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AULA 1 COACHING E NEUROCOACHING Prof. Fernando Lúcio Wildner dos Santos 2 CONVERSA INICIAL O coaching é uma metodologia de desenvolvimento e capacitação pessoal e profissional, visando atingir uma determinada meta. Trata-se de um processo que envolve um conjunto de ferramentas e conhecimentos de diversas ciências como psicologia, administração, neurociência, planejamento estratégico, recursos humanos, aconselhamento, entre outras, almejando o crescimento humano e a formação do verdadeiro líder, favorecendo o desabrochar do potencial latente. É um processo que visa aumentar o desempenho de um indivíduo, um grupo, uma entidade ou uma empresa, ampliando os resultados positivos, proporcionando significativa expansão da performance pessoal e profissional, produzindo mudanças positivas e duradouras em um curto espaço de tempo e de uma maneira acelerada, em busca de resultados extraordinários. CONTEXTUALIZANDO A origem do coaching tem base fundamental na Filosofia Socrática, com a metodologia maiêutica de Sócrates (470-399 a.C.), a qual afirmava que todas as pessoas carregam dentro de si o saber (mesmo sem saber que sabem). Sócrates questionava (perguntando) as pessoas a fim de gerar reflexão, comprometimento e ação (mudança); consequentemente, a base do coaching são as “perguntas poderosas”, capazes de darem à luz a novos conhecimentos. Ao contrário do que algumas pessoas possam imaginar, o coach não é um “modismo” ou coisa nova desses últimos anos/séculos. Sócrates foi um dos primeiros coaches e é também considerado o pai da ética, pois coaching está relacionado com ética. Ele sempre questionava como podemos viver bem e melhor, instigando as pessoas a refletirem sobre o próprio viver e o próprio agir. TEMA 1 – O QUE É COACHING: MAIÊUTICA SOCRÁTICA A competência, como capacidade humana para a realização de atividades no mundo do trabalho, é inerente ao ser humano desde os primeiros registros das civilizações antigas, verificado na construção de obras inéditas que, até o presente, intrigam os estudiosos quanto aos métodos e procedimentos adotados, face à escassez de ferramentas e de tecnologia a época (Moraes, 2008, p. 7). 3 Sendo competências as capacidades totais do indivíduo, ou seja, seus conhecimentos, suas habilidades e atitudes, mobilizadas na geração do valor econômico desejado às organizações na qual trabalha e atua, a explicação é simples, de que uma economia globalizada precisa cada vez mais de um ser humano integral: “Sua mente ou conhecimento, o ‘saber-fazer’; seu corpo ou habilidades, o ‘poder fazer’; e finalmente, suas emoções e valores ou atitudes, o ‘querer fazer’” (Moraes, 2008, p. 14). Essa solicitação do mercado é atendida na medida em que o indivíduo mobiliza sua energia potencial – física, emocional e intelectual – a fim de atingir resultados para ele e para sua organização, um processo mediado pela aprendizagem, que inclui educar as pessoas para que trabalhem totalmente o seu potencial. Fala-se de competência, inicialmente, para trazer um tema atual associado: as ferramentas, os conhecimentos, a experiência e as técnicas na área de coaching, na manutenção de um relacionamento produtivo no aprendizado, com desenvolvimento e aperfeiçoamento constante da competência interpessoal (Krausz, 2007, p. 122). O coaching e a competência humana, portanto, são interligados em continuum, sendo que o primeiro atua de modo significativo na dimensão do seguinte, na observação de que o coaching pode ser o catalisador do potencial humano ainda não utilizado e que aflora em situações de crise, porque desafia as pessoas, como um processo de facilitação da aprendizagem e do desempenho de outra pessoa utilizando de forma ótima o seu potencial. De fato, “o processo de coaching estimula a capacidade das pessoas de se reinventarem e encontrarem alternativas válidas, apesar das restrições do contexto em que atuam” (Krausz, 2007, p. 27). Coaching, em sua apresentação, é um termo que sempre esteve presente ao longo da história, em ações informais similares, exercido por muitos pensadores da Antiguidade, inclusive por Sócrates (470 a 399 a.C.), em sua metodologia maiêutica. Assim, a filosofia do coaching baseia-se na aplicação dessa metodologia, na qual se acredita na capacidade/potencial que as pessoas possuem para procurar e encontrar as respostas em si próprias (Silva, 2012, p. 1). A maiêutica socrática é a precursora equivalente do coaching, tão importante quanto a referência conceitual e metodológica. Basicamente, a 4 maiêutica nada mais é do que a arte de externalizar, com base no outro, o próprio conhecimento, levando à consciência o potencial que já possua; ou na etimologia da terminação, consiste em dar à luz a pensamentos sobre a personalidade e a verdade intimamente preservada. Essas conquistas são obtidas pelo indivíduo e não imposta por outros; resultam, portanto, em eficácia e potência aos fins da aprendizagem (Cardani, 2011, p. 23). Sáez e Trullén (2014) já haviam questionado: por que unimos o conceito de líder natural com a filosofia do coaching? Que é o coaching? Que faz um coach? Parece que o coaching está muito na moda. Ainda hoje, algumas pessoas afirmam que isso era algo novo que acabaria convertendo-se em moda passageira, que não vinha para ficar. Passageiro? Novo? A aqueles que falam do coaching como algo novo e passageiro, sempre os convido a ler os clássicos filosóficos e diversas biografias, como a de Sócrates, de Platão (428-427 a.C.), ou de Epícteto (50-138 d.C.), “o escravo filósofo”, e tantos outros pensadores. O coaching reúne diferentes formas de pensar que “não são novas”, as quais já falavam os clássicos e também são citadas em muitas das correntes humanistas e filosóficas que ressaltam a importância da pessoa e do encontro consigo mesma. No oráculo de Delfos, na Grécia Antiga, a recomendação era de que o homem deveria colocar toda a sua atenção em sua pessoa e em seu autoconhecimento. O grande aforismo do templo de Apolo é mencionado até hoje: “Conhece-te a ti mesmo” (Sáez; Trullén, 2014). O coaching nasce naturalmente de uma premissa filosófica e processual bastante semelhante, pois o próprio ser humano possui recursos e capacidades para construir e gerir a sua própria vida e seus projetos pessoais e profissionais. Entretanto, em certas situações, precisa de ajuda para orientar-se, emancipar-se de ideias e crenças limitantes, encontrar clareza, confiança, determinação e equipar-se com as ferramentas para tomar as medidas necessárias. Por conseguinte, podemos afirmar que o coaching herda de Sócrates uma grande sabedoria, de que a vida deve ter reflexão/ação. Reveste a Sócrates a afirmativa de que o conhecimento de si mesmo era o conhecimento do próprio princípio vital, da essência do ser, das possibilidades e das debilidades; a descoberta do existir! Apontamos Sócrates como o grande precursor do coaching, por ser o criador da “maiêutica”, um método de ensino com base no diálogo entre o mestre e o seu discípulo, com a intenção de chegar ao 5 conhecimento; o mesmo acontece entre o coach e o coachee, em busca de reflexão, resposta e ação que possibilite mudanças extraordinárias. Na opinião do antropólogo e humanista Ashley Montagu, em sua reflexão sobre o coaching, as falhas de fracasso pessoal são o maior sofrimento humano e constituem a diferença entre o que ele era capaz de se tornar e o que ele se tornou. É por isso que profissionais estão treinando para se tornarem especialistas em pessoas e em processos de desenvolvimento e excelência pessoal (Cabero, 2008, p. 17). Falando exclusivamente da origem da expressão/vocábulo “coaching”, é anglo-saxônica, segundo Buttazzi (2011, p. 193), surgida na Inglaterra para denominar aquele que conduzia a carruagem. Entre os séculos XV e XVI, na cidade húngara de Kocs, um local de parada obrigatóriaentre as cidades de Vienas e Pest, dispunha de uma carruagem com sistema de suspensão, denominada de kocsi szekér, ou carruagem de Kocs1. Na interpretação desse termo, kocsi, com pronúncia de chochi, o alemão escreveu kutsche; o italiano cocchio e o espanhol coche (Silva, 2012, p. 1). Nessa origem, o objeto de possibilitar o transporte das pessoas de um ponto (A) para outro ponto desejado (B) avançou para uma compreensão atual; de facilitar o alcance do que se deseja. A mesma etimologia do termo faz alusão a essa função como um veículo para a transição de uma situação a outra (Cardini, 2008, p. 24). Na Inglaterra, no ano de 1800, há a transição da palavra coach, que pela primeira vez designa, por semelhança, uma pessoa: “os estudantes universitários utilizaram o termo para qualificar o melhor tutor, querendo assim indicar a sua função de barqueiro em direção ao sucesso final no meio acadêmico” (Cardini, 2008, p. 24). Com isso, confirmaram a função de um transporte real, o qual era o próprio tutor. Os avanços quanto ao uso do coaching são mostrados na literatura no ano de 1850, quando as universidades da Inglaterra usavam a palavra coach na denominação do tutor de alunos, que orientava os universitários com os estudos. Em 1950, o conceito de coaching foi introduzido na literatura dos negócios, 1 Confirmando por Cardini (2008, p. 24), “[...] Coach deriva, na verdade, da Kocs, uma aldeia húngara que produzia as carruagens equipadas com suspensão de molas, denominadas de kocsi szekér”. 6 apontado como uma habilidade para o gerenciamento de pessoas (Buttazzi, 2011, p. 193). A introdução do termo como habilidades para a vida foi iniciativa do programa educacional em Nova York, em 1960. Na década de 1980, o conceito de coaching executivo foi incluído nos programas de liderança, quando o mundo dos negócios conferiu maior importância ao tema. Momento em que o coaching “emerge como uma ferramenta extremamente poderosa” (Buttazzi, 2011, p. 193). Após o ano 2000, o processo de coaching se tornou mais conhecido no mundo, ao ganhar força no interior das empresas, fato que coincidiu com o nível de competição e o estresse ocasionado pela busca insistente por resultados, aliado a uma condição de insegurança causada pela instabilidade socioeconômica e política mundial, bem como pela falta de garantia de emprego. Naquele momento, as pessoas foram observadas como o real diferencial no contexto das organizações, e para as quais cuidados especiais deveriam ser direcionados. Tais cuidados incluíram desenvolvimento, treinamento e capacitação, caracterizando- se como as novas perspectivas mundiais que promoveram o coaching como a ferramenta ideal ao sucesso (Nakandakari et al., 2015, p. 134). Atualmente, a explicitação sobre o coaching é realizada de forma simples e objetiva: “o coaching é um processo interativo no qual um coach (treinador- formador) assessora um coachee (cliente que recebe o coaching/ treinando/formando) de modo a atingir determinados resultados ou objetivos, definidos pelo cliente, utilizando seus próprios recursos de maneira mais eficaz”. O termo coaching se aplica à melhoria e ao desenvolvimento de competências, considerando um seguimento do pessoal ao profissional. Segundo instituições de coaching reconhecidas mundialmente, a International Association of Coaching (IAC) e a International Association of Coaching (ICF), o coaching é um processo transformacional que ajuda na obtenção de resultados extraordinários na vida, na profissão e nos negócios por meio do aprofundamento da consciência pessoal, do desenvolvimento pessoal e do aumento de rendimento. A aquisição de resultados extraordinários e as alterações que se instauram com o coaching orientam para uma vida de satisfação profunda (Cabero, 2008, p. 17). Buttazzi (2011, p. 193) apresenta o coaching como “um processo de parceria com cliente para descobrir o melhor caminho para a conquista desejada”. As atividades de coaching são realizadas pelo coach, que trabalha as habilidades 7 do cliente visado à conquista de objetivos, criação de consciência, produção de motivação, revelação e aprimoramento de talentos e desempenho. O sentido do processo de coaching é seguir as premissas fundamentais: foco, ação, resultados e a melhoria contínua. Não é atribuição do processo de coaching dar conselhos, tampouco consertar coisas ou resolver problemas; antes, compete-lhe estabelecer um relacionamento de vida com o cliente que procura aflorar a clareza e as habilidades necessárias às mudanças em sua vida e nos sistemas humanos de seu entorno: casa, família, empresa, comunidade, sociedade e mundo (Krausz, 2007, p. 30). Ou, conforme proposto por Krausz (2007), o coaching é entendido como: O processo de facilitar a aprendizagem e o desempenho de outra pessoa por meio da utilização ótima de seu potencial, com a finalidade de alcançar os resultados por ela almejados. O processo de coaching estimula a capacidade das pessoas de se reinventarem e encontrarem alternativas válidas, apesar das restrições do contexto em que atuam. (Krausz 2007, p. 27) Exatamente por ser um processo, o coaching possui começo, meio, fim, e constatação de resultados. Orientado para ações do presente e do futuro próximo, para pessoas que desejam operar mudanças que consideram necessárias ao alcance de resultados específicos (Krausz, 2007, p. 33). Hoje, o coaching é conhecido como um grande “guarda-chuva”, que acolhe diferentes conhecimentos e técnicas trazidos por várias fontes: técnicas comportamentais, programação, neolinguística, psicologia positiva, mapas mentais, liderança centrada em ação (LCA), metáforas textuais e analogias, neurociências, inteligência emocional, perguntas reflexivas, relaxamento, assessment, gestalt, entre outras. Essa composição lhe atribui críticas que formam uma colcha de retalhos, sem que se defina uma estrutura (Scotton; Salício; Gonzalez, 2014, p. 17). Cabe, entretanto, destacar algumas informações para que não haja confusão sobre a compreensão e o entendimento do que seja o coaching e, efetivamente, o que ele não é: “coaching não é psicoterapia, não é consultoria, não é treinamento, não é aconselhamento, não é mentoring, não é autoajuda” (Scotton; Salício; Gonzalez, 2014, p. 18). Em sua ação, o coaching contribui para que indivíduos e grupos se transformem, impactando visões e valores; ao promover um processo participativo 8 e direcionado de aprendizagem, o coaching apoia os indivíduos e grupos na reinvenção de remodelação do pensar e agir. Com essas ações, resultados de incorporação de novas habilidades e capacidades são vistas e encaminhadas à busca do sucesso em áreas nas quais as pessoas não se sentiram tão bem- sucedidas quanto poderiam ser (Krausz, 2007, p. 28). Conforme registro de Cardini (2008, p. 24), o processo de coaching é simples: Estado Presente Processo de Coaching Estado Futuro. Em determinadas condições, contudo, alguns pontos do processo que não caracterizam o coaching e ele mesmo se encontram com maior ênfase no que diz respeito ao aconselhamento e ao treinamento. Embora essas técnicas não componham o coaching e não sejam pertinentes a ele, são utilizadas como complementares quando o atendimento a uma pessoa ou um cliente precisa de aconselhamento ou a formação em counseling e mentoring (Scotton; Salício; Gonzalez, 2014, p. 18) Mencionado nesse texto, o mentoring é descrito assinalando que a sua potência reside no conhecimento específico e na sabedoria do mentor. Com essa explicação, a potência do coaching se encontra na capacidade do coach em fazer questionamentos estimuladores e relevantes ao cliente, pois se define o mentoring como a transferência de sabedoria, um processo no qual o indivíduo aprende com alguém que possui maior experiênciaem um determinado campo (Krausz, 2007, p. 34). Dentre tantas atribuições conferidas ao coaching, é importante relacionar sete premissas básicas que devem ser adotadas, segundo a International Coaching Community. 1. Todos os seres humanos sonham e devem sonhar com a possibilidade de se satisfazerem; merecem a oportunidade de fazê- lo da melhor forma possível. 2. As pessoas criam a sua própria experiência de vida e com a ajuda do coaching podem criar o que realmente desejam. 3. A compreensão intelectual não é suficiente, porque toda a mudança requer uma ação. 4. O fracasso não existe: se o indivíduo não consegue o que quer de um jeito, pode encontrar de outra maneira. O fracasso é uma das maneiras, em curto prazo, de dizer que não se conseguiu alcançar o que queria... ainda. 5. As pessoas, sem exceção, possuem todos os recursos necessários ou então podem criá-los. Na organização, o cliente tem as respostas; o coach, tem as perguntas. 6. Um coach trabalha para aumentar a quantidade de escolhas na vida do cliente. 7. O coaching é uma parceria sinérgica e equitativa. (Scotton; Salício; Gonzalez, 2014, p. 20-21) 9 Às premissas relacionadas anteriormente como benefícios do coaching, Buttazzi (2011, p. 194) apresenta máximas similares: a pessoa transforma-se no que quer ser; revê seus valores; segura as rédeas de própria vida; reserva um tempo exclusivo para dedicar-se a si mesmo e a realizar os seus projetos de vida. Com o coaching, a pessoa adquire autoconhecimento; autodesenvolvimento; esclarecimento; confiança em si mesmo; segurança em suas ações; foco e assertividade; motivação; novas perspectivas; equilíbrio; harmonia; alegria; autocontrole; felicidade (Buttazzi, 2011, p. 194). Nakandakari et al. (2015, p. 135), ao relacionarem os benefícios que identifica no coaching, relatam: • O trabalho é individual, de modo que o executivo se sente à vontade, diferentemente dos treinamentos em grupo, nos quais existe o temor de que a imagem sofra prejuízos se anunciar alguma dúvida. • Um clima de confiança e confidencialidade total é desenvolvido, possibilitando a abordagem a todos os assuntos em uma sessão de coaching. • O processo se caracteriza por ser personalizado. Várias literaturas indicam tipos de coaching; dentre esses tipos, Scotton, Salício e Gonzalez (2014, p. 26-27) relacionam os quatro principais. TEMA 2 – OS TIPOS DE COACHING Quadro 1 – Caracterização de diferentes tipos de coaching (apenas algumas formas/exemplos) Tipos de coaching Caracterização Coaching de Vida (Life coaching) Para pessoas que buscam melhorar a qualidade de vida; aquelas que passam por mudanças existenciais e se sentem perdidas; estão bem, mas querem se desenvolver, melhorar para si mesmas. Coaching de carreira Para aquele que está iniciando uma nova carreira; quem pretende mudar de carreira; quem esteve fora do mercado de trabalho e pretende voltar; quem busca uma recolocação; quem está em fase de aposentadoria. (continua) 10 (Quadro 1 – conclusão) Tipos de coaching Caracterização Coaching de liderança Enfoca o desenvolvimento de líderes e sua formação. Essa modalidade de coaching tem no desenvolvimento de competências a sua vinculação. O propósito é oferecer suporte ao cliente (coachee) de modo que ele mesmo desenvolva ao máximo sua capacidade de liderar com base em referenciais próprios. Coaching executivo Tem analogia com o coaching de liderança, com a diferença de que o cliente já é um líder que detém autoridade em uma organização ou grupo, mas deseja o aprimoramento, desenvolver-se ainda mais. Fonte: Scotton, Salício; Gonzalez, 2014, p. 26-27. TEMA 3 – A JANELA DE JOHARI Janela de Johari2 é uma ferramenta conceitual, criada por Joseph Luft e Harrington Ingham, em 1955, que tem como objetivo auxiliar no entendimento da comunicação interpessoal e nos relacionamentos com um grupo. Esse conceito pode aplicar-se ao estudo da interação e das relações interpessoais em várias situações, nomeadamente, entre indivíduos, grupos ou organizações. A palavra Johari tem origem na composição dos prenomes dos seus criadores: Jo (Joseph) e Hari (Harrington) = JOHARI. O conceito tem um modelo de representação que permite revelar o grau de lucidez nas relações interpessoais, relativamente a um dado ego, classificando os elementos que as dominam, em um gráfico de duas entradas (janela): busca de feedback versus autoexposição, subdividido em quatro áreas: • Área livre ou eu aberto; • Área cega ou eu cego; • Área secreta ou eu secreto; • Área inconsciente ou eu desconhecido. Para compreender o modelo de representação, imagine uma janela com quatro “vidros”, em que cada “vidro” corresponde a uma área anteriormente descrita, sendo a definição de cada uma delas: 2 Wikipedia, a enciclopédia livre. 11 • Área livre ou eu aberto – zona que integra conhecimento do ego (eu) e também dos outros. • Área cega ou eu cego – zona de conhecimento apenas detida pelos outros e, portanto, desconhecida do ego. • Área secreta ou eu secreto – zona de conhecimento pertencente ao ego e que não partilha com os outros. • Área inconsciente ou eu desconhecido – zona que detêm os elementos de uma relação em que nem o ego nem os outros têm consciência ou conhecimento. Para se entender melhor o funcionamento da janela, vejamos o seguinte exemplo: numa relação recente, quando dois interlocutores (duas janelas) iniciam o seu primeiro contato, a interação apresenta áreas livres muito reduzidas, áreas cegas relativamente grandes, áreas secretas igualmente extensas e obviamente áreas inconscientes intactas. Figura 1 – Como fazer a Janela de Johari Fonte: adaptado de FRAYHA, S.d. 12 TEMA 4 – OS FUNDAMENTOS DA LIDERANÇA TRANSFORMADORA O exercício da liderança autêntica é um caminho longo a ser percorrido. Não existe uma fórmula mágica para se constituir um verdadeiro líder ou um líder sábio. Ele deve buscar o seu próprio caminho com capacitação adequada, um olhar atento e ecológico e uma postura transformadora: de si e de sua realidade. Um líder autêntico, consciente e apaixonante, age com integridade; ele constrói confiança, compromisso e os alinhamentos devidos para promover um ambiente em que as pessoas tenham o espaço e os recursos para darem o melhor de si. Um líder autêntico e sábio não é um executor de tarefas, e sim, é aquele que assume uma postura de líder em sua vida. Isso significa dizer que ele não exerce um papel de líder em determinada situação ou tarefa, mas que a sua postura é constante de líder íntegro, autêntico e sábio. É um catalisador de forças que atua no senso de identidade (missão), na transformação pessoal (própria e de seus colaboradores) e no sentido de pertencimento ao corpo social (comunidade)3. Assumindo uma postura transformadora, um líder exerce o papel de alinhamento dos vários níveis neurológicos presentes em um determinado grupo, seja ele empresarial, familiar, corporativo ou comunitário. Essa competência é conquistada por meio das capacidades adquiridas com a busca do conhecimento e com a experiência pessoal e nunca olvidando sua missão, integridade e senso de pertença. Tais competências comportamentais o tornam um líder sábio, isto é, eficaz e transformador. Na história da humanidade, o conceito de liderança passou por um processo evolutivo e assertivo. O conceito evoluiu para um patamar proativo e transformador. Sabemos hoje o que significa assumir uma postura de líder sábio. Poucos, porém, o assumem porque não passaram pelo processo evolutivo em suas vidas. Acompanhemos o raciocínio: num primeiro estágio, a liderança era entendida como o “exercício do poder”. Quem tinha o poder mandava, e a quem era sujeito a esse poder, a única atitude a ser feita era obedecer. Em umsegundo cenário, a liderança era entendida como autoridade. Nesse patamar, líder é aquele que tem a “autoridade delegada” de um cargo a exercer, seja ele de chefia, de delegação ou de voto. O terceiro estágio da liderança é o da “influência”, ou seja, o da capacidade de 3 Termos baseados em TURAK, A. Os segredos empresariais dos monges trapistas, 2015. 13 exercer o papel de líder com a autoridade de alguém que tem todas as competências para influenciar, ou seja, agregar pessoas com um encantamento para assumir determinada missão. Um líder autêntico não imita o estilo de outros líderes, o que ele faz é se inspirar e tê-los como modelos de vida, sobretudo no que se refere a comportamentos e competências. Isso é comum observarmos no âmbito da liderança espiritual. Um líder sábio constrói o seu caminho baseado em suas habilidades e atributos e no desenvolvimento das competências necessárias para o cumprimento dessa missão. Para isso, no entanto, faz-se necessário um profundo conhecimento do “senso do eu” (identidade), ou seja, conhecer-se, descobrir suas capacidades, habilidades e as áreas obscuras que necessitam de mudança. Um líder autêntico transita por essa via de crescimento. Assim sendo, ele passa por uma transformação pessoal e é capaz de exercer uma liderança transformadora balizada no poder de influência, ou seja, gerar empatia, adesão e seguimento de um objetivo. Nessa perspectiva, o líder gera adesão permanente e contínua e não adesões superficiais e temporárias, fruto de uma paixão passageira. Ser um líder sábio e transformador tem como exigência fundamental passar por um processo de crescimento. Existem muitos caminhos e ferramentas que nos levam à evolução e todos eles exigem o querer crescer e, principalmente, nossa força interior. Nessa jornada de crescimento, passamos por quebras de paradigmas que muitas vezes nos levam à ausência de um sentido de vida; à crise de identidade; ao sentimento de solidão; à necessidade de confrontarmo-nos com nossas crenças e valores, que nos apoiam, porém, muitas vezes, nos limitam; a questionarmos nossas habilidades e conhecimentos; a não entendermos o nosso comportamento atual e a nos sentirmos sem chão para agirmos. Necessitamos, portanto, passar por um processo de crescimento e consequente alinhamento desses níveis evolutivos. Pois bem, os passos citados anteriormente nós os chamamos de níveis neurológicos do processo evolutivo. Essas são as bases do processo de aprendizagem e do crescimento humano e, consequentemente do processo do coaching. Sem navegarmos nesses mares da profundidade humana, não conseguiremos evoluir. 14 TEMA 5 – O PROCESSO EVOLUTIVO O processo evolutivo do ser humano é uma caminhada presente na história da humanidade desde os seus primórdios. Cientistas das mais variadas áreas do conhecimento criaram e desenvolveram teorias e experimentos sobre o crescimento humano. Assim como as ciências, as religiões também procuraram de diversas formas responder a esses anseios, dando origem a antagonismos e complementariedades. Numa análise mais apurada dessa busca incessante por respostas, não encontramos contradições, mas sim, complementariedade entre elas. FINALIZANDO Quando nós buscamos uma definição para o coaching, a primeira percepção que nos vem à mente é a do processo: o coaching é um processo que envolve uma série de ferramentas das mais variadas ciências sobre o comportamento humano e que dizem respeito ao processo evolutivo do ser humano. Entre essas ciências, podemos citar a psicologia, a sociologia, antropologia, a filosofia, a própria medicina, as neurociências, a programação neurolinguística (PNL), a religiosidade, mas por se tratar de um processo que alavanca o progresso humano e o desenvolvimento de metas específicas, o coaching também utiliza as técnicas da administração, do gerenciamento de pessoas, do desenvolvimento e da capacitação de lideranças e também de marketing, mais especificamente o marketing pessoal. Nós podemos dizer que o coaching é uma ferramenta que ajuda o cliente a descobrir com clareza qual é o seu objetivo, ou seja, a sua meta específica ou o seu foco e, uma vez estabelecido o foco, o coaching ajuda a pessoa a descobrir as ferramentas que ela dispõe para conseguir atingir esse objetivo em um curto espaço de tempo. O passo seguinte é a definição de um plano de ação, ou seja, uma proposta concreta, partindo-se, então, para a sua conquista. Podemos sintetizar assim: estabelecer a meta, clarificar quais são as possibilidades que estão ao seu alcance, definir prazos, estabelecer um plano de ação e executá-lo com perseverança. 15 LEITURA OBRIGATÓRIA DA DISCIPLINA: Para saber mais sobre os temas abordados neste capítulo, sugerimos, a seguir, algumas leituras complementares: • GIARDINO, A. Fuja das roubadas de carreira. Veja as armadilhas. Exame, 13 jun. 2013. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/carreira/fuja-das-roubadas-de-carreira/>. Acesso em 30 out. 2018. • MARQUES, J. R. A história do coaching no Brasil. 6 abr. 2017. Disponível em: <https://www.jrmcoaching.com.br/blog/a-historia-do- coaching-no-brasil/>. Acesso em: 30 out. 2018. 16 REFERÊNCIAS BUTTAZZI, M. O bê-a-bá do coaching de vida. In: PERCIA, A.; SITA, M. (Coord.). Manual completo de coaching: grandes especialistas apresentam estudos e métodos para a excelência na prática de suas técnicas. São Paulo: Ser Mais, 2011. p. 191-198. CABERO, M. El coaching emocional. Barcelona: UOC, 2008. CARDANI, M. Una panoramica sul mondo del coaching. In: CARDANI, M. et al. Business coaching: una tecnica per migliorare le performance aziendali. Italia: Wolters Kluwer, 2011. p. 23-74. FRAYHA, F. Gestão com pessoas. Comunicação interpessoal, S.d. Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/298765/release/woothee>. Acesso em: 30 out. 2018. KRAUSZ, R. R. Coaching executivo: a conquista da liderança. São Paulo: Nobel, 2007. MORAES, F. C. C. Formação de competências. Curitiba: IESDE Brasil S. A., 2008. NAKANDAKARI, A. et al. Pitadas de coaching. Joinville: Clube dos Autores, 2015. ROSSY, B. A. 10 herramientas de coaching para gestionar el estrés: trucos y ejercicios prácticos de coaching para mejorar el bienestar. Espanha: Amazon, 2014. SÁEZ, N.; TRULLÉN, J. Ya eres líder. Madrid: LID Editorial Empresarial, 2012. SCOTTON, A.; SALÍCIO, C.; GONZALEZ, F. Coaching prático: fundamentos, características e método. São Paulo: AGBook, 2014. SILVA, L. A. da. Coaching acadêmico: uma metodologia orientada para a mudança. First Peoplewhare, 2012. Disponível em: <http://www.nilsonjosemacha do.net/20120316_2.pdf>. Acesso em: 22 out. 2018. WHITMORE, J. Coaching para aprimorar o desempenho: os princípios da prática do coaching e da liderança. São Paulo: Clio, 2012.