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2 © 2019. MESTRADO PROFISSIONAL EM SUSTENTABILIDADE E TECNOLOGIA AMBIENTAL (MPSTA) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) Não há direitos reservados. A reprodução está autorizada, no todo ou em parte, desde que a obra original seja devidamente referenciada. INFORMAÇÕES E CONTATOS IFMG/BAMBUÍ. Faz. Varginha - Rodovia Bambuí/Medeiros - km 05. Caixa Postal 05 - Bambuí - MG – CEP: 38900-000. www.bambui.ifmg.edu.br REITOR DO IFMG Kleber Gonçalves Glória PRÓ-REITOR DE PESQUISA, INOVAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO Neimar de Freitas Duarte DIRETOR GRAL DO IFMG/CAMPUS BAMBUÍ Rafael Bastos Teixeira COORDENADORA DO MPSTA/IFMG – CAMPUS BAMBUÍ Simone Magela Moreira AUTORES Leonardo Rodrigues Maurício Petenusso Raphael Hipólito dos Santos Simone Magela Moreira Fernanda Wasner ACERVO DE IMAGENS E ILUSTRAÇÕES Fagner Daniel Teixeira Leonardo Rodrigues Pixabay Freepik ORGANIZAÇÃO DA PUBLICAÇÃO Maurício Petenusso Raphael Hipólito dos Santos Simone Magela Moreira EQUIPE DA COMISSÃO DE PRODUÇÃO E EDITORAÇAO CIENTÍFICA (CPEC/BAMBUÍ) Simone Magela Moreira Ana Cardoso C. Filha Ferreira de Paula Douglas Bernardes de Castro Eliane Cristina de Resende Fábio Júnior Diniz Fulvio Cupolillo Graziele Wolff de Almeida Carvalho Hygor Aristides Victor Rossoni Marcos Roberto Ribeiro Ronaldo dos Reis Barbosa Yuri Gagarin Silva Mourão FICHA CATALOGRÁFICA RODRIGUES, L.; PETENUSSO, M.; DOS SANTOS, R.H. 2019. Cartilha de Convivência de Carnívoros Silvestres e Animais Domésticos da Fazenda Santa Lúcia, MG. Programa de Mestrado Profissional em Sustentabilidade e Tecnologia Ambiental. Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Bambuí. Produto Técnico, 21 páginas. 3 SUMÁRIO Apresentação........................................................................... 4 Quem são osPredadores?........................................................ 5 Conflitos Fauna Silvestre – Fauna Doméstica........................ 6 A Fazenda Santa Lúcia........................................................... 8 Carnívoros da Fazenda Santa Lúcia....................................... 10 Dicas de Convivência com Predadores de Aves e Pequenos Animais Domésticos............................................................... 16 Dicas de Convivência com Predadores de Animais Domésticos de Grande Porte.................................................. 17 Por que Conservar os Carnívoros?......................................... 18 Agradecimentos...................................................................... 19 Referências Bibliográficas...................................................... 20 4 APRESENTAÇÃO Esta cartilha foi desenvolvida com base na dissertação do Mestre em Sustentabilidade e Tecnologia pelo IFMG – Campus Bambuí, Leonardo Rodrigues, intitulada “Conservação de Mamíferos de Médio e Grande Porte em um Agro ecossistema na Região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, MG, Brasil: Composição, Disponibilidade de Habitat e Estratégias de Conservação”, apresentada no ano de 2019. A partir dos resultados encontrados, foi registrada a presença de espécies consideradas predadoras de animais domésticos, como o lobo- guará, a onça-parda, a jaguatirica, o gato- mourisco, o cachorro-do-mato e a irara, entre outros. Estes dados subsidiaram a elaboração dessa cartilha para atender aos produtores rurais da região e tentar evitar um dos maiores conflitos existentes entre homem-animal, o ataque as criações domésticas Aqui, abordou-se a relação entre os carnívoros silvestres encontrados na Fazenda Santa Lúcia, Minas Gerais e os animais domésticos da região. 5 QUEM SÃO OS PREDADORES? Predadores silvestres são animais nativos da fauna brasileira que matam e consomem outros animais silvestres. Alguns destes predadores silvestres também atacam animais domésticos e/ou de criação. Alguns dos predadores registrados na Fazenda Santa Lúcia são carnívoros que se alimentam exclusivamente da carne de outros animais. No entanto, carnívoros podem ser também generalistas, se alimentando também de insetos, frutos, ovos e vegetais, citando como exemplo o cachorro-do- mato, o quati e o lobo-guará. Os carnívoros registrados na Fazenda Santa Lúcia estão divididos nos seguintes grupos: Predadores de aves domésticas e pequenos animais: mão-pelada, quati, furão, irara, lobo-guará, cachorro-do-mato, gatou-mourisco, jaguatirica e gato-do-mato. Predadores de animais domésticos de maior porte (bovinos e equinos): onça-parda. 6 CONFLITOS FAUNA SILVESTRE – FAUNA DOMÉSTICA A maioria dos conflitos com predadores, principalmente ataques de animais domésticos por carnívoros silvestres é reflexo de algum desequilíbrio ambiental. Em geral, os mamíferos carnívoros não têm como hábito natural atacar criações domésticas. Desde que o ambiente onde vivam possua uma área de tamanho significativo para sua sobrevivência, recursos alimentares disponíveis e baixa ou nenhuma influência antrópica, estes animais tendem a evitar qualquer contato com o homem e suas criações. Os predadores desempenham um importante papel ecológico, mantendo equilibrado o ecossistema em que vivem. No entanto, diversos fatores têm causado aproximação entre os predadores silvestres e os animais domésticos. A expansão da fronteira agrícola, a formação de pastagens para o gado e o desmatamento reduzem os ambientes naturais e aumentam o contato entre predadores e animais domésticos. 7 A caça ilegal de espécies que são presas naturais dos predadores, como tatus, pacas, cutias e capivaras, contribui para a diminuição na disponibilidade de alimento silvestre para os predadores, que se voltam para os animais domésticos. Esses fatores, aliados ao aumento na disponibilidade de animais domésticos em áreas próximas aos remanescentes de habitat, levam alguns predadores a atacar a criação doméstica, colocando-os em sérios conflitos com os criadores. Além do problema econômico gerado pela predação de animais domésticos, os conflitos com predadores podem também ocorrer em decorrência da proximidade dos predadores com o ser humano e dos riscos que isso pode representar para a segurança das pessoas. 8 A FAZENDA SANTA LÚCIA A Fazenda Santa Lúcia é uma propriedade rural localizada no município de Perdizes, na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, estado de Minas Gerais. A fazenda possui uma área total de 5294 hectares. 9 Historicamente, a Fazenda se consolidou como um grande produtor de café da região, sendo atualmente, 2952 hectares destinados à cafeicultura. Localizada próxima à RPPN Galheiros, é considerada uma “área de alta prioridade para conservação de mamíferos”. Em relação a vegetação, cerca de 2271 hectares é composta por Cerrado, Matas Nativas e Matas Ciliares, próximos a rios, riachos e córregos, além de uma ampla área de pastagens e culturas anuais de eucaliptos. 10 CARNÍVOROS DA FAZENDA SANTA LÚCIA Foram registradas 11 espécies de animais carnívoros na área da Fazenda (Tabela 1). Dentre esses, se destacam a onça-parda (predador de animais de grande porte, como bois, carneiros e cavalos), os gatos-do-mato, lobo-guará e cachorro-do-mato (potenciais predadores de galinhas, patos, coelhos, etc). Tabela 1 – Carnívoros Silvestres Registrados na Fazenda Santa Lúcia, Perdizes, MG. Nome Popular Espécie Ameaça de Extinção Gato-mourisco Puma yagouaroundi Sim - Vulnerável no BR Onça-parda Puma concolor Sim - Vulnerável no BR Gato-do-matoLeopardus gutullus Sim - Vulnerável no BR Jaguatirica Leopardus pardalis Sim - Vulnerável em MG Cachorro-do-mato Cerdocyon thous - Lobo-Guará Chrysocyon brachyurus Sim - Vulnerável no BR Raposinha Lycalopex vetulus Sim - Vulnerável no BR Quati Nasua nasua - Mão-pelada Procyon cancrivorus - Irara Eira Barbara - Furão-pequeno Galictis cuja - Das 11 espécies de carnívoros encontradas na Fazenda Santa Lúcia, seis são consideradas ameaçadas de extinção, evidenciando a importância desse grupo no ecossistema. 11 Podem ser ainda encontradas outras espécies, potenciais predadoras de pequenos animais, como a Irara e o Furão. A Irara se alimenta basicamente de frutos, insetos, pequenos mamíferos e mel, enquanto o furão é um excelente predador, se alimentando principalmente de roedores, aves terrestres, lagartos, cobras, sapos e até peixes. Dentre os predadores de aves domésticas e pequenos animais, o furão é uma das espécies que consomem um maior número de indivíduos, nessas criações. 12 Dentre os animais registrados na Fazenda, os principais predadores de aves domésticas e pequenos animais são os canídeos, principalmente o cachorro-do-mato e o lobo-guará. O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é o maior canídeo da América do Sul. Possui as patas longas para auxiliar nos grandes deslocamentos pelos ambientes abertos e pelo capim alto das savanas. As patas auxiliam também no momento da caça (em saltos altos). As orelhas funcionam como amplificadores e movem- se constantemente para captar melhor os sons, por mínimos que sejam (de ratinhos, aves terrestres, sapos). Assim, para a busca de comida e presas, confia principalmente na audição e olfato. Apesar de serem mais ativos durante a noite, podem caçar durante todo o dia. Comem frutas, insetos, roedores, lagartos, cobras e aves. Por serem tolerantes à presença humana, buscam por comida também nas áreas de fazendas e esporadicamente caçam aves domésticas. Várias espécies de felinos de pequeno, médio e grande porte matam aves e pequenos animais. Inclusive a onça-parda ataca criações de aves domésticas, como galinhas, sendo frequentemente registrado este tipo de comportamento em áreas rurais do Sudeste, centro-oeste e nordeste. 13 Os felinos têm hábitos noturnos e são discretos e rápidos em seus ataques. O bote é geralmente certeiro e silencioso. Se entrarem em um local confinado, podem matar quase toda a criação e comer poucos animais por ação da adrenalina da predação e o instinto de caça. As onças-pardas são felinos ágeis. Os machos adultos medem em torno de 2 metros e meio do nariz a ponta da cauda. Pesam de 50 a 70 quilos e as fêmeas de 30 a 50 quilos. É também conhecida como suçuarana, puma ou onça- vermelha. Possui uma grande área de distribuição que engloba todo o Brasil. É um dos felinos mais bem distribuídos mundialmente, ocorrendo nas Américas do Sul, Central e do Norte. O habitat da 14 inclui florestas como a Amazônia e a Mata Atlântica, o Cerrado e a Caatinga, e áreas alagadas, como o Pantanal. São animais oportunistas e predadores de emboscada, caçando tanto durante o dia e a noite. Ocasionalmente podem se alimentar de animais domésticos, desde galinhas e patos até porcos, ovelhas, cavalos e bois. Ultimamente, são mais frequentes relatos de aproximação da onça- parda e o homem. É comum relatos sobre onças-pardas em áreas urbanas, entrando em casas e atacando animais domésticos. A redução na disponibilidade de florestas, aliada a diminuição de suas presas, são as principais causas para o aumento dos ataques de onças aos animais domésticos no meio rural e meio urbano. O conflito da onça-parda com o homem é um dos responsáveis pela diminuição das populações de onças- pardas ao longo de toda a sua área de distribuição. 15 DICAS DE CONVIVÊNCIA COM PREDADORES DE AVES E PEQUENOS ANIMAIS DOMÉSTICOS Construir galinheiros cobertos e com tela reforçada, presa ao chão, por conta de algumas espécies de predadores que possuem habilidade se subir facilmente ou passar por baixo de cercas que não estão devidamente presas. Não construir galinheiros embaixo ou próximo a árvores e áreas de mata, visto que os felinos podem usar as árvores como apoio para pular para dentro dos cercados ou galinheiros. Instalar espantalhos na área da Fazenda. Soltar bombas ou fogos de artifício quando o animal for avistado próximo as residências. Isso provoca uma associação negativa no animal, presumindo que ele não irá querer retornar ao local. Manter cães de médio a grande porte próximo aos animais de criação. Mantenha o terreno limpo e com a grama baixa, evitando assim que os carnívoros se camuflem e estejam mais propensos a atacar a criação. Não deixe lixo e resto de alimentos espalhados próximos a Fazenda. Isto pode fazer com que os carnívoros, como lobos e cachorros-do-mato sejam atraídos e acabem, ocasionalmente, atacando a criação. 16 DICAS DE CONVIVÊNCIA COM PREDADORES DE ANIMAIS DOMÉSTICOS DE GRANDE PORTE Manter vacas prenhas e bezerros longes da mata, preferencialmente nos currais perto da sede da Fazenda. Pendurar sinos em alguns indivíduos do rebanho, visto que o barulho pode afugentar a onça-parda. Recolher os animais antes do anoitecer, porque o fim da tarde e à noite são os horários de caça da onça-parda. Não caçar e não permitir a caça às presas naturais das onças. Usar cercas para impedir que o gado entre na mata, evitando o encontro da onça- parda com o gado. Usar fogos de artificio para afastar as onças-pardas, caso sejam avistadas próximo ao gado. Manter cães de pastoreio de raças média ou grande para que estejam preparados para dar o alarme em caso de aparecimento de onças-pardas. 17 POR QUE CONSERVAR OS CARNÍVOROS? O futuro dos carnívoros depende diretamente dos produtores rurais que dividem o espaço com esses predadores. No Brasil, entre as razões para se perseguir carnívoros, destacam-se a prevenção da predação sobre animais domésticos e a retaliação por ataques já ocorridos. Os carnívoros possuem importância ecológica, regulando as populações de suas presas naturais, como os veados, roedores (capivaras, ratos), aves (pombas), répteis (cobras) e insetos (gafanhotos), que tendem a se multiplicar exponencialmente, podendo trazer sérios prejuízos à agricultura e consideráveis perdas financeiras. Outra razão para se conservar os carnívoros é a econômica. Carnívoros geram dinheiro no Brasil, associado principalmente ao turismo. Carnívoros são carismáticos e exercem uma atração sobre os turistas, podendo o proprietário da fazenda promover o ecoturismo e gerar recurso através da visitação para observação de animais. Existe também uma razão legal para se conservar carnívoros, ou ao menos para se abster de perseguir os animais: matar carnívoros é um crime segundo a Lei de Crimes Ambientais. O avanço da ciência revela a importância dos carnívoros e as redes sociais contribuem para difundir essa informação. No entanto, para muitas pessoas, as razões para matar carnívoros ainda prevalecem sobre as motivações para conservá-los. Como consequência, 10 das 26 espécies de carnívoros da fauna brasileira estão atualmente ameaçadas de extinção. Assim, precisamos dar a sociedade informações relevantes para conservar estes animais. 18 AGRADECIMENTOS Ao Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Bambuí pela oportunidade de elaborar este produto técnico; Ao Msc. Leonardo Rodrigues pela disponibilização da dissertação, dados e fotos para criação deste guia; Ao Msc. Fagner Daniel Teixeira pela disponibilização das imagens de carnívorosdo seu acervo pessoal; Ao Geografo Rafael Liberal Ferreira pela elaboração do mapa da Fazenda Santa Lúcia; As professoras Simone Magela e Fernanda Wasner, pela ajuda na organização do conteúdo e pelos ensinamentos sobre a elaboração de produtos técnicos. 19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECKER, M.; DALPONTE, J. C. 1999. Rastros de mamíferos silvestres brasileiros: um guia de campo. Brasília: UnB, 2ed, 180 p. BORGES, P.A. L.; TOMÁS, W.M. Guia de rastros e outros vestígios de mamíferos do Pantanal. Corumbá: Embrapa Pantanal. 148p. 2004. CAVALCANTI, S. M. C. 2010a. Protocolo regionalizado de coleta de dados dos casos de conflitos com mamíferos carnívoros. Cenap, ICMBio. Atibaia, SP. 41 pp. CAVALCANTI, S. M. C. 2010b. Análise crítica do programa de gestão de conflitos e do banco de dados de predação. Cenap, ICMBio. Atibaia, SP. 35 pp. CAVALCANTI, S. M. C. 2002c. Medidas para prevenção e controle de danos. pp 57-68 em: LEITE-PITMAN, M. R., DE OLIVEIRA, T. G., DE PAULA, R. C., INDRUSIAK, C. Manual de Identificação, Prevenção e Controle de Predação por Carnívoros, Edições IBAMA, Brasília, Brasil. 83 pp. CAVALCANTI, S.M.C.; DE PAULA, R.C.; GASPARINI-MORATO, R.L. 2015. Conflitos com mamíferos carnívoros: uma referência para o manejo e a convivência. Brasília: Instituto Chico Mendes de conservação da Biodiversidade, ICMBio, MARCHINI, S.; CAVALCANTI, S. M. C.; DE PAULA, R.C. 2011. Predadores silvestres e animais domésticos – guia prático de convivência. Brasília: Instituto Chico Mendes de conservação da Biodiversidade, ICMBio, OLIVEIRA, T. G.; CASSARO, K. 2005. Guia de Campo dos Felinos do Brasil. São Paulo: Instituto Pró-Carnívoros/Fundação Parque Zoológico de São Paulo/SZB/Pró-Vida Brasil, 80 p. REIS, N.R.; PERACCHI, A.L.; PEDRO, W.A. & LIMA, I.P (Eds.). Mamíferos do Brasil. Londrina. 437 p. 2006. REIS, N. R.; SHIBATTA, O. A.; PERACCHI, A. L.; PEDRO, W. A.; LIMA, I. P. Sobre os Mamíferos do Brasil. In: REIS, N. R.; PERACCHI, A. L.; PEDRO, W. A.; LIMA, I. P. Mamíferos do Brasil, 2ed., Londrina: Universidade Estadual de Londrina, p. 23-29. 2011. SIGRIST, T. 2012. Mamíferos do Brasil, uma visão artística. Avis Brasilis, 1ª Edição, Vinhedo – São Paulo, 448p. 20 CONSERVE A FAUNA!!! 21