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ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA NAS REGIÕES DO PARÁ, BAHIA E PIAUÍ 2020 ES TU D O D E V IA B IL ID A D E D A C A D EI A D E V A LO R D E M EL D E A B EL H A N A S R EG IÕ ES D O P A R Á , B A H IA E P IA U Í ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA NAS REGIÕES DO PARÁ, BAHIA E PIAUÍ 4 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 5 Pará Bahia Belém Salvador Brasília São Paulo Espírito Santo Amapá Maranhão Minas Gerais VISITAS DE CAMPO Pará Bahia Piauí Oceano Atlântico Piauí Ceará Porto Seguro Rio Grande do Sul Rio de Janeiro Paraná Rio Grande do Norte Amazonas Mato Grosso Rondônia Acre Roraima Mato Grosso Goiás Tocantins Pernambuco Alagoas Sergipe Santa Catarina Paraíba Eunápolis Vitória do Xingu Altamira Medicilândia Picos Simplício Mendes 0 500 1000 1500 2000 km PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO – PNUD BRASIL Katyna Argueta Representante-Residente do PNUD no Brasil Carlos Arboleda Representante-Residente Adjunto do PNUD no Brasil Maristela Baioni Representante-Residente Assistente do PNUD no Brasil Coordenadora da Área Programática Cristiano Prado Coordenador da Unidade de Desenvolvimento Socioeconômico Inclusivo Especialista de Programa Melissa Silva Assistente de Projetos INSTITUTO HUMANIZE Geórgia Patrício Pessoa Diretora Executiva Ana Carolina Avzaradel Szklo Gerente de Sustentabilidade Gláucia Alves Macedo Gerente de Gestão Pública André Luiz Oliveira Pinto Gerente de Desenvolvimento Institucional e Parcerias Claudia Rodrigues Rosa Analista de Projetos Eduarda Costa Thurler Analista de Projetos Vitor Babilônia Comunicação Agradecimentos especiais Márcia Côrtes Este trabalho foi desenvolvido no âmbito da parceria entre PNUD e Instituto Humanize para desenvolvimento de ações conjuntas para potencializar, por meio de negócios inclusivos e de impacto social, o uso sustentável da biodiversidade brasileira alinhada com o desenvolvimento de capacidades locais, aumento de renda, crescimento econômico e melhoria da qualidade de vida das pessoas por meio do fomento às cadeias de produtos da sociobiodiversidade Expediente RELATÓRIO TÉCNICO E ANALÍTICO DO ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DO MEL Johann Wolfgang Schneider Concepção e textos Brava Design Projeto gráfico e Diagramação Edson Cruz Revisão ortográfica 6 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 7 O Brasil é um país com grande riqueza biológica, e isso está em sinergia com sua ampla diversidade sociocultural. São povos indígenas, comunidades tradicionais quilombolas, agricultores familiares, extrativistas e diversos núcleos da comunidade expressando conhecimentos e habilidades sobre sistemas tradicionais de manejo da biodiversidade. Dentro dessa diversidade se destacam muitos desafios no recorte da produção extrativista brasileira. Ao mesmo tempo, a quantidade de cadeias da sociobiodiversidade inclusas no território gera possibilidades e caminhos para desenvolver atividades extrativistas. Com incentivos e estruturação adequada, as oportunidades de geração de negócios associados ao desenvolvimento sustentável são vias possíveis e promissoras. Para encontrar caminhos viáveis, o Instituto Humanize movimenta diversas ações a partir das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, envolvendo os processos de produção, beneficiamento e comercialização. Em nossa atuação, sempre consideramos como ampliar e diversificar os produtos gerados, priorizando a forma mais sustentável de conduzir o processo e tomando decisões que valorizem a inovação. O Brasil tem um vasto território e por isso é importante entender as especificidades das cadeias produtivas em cada um dos espaços, sem deixar de alinhar objetivos voltados à conservação ambiental e geração de renda. A cadeia do mel, por exemplo, é compreendida por benefícios socioeconômicos e ambientais significativos. São inúmeras possibilidades de exploração, geração de produtos derivados e conciliação com conservação ambiental, além de diferentes oportunidades de manejo de espécies de abelhas por meio da apicultura e meliponicultura. Do lado da apicultura, há forte exploração econômica e racional da abelha do gênero Apis. Apesar de não ser nativa do Brasil, esse tipo de abelha desperta uma alta rentabilidade no mercado brasileiro e alcança números consideráveis na produção de mel e derivados — como cera e pólen. Já a meliponicultura compreende o gênero das Melíponas, também conhecidas como abelhas sem ferrão. Essas são nativas do Brasil e possuem grande importância para a conservação ambiental, incluindo a polinização da flora. Esse gênero tem um manejo simplificado e é ponto de partida para um mel diferenciado quanto às propriedades nutritivas e medicinais. Com tantas possibilidades e espaços para desenvolvimento, identificar desafios e oportunidades é um importante passo para que a cadeia do mel se desenvolva de forma robusta. O estudo apresentado sinaliza uma contribuição relevante para o conhecimento científico sobre o tema, associado às possibilidades econômicas que a cadeia oferece. Com este retrato, é possível entender os desafios e empreender esforços para soluções guiadas por informações consistentes. Convidamos os leitores interessados em entender os elos da cadeia do mel a navegar neste estudo. Esperamos que o documento se revele um instrumento valoroso para auxiliar tomadas de decisão e iniciativas que tenham como objetivo comum o desenvolvimento da cadeia. Geórgia Pessoa Instituto Humanize Introdução A Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) — assim como o compromisso com os princípios de universalidade, igualdade e inclusão (não deixar ninguém para trás) — são os fundamentos do trabalho do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil. O desenvolvimento econômico é essencial para a redução da pobreza e da desigualdade, particularmente no atual contexto de necessidade de recuperação socioeconômica. Por isso, faz parte das prioridades do PNUD, que apoia o crescimento econômico com base no paradgima de desenvolvimento inclusivo e sustentável, fortalecendo capacidades produtivas para a geração de empregos e renda às populações mais pobres e vulneráveis. Esta publicação insere-se nesse contexto. Apresenta o mel como uma fonte de crescimento e desenvolvimento capaz de gerar renda para famílias que muitas vezes não teriam alternativa, particularmente nos estados incluídos neste estudo: Pará, Bahia e Piauí. Além do crescimento socioeconômico, o fortalecimento da cadeia do mel contribui simultaneamente para a conservação do meio ambiente, da biodiversidade e para o fortalecimento da bioeconomia. De fato, as abelhas, como polinizadoras, são de inestimável valor, tanto para a biodiversidade quanto para a produção de alimentos. Ao apoiar a produção de mel e permitir que colmeias se desenvolvam nesses estados, estamos colaborando para o equilíbrio ambiental e a segurança alimentar. Nesta publicação, foram mapeados os principais desafios para o fortalecimento da cadeia do mel, e identificados os diferentes estágios de desenvolvimento da produção nos estados participantes do estudo. Foram feitas recomendações, considerando as diferentes etapas de maturidade de produção do mel nas três localidades. Foi ressaltada a importância da ampliação de parcerias e do aumento da liderança e da participação coletiva dos produtores rurais. Nessa tarefa, o PNUD uniu forças com o Instituto Humanize, um parceiro ativo na promoção e implementação da Agenda 2030 nas suas diferentes frentes de trabalho. Desejo a todas e a todos uma excelente leitura Katyna Argueta Representante-Residente PNUD - Brasill Prefácio REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 8/9 1. Metodologia .....................................................................................................................................................................11 2. Introdução à missão da iniciativa ..........................................................................................................................13 2.1. Contexto geral .........................................................................................................................................................13 2.2. Seleção das regiões alvo .....................................................................................................................................14 3. Contexto agrícola, político e institucional ........................................................................................................ 16 3.1. Nacional .................................................................................................................................................................... 16 Produção e consumo de mel ........................................................................................................................... 16 Polinização ............................................................................................................................................................. 20 Meliponicultura – abelhas sem ferrão ........................................................................................................ 27 Projeto Néctar da Amazônia do Instituto Peabiru ................................................................................ 30 Inovação tecnológica na apicultura .............................................................................................................34 Projeto de Promoção das Exportações ....................................................................................................... 35 Principais ameaças à atividade .......................................................................................................................36 Agrotóxicos – séria ameaça às abelhas ....................................................................................................... 37 3.2. Piauí .......................................................................................................................................................................... 40 3.3. Bahia ..........................................................................................................................................................................56 3.4. Pará ............................................................................................................................................................................ 74 3.5. Políticas, leis e regulamentos .........................................................................................................................87 3.6. Organizações de apoio existentes e programas de desenvolvimento do setor. .....................89 4. Características da cadeia do mel ...........................................................................................................................92 5. Principais desafio para o desenvolvimento da cadeia do mel ................................................................. 96 5.1. Apicultura ............................................................................................................................................................... 96 5.2. Meliponicultura ................................................................................................................................................100 6. Fatores críticos de sucesso .....................................................................................................................................102 6.1. Apicultura ..............................................................................................................................................................102 6.2. Meliponicultura ................................................................................................................................................ 104 6.3. Desenvolvimento da cadeia .........................................................................................................................105 7. Primeiras sugestões para uma abordagem de trabalho para o desenvolvimento da cadeia do mel .......... ....................................................................................................107 7.1. Estágios de maturidade da cadeia de mel ................................................................................................107 7.2. Dimensões de apoio ......................................................................................................................................... 109 7.3. Recomendações iniciais para uma abordagem de trabalho ........................................................... 110 Bibliografia ........................................................................................................................................................................ 110 Índice de figuras Figura 1 - Técnico realizando manutenção em caixa de abelhas .................................................................13 Figura 2 - Produção de Mel no Brasil ........................................................................................................................ 16 Figura 3 - Produção de Mel por Regiões ...................................................................................................................17 Figura 4 - Exportações de Mel brasileiro ................................................................................................................ 18 Figura 5 - Colmeias por Apicultor .............................................................................................................................. 19 Figura 6 - Consumo de Mel por País ......................................................................................................................... 19 Figura 7 - Abelha rainha ................................................................................................................................................ 23 Figura 8 - Dependência da Polinização ...................................................................................................................24 Figura 9 - Abelhas sem ferrão ......................................................................................................................................28 Figura 10 - Logomarca do Projeto Néctar da Amazônia ................................................................................. 30 Figura 11 - Bandeiras dos Países alvo do Programa Brazil Let's Bee ............................................................36 Figura 12 - Mortandade de Abelhas........................................................................................................................... 37 Figura 13 - Extermínio de Abelhas .............................................................................................................................38 Figura 14 - Processo de envase.....................................................................................................................................42 Figura 15 - Abelha colhendo néctar ..........................................................................................................................48 Figura 16 - Apicultor tirando quadro com favo de mel de uma colmeia. ................................................ 52 Figura 17 - Veracel ..............................................................................................................................................................65 Figura 18 - Mapa dos apiários nas áreas da Veracel ........................................................................................... 66 Figura 19 - Índios Pataxós recebendo capacitação .............................................................................................67 Figura 20 - Instituto Peabiru ........................................................................................................................................87Figura 21 - Estrutura e Fluxo dos Produtos da Cadeia do Mel .......................................................................92 Figura 22 - Apicultor verificando caixa de abelhas ..........................................................................................97 Figura 23 - Meliponicultura .......................................................................................................................................102 Figura 24 - Apicultor fumigando caixa de abelhas para facilitar o acesso............................................ 107 Índice de tabelas Tabela 1 - Visitas de campo ............................................................................................................................................ 11 Tabela 2 - Outras entrevistas realizadas remotamente ....................................................................................12 Tabela 3 - Peabiru - Comunidades envolvidas......................................................................................................29 Tabela 4 - Número de estabelecimentos agropecuários com apicultura ............................................... 40 Tabela 5 - Lista de Entidades de Apicultura no PI .............................................................................................. 40 Tabela 6 - Visitas de Campo no PI ..............................................................................................................................49 Tabela 7 - Breve análise de aderência da cadeia do mel para com os aceleradores das ODS identificados no Piauí ................................................................................................................................54 Tabela 8 - Número de estabelecimentos agropecuários com apicultura na BA ...................................56 Tabela 9 - Lista de Entidades de Apicultura na BA ..............................................................................................58 Tabela 10 - Visitas de Campo na BA...........................................................................................................................63 Tabela 11 - Entrevistas na BA .........................................................................................................................................63 Tabela 12 - Veracel - Levantamento Apicultura 2018 ........................................................................................64 Tabela 13 - Número de estabelecimentos agropecuários com apicultura no PA .................................. 74 Tabela 14 - Lista de Entidades de Apicultura no PA ............................................................................................ 74 Tabela 15 - Visitas de Campo no PA ...........................................................................................................................82 Tabela 16 - Entrevistas no PA ........................................................................................................................................83 Tabela 17 - Preços de Venda de Mel ...........................................................................................................................86 Tabela 18 - Análise do perfil e atuação dos principais atores na cadeia do mel ....................................94 Tabela 19 - Estágios de maturidade da cadeia de mel .....................................................................................107 Foto: Instituto Peabiru, Curuçá (PA)/Rafael Araújo SUMÁRIO 10 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 11 Visitas de campo ESTADO MUNICÍPIOS VISITAS/ENCONTROS REALIZADOS PERÍODO PIAUÍ Picos, Simplício Mendes Sebrae – Escritório regional de Picos 16 a 17.09 Casa Apis – Central de Cooperativas Mel Wenzel – Entreposto e trading COMAPI – Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes BAHIA Eunápolis, Porto Seguro Veracel – Estação Ecológica Veracel 07 a 09.10 Sindicato Rural de Eunápolis – reunião com representantes de cinco associações de apicultores, Sebrae e BNB Sebrae – escritório regional de Eunápolis PARÁ Altamira, Medicilândia Sebrae – Escritório regional de Altamira – reunião 22 a 24.10 e Vitória do Xingu com apicultores e representantes do (Belo Monte II), Belém Sebrae e da UFPA Apiário e Entreposto El Dourado Estação de pesquisa de Meliponicultura da UFPA Instituto Peabiru Tabela 1 - Visitas de campo - 2019 1 Metodologia O estudo foi realizado em duas etapas principais: 1) Levantamento de dados secundários, que gerou um relatório preliminar, e 2) Pesquisa primária, por meio de visita de campo e entrevistas com pessoas- chave, presencial ou remotamente. Nesta segunda etapa foram realizadas as seguintes visitas e entrevistas: Fo to : A do be S to ck / M an u Pa di lla 12 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 13 2.1.CONTEXTO GERAL O Brasil está entre as 10 maiores economias do mundo (2017), com fortes avanços em termos de desenvolvimento humano e com grande potencial de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Entre 1980 e 2013 o País apresentou um aumento consistente e ininterrupto de seu IDH (passando de 0,545 em, 1980; para 0,744 em, 2013), um aumento de 36,4%. Essa melhoria reflete mudanças estruturais nos sistemas de educação, saúde e na renda dos brasileiros e brasileiras. Diante deste cenário, nota-se a relevância do engajamento de atores públicos e privados em torno da busca por soluções que fortaleçam um modelo de crescimento econômico mais inclusivo bem como favoreçam igualmente territórios e grupos sociais marginalizadas dos processos de desenvolvimento econômico e humano. Essas soluções são essenciais para que a trajetória de crescimento e de competitividade do mercado brasileiro seja ascendente e sustentada. 2 Introdução à missão da iniciativa ESTADO PESSOAS ENTREVISTADAS ORGANIZAÇÃO BAHIA Julianna Alves Torres, IFBA - Campus Uruçuca Professora Ediney de Oliveira CEPLAC – Comissão Executiva do Plano e Lavoura Magalhães, Pesquisador Cacaueira (www.ceplac.gov.br) Roberto Vilela, Tabôa – ONG local do distrito de Serra Grande (www.taboa.org.br) Diretor executivo Marivanda Eloy, Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) da Bahia coordenadora do programa de apicultura PARÁ João Meireles, Instituto Peabiru (peabiru.org.br) Diretor executivo Alexandre Alves Costa Luz, Sebrae – escritório regional de Redenção (responsável Gerente pelos municípios de Tucumã e São Félix do Xingu) Marco Aurélio, Gestor do programa de apicultura Gilberto da Silva Santos, CPT – Comissão Pastoral da Terra (www.cptnacional.org.br) Agente Clarismar Pinto de Oliveira, Prefeitura de Tucumã Secretário Municipal de Meio Ambiente SANTA Dr. Célio Hercílio Prodapys (www.prodapys.com.br) CATARINA Marcos da Silva, proprietário e presidente SÃO PAULO Kaline Rossi, Fundadora Amazônia Hub (amazoniahub.com) e Diretora RIO DE Tereza Corção, Presidente Instituto Maniva (www.institutomaniva.org), JANEIRO proprietária do restaurante ‘O Navegador’ e membro do grupo dos “Ecochefes’ do SindiRio (Sindicato dos Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro) Tabela 2 - Outras entrevistas realizadas remotamente - 2019 Outras entrevistas realizadas remotamente Figura 1 - Técnico realizando manutenção em caixa de abelhas - Foto: Envato Elements /Mint Images 14 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 15 Fazendo frente a tais desafios, um número cada vez maior de atores nacionais e internacionais vem investindo esforços e reconhecendo o potencial dos negócios inclusivos e sociais como um setor estratégico para resolver problemas socioambientais e para atender às demandas da base da pirâmide. Neste sentido, para os fins do presente projeto, entende-se por negócios inclusivos e de impacto social, modelos de negócios que: (...) oferecem, por meio do seu core business,bens, serviços e sustento de maneira comercialmente viável e em escala para as pessoas de menor renda, tornando-os parte da cadeia de valor das empresas como fornecedores, distribuidores, revendedores ou clientes. (PNUD, 2015, p.13) A amplitude conquistada pelo tema no Brasil e no mundo tem sido acompanhada, naturalmente, por um significativo aumento no número de negócios inclusivos e sociais no país nos últimos 10 anos, bem como no volume de investimentos de impacto disponíveis e na proliferação de atores intermediários. Entretanto, o ecossistema de negócios de impacto e inclusivos ainda se encontra em estágio embrionário no país, com diversas margens para crescimento e aperfeiçoamento. Além das disparidades geográficas – onde as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste encontram ainda um ambiente de negócio pouco articulado. Estudo recente desenvolvido pelo PNUD em parceria com SEBRAE (PNUD, 2017) demonstra que o ecossistema ainda enfrenta uma série de lacunas em relação ao desenvolvimento desses modelos de negócios no Brasil, sobretudo no que diz respeito ao encadeamento produtivo e, sobretudo, o fortalecimento de capacidades de empreendedores de menor renda envolvidos nas cadeias da sociobiodiversidade. Soma-se a isso o fato de que, nas últimas décadas, reduzir as taxas de desmatamento no Brasil constitui um desafio constante. Além das ações de comando e controle, é necessário fortalecer atividades econômicas que combinem geração de renda, inclusão social e uso adequado dos recursos naturais existentes. O Brasil abriga uma riqueza biológica alinhada a uma diversidade sociocultural significativa, representada por povos indígenas, comunidades tradicionais quilombolas, extrativistas, agricultores familiares, entre outras. Essas comunidades possuem conhecimentos e habilidades expressivos sobre os sistemas tradicionais de manejo da biodiversidade. Apesar de toda essa riqueza, estatísticas oficiais demonstram que a produção extrativista não madeireira representa cerca de 0,48 % da produção primária nacional, o que equivale a apenas 480 milhões de reais. Isso significa que os produtos da sociobiodiversidade brasileira ocupam um espaço pequeno na economia formal do país. Por sua vez, o potencial de competitividade das cadeias de produtos da sociobiodiversidade revelam a viabilidade de integrar o uso e a conservação da biodiversidade com atividades de geração de renda. Nas últimas décadas a demanda por produtos ambientalmente corretos aumentou nos mercados nacional e internacional. Além disso, a preocupação entre padrão de consumo e condições de saúde da população vem crescendo. Devido a isso, as indústrias alimentícia, de cosméticos, farmacêutica, serviços e outras têm começado a investir em produtos com base na biodiversidade brasileira. Os desafios relacionados ao uso sustentável dos recursos naturais estão ligados tantos aos produtores, sejam eles população tradicional, extrativistas ou pequenos agricultores familiares, quanto ao ambiente institucional das cadeias da sociobiodiversidade. Destacam-se: Lacunas de conhecimento sobre a biodiversidade brasileira nas áreas de produção, manejo, beneficiamento e industrialização faz com que a capacidade instalada esteja aquém da demanda do setor produtivo. Financiamento dos pequenos negócios sustentáveis e rurais, que envolve a defasagem entre o lançamento de instrumentos financeiros inovadores para atender aos pequenos produtores e as exigências do mercado. Produção dispersa e pouco estruturada. Os produtos e serviços da sociobiodiversidade têm caráter pontual, escala pequena e restrita abrangência territorial, econômica e social. Cadeias da sociobiodiversidade pouco institucionalizadas. No âmbito governamental, as medidas de apoio aos produtos da sociobiodiversidade encontram-se dispersas em diferentes Ministérios, sem uma articulação que possibilite coordenar ações e potencializar investimentos. Diante desse quadro, o PNUD, em conjunto com parceiros estratégicos, desenvolve uma série de ações conjuntas para potencializar, por meio de negócios inclusivos e de impacto social, o uso sustentável da biodiversidade brasileira. Neste sentido, busca apoiar ações integradas para a promoção e fortalecimento das cadeias de produtos da sociobiodiversidade para agregar valor, ampliar o acesso e consolidar mercados sustentáveis. Estas ações são alinhadas com o desenvolvimento de cadeia, aumento de renda, crescimento econômico e melhoria da qualidade de vida das pessoas por meio do fomento cadeias de produtos da sociobiodiversidade. Dessa forma, o PNUD busca efetivamente inserir a Agenda 2030 nas cadeias produtivas, gerando assim mecanismos de aceleração do avanço em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), bem como fomentar a criação de redes locais que atuem neste mesmo sentido. Em particular, o PNUD - por meio da iniciativa Country Investment Facility - está atuando em estados prioritários no Norte e Nordeste do País, criando redes locais, fortalecendo cadeias produtivas e reforçando sua interrelação com os aceleradores dos ODS. Esta iniciativa permite lançar as bases para criação de uma rede local para atuar em prol dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e prevê em sua estratégia o engajamento de diversos atores do setor privado – empresas, institutos e fundações, entre outros. A cadeia de mel de abelha se destaca neste contexto pelo seu potencial de impacto econômico como renda complementar para a agricultura familiar. A meliponicultura ainda traz o apelo da valorização das espécies nativas das florestas atlântica e amazônica que estão começando a receber uma atenção especial nos últimos anos. 2.2. SELEÇÃO DAS REGIÕES ALVO Os territórios definidos como prioritários incluem a região do Pará (sub-regiões nordeste e sudeste: Altamira, Tucumã, Medicilândia e São Felix do Xingu), Sul da Bahia (Costa do Mel: Ilhéus, Itacaré, Serra Grande, Una, Canavieiras, Trancoso / Costa do Descobrimento: Porto Seguro, Santa Cruz de Cabrália e Belmonte) e o estado do Piauí. Nas regiões do Pará e da Bahia, o Instituto Humanize já possui atuação junto a várias comunidades, enquanto que o estado do Piauí é parceiro do PNUD na implantação dos ODS. 16 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 17 ¹ ASSAD, A.L.D. et.al. Plano de fortalecimento da cadeia produtiva da apicultura e da meliponicultura do estado de São Paulo. Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, 2018. Vide anexo eletrônico. A agricultura brasileira tem crescido significativamente em produtividade e qualidade técnica nas últimas décadas situando o Brasil como um dos polos produtores mundiais de alimentos. Produção de mel no Brasil |Toneladas Este capítulo objetiva contextualizar o cenário atual, apresentando dados sobre volumes de produção e comércio, produtores, modelos de negócios, da cadeia de valor e do ambiente de negócio bem como das principais restrições e oportunidades no setor. A apresentação dos dados é dividida entre dados que são de âmbito nacional ou ligados à temática geral da cadeia de valor do mel de abelhas, independentemente de identificação geográfica, e dados pertinentes a cada um dos três estados ou das regiões de interesse. 3.1. NACIONAL Produção e consumo de mel¹ Segundo dados da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA) e da Associação Brasileira de Exportadores de Mel (ABEMEL), o setor possuía em 2015 184 entrepostos com Sistema de Inspeção Federal (SIF), centenas de entrepostos com Serviço Inspeção Estadual (SISP) e Municipal (SIM), uma estimativa de 450 mil ocupações diretas no campo, 19 mil na indústria de processamento (entrepostos) e 17 mil na indústria de insumos (máquinas e equipamentos), e um mercado de varejo avaliado em 796 milhões de reais. O quadro abaixo apresenta a produção brasileira de mel de 1995 a 2015 (ABEMEL), indicando crescimento contínuo e com espaço para expansão, sejano mercado interno, seja para exportação. Figura 2 - Produção de Mel no Brasil. Fonte: IBGE, 2016 - Inteligência Comercial - icom@abemel.com.br 04/01/2017 3 Contexto agrícola, político e institucional 18.122 21.172 19.061 18.308 19.751 21.865 22.219 24.028 30.022 32.336 33.791 36.263 34.789 37.836 39.029 38.016 41.575 33.575 35.364 38.472 37.815 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Este mesmo dado é apresentado por regiões, na qual se destaca a região Nordeste, seguida da região Sul. A região Sudeste possui muito espaço para crescer e expandir a produção. Figura 3 - Produção de Mel por Regiões. Fonte: IBGE, 2016 - Inteligência Comercial - icom@abemel.com.br - 04/01/2017 Produção de mel brasileiro PRODUÇÃO DE MEL BRASILEIRO POR REGIÃO, NO PERÍODO DE 2010 A 2015, EM TONELADAS Produção de mel - Regiões |Toneladas| n 2010 n 2011 n 2012 n 2103 n 2014 n 2015 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste 922 945 926 933 1.051 948 13.116 16.910 7.701 7.533 10.845 12.305 6.156 6.151 6.727 7.594 8.428 8.856 16.532 16.154 16.659 17.738 16.462 14.119 1.290 1.415 1.562 1.563 1.682 1.587 18 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 19 Dados da ABEMEL apontam para o crescimento da exportação brasileira de mel: no ano de 2015, a exportação representou cerca de 59% da quantidade produzida no País, como mostra o quadro abaixo: O principal produto da apicultura e meliponicultura consumido pela população é o mel. Segundo Instrução Normativa nº 11 de 20 de outubro de 2000, o mel é o produto alimentício produzido pelas abelhas, a partir do néctar das flores ou das secreções procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores de plantas que ficam sobre partes vivas de plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas próprias, armazenam e deixam madurar nos favos da colmeia. Encontrado em estado líquido viscoso e açucarado, ele é constituído de diferentes açúcares, predominantemente de monossacarídeos: glicose e frutose. Ele também apresenta teores de proteínas e aminoácidos, enzimas, minerais, pólen e outras substâncias como sacarose, maltose, malesitose e outros oligossacarídeos como a dextrina. Além de pequenas concentrações de fungos, algas, leveduras e partículas sólidas que resultam do processo de obtenção do mel. Uma análise do perfil do apicultor nacional realizada pelo SEBRAE mostra que existe uma concentração grande de pequenos apicultores com até 50 caixas de abelhas, os quais produzem cerca de 17% do mel, quase sempre realizando a atividade como segunda opção de renda. Segundo o mesmo estudo, 60% da produção é realizada pelos apicultores que possuem de 51 a 400 caixas. Exportação de mel brasileiro O crescimento das exportações de mel é positivamente relacionado com a produção. Nota-se que os anos de 2012 e 2013 não mantiveram o resultado obtido em 2011, ano de referência até então para as exportações brasileiras de mel. Participação das exportações sobre o volume produzido|Toneladas n Produzido n Exportado (%) Figura 4 - Exportações de Mel brasileiro. Fonte: IBGE/AliceWeb - Inteligência Comercial - icom@abemel.com.br 04/01/2017 0,01 0,03 0,27 0,09 0,09 1 11 53 64 65 43 40 37 48 67 49 54 50 46 66 59 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Figura 5 - Colmeias por Apicultor. Fonte: Sebrae - Foto: Envato Elements/Perutskyy Consumo – A grande oportunidade Embora possua muitas qualidades para o consumo humano, segundo dados da CBA e ABEMEL, o valor comparativo de consumo de mel em gramas por habitantes por ano, mostra que o Brasil ainda possui um consumo muito baixo em comparação com outros países e tem espaço para crescer, com ações de incentivo como a utilização do mel na merenda escolar. Comparativo de consumo de Mel (em gramas/habitantes/ano) 0 250 600 750 1000 1250 1500 1750 Figura 6 - Consumo de Mel por País COLMEIAS POSSUÍDAS PERCENTUAL PERCENTUAL POR APICULTOR DE APICULTOR DE MEL PRODUZIDO ATÉ 50 49,5 17,0 51 A 100 25,3 20,7 101 A 200 15,6 22,5 201 A 400 6,5 17,6 401 A 700 2,2 12,2 MAIS QUE 701 0,9 9,8 Suíça 1500 Alemanha 960 EUA 910 Classe alta (250 a 300) 275 Sul do Brasil (200 a 250) 250 Brasil 60 20 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 21 Em relação à Alemanha, por exemplo, o Brasil ainda teria um potencial de crescimento de 1.600%! Mas não é preciso ir tão longe. O consumo na região Sul e entre a população de faixa de renda mais alta é entre 300% e 400% maior do que a média nacional, o que significa que boa parte da população consome bem abaixo de 60ml/ano. De acordo com especialistas do setor, esta diferença se deve à forte influência da imigração alemã e italiana no Sul, em que a criação e o consumo de mel como alimento fazem parte da tradição, enquanto que, em muitas regiões, o mel é apenas consumido como remédio na época de inverno, muitas vezes misturado com ervas e frutas para chamados ‘lambedores’. Em relação ao consumo maior da população de renda mais elevada há principalmente dois aspectos a serem considerados: 1) Mel de abelha não é um produto tão acessível para a população de baixa renda; 2) Presume-se que a população de maior renda também tenha um nível educacional maior e, portanto, um maior conhecimento sobre os benefícios do mel para a saúde bem como maior interesse e motivação na efetiva prática de uma alimentação mais saudável. A falta de conhecimento básico em relação a mel de abelha ainda é um grande fator a impactar o consumo. Em uma pesquisa de mercado recente (2018), realizada na região NE pelo autor do presente estudo para o Sebrae PE, os varejistas que tinham um público de menor poder aquisitivo também estocavam menos variedades de marcas de mel e registravam um giro significativamente menor do que varejos em bairros de maior poder aquisitivo nas mesmas cidades. Neste contexto, os relatos de que o público não sabe nem a diferença entre mel de abelhas e ‘Mel Karo’ são frequentes, além de confirmarem a sazonalidade em relação ao maior consumo na época de chuva. No entanto, embora a necessidade de se realizar campanhas educativas esteja sendo discutida há muitos anos, o setor de apicultura brasileiro não possui uma entidade forte, estruturada e organizada para conduzir este tipo de atividade, entre outras. A notícia boa é que a tendência da ‘saudabilidade’, ou seja, da busca por alimentação e práticas mais saudáveis, beneficia também o consumo de mel. No entanto, permanecem as restrições regionais e de poder aquisitivo. Polinização Embora ainda seja o principal produto das abelhas, o valor econômico do mel é muito inferior àquele dos serviços ambientais produzidos pela polinização que realizam em cultivos agrícolas. Algumas estimativas indicam que o valor econômico do mel de A. mellifera é incrivelmente inferior àquele atribuído ao serviço de polinização de culturas agrícolas que essas abelhas prestam. As abelhas têm papel fundamental como agentes eficientes e essenciais para a reprodução e, consequentemente, para a manutenção da diversidade genética de muitas espécies de plantas em ambientes naturais e agrícolas. A polinização dirigida é uma tecnologia que pode ser compreendida como um novo tipo de insumo agrícola para determinadas culturas. Estudos mostram que a polinização dirigida, tecnicamente realizada, tem potencial para aumentar fortemente a produtividade e a qualidade da produção das culturas frutíferas e de café, entre outras. A polinização tem potencial para melhorar as condições do ambiente, pois o aumento de produtividade pode ajudar a reduzir a produção de gases de efeito estufa da produção agrícola. Além disso, a atividade das abelhas pode servir de sentinela da qualidadeambiental. Quando as flores são polinizadas adequadamente, os frutos formados são maiores, têm melhor qualidade e maior número de sementes quando comparados àqueles formados por flores com deficiência na polinização. Consequentemente, esses frutos têm maior sucesso reprodutivo, em termos ecológicos, e maior rentabilidade, em termos econômicos. Avaliações baseadas em dados da FAO (Food and Agriculture Organization) afirmam que cerca de 33% dos produtos utilizados em alimentação humana dependem em algum grau de cultivos polinizados pelas abelhas. As abelhas são agentes polinizadores fundamentais para a agricultura. Globalmente, a polinização animal beneficia a produção de 75% das culturas agrícolas. No Brasil, aproximadamente 60% das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana e produção animal apresentam algum grau de dependência por polinização animal, incluindo frutíferas, leguminosas, oleaginosas e outras culturas com alto valor agregado, como a castanha-do-Brasil, o cacau e o café. Do ponto de vista monetário, o benefício produzido pelos polinizadores animais no País representa cerca de US$12 bilhões, não incluindo os serviços ecossistêmicos das abelhas voltados à conservação da biodiversidade. Nos EUA, grande parte das colmeias está sendo direcionada para a polinização agrícola, principalmente da cultura da amêndoa, como um serviço de polinização de forma que, atualmente, o mel está sendo considerado mais como subproduto, nesse país. No Brasil, o serviço de polinização por meio do aluguel de colmeias ainda está sendo pouco explorado, restringindo-se à polinização do melão na região Nordeste; da maçã, na região Sul; e de algumas culturas específicas, como abacate e melancia, no Sudeste. A maioria dos animais polinizadores é silvestre, incluindo mais de 20 mil espécies de abelhas, além de algumas de moscas, borboletas, mariposas, vespas, besouros, trips (insetos da ordem Thysanoptera), pássaros, morcegos e outros vertebrados, como lagartos e pequenos mamíferos. “Cerca de 90% das espécies de plantas silvestres dependem, pelo menos em parte, da transferência de pólen feita por animais. Essas plantas são críticas para o funcionamento dos ecossistemas, pois fornecem comida e outros recursos essenciais para uma enorme gama de espécies”. Afirmou Vera Lucia Imperatriz Fonseca, professora sênior do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP).² O peso econômico da polinização Dados do Ministério do Meio Ambiente revelam que 85% das plantas e flores necessitam, em algum momento do seu desenvolvimento, de animais polinizadores e que 75% dos alimentos produzidos para consumo humano dependem de plantas polinizadas. Estima-se que a polinização na agricultura gire em torno de 10% do PIB agrícola, o equivalente a U$ 200 bilhões/ano. Portanto, os benefícios da polinização incluem: - O retorno econômico com a introdução de polinizadores é elevado; - As produções são favorecidas no seu desenvolvimento, por exemplo, com a colheita de frutos mais doces, com tamanho e pesos superiores; - As plantas são mais resistentes a doenças e pragas; - Favorece a harmonia com meio ambiente, aproximando árvores silvestres e plantas do mato;³ ² GRIGORI, P. Meio bilhão de abelhas morreram no Brasil — e isso é uma péssima notícia. Exame.com, 2019. Disponível em: https://exame.abril.com.br/ brasil/meio-bilhao-de-abelhas-morreram-no-brasil-e-isso-e-uma-pessima-noticia. Acesso em 25/10/2019 ³ A.B.E.L.H.A. Polinização agrícola é alternativa de renda para pequenos e médios apicultores. A.B.E.L.H.A., 2019. Disponível em: https://abelha.org.br/ polinizacao-agricola-e-alternativa-de-renda-para-pequenos-e-medios-apicultores/. Acesso em 25/10/2019 22 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 23 Inimigos das abelhas Os principais inimigos das abelhas são os agrotóxicos neonicotinoides, uma classe de inseticidas derivados da nicotina, por exemplo, o Clotianidina, Imidacloprid e o Tiametoxam. Com a polinização, tanto apicultores quanto agricultores são beneficiados. As lavouras ganham em produtividade e qualidade, e as abelhas são favorecidas com a oferta de mais pólen e néctar. Necessidade de preservar a polinização Caso não sejam adotadas medidas para reverter o quadro, as consequências para a economia global, a produção de alimentos, o equilíbrio dos ecossistemas e a saúde e o bem-estar humanos poderão ser desastrosas. Segundo dados da International Union for Conservation of Nature (IUCN), 16,5% das espécies de polinizadores vertebrados estão na chamada “Lista Vermelha”, ou seja, correm risco de extinção global. Embora no caso dos insetos não exista uma Lista Vermelha, avaliações feitas em nível regional e nacional indicam alto nível de ameaça para algumas espécies de abelhas e borboletas – frequentemente, estudos locais indicam que mais de 40% dos invertebrados estão ameaçados. Nas entrevistas realizadas com especialistas e pessoas-chave nos territórios alvo, a polinização apenas foi mencionado no contexto da abelha meliponis, indicando que esta atividade não é considerada entre os apicultores. No Piauí houve menção de apicultores que praticam a migração de colmeias, porém visando à busca de pasto apícola nas entressafras de suas regiões de origem, indo principalmente para o Maranhão. As entidades atuantes ou interessadas na meliponicultura, citaram a polinização como importante benefício para os agricultores familiares que adotaram ou virão a adotar a criação de abelhas sem ferrão, visando à produtividade de seus pomares e culturas de plantio principais. No entanto, a principal motivação econômica para a instalação de colmeias ainda é a produção de mel. Em nenhum caso, a polinização foi mencionada como atividade de prestação de serviço remunerado. Da mesma forma, não foram identificados estudos sobre a mensuração do impacto econômico concreto da polinização. Produtores alugam abelhas para polinizar fazendas e aumentar produtividade⁴ Comum em outros mercados, o aluguel de abelhas para ajudar a melhorar a produção das lavouras ainda é pouco praticado no Brasil. Mas já começam a surgir no País startups dedicadas a conectar agricultores e apicultores para promover a chamada polinização assistida. Nos Estados Unidos, cerca de 70% dos criadores de abelhas já são especializados no serviço. Aqui, nem 10% das 2,5 milhões de colmeias são alugadas, segundo estimativa do pesquisador Cristiano Menezes, da Embrapa Meio Ambiente. 4 MELO, L. 'Uber das abelhas': agricultores recorrem a aluguel de colmeias para melhorar produção de maçã, morango, café e outros grãos. g1.globo.com, 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2019/10/05/uber-das-abelhas-agricultores- recorrem-a-aluguel-de-colmeias-para-melhorar-producao-de-maca-morango-cafe-e-outros-graos.ghtml?fbclid=IwAR22A_ Hi9QtLHNPiSsoE_5nuwGXJjB80DANmnql8vfU0uvzozTSZoon93a. Acesso em 01/11/2019 Figura 7: Apicultor introduzindo uma nova abelha rainha em uma gaiola de introdução - Foto: Envato Elements/Grafvision Algumas culturas são extremamente dependentes de polinizadores para produzir, como maçã, melão, abóbora e amêndoas. Em outras, o trabalho das abelhas não é essencial, mas pode trazer ganhos de produtividade, melhorar a qualidade dos frutos ou aumentar a quantidade de sementes. É o caso do café, da laranja, do tomate e da soja, entre outros. "Maçã é a cultura que hoje aluga mais colmeias no Brasil, e são cerca de 50 mil por ano. Nos EUA, são 2 milhões só para amêndoas", diz Menezes. "Aqui o serviço ainda geralmente é informal, desorganizado, sem muita técnica, às vezes as caixas não são colocadas no lugar certo." O G1 visitou uma fazenda de café que está testando o aluguel de abelhas, com a ajuda de uma startup que criou um aplicativo para conectar apicultores e agricultores, uma espécie de "Uber das abelhas". O mercado potencial é grande. O valor do serviço de polinizadores presentesna natureza (não apenas de abelhas alugadas) para a produção de alimentos no Brasil foi estimado em R$ 43 bilhões em 2018, segundo estudo da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e da Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP). O número é calculado multiplicando-se a taxa de dependência de abelhas de cada cultura pelo valor de sua produção. Para o ano passado, cerca de 80% da quantia veio de quatro grandes cultivos: soja, café, laranja e maçã. O levantamento inclui a polinização feita por abelhas, borboletas, vespas e outros insetos, além de morcegos. 24 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 25 Ajuda extra para produzir NÍVEL DE DEPENDÊNCIA / AUMENTO NA PRODUÇÃO COM A AÇÃO DE POLINIZADORES Essencial 90% a 100% Alta 40% a 90% Modesta 10% a 40% Pouca 0% a 10% TOMATE UVA FEIJÃO AMORA CAFÉ SOJA LARANJA PIMENTÃO ABACATE, AMEIXA, BERINJELA, CEBOLA, GOIABA, GUARANÁ, PÊSSEGO MAÇÃ MELÃO MELANCIA MARACUJÁ CAJU ABÓBORA ACEROLA TANGERINA Figura 8 - Dependência da Polinização - Fonte: BPBES e REBIPP 23/09/2019 consecutivo. A área polinizada ainda é pequena: elas foram instaladas em 5 dos 110 hectares plantados com arábica, mas o resultado animou o empresário. "Em 2018, a produtividade por pé da área polinizada [com as abelhas alugadas], comparada com a não polinizada, foi em torno de 50% maior", conta Leonel, lembrando que a florada foi irregular naquele ano e que a área de teste foi de apenas 1 hectare. "A tendência é ir ampliando", diz. Da primeira vez, as abelhas levadas à fazenda de Leonel foram as africanizadas, as mais conhecidas, com ferrão, do gênero Apis. Neste ano, foi a vez das tubunas e mandaguaris fazerem o trabalho – são abelhas nativas do Brasil, sem ferrão, do gênero Scaptotrigona. A espécie mais indicada vai depender da cultura. Para o café, essas três funcionam porque são populosas e "fáceis de criar" e conseguem atender a plantações em grande escala. "Para o morango, são adequadas a africanizada e a jataí. A mandaguari a gente já testou, mas Algumas culturas não produzem sem a ação de polinizadores, veja nível de dependência abaixo. Segundo Menezes, no Brasil, a polinização assistida já se popularizou de maneira informal entre os produtores de melão e maçã – culturas totalmente dependentes das abelhas. Nas demais, raramente é utilizada, porque medir o ganho de produtividade proporcionado não é simples. No caso do café, a ação dos polinizadores naturalmente presentes no ambiente aumenta a produção em 10% a 40%, segundo o relatório da BPBE e da REBIPP. O aluguel de abelhas vem como um reforço, e pode levar a um incremento ainda maior, explica o pesquisador. "Mas os produtores, principalmente de arábica, usam muito pouco, porque estão acostumados com décadas de trabalho que já trazem um nível de produtividade aceitável." O cafeicultor Alexandre Leonel é um dos que estão testando o serviço. Sua fazenda, em Franca, São Paulo, recebeu abelhas durante a florada, em agosto, pelo segundo ano 26 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 27 ⁵ MEIRELLES FILHO, João. A revolução das abelhas sem ferrão, A.B.E.L.H.A. 2017. Disponível em: https://abelha.org.br/revolucao-das-abelhas-sem- ferrao/. Acesso em 12/08/2019. ela não gosta da flor. Para o tomate, a africanizada já não serve, porque tem que morder e vibrar a flor para tirar o pólen, e ela não faz isso. Nesse caso são indicadas a abelha mandaçaia ou a uruçu, que são sem ferrão e de grande porte", explica Menezes, da Embrapa. O resultado também varia. No morango, por exemplo, a polinização ajuda a reduzir a deformação dos frutos. No feijão, aumenta a produção de sementes. "Mesmo para culturas que são pouco dependentes da polinização, como a soja, o café e a laranja, quando as abelhas estão presentes, os frutos e as sementes acabam sendo maiores, mais homogêneos e o valor de mercado desses produtos aumenta", diz Charles dos Santos, biólogo e cofundador da ApiAgri, startup que está desenvolvendo um serviço de polinização assistida. Quem alugou as abelhas para o Alexandre Leonel neste ano foi Marcelo Ribeiro, conhecido como Batata. Ele tem um apiário em Jacuí, Minas Gerais, a pouco mais de 100 quilômetros de Franca, e produz cerca de meia tonelada de própolis anualmente. Tem cerca de 800 colmeias de abelhas africanizadas e outras 250 de espécies sem ferrão. Elas foram levadas três dias antes da florada e ficaram no local por 10 dias. A flor do café tem vida curta e permanece aberta por três a cinco dias. Foi a primeira vez que o Batata prestou esse serviço, por intermédio da startup AgroBee, de Ribeirão Preto, que conecta apicultores a produtores rurais interessados na polinização assistida. A ApiAgri, com sede em Sorocaba, também está começando a atuar nesse mercado. Os biólogos da AgroBee é que avaliam a quantidade de caixas necessárias, o lugar mais apropriado para colocá-las e a espécie de abelha indicada, de acordo com os objetivos dos agricultores. "Fazemos também auditoria nas colmeias para ver se elas atendem aos requisitos exigidos, como quantidade de abelhas, sanidade, se estão produzindo cria – porque aí elas vão necessitar de alimento e não servem para a polinização", diz Arthur Nascimento, biólogo da startup. Pelo serviço, a empresa cobra uma porcentagem (não revelada) do aluguel pago ao apicultor, que fica responsável pelo transporte e instalação das colmeias nas fazendas. Outra questão que precisa ser controlada com cuidado é o uso de agrotóxicos nas lavouras que recebem as abelhas – os apicultores têm indenização garantida em contrato em caso de morte ou dano aos enxames. Na fazenda do Alexandre Leonel, as colônias foram instaladas na parte orgânica da lavoura, o que significa que aqueles pés de café estão há pelo menos 36 meses sem receber herbicidas ou adubos químicos. Dos 110 hectares, 60 já são de café orgânico. Nessa área, que é irrigada, a produtividade gira em torno de 40 a 50 sacas por hectare. "O plano é ampliar as áreas de polinização assistida na medida em que as lavouras vão sendo convertidas para orgânico e vão ganhando certa estrutura para poder acomodar as colmeias com segurança", diz. Batata recebeu R$ 45 por cada uma das 30 caixinhas que colocou na fazenda de café do Alexandre. A quantia paga pelo agricultor não foi divulgada. Nos EUA, apicultores chegam a receber US$ 200 por colmeia alugada para as lavouras de amêndoa, segundo Menezes, da Embrapa. A AgroBee diz que os valores podem variar de acordo com o tamanho da área polinizada, a demanda por colmeias e outros fatores como a compra ou não do mel produzido durante o período do aluguel. A startup tem cadastradas mais de 30 mil colmeias de diversas espécies, e mais de 5 mil hectares de plantações café, morango, abacate, hortifruti, entre outras. A AgroBee lançou recentemente um aplicativo para facilitar a conexão entre os produtores e os apicultores, uma espécie de "Uber das abelhas", disponível para Android. A concorrente ApiAgri tem hoje 30 criadores de abelhas cadastrados e está formando a base de agricultores. Ela lança seu aplicativo em novembro. Vale a pena para o apicultor? Diferentemente dos Estados Unidos, onde muitos apicultores tiram sua renda apenas da polinização, no Brasil, as colmeias alugadas normalmente são as mesmas usadas para a produção de mel, ou de outros produtos como própolis e pólen. Por isso, a viabilidade para o criador vai depender do período do aluguel. "Depende do foco do apicultor. No caso do café, a floração coincide com o período de safra de mel no Sudeste, por exemplo", explica Cristiano Menezes. Para o Batata, o negócio valeu a pena. "Faz dois ou três anos que eu trabalho com abelhas sem ferrão e elas nunca tinham dado resultado, porque dão muito pouco mel e ainda não achei mercado para o própolis delas. Aí o aluguel já é uma fonte de renda", conta. O própolis queele vende é produzido pelas abelhas africanizadas. Meliponicultura – abelhas sem ferrão⁵ Embora seja uma atividade que já era realizada há milhares de anos pelos povos originários das américas e que foi apresentada aos colonizadores portugueses por nossas populações indígenas, ela consolidou-se como atividade cabocla nos últimos quatro séculos, principalmente entre os povos tradicionais do Brasil. A atividade tradicional começou a ser aprimorada no início do século 20, à medida que as espécies de abelhas nativas sem ferrão eram descritas pelos naturalistas. Contudo, foi a partir dos trabalhos do Dr. Paulo Nogueira Neto, nos anos 1950, que a meliponicultura se desenvolveu em bases de manejo e criação racionais. Apesar de ser uma atividade tradicional e mais antiga que o próprio Brasil, a criação de abelhas nativas ainda se enquadra como criação de outros animais silvestres e, portanto, sujeita aos dispositivos legais relacionados à matéria. O que se observa é um crescimento da meliponicultura em todo Brasil, crescimento esse que não tem sido acompanhado pela criação de arcabouço jurídico condizente com as características da atividade, que permita aos meliponicultores exercerem a atividade de forma regular. Biodiversidade São estimadas 25 mil espécies de abelhas no planeta. No Brasil, há milhares de espécies. O destaque é para o gênero Melipona, as abelhas sem ferrão. Diferentemente das abelhas do gênero Apis, introduzidas no Brasil em 1838, animal exótico e perigoso (sua picada pode matar), as Meliponas não apresentam risco e, após milhões de anos de evolução, estão mais bem adaptadas ao meio. Das 600 espécies desse gênero no mundo, há 244 no Brasil, e 89 aguardam descrição científica. Na Amazônia, há 114 espécies, número que pode crescer. 28 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA E não há sequer inventário de espécies por Estado, o que, para Vera Imperatriz-Fonseca, pesquisadora do Instituto Tecnológico Vale (ITVS) seria de grande relevância. As abelhas sem ferrão são conhecidas por uruçu, jataí, mandaçaia, etc. e representam imenso e pouco conhecido patrimônio brasileiro. Conservação Se considerada apenas a floresta amazônica, como concluiu Warwick Kerr em estudos no Tapajós, de 35% a 90% das árvores dependem de abelhas como polinizadores primários. Uma floresta conservada tem dezenas de espécies, em pastagem degradada dificilmente acham-se mais que duas. Restauração florestal Em 2015, na Conferência do Clima da ONU, em Paris, o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030 para reduzir em 43% suas emissões. Esta meta espetacular só será alcançada se considerado o manejo de melíponas. As abelhas aumentam a polinização, a produção de frutos e a dispersão de sementes, além de sua criação contribuir para combater o desmatamento e o fogo (um dos maiores problemas da restauração), visto que o produtor se restringe mais nestas práticas onde ele mesmo tiver colmeias. Mais produção Alguns dos produtos do Brasil e da Amazônia, como açaí, castanha do Brasil, cacau, pimentas e frutas, dependem das abelhas sem ferrão para polinização. No caso do açaí, as melíponas estão entre principais polinizadores. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Peabiru iniciaram pesquisas para saber se a criação de melíponas nos açaizais aumenta a produção. Esta é uma informação importante, afirma Antônio Cordeiro de Santa, da Universidade Federal Rural da Amazônia, pois o açaí se tornou cadeia de valor que movimenta mais de R$ 4 bilhões/ano, e principal fonte de renda de muitas comunidades da Amazônia. Mel valioso Apesar de explorado por índios, foi sempre escasso e é valorizado pela medicina tradicional. A demanda crescente é puxada pelo mercado gourmet. Com milhares de pequenos criadores, Tabela 3 - Peabiru - Comunidades envolvidas - 2019 SUBPROJETO MUNICÍPIO Nº COMUNIDADES ENVOLVIDAS 1 Macapá – AP 1 Mel da Pedreira 2 São Pedro dos Bois 3 Ambé 4 São Tiago 5 Açaizal 2 Oiapoque – AP 6 Tukay 7 Galibi 8 Ahumã 9 Yawká 10 Cabeceira 11 São Pedro 12 Pingo D’água 3 Curuçá – PA 13 Km 50 14 Santo Antônio 15 Araquaim 16 Sede Curuçá 4 Almeirim – PA 17 Praia Verde 18 Lago Branco 19 Juçarateua 20 Santana 21 Nazaré Monte Alegre – PA 22 Lages 23 6 Unidos 24 Paitúna 5 municípios 24 Comunidades Figura 9 - Abelhas sem ferrão - Mandaçaia (Melipona mandacaia). Foto: Wikipedia/Thiago Mlaker REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 29 seu valor é pelo menos 3 vezes mais alto que o produto da Apis, inclusive porque uma colmeia produz pouco mais de 1 quilograma mel/ano (na Apis, são de 10 a 20 quilogramas). Meliponicultura Somente agora, após 50 anos desde sua definição científica, a criação racional de abelhas sem ferrão – a meliponicultura – começa a adquirir escala. Entre os difusores da meliponicultura na Amazônia estão Embrapa, Universidade Federal do Maranhão e ONGs (Instituto Socioambiental, Fundação Amazonas Sustentável e Instituto Peabiru). A capacitação de agricultores familiares e a simplificação do licenciamento do manejo de abelhas nativas permitiram o surgimento de iniciativas como o projeto Néctar da Amazônia, do Instituto Peabiru, financiado pelo Fundo Amazônia (gerido pelo BNDES), envolvendo mais de 100 produtores e 5 mil colmeias de 5 municípios no Amapá e Pará, legalizadas no Sistema Nacional de Gestão de Fauna Silvestre (Sisfauna) e alcançando o mercado com Selo de Inspeção Federal (SIF) (Vide abaixo o resumo do projeto). 30 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 31 Renda local Para 1 milhão de agricultores familiares da Amazônia, 30 colmeias podem gerar R$ 600/ano, equivalente à renda de mais de um mês. Melhora também a segurança alimentar da família com mais frutos e mel na mesa. Se o controle do dinheiro estiver com a mulher, seu impacto é ainda maior. Tem potencial, inclusive, de desestimular a juventude a migrar em busca de trabalho. Mais que fonte de renda, para Vera Imperatriz-Fonseca, a meliponicultura deveria ser atividade rural como outra qualquer, pois são animais silvestres que fazem parte do dia a dia do agricultor. Sociobiodiversidade As melíponas são generalistas na busca de néctar e pólen, ou seja, coletam o néctar e pólen de diversas plantas. Seu mel contém a essência de toda uma floresta em uma colher. O consumidor adquire mais que um adoçante com sabores diversificados e características físico-químicas peculiares. É poderoso aliado da conservação da biodiversidade e da restauração florestal para manter a floresta em pé. É produto da sociodiversidade brasileira – indígenas, quilombolas e povos e comunidades tradicionais, gerando renda em seu território. Desafio Se se encontrassem mecanismos de remunerar os serviços ambientais das abelhas sem ferrão, além da venda do mel e das colmeias a outros produtores, se revolucionaria a restauração florestal, o combate a queimadas e desmatamentos, e, por consequência, o enfrentamento da mudança climática, gerando uma revolução rural. Projeto Néctar da Amazônia do Instituto Peabiru⁶ O Projeto Néctar da Amazônia tem como objetivo fortalecer a cadeia de valor do mel de abelhas nativas silvestres em comunidades tradicionais da Amazônia. Trata-se de oportunidade única de aliar a geração local de renda, combater as queimadas e o desmatamento, promover a conservação da biodiversidade e valorizar os serviços ambientais como a polinização. O projeto resulta de dez anos de experiência do Instituto Peabiru na temática e relação com as diferentes comunidades envolvidas nos cinco polos beneficiados em dois estados – Pará (Polo Curuçá; Polo Calha Norte, incluindo os municípios de Monte Alegre e Almeirim) e Amapá (Polo Macapá e Polo Oiapoque). O projeto Néctar da Amazônia recebe recursos do Fundo Amazônia (BNDES). A ação iniciou- se em fins de 2014 com encerramentoem outubro de 2018. O projeto consolidou a etapa Figura 10 - Logomarca do Projeto Néctar da AmazôniaBee ⁶ Instituto Peabiru. Néctar da Amazônia – Resumo. Instituto Peabiru, 2019. Disponível em: https://peabiru.org.br/nectar-da-amazonia-saiba-mais/. Acesso em 25/10/2019 de multiplicação das colmeias, capacitação dos produtores, licenciamento da atividade, fortalecimento dos sistemas agroflorestais piloto e outras atividades associadas. O projeto alcançou beneficiários de 24 comunidades em 5 municípios. O projeto é pioneiro, em nível nacional, ao obter a autorização para os criadores com mais de 50 caixas de abelhas pelo SISFAUNA (sistema de monitoramento de fauna do IBAMA, administrado pelos estados, no caso, Pará e Amapá). Abrangência territorial – Municípios contemplados no projeto: - No Pará: Curuçá, Almeirim e Monte Alegre; - No Amapá: Macapá e Oiapoque. Beneficiários O projeto atende atualmente 101 produtores de 24 comunidades rurais em áreas quilombolas, indígenas e povos e comunidades tradicionais do entorno de unidades de conservação (ribeirinhas e extrativistas). Objetivo do projeto Fortalecer a cadeia de valor do mel de abelhas nativas silvestres em comunidades tradicionais de modo a constituir renda complementar sustentável, como alternativa ao desmatamento. Papel do Instituto Peabiru O Instituto Peabiru tem o papel de execução técnica e financeira do projeto. Resultados No período, os principais resultados e aprendizados foram: Consolidação dos meliponários e início da produção Após vários anos de multiplicação do plantel inicial, a maioria das comunidades chegou aos números viáveis para a produção de volume desejado de mel por cada família ou grupo produtor. Nesses meliponários consolidados foram instaladas as melgueiras-X que, têm maior capacidade de produção de mel. Hoje, das 2.596 caixas com abelhas, 2.140 têm melgueiras-X, ou seja, estão em produção. Na safra de 2018 (outubro a dezembro), previsão de produção era de 2 toneladas nas comunidades do projeto Na safra de 2017, em que apenas Monte Alegre produziu, foram produzidos 301 quilos de mel, sendo 243 quilos comercializados, o que gerou uma renda de R$ 7.290,00, sendo que o restante foi destinado para o consumo da família. Formação de técnicos qualificados para atender os territórios Seguramente, os técnicos comunitários estão entre os principais atores no processo de consolidação da Meliponicultura nos polos do projeto. Esses técnicos são os responsáveis 32 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 33 pelo pleno desenvolvimento das colônias, assim contribuindo para a manutenção e o desenvolvimento desse importante patrimônio biológico. Todos os técnicos comunitários atuais são os mesmos desde o início do Projeto, o que permite a consolidação do aprendizado de todo o ciclo do projeto nos territórios. Dentre as ações dos técnicos, destacam-se: - Articulação e mobilização dos beneficiários para as atividades coletivas, especialmente para os mutirões de limpeza de terreno e multiplicação dos meliponários; - Assessoria técnica individualizada aos beneficiários; - Organização dos eventos de capacitação; - Alimentação periódica das colônias; - Monitoramento e avaliação semanal do desenvolvimento das colônias - Manejo do processo de multiplicação das colônias; - Aquisição de insumos necessários para alimentação e manejo; - Prestação de contas sobre a execução financeira local. Parceria para a comercialização No mês de agosto 2018, a estratégia do Instituto Peabiru de parceria para a comercialização deu resultado, e foi aprovado o registro do mel de abelhas sem ferrão no Ministério da Agricultura (SIF) por meio de uma parceria com uma indústria já estabelecida no mercado de apicultura. Foi aprovada a comercialização em dois tamanhos de embalagem: 150g e 300g. Além de ser o único projeto de meliponicultura no Brasil que tem a atividade de manejo autorizada, via SISFAUNA, esse é o único mel da Amazônia com o selo de inspeção federal (SIF) e um dos poucos do Brasil. Esse registro permite comercializar a produção em todo o Brasil e até exportar para determinados países que aceitam o SIF brasileiro. Autorização de todo o plantel No período, foi obtida a autorização de manejo (AM) de todos os beneficiários, mesmo os que ainda não são obrigados (pois não atingiram um grande número de caixas). Pesquisa com a Embrapa e UFPA Uma série de pesquisas foi desenvolvida a partir das ações e resultados do projeto, especialmente junto a Embrapa Amazônia Oriental. Entre estas destacam-se: - Estudo dos benefícios das meliponicultura para as comunidades e o meio ambiente; - Catalogação das espécies da flora que as abelhas visitam; - Estudo e aprimoramento do processo de desidratação do mel para comercialização sem refrigeração, com índice de umidade a 20%; - Código de barra das abelhas paraenses – sequenciamento genético das abelhas sem ferrão comumente utilizadas na produção. Estudo de mercado e plano de negócios No período, com melhores dados e informações sobre a cadeia da meliponicultura e com a perspectiva de produção balizada, foram elaborados estudos sobre os canais de comercialização e aprofundada a modelagem da viabilidade do negócio. Meliponário demonstrativo no Instituto Federal do Pará (IFPA) campus Castanhal No período, foi instalado no Instituto Federal do Pará, campus de Castanhal, no Pará, um meliponário demonstrativo para atividades pedagógicas a alunos e também para produtores das redondezas. Filme Néctar da Amazônia O filme foi produzido e já apresentado, inclusive aprovado pelo Fundo Amazônia. Simpósio Abelhas sem ferrão e a Sociobiodiversidade Em 2 de agosto de 2018, o Instituto Peabiru, com a participação de produtores familiares, pesquisadores da Embrapa, Universidade Federal do Pará e Instituto Tecnológico Vale, e o apoio do Museu Goeldi, realizou evento para discutir sobre a cadeia de valor das abelhas sem ferrão (melíponas). O Simpósio apresentou os aprendizados de doze anos de trabalho do Programa Néctar da Amazônia, do Instituto Peabiru, para o fortalecimento da meliponicultura, e os múltiplos desafios para sua plena operação. Apoio ao entreposto de Mel da Apisal O projeto Néctar da Amazônia apoiou uma pequena reforma do entreposto de Mel da Associação dos Criadores Orgânicos de Abelhas de São João de Pirabas, Pará (APISAL). Com essa reforma, o entreposto está solicitando o Selo de Inspeção Estadual (SIE) para produtos artesanais. Além disso, é mais um canal de escoamento da produção para os produtores da região do Salgado Paraense, em especial para os produtores associados ao Peabiru de Curuçá. Aprendizados Os aprendizados possibilitados pelo projeto são em múltiplas dimensões: Consolidação da cadeia produtiva: O processo de multiplicação de colmeias matrizes ao longo do projeto gerou um plantel disponível que hoje permite a instalação de meliponários direcionados exclusivamente para a produção de mel em ciclos curtos, que é o caso dos meliponários recém-instalados em Curralinho, no Marajó, e na comunidade Quilombola de Burajuba, em Barcarena. Essas comunidades, por meio de outros financiadores, adquiriram colmeias dos produtores do projeto, sem redução do plantel, apenas com a multiplicação direcionada à venda, o que gerou uma renda significativa para as famílias, já que uma colmeia está sendo vendida a R$ 300,00. Pelo lado de quem compra, a vantagem é a possibilidade de produção de mel em 6 meses, como é o caso da comunidade de Burajuba, onde o meliponário com 30 caixas foi instalado em junho desse ano e já produzirá, aproximadamente, 60 quilos de mel em novembro. Poucas atividades agrícolas permitem um ciclo produtivo tão curto. Ainda no que se refere à consolidação da cadeia produtiva, pode-se citar a formação de técnicos capacitados para o manejo da meliponicultura. Quando o projeto começou não havia técnicos especializados em meliponicultura nos municípios atendidos,hoje têm-se pelo menos um técnico em cada município atendido, ou seja, cinco no total. Além disso, há produtores altamente capacitados para o manejo, especialmente das partes de alimentação e multiplicação das colônias e coleta e armazenamento de mel. 34 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 35 Cita-se ainda que há uma rede de prestadores de serviços e fornecedores que aprenderam os parâmetros de qualidade exigidos pela atividade. São desde marceneiros locais que fornecem caixas padronizadas com todos os requisitos exigidos, prestadores de serviços de logística (barqueiros, motoristas, carreteiros etc.) a fornecedores de insumos que passaram a emitir nota fiscal para o projeto. Para encerrar, é importante ilustrar como hoje tornou-se fácil implementar projetos de meliponicultura no Pará e Amapá. Tanto em Curralinho como em Barcarena, locais novos que não fazem parte do projeto, foram implementados meliponários em poucos dias. Colmeias-matrizes disponíveis para a venda (sem redução de plantel), caixas padronizadas confeccionadas facilmente por marceneiros capacitados, logística conhecida e técnicos disponíveis para prestar assistência técnica. Tecnologia social para aprendizagem do trabalho coletivo Quando o projeto começou, em muitas comunidades havia apenas poucas colmeias iniciais para multiplicação. Esclarecendo para o grupo social que os recursos são limitados e que não teria como o responsável técnico atender às famílias individualmente, as famílias entendem que terão que trabalhar juntas durante um período determinado de multiplicação das colmeias para depois se dividirem. Nesse período, o amontoado de famílias começa a se enxergar como grupo identitário, a noção de coletividade é aprimorada e o território compartilhado revela-se. A partir desse momento, a gestão sobre os recursos naturais e o próprio território se dinamiza. Comercialização Como a produção do mel ainda é pequena, a safra dura poucos meses e as comunidades produtoras estão dispersas territorialmente, o instituto Peabiru entendeu que não compensaria buscar investimentos para uma casa de mel ou mesmo um entreposto nesse momento. A estratégia foi buscar um parceiro com capacidade disponível para beneficiar o mel. Encontrou-se um entreposto de mel com selo de inspeção federal (SIF) que registrou o produto no MAPA, o que dificilmente qualquer grupo comunitário conseguiria em curto ou médio prazo. Essa estratégia permite ainda eliminar uma série de requisitos burocráticos como profissionais, tanto de ordem sanitária quanto de ordem contábil-administrativa para um empreendimento do tipo. Esse aprendizado foi incorporado aos outros produtos trabalhados pelo Instituto Peabiru que serão beneficiados em parcerias tipo joint venture também. Inovação tecnológica na apicultura Abelhas monitoradas em tempo real: tecnologia garante produção de mel⁷ Aplicativos fazem monitoramento de colmeias e abelhas, utilizando inteligência artificial para preservar a espécie. As abelhas e o mel de Santa Catarina, que já foi eleito cinco vezes o melhor mel do mundo, agora têm um aliado tecnológico: uma plataforma digital de monitoramento de abelhas que ⁷ G1 Globo. Abelhas monitoradas em tempo real: tecnologia garante produção de mel. G1 Globo, 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/sc/santa- catarina/ especial-publicitario/agro40/noticia/2019/08/14/abelhas-monitoradas-em-tempo-real-tecnologia-garante-producao-de-mel.ghtml. Acesso em 21/08/2019 fornece informações em tempo real. O APIS ON LINE é a primeira plataforma digital totalmente desenvolvida pela Epagri/Ciram de Santa Catarina e faz parte de um projeto de pesquisa para coleta, processamento e difusão de informações sobre abelhas. A plataforma é uma ferramenta interativa, por meio da qual os interessados podem interagir e acompanhar as informações na web, até o peso das colmeias. Informações disponibilizadas no Apis on line - Avisos e alertas de condições favoráveis para o desenvolvimento de pragas e doenças, bem como práticas de manejo conforme as condições climáticas e épocas do ano; - Lista de plantas com potencial apícola no Estado com descrição; - Calendário floral e mapeamento das principais plantas de interesse para as abelhas por região em Santa Catarina; - Banco de dados das florações das plantas com potencial apícola nas diferentes regiões do estado; - Gráficos para acompanhamento das colmeias monitoradas; - Cadastro com dados dos apicultores, associações, fornecedores e entrepostos de Santa Catarina Outro app americano, o Bee Alert, usa a geolocalização para registrar as mortes e perdas expressivas nos apiários. É uma ferramenta para os apicultores divulgarem informações como a intensidade e os locais do desaparecimento das abelhas. É possível ainda apontar as causas e prejuízos gerados. Projeto de Promoção das Exportações⁸ O Projeto Brazil Let's Bee é sinônimo de produtos apícolas nacionais de qualidade. Uma parceria bem-sucedida entre a Associação Brasileira de Exportadores de Mel - ABEMEL e Agência Brasileira de Promoção de Investimentos da Apex-Brasil, que incentiva as empresas exportadoras a cruzarem fronteiras. As condições encontradas no Brasil - clima, o solo, a altitude, floradas e genética das abelhas - permitem uma produção de produtos livres de resíduos, característica peculiar brasileira. Além disso, graças a esses recursos naturais, o Brasil é capaz de produzir mel durante todo o ano. Estas distinções e rigoroso controle de qualidade fazem do Brasil o 10º maior exportador de mel do mundo. A apicultura brasileira é uma das poucas atividades agropecuárias que podem ser caracterizadas como sendo ecologicamente correta, economicamente viável e socialmente justa. Atualmente, o Brasil tem cerca de 350 mil apicultores, a maioria classificados como agricultura familiar. Centenas de associações e cooperativas de pequenos produtores e exportadores de mel são responsáveis por 450 mil postos de trabalho no campo e também por outros 16 mil empregos diretos e indiretos no setor industrial brasileiro. O setor desempenha um papel econômico e social importante para muitas famílias, na busca do desenvolvimento sustentável. Produtores e exportadores de produtos apícolas brasileiros observam atentamente as exigências legais e de mercado, com foco na qualidade e segurança alimentar. Como resultado, têm implementado sistemas de qualidade rigorosos, tais como BPF - Boas Práticas de Fabricação, APPCC - Análise de Perigos e Pontos ⁸ Brazil Let’s Bee. Projeto de Promoção das Exportações. Brazil Let’s Bee, 2019. Disponível em: https://brazilletsbee.com.br/o-projeto.aspx . Acesso em 15/08/2019. 36 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 37 Críticos de Controle, e SAP - Programa de Segurança Alimentar, incluindo todo o sistema de rastreabilidade do campo do produtor para o cliente final. O Brasil também mantém o Programa de Padronização, uma poderosa ferramenta para garantir a qualidade de produtos e processos, demonstrando a dedicação e organização das indústrias para proteger seus produtos de quaisquer restrições técnicas, considerando as exigências do mercado. Os mercados-alvo do projeto, definidos após exercício de priorização de mercados para o período de 2014/2015 são: ALEMANHA CANADÁ CHINA ESTADOS UNIDOS Figura 11 - Bandeiras dos Países alvo do Programa Brazil Let's Bee Os objetivos do Projeto de Exportação Setorial são: - Promover a internacionalização de empresas brasileiras de mel e derivados; • Aumentar o valor comercializado de mel e derivados no mercado nacional e internacional; • Promover maior acesso dos produtores e empresas de mel e derivados aos mercados nacional e internacional; - Fortalecer imagem setorial, dos produtores e das empresas de mel e derivados no mercado nacional e internacional. Principais ameaças à atividade Várias ameaças existem na atividade apícola