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Educação das Relações Étnico-Raciais

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Unidade II
A formação étnico-racial do Brasil
Educação 
das Relações 
Étnico-Raciais
Diretor Executivo 
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial 
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico 
TIAGO DA ROCHA
Autoria 
GLÓRIA FREITAS
AUTORIA
Glória Freitas
Olá. Meu nome é Glória Freitas. Sou graduada em Pedagogia, com 
mestrado e doutorado na área de educação, com diversas experiências 
técnico-profissionais, na área de Educação, desde 1984, percorrendo 
inicialmente pela Educação Básica (na Educação Infantil e no Ensino 
Fundamental I) em Escolas, posteriormente lecionando em formações 
docentes em Organizações Governamentais e Não Governamentais 
(ONG’s e OSCIPs), e a partir de 1990, lecionando os fundamentos e 
metodologias de ensino, na Formação Docente Inicial e Pós-Graduação, 
no Ensino Superior, em Universidades Públicas e Particulares, em São 
Paulo, Paraná, Ceará, Rondônia e Maranhão. Sou apaixonada pelo que faço 
e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando 
em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a 
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder 
ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez 
que:
OBJETIVO:
para o início do 
desenvolvimento 
de uma nova 
competência;
DEFINIÇÃO:
houver necessidade 
de apresentar um 
novo conceito;
NOTA:
quando necessárias 
observações ou 
complementações 
para o seu 
conhecimento;
IMPORTANTE:
as observações 
escritas tiveram que 
ser priorizadas para 
você;
EXPLICANDO 
MELHOR: 
algo precisa ser 
melhor explicado ou 
detalhado;
VOCÊ SABIA?
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo, se forem 
necessárias;
SAIBA MAIS: 
textos, referências 
bibliográficas 
e links para 
aprofundamento do 
seu conhecimento;
REFLITA:
se houver a 
necessidade de 
chamar a atenção 
sobre algo a ser 
refletido ou discutido;
ACESSE: 
se for preciso acessar 
um ou mais sites 
para fazer download, 
assistir vídeos, ler 
textos, ouvir podcast;
RESUMINDO:
quando for preciso 
fazer um resumo 
acumulativo das 
últimas abordagens;
ATIVIDADES: 
quando alguma 
atividade de 
autoaprendizagem 
for aplicada;
TESTANDO:
quando uma 
competência for 
concluída e questões 
forem explicadas;
SUMÁRIO
Reconhecendo o contato com a realidade de outro: Histórias, culturas 
e Sociedades Africanas (Literatura, Arte, língua e Cultura Africanas e 
Afro-brasileiras) ..........................................................................................................10
Reconhecendo o contato com a realidade de outro e o conceito de 
alteridade ..............................................................................................................................................10
Reconhecendo o contato com a realidade de outro: Histórias, culturas e 
Sociedades Africanas (Literatura, Arte, língua e Cultura Africanas e Afro-
brasileiras) .............................................................................................................................................18
Definindo o Outro: O Negro na Sociedade Brasileira, as Relações 
Raciais, Contribuições da Matriz Africana nas Artes Brasileiras e a 
Resistência Negra no Brasil ...................................................................................25
Relembrando o Contato com a Realidade do Outro: Histórias, culturas 
e Sociedades Ameríndias e os diversos Povos Indígenas do Brasil: 
Culturas Indígenas no Brasil. (Literatura, Arte, língua e Cultura 
Indígenas Brasileiras) ...............................................................................................35
Nomeando o Outro: Os Povos Indígenas na Sociedade Brasileira, 
as Relações Raciais, Contribuições dos Povos Indígenas nas Artes 
Brasileiras e Resistência Indígena no Brasil .................................................. 43
7
UNIDADE
02
Educação das Relações Étnico-Raciais
8
INTRODUÇÃO
Caro aluno, pensar a educação na perspectiva da das relações 
raciais é estar comprometido com um projeto de sociedade, de homem 
e de mundo que contemplem todas as pessoas, buscando a igualdade 
de oportunidades, consideradas as diferenças e necessidades específicas 
necessárias. Considerar que muitas desigualdades e exclusões que se 
constituíram historicamente, só poderão ser mudadas e ressignificadas 
com ações específicas, alterando o curso da história.
Você estudará na Unidade 2 – O Contato com o Outro: Histórias, 
Culturas e Sociedades Africanas, Afro-brasileiras e Povos Indígenas do 
Brasil. Reconhecendo o contato com a realidade de outro, definir o Outro 
e nomear o Outro.
Preparado? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste 
universo!
Educação das Relações Étnico-Raciais
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OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2 - O Contato com o Outro: 
Histórias, Culturas e Sociedades Africanas, Afro-brasileiras e Povos 
Indígenas do Brasil. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento 
das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de 
estudos:
1. Reconhecer o contato com a realidade de outro: Histórias, culturas 
e Sociedades Africanas (Literatura, Arte, língua e Cultura Africanas 
e Afro-brasileiras).
2. Definir o Outro: O Negro na Sociedade Brasileira, as Relações 
Raciais, Contribuições da Matriz Africana nas Artes Brasileiras e 
Resistência Negra no Brasil. 
3. Entender o Contato com a Realidade do Outro: Histórias, culturas 
e Sociedades Ameríndias e os diversos Povos Indígenas do Brasil: 
Culturas Indígenas no Brasil. (Literatura, Arte, língua e Cultura 
Indígenas Brasileiras). 
4. Compreender o Outro: Os Povos Indígenas na Sociedade Brasileira, 
as Relações Raciais, Contribuições dos Povos Indígenas nas Artes 
Brasileiras e Resistência Indígena no Brasil.
Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao 
conhecimento? Ao trabalho!Você caminhará pelo maravilhoso percurso 
dos Contos de Fadas Tradicionais e Renovados, entendendo a importância, 
definição e análise crítica deles.
Educação das Relações Étnico-Raciais
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Reconhecendo o contato com a realidade 
de outro: Histórias, culturas e Sociedades 
Africanas (Literatura, Arte, língua e Cultura 
Africanas e Afro-brasileiras)
Ao término deste capítulo você será capaz de reconhecer o contato 
com a realidade de outro: histórias, culturas e sociedades africanas 
(literatura, arte, língua e cultura africanas e afro-brasileiras), bem como 
você será capaz de definir o outro: o negro na sociedade brasileira, as 
relações raciais, contribuições da matriz africana nas artes brasileiras e 
resistência negra no brasil. em seguida, você será capaz de relembrar 
o contato com a realidade do outro: histórias, culturas e sociedades 
ameríndias e os diversos povos indígenas do Brasil: culturas indígenas 
no brasil. (literatura, arte, língua e cultura indígenas brasileiras).Por último, 
você será capaz nomear o Outro: Os Povos Indígenas na Sociedade 
Brasileira, as Relações Raciais, Contribuições dos Povos Indígenas nas 
Artes Brasileiras e Resistência Indígena no Brasil. E então? Motivado para 
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!
Reconhecendo o contato com a realidade 
de outro e o conceito de alteridade
Você reconhecerá o contato com a realidade do outro: histórias, 
culturas e sociedades africanas (literatura, arte, língua e cultura africanas 
e afro-brasileiras), constituirá um percurso afirmativo para o entendimento 
de nossa sociedade profundamente marcada pela presença da matriz 
africana e afro-brasileira.
Ao reconhecer este contato, você já afirma o quão diferente e 
dispare é com relação a sua realidade. E fica uma indagação: Como você 
estabelece suas relações com o Outro, sendo você alguém que recebe 
sentidos da sua realidade social, e, ao mesmo tempo produz sentidos? 
Reflita quais são as relações que você costumaestabelecer com o outro, 
aquele sujeito bem distinto de você. E como a cultura que você pertence 
vê o entendimento do outro? É difícil?
Educação das Relações Étnico-Raciais
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O certo é que muitas pessoas reclamam, e não são incomuns, as 
dificuldades de lidar com a existência do outro. Que tipos de dificuldades 
são essas?
Dificuldades essas que abrangem a compreensão que 
se tem do que se denomina como outro, a gama de 
especificidades das relações que estabelecemos com 
o outro (por vezes, ausente ou negado em sua condição 
de sujeito) e o conjunto de ideias, noções e significados 
subjacentes à percepção imediata que temos do outro.
(SANTOS, 1999, p. 375)
Você já tem conhecimento de que a nossa realidade brasileira é 
constituída por inúmeros grupos formados por diferentes culturas? Saiba 
que não são todos os grupos submetidos às mesmas relações de poder. 
Devem ser respeitados, mesmo que intensamente desiguais da cultura 
em que você cresceu e vive. Estas matrizes de formação do povo brasileiro 
foram fazendo seus encontros, com muitos conflitos, estabelecendo 
relações desiguais de poder e situados em três momentos da história do 
Brasil - a colonização, a construção do Brasil nação e a República.
Isso estruturou no Brasil um processo de construção das 
representações da alteridade tentando apreender a dinâmica do desejo e 
do medo da diferença que estão na base da construção do outro e de si 
mesmo. Significando que as nossas diferenças foram dificultando contatos 
entre as nossas alteridades e estabelecendo e aprofundando hostilidades. 
Para um melhor entendimento, é importante lembrar que alteridade 
é aquela posição, circunstância ou ainda a qualidade que é constituída por 
meio de relações de diferenças, de contrastes e de distinções. “Alteridade 
é produto de duplo processo de construção e de exclusão social que, 
indissoluvelmente ligados como os dois lados de uma folha, mantêm sua 
unidade por meio de um sistema de representações”. (JODELET, 1999, p. 
47) É bom lembrar que a alteridade só pode ser analisada tendo como 
pano de fundo as condições que estruturam as relações sociais, em um 
contexto plural.
Devemos ficar atentos, na sala de aula, sobre as injustas 
representações que alimentamos entre os alunos ou nos calamos às elas. 
Elas podem ser produtoras de exclusões sociais. E no caso particular das 
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escolas, podem produzir evasões das crianças. As nossas dificuldades de 
conviver com as diferenças, as alteridades, aquilo que o outro é diferente 
de mim, pode e deve ser entendido a partir das necessidades coletivas 
de tão distintos sujeitos que somos, nós os brasileiros, entre nós mesmos. 
E devem ser solucionadas!
É necessário que cada professor reflita sobre o seu papel social e 
procure distinguir a alteridade de fora (aquilo que é distante, é exótico como 
determinadas comidas de alguns povos em relação aos outros povos de 
outras culturas). E aquela outra, a alteridade de dentro (aquelas diferenças 
que surgem dentro de uma mesma cultura ou grupo social).
A alteridade anda junto com a noção de ipseidade que é aquele 
caráter que perpetra com que o indivíduo seja ele mesmo e distinto de 
todos os outros; remetendo a uma distinção antropologicamente originária 
e fundamental — a distinção entre o mesmo e o outro. Estabelecendo, 
assim, uma relação de identidade em cada indivíduo.
Desde crianças estamos construindo uma noção de alteridade, 
apoiados no outro, assim fomos elaborando as nossas identidades, 
assentadas em relações intersubjetivas. E é a intersubjetividade que 
consente a existência do ato significante, ao mesmo tempo em que, 
de outro lado, previne o totalitarismo de interpretações simbólicas que 
se propõem únicas, ou capazes de exaurir o objeto com a versão que 
propõem. Você precisa aceitar a diferença do ‘outro’.
É necessário ficar atento as adversidades trazidas pelo 
individualismo, que ainda que traga responsabilidade, autonomia e 
liberdade, reduz a vida social ao isolamento, solidão, discórdia e angústia. 
Considera-se que uma saída apreciável poderá ser a compreensão da 
ética da alteridade em aliança com o lazer. Já que a ética da alteridade 
é ferramenta para transmutar e transgredir todas as amarras impostas 
pela sociedade, da moral estabelecida e das culturas fechadas em si 
mesmas. Isso acontecerá pelo fato de a Ética da Alteridade consentir na 
entrada em mundos ‘outros’, e dos ‘outros’, com suas distintas belezas 
poéticas, abrindo-se a encontrar novos modos de viver e novas narrativas, 
encantando-se com elas ou pelo menos aprendendo a respeitá-las.
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O que deve ser evitado na escola, nas ações educativas com os tão 
distintos educandos é pensar que:
o outro não significa ou pouco significa para nós. Pois ele 
não faz parte de nós, é um estranho, um alienígena. Ele é 
o índio, o negro, a mulher, o excluído. Eu o explico, eu o 
domino, eu o exploro. E mais: sou eu que decido quando 
há dominação, quando há compreensão, quando há 
exploração. (GUARESCHI, 1999, p.159-160)
E, já outro autor, Moreira (1982) considera que a ética da alteridade 
é a ilimitada responsabilidade que cada um de nós possui com relação 
à vida do ‘outro’, permitindo que as nossas diferenças possam dialogar. 
Porém, é necessário abrir as conexões para permitir que o contato com o 
outro não seja praticado com a destituição da singularidade, da identidade, 
da verdade e de tudo o que o ‘outro’ é com relação as minhas diferenças. 
O que é necessário evitar é isso: Eu convido-o, eu dou-lhe as boas-vindas 
ao meu lar, sob a condição de que você se adapte às leis e normas do 
meu território, de acordo com a minha linguagem, tradição, memória etc.
Os educadores deverão fugir de tendências que se apoiam em 
representações do Povo Brasileiro, e suas matrizes africana, afro-brasileira 
e indígena, montadas em depreciá-los e deturpar suas diferenças. 
Rompendo com antigas visões, datadas por discursos racistas, voltados 
para a supremacia branca em um país profundamente tocado pelas 
marcas destas matrizes, juntamente com a matriz europeia, nem toda 
ela 100% branca. É interessante refletir, aprender e rebater racismos e 
preconceitos.
As sucessivas gerações formadas por uma pedagogia 
higienizada produziram o indivíduo urbano de nosso 
tempo. Indivíduo física e sexualmente obcecado pelo seu 
corpo; moral e sentimentalmente centrado em sua dor e 
seu prazer; socialmente racista e burguês em suas crenças 
e condutas; finalmente politicamente convicto de que a 
disciplina regressiva de sua vida depende a grandeza e o 
progresso do Estado brasileiro. (COSTA, 1983, p. 214)
As relações sociais nos influenciam, em conjunto com a nossa 
vontade de conhecer o mundo, ao mesmo tempo em que nos 
reconhecemos. Lidar com as diferenças envolvem desejo. Nosso desejo 
Educação das Relações Étnico-Raciais
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é que vai definir os modos como a nossa sociedade opera com a intrigada 
rede de relações humanas, que permite tanto a construção dos saberes 
como dos sentidos, eles próprios são atividades cruciais para sustentar 
a formação de identidades, sentimentos de pertença e o sentido de 
comunidade. Isso acontece ao Ego (eu) e ao Alter (outro). 
Duveen (1998) defende que o mundo em que as novas gerações 
acessam é articulado ao redor de diferenças e valorizações delas, 
agindo para estruturar e influenciar as representações que eles tenham 
da realidade e dou ‘outro’. Tais representações sobre como perceber a 
realidade e o ‘outro’ aparecem antes da consolidação de suas identidades, 
tais identidades são apoiadas em tais representações. A identidade seria 
uma luta para conseguir reconhecimento e necessita da construção da 
alteridade. Então funcionaria assim: A identidade da criança e seu eu, 
é entendida como diferenciação do ‘outro’, representa a construção da 
diferença. Sendo quea relação com o outro acontece por coação (forçada, 
hierarquizada, um é superior ao outro) ou pela cooperação (construção 
coletiva, interação, a diferença é vista como produtiva para a criança) 
(DUVEEN, 1998). Por tudo isso é necessário:
Olhar o rosto do outro e ter o rosto do outro como 
referência significa cuidar e considerar o alter (outro) 
como diferente do mesmo. Daí o termo Alteridade. Cuidar 
do outro, ter infinita responsabilidade para com o outro, é 
fugir da pretensão do ‘mesmo’ e abrir-se para a revelação 
do outro, para a manifestação do outro, para a expressão 
do outro e, portanto, escapar das redes de dominação. 
É, igualmente, aceitar o diferente e ir ao encontro dele. E 
ter como princípio ético o encontro com aquele que não 
sou eu, em uma situação sempre de liberdade e diálogo. 
(MOREIRA; JUNIOR,2018, p.29)
Veja, dependendo do contexto em que você está inserido vai surgir 
uma demanda relacionada à sua identidade. O que não significa que 
você vá realizar tal esperada demanda. Você poderá agir, em suas tarefas 
cotidianas, afirmando-a ou contrariando-a. Isso significa que os rituais 
sociais, presentes na sociedade, servem para reatualizar uma identidade 
pressuposta, ou seja, já inscrita no contexto em que você vive. Assim, 
acontece nas festas. E que solicita que você aceite as prescrições das 
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15
condutas corretas, reproduzindo as ações determinadas no seio da sua 
realidade social.
O que acontece é que, aparentemente, a identidade de uma 
pessoa pode parecer tão intrínseca, tão grudada a pele da pessoa que 
nem existem outras formas de identificação, a posição de mim (o eu ser-
posto) me identifica, discriminando-me como dotado de certos atributos 
que me dão uma identidade considerada formalmente como atemporal. 
Mas não é assim tão natural! A identidade é cultural e social.
Quando você está inserido nas suas relações sociais com o ‘outro’, 
o que ocorre é que você se representa, e tal representação adota um 
sentido tríplice: 1) Você se representa 2) ao se representar, exerce papéis 
relacionados aos condicionamentos (por exemplo, você é vizinha dos 
seus vizinhos, e tal representação costuma ocultar outros elementos que 
constituem a sua totalidade) e 3) à medida que você se representa, repõe 
a sua identidade pressuposta (implícita a você).
Sendo assim, sua identidade é constituída por muitas representações 
que você faz de si mesmo, que repomos daquelas representações que 
nos são esperados e pelas representações dos papéis a que estamos 
determinados. A identidade nunca é estática, sempre ocorrendo no seu 
próprio processo de produção. Funciona assim: Ser não estático é! Ser é 
Estar Sendo! Enfim, identidade é movimento. Identidade é metamorfose. 
E sermos um e outro para que cheguemos a ser um, numa infindável 
transformação.
Todo educador deve ficar atento a necessária tarefa de 
apreender os diversos patamares que se estabelecem nas 
relações com o outro, os diferentes graus de proximidade 
desse outro numa realidade social. Aquele que não é o 
mesmo que ‘nós’ pode ser apenas diferente, mas próximo, 
ou constituir-se como um alter em ‘sua forma mais extrema 
e alienante’ como é no caso do racismo e, certamente, de 
todas as formas de exclusão social. (SANTOS, 1999, p. 377)
Os Educadores devem sempre estar atentos a relação entre o ego 
(eu) e o alter (outro) e que demanda que tais educadores fiquem atentos 
e sejam receptivos as dessemelhantes formas de sociabilidades fora da 
Educação das Relações Étnico-Raciais
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escola, de dentro da escola, entendendo e permitindo as diversidades 
de manifestações culturais, respeitando as sociedades em que os 
educadores vivem e partindo destas realidades para conduzir seus 
aprendizados. Respeitem as diferenças! Já que são as pertenças grupais 
que sustentam os processos simbólicos e materiais responsáveis pela 
construção da alteridade. Disso decorre a necessidade de se estudar a 
alteridade sempre levando em consideração os níveis interpessoais e 
intergrupais. (SANTOS, 1999, p. 376)
Tais construções de diferenças, que não devem ser menosprezadas, 
foram elaboradas, historicamente, têm como alicerce projetos políticos, 
econômicos, sociais e culturais. Muitas vezes, interagimos ou nos negamos 
a interagir com o outro, a partir das representações errôneas que temos 
sobre eles. Perdemos bons encontros!
Estas representações vieram de visões hegemônicas, produzidas 
pelos colonizadores, irreais, injustas, racistas e que precisam ser evitadas 
pelos educadores. A construção da alteridade e do mesmo se move ao 
compasso das conjunturas históricas. Somos histórica e culturalmente 
constituídos. Submetidos e submetemos as novas gerações a um 
trabalho cognitivo e afetivo constante de construção e reconstrução das 
representações expressando relações de poder desiguais, conflitos de 
interesse e valores vigentes a cada época.
Cada educador, no seu cotidiano dentro da escola, precisa refletir 
sobre a necessidade de reconhecimento do outro como um ser de 
desejos, de projetos e perspectivas próprias. “O outro não se esgota no 
conjunto de significados construídos pelo eu”.(SANTOS, 1999, p. 378) 
Isso significa que por mais que um educador seja autoritário, só veja o 
mundo pela sua própria perspectiva, expressando-se sob os olhos de sua 
própria realidade social, classe social e as representações historicamente 
construídas, repletas de preconceitos, nada impedira que o alter (outro) 
seja ele próprio, realize sua própria resistência. Isso fica evidente quando 
se trata de definir o contato com o Outro, percorrendo as Histórias, 
Culturas e Sociedades Africanas, Afro-brasileiras, Ameríndias e os Povos 
Indígenas do Brasil.
Educação das Relações Étnico-Raciais
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Não podemos contestar que a inserção predominante do negro 
na sociedade de classe se deu primordialmente como trabalhador 
analfabeto, estigmatizado pelo legado da escravidão, com pouca ou 
nenhuma qualificação. Isso criou uma representação dos negros brasileiros 
repletas de preconceitos. Há uma exceção historicamente comprovada, 
configurada por outro modo de inserção dos negros, como pertencentes 
a comunidades negras rurais que, na transição do trabalho escravo para 
o trabalho livre, estranharam o modelo e contestatoriamente procederam 
a sua inserção como grupo social e culturalmente diferenciado. Já com 
relação aos indígenas, a inserção do índio, nesta mesma sociedade de 
classe aconteceu de um modo diferente. Os modos de inserção dos 
diversos Povos Indígenas foram como grupo etnicamente diferenciado, 
de fora para dentro e/ou de dentro para fora. A inserção de índios como 
trabalhadores, embora ocorrendo, não se constituiu em tendência vultosa.
Aos ‘outros’, distanciados dos seus modos de viver, sentir, pensar, 
comer, dançar, amar, além do seu estranhamento com tantas diferenças, 
não poderão ser oferecidos o racismo em suas mais diferentes (todas 
dolorosas) demonstrações. O racismo é uma forma de etnocentrismo, 
todavia, associado mais diretamente à visão biologizada do evolucionismo 
social. O etnocentrismo e o racismo desumanizam, inferiorizam 
(BANDEIRA, 2003, p. 144). É bastante descabido produzir expressões de 
racismo em sala de aula ou permitir que as crianças o façam. 
Nenhuma explicação etnocêntrica, ou seja, que tenta produzir 
um sentido de verdade para algo inverídico, afirmando que um povo é 
superior a outro. Já que não é! Não configura verdade científica qualquer 
supremacia racial!
O racismo comporta, porém, uma dimensão sutil de 
repulsão que o etnocentrismo generalista necessariamente 
não comporta. Embora o termo étnico índio assim como 
o termo negro tenham sido socialmente cunhados para 
apagar diferenças entre os diversos povos americanos 
e africanos, tornando-os um classificador de fração de 
classe, o índio concreto é de modo geral associado a uma 
etnia particular,sua pertença a um povo é reconhecida. 
(BANDEIRA, 2003, p. 144)
Educação das Relações Étnico-Raciais
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Então, no contato com os ‘outros’ é necessário conhecê-los em 
tudo o que são de verdade. Foram povos africanos de países diferentes, 
culturas distintas e línguas diferenciadas que aportaram, forçadamente 
aqui, naqueles navios. Foram e são Povos Originários diversificados em 
línguas, em suas culturas que foram reduzidos a denominação ‘índios’ 
pelo fato de algum colonizador julgar que havia chegado à Índia, ao 
chegar às terras brasileiras. É necessário ir em busca do reconhecimento 
da diferença étnica, potente o suficiente para permitir o verdadeiro 
reconhecimento de pertencimento cultural de um determinado povo. O 
termo caboclo se aproxima do ponto vista social, cultural e político do 
termo negro. Ambos desenraizam, despojam e subtraem dos atores 
sociais concretos tradições, valores e práticas de suas culturas ancestrais.
Reconhecendo o contato com a realidade 
de outro: Histórias, culturas e Sociedades 
Africanas (Literatura, Arte, língua e 
Cultura Africanas e Afro-brasileiras)
Você reconhecerá, ao final da leitura, o contato com a realidade de 
outro: histórias, culturas e sociedades africanas, bem como a literatura, 
arte, língua e cultura africanas e afro-brasileiras. tal contato com tão vasta 
contribuição desta matriz formadora do povo brasileiro será um mergulho 
necessário e salutar na sua formação docente.
É importante refletir que nas políticas educacionais voltadas para 
realizar integração democrática das diversidades, algumas deverão 
contemplar problemas comuns à questão do negro e à questão do índio, 
outras deverão contemplar especificidades próprias de cada grupo. 
Isso será decisivo para a formação de novas mentalidades, assentadas 
na realidade étnico-cultural brasileira e com um efeito reparador às 
contribuições do negro africano (vindos de diversas realidades e regiões 
do continente africano). As práticas e os valores culturais dos negros foram 
incorporados como produção nacional popular, reduzindo a diversidade 
dos afro-brasileiros à diferença racial, socialmente estigmatizada.
Educação das Relações Étnico-Raciais
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É inegável a herança africana está em suas marcas firmes e vivas 
nos modos de sentir, pensar, sonhar e agir de certas nações do hemisfério 
ocidental(SILVERIO, 2013, p.7). Isso é perceptível nos Estados Unidos, 
Brasil, Caribe, entre outras partes em que se deu a diáspora africana, 
lugares onde os africanos vieram viver e permaneceram escravizados. É 
certo afirmar que tais marcas culturais africanas influenciaram as culturas 
de países como o Brasil e fundamentaram fortemente as identidades 
culturais que circulam por este país, pós-chegada do colonizador 
português.
O século XX foi marcado pela busca de significação histórica desta 
grande influência cultural das culturas africanas, entendidas através da 
história africana. Passou a ser um erro histórico narrar a nossa história com 
olhos voltados aos nossos preconceitos, frutos do etnocentrismo, não 
dedicando espaço a história verdadeira destes encontros entre a África 
e o Brasil. 
Diante disso, a história da áfrica comprova que o continente 
africano foi o berço de inúmeras civilizações. A Civilização Egípcia, 
alguns esquecem, estava no continente africano. Fora isso, existiram 
pungentes Impérios. Foram abafados, pelos ocidentais, que os africanos 
criaram inúmeras, complexas e originais formas de governo. Algumas 
eram fundamentadas em uma ordem genealógica (clãs e linhagens). 
Atualmente, coexistem governos republicanos e clãs como no Reino de 
Ghana, difíceis de compreensão para os nossos fracassados modelos 
coloniais e imperiais. E existiram formatos governamentais avançados, 
anterior a chegada dos europeus para agir na perversa colonização 
e escravização dos povos africanos, eram os exemplares e notáveis 
processos iniciativos (com a existência de classes de idade), montados 
através de chefias, organizados por diversificadas unidades políticas.
Ganha destaque o Império de poderoso de Aukar ou Império de 
Ghana (século IV)(MELO; BRAGA, 2010). Seus poderes foram contidos 
somente por volta do ano 1011 (século XII) pelos Povos Bérberes (chamados 
de Bárbaros por não se submeterem aso comandos de outros povos). Tais 
povos, os Almorávidas, irão até a Península Ibérica. Já no século IV a.C 
existiam grandes chefias, Estados tradicionais, entre elas configurava a 
Educação das Relações Étnico-Raciais
20
primeira dinastia de Gana. Já as escavações comprovam a existência de 
uma arte cerâmica de Nok (Nigéria), entre os séculos V a.C. ao II século 
d.C., demonstrando o seu apogeu e complexidade (SALUM,1999).
Assim, os importantes impérios de Gana e Mali, entre outros 
existiram lá na África ocidental, no exato momento da Idade Média 
europeia (que vai acabar no século XV). Outros reinos localizados para os 
lados oriental e central africanos (como os Lunda e Luba) realizaram entre 
eles suas disputas entre os séculos XVI e XIX, com seus poderes análogos 
aos estados monárquicos ou imperiais.
Além disso, o reino do kongo desenvolveu suas táticas e 
relacionamentos externos desde o século XIII. Esta ideia de que a 
colonização falsamente difundiu e que descobriu um ‘outro’ mundo 
selvagem, onde só viviam tribos em guerra, nômades, subdesenvolvidos 
são construções a serviço dos interesses europeus na região africana. 
História semelhante é sempre recontada com relação aos povos 
ameríndios, os povos originários e que já viviam na América antes dos 
europeus aportarem aqui. Dizer que tais povos não tinham suas histórias 
para contar são injustas mentiras.
A África tradicional, anterior aos processos de colonização europeia 
e a vinda de povos africanos ao Brasil, era diversificada e independente, 
carregando suas distinções sociais, econômicas e culturais, pelo vasto 
território. No bojo do projeto capitalista, organizado pelos países que 
colonizaram, forçadamente, a África, estava um projeto de desqualificar 
seus saberes, suas ciências, seus conhecimentos, suas culturas e suas 
línguas. E difundindo narrativas que os qualificam como lugares inóspitos, 
tórridos, improdutivos, repletos de povos vivendo como bárbaros, sem 
cultura, sem história própria e incivilizados. Isso tudo foi alimentado 
pelo discurso do etnocentrismo, do século XIX. É necessário, pois, ver 
de que História e de que Civilização se trata. Isso tudo a favor de um 
projeto imperialista, liberal e colonial, para fazer engrenar o capitalismo, 
montados nas ideias veiculadas na Era Moderna, no século XVI, com as 
grandes invenções e as grandes navegações.
Os Povos Africanos que vieram viver no Brasil Colônia, na condição 
de escravizados, eram de diversas origens. Uma parte deles vieram da 
Educação das Relações Étnico-Raciais
21
África Ocidental. Eram povos sudaneses e/ou iorubas (nagôs, ketus, 
egbás); gegês (ewês, fons); fanti-ashanti (genericamente conhecidos como 
mina); povos islamizados (mandingas, haussas, peuls). (SILVÉRIO, 2013, p. 
13). O autor afirma ainda que, outros povos africanos que vieram para o 
Brasil eram originários da África Central, foram os Povos Bantos, eram os 
bakongos, mbundo, ovimbundos, bawoyo, wili (isto é, congos, angolas, 
benguelas, cabindas e loangos). Também vieram ao Brasil, africanos 
provenientes da África Oriental, eram chamados de moçambiques.
Eles chegaram, foram instalados nesta condição de escravizados 
e foram imprimindo as suas marcas culturais, constituindo a gênese das 
culturas negras brasileiras, apesar da destituição ampla subjetiva e social 
impostas pela escravização. Não eram estrangeiros fugindo de alguma 
calamidade, guerra ou fome. Eram pessoas obrigadas a sair de suas casas, 
dos seus países, abandonarem suas línguas, na condição degradante de 
escravizados.
Os povos sudaneses e/ou iorubas deixaram suas marcas culturais e 
influenciarama história a partir da Bahia, pelo Norte e Nordeste do Brasil. 
Eram suas características:
o culto aos orixás, a realização de cerimônias de iniciação, 
a prática de ritos mágicos, música e dança/rituais, a 
elaboração de esculturas em madeira, em metais e outros 
trabalhos manuais como, por exemplo, instrumentos 
musicais. A cultura iorubana é apontada ainda como fonte 
de influência ao nosso léxico. (SILVÉRIO, 2013, p. 13)
Foram mais de quatro milhões de negro-africanos para alguns 
estudiosos e para outros eram mais ainda, que chegaram no Brasil, ao 
longo de bem mais de três séculos consecutivos. No decorrer do século 
XVI, a Bahia configurava o maior núcleo português. Havia trinta e tantos 
engenhos, movidos por 3 ou 4 mil escravos negros e 8 mil índios. Nessa 
proporção, o componente negro‐africano iria aumentar cada vez mais. 
Já os Povos Africanos Bantos, foram instalados nos estados do 
Rio de Janeiro e Minas Gerais e eles ficaram notabilizados pelo fato de 
uma das suas línguas, quimbundo ser incorporada ao nosso português 
do Brasil. E ainda por festas: coroação dos reis, danças que emulam a 
Educação das Relações Étnico-Raciais
22
caça e a guerra (carnaval), festas do boi, folclore;esculturas em madeira, 
confecção de objetos domésticos etc.
Além destes aspectos culturais e linguísticos apontados acima, 
ressaltando o fato de sermos o povo brasileiro que somos, carregando 
elementos constitutivos de tais culturas africanas, os africanos que vieram 
morar no Brasil, nos longos e terríveis tempos da Colonização Portuguesa, 
tiveram seus protagonismos na dimensão sociopolítica, e não religiosa e 
messiânica, das revoltas do século XIX. Outro aspecto importante das 
novas pesquisas é a identificação da forte presença de afro-brasileiros 
nesses movimentos.
Os descendentes destes africanos e nascidos no Brasil comprovam 
que juntos aos escravizados não fugiram das lutas em prol das necessárias 
e justas mudanças sociais na história do Brasil. Seus descendentes, os 
afrodescendentes, os afro-brasileiros, o povo negro brasileiro organizado 
em seus movimentos prosseguem nas lutas. Além disso, é inegável 
que os africanos e seus descendentes desenvolveram no Brasil forte 
farmacopeia, com seus fazeres e saberes tradicionais, junto à manipulação 
de plantas medicinais e condimentares em comunidades quilombolas e/
ou afro-brasileiras como um patrimônio cultural, ehoje se avalia seu uso, 
e importância, na atenção básica à saúde.
Destacaram-se na literatura algumas importantes mulheres 
negras, entre os séculos XIX e XXI. Maria Firmina dos Reis, maranhense, 
nasceu em 1825, com diversas publicações, entre elas o romance Úrsula. 
Era abolicionista e escreveu o livro A Escrava, em que reforça postura 
antiescravista da personagem Maria. E foi compositora do hino da abolição 
da Escravatura. 
HINO À LIBERDADE DOS ESCRAVOS
Autoria de Maria Firmina dos Reis
Salve Pátria do Progresso!
Salve! Salve Deus a Igualdade!
Salve! Salve o Sol que raiou hoje,
Difundindo a Liberdade!
Educação das Relações Étnico-Raciais
23
Quebrou-se enfim a cadeia
Da nefanda Escravidão!
Aqueles que antes oprimias,
Hoje terás como irmão!
Carolina Maria de Jesus nasceu em 1914 e morreu em 1977, afirmava 
que nos momentos em que passava fome, em vez de xingar alguém, 
preferia escrever. Lá na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, 
onde era catadora e costumava narrar sobre sua realidade em papéis 
encontrados no lixo. Até que publicou o seu livro Quarto de Despejo – 
Diário de uma favelada, em 1960, com narrativas sobre as discriminações 
que as mulheres negras, empobrecidas e faveladas passavam. Ainda 
foram lançadas outras obras dela: Casa de Alvenaria, Pedaços de fome e 
Provérbios. Além de obras póstumas: Diário de Bitita (1977), Um Brasil para 
Brasileiros (1982), Meu Estranho Diário (1996), Antologia Pessoal (1996), 
Onde Estaes Felicidade (2014), Meu sonho é escrever – Contos inéditos e 
outros escritos (2018).
Entre tantas outras escritoras negras de ontem e hoje, ressalta-
se Conceição Evaristo, Doutora em literatura. Ela começou a publicar 
poemas em 1990 e continua ativa. Ela nasceu em uma favela na 
capital mineira. Escreveu a obra Olhos d’Água (2014), Ponciá Vicêncio 
(2003) e o  Becos da Memória  (2006),  Poemas da Recordação e Outros 
Movimentos (2008). Nesta obra mais recente, Olhos D’água, Conceição 
Evaristo apresenta narrativas, em 15 contos entrelaçados, com histórias 
de mulheres e homens negros e as lutas deles com diversos tipos de 
violência e depreciação sofridos na sociedade. (EVARISTO,2016).
SAIBA MAIS:
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso 
à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: 
Conceição Evaristo – Encontros de Interrogação (2015). 
Depoimento gravado durante o evento Escritora-Leitora, 
em maio de 2015, no Itaú Cultural, em São Paulo/SP. 
Accesse clicando aqui.
Educação das Relações Étnico-Raciais
https://www.youtube.com/watch?v=dHAaZQPIF8I
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Figura 1: Carolina de Jesus autografa seu livro Quarto de Despejo em 1960
Fonte: Wikimedia Commons
RESUMINDO:
Com as suas leituras, até este momento, você reconhecerá 
o contato com a realidade de outro: Histórias, culturas e 
Sociedades Africanas (Literatura, Arte, língua e Cultura 
Africanas e Afro-brasileiras). Na primeira parte, será possível 
reconhecer o contato com a realidade de outro e o conceito 
de alteridade para conseguir entender o ‘outro’ africano, 
em suas diferenças. E na parte final, você será capaz de 
reconhecer o contato com a realidade de outro, através das 
Histórias, culturas e Sociedades Africanas (Literatura, Arte, 
língua e Cultura Africanas e Afro-brasileiras).
Educação das Relações Étnico-Raciais
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Definindo o Outro: O Negro na Sociedade 
Brasileira, as Relações Raciais, 
Contribuições da Matriz Africana nas 
Artes Brasileiras e a Resistência Negra 
no Brasil
Definindo o Outro, os negros na sociedade brasileira, nas relações 
raciais, nas contribuições da matriz africana nas artes brasileiras e na 
resistência negra no Brasil, virão muitos elementos para você definir o 
papel do negro no Brasil, dos tempos coloniais aos dias atuais. 
É inegável o papel gigantesco que os africanos e os afro-brasileiros 
trouxeram e trazem para a formação do povo brasileiro, nas nossas 
história e cultura. Tratando da história do Brasil, a população negra, seja 
em condição de escravizado, chegando ao Brasil, tendo partindo do 
continente africano e sendo provenientes de vários países, passando por 
longos períodos sob a condição indigna de escravizados, lutando pela 
libertação. Ou seja, a história de seus descendentes na mesma condição, 
escravizado ou libertos, empreendendo as suas lutas por liberdade e 
direitos, batalhas diárias até hoje. Lutaram e lutam pelo reconhecimento 
de seus direitos, negados pelo longo período em que durou a escravidão 
no Brasil.
A África, no período colonial brasileiro, possuía inúmeras línguas, 
como ainda continuam existindo. Comparados aos indígenas brasileiros, 
os autóctones, os que já habitavam aqui, anteriores a chegada dos 
portugueses, pode-se até entender que os africanos seriam mais 
homogêneos no plano da cultura, os africanos variavam também 
largamente nessa esfera. Tudo isso fazia com que a uniformidade racial 
não correspondesse a uma unidade linguístico‐cultural. Eram diversas as 
culturas dos africanos!
Os africanos constituíam uma consolidada diversidade linguística 
e cultural. Rapidamente os poderes locais e os que manipulavam o 
tráfico de escravizados consideraram útil aos fins mercantis e para evitar 
planos de fugas, impedirem a concentração de escravos oriundos de 
Educação das Relações Étnico-Raciais
26
uma mesma etnia, nas mesmas propriedades, e até nos mesmos navios 
negreiros, impediu a formação de núcleos solidários que retivessem o 
patrimônio cultural africano.
Sendo que a condição de escravizadosnão os calou completamente, 
ainda que fossem todos obrigados a falar a língua do rei de Portugal, 
conseguiram influenciar com suas línguas, sendo sujeitos participantes da 
criação e diferenciação do nosso português brasileiro. É possível perceber 
que falamos uma língua com muitas diferenciações do português falado 
em Portugal, Português do Brasil. Os africanos trouxeram novas palavras. 
Aquelas vozes submergidas no inconsciente iconográfico 
dessa gente trazida em cativeiro se fazem perceptíveis 
na pronúncia rica em vogais da nossa fala (ri.ti.mo, pi.néu, 
a.di.vo.ga.do), na nossa sintaxe (tendência a não marcar o 
plural do substantivo no sintagma nominal (os menino(s), 
as casa(s)), na dupla negação (não quero não),no emprego 
preferencial pela próclise (eu lhe disse, me dê), mas se 
revelam de maneira inequívoca nas centenas de palavras 
que foram e ainda são apropriadas como linguístico do 
português do Brasil a enriquecerem o imaginário simbólico 
da língua portuguesa.(CASTRO, 2011, p.01)
Tais palavras recebidas dos africanos são faladas demasiadamente, 
nos nossos cotidianos, configurando marcas lexicais que portam 
elementos culturais africanos, repartidos com a sociedade brasileira e 
que transitam,
no âmbito da recreação (samba, capoeira, forró, lundu, 
maculelê), dos instrumentos musicais (berimbau, cuíca, 
agogô, timbau), da culinária (mocotó, moqueca, mungunzá, 
canjica), da religiosidade (candomblé, macumba, 
umbanda), das poéticas orais (os tutus dos acalantos, o 
tindolelê das cantigas de roda), das doenças (caxumba, 
tunga), da flora (dendê, maxixe, jiló, andu, moranga), da 
fauna (camundongo, minhoca, caçote, marimbondo), 
dos usos e costumes (cochilo, muamba, catimba), dos 
ornamentos (miçanga, balangandã), das vestes (tanga, 
sunga, canga), da habitação (cafofo, moquiço), da família 
(caçula, babá), do corpo humano (bunda, corcunda, 
banguela, capenga), dos objetos fabricados (caçamba, 
tipóia, moringa), das relações pessoais de carinho (xodó, 
dengo, cafuné), dos insultos (sacana, xibungo, lelé), do 
Educação das Relações Étnico-Raciais
27
mando (bamba, capanga), do comércio (quitanda, bufunfa, 
muamba, maracutaia).(CASTRO, 2011, p.01)
Trazido ao Brasil forçado, construindo o país, sendo que a luta mais 
árdua do negro africano e de seus descendentes brasileiros foi, ainda é, a 
conquista de um lugar e de um papel de participante legítimo na sociedade 
nacional. Teve que aprender a língua falada no brasil. Dominou-a, não só 
a refez, emprestando singularidade ao português do Brasil, mas também 
possibilitou sua difusão por todo o território, uma vez que nas outras áreas 
se falava principalmente a língua dos índios, o tupi‐guarani.
Um número imenso de africanos foi, forçadamente, trazido ao 
Brasil. Calculo que o Brasil, no seu fazimento, gastou cerca de 12 milhões 
de negros, desgastados como a principal força de trabalho de tudo o 
que se produziu aqui e de tudo que aqui se edificou. Não permaneceram 
sem resistência ao sistema colonizador e escravagista que os oprimiu por 
séculos. Ao fim do período colonial, constituía uma das maiores massas 
negras do mundo moderno. Sua abolição, a mais tardia da história, foi a 
causa principal da queda do Império e da proclamação da República.
Esta mercantilização dos corpos dos africanos, pelos países da 
diáspora africana encontrou muitas resistências e insurreições. 
Na década de 1570, na Bahia, surgiram os focos iniciais 
de resistência de escravizados. Estes criaram o primeiro 
quilombo de que se tem notícia, que foi destruído em 
1575. Neste período, os engenhos espalhados pelo Brasil 
contavam com cerca de 15 mil escravizados. Alguns 
estudos mostram que no final desse século começou 
a se formar o maior e mais organizado quilombo que se 
conhece, Palmares. (MELO; Braga, 2010, p. 65)
Neste Quilombo de Palmares viveram entre 20 a 50 mil pessoas, 
sua organização era através de um sistema político próprio, calcado na 
tradição dos povos africanos. “Apoiava-se numa economia de subsistência 
baseada na caça, na pesca, na agricultura e no artesanato”. (MELO; BRAGA, 
2010, p. 65) 
O grande nome, figura heroica e exemplo de liderança e resistência 
foi Zumbi dos Palmares, foi a liderança do mais famoso quilombo da história 
do Brasil, o Quilombo dos Palmares, notabilizado como um dos capitais 
Educação das Relações Étnico-Raciais
28
nomes da resistência negra contra escravidão. O dia 20 de novembro 
tornou-se o Dia Nacional da Consciência Negra em sua homenagem, pois 
nessa data ele foi morto por seus captores. 
Diferenciando-se de seus precursores, Zumbi não almejava 
negociatas suspeitas com os brancos. Ele substituiu a estratégia de 
defesa passiva por outra ofensiva, organizando ataques-surpresa a 
engenhos, libertando escravizados e apoderando-se de armas, munição 
e suprimentos. Somente em 1695 é que Zumbi foi atacado e morto. Sua 
cabeça foi cortada e exposta em praça pública para que cessassem os 
boatos de que ele era indestrutível.
Caso você não conheça esta história de resistência negra no Brasil, 
você poderá desconfiar da existência de tantas lutas, do longo processo 
de resistência contra os governos coloniais brasileiros. Isso acontece pelo 
fato das histórias dos africanos e afro-brasileiros serem desconhecidas. 
Eram e são poucos os autores que têm retratado a história de participação 
efetiva dos escravizados africanos no processo de formação do povo 
brasileiro e da real herança cultural que nos deixaram.
Serem reconhecidos nas suas histórias e culturas africanas e afro-
brasileiras configurou campos de lutas dos afro-brasileiros, do povo negro 
brasileiro em seus combates, nos movimentos negros. Isso foi trazendo 
avanços, como marcos legais que traziam esta possibilidade e exigência 
para dentro das escolas, de suas histórias e culturas (lei 10.639/2003 e 11. 
11.645/2008).
Como frutos deste processo intenso de reinvindicações dos 
movimentos organizados dos negros brasileiros, foi possível realizar uma 
revisão histórica com relação à contribuição negro-africana em todos 
os aspectos da vida social, cultural, política e econômica na sociedade 
brasileira). Isso configurou uma oportunidade ímpar na história da educação 
brasileira! As crianças afro-brasileiras, bem como qualquer outra criança, 
começaram a contar com professores mais bem preparados para tratar de 
temas como as culturas africanas, nas atividades escolares. Isso começou 
a fornecer referências identitárias positivas aos descendentes dos negros 
africanos e que vivem no Brasil.
Educação das Relações Étnico-Raciais
29
Hoje já existem comprovações cientificas de que a raça humana 
surgiu na África. Isso quer dizer que somos originalmente africanos. 
Todos os seres humanos. Voltando os olhos para a História da África, é 
interessante perceber que na cultura africana tudo é ‘História’. 
A grande História da vida compreende a História da terra 
e das Águas (geografia) a História dos vegetais (botânica 
e farmacopéia), a História dos ‘Filhos do seio da Terra’ 
(mineralogia e metais,) a História dos astros (astronomia, 
astrologia), a História das águas, e assim por diante. [...] 
Por exemplo, o mesmo velho conhecerá não apenas a 
ciência das plantas (as propriedades boas e más de cada 
planta), mas também ‘as ciências da terra’ (as propriedades 
agrícolas ou medicinais dos diferentes tipos de solo), a 
ciência das águas, astronomia, cosmogonia, psicologia, 
etc. (BÂ, 1982, p. 195)
Tais ciências africanas, profundamente ligadas a vida, com os seus 
conhecimentos abertos a uma utilização prática. E, ainda, as ciências 
‘iniciatórias’ ou ocultas, tão distanciadas do público desconhecedor das 
antigas tradições africanas, bastante vinculadas e integradas a vida trata-
se sempre, para a África tradicional, de uma ciência eminentemente 
prática que consiste em saber como entrar em relação apropriada com 
as forças que sustentamo mundo visível, e que podem ser colocadas a 
serviço da vida. 
Quanto ao negro brasileiro na Sociedade Brasileira, as Relações 
Raciais tensas e preconceituosas que necessitou combater, bem como as 
contribuições desta Matriz Africana e afro-brasileira nas Artes Brasileiras 
e Resistência Negra no Brasil foram inúmeras e precisam ser conhecidas 
pelas crianças nas escolas.
As famílias negras no Brasil colonial, imperial e republicano 
souberam e sabem das consequências de tão longo tempo de construção 
de papéis que carregam pelas futuras gerações de brasileiros as mais 
cruéis discriminações. 
Ser negro é enfrentar uma história de quase quinhentos 
anos de resistência à dor, ao sofrimento físico e moral, à 
sensação de não existir, a prática de ainda não pertencer 
a uma sociedade na qual consagrou tudo o que possuía, 
oferecendo ainda hoje o resto de si mesmo. Ser negro 
Educação das Relações Étnico-Raciais
30
não pode ser resumido a um ‘estado de espírito’, a ‘alma 
branca ou negra’, a aspectos de comportamento que 
determinados brancos elegeram como sendo de negro 
e assim adotá-los como seus.(NASCIMENTO; 1974a, p.76).
Maria Beatriz Nascimento, mulher negra e nordestina, historiadora, 
poetisa, militou ativamente nos movimentos pelos direitos humanos 
de mulheres e negros. Foi assassinada em 1995, quando cursava o seu 
mestrado, em decorrência do apoio que prestou a uma amiga que estava 
sofrendo com uma relação abusiva por parte do companheiro desta 
amiga. Foi ele quem a assassinou. 
Beatriz Nascimento deixou grande contribuição com suas escritas 
e publicações. Foi roteirista, sendo que a produção de sua autoria mais 
reconhecida é o filme e documentário Ôri (1989), em que é documentado 
a trajetória dos movimentos negros brasileiros entre 1977 e 1988. Nesta 
produção é possível entender sobre a corporeidade do negro, as injustas 
vidas dos africanos escravizados e dos afrodescendentes brasileiros, bem 
como o foco na situação desigual, de inferioridade e injusta das mulheres 
negras no Brasil.
SAIBA MAIS:
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o 
acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: 
Vídeo: Trecho curto do Filme Ôri, com roteiro de Maria 
Beatriz Nascimento e dirigido pela cineasta Raquel Gerber. 
Disponível aqui. 
Beatriz Nascimento entendia que na história tradicional do povo negro 
subsistem ainda resquícios das sociedades africanas, além de uma cultura 
forjada no Brasil, e que esta cultura tramada em um processo de dominação, 
é perniciosa e bastante difícil, e que mantém o grupo no lugar onde o poder 
dominante acha que deve estar. Isto é o que eu chamo de ‘Cultura da 
Discriminação’. Ela defendia que era necessário ir além da discussão e da 
visualização do processo de dominação de uma cultura sobre a outra (da 
cultura do dominador colonizador a cultura negra). Recomendando que os 
negros brasileiros deveriam procurar os elementos dentro de nossa cultura 
que estão provocando essa mesma subordinação? Até que ponto a cultura 
Educação das Relações Étnico-Raciais
https://www.youtube.com/watch?v=xKjKGeg-t1s
31
do branco nos domina e até que ponto a nossa própria cultura também está 
interagindo nesse processo de dominação?
Sobre o Negro na Sociedade Brasileira, as Relações Raciais, as 
contribuições da Matriz Africana e a Resistência Negra, Beatriz Nascimento 
questionava os conteúdos ideologicamente dominantes, preconceituosos, 
racistas, repassados, etnocêntricos, quando são falados ou escritos termos 
como aceitação, integração e igualdade. Ela considerava que era bem 
difícil estudar a discriminação racial, usando estes três termos para analisar 
a história do negro brasileiro, em uma sociedade racista, com elemento de 
análise teórica
impregnado de uma cultura em todos os sentidos branca e 
europeizada se faz necessário perguntar-se a si próprio se 
determinados termos correspondem à sua pers¬pectiva, 
se não são somente reflexos do preconceito, repetidos 
automaticamente sem nenhuma preocupação crítica. Ou 
seja, se não estamos somente repetindo os conceitos do 
dominador sem nos perguntarmos se isto corresponde ou 
não à nossa visão das coisas, se estes conceitos são uma 
prática, e caso fossem uma prática se isto é satisfatório 
para o negro. Somos aceitos por quem? Para quê? O que 
muda ser aceito? O que é ser igual? A quem ser igual? 
É possível ser igual? Para que ser igual? (NASCIMENTO, 
1974a, p.68)
Os últimos anos do século XX aos dias atuais serão decisivos para a 
construção de novos conhecimentos sobre o Negro na Sociedade Brasileira 
as Relações Raciais, contribuições da Matriz Africana e Resistência Negra, 
tanto dentro das universidades como fora, na produção acadêmica e as 
artes em geral, na literatura em geral, no cinema, surgiram e continuam 
a surgir muitos teóricos, estudiosos e pensadores. Os apelos de Beatriz 
Nascimento fizeram seus ecos e trouxeram seus resultados.
A todo o momento o preconceito racial é demonstrado 
diante de nós, é sentido. Porém, como se reveste de uma 
certa tolerância, nem sempre é possível percebermos até 
onde a intenção de nos humilhar existiu. De certa forma, 
algumas destas manifestações já foram incorporadas 
como parte nossa. Quando, entretanto, a agressão aflora, 
manifesta-se uma violência incontida por parte do branco, 
e mesmo nestas ocasiões ‘pensamos duas vezes’! antes 
Educação das Relações Étnico-Raciais
32
de reagir, pois, como expus acima, no nosso ‘ego histórico’ 
as mistificações agiram a contento. (NASCIMENTO, 1974b, 
p.42)
Ressalta-se o importante e pioneiro papel desempenhado, na 1.ª 
metade do século XX, pelo escritor, teatrólogo, ativista, militante, Abdias do 
Nascimento, organizador em 1938 do inovador I Congresso Afro-Brasileiro 
(já passados 50 anos da decretação do fim da escravidão no Brasil). Abdias 
do Nascimento criou, em 1944, o extraordinário Teatro Experimental do 
Negro (TEN) para denunciar o preconceito e a discriminação e dar vozes 
aos talentos negros. Essa demanda continua sendo atual.
Abdias Nascimento narra os seus propósitos com o TEN: 
Nosso Teatro seria um laboratório de experimentação 
cultural e artística, cujo trabalho, ação e produção explícita 
e claramente enfrentavam a supremacia cultural elitista-
arianizante das classes dominantes. O TEN existiu como 
um desmascaramento sistemático da hipocrisia racial que 
permeia a nação. Havia e continua vigente uma filosofia 
de relações de raças nos fundamentos da sociedade 
brasileira; paradoxalmente, o nome dessa filosofia é 
‘democracia racial’. ‘Democracia racial’ que é um mero 
disfarce que as classes branco/brancóides utilizam como 
estratagema, sob o qual permanecem desfrutando ad 
aeternum.(NASCIMENTO, 1980, p.68)
Em 1988, a constituição federal vai criminalizar a discriminação racial 
e surgiu a Fundação Cultural Palmares, junto ao Ministério da Cultura, 
realizando extenso e consistente trabalho em prol das artes e culturas 
negras, junto aos afro-brasileiros (MELO; BRAGA, 2010).
Educação das Relações Étnico-Raciais
33
Figura 2: Escultura da Cultura Nok, datada entre o século V a.C ao século IV d.C., Nigéria 
(mais de 2500 anos atrás)
Fonte: Wikimedia Commons
As duas primeiras décadas, do nosso atual século XXI, foram 
vigorosas nas participações e protagonismos dos Negros na Sociedade 
Brasileira, movidos por muitas mobilizações e por resultados configurados 
em marcos legais e políticas Públicas dos governos. As Relações Raciais 
foram debatidas, e, foram oferecidas inúmeras contribuições da Matriz 
Africana, dos afros descendentes, dos afro-brasileiros nas Artes Brasileiras. 
A Resistência Negra no Brasil prossegue forte e com seus resultados, 
apesar das históricas consequências do longo escravismo. Existem 
muitas conquistas por alcançar! Em 2003 foi criada a SEPPIR (Secretaria 
Especial de Política de Promoção da Igualdade Racial) criando um lugar 
de destinode muitas reinvindicações históricas.
Um pouco adiante surgiu o Estatuto da Igualdade racial (2009). As 
comunidades quilombolas começaram a receber maior apoio e serem 
Educação das Relações Étnico-Raciais
34
certificadas pela Fundação Cultural Palmares, em diversos estados 
brasileiros. Sendo que no ano de 2007 mais de 1000 delas foram 
certificadas (MELO, BRAGA, 2010). As culturas dos afro-brasileiros são 
valorizadas.
SAIBA MAIS:
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso 
à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: As 
relações étnico-raciais no Brasil contemporâneo a partir da 
perspectiva da Diáspora Africana. Disponível aqui. 
RESUMINDO:
Ao final da sua leitura, você será capaz de definir o Outro, 
os negros na Sociedade Brasileira, nas Relações Raciais, 
nas Contribuições da Matriz Africana nas Artes Brasileiras e 
na Resistência Negra no Brasil, terá visto muitos elementos 
para você definir o papel do negro, no Brasil, dos tempos 
coloniais aos dias atuais. 
Educação das Relações Étnico-Raciais
https://www.youtube.com/watch?v=LYkObtuCepo
35
Relembrando o Contato com a Realidade 
do Outro: Histórias, culturas e Sociedades 
Ameríndias e os diversos Povos Indígenas 
do Brasil: Culturas Indígenas no Brasil. 
(Literatura, Arte, língua e Cultura 
Indígenas Brasileiras)
Relembrando o contato com a realidade do outro: histórias, culturas 
e sociedades ameríndias e os diversos povos indígenas do Brasil: culturas 
indígenas no Brasil. (literatura, arte, língua e cultura indígenas brasileiras), 
tudo isso fará com você conheça para não mais esquecer a contribuição das 
nossas matrizes indígenas do Brasil e como se encontram hoje.
Conhecer a realidade do ‘Outro’, do sujeito indígena, na história 
do Brasil, requer conhecer para não esquecer! E para aproximar de 
um universo que poderá ser visto como tão distante, ou pelo fato de a 
Amazônia estar longe geograficamente de muitas outras regiões do Brasil 
ou por julgar que os tempos dos indígenas já passaram. A falta do contato 
com a história das diversas culturas indígenas que viveram e vivem nas 
Américas e no Brasil fazem falta aos professores, e, consequentemente 
aos alunos.
Os grupos indígenas que aqui já viviam no litoral brasileiro, e viram 
chegar os primeiros portugueses eram sobretudo povos indígenas de 
tronco tupi que, havendo se instalado uns séculos antes, ainda estavam 
desalojando antigos ocupantes oriundos de outras matrizes culturais. 
Somavam, talvez, 1 milhão de índios, divididos em dezenas de grupos. 
Tais grupos indígenas estavam organizados, um por um, compreendendo 
um conglomerado de várias aldeias de trezentos a 2 mil habitantes. Não 
confundir com todos os povos indígenas que viviam no Brasil do século 
XVI, época da chegada dos colonizadores. 
Esta soma que representa uma vultosa presença populacional 
indígena é somente dos povos que falavam a língua Tupy, esta língua 
que deixou tantos nomes que repetimos sem nem mesmo nos damos 
conta dela. E, ressaltando que só a contagem dos povos de língua Tupy 
Educação das Relações Étnico-Raciais
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no litoral tinha à mesma população que Portugal na mesma época. 
“Apesar da unidade linguística e cultural que permite classificá‐los numa 
sómacroetnia, oposta globalmente aos outros povos designados pelos 
portugueses como tapuias (ou inimigos)”. (RIBEIRO, 1995, p. 32).
O fato é que jamais os grupamentos Tupy conseguiram unificar‐se 
numa organização política que lhes permitisse atuar conjugadamente. 
Isso demonstra o equívoco histórico e cultural da expressão os índios 
brasileiros ou os indígenas brasileiros. A diversidade étnico-cultural é 
histórica e isso já se dava antes da chegada do colonizador. 
Os povos tupy, na escala da evolução cultural, faziam neste momento 
da chegada dos portugueses e por conta própria a sua revolução agrícola, 
ultrapassando assim a condição paleolítica. É faziam por um caminho 
próprio, juntamente com outros povos da floresta tropical que haviam 
domesticado diversas plantas, retirando‐as da condição selvagem para a 
de mantimento de seus roçados. Um exemplo extraordinário é a mandioca, 
porque se tratava de uma planta venenosa a qual eles deviam, não apenas 
cultivar, mas também tratar adequadamente para extrair‐lhe o ácido 
cianídrico, tornando‐a comestível.(RIBEIRO, 1995, p. 31)
Aquelas representações preconceituosas medonhas e racistas 
feitas sobre os índios brasileiros, vestidos como os mesmos trajes, falando 
um português que levam aos risos, são injustas diante da diversidade 
étnico-linguística e cultural, expressa de muitos modos, com tradições 
distintas, quando se fala sobre a história e a cultura indígena, no Brasil.
Com um novo inimigo morando no Brasil, o português colonizador, 
só foi possível aos Povos Tupy conseguiram estruturar efêmeras 
confederações regionais que logo desapareceram. A mais importante 
delas, conhecida como Confederação dos Tamoios, foi ensejada pela 
aliança com os franceses (RIBEIRO, 1995, p. 33), na baía de Guanabara. 
Além dos Povos Tamoios, reuniu, entre 1563 a 1567, os Povos Tupinambá, 
no Rio de Janeiro e os Povos Carijó no planalto paulista, apoiados pelos 
Povos Goitacá e pelos Povos Aimoré da Serra do Mar, que não eram de 
língua Tupy, e sim de Língua jê (um outro trono linguístico que persiste 
ainda hoje no Brasil, em estados como Mato Grosso, Tocantins e na Região 
Sul do Maranhão). Neste momento estavam opostos aos portugueses e 
Educação das Relações Étnico-Raciais
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aos povos indígenas que os apoiavam. E os portugueses, entre eles os 
padres jesuítas manipulam seus defensores:
Nessa guerra inverossímil da Reforma versus a Contra‐
Reforma, dos calvinistas contra os jesuítas, em que 
tanto os franceses como os portugueses combatiam 
com exércitos indígenas de milhares de guerreiros ‐ 4557, 
segundo Léry; 12 mil nos dois lados na batalha final do Rio 
de Janeiro, em 1567, segundo cálculos de Carlos A. Dias 
(1981) ‐, jogava‐se o destino da colonização. E eles nem 
sabiam por que lutavam, simplesmente eram atiçados 
pelos europeus, explorando sua agressividade recíproca. 
Os Tamoios venceram diversas batalhas, destruíram a 
capitania do Espírito Santo e ameaçaram seriamente a 
de São Paulo. Mas foram, afinal, vencidos pelas tropas 
indígenas aliciadas pelos jesuítas. (RIBEIRO, 1995, p. 33)
Aqueles que invadiram as terras foram os colonizadores. É 
interessante que os professores entendam as reais histórias para conseguir 
produzir verdade iras narrativas aos seus alunos. Os portugueses, 
no século XVI, eram muito diferentes dos diversos povos indígenas 
brasileiros. Os povos indígenas que viviam no Brasil eram todos eles 
estruturados em tribos autônomas, autárquicas e não estratificadas em 
classes, o enxame de invasores era a presença local avançada de uma 
vasta e vetusta civilização urbana e classista. (RIBEIRO, 1995, p. 37) Este 
‘outro’, o português, europeu era o atraso, o vinculado aos sistemas de 
governo não democráticos, opressores e racistas, não respeitavam outras 
religiosidades, culturas e costumes. 
Estes portugueses desconheciam a tolerância a diversidade 
étnico-cultural em que viviam os povos indígenas brasileiros. Além 
de estabelecerem conflito e aprofundar alguns já existentes, entre os 
distintos povos indígenas que aqui viviam, trouxeram a obrigatoriedade 
de todos seguirem a língua do rei de Portugal, bem como sua religião, 
mexendo profundamente nas diversas culturas, línguas, cosmologias e 
religiosidade de tantos e distintos povos.
Outro agente poderoso de tal projeto colonizador era o padre 
jesuíta que desconhecia culturas e religiosidades próprias dos povos 
que encontrou aqui no Brasil, a partir do século XVI. Era a Igreja católica, 
Educação das Relações Étnico-Raciais
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com seu braço repressivo, o Santo Ofício. Ouvindo denúncias e calúnias 
na busca de heresias e bestialidades, julgava, condenava, encarcerava eaté queimava vivos os mais ousados.(RIBEIRO, 1995, p. 37) Isso havia sido 
arquitetado ainda no século XV, anterior a chegada de qualquer português 
ao Brasil, e prossegue firme, nestes tempos em que vivemos, no século 
XXI, com outros projetos evangelistas. Veja o que escreveu o papa em 1954:
Não sem grande alegria chegou ao nosso conhecimento 
que nosso dileto filho infante D. Henrique, incendiado 
no ardor da fé e zelo da salvação das almas, se esforça 
por fazer conhecer e venerar em todo o orbe o nome 
gloriosíssimo de Deus, reduzindo à sua fé não só os 
sarracenos, inimigos dela, como também quaisquer outros 
infiéis.(Papa Nicolau V, 1454, p. 01)
Isso atingirá os modos de produção artística no Brasil colonial. 
Gandon (1997) explicou que:
os jesuítas procuraram adaptar a arte europeia ao 
contexto cultural dos índios brasileiros. Escrevendo 
em 1585, o padre Anchieta relatava que numa das três 
missões de índios cristãos livres, situadas na costa norte 
da Bahia - Espírito Santo, São João e Santo Antonio - os 
padres ensinavam os índios a cantar, e tem seu coro de 
canto e flautas para suas festas, e fazem suas danças à 
portuguesa com tamboris e violas, com muita graça, 
como se fossem meninos portugueses, e quando fazem 
estas danças põem uns diademas na cabeça de penas de 
pássaros de várias cores, e desta sorte fazem também os 
arcos, empenam e pintam o corpo. Desde o século XVI, 
os jesuítas se serviam também dos autos -forma teatral 
de uma trama popular, com cantos e danças - como 
elemento eficaz da catequese. É bastante provável que, 
desde então, personagens representativos dos indígenas 
figurassem nestas peças, encenadas sobretudo no ciclo 
natalino.(GANDON, 1997, p. 156/157)
Isso trouxe uma popularização de tais autos, para eles afluíram 
as populares danças dramáticas, apresentadas nas portas das igrejas 
coloniais brasileiras. Anos mais tarde, os africanos chegaram e novos 
elementos foram embutidos, dentro das manifestações artísticas 
populares do Brasil.
Educação das Relações Étnico-Raciais
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Algumas pessoas, nesta altura da história do Brasil, em pleno século 
XXI expressam seus preconceitos com relação a este outro, o indígena. 
Odeiam, sem sequer conhecerem. Movidos por algum motivo relacionado 
ao tom da pele, etnia, ao fato de alguns povos estarem empobrecidos, de 
não apreciar qualquer outra estética diferente da sua própria classe social, 
da sua própria cidade ou identificações étnicas, ou por falarem línguas 
que não são aquelas deixadas pelos colonizadores.
Diante das diferenças entre os brasileiros não-indígenas para 
reconhecer os ‘outros’, para conhecer aqueles desconhecidos brasileiros 
indígenas, é necessário cuidar das informações. Gersem Baniwa é indígena 
brasileiro, pertence ao Povo Baniwa, do Alto do Rio Negro, é antropólogo, 
trabalhou no Ministério da Educação, e atua como Assessor Técnico 
do Fórum de Educação e Saúde Indígena do Amazonas – FOREEIA. Ele 
professor doutor adjunto da Universidade Federal do Amazonas - UFAM. 
Com ele é possível você aprender sobre a realidade de um povo indígena 
do Brasil. Mas é importante relativizar que tais conhecimentos são apenas 
do povo Baniwa. Cada povo indígena, ontem e hoje, vai ter seus saberes 
culturais distintos. 
Gersem Baniwa esclarece que estes ‘outros’, os povos indígenas, 
não ficam felizes ao serem: 
enquadrados pelas lógicas academicistas que alimentam 
e sustentam os processos de reprodução do capitalismo 
individualista, que tem gerado uma sociedade cada vez 
mais em retorno à civilização da barbárie e da selvageria, 
por meio da violência, da exploração econômica desumana, 
do império da lei do mais rico e dos que tem poder político 
à base de democracias das elites econômicas e políticas. 
Os povos indígenas gostariam de compartilhar com o 
mundo, a partir da universidade, seus saberes, seus valores 
comunitários, suas cosmologias, suas visões de mundo e 
seus modos de ser, de viver e de estar no mundo, onde o 
bem viver coletivo é a prioridade(BANIWA,2012, p. 3)
Indagado sobre a sua cultura e a sua história e de seu Povo 
Indígena Baniwa, como um sujeito que faz parte de um grupo que lida 
com o conhecimento em que se ensina o que se vive, Gersem Baniwa 
esclarece que entre os Baniwa uma lição que se aprender cedo, com os 
Educação das Relações Étnico-Raciais
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pais e antepassados é que só se ensina o que se vive. Ensinar é viver. Tais 
ensinamentos advêm da antiga filosofia da vida cósmica do povo Baniwa, 
que sempre evitou separar teoria e prática, observação e vivência.
Neste século XXI, é possível ler a literatura feita por alguns indígenas 
publicada. Ressalta-se a presença de um escritor do Povo Munduruku, 
que vivem no estado do Pará, na Amazônia, autor das seguintes obras: 
Histórias de índio, coisas de índio e As serpentes que roubaram a noite. 
Ele foi laureado pela UNESCO, com uma Menção honrosa no Prêmio 
Literatura para crianças e Jovens na questão da tolerância, com a obra 
Meu avô Apolinário. Conheça um trecho da obra:
E foi ouvindo as histórias que meu avô contava que percebi 
o que os povos tradicionais podiam oferecer à cidade. […] E 
isso me dá um álibi para usar as narrativas míticas para falar 
às pessoas com a mesma paixão com que o velho falava 
comigo. Acho que foi assim que surgiu em mim o interesse 
de narrar histórias para ajudar as pessoas a olharem para 
dentro de si mesmas, compreenderem sua própria história 
e aceitá-la amorosamente (MUNDURUKU, 2009, p. 14-16)
Outros renomados indígenas escritores são David Kopenawa, do 
Povo Indígena Yanomami, com livro publicado. Ailton Krenak, do povo 
Krenak, de Minas Gerais, militante no Movimento Indígena Brasileiro, 
também já publicou. Outro escritor indígena é Carlos Haki’y, da liderança 
importante do tuxawa Crispim de Leão, importante liderança do Povo 
Sateré, Guerra da Cabanagem. Do Povo Indígena Potiguar, da paraíba, 
destaca-se a escritora Eliane Potiguar, vivendo e publicando no Rio de 
Janeiro, escreveu o livro Autora Metade cara, metade máscara. O Povo 
Indígena conta com um escritor destacada e conhecido é Olívio Jekupé, 
com diversos livros escritos.
Ele é da aldeia Kurukutu, em São Paulo. Tal vigorosa e rica literatura 
precisa chegar às escolas e ser do conhecimento das crianças e 
adolescentes. 
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Figura 3:Guerrilhas de Rugendas
Fonte: Wikimedia Commons
Apostando em que na vida trata-se de experimentar o mundo, tanto 
materialmente, como cognitivamente, afetivamente e espiritualmente. 
Assim, a pedagogia Baniwa busca educar através da observação, da 
experimentação e dos exemplos. Os adultos ensinam as crianças Baniwa 
a observar, experimentar e seguir todos os bons exemplos. Isso é viver.
Já vão longe os tempos coloniais e persistem as visões equivocadas 
sobre os povos indígenas que sobreviveram aos 500 anos de colonização 
em processo até hoje. Esta é a opinião do movimento indígena brasileiro 
em seus documentos em que denunciam as situações de desrespeitos 
aos marcos legais que os colocaram, nas primeiras décadas do século 
XXI, em situações reparadoras dos mais cruéis tratamentos do estado 
brasileiro, a partir de abril de 1500.
Educação das Relações Étnico-Raciais
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SAIBA MAIS:
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso 
à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: 
Conheça os Povos Indígenas Brasileiros. No site é possível 
visualizar os nomes de todos, na opção ‘mostrar todos’. 
Ou, ainda, navegar pelo site com duas outras opções: Por 
estado (Unidade da Federação) ou por família linguística, 
lendo sobre os diversos povos indígenas do Brasil. 
Disponível aqui.
RESUMINDO:
Ao final desta leitura, você será capaz de reconhecer 
contos de fadas renovados. Sendo capaz de distingui-los 
dos contos tradicionais, por estar esclarecido para você 
que os contos de fadas renovados narram histórias, com 
elementosdos contos tradicionais, renovando-os.
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https://pib.socioambiental.org/pt/P%C3%A1gina_principal
43
Nomeando o Outro: Os Povos Indígenas na 
Sociedade Brasileira, as Relações Raciais, 
Contribuições dos Povos Indígenas nas 
Artes Brasileiras e Resistência Indígena 
no Brasil
Nomeando o outro, os povos indígenas na sociedade brasileira, as 
relações raciais, contribuições dos povos indígenas nas artes brasileiras e 
resistência indígena no brasil, trará uma nova e verdadeira visão sobre a 
gigantesca contribuição indígena à história e cultura brasileiras.
Naquele fatídico momento da chegada dos portugueses, os povos 
tupy, que viviam ali no litoral apreenderam aquela chegada do europeu 
como um acontecimentoespantoso, só assimilável em sua visão mítica 
do mundo. Seriam gente deseu deus sol, o criador - Maíra -, que vinha 
milagrosamente sobre as ondasdo mar grosso. 
Este ser sobrenatural Maíra ou Mahyra. Ele é a personagem central 
de um equívoco que data de cinco séculos: no século XVI, os jesuítas 
procuraram descobrir uma entidade sobrenatural que pudesse ser 
comparada ao Deus cristão a fim de facilitar a catequese. Representeando 
um dos primeiros equívocos dos portugueses com relação as cosmologias 
indígenas, as suas culturas e religiosidades, O Padre Manoel de Nóbrega 
teria escolhido usar a representatividade de Maíra e de outros deuses aos 
seus propósitos evangelizadores e colonizadores. 
E tudo indica que foi Nóbrega quem fez a escolha: ‘Esta 
gentilidade nenhuma coisa adora, nem conhece Deus, 
somente aos trovões chamam de Tupane; que é como 
quem diz coisa divina. E assim nós não temos outro 
vocábulo mais conveniente para os trazer ao conhecimento 
de Deus, que chamar-lhe Pai Tupane’. Não há dúvida que 
a adoção dessa palavra, com esse sentido, constituiu em 
mais uma dificuldade para as missões jesuíticas.(LARAIA, 
2005, p.11)
Chegando na costa brasileira, descendendo das embarcações, 
foram pensados como seus deuses e com bondade. Só poderiam estar 
Educação das Relações Étnico-Raciais
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chegando da morada dos deuses e dos ancestrais. Utilizamos a palavra 
‘céu’ para indicar o local onde vivem as almas dos antepassados e o herói 
mítico e principal ancestral, Mahyra. Povos Indígenas como os Suruís e 
os Assurinis declararam que estaria localizado em uma região por cima 
das nuvens. 
Os Povos Originários tentaram explicar aqueles povos que chegaram 
com suas cosmologias. Dando-lhes um lugar entre os seus mais sagrados 
e cultuados seres espirituais. Com o tempo será possível entender que 
não eram deuses os portugueses. E nem viriam de uma Terra sem Males, 
não tendo, ainda as melhores intenções com relação aos povos que 
encontraram. Ainda não sabiam o que os esperavam, diante dos planos 
dos colonizadores com relação aos verdadeiros donos da terra, os povos 
indígenas. Não havia como interpretar seus desígnios, tanto podiam ser 
ferozes como pacíficos, espoliadores ou dadores. 
Os povos indígenas entendiam, à primeira vista, como eles próprios 
se comportavam e eram. Assim, estes estrangeiros só poderiam ser boas 
pessoas, pensaram os povos que viviam no litoral. Assim, pensavam 
estes ameríndios, parte dos povos originários da América, além de muitos 
outros povos. Mesmo porque, no seu mundo, mais belo era dar que 
receber. Ali, ninguém jamais espoliara ninguém e a pessoa alguma se 
negava louvor por sua bravura e criatividade. Era ainda uma Terra sem 
males e sem governos tiranos, com hospitalidade.
Além disso, julgavam os povos indígenas tupy que viviam no 
litoral, que os portugueses ao sair do mar, eram apenas feios, fétidos 
e infectos. Não havia como negá‐lo. É certo que, depois do banho e da 
comida, melhoraram de aspecto e de modos. Tais povos indígenas não 
entenderam, ainda, as razões que levavam os portugueses a agirem 
com tanta aflição. Tanta ganância com as toras de Pau-Brasil que 
apressadamente recolhiam.
Não agiam de modo nenhum com a semelhança marca destes 
povos originários, na base do dom e contra dom, não buscavam nas 
relações com os povos indígenas reciprocidades e correntes contínuas 
de doações. Deste modo agiam e ainda agem muitos povos indígenas 
brasileiros. Eles não precificavam (colocavam preços) nos objetos que 
Educação das Relações Étnico-Raciais
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doavam aos portugueses. Os valores seriam implícitos aos objetos e 
ações. Isso era e é oposto a nascente e atuante economia do mercado 
qualificada por trocas diretas, daqueles bens e de serviços. 
Por que se afanavam tanto em seus fazimentos? Por 
que acumulavam tudo, gostando mais de tomar e 
reter do que de dar, intercambiar? Sua sofreguidão 
seria inverossímil se não fosse tão visível no empenho 
de juntar toras de pau vermelho, como se estivessem 
condenados, para sobreviver, a alcançá-las e embarcá‐las 
incansavelmente?(RIBEIRO, 1995, p. 45)
500 anos de colonização não apagou aquilo que o antropólogo 
Mauss (2003) chamou de Economia do Dom, descrevendo em sua escrita 
sobre as pesquisas em sociedades primitivas, em comunidades antigas e 
indígenas no mundo.
Assim, a cultura trazida pelos portugueses poderia operou bem 
mais males que bênçãos. Os anos que se seguiram foram de resistências 
contra todas as táticas dos colonizadores para apoderar-se de suas terras, 
trazendo suas próprias leis e criando uma visão imposta, unificadora, injusta, 
cruel, mentirosa, desapropriadora, enquanto produziam explicações 
irreais sobre os nodos de viver, dos mais diversos povos indígenas.
Os anos passaram e os Povos Indígenas que escaparam deste 
grande projeto colonizador europeu, iniciado no século XVI, não 
aniquilaram totalmente as suas integradas culturas e permanecem vivas, 
nas distintas Culturas Indígenas, no Brasil atual. As culturas andam de 
braços dados com as cosmologias diferenciadas do ‘outro’ descendente 
do colonizador e de ‘outros’ povos indígenas. 
Cada povo indígena apresenta seus próprios modos culturais 
e suas epistemologias, cosmologias, modos de produzir e repassar 
conhecimentos. Um exemplo disso foi dado por um destes povos, que 
vive na Bahia. O Povo Pataxó esclarece que até mesmo a matemática, 
uma ciência tão exata, tão ocidentalmente posta, está vinculada a relação 
como eles percebem o mundo, as visões de mundo dos Pataxós. É 
possível aprender com o mundo a matemática, assim somar, a operação 
da adição funciona:
Educação das Relações Étnico-Raciais
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Eu vou te dizer. Por exemplo, quando o cipó se abraça 
a uma árvore, ele está fazendo a adição do amor. E isso 
quer dizer que ele se abraçou para fazer um só corpo. A 
árvore e o cipó se abraçaram para se tornar em um só 
corpo. Quer dizer que um pertence a dois e dois pertence 
a um. Formaram um corpo só, fizeram a adição do amor. E 
fizeram isso para sobreviver um ao outro. Tem planta que 
precisa da outra para sobreviver. Então isso é matemática. 
E também a matemática faz igualar tudo na natureza. O 
amor da Natureza iguala tudo. Quer dizer que se tem um 
amor na Natureza, sempre vai ter espaço para mais uma 
planta que vier. Vamos dizer que dá uma fruteira aqui e ali 
amadurece as frutas e uma paca vai lá e come uma fruta, 
lá adiante ela deixa o caroço. Lá nasce. Pode, tá cheio, mais 
ali sempre vai haver ali a Natureza, ela tá com o coração 
dela aberto. A Natureza tem o coração de mãe, sempre 
na casa dela, sempre cabe o lugar para mais um. Isso é 
matemática e isso é valor(ROCHA; D’URÇO 2008, p. 1)
Os povos indígenas, ontem e hoje, dançam para comemorar atos, 
ocorrências e fatos relativos às vidas e as mais diversas tradições, que não 
são únicas, mas particulares, indistintas para os vários Povos Indígenas 
brasileiros. Existem danças para a preparação da guerra e ao regressar de 
batalhas, para comemoração algum cacique, as safras, do amadurecer 
das frutas, por ótimas pescarias e para festejar a puberdade das meninas, 
ou para homenagear