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2- IESC V - DEPRESSÃO E ANSIEDADE NA APS

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O termo depressão se refere a um conjunto de condições. Em relação a forma patológica, esta se caracteriza por 
um conjunto de sintomas persistentes e recorrentes, dentre eles: humor depressivo, alterações afetivas e 
comportamentais, distúrbios dos ritmos biológicos. Essa forma é geralmente denominada Transtorno Depressivo 
Maior (TDM), mas também se fala de um Transtorno Depressivo Persistente, conhecido também como 
distimia; um quadro de intensidade mais leve que a TDM, mas de curso crônico (duração maior que 2 anos). 
Entre os principais sinais e sintomas que estão associadas à depressão são citados: sentimento de tristeza, 
desânimo, perda de interesse nas atividades do dia a dia, cansaço, dificuldade de concentração, baixa auto-
estima, ideias de culpa, ideias ou atos auto lesivos ou suicídio, sono ou apetite alterados. 
É importante considerar que ciência atual ainda não esclareceu os fatores que levam a depressão patológica. 
Ainda assim, sabe-se que a depressão é uma condição determinada por um conjunto amplo de fatores sociais, 
individuais e/ou psicológicos, culturais, biológicos e/ou genéticos. Sobre os fatores biológicos atuais associados 
a depressão podem-se citar: alterações estruturais e funcionais do cérebro, alterações neurometabólitas 
cerebrais, alterações imunológicas, do ritmo circadiano(sono), hormonais, do trato gastrointestinal, ativação de 
vias inflamatórias e na regulação neurológica. 
Dentre os fatores ambientais podem-se citar: uso de substâncias psicoativas (álcool, drogas, inibidores de apetite, 
antidepressivos), alteração de ritmos biológicos (privação do sono) e eventos adversos, como a perda dos pais, 
trauma na infância (violência física, sexual e/ou psicológica) e o baixo suporte social. 
Sobre a evolução do quadro, ele pode ter tanto um início abrupto como insidioso (progressivo). O curso da 
doença é geralmente episódico, com mais de um episódio na vida em cerca de 80% dos casos. Sobre a 
epidemiologia, em estudo realizado no Brasil as taxas de depressão durante a vida e nos 12 últimos meses se 
situaram entre as maiores do mundo, 18,4 e 10,4%, respectivamente. Além disso, o risco de desenvolver 
depressão foi duas a três vezes maior em mulheres que em homens. 
Destaca-se, por fim, os fatores sociodemográficos. Indivíduos de países desenvolvidos apresentaram risco 4 a 8 
vezes maior de desenvolver o TDM, baixa renda mensal dobrou o risco, o TDM elevou em 60% o risco de que 
jovens não terminasse os estudos e também houve associação entre o TDM e o absenteísmo no trabalho. 
A depressão é bastante presente no cotidiano da Atenção Primária à Saúde e pode ser tratada pela equipe da 
Estratégia de Saúde da Família (ESF). É uma patologia multifatorial e, assim, exige um olhar ampliado de saúde. 
No contexto da atenção primária à saúde, a saúde mental é um dos maiores motivos de busca de atendimento 
e deve ser acolhida pelas equipes de saúde da família. Qualquer profissional dessa equipe pode fazer a primeira 
escuta do usuário e depois discutir o caso para pensar num melhor encaminhamento. 
É importante que o profissional tenha bom vínculo com o paciente, que deve ser estabelecido com tempo e 
paciência. Recomenda-se que os ACS e/ou profissionais de referência para a família possam iniciar o vínculo 
através de visitas domiciliares. Os ACS auxiliam a equipe identificando os sinais e facilitando o acesso destes 
usuários ao serviço para que um possível diagnóstico seja feito pelo médico ou psicólogo. 
Nesse contexto, é necessário: 
 
➢ Facilitar o acesso para os usuários que apresentam sinais e sintomas de depressão, especialmente para 
aqueles que não vão à unidade de saúde. 
➢ Avaliar necessidade de atendimento domiciliar para os que se recusam a ir à unidade. 
➢ Traçar a rede de apoio familiar e social dos usuários deprimidos. 
➢ Incentivar o tratamento. 
Atributo da APS – Integralidade. Atividades propostas: 
➢ Incentivo à prática de atividades físicas e esportivas. 
➢ Incentivo para atividades de lazer e culturais. 
➢ Oficina de artesanato e atividades manuais. 
➢ Grupos de mulheres. 
➢ Participação e mobilização comunitária (no conselho local/municipal de saúde, na associação de 
moradores, no clube de mães, nas igrejas, na horta municipal, entre outros). 
As classificações diagnósticas podem ser por meio do DSM-5 ou CID-10, os quais levam em conta um grupo de 
sintomas e sua persistência para avançar em direção a um diagnóstico, ou pode ser feita pelo CIAP-2, que é mais 
voltado para a prática da APS, pois restringe-se aos sintomas, sem a eleição de requisitos mínimos para definir 
uma entidade nosológica. 
O sistema de Classificação Internacional de Atenção Primária – Segunda Edição (CIAP2) é uma ferramenta 
adequada à Atenção Básica (AB) que permite classificar questões relacionadas às PESSOAS e não a doenças. 
Exemplos de CIAP-02: P03 Tristeza/ Sensação de depressão, P76 Perturbações depressivas, P77 
Suicídio/tentativa de suicídio. 
 
 
Linha de cuidado da depressão no adulto – APS. 
Atenção especializada: Unidade ambulatorial, CAPS: I, II, III, álcool e drogas (CAPS AD), CAPS AD III, CAPS AD IV; 
entidades do 3º setor. 
Manejo inicial/conduta: O paciente realiza o manejo inicial e a conduta na Atenção Primária à Saúde, ou é 
encaminhado para outro ponto de atenção de acordo com a gravidade do caso. 
Planejamento terapêutico: Medidas terapêuticas realizadas neste ponto assistencial de forma compartilhada 
com a Atenção Especializada se indicado. 
O modelo escalonado facilita a organização do cuidado às pessoas com depressão, ajudando pacientes, 
cuidadores e profissionais a identificarem e buscarem as intervenções e abordagens mais adequadas para cada 
situação. Assim, os profissionais das equipes de saúde da família e os gestores devem identificar e conhecer a 
rede de apoio na região para implementar as diferentes intervenções sugeridas, podendo ser necessário adaptar 
as recomendações à realidade local. 
 
O matriciamento pode ser envolvido em qualquer momento do processo. 
* Depressão complexa inclui aqueles casos onde se tem uma resposta inadequada aos múltiplos tratamentos, é 
complicada por sintomas psicóticos e/ou está associada à comorbidade psiquiátrica significativa ou fatores 
psicossociais. 
Papel do matriciamento: o matriciamento com psiquiatra, psicólogo e/ou outro profissional de saúde mental 
pode ser envolvido em qualquer dos passos. Nos passos 1-3 contribui para apoio e capacitação das equipes com 
maior dificuldade de manejar pacientes com transtornos mentais ou para substituir o encaminhamento a equipes 
especializadas. No passo 4 pode, em casos selecionados, substituir o encaminhamento a serviço de saúde mental. 
Ansiedade generalizada (AG) (CID10 F41.1, CIAP2 P74) é um distúrbio comum, cuja característica central é a 
excessiva preocupação com diferentes eventos, associada a aumento da tensão. Pode acontecer de forma 
isolada, mas geralmente ocorre com outros tipos de ansiedade e transtornos depressivos. 
 
É caracterizada como um transtorno mental quando se torna uma emoção desagradável e incômoda, que surge 
sem um estímulo externo ameaçador definido ou proporcional para explicá-la. Nesses casos, intensidade, 
duração ou frequência são desproporcionais, causam sofrimento ao sujeito e estão associadas a prejuízo no 
desempenho social ou profissional. 
O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – 5ª Edição Revisada (DSM-5) classifica os 
transtornos de ansiedade em: 
➢ Transtorno de Pânico. 
➢ Agorafobia. 
➢ Fobias Específicas. 
➢ Transtorno de Ansiedade Social ou fobia social. 
➢ Transtorno de Ansiedade Generalizada. 
➢ Transtorno de Ansiedade de Separação. 
Os transtornos de ansiedade são os mais prevalentes dentre os transtornos psiquiátricos. Apesar disso, 
frequentemente os sintomas de ansiedade não são reconhecidos como problemas de saúde pelos pacientes e 
familiares, sendo subdiagnosticadose consequentemente subtratados pela equipe de saúde. A Atenção Primária 
à Saúde (APS) tem um papel central nas estratégias para diminuir o impacto das condições de ansiedade na 
população geral. 
No Brasil, a Política Nacional de Saúde Mental busca consolidar um modelo de atenção à saúde mental ético, 
baseado em evidências e de base comunitária. Ela abrange estratégias e diretrizes implementadas pelo Ministério 
da Saúde com a finalidade de direcionar a assistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados 
específicos em Saúde Mental, cujo objetivo é promover uma maior integração social, fortalecer a autonomia, o 
protagonismo e a participação social do indivíduo que apresenta transtorno mental. 
O quadro clínico de ansiedade é caracterizado por sintomas somáticos, cognitivos, comportamentais, 
emocionais e perceptivos. Os sintomas somáticos, frequentemente observados nos transtornos de ansiedade, 
são: dor torácica, palpitação, taquicardia; dispneia, taquipneia, hiperventilação, dor e desconforto epigástrico, 
cefaleia, tonturas e parestesias, tensão muscular, tremores, sudorese, boca seca, calorões e calafrios, insônia, 
poliúria, disfagia, palidez e rubor. 
Cognitivamente, a ansiedade é caracterizada por dificuldade de concentração, pensamentos catastróficos, 
hipervigilância, medo de perder o controle ou de enlouquecer. No comportamento, pode apresentar inquietude, 
isolamento e esquiva. Emocionalmente, a pessoa apresenta medo, apreensão, irritabilidade e impaciência. 
Finalmente, a percepção pode encontrar-se alterada, com despersonalização, desrealização e hiperacusia, ou 
hiper-reatividade geral aos estímulos. 
A ansiedade é uma queixa cada vez mais frequente na atenção primária. Por se tratar de uma condição 
altamente incapacitante e que perturba o bem estar dos pacientes, prejudica tanto a qualidade de vida quanto o 
tratamento de comorbidades, tais como obesidade, hipertensão e diabetes. (GONÇALVES, 2014). 
Informação e apoio para pessoas portadoras de ansiedade generalizada (AG)> 
• Construa uma relação terapêutica aberta, engajada e sem julgamento. 
• Explore com a pessoa sob cuidado: 
- Suas preocupações, de forma a entender o impacto da AG, como um todo. 
 
- Opções de tratamento, mostrando que a tomada de decisão é um processo compartilhado. 
• Assegure que toda discussão ocorre em um contexto de respeito à confidencialidade, à privacidade e à 
dignidade. 
• Disponibilize informação adequada no nível adequado de entendimento para cada pessoa, sobre a natureza da 
AG e o leque de tratamentos disponíveis. 
• Promova e organize grupos de apoio na unidade de saúde e informe às pessoas a respeito. 
Quando familiares e cuidadores estão envolvidos no apoio a pessoas com ansiedade generalizada (AG), 
considere: 
- Oferecer uma avaliação dos cuidados oferecidos pelos cuidadores e das eventuais necessidades de saúde física 
e emocional. 
- Negociar entre portador de AG e seus familiares e cuidadores sobre confidencialidade e o compartilhamento 
de informações sobre sua saúde. 
- Explicar como será feito o manejo e como familiares e cuidadores podem apoiar a pessoa com AG. 
- Orientar o que fazer em situações de crise, e que nessas situações o paciente pode procurar a Clínica da Família 
sem agendamento prévio. 
 
Linhas de Cuidado – Transtorno de Ansiedade no Adulto – APS. 
* De acordo com a gravidade do caso deve ser realizado o encaminhamento pelo serviço de atenção 
móvel/SAMU. 
 
Atenção psicossocial especializada: Unidade ambulatorial, CAPS: I, II, III, álcool e drogas (CAPS AD), CAPS AD III, 
CAPS AD IV; entidades do 3º setor. 
Manejo inicial/conduta: O paciente realiza o manejo inicial e a conduta na Atenção Primária à Saúde, ou é 
encaminhado para outro ponto de atenção de acordo com a gravidade do caso. 
Planejamento terapêutico: Medidas terapêuticas realizadas neste ponto assistencial de forma compartilhada 
com a Atenção Psicossocial especializada se indicado. 
 
Modelo escalonado para os cuidados da Ansiedade Generalizada (AG)

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