Ou seja, através da valorização do amor romântico, certamente o arquétipo do 
casamento transformou o seu modo de se manifestar (visto que é a manifestação do arquétipo 
que muda, pois o arquétipo em si é imutável) em relação a idéia de casamento. Como dito por 
Johnson (1987, p.16) “O amor romântico é um desses fenômenos psicológicos realmente 
arrasadores que surgiram na história dos povos ocidentais. Foi algo que esmagou nossa psique 
coletiva e alterou permanentemente a nossa visão de mundo” (JOHNSON, 1987, p. 16). 
 E podemos perceber essa alteração da nossa visão de mundo, nos contos de fadas, nas 
peças românticas e nas pinturas da atualidade, que procuram traduzir o casamento junto a 
demonstração do amor romântico. Assim como no passado, as reproduções artísticas tinham 
outros símbolos que expressavam o casamento de cada época. 
31 
 
 
O casamento provavelmente é o mais universal, tradicional e comemorado evento da 
civilização. Inicialmente restrito às relações familiares e que com o tempo foi integrado às 
normas do Estado e aos sacramentos da Igreja. E desde a antigüidade, como colocar o 
casamento sobre a proteção de certas divindades, existem estas característica de representá-lo 
através de uma solenidade festiva. Estas vêm sendo mantidas desde os tempos mais remotos 
até os nossos dias, como revela a rica iconografia da Idade Antiga até os dias atuais, 
exemplificado pelas bodas do príncipe Charles com a princesa Diana, presenciada por 
centenas de milhões de pessoas pela televisão (COSTA, 2000; DAMASCENO, 2008). 
 Mas na época do casamento de “negócios” as mulheres e seus familiares, davam muita 
importância para cada detalhe da comemoração ou ritual realizado para este acontecimento, 
garantindo um casamento/união que desse certo. O vestido branco, que nem sempre foi da cor 
branca, mas que desde o século XVII a noiva vestir o branco se tornou popular, depois que a 
rainha da Inglaterra, no ocidente, apareceu toda de branco em seu casamento (HISTÓRIA DO 
CASAMENTO, 2009), representava a castidade e a pureza, pois as mulheres casavam virgem 
(essa virgindade era como numa associação/representação da virgem Maria). O vel, a coroa de 
flores, grinalda, padrinhos, faziam parte de um ritual que valorizava todos os detalhes, devido 
a importância que cada um carregava para a constituição da cerimônia. Na atualidade, parece 
que para alguns todos estes significados não tem sido de grande importância. 
Nos tempos atuais o ritual passou a ser a representação de uma fantasia tornada real, 
como se fosse o desfecho do conto de fadas que a noiva ou a namorada espera ansiosamente 
pela realização, sendo este o ideal de casamento que tem em sua mente: que é a realização de 
uma fantasia inconsciente que se torna real. Segundo Galan (2002) os mitos e os contos de 
fadas expressam os símbolos do inconsciente coletivo, encarregados de sustentar o processo 
de desenvolvimento do consciente coletivo. 
 Neste trabalho infere-se que o símbolo arquetípico que representa o casamento nos 
tempos atuais é a noiva vestida de branco como uma princesa, similarmente, ao desenho da 
Cinderela, num conto de fadas. Este último é descrito por Coelho (1991, p.13), como: 
 
Narrativas contadas oralmente, de geração em geração, sem uma determinada 
autoria, com ou sem fadas, mas sempre com o maravilhoso, o mágico, seus 
argumentos desenvolvem-se dentro da magia feérica [...] com tempo e espaço fora 
da realidade conhecida, tendo como eixo gerador uma problemática existencial, ou 
melhor, têm como núcleo problemático a realização essencial do herói ou heroína, 
realização que, via de regra, está visceralmenteligada à união homem-mulher. 
 
32 
 
No qual delimita que o casamento se resume à “magia da cerimônia”. Sem olhar o depois, o 
que tem por vir. 
A existência do símbolo arquetípico, do conto da Cinderela em relação casamento, 
pode vir a suscitar sentimentos nas mulheres como, sentir que terá um dia de princesa e que 
conseguirá realizar o que sempre sonhou, que é ficar para sempre com seu príncipe encantado, 
fazendo-as se sentirem como num conto de fadas e não no sentido de que tudo que existe 
numa cerimônia de casamento pode ter verdadeira representação simbólica, como os itens 
usados no mesmo: véu, grinalda, buquê de flores, vestido branco; isso tudo é somente parte 
dum pacote que faz parte da fantasia que representa o ritual. 
A valorização do ritual de casamento chega a ser tão importante, que muitos acreditam 
que sem a realização deste ritual, o casamento não dará certo no futuro. Bossard e Boll (1950) 
apud Lopes et al (2006), concluíram que os rituais acabam por ser poderosos organizadores da 
vida familiar, mantendo sua estabilidade durante períodos de estresse e transição. Outros 
estudos vêm apontando a importância dos rituais familiares na qualidade da parentalidade no 
ajuste familiar e no relacionamento conjugal (GOTTMAN, 1994 apud LOPES et al, 2006; 
FIESE et al, 1993). 
Isso acontece devido ao valor que o arquétipo dá à cerimônia/ritual de casamento. Este 
arquétipo, que podemos perceber manifestado no conto da Cinderela, inconscientemente 
suscita nas mulheres um sentimento de importância para o ritual de casamento e que sem essa 
magia do ritual, o matrimonio pode vir a não dar certo, ou seja, o casal não viver em 
harmonia, não conseguir se adaptar um ao outro e não serem felizes. É como se fosse preciso 
ter de experienciar a magia, a ida ao baile, para encontrar o seu príncipe encantado e 
conseguir ser feliz. 
 
 
2.7 A sobrevivência da instituição casamento 
 
 
Podemos perceber que na antiguidade clássica e na idade média o amor romântico não 
era estimado, mas priorizava-se a imagem que o casamento exercia sobre as pessoas, já na 
atualidade o amor romântico é demasiadamente estimado, mas a imagem que o casamento 
exerce sobre as pessoas, de um modo diferente da antiguidade e da idade média, ainda 
continua sendo mais valorizado do que de fato representa o casamento em si, a união. Como 
33 
 
dito por Jung (2008, p.57): “O homem do passado está vivo dentro de nós [...]”. Pois o ritual 
de casamento sempre esteve presente na vida dos noivos, como um marco da união. 
Esta imagem do casamento, que era e é valorizada, pode ser vista no ritual de 
casamento, da importância que este representa para a família dos noivos, e na vida da noiva 
para o marco e para a constituição da união. 
Para Jung “Quase toda a vida do inconsciente coletivo foi canalizada para as idéias 
dogmáticas de natureza arquetípica, fluindo como uma torrente controlada no simbolismo do 
credo e do ritual” (2008, p.23). No entanto, o inconsciente coletivo é controlado através do 
ritual, e é perpetuado por este. 
 Desse modo, o casamento continua a existir devido o ritual/cerimônia continuar sendo 
demasiadamente estimado, mesmo após a mudança do casamento de fins financeiros para o 
casamento de amor. 
O arquétipo do casamento, que é controlado pelo ritual e por isso faz com que as 
pessoas continuem valorizando-o, na contemporaneidade, passou a se manifestar 
possivelmente através dos contos de fadas com o da Cinderela. E assim agregou outras 
influências na idéia pré-concebida de casamento, como: as noivas passarem a esperar 
inconscientemente um casamento como o da Cinderela, que é o marido sendo o príncipe, vida 
perfeita e viveram felizes para sempre e dentre outros aspectos que serão vistos no próximo 
subcapítulo. 
 
 
2.8 O possível símbolo arquetípico do casamento: Ci nderela 
 
 
Algumas mulheres, seja através do namoro ou do noivado, como falado nos 
subcapítulos anteriores, aguardam ansiosamente o dia no qual irão se casar e conseguir 
realizar um de seus mais acalentados sonhos. 
Para Pregnolato (2003) ter consciência do “eu” não significa, na prática, total 
consciência de si. Pois temos um conhecimento incompleto tanto de nós mesmos quanto dos 
outros, de modo que nossa compreensão dos motivos que nos movem a ter certas posturas em 
relação ao relacionamento são insuficientes. E por isso, muitas vezes somos levados a agir 
impulsionados apenas por nosso inconsciente, mesmo tendo a impressão de que sabemos o 
que estamos fazendo. 
34 
 
 
Mas por que Cinderela deve voltar para sua vida de escravidão e pobreza após a 
meia-noite? Por que ela perde toda a magia? Por que este prazo determinado pela 
Fada? Por que o sapatinho de cristal não desapareceu como o resto dos objetos 
mágicos? O que fez com que Cinderela deixasse cair o sapatinho? Será que podemos 
dizer que para conquistar o amor de um “príncipe” a mulher tudo faz, embeleza-se, 
torna-se sedutora, percebe seus gostos, torna-se meiga e interessante, e após a 
conquista, a jovem começa a mostrar sua verdadeira face, seus defeitos e 
dificuldades, o que talvez explique porque um conto nunca continua após o 
casamento dos jovens, fechando com o conhecido “... e foram felizes para sempre...” 
(DAMASCENO, 2008, p. 26). 
 
O conto da Cinderela trata-se de uma história com estrutura narrativa simples, porém 
apresenta vários níveis de significação e imagens simbólicas. Por exemplo: é uma princesa 
que tem seu lado “sujo” de Borralheira e sua aparência deslumbrante no baile, sabe ser 
princesa e sedutora, como bem cabe ao jogo erótico; é mestre no jogo da sedução, utiliza-se 
de máscaras para encantar e fugir várias vezes; há rivalidades fraternas e na dupla face da 
mãe: a fada madrinha e a madrasta (MOURA, 2010). 
De acordo com Brasil (2007) muitas mulheres aprendem que a realização do 
casamento lhes assegurará a felicidade eterna, assim como ocorria nos contos de fadas. Para 
Relvas (1996) apud Damasceno (2008) “e foram felizes para sempre” presente nos contos de 
fadas, esta relacionada a um conjunto de mitos associados ao casamento, podendo ser 
descritos como: 
 
"O nosso amor, o desejo e a paixão não vão se alterar com o passar do tempo." 
"O meu companheiro deverá ser capaz de antecipar todos os meus desejos, 
pensamentos e necessidades." 
"Se me amas de verdade esforçar-te-ás sempre por me agradar." 
"Amar significa nunca me aborrecer com o meu companheiro." 
"Amar significa estarmos sempre juntos." 
"Os níveis de sexo, carinho e compromisso, presentes na nossa relação, não 
diminuirão nunca." 
"Devemos estar sempre de acordo com qualquer tipo de assunto." (RELVAS, 1996 
apud DAMASCENO, 2008, p. 32) 
 
Nisto podemos perceber as projeções da mulher sobre homem, daquilo que se espera. 
Isso acontece por que toda mulher possui um animus (assim como todo homem possui a 
anima) que são arquétipos que representam o pólo oposto do ego da mulher. Desse modo, 
após o casamento, a mulher esperará que o homem se comporte de acordo com a imagem 
masculina que esta possui em sua psique, ou seja, de acordo com seu animus. 
De acordo com Jung et al (1977) o animus constitui o aspecto masculino na psique 
feminina e é a imagem, a síntese que ela formou dentro de si a respeito do masculino, a partir 
de todas as experiências que ela já teve de homem, predominantemente com a figura paterna. 
35 
 
Esses arquétipos têm aspectos positivos e negativos e vão influenciar profundamente a 
qualidade da relação em função da forma com que são vivenciados. 
A projeção do animus sobre outra pessoa altera a percepção que se tem dela porque o 
indivíduo tenderá a interpretar o outro a partir de sua própria referência, excluindo a pessoa 
real. Porém, à medida que o tempo vai passando e a paixão esfriando, o outro verdadeiro 
começa a emergir. Ou seja, o indivíduo vai tomando consciência das projeções que realizou. 
Fase esta, fundamental paraa relação e que irá determinar a continuidade ou não do 
relacionamento (PREGNOLATO, 2003). 
No entanto, a manifestação simbólica do arquétipo do casamento, influenciado pelo 
amor romântico, soma-se ao arquétipo animus no sentido de que a mulher, além de idealizar 
um casamento como o de Cinderela, também projetará no seu marido, conteúdos do seu ideal 
inconsciente de homem, que construiu durante sua vida. 
Quando uma mulher projeta em um homem seu animus, ocorre a paixão pelo parceiro 
ideal. A mulher vai sendo seduzida por suas próprias fantasias românticas e irreais de que 
encontrou uma pessoa que vai realizar seus desejos, preencher seus anseios, proporcionar-lhe 
a verdadeira e infinita felicidade (AQUINO, 2010). 
Enquanto o parceiro corresponder a imagem projetada, poderá não existir conflito no 
relacionamento, mas sabemos que isso não acontecerá para sempre. Para Jung (2003, p.24): 
“Um arquétipo, tal como o é o animus, nunca coincide com uma pessoa individual [...]”, ou 
seja, é impossível tal parceiro corresponder a tal projeção. 
Além do animus, a mulher possui a sombra (como qualquer outro indivíduo), ou seja 
aquilo que uma pessoa não deseja ser. É comum numa relação projetar os conteúdos da 
sombra sobre o parceiro, criando antipatia e implicância em relação ao mesmo ao que se 
refere a diversos aspectos. Samuels, Shorter e Plaut (2010d) relatam que a sombra assim 
como todos os conteúdos capazes de se introduzir na consciência, aparecem no início na 
projeção e, quando a consciência se vê em uma condição ameaçadora ou duvidosa, a sombra 
se manifesta como uma projeção forte e irracional, que pode ser positiva ou negativa, sobre o 
outro. No qual encontramos aqui a explicação das antipatias. 
Daí a importância do autoconhecimento, ou como dito por Jung, do processo de 
individuação, para trazer estes conteúdos do inconsciente para o consciente, fazendo a pessoa 
se integrar de seu eu total e conseguir ter uma vida mais plena e feliz. 
 
 
 
36 
 
2.9 Processo de individuação 
 
 
 Tudo bem, você não é o príncipe encantado, 
 e não tem, um cavalo branco. 
 Não é tudo que eu sempre sonhei 
 
 (Príncipe desencantado - Caroline Machado) 
 
Como dito por Jung (2008) os arquétipos são complexos de vivência que sobrevêm 
aos indivíduos como destino e seus efeitos são sentidos em nossa vida mais pessoal. 
A não conscientização deste arquétipo, faz com que muitas noivas na atualidade se 
submetam a casamentos infelizes, visto que não se preparam para o verdadeiro casamento, 
carregam em si uma imagem inconsciente que muito as influenciam na deturpação do que é e 
pode vir a ser o casamento. 
 
Os Contos de Fadas devem ser substituídos, para que não ocorram frustrações e 
decepções, pela realidade, pois eles não ensinam o que os príncipes e princesas 
devem fazer para serem ‘felizes para sempre’, ou após a cerimônia de casamento 
(DAMASCENO, 2008, p. 105). 
 
De acordo com Paula (2008) é através do símbolo que o inconsciente se atualiza na 
consciência trazendo o enriquecimento psíquico necessário à vida do indivíduo. Tanto que, 
algumas mulheres que se casam pela segunda vez, de acordo com Rasmussen & Ferraro 
(1991) apud Féres-Carneiro (1998) se separam menos, como se, o segundo casamento desse 
mais certo que o primeiro. Isto por que as imagens inconscientes que estas tem em relação ao 
casamento depois da sua efetivação, passa a ser visto de outra forma, acontece uma 
atualização do símbolo arquetípico em relação ao casamento. Para Jung (2008, p.17) ”O 
arquétipo [...] se modifica através de sua conscientização e percepção, assumindo matizes que 
variam de acordo com a consciência individual no qual se manifesta”. 
Mas isso não significa que todos os casamentos frustrados podem repercutir na 
transformação da manifestação do arquétipo, existem casos em que as mulheres ao verem que 
o casamento terminou, podem culpar a ausência da magia, do ritual de casamento e do amor 
romântico, por exemplo, e continuar procurando esses “aspectos” em outros matrimônios, se 
casando repetidas vezes e se frustrando repetidas vezes. 
 
Ainda não aprendemos a lidar coletivamente com o tremendo poder do amor 
romântico. Freqüentemente nós o transformamos em tragédia e alienação e não em 
relacionamentos humanos duradouros. [...] se homens e mulheres compreenderem os 
37 
 
mecanismos psicológicos que atuam por trás do amor romântico e aprenderem a 
lidar com eles conscientemente, terão nas mãos a chave para novas possibilidades de 
relacionamentos, tanto com os outros como consigo mesmos (JOHNSON, 1987, p. 
16). 
 
 Por isso, é preciso antes ou durante o casamento se apropriar destes conteúdos 
inconscientes. De acordo Di Yorio (1996) apud Pregnolato (2003, p.21) “o indivíduo que não 
consegue tomar para si aquilo que constitui parte de seu mundo interno, fica perdido de si 
mesmo, buscando achar-se no outro”. 
 
Essa busca poderá revelar-se terrivelmente frustrante, ao final, se o indivíduo não 
compreender que é dentro de si que ele precisa elaborar a inteireza do seu ser, 
conscientizando-se de que jamais esse processo poderá ocorrer, de forma duradoura, 
com alguém de fora. E isso se obtém através de um constante processo de 
autoconhecimento, ao qual JUNG deu o nome de individuação6 (PREGNOLATO, 
2003, p.4). 
 
 O processo de individuação seria um confronto da consciência com conteúdos 
inconscientes e com o social, o que vai propiciar um amadurecimento psíquico para o 
indivíduo. Sendo que a individuação não é um estado adquirido e nem um processo de 
perfeição, é sempre um processo (BOECHAT, 2007). 
Este processo será favorecido se forem criadas condições para que conteúdos 
inconscientes se apresentem à consciência e sejam elaborados dentro da dinâmica da 
conjugalidade. A possibilidade de ocorrência de confronto com a sombra (aqueles conteúdos 
que negamos e escondemos) é fundamental para o indivíduo e para a qualidade do 
relacionamento afetivo, pois abre um caminho para que cada cônjuge restabeleça, cada vez 
mais profundamente, a conexão com seu padrão pessoal muitas vezes rejeitado (DI YORIO, 
1996 apud PREGNOLATO, 2003). 
Sobre a individuação Jung (2008, p. 282) relata: 
 
O modo pelo qual se obtém a harmonização de dados conscientes e inconscientes 
[...] trata-se de um processo de vida irracional, que se expressa em determinados 
símbolos. Pode ser tarefa do médico [aqui o médico é representado como 
psicoterapeuta] acompanhar esse processo, ajudando-o da melhor maneira possível. 
Neste caso o conhecimento do símbolo é indispensável, pois é nestes que se dá a 
união de conteúdos conscientes e inconscientes. Dá união emergem novas situações 
os estados de consciência. Designei por isso a união dos opostos pelo termo “função 
transcendente”. A meta de uma psicoterapia que não se contenta apenas com a cura 
dos sintomas é a de conduzir a personalidade em direção a totalidade. 
 
Nesse sentido é percebido que para acontecer a individuação de um indivíduo em 
relação à imagem arquetípica que possui em relação ao casamento, é preciso que este se 
38 
 
apodere de seus símbolo (símbolos arquetípicos), através da terapia. Para equilibrar seus 
conteúdos conscientes e inconscientes, se aproximando de seu self. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
3 METODOLOGIA 
 
 
Este trabalho foi realizado através da pesquisa de campo. De acordo com Lakatos & 
Marconi (2001, p186), a “pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir 
informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, 
ou de uma hipótese, que se queira comprovar [...]”. 
A pesquisa de campo possui fases, sendo a primeira, a realização de uma pesquisa 
bibliográfica

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