Prévia do material em texto
MORFOLOGIA E GÊNESE DO SOLO Siglea Sanna de Freitas Chaves Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever o sistema de capacidade de uso do solo, sua origem, seus conceitos e suas aplicabilidades. � Examinar o sistema de aptidão agrícola das terras, seus conceitos e suas aplicabilidades. � Identificar as semelhanças e diferenças entre as duas ferramentas e como elas interferem na dinâmica do solo e na vida da sociedade. Introdução O manejo inadequado do solo pode ocasionar inúmeros problemas ambientais, como perda da capacidade produtiva, erosão do terreno, assoreamento de rios e contaminação de corpos d’água, causando danos ambientais e socioeconômicos. Por esse motivo, é importante que o pla- nejamento das atividades agrícolas leve em consideração as características físicas, químicas e morfológicas do solo, assim como o relevo, o clima, a geologia e a cobertura vegetal da região. O uso racional dos recursos naturais demanda uma base de conhecimentos sobre o potencial e as limitações daquele ambiente, a fim de conciliar produção agropecuária e conservação ambiental. Nesse contexto, o sistema de capacidade de uso do solo e o sistema de aptidão agrícola das terras são ferramentas fundamentais para subsidiar o planejamento e desenvolvimento rural. Com base nesses dois sistemas, o potencial de produção agrícola das áreas é avaliado seguindo uma clas- sificação técnica (interpretativa), na qual as variáveis do solo e do ambiente são agrupadas em função de determinadas características de interesse prático e específico com a finalidade de determinar o manejo da área. O sistema de capacidade de uso do solo e o sistema de aptidão agrí- cola têm como objetivo apontar o uso adequado das terras, respeitando os fatores ambientais e os atributos naturais do solo a fim de indicar o manejo mais apropriado, voltado ao desenvolvimento de práticas sustentáveis. Entretanto, esses sistemas apresentam diferenças quanto a sua metodologia e aplicação: o sistema de classificação de uso é utilizado para fins generalizados e não envolve variáveis socioeconômicas na avaliação das terras; o sistema de avaliação de aptidão agrícola é utilizado para avaliação com fins específicos e na sua elaboração são envolvidos fatores do ambiente e também do social e do econômico. Neste capítulo, você vai estudar o sistema de capacidade de uso do solo e o sistema de aptidão agrícola das terras. Vai também ver os objetivos e conceitos de cada sistema, assim como as aplicações no cenário agrícola brasileiro. 1 Sistema de capacidade de uso do solo O sistema capacidade de uso do solo foi originalmente desenvolvido nos Estados Unidos, na década 1930, pelo Serviço Nacional de Conservação do Solo (NRCS-USDA), sendo descrito em detalhes por Klingebiel e Montgomery (1961). Os fundamentos desse método são utilizados como base para dife- rentes sistemas de avaliação de terras em vários países. No Brasil, o sistema de capacidade de uso foi adaptado e publicado por Lepsch et al. (1983) e, posteriormente, atualizado por Lepsch et al. (2015). O sistema de capacidade de uso do solo é considerado uma classificação técnica, que envolve a formação de grupamentos de caráter qualitativo, levando em consideração diferentes atributos do solo e características da paisagem. Ele não prioriza a localização e os fatores econômicos da terra (LEPSCH et al. (2015). A metodologia para a aplicação desse sistema consiste em interpretar e organizar os atributos do solo e as características da paisagem com o objetivo de identificar variações entre graus de limitação de uso da terra de acordo com diferentes atividades agrícolas (RAMALHO FILHO; PEREIRA, 1999). O sistema de capacidade de uso foi idealizado, inicialmente, para atender a planejamentos de práticas de conservação do solo. Posteriormente, foram efetuados vários ajustes e o sistema passou a ser aplicado para indicar a loca- lização adequada para cultivos agrícolas, assim como para apontar práticas de conservação do solo (RAMALHO FILHO; PEREIRA, 1999). A seleção das Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras2 variáveis utilizadas tem como objetivo agrupar terrenos com características semelhantes e assim propor estratégias de uso do solo de maneira sustentável, a fim de evitar problemas na área produtiva, principalmente, para controle da erosão (LEPSCH et al., 2015). Para a aplicação do sistema de capacidade de uso do solo, as características do solo e do ambiente são consideradas relevantes e significativas apenas quando avaliadas em grupos, sem priorizar isoladamente cada variável. Lepsch et al. (2015) ressaltam que cada classe, subclasse ou unidade de capacidade de uso de terra são diferenciadas entre si com uma grande variedade de atributos, sendo que muitas variáveis só fazem sentido se consideradas em conjunto. Categorias do sistema: classes, subclasses e unidades de capacidade de uso A hierarquização adotada no sistema de capacidade de uso está estruturada do nível mais elevado (generalizado) para o mais baixo (detalhado), conforme especificado por Lepsch et al. (2015): � Classes de capacidade de uso: são classificadas com base em riscos idênticos de degradação por erosão ou outras limitações agrícolas. Os riscos de degradação são indicados em ordem crescente, conforme o grau de limitação da classe. São representados por algarismos romanos, de I até VIII. � Subclasses de capacidade de uso: são classificadas de acordo com a natureza da limitação de uso da terra. São representados por letras minúsculas (e, s, a, c), inseridas após o algarismo romano que representa a classe de capacidade de uso — IIe, IIIa, IVc, etc. � Unidades de capacidade de uso: são classificadas de acordo com a natureza e o grau das limitações, principalmente as relacionadas com as práticas de manejo e conservação do solo. São representada por um algarismo arábico, inserido após um hífen, que o separa da indicação de classe e subclasse da área avaliada — IIa-1, IIIc-2, IVe-3, etc. 3Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras Classes de capacidade de uso As classes são grupamentos que indicam a adaptabilidade das terras a inten- sidades de uso agrícola. São descritas em ordem crescente com a utilização de algarismo romanos (I a VIII). De maneira geral, as classes indicam os locais e a disponibilidade dos solos mais aptos para as atividades agrícolas; entretanto, os detalhes intrínsecos das áreas são apenas apontados em nível de subclasse e unidade de capacidade de uso do sistema. Lepsch et al. (2015) ressaltam que as definições relacionadas às classes de capacidade de uso servem para indicar maior ou menor necessidade de adoções de práticas conservacionistas, desde as mais simples até as mais complexas, com ênfase nas práticas para controle da erosão do solo. Confira na Figura 1 o esquema que mostra as aptidões ou limitações de usos da terra de acordo com as classes de capacidade de uso. Figura 1. Intensidades máximas de uso agrícola para as classes de capacidade de uso. Fonte: Adaptada de Lepsch et al. (2015). Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras4 Vejamos a descrição de cada classe: � Classe I: terras sem ou com poucas limitações permanentes em rela- ção a riscos de degradação para uso agrícola intensivo. Em mapas é representada pela cor verde claro. � Classe II: terras cultiváveis com problemas simples de conservação. Podem apresentar limitações permanentes ou risco de degradação em grau moderado para uso agrícola intensivo. Em mapas é representada pela cor amarela. � Classe III: terras cultiváveis que apresentam complexos problemas de conservação. Podem apresentar limitações ou risco de degradação em grau severo para uso agrícola intensivo. Em mapas é representada pela cor vermelha. � Classe IV:terras com limitações permanentes e/ou em risco de degrada- ção severa se destinadas a cultivos intensivos. Em mapas é representada pela cor azul. � Classe V: terras sem ou com pequeno risco de degradação pela erosão, mas com outras limitações não possíveis de ser removidas e que podem fazer com que seu uso seja limitado apenas para pastagens, reflores- tamentos ou preservação da vida silvestre. Em mapas é representada pela cor verde-escuro. � Classe VI: terras com limitações permanentes e/ou risco de degradação em grau severo, que fazem com que possam ser usadas somente para pastagem, reflorestamento ou para culturas perenes protetoras do solo. Em mapas é representada pela cor alaranjada. � Classe VII: terras com limitações permanentes e/ou riscos de degra- dação em grau muito severo, mesmo quando usadas para pastagens e/ou reflorestamento, por isso devem ser manejadas com cuidado em todas as etapas do sistema. Em mapas é representada pela cor marrom. � Classe VIII: terras impróprias para lavouras, pastagens ou reflores- tamento, por isso devem ser destinadas à proteção da fauna e da flora silvestre, a ambientes de recreação protegidos ou para armazenamento de água. Nesta classe são estabelecidas as áreas reconhecidas pela legislação como áreas de preservação permanente (APP). Em mapas é representada pela cor roxa. 5Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras Na Figura 2 você observa a representação de uma área com presença de diferentes classes de capacidade de uso. Perceba que as áreas identificadas como Classe VIII estão localizadas em regiões onde ocorre maior declividade. Nesses locais o risco de erosão do solo é maior, por isso não é recomendado o uso para cultivos agrícolas. Observe também que as Classes I e II estão localizadas na região plana no terreno, e essas áreas são indicadas como aptas para o desenvolvimento de atividades agrícolas. Figura 2. Área com presença de diferentes classes de capacidade de uso para efeito de planejamento. Fonte: São Paulo ([201-?], documento on-line). Subclasses de capacidade de uso As subclasses são grupamentos de classes de capacidade de uso com o mesmo tipo de limitação para o uso agrícola. Também são utilizadas para indicar alternativas de uso das terras (LEPSCH et al., 2015). Os tipos de limitações avaliados são erosão presente e/ou risco de erosão (e); limitações do solo em relação ao desenvolvimento de sistema radicular (s); excesso de água (a); clima (c). Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras6 No Quadro 1 estão descritas as características de cada subclasse. Fonte: Adaptado de Lepsch et al. (2015). Fator avaliado para definição da subclasse Símbolo da subclasse Descrição Erosão/risco de erosão e Terras onde ocorre erosão ou que são susceptíveis à erosão. Solo s Solos com limitações na zona de cresci- mento das raízes devido à presença de pe- dras, baixa profundidade, baixa capacidade de retenção de água ou salinidade. Água em excesso a Solos onde ocorre quantidade de água excedente, que dificulta o uso pela agricul- tura. Esta subclasse é caracterizada por dre- nagem deficiente, lençol freático elevado ou inundações recorrentes no local. Clima c Esta subclasse reflete problemas ligados à condição climática, como secas prolonga- das, ventos intensos e frequentes em áreas desprotegidas e baixas temperaturas. Quadro 1. Características das subclasses de capacidade de uso Dentro de uma classe, as subclasses são usadas para indicar problemas específicos de uma área, considerando a natureza da limitação, de forma a deixar mais explícitas as práticas de manejo adequadas para cada situação. Nos casos em que a área apresenta mais de um fator avaliado pelos critérios de subclasse, deve-se adotar a sequência e > s > a > c. A Classe I não tem subclasse, pois não apresenta limitações para o uso. 7Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras Unidades de capacidade de uso As unidades de capacidade de uso têm como objetivo detalhar cada limitação da área avaliada, facilitando a indicação de práticas de manejo a serem aplicadas. As unidades de capacidade de uso permitem agrupamentos de solos similares dentro de cada subclasse de capacidade definida. Elas têm como objetivo indicar a aptidão de determinada área para cultivos agrícolas ou também indicar o manejo adequado para superar a limitação da área e permitir o uso racional das terras (MAPA-EMBRAPA). Lepsch et al. (2015) destacam que as áreas classificadas com as mesmas unidades de capacidade de uso devem ser indicadas aos mesmos tipos de lavoura e/ou pastagem e também podem adotar manejos similares. � IIIe-1: restrição pela declividade acentuada (Classe C), que indica um severo risco de erosão, o qual só pode ser evitado com práticas complexas de conservação do solo. � IIIe-2: problemas com erosão em sulcos, indicando necessidade de práticas com- plexas para recuperar e proteger o solo. � IIa-1: excesso de água que pode ser corrigido com práticas simples de drenagem. � IIe-1: limitação pela declividade moderada (Classe B), que pressupõe um risco de erosão moderado, indicando a necessidade de práticas simples de conservação do solo quando cultivada com lavouras de ciclo anual. Fonte: Adaptado de Lepsch et al. (2015). 2 Sistema de aptidão agrícola das terras Durante a década de 1960 vários sistemas interpretativos de uso do solo surgiram com o objetivo de aprimorar as indicações de uso das terras em diferentes ambientes tropicais (RAMALHO FILHO; PEREIRA, 1999). No Brasil o sistema de avaliação da aptidão agrícola foi desenvolvido por Bennema, Beek e Camargo (1965) com a finalidade de classificar o potencial das terras para a agricultura no país. Posteriormente, a proposta passou por diferentes atualizações, como Ramalho Filho et al. (1970), Tomasi e Ramalho- -Filho (1971), Beek (1975), Ramalho-Filho e Beek (1995), entre outras. Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras8 Níveis de manejo A estrutura do sistema de aptidão agrícola das terras contempla três níveis de manejo, considerando as práticas agrícolas ao alcance da maioria dos agricultores no contexto técnico, social e econômico. Essa estrutura tem como objetivo diagnosticar o comportamento das terras em diferentes níveis tecnológicos (RAMALHO-FILHO; BEEK, 1995). Os níveis de manejo são representados pelas letras A, B e C, sendo que podem ser simbolizadas de maneiras diferentes a depender das classes de aptidão em que se apresentem as terras em cada um dos níveis adotados. Veja mais sobre os níveis de manejo (RAMALHO-FILHO; BEEK, 1995): � Nível de manejo A (primitivo): baseado em práticas agrícolas que refletem um baixo nível técnico e cultural. Neste nível há baixa aplicação de capital para manejo, melhoramento e conservação dos sistemas de produção agrícolas. As práticas agrícolas dependem, principalmente, de trabalho braçal e/ou tração animal, com implementos agrícolas simples. � Nível de manejo B (pouco desenvolvido): caracterizado pela adoção de práticas agrícolas que refletem um nível tecnológico intermediário. Neste nível de manejo ocorre uma modesta aplicação de capital para o manejo, melhoramento e conservação das condições das terras e das lavouras. Nos sistemas de produção deste nível é realizada calagem e correção da fertilidade do solo, tratamentos fitossanitários simples, além de tração animal e/ou mecanização para algumas etapas de pre- paro do solo. � Nível de manejo C (desenvolvido): baseado em práticas agrícolas que refletem um alto nível tecnológico. É caracterizado pela aplicação intensiva de capital para o manejo, melhoramento e conservação das condições das terras e das lavouras. Nos sistemas de produção deste nível predomina a motomecanização em diversas fases da operação agrícola. 9Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras Grupos, subgrupos e classes de aptidão agrícoladas terras Para facilitar a montagem em um único mapa de aptidão agrícola das terras, foi organizada uma estrutura que reconhece grupos, subgrupos e classes (RAMALHO-FILHO; BEEK, 1995). No nível mais alto da classificação estão posicionados os grupos de aptidão, que são comparáveis às oito classes do sistema de capacidade de uso do solo, descrito no tópico anterior. Grupos de aptidão agrícola De acordo Ramalho-Filho e Beek (1995), os grupos de aptidão agrícola são artifícios cartográficos usados com o objetivo de identificar em mapas de utilização da terra a melhor aptidão de determinada área. Os grupos são repre- sentados por algarismos arábicos, de 1 a 6, em escala decrescente, acompanhe (RAMALHO-FILHO; BEEK, 1995): � Grupo 1: aptidão boa para lavoura. Em mapas é representado pela cor verde. � Grupo 2: aptidão regular para lavoura. Em mapas é representado pela cor marrom. � Grupo 3: aptidão restrita para lavoura. Em mapas é representado pela cor laranja. � Grupo 4: aptidão para pastagem plantada. Em mapas é representado pela cor amarelo. � Grupo 5: aptidão para pastagem natural e silvicultura. Em mapas é representado pela cor rosa. � Grupo 6: inapto para qualquer tipo de exploração agrícola. Serve para refúgio de flora e fauna ou para fins de recreação. Em mapas é representado pela cor cinza. Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras10 De maneira geral, os Grupos 1, 2 e 3, além da identificação de lavouras como tipos de utilização, desempenham também a função de representar, no subgrupo, as melhores classes de aptidão das terras indicadas para lavouras, conforme os níveis de manejo. E os Grupos 4, 5 e 6 apenas identificam tipos de utilização (pastagem plantada, silvicultura e/ou pastagem natural e pre- servação da flora e da fauna, respectivamente), independentemente da classe de aptidão, como mostra o Quadro 2. Fonte: Adaptado de Ramalho-Filho e Beek (1995). Grupo de aptidão agrícola Aumento da intensidade de uso >> Preser- vação da flora e da fauna Silvicul- tura e/ou pasta- gem natural Pasta- gem plan- tada Lavouras Aptidão restrita Aptidão regular Apti- dão boa 1 2 3 4 5 6 Quadro 2. Identificação dos grupos de aptidão agrícola Subgrupos de aptidão agrícola Os subgrupos relacionam o tipo de utilização com os níveis de manejo, in- dicando também a intensidade de uso de acordo com o nível de manejo con- siderado para determinada área. Segundo Ramalho-Filho e Beek (1995), o subgrupo é considerado o resultado conjunto da avaliação da classe de aptidão relacionada com o nível de manejo, indicando o tipo de utilização das terras. 11Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras Em alguns casos, o subgrupo se refere somente a um nível de manejo, sendo relacionada a uma única classe de aptidão agrícola. Confira no Quadro 3. Fonte: Adaptado de Ramalho-Filho e Beek (1995). Subgrupo Caracterização 1ABC Terras pertencentes à classe de aptidão boa para lavouras nos níveis de manejo A, B, C 1ABc Terras pertencentes à classe de aptidão boa para lavouras nos níveis de manejo A, B e regular no nível C 1bC Terras pertencentes à classe de aptidão boa para lavouras nos níveis de manejo C, regular no nível B e inapta no nível A 2ab(c) Terras pertencentes à classe de aptidão regular para lavouras nos níveis de manejo A, B e restrita no nível C 2(b)c Terras pertencentes à classe de aptidão regular para lavouras nos níveis de manejo C, restrita no nível B e inapta no nível A 3(ab) Terras pertencentes à classe de aptidão restrita para lavouras nos níveis de manejo nos níveis A e B e inapta no nível C 3(bc) Terras pertencentes à classe de aptidão restrita para lavouras nos níveis de manejo B e C e inapta no nível A 4P Terras pertencentes à classe de aptidão boa para pastagem plantada 4(p) Terras pertencentes à classe de aptidão restrita para pastagem plantada 5Sn Terras pertencentes à classe de aptidão boa para silvicultura e regular para pastagem plantada 5s(n) Terras pertencentes à classe de aptidão regular para silvicultura e restrita para pastagem plantada 5n Terras pertencentes à classe de aptidão regular para pastagem plantada e à classe inapta para silvicultura 6 Terras sem aptidão para uso agrícola Quadro 3. Simbologia dos subgrupos da aptidão agrícola das terras Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras12 Classes de aptidão agrícola As classes indicam a aptidão agrícola das terras para determinado tipo de uso, considerando determinado nível de manejo. As classes refletem o grau de intensidade com que as limitações afetam as terras e são classificadas como boa, regular, restrita e inapta — acompanhe (RAMALHO-FILHO; BEEK, 1995): � Classe boa: terras sem limitações significativas para a produção sus- tentável de determinado tipo de utilização, considerando condições do manejo indicadas. Nesta classe ocorrem restrições mínimas, que não comprometem a produtividade de modo expressivo. � Classe regular: terras que apresentam limitações moderadas para a produção sustentável para determinado tipo de uso, mesmo considerando aplicação de técnicas de manejo. As limitações nessas áreas reduzem a produtividade do sistema e aumentam a necessidade de insumos para aumentar a produtividades do cultivo. As vantagens do cultivo em áreas de “classe regular” são inferiores às encontrada na “classe boa”. � Classe restrita: terras que apresentam limitações fortes para a produção sustentável de determinado tipo de uso, mesmo aplicando técnicas de manejo no sistema. As limitações encontradas nas áreas classificadas como “classe restrita” favorecem a redução da produtividade do sistema, além de favorecer o aumento do investimento em insumos agrícolas. � Classe inapta: terras que não apresentam condições para desenvol- vimento de cultivos agrícolas, sendo indicadas para a preservação da flora e da fauna, e também para recreação ou algum outro tipo de uso não agrícola. Veja mais no Quadro 4. 13Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras Fonte: Adaptado de Ramalho-Filho e Beek (1995). Classe de aptidão agrícola Tipo de utilização e nível de manejo Lavouras Pastagem plantada Silvicultura Pastagem natural Nível de ma- nejo variável Nível de manejo C Nível de manejo B Nível de manejo A Boa A B C P S N Regular a b c p s N Restrita (a) (b) (c) (p) (s) (n) Inapta - - - - - - Quadro 4. Simbologia das classes de aptidão agrícola das terras As terras de uma classe de aptidão podem ser similares quanto ao grau, mas diferentes quanto ao tipo de limitação ao uso agrícola. As classes são estabelecidas considerando os seguintes fatores de limitação: � f: deficiência de fertilidade. � h: deficiência de água, sem considerar a possibilidade de irrigação. � o: excesso de água ou deficiência de oxigênio. � e: suscetibilidade à erosão. � m: impedimentos à mecanização. Na avaliação de cada fator limitante são considerados ainda os seguintes graus de limitação: nulo, ligeiro, moderado, forte e muito forte. Ramalho-Filho e Beek (1995) ressaltam que as terras classificadas como aptas para culturas de ciclo curto (maior exigência) são também indicadas para culturas de ciclo longo (menor exigência). Porém, podem ocorrer casos em que a área seja formada por solo raso ou sujeito a inundações frequentes, ou ainda esteja inserida em uma região com ocorrência de adversidades climáticas. Em outros casos, terras classificadas nos Grupos 1, 2 e 3 permitem dois cultivos no mesmo ano. Essas áreas são indicadas no mapa de aptidão agrícola com simbologias específicas, conforme observado no Quadro 5. Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras14 Fonte: Adaptado de Ramalho-Filho e Beek (1995). Convenção Significado Terras aptas para culturas de ciclo curto, porém inaptas para culturas de ciclo longo. Não indicadas para silvicultura. Terras aptas para culturasde ciclo longo, porém inaptas para culturas de ciclo curto. Terras com aptidão para culturas especiais de ciclo longo. Terras aptas para arroz de inundação e inaptas para a maioria das culturas de ciclo longo e curto. Não indicadas para silvicultura. Terras não indicadas para silvicultura. Terras com irrigação instalada ou prevista. 2" abc Aspas após o número indicativo do grupo indica que as terras têm aptidão para dois cultivos por ano. 2 abc Traço contínuo sob o símbolo da classe de aptidão indica uma associação de terras, na qual a componente em menor proporção tem aptidão superior à indicada pelo símbolo da classe. Linha contínua, no mapa, limita dois grupos de aptidão agrícola. ---------- Linha descontínua, no mapa, delimita dois subgrupos de aptidão. Quadro 5. Convenção para a representação cartográfica da aptidão agrícola das terras 15Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras Para a classificação da aptidão agrícola das terras, também é necessário levar em consideração condições especiais para determinadas culturas, res- peitando os fatores ambientais que diferem dos critérios estabelecidos pelas classes “boa”, “regular” e “restrita”. No Quadro 6 estão descritas as etapas para desenvolvimento do sistema de aptidão agrícola. Fonte: Adaptado de Schneider, Giasson e Klaut (2007). Etapas Descrição das etapas 1 Reconhecimento dos diferentes padrões fisiográficos que ocorrem na terra. 2 Identificação e avaliação das características das terras nas diferentes fisiografias. 3 Organização dos dados de campo. 4 Elaboração do quadro-guia para classificação e mapeamento das classes de aptidão de uso agrícola das terras. 5 Mapeamento da aptidão de uso agrícola das terras. Quadro 6. Etapas para desenvolvimento do sistema de aptidão agrícola 3 Considerações sobre os sistemas de aptidão agrícola das terras e de capacidade de uso do solo A determinação do potencial das terras para o desenvolvimento de diferen- tes sistemas de produção agrícolas é fundamental para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável e para o uso racional dos recursos naturais. No Brasil, os sistemas mais utilizados para determinar o potencial agrícola das terras são o sistema de capacidade de uso do solo (LEPSCH et al., 2015) e o sistema de aptidão agrícola das terras (RAMALHO-FILHO; BEEK, 1995). A correta aplicação dessas ferramentas pode evitar a subutilização ou o desgaste de recursos naturais, evitando sérios prejuízos socioeconômicos e ambientais. O sistema de capacidade de uso do solo auxilia no planejamento de ocupação da terra e nas recomendações de técnicas de manejo conservacionistas para o Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras16 uso racional dos recursos naturais. Trata-se de uma metodologia simples e de fácil aplicação em diferentes áreas, e seus resultados apresentam pouca variação ao longo do tempo (RAMALHO FILHO; PEREIRA, 1999). Entretanto, esse sistema não avalia todos os elementos necessários para o planejamento das atividades a serem desenvolvidas na propriedade rural, pois não considera aspectos econômicos e sociais (RAMALHO FILHO; PEREIRA, 1999). O sistema de capacidade de uso do solo não classifica as terras de acordo com a produtividade, e os solos são classificados de acordo com os requisitos de conservação em larga escala. Essa metodologia é mais restritiva para indicar o potencial de uso agrícola das terras, sendo indicada para a avaliação de áreas menores (COSTA; SOUZA; JESUS, 2008). O sistema de aptidão agrícola é indicado para a avaliação de grandes exten- sões de terras, devendo ser ajustado quando aplicado em pequenas glebas de agricultores. Esse sistema considera como fatores limitantes do solo os níveis tecnológicos de manejo, com base em aspectos técnicos e socioeconômicos (RAMALHO-FILHO; BEEK, 1995). Em pesquisa realizada por Ramalho Filho e Pereira (1999), foram destaca- das as vantagens do sistema de aptidão de agrícola em relação ao sistema de capacidade de uso do solo: tem maior utilização em nível nacional; considera diferentes níveis de manejo; permite modificações, ajustes ou incorporações de outros parâmetros e fatores de limitação, acompanhando os avanços da tecnologia; aceita adaptações e aplicações em diferentes escalas de mapea- mento; considera a possibilidade de redução de limitações de uso da terra pelo uso de capital e tecnologia, adequado à realidade do produtor. O sistema de aptidão agrícola das terras é considerado como um levanta- mento interpretativo, por isso os resultados devem ser considerados de caráter efêmero (RAMALHO-FILHO; BEEK, 1995). Logo, esse método deve ser ajustado de acordo com a realidade da região onde a propriedade rural está inserida, pois a classificação está relacionada ao nível de tecnologia vigente na época em que foi realizado o levantamento dos dados (RAMALHO-FILHO; BEEK, 1995). 17Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras BEEK, K. J. Recursos naturais e estudos perspectivos a longo prazo: notas metodológicas. Brasília, DF: SUPLAN, 1975. (Documento de Trabalho. Projeto PNUD/FAO/BRA/71/553). BENNEMA, J.; BEEK, K. J.; CAMARGO, M. N. Interpretação de levantamento de solos no Brasil: primeiro esboço: um sistema de classificação de aptidão de uso da terra para levantamentos de reconhecimento de solos. Rio de Janeiro: MA-DPFS/FAO, 1965. COSTA, G. P. D.; SOUZA, J. L. M. D.; JESUS, M. R. G. D. Contraste entre duas metodologias de determinação do potencial agrícola das terras nas vilas rurais no município de Rio Negro, Estado do Paraná. Acta Scientiarum. Agronomy, v. 30, supl., p. 687–695, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/asagr/v30sspe/v30sspea13.pdf. Acesso em: 26 jun. 2020. KLINGEBIEL, A. A; MONTGOMERY, P. H. Land capability classification. Washington: Soil Conservation Service, 1961. LEPSCH, I. F. et al. Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras. Campinas: SBCS, 1983. LEPSCH, I. F. et al. Manual para levantamento utilitário e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. Viçosa: SBCS, 2015 . RAMALHO FILHO, A.; PEREIRA, L. C. Aptidão agrícola das terras do Brasil: potencial de terras e análise dos principais métodos de avaliação. Rio de Janeiro: Embrapa, 1999. (Documentos, 1). Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/ handle/doc/336394. Acesso em: 26 jun. 2020. RAMALHO FILHO, A. et al. Interpretação para uso agrícola dos solos da zona de Iguatemi, Mato Grosso. In: BRASIL. Ministério da Agricultura. Escritório de Pesquisa e Experimen- tação. Equipe de Pedologia e Fertilidade do Solo. I. Levantamento de reconhecimento dos solos da Zona de Iguatemi Mato Grosso: II. Interpretação para uso agrícola dos solos da Zona Iguatemi Mato Grosso. Rio de Janeiro: EPFS-EPE, 1970. p. 89–99. RAMALHO-FILHO, A.; BEEK, K. J. Sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras. 3. ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, 1995. SÃO PAULO. Secretaria de Cultura e Abastecimento. Recursos naturais. São Paulo, [201-?]. Disponível em: http://www.cdrs.sp.gov.br/portal/produtos-e-servicos/publicacoes/ acervo-tecnico/classe-de-capacidade#:~:text=O%20sistema%20de%20capacidade%20 de,de%20terras%2C%20em%20termos%20de. Acesso em: 26 jun. 2020. SCHNEIDER, P.; KLAMT, E.; GIASSON, E. Morfologia do solo: subsídios para caracterização e interpretação de solos a campo. Guaíba, RS: Agrolivros, 2007. TOMASI, J. M. G.; RAMALHO-FILHO, A. Aptidão agrícola dos solos do sul do Estado de Mato Grosso. Rio de Janeiro: Divisão de Pesquisa Pedológica, 1971. (Boletim Técnico, 19). Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras18 Leitura recomendada PEREIRA, L. C.; LOMBARDI NETO, F. Avaliação da aptidão agrícola das terras: proposta metodológica. Jaguariúna, SP: Embrapa Meio Ambiente, 2004. (Documentos, 43). Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPMA/5805/1/documentos_43.pdf. Acesso em: 26 jun. 2020. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 19Sistema de capacidade de uso do solo e aptidão agrícola das terras