Prévia do material em texto
RESPONSABILIDADE CIVIL 4º BIMESTRE 1. RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A ideia de responsabilidade civil está alicerçada no dever de reparação do prejuízo, moral ou patrimonial, causado à vítima. O ordenamento jurídico brasileiro, além de prever a aplicação desse instituto nas relações entre indivíduos, também tutela os danos causados pelo Estado. Essa obrigação, de reparar os danos produzidos pelos agentes públicos no exercício de suas funções, é o que se denomina de responsabilidade civil da Administração Pública. RESPONSABILIDADE OBJETIVA Na responsabilidade objetiva, existe uma conduta ilícita, o dano e o nexo causal. No entanto, não será necessário o elemento culpa razão pela qual se conhece essa modalidade como responsabilidade independentemente de culpa. Ou seja, esta pode ou não existir, mas será irrelevante quando analisado o dever de indenizar do Estado. A Constituição Federal definiu no seu artigo 37 que o Estado e seus prestadores de serviço responderão pelos danos a seus agentes, nessa qualidade e, causarem a terceiros, assegurando o direito de regresso contra o responsável, portanto, resta inferida a culpa objetiva com regra geral. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, em seu art. 37, § 6º, a seguinte regra: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. Entende-se do dispositivo que duas são as regras que recaem na responsabilidade civil do Estado pelos danos causados a terceiros: a da responsabilidade objetiva do Estado e a da responsabilidade subjetiva do agente público. Há de se destacar o fato de que o dispositivo supracitado não estabelece a responsabilidade objetiva para todas as condutas da Administração. TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO Teoria segundo a qual a responsabilidade civil do Estado é objetiva, sendo suficiente demonstrar o dano decorrente da atuação do Estado. Há possibilidade de comprovar a culpa da vítima a fim de atenuar ou excluir a indenização. Segundo essa teoria, importa atribuir ao Estado a responsabilidade pelo risco criado pela sua atividade administrativa, essa teoria, como se vê, surge como expressão concreta do princípio da Igualdade dos indivíduos diante dos encargos públicos. É a forma democrática de repartir os ônus e encargos sociais por todos aqueles que são beneficiados pela atividade da administração pública. CAUSAS EXCLUDENTES E ATENUANTES DA RESPONSABILIDADE Para que se configure a responsabilidade do Estado, primeiramente se deve observar a conduta do lesado na ocorrência do dano. Se este em nada participou, figurando apenas como vítima, o ente estatal deverá assumir toda a responsabilidade. Por outro lado, se o mesmo participou daquilo que deu causa ao dano, não parece justo o Poder Público assumir todo o encargo, assim, a indenização devida pelo Estado deve ser reduzida conforme o grau de sua participação, ou seja, a culpa concorrente é uma causa atenuante de responsabilidade. Ainda, se o único causador do dano for o particular, se desdobrará um caso de autolesão, o que isenta o Estado da obrigação de reparar em sua totalidade, sendo essa uma causa excludente de responsabilidade. É de extrema importância verificar o nexo de causalidade entre a conduta do agente em exercício funcional e o dano ou prejuízo causado à vítima. Quando inexistir o fator subjetivo ou este for interrompido nascerão às causas excludentes da responsabilidade, quais sejam: força maior, culpa da vítima e culpa de terceiro. A Teoria do Risco administrativo, embora dispense prova da culpa da administração, permite ao estado afastar a sua responsabilidade nos casos de exclusão do nexo causal (fato exclusivo da vítima, caso fortuito, Força Maior e fato exclusivo de terceiro). RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PRESTADORES DE SERVIÇO PÚBLICO A responsabilidade é objetiva às pessoas jurídicas de direito privado, participantes da administração pública, quer como integrantes da administração indireta, quer como concessionárias ou permissionários do serviço público. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO ESTADO E NÃO SOLIDÁRIO Na responsabilidade subjetiva do Estado, diferentemente da objetiva, o elemento culpa, provada ou presumida, é indispensável para ensejar o dever do Estado de reparar o dano. Entender que a responsabilização do Estado será objetiva em toda e qualquer situação é equivocada, tendo em vista que, no art. 37, § 6º, da Constituição Federal de 1988, restringiu-se essa modalidade apenas para aqueles casos de condutas comissivas de seus agentes. Entidades de direito privado prestadoras de serviços públicos respondem em nome próprio por seu patrimônio e não o estado por elas, e nem com ela. Porém o Estado responde subsidiariamente uma vez exaurido dos recursos de entidade prestadora de serviços públicos ponto isso porque, se o estado escolher o mal aquele a quem atribuiu a execução do serviço público deve responder subsidiariamente caso mesmo se torne insolvente. DANOS DECORRENTES DE COISAS E PESSOAS O Estado tem o dever de guardar pessoas ou coisas perigosas, não expondo a coletividade a riscos incomuns (exemplo: depósito explosivo, presídio, manicômios, usina nuclear). Neste caso é indiscutível a responsabilidade objetiva do Estado. DANOS DECORRENTES DE FENÔMENOS DA NATUREZA E FATO DE TERCEIRO Tratam-se de fatos estranhos à atividade administrativa em relação aos quais não guarda nenhuma relação de Nexo de causalidade, razão pela qual não é aplicado o princípio constitucional da responsabilidade objetiva do Estado. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO ESTADO – POSSIBILIDADE Excepcionalmente poder-se-á falar em responsabilidade subjetiva do Estado, quando, por exemplo, ocorrer culpa exclusiva de terceiro ou fenômeno da natureza. RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR DANOS DECORRENTES DOS ATOS JUDICIAIS É matéria complexa na doutrina e jurisprudência. O STF por sua vez tem entendido que o Estado não é civilmente responsável pelos atos do Judiciários a não ser nos casos declarados em lei, porquanto a administração da Justiça é um dos privilégios da soberania. RESPONSABILIDADE PESSOAL DO JUIZ O juízo só pode ser pessoalmente responsabilizado se houver dolo ou fraude da sua parte. 2. RESPONSABILIDADE CIVIL NO AMBIENTE CONDOMINIAL NATUREZA JURÍDICA DO CONDOMÍNIO EDILÍCIO O condomínio edilício, que constitui a conjugação permanente das áreas comuns de caráter perpétuo e inalienável com a propriedade privada constituída pelas unidades autônomas, é considerado como um direito real novo e complexo, tendo como finalidade precípua a preservação da propriedade imobiliária, manutenção e conservação das áreas e serviços comuns. Caso o dano seja causado a um condômino ou terceiro e decorra da propriedade comum, das áreas e serviços comuns, ainda que seja possível identificar cada um dos condôminos, proprietários das unidades que componham aquele condomínio edilício, atribui-se a responsabilidade civil ao condomínio edilício e este, se obrigado a indenizar, deverá exigir dos condôminos que arquem com a despesa, na proporção que for determinada pela Convenção de condomínio. O condomínio edilício representa os interesses comuns dos condôminos, proprietários das unidades autônomas. RESPONSABILIDADE DO CONDOMÍNIO EDILÍCIO EM RELAÇÃO A TERCEIROS Quando se avalia a responsabilidade do condomínio por danos causados a terceiros, diante da própria análise da função do condomínio edilício, representado pelo síndico, como ente de gestão, o condomínio edilício responsabiliza-se por danos que possa causar porqueda de objetos ou até por eventual fato decorrente da própria edificação. O condomínio responderá por danos causados pela queda de líquidos ou objetos sobre transeuntes ou veículos, por inteligência do artigo 938, do Código Civil, ou ainda pela queda de um muro sobre edificação de vizinho, derrame de resíduos tóxicos em terrenos vizinhos, etc. Nessas hipóteses, a responsabilidade é objetiva. A vítima só tem de provar a relação de causalidade entre o dano e o evento, de modo que apenas a comprovação da culpa exclusiva da vítima ou de situações imprevistas e inevitáveis, decorrentes de caso fortuito ou de força maior poderia afastar o dever indenizatório, pela quebra do liame de causalidade. RESPONSABILIDADE RESULTANTE DE COISAS LÍQUIDAS E SÓLIDAS QUE CAÍREM EM LUGAR INDEVIDO O condomínio edilício responderá pelos objetos e líquidos lançados porque não seria razoável o lesado investigar de qual unidade partiu a agressão, sendo todos os condôminos, ou mesmo moradores, responsáveis, podendo se falar de solidariedade. Todavia, no ambiente condominial, é factível seja atribuída a responsabilidade apenas àqueles que habitem na ala de onde efetivamente poderia ter sido lançado o objeto ou líquido, seja proprietário, locatário, comodatário, ou a qualquer outro título, excluindo de responsabilidade aqueles que não contam com janelas ou sacadas para a via pública onde a vítima foi atingida, questão de economia interna do condomínio. Caso a vítima não possa identificar o causador do dano, poderá postular indenização diretamente contra o condomínio, podendo este postular o ressarcimento diretamente do condômino causador do dano ou aos condôminos que habitarem as unidades localizadas na parte do edifício de onde fosse possível lançar o objeto ou o líquido. RESPONSABILIDADE PELO FATO OU GUARDA DA COISA Pisos molhados, sem o devido alerta, ou até mesmo escadas com falhas, quedas de lâmpadas, acidentes em geral, podem levar à responsabilização do condomínio, instituída hipótese de responsabilidade pelo fato ou guarda da coisa, como tem entendido autorizada doutrina. Oart. 937 do CC, prevê que o proprietário responde pelos danos que resultarem da ruína do edifício ou da construção, decorrente da falta de reparos. O dever de reparo se estende além da mera ruína, já que a manutenção e conservação das áreas e serviços comuns visa igualmente prevenir riscos, como um dever imposto de não prejudicar ninguém, abrangendo igualmente os elevadores, escadas rolantes, pisos em geral etc. O fato da coisa nada mais é, portanto, que a imperfeição da ação do homem sobre a coisa. RESPONSABILIDADE POR VAZAMENTOS, INFILTRAÇÕES E QUEIMA DE EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS E ELETRÔNICOS Os problemas ocasionados em tubulação (água, gás, saneamento), bem como em calefação, refrigeração central, incluindo, ainda, aqueles decorrentes de instalações elétricas, geram inúmeras discussões no condomínio. Ao condômino caberá a responsabilidade pelos reparos, caso o dano tenha origem em área privativa (apartamentos, escritórios etc.,), uma vez que esses consertos somente interessam à unidade autônoma. Quando o dano se origina em áreas comuns, que são as utilizadas em comum pelos condôminos, tais como o solo, a estrutura do prédio, a rede geral de distribuição de água, esgoto, gás e eletricidade, a calefação e refrigeração centrais, cabe ao condomínio as despesas com o conserto. RESPONSABILIDADE POR AVARIAS A VEÍCULOS E FURTOS NO INTERIOR DO CONDOMÍNIO A responsabilidade civil por danos ao patrimônio deve ser apurada de acordo com o nexo de causalidade entre o possível agente causador e a situação fática (artigos 186, 187 e 927 do Código Civil). Dessa forma, o condomínio pode ou não ser responsabilizado, pela reparação do dano causado ao condômino, dependendo de como se caracterizam os fatos e o que o condomínio mantém disponível em termos de segurança (equipamentos, contratação de funcionários exclusivos para o trabalho de vigilância etc.) e, acima de tudo, naquilo que se comprometeu para com os condôminos. Inexistindo expressa previsão na Convenção Condominial acerca da responsabilidade decorrente de danos causados a veículos estacionados na garagem, não há que se falar em responsabilidade do condomínio por estes eventuais danos. Por outro lado, se o condomínio possuir sistema de vigilância dia e noite nas garagens, assumindo a responsabilidade pela diligência, cuidado e guarda dos veículos e, se de alguma forma, ficar comprovada falha neste sistema, demonstrando sua culpa no evento, poderá ser responsabilizado pelo dano ocorrido no veículo. CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR Com respeito à cláusula inserta na Convenção do condomínio no sentido de afastar a responsabilidade civil do condomínio, para João Batista Lopes, raramente poderá ser admitida no condomínio edilício a cláusula de não indenizar, em vista dos preceitos de ordem pública ou na ocorrência de culpa do agente. No entanto há situações excepcionais como na hipótese do condomínio não manter qualquer serviço na garagem do edifício (ex.: garagistas, manobristas, porteiros etc.), nem cobra qualquer verba a esse título, será lícita a cláusula que vise a exonerá-lo de qualquer responsabilidade pelo furto ou danificação de veículo pertencente ao condomínio. Nesse caso, inexistindo qualquer obrigação do condomínio relativamente à guarda do veículo, segue-se que aos condôminos incumbirá, com exclusividade, exercer a vigilância sobre seus bens deixados na garagem do edifício. DIREITO DE REGRESSO CONTRA O SÍNDICO Eventual condenação do condomínio no dever de indenizar danos causados poderá ensejar a atribuição de responsabilidade do síndico, para exigir o ressarcimento do prejuízo. A apuração da conduta do síndico exigirá necessariamente a verificação da ocorrência de culpa, em qualquer das suas modalidades (imprudência, negligência e imperícia) ou dolo, mediante conduta omissiva e comissiva que tenha contribuído para a ocorrência do dano, observando-se as obrigações legais, além daquelas estabelecidas na Convenção de Condomínio, no Regulamento Interno e nas próprias assembleias. RESPONSABILIDADE CIVIL DO CONDOMÍNIO POR ATOS ADMINISTRATIVOS E DELIBERAÇÕES ASSEMBLEARES As deliberações nas assembleias podem igualmente ser causadoras de dano. Caso aludidas deliberações sejam tomadas ao arrepio da lei podem ser caracterizadas por ilícitas ou, até mesmo, como abuso de direito, a ensejar o dever de indenizar o prejudicado (artigos 186 e 187, do Código Civil). DANO NÃO INDENIZÁVEL Nem todo dano é indenizável, sendo indispensável que exista nexo de causalidade entre o dano comprovado e a conduta culposa ou doloso do causador do dano, quando se estiver diante de hipótese de aplicação da teoria da responsabilidade civil subjetiva ou ainda a existência de nexo de causalidade entre o dano comprovado e o evento, independentemente da existência de conduta do agente, quando for o caso de aplicação da teoria da responsabilidade civil objetiva. Um acidente nas áreas comuns do condomínio não trará qualquer repercussão jurídica para o condomínio, caso tenha agido de forma diligente, realizando a manutenção e conservação das áreas e serviços comum, observando, ademais, as normas técnicas que sejam cabíveis, sempre com o objetivo de prevenção de riscos e acidentes.